O lugar de Serralves
já é referido, em 1758, nas Memórias Paroquiais da Freguesia de Lordelo. Tinha
6 vizinhos.
Em 1878, já estava
pelo lugar de Serralves uma propriedade, para a qual, Diogo José Cabral
(1832-1879), casado com Maria Emília J. M (1825-1904), solicitava uma licença
de construção, que seria aprovada com o nº 375/1878.
Passado um ano, o
requerente mencionado faleceu, pelo que lhe sucederia na gestão da propriedade,
um dos seus dois filhos, com o mesmo nome de seu pai, Diogo José Cabral
(1864-1923), que viria em 1900, a tornar-se, por decisão do rei D. Carlos, o 1º
conde de Vizela.
Seu avô paterno foi António
José Cabral (1783-1865), um conhecido capitalista do sector têxtil, casado com
Margarida Rosa.
António José Cabral
começaria o seu percurso profissional gerindo uma pequena tecelagem de 22
operários, sita na Rua do Príncipe (Miguel Bombarda). Em 1846, foi acionista e
fundador da Fábrica de Fiação e Tecidos do Rio Vizela, da qual, ao fim de algum
tempo, passou a ser o sócio maioritário.
Foi, ainda,
proprietário do edificado no Largo do Correio (em frente à Igreja dos Clérigos)
onde, anos mais tarde, o seu neto e 1º conde de Vizela iria construir o palacete
que passou a ser conhecido pelo seu título nobiliárquico.
Sobre o 1º conde de
Vizela, é o texto seguinte:
“Educado no Colégio Jesuíta de Campolide,
onde fez o Curso Liceal, partiu para a Grã-Bretanha e Irlanda a completar os
seus estudos, demorando-se no grande centro fabril de Manchester para se pôr ao
corrente dos progressos introduzidos na indústria têxtil. Esse estágio no
estrangeiro permitiu-lhe adquirir conhecimentos especializados que, volvidos
anos, aplicou com pleno êxito na fábrica de fiação e tecidos fundada por seu
avô em Negrelos, Concelho de Santo Tirso, e que passou a ser uma das maiores e
mais bem apetrechadas do Norte do País. Foi Diretor da Parceria da Fábrica de
Fiação do Rio Vizela. Ocupou-se também de política, tendo sido eleito Deputado
pelo Círculo Eleitoral do Distrito do Porto (N.º 5) em Novembro de 1895 para a
Legislatura de 1896-1897, tendo prestado Juramento a 8 de Janeiro de 1896.
Integrou a Comissão de Artes e Indústrias em 1897”.
Fonte: pt.wikipedia.org/wiki/
Em finais do século
XIX, na carta topográfica do Porto de Telles Ferreira de 1892, já vem
referenciada a Quinta de Lordelo, posicionando-se entre bandas de construções
faceando a Rua de Serralves, prolongadas nas traseiras por logradouros abrindo
para matas e terrenos de cultivo.
Nas primeiras
décadas do século XX, Serralves continuava a ser uma pequena aldeia de vizinhos
em Lordelo do Ouro a meio caminho entre o Porto e Matosinhos.
A quinta primitiva, conhecida como Quinta de Lordelo, possuía,
no preciso local em que viria a ser erguida a actual Casa de Serralves, uma
capela entre duas casas de campo de traçado típico do fim do século XIX/ início
do século XX, voltadas para a Rua de Serralves (já identificada por este
topónimo na planta de Telles Ferreira) e outras casas anexas para os mais
variados fins.
Fachada da capela anexa à casa-mãe (não visível) e casa de quatro pisos comprada pela família, à face da Rua de Serralves,
anterior a 1925 - Ed. Fundação de Serralves
Fachada de casa-mãe da Quinta de Lordelo (a nascente da capela), à face da Rua de Serralves, s/d [1920-1930]:
Foto Beleza © Fundação de Serralves, Porto
Traseira da casa-mãe e jardim relacionada com a foto anterior c. 1925
Vista das traseiras da capela e casa situada a poente
Daquele conjunto de edificações primitivas, apenas a capela com as necessárias adaptações ao novo estilo arquitectónico, sobreviveu.
A origem do Parque de Serralves remonta a 1923, quando Carlos Alberto Cabral (1895-1968), 2º Conde de Vizela, herda a Quinta de Lordelo, propriedade de veraneio da família à Rua de Serralves (então nos arredores do Porto).
Aquele título nobiliárquico recebê-lo-ia, apenas, quatro
anos de morrer, mas que herdara do seu pai, Diogo José Cabral Júnior (1864-1923), o 1.º conde de Vizela.
