terça-feira, 7 de março de 2017

(Continuação 10) - Actualização em 18/03/2020


Sanitários, Balneários e Urinóis


“Nos anos 60 do séc. XIX o Presidente da Câmara, 1º. Conde de Lagoaça, mandou instalar os primeiros urinóis nas esquinas de ruas. Foi motivo de galhofa nas gazetas e no povo, mas a decência triunfou e os sumidouros ficaram e foram multiplicados e sofisticados.
As más instalações sanitárias públicas e privadas, seja nas casas como nas tabernas a isso obrigavam. Ainda hoje se encontram alguns destes exemplares, que esteticamente eram muito variados e alguns bem bonitos. Tinham o inconveniente de serem muito mal cheirosos”.
Fonte: “portoarc.blogspot.com”


Em 1890, continuava-se a pugnar por a adopção de medidas de higiene para salvaguarda da saúde dos portuenses, como se pode constatar no artigo de opinião abaixo.
 
 

In jornal “A República” de 5 de Agosto de 1890




Urinol, no Largo de S. Bento, ao centro e parcialmente visível



Urinol (ao centro, em primeiro plano) no Campo 24 de Agosto, 1919 - Fonte “Bosspostcard, Delcampe”



Urinol, no Largo António Calém, ao fundo da Rua das Condominhas, em 2009



Urinol, à entrada da Calçada do Ouro, em 2009



Urinol, no Largo Soares dos Reis



Urinol, na Rua de Contumil



Urinol, na Avenida Rodrigues de Freitas, encostado ao edifício da Biblioteca Pública




Urinol (à direita), no Jardim de Arca d’Água



Urinol, em Miragaia



Urinol (à esquerda), no Jardim da Praça do Infante


Urinol, à direita, na Praça do Infante, em 1910



Urinol, na Praça da Ribeira, no início do século XX


Urinol, junto de quiosque, na Praça Parada Leitão, c. 1930 - Ed. Domingos Alvão







Maquete de urinóis do Porto da autoria de Agostinho Teixeira – Cortesia Ângelo Costa


Maquete de urinóis do Porto da autoria de Agostinho Teixeira – Fonte: JPortojo



Em alguns jardins da cidade do Porto, aproveitavam-se os baixos dos coretos, para aí serem instalados os sanitários públicos, com serventia diferenciada por sexo, de um lado e pelo seu oposto.



Pela porta, por baixo das escadas de acesso ao coreto, se fazia uma das entradas para os sanitários do jardim da Praça do Marquês



Coreto do Jardim de S. Lázaro e, ao centro, a porta de entrada para um dos sanitários


Outra solução foi encontrada instalando os sanitários em espaços subterrâneos de praças e jardins de grande circulação de pessoas.
Foram os casos da Avenida dos Aliados, Rotunda da Boavista e Praça da República. Este último desactivado e os outros desaparecidos.



Sanitário Subterrâneo da Praça da República (desactivado) – Ed. JPortojo



Sanitários subterrâneos na Avenida dos Aliados


Na foto anterior, no início da placa ajardinada, em primeiro plano, pode observar-se o acesso aos sanitários instalados no sub-solo.
Muitos destas instalações sanitárias tinham associado uma oferta de banhos, a preços módicos, tentando resolver uma carência de quartos de banho, que se observava sobretudo nas chamadas “ilhas”.
Ainda há muita gente que, por razões diversas, se lembrará da existência dos balneários do Campo 24 de Agosto, Largo do Viriato e Praça do Infante.



Balneário do Campo 24 de Agosto

Em sessão da Câmara de 25 de Julho de 1901, presidida por Lima Júnior, era por este passada a informação, que estava pronto para ser inaugurado o Balneário do Largo do Viriato.



Balneário do Largo do Viriato – Fonte: Google maps



Balneário da Praça do Infante (na esquina, à esquerda) – Fonte: “radioportuense.com/”



Hoje, as instalações sanitárias descritas fazem parte da memorabilia da cidade, restando, apenas, alguns que mantêm uma certa dignidade, para a função a que se destinam e ocupam espaços em edificações de piso térreo à face de vias pedestres de circulação.
São os casos dos situados no Jardim do Passeio Alegre, no Largo de Mompilher (à Picaria) e o da Praia dos Ingleses.



Sanitários no Largo Mompilher, situados por baixo do patamar das Escadas do Pinheiro



Sanitários na Praia dos Ingleses


Sanitários da Praia do Molhe



Sanitários do Jardim do Passeio Alegre


Urinol do Passeio Alegre

Casa de Banho do Passeio Alegre


Interior da Casa de Banho do Passeio Alegre



No Jardim do Passeio Alegre existem uns lindíssimos sanitários do fim do século XIX ou início do XX, como se pode observar acima.



O conde de Lagoaça e as lagoaças


Ainda sobre a instalação de urinóis pela cidade, uma medida que se revelava inovadora e que, por isso, a exemplo do que frequentemente sucede, foi alvo de certa polémica, tendo o povo começado a designar os mictórios por lagoaças.


