domingo, 10 de maio de 2020

25.92 Os primórdios do Serviço Telefónico no Porto - Actualização em 10/11/2020

Quando foram concessionados os serviços telefónicos no Porto, já tinham ocorrido, antes, algumas experiências.
A primeira linha telefónica, que funcionou no Porto, ligou a Rua de Santo António ao Campo 24 de Agosto, em Agosto de 1880.






Em 1882, a Edison Gower Bell Telephone Company of Europe Limited estabelece-se em Lisboa e Porto, para explorar as respectivas concessões de serviço telefónico. 
No Porto, a empresa monta os seus escritórios no Grande Hotel do Porto, na Rua de Santa Catarina.
Em 1 de Julho de 1882, um Sábado, é inaugurada a rede telefónica do Porto, com 30 assinantes, mas, rapidamente, seriam atingidos os 85 clientes.




Condições de funcionamento da primeira central telefónica do Porto
 
 
 
Entre os primeiros subscritores, constavam bancos, empresas de vinho do Porto e de navegação, bem como cambistas.

 
 

Primeira lista telefónica do Porto



Sobre aquele dia 1 de Julho, dizia no dia seguinte nas suas páginas o jornal “O Comércio do Porto”:







Instalações da primeira Estação Telefónica, no Porto, à data, na Rua Ferreira Borges, nº 14 (1º prédio, à direita)



Placa afixada no prédio referido na foto anterior, que assinala o centenário da instalação do primeiro serviço telefónico na cidade (o mês constante da placa não estará correcto)




Estação Telefónica do Porto, na Rua Ferreira Borges, nº 14 – Cortesia de ”telecom.pt/”



No final daquele mês de Julho, o Porto já apresentava uma lista impressa de assinantes de serviço telefónico e os subscritores do serviço continuavam a inscrever-se, oferecendo a companhia os primeiros 4 meses, gratuitos.
Diga-se, apenas como curiosidade que, em 1884, o jornal “O Primeiro de Janeiro” tinha o número telefónico, 46.



Adenda à Lista Telefónica Nº 5, de 1 de Setembro de 1885, em anúncio do jornal “O Comércio do Porto”, de 30 de Outubro de 1886



Em 1887, a concessão da Edison Gower Bell Telephone Company of Europe Limited é transferida por 50.000 libras, para a APT - The Anglo Portuguese Telephone Company, a popular para sempre, Companhia dos Telefones, que viria a detê-la até 1968, ano em que é criada a Empresa Pública Telefones de Lisboa e Porto (TLP).



Logotipo dos TLP



Os Correios, Telégrafos e Telefones (CTT) exploravam, à data, o serviço telefónico no resto do país.



O alquilador “José Galliza”, em 22 de Novembro de 1889, já anunciava no jornal “O Comércio do Porto”, a sua adesão aos tempos modernos, com a linha telefónica, nº 317



No Porto, durante o primeiro semestre de 1891, foram abertas ao público as estações telefónicas suburbanas de Leça e Matosinhos.
Neste ano, em Janeiro, era publicado como anúncio, uma adenda à Lista Telefónica em vigor e distribuída em 1 de Janeiro de 1890.
A adenda corresponderia, sensivelmente, aos subscritores entrados durante o ano de 1890.



Adenda à Lista Telefónica em vigor, desde 1 de Janeiro de 1890, publicada no jornal “O Comércio do Porto”, em 17 de Janeiro de 1891



Publicidade à Companhia Anglo-Portugueza – In jornal “Comércio do Porto”, de 7 Março 1894



Em 23 de Fevereiro de 1904, ocorre a inauguração oficial e experimental da linha telefónica Porto-Lisboa, estando presentes na cerimónia que foi levada a cabo, o Conde de Paçô-Vieira (ministro das Obras Públicas, Comércio e Indústria, do governo presidido por Ernesto Rodolfo Hintze Ribeiro) e o jornalista/deputado Carlos Malheiro Dias, entre muitas outras personalidades.
De facto, a primeira chamada comercial entre as duas cidades ocorreria, às 8 horas da manhã, do dia 11 de Abril, daquele ano.
As ligações eram estabelecidas por intermédio de uma telefonista, quer fossem para dentro ou para fora da cidade.
O título de conde de Paçô-Vieira tinha sido atribuído por D. Carlos a Alfredo Vieira Coelho Peixoto Pinto de Villas-Boas (Braga, 6 de Setembro de 1860 – Nevogilde, 26 de Fevereiro de 1926).
O conde de Paçô-Vieira era irmão do visconde de Guilhomil, José Geraldo Coelho Vieira do Vale Peixoto de Sousa e Villas-Boas e, por este, nomeado conselheiro de sua mulher, na condução do cumprimento do estipulado no seu testamento.



