quinta-feira, 29 de maio de 2025

25.277 Os rabões e o rio Douro

 
Enquanto o carvão extraído nas minas de S. Pedro da Cova (margem direita do rio Douro) tinha como destino principal abastecer as caldeiras da Companhia Carris de Ferro do Porto (depois, Serviço de Transportes Colectivos do Porto), em Massarelos, sendo transportado por cestas que se movimentavam num cabo aéreo de vários quilómetros até ao Monte Aventino (Antas), na cidade do Porto, o carvão proveniente do couto mineiro do Pejão (margem esquerda do rio Douro) era transportado pelos chamados rabões que deslizavam no rio Douro desde de Germunde/Pedorido até à Ribeira do Porto e, daqui, seguia para as várias unidades industriais do país.
Os rabões eram barcos rabelos que ostentavam uma vela preta.
Tanto o couto mineiro de S. Pedro da Cova como o do Pejão, que fazem parte da Bacia Carbonífera do Douro, forneciam a matéria-prima para funcionamento da Central da Tapada do Outeiro (desactivada desde 2004), em Gondomar.
No caso das minas do Pejão, o carvão era transportado para a Central da Tapada do Outeiro por meio de um transportador aéreo de vagonetas e, deste modo, era vencido o atravessamento do rio Douro.
 
 
 
 
Vista de Germunde, vulgo Pejão
 
 
 
Principalmente, o carvão extraído do couto mineiro do Pejão era transferido nas margens do rio Douro para navios costeiros que o transportavam para as fábricas de cimento de Alhandra ou Outão.
Só entre 1953 e 1955, a Empresa Carbonífera do Douro, que explorava o couto mineiro, tinha ao seu serviço 46 rabões e, ainda, 52 barcos de particulares.
Por esta altura, em Outubro de 1952, anunciava-se que a produção de carvão chegava a 300.000 ton/ano e o objectivo era obter 500.000 ton/ano.
 
 
 
 
“As viagens dos rabões eram feitas utilizando as marés: partiam quando elas vazavam, regressando quando começavam a subir.
No inverno, quando o rio ia alto, carregados com 40, 50, 60 toneladas de carvão, os rabões faziam a viagem em 4 a 5 horas. No regresso, era o rebocador “Pejão” que puxava os rabões, já vazios.
No verão, tudo era diferente. Como o rio andava baixo, uma viagem podia demorar 7 a 8 horas, incluindo o tempo dos trasfegos. Nessas adversas circunstâncias de navegação, os rabões partiam de Germunde com cargas menores, dirigindo-se para Pé de Moura/Gondomar. Aí, o carvão era trasfegado para outros barcos, que depois zarpavam para o Porto, regressando os outros rabões a Germunde”.
Fonte: pejao.net
 
 
 
 
Rabões para transporte de carvão (embarcações de vela preta). Os rabelos de vela branca são de transporte de Vinho do Porto

 
 
Rabões, em fila, chegando a Germunde rebocados pelo Pejão

 
 
Quando o rio ia baixo e não permitia que o rebocador “Pejão” (e, mais tarde, o rebocador “Fojo”) rebocasse os rabões, a viagem de retorno do Porto a Germunde fazia-se à vela, à vara e com pás de remar (remos), após a transferência da carga para outras embarcações em Pé de Moura/ Gondomar.
 
 
 
Descarga de carvão, no cais da Cantareira, sendo visível, à esquerda, em cima, a capela de Santa Catarina. O carvão aqui chegava nos rabões ou, por vezes, nas barcaças, para as quais era trasfegado em Pé de Moura

 
 
Navio “SECIL”, na década de 1950, amarrado no lugar do cais da Empresa Carbonífera do Douro, Senhor da Boa Passagem, V. N. de Gaia, diante do edifício da Alfândega do Porto, recebe carvão dos típicos rabões vindos das minas do Pejão, Castelo de Paiva

 
 
O rebocador Fojo, que antes de assim ser rebaptizado se chamava “Mercúrio Segundo”, foi comprado pela Empresa Carbonífera do Douro, quando fazia serviço no rio Douro.
Em finais da década de 1970, há testemunhos de que se encontrava semi-submerso junto da Marina do Freixo (Campanhã) e deve, por essa altura, ter sido desmantelado.

 
 
 
O rebocador “Mercúrio Segundo”

 
 
O rebocador “Mercúrio Segundo”, junto de duas barcaças, numa excursão à Quinta da Fonte da Vinha, Oliveira do Douro, em 05/07/1953, organizada pelo Clube Fluvial Portuense /O Comercio do Porto

 
 
 
Nas minas do Pejão, era extraído carvão do tipo antracite A, que fazia parte da Bacia Carbonífera do Douro. Este carvão era usado como combustível, substituindo a lenha em fogões, caldeiras e comboios, por exemplo.

 
 
Rabões no rio Douro
 
 
 
Com o incremento da corrida ao carvão mineral e o início da exploração da Bacia Carbonífera do Douro, em meados do século XIX, acentua-se o interesse no território a sul do Douro, nomeadamente, no denominado Couto Mineiro do Pejão constituído pelas minas do Choupelo, Fojo e Germunde.
 
