Sanitários,
Balneários e Urinóis
“Nos anos 60 do
séc. XIX o Presidente da Câmara, 1º. Conde de Lagoaça, mandou instalar os
primeiros urinóis nas esquinas de ruas. Foi motivo de galhofa nas gazetas e no
povo, mas a decência triunfou e os sumidouros ficaram e foram multiplicados e
sofisticados.
As más
instalações sanitárias públicas e privadas, seja nas casas como nas tabernas a
isso obrigavam. Ainda hoje se encontram alguns destes exemplares, que
esteticamente eram muito variados e alguns bem bonitos. Tinham o inconveniente
de serem muito mal cheirosos”.
Fonte: “portoarc.blogspot.com”
Em 1890, continuava-se a pugnar por a adopção de medidas de higiene
para salvaguarda da saúde dos portuenses, como se pode constatar no artigo de
opinião abaixo.
Urinol, no Largo de S. Bento, ao centro e parcialmente visível
Urinol (ao centro, em primeiro plano) no Campo 24 de Agosto, 1919 -
Fonte “Bosspostcard, Delcampe”
Urinol, no Largo António Calém, ao fundo da Rua das Condominhas, em 2009
Urinol, à entrada da Calçada do Ouro, em 2009
Urinol, no Largo Soares dos Reis
Urinol, na Rua de Contumil
Urinol, na Avenida Rodrigues de Freitas, encostado ao edifício da
Biblioteca Pública
Urinol (à direita), no Jardim de Arca d’Água
Urinol, em Miragaia
Urinol (à esquerda), no Jardim da Praça do Infante
Urinol, à direita, na Praça do Infante, em 1910
Urinol, na Praça da Ribeira, no início do século XX
Maquete de urinóis do Porto da autoria de Agostinho Teixeira – Cortesia
Ângelo Costa
Maquete de urinóis do Porto da autoria de Agostinho Teixeira – Fonte:
JPortojo
Em alguns jardins da cidade do Porto, aproveitavam-se os baixos dos
coretos, para aí serem instalados os sanitários públicos, com serventia
diferenciada por sexo, de um lado e pelo seu oposto.
Pela porta, por baixo das escadas de acesso ao coreto, se fazia uma das
entradas para os sanitários do jardim da Praça do Marquês
Coreto do Jardim de S. Lázaro e, ao centro, a porta de entrada para um
dos sanitários
Outra solução foi encontrada instalando os sanitários em espaços
subterrâneos de praças e jardins de grande circulação de pessoas.
Foram os casos da Avenida dos Aliados, Rotunda da Boavista e Praça da
República. Este último desactivado e os outros desaparecidos.
Sanitário Subterrâneo da Praça da República (desactivado) – Ed.
JPortojo
Sanitários subterrâneos na Avenida dos Aliados
Na foto anterior, no início da placa ajardinada, em primeiro plano,
pode observar-se o acesso aos sanitários instalados no sub-solo.
Muitos destas instalações sanitárias tinham associado uma oferta de
banhos, a preços módicos, tentando resolver uma carência de quartos de banho,
que se observava sobretudo nas chamadas “ilhas”.
Ainda há muita gente que, por razões diversas, se lembrará da
existência dos balneários do Campo 24 de Agosto, Largo do Viriato e Praça do
Infante.
Balneário do Campo 24 de Agosto
Em sessão da Câmara de 25 de Julho de 1901, presidida por Lima Júnior, era por este passada a informação, que estava pronto para ser inaugurado o Balneário do Largo do Viriato.
Balneário do Largo do Viriato – Fonte: Google maps
Balneário da Praça do Infante (na esquina, à
esquerda) – Fonte: “radioportuense.com/”
Hoje, as instalações sanitárias descritas fazem parte da memorabilia da
cidade, restando, apenas, alguns que mantêm uma certa dignidade, para a função
a que se destinam e ocupam espaços em edificações de piso térreo à face de vias
pedestres de circulação.
São os casos dos situados no Jardim do Passeio Alegre, no Largo de Mompilher
(à Picaria) e o da Praia dos Ingleses.
Sanitários no Largo Mompilher, situados por baixo do patamar das
Escadas do Pinheiro
Sanitários na Praia dos Ingleses
Sanitários da Praia do Molhe
Sanitários do Jardim do Passeio Alegre
Urinol do Passeio Alegre
Casa de Banho do Passeio Alegre
Interior da Casa de Banho do Passeio Alegre
No Jardim do Passeio Alegre existem uns lindíssimos sanitários do fim
do século XIX ou início do XX, como se pode observar acima.
O conde de Lagoaça e as lagoaças
Ainda sobre a instalação de urinóis pela cidade, uma medida que se
revelava inovadora e que, por isso, a exemplo do que frequentemente sucede, foi
alvo de certa polémica, tendo o povo começado a designar os mictórios por lagoaças.
“António José Antunes Navarro (Lagoaça, 11 de Julho de 1803 - 17 de
Julho de 1867) foi fidalgo da Casa-Real, por decreto-lei de 30 de Janeiro de
1862, político português como deputado às Cortes e par do Reino, ascendeu a
Presidente da Câmara do Porto entre 1860 e 1867.
Nesse período
mandou instalar os primeiros mictórios públicos da cidade, medida extremamente
inovadora do ponto de vista sanitário, e que mereceram a alcunha de "vespasianas"
mas que o povo designou de "lagoaças".
Após visita à cidade
do rei D. Pedro V, em 2 de Dezembro de 1859, este agraciou-o com o título de
Visconde de Lagoaça e posteriormente por D. Luís I, Conde de Lagoaça, a 31 de
Outubro de 1866 e por carta em 6 de Novembro de 1866”.