«Ora, se a ligação entre as duas cidades se fez nesse longínquo 23 de Fevereiro de 1904, o certo é que oficialmente os serviços começaram faz hoje cem anos, 11 de Abril. Entre a experiência e o acesso público demorou algum tempo. Era objectivo dos responsáveis do Estado inaugurarem o serviço telefónico no dia de Páscoa, a 3 de Abril. Mas as ligações telefónicas oficiais só se dariam uma semana depois (e, cem anos depois, coincidia com o dia da Páscoa!). O Jornal do Comércio, de 7 de Abril, anotava a partida do conselheiro Paulo Benjamim Cabral, inspector-geral dos telégrafos, para o Porto, “a fim de assistir à inauguração da linha telefónica”
Na sua edição de 8 de Abril, uma sexta-feira, lia-se no Diário de Notícias: “Amanhã e domingo poderá a referida linha ser utilizada gratuitamente para subscritores das redes telefónicas das duas cidades”. E dois dias depois, o mesmo jornal destacava a grande quantidade de “chamadas pedindo a ligação, tanto duma como doutra cidade”.
O jornal O Século, de 12 de Abril, indicava que o serviço público se iniciara às oito da manhã do dia anterior, uma segunda-feira, “transmitindo-se pouco depois o primeiro despacho”»
Cortesia de “industrias-culturais.blogspot.com”



Jornal “A Voz Pública”, de 24 de Fevereiro de 1904



Em 23 de Dezembro de 1919, a Companhia Anglo-Portugueza solicita as respectivas licenças para a construção de um prédio, na Rua da Picaria, cujo projecto é do arquitecto Leandro de Morais.
Este arquitecto, entre muitas obras, tem o seu nome ligado à fábrica da Fibra Comercial Lusitana (desaparecida), instalada a partir dos fins da década de 1930, na Avenida da Boavista, junto do trajecto da ribeira de Lordelo e trabalhando para Manuel Pinto de Azevedo, o prédio de gaveto da Avenida Camilo com a Rua do Bonfim, próximo ao Campo 24 de Agosto.
É ainda responsável pelos edifícios da Avenida dos Aliados, situados a nascente, entre as ruas Sampaio Bruno e Dr. Magalhães Lemos, conhecidos por “Banco Borges e Irmão”, “Lima Júnior e Cia, Lda” e “Companhia de Alcobaça”, este último que acabou nas mãos do “Montepio Geral”.



Requerimento da Companhia dos Telefones dirigido à Câmara do Porto para a obtenção das licenças para a construção de um prédio na Rua da Picaria – Fonte: AHMP



Desenho da fachada (voltada para a Rua da Picaria) do prédio constante do projecto submetido à aprovação da Câmara do Porto, através do requerimento acima – Fonte: AHMP



Construção do edifício, na Rua da Picaria, da “Companhia Anglo-Portugueza”



Em 25 de Maio de 1921, é solicitada autorização para proceder a uma alteração ao projecto inicial, entretanto, aprovado.




Nova fachada pretendida para o prédio da companhia dos Telefones para a Rua da Picaria – Fonte: AHMP




Em 27 de Outubro de 1934, é inaugurado o serviço automático da Estação Norte, na Rua da Picaria.
Com a automatização, as centrais Strowger (nome
do inventor americano) permitiram que o chamador tivesse a possibilidade de marcar os números e não depender da(s) telefonista(s) quer para o estabelecimento automático das conversações, quer para a contagem dos períodos de tempo.
Em Janeiro de 1938, o prédio da Rua da Picaria é alvo de uma ampliação importante, nas suas traseiras.



A área sombreada da planta submetida à Câmara do Porto em 1938, corresponde à ampliação do edifício da Rua da Picaria – Fonte: AHMP



Nos anos da década de 1940, foi rasgada a Rua de Ceuta, que faria a ligação da Praça D. Filipa de Lencastre à Rua José Falcão.
É curioso observar, na perspectiva abaixo, o modo como adossou o edifício contíguo, da Rua de Ceuta, ao da Companhia dos Telefones.