 
 
 
“A história do Couto Mineiro do Pejão começa em 1859, quando o Concelho d’Obras Públicas e Minas decidiu examinar e reconhecer a existência de uma mina de carvão situada no Monte das Cavadinhas, no Pejão, freguesia de São Pedro do Paraíso, concelho de Castelo de Paiva. As Minas do Pejão começaram a ser exploradas em 1884, data a partir da qual se iniciaram os trabalhos de prospeção, pesquisa e consequente exploração subterrânea. Entre 1908/1917, as minas foram exploradas pela Companhia Portuguesa de Carvão e pela Anglo-Portuguesa Colliers, Lda. No entanto, em 1917 foi fundada a Empresa Carbonífera do Douro, Lda, a qual passou a explorar aquela concessão.
Em 1933, a Empresa Carbonífera do Douro faliu e foi adquirida por um grupo belga liderado por Jean Tyssen. Foi durante o período da sua administração que a empresa sofreu uma enorme evolução, quer na produção, quer a nível de desenvolvimento de infraestruturas e, sobretudo, a nível social.
Durante a Segunda Guerra Mundial e nos primeiros anos pós-guerra, a Empresa atravessou um período de grande desenvolvimento com as duas minas em exploração contínua.
Em 1977, a exploração foi adquirida pelo Estado Português e em 1984 passa para as mãos da Ferrominas, através de um convénio celebrado entre o IPE e aquela entidade.
Em 31 de Dezembro de 1994, as Minas do Pejão foram encerradas oficialmente. Decisão imposta pelo Governo da época, em que milhares de pessoas ficaram no desemprego, numa zona deprimida por si só, uma zona que vivia à custa da mina e onde não havia mais nada”.
Cortesia de André Ramalho

 
 
Endereços dos escritórios da Empresa Carbonífera do Douro, Lda

 
 
 
Endereços dos representantes da Empresa Carbonífera do Douro, Lda
 
 
 
 
Germunde, vulgo Pejão, em 1951
 
 
 
O Couto Mineiro do Pejão chegou a ser servido por uma linha de caminho de ferro utilizada para transportar a produção das minas de carvão de Pedorido até um cais fluvial no Rio Douro, junto a Germunde.
Esse caminho de ferro era do sistema Decauville, com uma bitola de 600 mm, sendo para além do comboio da Praia do Barril, e do Minicomboio da Caparica, uma das poucas linhas em Portugal a utilizar este sistema.
O caminho de ferro incluía uma ponte na localidade de Pedorido, que foi construída pela Empresa Industrial Portuguesa em 1893.
 
 
 
Ponte Ferroviária de Pedorido, na foz do rio Arda, hoje, de uso pedonal
 
 
 
“Para o transporte do minério foram empregues comboios rebocados por locomotivas a vapor, às quais não foram dados números mas nomes.
Uma das locomotivas, denominada de Choupelo, foi construída pela firma Orenstein & Koppel, tendo sido utilizada pelo exército alemão durante a Primeira Guerra Mundial, e depois adquirida pela companhia do Pejão. Outra locomotiva a vapor, chamada de Pejão, foi construída pela empresa britânica Robert Hudson, utilizada no Reino Unido durante a Primeira Guerra Mundial e depois transferida para Portugal.
Após o final da exploração mineira, tanto esta locomotiva como a Choupelo passaram para a gestão da Direção Geral de Minas, tendo sido levadas para as oficinas da Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses em Campanhã.
A Pejão foi guardada no Museu Nacional Ferroviário, no Entroncamento, enquanto que a Choupelo foi preservada primeiro no Núcleo Museológico de Estremoz, e depois levada também para o Entroncamento. Uma outra locomotiva, denominada Pedorido, pode ser encontrada à entrada do edifício da Junta de Freguesia do mesmo nome. Existiu pelo menos uma outra locomotiva a vapor, conhecida como Germunde”.
Fonte: pt.wikipedia.org

 
 
 
Estação Ferroviária do Fojo e comboio, em primeiro plano

 
 
 
Locomotiva Pedorido – Cortesia de J. J. Roseira, In mapio.net
 
 
 
 
 
No que diz respeito ao complexo habitacional das minas do Pejão, remete-se para o texto seguinte.