Aquela capela tinha
sido mandada levantar, em finais do século XIX, pela avó paterna de Carlos
Alberto, Maria Emília de Jesus Magalhães e a propriedade tinha origem na
família desta senhora.
Concebida, originalmente, como uma residência privada, a Casa
de Serralves e o Parque envolvente resultaram de um projecto encomendado pelo 2º Conde de Vizela, Carlos Alberto Cabral (1895−1968).
Em 1925, já o arquitecto Marques da Silva era conhecido e privava com Carlos Alberto. Por isso, foi-lhe encomendado um projecto para ampliação da casa, que tinha sido comprada pela família, situada a poente da capela.
Numa ida a Paris, em 1925, de Carlos Alberto e Marques da Silva para visitar a Exposition des Arts Decoratifs et Industriels Modernes, que decorreu entre Abril e Outubro, é decidido reformular todo o projecto que estava previsto.
O processo avança com a supervisão de Marques da Silva, mas, em 1929, Carlos Alberto, que tinha feito partilhas com o seu irmão mais novo, Diogo Eugénio (1903-1974), trocando a sua parte da herança, na casa de família da Rua do Rosário pela sua quota-parte da propriedade de Serralves, contacta o arquitecto parisiense, Charles Scilis (1889-1942) para uma intervenção mais ambiciosa na nova casa de Serralves.
Marques da Silva, no entanto, fará sempre o necessário acompanhamento.
Pavilhão nas margens do lago e ponte de ligação à ilha da
Quinta de Lordelo, anterior a 1925 – Ed. Foto Beleza; Fonte: Centro de Estudos
de Comunicação e Sociedade, Universidade do Minho
Projectada e construída entre 1925 e 1944, a casa actual é
considerada o mais notável exemplo de um edifício art-déco em Portugal, tendo
sido classificada como Imóvel de Interesse Público em 1996.
Concluído o edifício em 1944, com um atraso considerável provocado pela
Guerra Civil Espanhola e pela 2ª Guerra Mundial, o Conde ocuparia
definitivamente a casa em 1944. Habitá-la-ia, contudo, por pouco tempo. Devido a
dificuldades financeiras vendeu a propriedade em 1953, a Delfim Ferreira, irmão do conde
de Riba d'Ave.
Parterre central c. 1950 – Ed. Alvão
A autoria da Casa poderá ser atribuída, com algum cuidado,
ao arquitecto francês Charles Siclis (1889−1944), cujo contributo se revelou
decisivo na concepção global do projecto, e a José Marques da Silva (autor dos
projectos para a Estação de S. Bento e o Teatro Nacional de S. João, ambos no
Porto) que o desenvolveu, alterou e executou.
Carlos Alberto Cabral, Jacques Émile Ruhlmann (1879−1933) e
mais tarde Alfred Porteneuve (1896−1949), seu sobrinho e arquitecto de
profissão, intervieram também no projecto. O projecto para o jardim da Casa de
Serralves foi encomendado pelo 2º Conde de Vizela ao arquitecto Jacques Gréber
em 1932.
“Provavelmente
desenhado por um dos viveiristas da cidade, e inspirado nos modelos victorianos
de final de oitocentos, o jardim da Quinta de Lordelo desenvolvia-se nas
traseiras da casa com canteiros de formas orgânicas enriquecidos por espécies
ornamentais. Com uma área menor do que a presente, a propriedade seria
sucessivamente ampliada pelo Conde de Vizela com a aquisição de terrenos
adjacentes, num processo de compras que se prolongaria até aos anos 40,
atingindo os actuais 18 hectares. A Quinta do Mata-Sete, também propriedade da
família e herdada pelo irmão do Conde de Vizela, é integrada nesta ampliação
por permuta com propriedades urbanas. Na altura da sua inclusão era já
caracterizada por estruturas edificadas – pavilhão de caça, celeiro, lagar e
casa dos caseiros. Após uma visita, em 1925, à Exposition Internationale de
Arts Décoratifs et Industriels Modernes, em Paris, Carlos Alberto Cabral decide
intervir na quinta, convidando o arquitecto Jacques Gréber a desenhar um novo
jardim. O projecto, cujos desenhos datam de 1932, é caracterizado por um classicismo
modernizado, suavemente Déco, influenciado pelos jardins franceses dos séculos
XVI e XVII, integrando alguns elementos do jardim original, nomeadamente o
lago, bem como estruturas agrícolas e de rega das propriedades entretanto em
aquisição. Considerado em Portugal um dos primeiros exemplos da arte do jardim
da primeira metade século XX, o jardim de Serralves projectado por Jacques
Gréber terá sido o único construído nesse período por um privado, a partir de
um projecto de arquitectura de paisagem.”