Com a devida vénia a Manuel José Cunha
A carta régia que atribui o título de visconde de Lagoaça, em duas
vidas, a António José Antunes Navarro é de 2 de Dezembro de 1859, e o
Decreto respectivo de 2 de Novembro, tendo sido presidente da Câmara do Porto,
entre 25-01-1858 e 31-12-1865, destacou-se na sua governação ao conseguir
financiamentos do Governo para a exposição inaugural do Palácio de Cristal e no
embelezamento da cidade, para o dito evento.
Uma das suas prioridades foi o abastecimento de água à cidade e, para
tal, mandou recensear todas as fontes, nascentes e captações que existiam na
cidade.
Durante o seu mandato, foi pensado, mas não concretizado, um monumento
a D. Pedro IV; numerosas ruas foram corrigidas e fora obtidas do governo verbas
para a criação de escolas primárias nas freguesias mais rurais da cidade.Para o final do mandato e por motivos de saúde, foi sendo substituído por Pinto Bessa que, com a sua marca viria a ser um dos mais importantes presidentes que a cidade teve.
Diga-se que, no âmbito da melhoria das condições de higiene, a edilidade acabaria também, por determinar a eliminação dos cantos nos edifícios mais emblemáticos, de que são exemplo as fotos seguintes.
Igreja dos Clérigos - Fonte: Google maps
Colégio de Nossa Senhora da Esperança, a S. Lázaro - Fonte: Google maps
Pinho Leal, In Portugal Antigo e Moderno (1875)
Casa do 1º visconde de Lagoaça, na esquina das ruas Formosa e da
Alegria – Fonte: Google maps
O 1º visconde de Lagoaça faleceu no Porto a 17 de Julho de 1867, tendo casado, sete dias antes, com D. Luísa Benedita Monteiro Antunes Navarro, nascida a 17 de Julho de 1837. Tiveram um filho, António José Antunes Navarro, que nasceu no Porto a 15 de Março de 1864.
Júlio de Castro Pereira viria a ser o segundo visconde de Lagoaça, em verificação da segunda vida concedida a seu tio.
Higiena e Saúde Pública
Durante muitos anos, até ao século XX, os cães vagueavam pelas ruas da
cidade, muitas das vezes, em perfeitas matilhas.
O perigo para a saúde pública era um facto real.
Por isso, a partir do momento em que o problema começou a ser tratado
pela edilidade, funcionários camarários vigiavam, deambulando pela cidade, pelo
cumprimento das normas que vigoravam nas posturas municipais e que aludiam ao
problema do abandono de cães na via pública.
O texto seguinte dá-nos conta da intervenção dos chamados “caça-cães”,
que não raras vezes descambava em situações completamente ridículas, quando os
animais com a ajuda dos populares conseguiam escapulir-se aos seus caçadores.
Por vezes, os amigos dos animais recebiam voz de prisão e passavam umas
horitas no Aljube, lá para os lados da Sé.
“O código de
posturas de há cinquenta anos não permitia que os habitantes do burgo tripeirinho possuíssem
cães sem a devida licença da Câmara; e os cães, cujos donos tivessem a
respetiva licença, tinham de trazer, sempre que saíssem à via pública, uma
coleira com a designação do nome e morada do dono e número da licença, sob pena
de ter de pagar o triplo da multa. Além da coleira mencionada, os cães
tinham de andar sempre açamados, sob pena de 2$ooo réis de multa. Se fossem
encontrados na rua sem coleira nem açamo, eram considerados vadios, e como tal,
abatidos. (...)”.
(…) Dois
funcionários municipais, de inferior categoria, deselegantemente uniformizados,
conduziam pelas ruas acidentadas da urbe, num passo vagaroso, sonolento, um
carro de duas rodas e, sobre o eixo destas, poisava um grande e alto caixão de
madeira, de figuração rectangular, interiormente dividido em compartimentos,
onde se recolhiam os cães. Mais dois funcionários do município, de igual classe
e indumentária, a par, com os olhos fixos em todos os vultos que se mexiam,
seguiam por um dos passeios laterais, levando um deles uma rede de corda
delgada aos ombros. Os primeiros que enxergassem um cão desaçamado, davam
sinal, assobiando, e os que puxavam o carro logo paravam, pegavam na rede que
geralmente ia sobre o tejadilho do pequeno carro celular e apressadamente, não
fosse o cachorro escapulir-se pela demora, estendiam-na de lés-a-lés da rua,
chegando por vezes a impedir todo o trânsito”.
Manuel Pedro, in O Tripeiro, Série 5, ano VII (Março de 1952), página
249/250
Os cães que os funcionários municipais apanhavam durante o dia eram
levados para casotas reservadas, existentes nos serviços de limpeza pública, ao
tempo na Rua do Visconde de Bóbeda e traseiras da Biblioteca Pública Municipal
do Porto, a S. Lázaro, podendo os animais ser libertados pelos seus donos
mediante uma multa e depois de cumpridas outras formalidades. No caso de não
serem procurados eram abatidos.
Após 1923, com o abandono das instalações da Rua de S. Dinis e a
transferência do Matadouro Municipal para S. Roque da Lameira, o canil viria a
funcionar, durante todo o século XX, naquelas instalações.
Em 22 de Agosto de 1939, uma camioneta fechada substituiu a anacrónica
carroça, que na cidade procurava os cães vadios, numa época em que existia o
perigo real da propagação da raiva.
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