Vista aérea do prédio da Companhia dos Telefones, na Rua da Picaria – Fonte: Google maps



“Telefones de Lisboa e Porto”, em primeiro plano, na Rua da Picaria, actualmente – Fonte: Google maps




Vista sobre a Rua de Ceuta. À direita o prédio dos TLP – Desenho (c. 1960) 


O desenho acima é da autoria de Manuel de Gouveia Coutinho de Tovar e Melo (1907-1976). 



Publicidade da Companhia dos Telefones, em 1928



“Aptafone” de mesa, de ligação manual, em 1930



Publicidade ao telefone automático de coluna e disco de marcação, em 1930



No quadro anterior é feita a comparação de dados sobre a rede telefónica instalada, entre os anos de 1928 e 1933.




Publicidade ao “Aptofone”, em 1934, com disco de marcação



Campanha de incentivo à troca de um telefone automático de coluna e disco de marcação, por um automático de mesa de marcação por disco



Preçário da Companhia dos Telefones – Porto, em Setembro de 1934 – Fonte: AHMP



 

Entretanto, em 1928, já tinha sido realizado um novo contrato, que prorrogaria até Dezembro de 1967, o então existente e, pelo qual, a empresa, The Anglo Portuguese Telephone Company, conseguiria reunir os capitais necessários para as suas necessidades e adquirir novas perspectivas para o seu desenvolvimento e consequente aumento da rede instalada e acompanhar toda a evolução tecnológica do sector.




Cabines Telefónicas



Em 18 de Maio de 1933, era notícia a entrada em funcionamento da cabine telefónica do jardim da Praça do Marquês de Pombal.
A rede de cabines telefónicas ia ocupando os locais estratégicos da cidade.



Praça da Liberdade, em 1938 – Ed. Foto Beleza


Na foto acima, em 1º plano, observa-se uma cabine telefónica. O carro eléctrico é um Bogie Americano (10 Janelas) e 40 lugares. Esta série de veículos foi construída pela CCFP, tendo por modelo, um outro, comprado à firma J. G. Brill e entregue em 1905.



A cabine telefónica da foto anterior, em 1968



Cabine telefónica na Praça da Liberdade, em 1970



Em 1979, observam-se, ao longe, à direita, duas cabines telefónicas (mesmo local da foto anterior). O carro eléctrico percorria a Linha 3 (Praça – Pereiró, via Palácio, encerrada em 30/04/1984)




Central de cabines dos TLP, na Praça da Liberdade, 62


O carro eléctrico da foto acima é um Brill 28 com plataforma salão.





"Casa Navarro", c. 1942, na Rua de Sá da Bandeira


À esquerda da foto acima, a “Casa Navarro” localizada na Rua de Sá Bandeira, muito próximo da esquina com a Rua Passos Manuel e que, hoje, está na Rua Fernandes Tomás, depois de ter passado pela Praça da Liberdade, desde a década de 1940.



Cabine telefónica, na Rua Fernandes Tomás – Cortesia de “portosombrio.blogspot.com”




As muitas cabines telefónicas ao estilo inglês, que ainda existem espalhadas pela cidade, são o que resta da memorabília da APT (“Anglo Portuguese Telephone Company”).
Em 18 de Fevereiro de 1945, a expansão da rede telefónica segue em bom ritmo e a APT anuncia, que entre o Porto e Lisboa, há 45 linhas telefónicas, sendo a média de chamadas 6.500 por dia. 
A partir de 1952, a região do Porto passa a dispor de 10.000 telefones automáticos.
A partir de 14 de Junho de 1952, o Porto e Braga passam a estar ligados por um cabo telefónico subterrâneo.
Em 1968, depois de quatro renovações de licença, o Estado decidiu não estender a licença. Foi criada a empresa pública Telefones de Lisboa e Porto (TLP) que herdou o património da APT, vulgo Companhia dos Telefones.
Em 1994, é feita a fusão das empresas TLP, Telecom Portugal, TDP e CPRM e é criada a Portugal Telecom.


Cronologia


Cronologia dos 100 anos de funcionamento do serviço telefónico no Porto - In revista "O Tripeiro", Série Nova, Nº 7, Junho de 1982


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