Fonte – Site: “serralves.pt”
… e no mesmo site, pode ler-se:
” A Quinta do
Mata-Sete anuncia-se a partir do Passeio da Levada, situado a uma cota elevada,
com um exposição única à luz (Sul/Poente), que abre sobre o Lameiro e o Prado
Grande rodeados por uma cortina de vegetação e bosques, tendo como ponto focal,
dentro da propriedade, o Assento Agrícola à distância. Pertença da família de
Carlos Alberto Cabral antes de 1932, a Quinta do Mata-Sete, apesar de não se
encontrar incluída no projecto de Gréber para o Conde de Vizela, foi objecto de
intervenção na sequência daquele. Uma longa alameda de Castanheiros-da-Índia
atravessa os prados de cultivo e pastoreio, desenhando o eixo que formalmente
prolonga o Parterre Central até à extremidade Sul da propriedade e culminando
num tanque, removido na década de 1980, estilisticamente consonante com os
existentes na extremidade Norte. Originalmente pontuada por ciprestes e
delimitada por sebes, esta alameda prolongava o jardim por entre uma paisagem
codificada por princípios pitorescos e bucólicos de uma ruralidade encenada aparente
nos edifícios que compõem o Assento Agrícola. Hoje a Quinta cumpre uma função
pedagógica, nomeadamente pela manutenção de um efectivo pecuário composto por
espécies autóctones do Norte e Centro de Portugal, entre as quais a Barrosã, a
Arouquesa e a Marinhoa.”
Com uma área menor do que os 18 hectares, que hoje apresenta,
a propriedade inicial herdada, seria sucessivamente ampliada pelo Conde de
Vizela com a aquisição de terrenos adjacentes, num processo de compras que se
prolongaria até aos anos 40.
Quinta do Mata Sete
Para o interior da Casa de Serralves, contribuíram alguns
dos mais importantes nomes europeus da área do desenho de mobiliário: Ruhlmann,
René Lalique (1880−1945), Edgar Brandt (1880−1960), Ivan da Silva Bruhns
(1881−1980), Jules Leleu (1883−1961), Jean Perzel (1892−1986) e Raymond Subes
(1893−1970).
Carlos Alberto e a sua mulher Blanche Daubin instalar-se-iam
na Casa em 1944, habitando-a, contudo, durante poucos anos. Em 1953, a
propriedade foi vendida a Delfim Ferreira (1888−1960), sob
condição de que a propriedade não fosse objecto de qualquer transformação. O
compromisso foi inteiramente respeitado. Grande parte da mobília foi vendida em
leilões, encontrando-se hoje dispersa.
Delfim Ferreira, nasceu em Riba d'Ave a
13 de Dezembro de 1888 e faleceu a 24 de Setembro de 1960. Quando, em 1960,
Delfim Ferreira morreu, era provavelmente a maior fortuna pessoal portuguesa
com fábricas têxteis em Riba de Ave, Famalicão, Vila do Conde, Gaia e Porto, as
Empresas Eléctricas CHENOP, Electricidade do Norte e inúmeras propriedades no
Porto (casa de Serralves, Hotel Infante Sagres) e imóveis em Famalicão, Vila do
Conde, Lisboa, assim como Quintas no Douro...
Na década de 1980, Serralves, tornou-se o centro de um
projeto que culminou na instalação de um dos mais importantes polos culturais e
artísticos da península Ibérica, envolvendo a casa, os jardins, a quinta, e um
Museu de Arte Contemporânea.
Tudo aconteceria porque, em 1987, a Secretaria de Estado da Cultura, em representação do Estado, comprou
a propriedade, sendo o seu jardim, pouco depois, aberto à população com um apoio de uma
cafetaria e bar, a funcionar na “Casa de Chá” anexa ao Campo de Ténis, próxima
do “Jardim do Roseiral”.
Na ocasião, aquela Secretaria de Estado era liderada por Teresa Patrício Gouveia, que irá nomear para a 1ª comissão instaladora do "Museu Nacional de Arte Moderna, em construção" Fernando Pernes (1936-2010), Jorge Araújo (vice-governador civil do Porto) e a jovem arquitecta paisagista, Teresa Anderson.
Será este elemento da comissão, sobrinha de Sofia de Mello Breinner, que irá receber as chaves da propriedade das mãos do mordomo da família Ferreira, o senhor "Martinho", então, a trabalhar para Alexandre Ferreira, o filho de Delfim Ferreira e Sílvia Ferreira.
Casa de chá da Quinta de Serralves
Finalmente, em 1989, é criada a Fundação de Serralves e é
instalado um museu na casa principal, como local de exposições de arte moderna
e contemporânea até à abertura, em 1999, em instalações edificadas para o
efeito, do novo Museu de Arte Contemporânea de Serralves, desenhado pelo arquitecto
Álvaro Siza Vieira.