António José Antunes Navarro (Lagoaça, 11 de Julho de 1803 - 17 de Julho de 1867) foi fidalgo da Casa-Real, por decreto-lei de 30 de Janeiro de 1862, político português como deputado às Cortes e par do Reino, ascendeu a Presidente da Câmara do Porto entre 1860 e 1867.
Nesse período mandou instalar os primeiros mictórios públicos da cidade, medida extremamente inovadora do ponto de vista sanitário, e que mereceram a alcunha de "vespasianas" mas que o povo designou de "lagoaças".
Após visita à cidade do rei D. Pedro V, em 2 de Dezembro de 1859, este agraciou-o com o título de Visconde de Lagoaça e posteriormente por D. Luís I, Conde de Lagoaça, a 31 de Outubro de 1866 e por carta em 6 de Novembro de 1866”.
Com a devida vénia a Manuel José Cunha


A carta régia que atribui o título de visconde de Lagoaça, em duas vidas, a António José Antunes Navarro é de 2 de Dezembro de 1859, e o Decreto respectivo de 2 de Novembro, tendo sido presidente da Câmara do Porto, entre 25-01-1858 e 31-12-1865, destacou-se na sua governação ao conseguir financiamentos do Governo para a exposição inaugural do Palácio de Cristal e no embelezamento da cidade, para o dito evento.
Uma das suas prioridades foi o abastecimento de água à cidade e, para tal, mandou recensear todas as fontes, nascentes e captações que existiam na cidade.
Durante o seu mandato, foi pensado, mas não concretizado, um monumento a D. Pedro IV; numerosas ruas foram corrigidas e fora obtidas do governo verbas para a criação de escolas primárias nas freguesias mais rurais da cidade.
Para o final do mandato e por motivos de saúde, foi sendo substituído por Pinto Bessa que, com a sua marca viria a ser um dos mais importantes presidentes que a cidade teve.
Diga-se que, no âmbito da melhoria das condições de higiene, a edilidade acabaria também, por determinar a eliminação dos cantos nos edifícios mais emblemáticos, de que são exemplo as fotos seguintes.



Igreja dos Clérigos - Fonte: Google maps


Colégio de Nossa Senhora da Esperança, a S. Lázaro - Fonte: Google maps



Pinho Leal, In Portugal Antigo e Moderno (1875)

 
 

Casa do 1º visconde de Lagoaça, na esquina das ruas Formosa e da Alegria – Fonte: Google maps
 
 
O 1º visconde de Lagoaça faleceu no Porto a 17 de Julho de 1867, tendo casado, sete dias antes, com D. Luísa Benedita Monteiro Antunes Navarro, nascida a 17 de Julho de 1837. Tiveram um filho, António José Antunes Navarro, que nasceu no Porto a 15 de Março de 1864.
Júlio de Castro Pereira viria a ser o segundo visconde de Lagoaça, em verificação da segunda vida concedida a seu tio. 




Higiena e Saúde Pública


Durante muitos anos, até ao século XX, os cães vagueavam pelas ruas da cidade, muitas das vezes, em perfeitas matilhas.
O perigo para a saúde pública era um facto real.
Por isso, a partir do momento em que o problema começou a ser tratado pela edilidade, funcionários camarários vigiavam, deambulando pela cidade, pelo cumprimento das normas que vigoravam nas posturas municipais e que aludiam ao problema do abandono de cães na via pública.
O texto seguinte dá-nos conta da intervenção dos chamados “caça-cães”, que não raras vezes descambava em situações completamente ridículas, quando os animais com a ajuda dos populares conseguiam escapulir-se aos seus caçadores.
Por vezes, os amigos dos animais recebiam voz de prisão e passavam umas horitas no Aljube, lá para os lados da Sé.
 
 
 
 
“O código de posturas de há cinquenta anos não permitia que os habitantes do burgo tripeirinho possuíssem cães sem a devida licença da Câmara; e os cães, cujos donos tivessem a respetiva licença, tinham de trazer, sempre que saíssem à via pública, uma coleira com a designação do nome e morada do dono e número da licença, sob pena de ter de pagar o triplo da multa. Além da coleira mencionada, os cães tinham de andar sempre açamados, sob pena de 2$ooo réis de multa. Se fossem encontrados na rua sem coleira nem açamo, eram considerados vadios, e como tal, abatidos. (...)”.
(…) Dois funcionários municipais, de inferior categoria, deselegantemente uniformizados, conduziam pelas ruas acidentadas da urbe, num passo vagaroso, sonolento, um carro de duas rodas e, sobre o eixo destas, poisava um grande e alto caixão de madeira, de figuração rectangular, interiormente dividido em compartimentos, onde se recolhiam os cães. Mais dois funcionários do município, de igual classe e indumentária, a par, com os olhos fixos em todos os vultos que se mexiam, seguiam por um dos passeios laterais, levando um deles uma rede de corda delgada aos ombros. Os primeiros que enxergassem um cão desaçamado, davam sinal, assobiando, e os que puxavam o carro logo paravam, pegavam na rede que geralmente ia sobre o tejadilho do pequeno carro celular e apressadamente, não fosse o cachorro escapulir-se pela demora, estendiam-na de lés-a-lés da rua, chegando por vezes a impedir todo o trânsito”.
Manuel Pedro, in O Tripeiro, Série 5, ano VII (Março de 1952), página 249/250
 
 
 

Carrocinha usada na “apanha” dos canídeos
 
 
Os cães que os funcionários municipais apanhavam durante o dia eram levados para casotas reservadas, existentes nos serviços de limpeza pública, ao tempo na Rua do Visconde de Bóbeda e traseiras da Biblioteca Pública Municipal do Porto, a S. Lázaro, podendo os animais ser libertados pelos seus donos mediante uma multa e depois de cumpridas outras formalidades. No caso de não serem procurados eram abatidos.
Após 1923, com o abandono das instalações da Rua de S. Dinis e a transferência do Matadouro Municipal para S. Roque da Lameira, o canil viria a funcionar, durante todo o século XX, naquelas instalações.
Em 22 de Agosto de 1939, uma camioneta fechada substituiu a anacrónica carroça, que na cidade procurava os cães vadios, numa época em que existia o perigo real da propagação da raiva.
 
 
 

Carro de remoção de cães e transporte para o canil de S. Dinis

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