“O enquadramento do
Museu de Arte Contemporânea foi definido pela criação da Fundação de Serralves
em 1989. Em 1991, o premiado arquiteto Álvaro Siza Vieira foi convidado a
projetar o novo museu nos espaços da Quinta de Serralves. Em 1996, tiveram
início a construção do edifício e a elaboração do programa museológico, tendo
nesse ano o Conselho de Administração da Fundação nomeado Vicente Todolí para
primeiro Diretor Artístico do Museu e João Fernandes, seu Diretor Adjunto.
O Museu foi
inaugurado a 6 de Junho de 1999 com a exposição "Circa 1968”. Passando em
revista uma década de radical criação artística coincidente com um período de
assinalável transformação social e política em Portugal e no mundo, esta mostra
inovadora constituiu um verdadeiro manifesto sobre as ambições internacionais
do Museu e a baliza cronológica da sua futura coleção e do seu programa
artístico. Em 2003 João Fernandes foi nomeado Diretor do Museu e Ulrich Loock,
Diretor Adjunto. Em Janeiro de 2013, Suzanne Cotter assumiu as funções de
Diretora”.
Fonte – Site: “serralves.pt”
O novo edifício do museu de Serralves construído e
projectado pelo arquitecto Siza Vieira, sobre a horta e pomar do antigo jardim,
obrigou a um redesenho dos espaços exteriores desta zona da propriedade, cujo
projecto foi executado pelo arquitecto paisagista João Gomes da Silva e leva à
implantação, para obviar a perda da horta primitiva, de um jardim de plantas
aromáticas.
Museu de Arte Contemporânea de Serralves – Fonte: “serralves.pt”
No ano de 1990, já toda a área, tinha sido considerada, zona
de protecção paisagística, urbanística e arquitectónica no Plano Director
Municipal do Porto.
Em 2004, Siza Vieira supervisionou o restauro da Casa e dos
seus interiores. Proporcionando espaços para exposições e projectos de artistas
integrados no programa do Museu de Arte Contemporânea, a Casa de Serralves
constitui, pela sua arquitectura e design, um museu por direito próprio.
Em 2012, o conjunto do património edificado e natural da
Fundação de Serralves recebeu o estatuto de Monumento Nacional.
A mais emblemática das várias esculturas que povoam, actualmente, este espaço verde, está logo na entrada principal e é
a “Colher de Jardineiro”, de Claes Oldenburg e Coosje van Bruggen.
Para lá disso, são 18 hectares com vários recantos e
diversas espécies de árvores e plantas.
Casa de Serralves – Ed. Alvão
Entretanto, a área da quinta que esteve, desde sempre,
ligada à produção agrícola (Quinta do Mata-Sete), passou a funcionar como uma
quinta pedagógica, recebendo milhares de crianças que tomam, assim, contacto
com uma actividade rural que desconhecem.
Estando na posse da Fundação de Serralves, desde há algum
tempo, o acervo da actividade do cineasta Manoel de Oliveira, em 24 de Junho de
2019, foi inaugurada a Casa do Cinema e o respectivo auditório.
Situado no limite nascente do parque, o complexo destinado a
homenagear o cineasta, resultou de uma adaptação a partir da antiga garagem do
Conde de Vizela e teve projecto de Siza Vieira, preservando a estrutura da
construção primitiva e prolongando-a num segundo corpo.
A Casa do Cinema exibe, em vitrinas, algum do acervo do
cineasta.
Casa do Cinema – Ed. Graça Correia
Tudo teve por base um primeiro protocolo assinado entre o
realizador e a Fundação de Serralves, em 20 de Abril de 2009.
Distribuindo-se por dois pisos, o auditório da Casa do
Cinema dispõem de duas galerias de exposição, de um auditório de 59 lugares,
arquivo e duas salas destinadas a serviço educativo.
Em 13 de Setembro de 2019, foi inaugurado na Quinta de
Serralves um passadiço aéreo que, com vista para o parque de Serralves, permite,
também, em certos locais, avistar o mar e tocar nas copas das árvores.
O percurso intitulado “Treetop Walk” é de 250 metros de
comprimento, sendo que, a sua altura vai variando ao longo do trajecto, entre
os 1,50 e 25 metros e, a obra, é da autoria dos arquitectos Carlos Castanheira
e Álvaro Siza Vieira.
Passadiço da Quinta de Serralves e estrutura que o sustem –
Ed. Graça Correia
Coberto florestal da Quinta de Serralves – Ed. Graça Correia
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