 
 
“Contrariamente ao que se verifica noutros complexos mineiros, no “Couto Mineiro do Pejão”, as habitações agrupavam-se em bairros dispersos pela serra, destacando-se três grandes conjuntos habitacionais construídos pela Empresa, Folgoso, Santa Bárbara e Germunde, constituindo um universo de 287 habitações -construídas entre 1949 e 1957-, nas quais a simplicidade e banalidade das construções, bem como a harmoniosa relação que as suas implantações estabelecem com a topografia acentuada do terreno, determinam o seu valor identitário.
A arquitectura que caracterizava as habitações mineiras assentava numa grande adaptação à ruralidade, fomentando a continuidade da ligação do mineiro à terra. O trabalho de lavoura era entendido como uma segunda actividade a desenvolver no seio familiar e que, segundo a Empresa Carbonífera, devia ser conservada. Na maior parte dos bairros, manteve-se a lógica do comunitarismo agrário através de equipamentos comunitários como o forno do pão ou os lavadouros. Noutros, verificou-se mesmo a sua reprodução. A ocupação dos tempos livres devia ser canalizada para o ambiente familiar, evitando as discussões políticas de café ou até mesmo actividades grevistas.
Também às políticas habitacionais promovidas pela Empresa se deveu a construção e recuperação das habitações dos trabalhadores das minas que, através de um “fundo especial de empréstimos e comparticipações”, do provisionamento de um “modelo arquitectónico adequado” e do fomento da autoconstrução, tornavam possível a aspiração de o mineiro de possuir casa própria”.
Cortesia de Daniela Pereira Alves Ribeiro
 
 
 
Bairro de Santa Bárbara, 1955 – Cortesia de Daniela Pereira Alves Ribeiro


 
Após o encerramento das minas, têm sido especificadas algumas propostas de reutilização das estruturas mineiras.
Principalmente, é de destacar o projecto para levantamento de um Museu do Carvão & das Minas do Pejão e, um outro, para um aldeamento turístico.
Hoje, porém, os edifícios habitacionais encontram-se à venda, individualmente, e sem qualquer pretensão de desenvolvimento enquanto conjunto.
Mantêm-se, no entanto, a perspectiva do museu.
Para os edifícios industriais tenta-se adaptá-los a instituições culturais.
 
 
 
Oficina abandonada do complexo das minas do Pejão – Cortesia de Armando Ramalho
 
 
 
Cavalete do Fojo, estrutura mineira localizada em Folgoso e desactivada em 1968, esperando intervenção promovida, em 2022, pela Câmara Municipal de Castelo de Paiva
 
 
 
 
Proposta de solução para a recuperação do cavalete do Fojo

 
 
Mineiros do Pejão, estátua de homenagem situada à face da EN222 – Cortesia de Armando Ramalho

quarta-feira, 21 de maio de 2025

25.276 Casa Museu Fernando Castro

 
No prédio n.º 716 da Rua de Costa Cabral, no Porto, viveu e morreu Fernando de Castro (1888-1946) e, aí, continuou a viver a sua irmã Maria da Luz de Araújo Castro.
Em 15 de Dezembro de 1951, através do Decreto-lei 38.560, nº261-I Série, a Casa-Museu Fernando de Castro passa a ficar anexa ao Museu Soares dos Reis; em 24 de Janeiro de 1952, é feita uma escritura de doação onde Maria da Luz de Araújo Castro (irmã de Fernando de Castro) doou ao Estado dois prédios urbanos, o 704 e o 716, na Rua de Costa Cabral, bem como todo o seu artístico e valioso recheio.
Na revista “O Tripeiro”, V.ª Série, VII Ano, Abril 1952, pág. 268, Hugo Rocha, alguém que conheceu pessoalmente Fernando Castro, faz a sua fotografia.
 
 
“Com os seus altos colarinhos engomados, os seus negros cabelos encaracolados, a sua impecável calça de fantasia, a sua vistosa flor ao peito, os seus polainitos de Verão e de Inverno, o se chapéu de coco, a sua bengala de dandy, Fernando Castro era uma das figuras mais características e distintas da cidade e uma das sensibilidades e inteligências mais apuradas e fascinantes que tenho conhecido”.

 
 
Fernando de Castro
 
 
 
Dois prédios com o seu recheio foram doados, então, ao Estado, bem como as obras de arte reunidas ao longo dos anos por Fernando Castro.
Com aquela doação, seria montada a Casa–Museu Fernando Castro, que ficaria sob administração do Museu Soares dos Reis.

 
 
Casa-museu Fernando Castro – Cortesia de Pedro Figueiredo
 
 
 
Possivelmente, a ligação e a paixão pela arte teria raízes no pai de Fernando Castro, igualmente com o seu nome completo.
Tendo vivido na freguesia da Sé, Fernando António Castro (pai), um empreendedor, decidiu mudar-se para a zona das Antas em 1893.
Esta é a data de aprovação da casa que mandou construir com dois pisos, na Rua de Costa Cabral, a que se sucedeu uma ampliação em 1908, incluindo uma cozinha junto à sala de jantar no primeiro piso e a construção de um terceiro piso para quatro quartos e duas salas.
Os caixotões dos tectos, os lambris e demais elementos arquitectónicos da casa correspondem à época da sua construção, pelo que Fernando António Castro (pai) teria já um gosto pela arte, que teria transmitido ao seu filho.
Faleceria em 1918 e, após a sua morte, questões familiares conduziram à ocultação de todos os documentos referentes à herança transmitida, em 1918, aos seus dois filhos, Maria da Luz e Fernando de Castro, o herdeiro da casa.
Sobre Fernando António Castro (pai) é o texto seguinte.
 
 
“A decoração interior da Casa-Museu é dominada por uma atmosfera revivalista, onde sobressai o trabalho da talha e domina a arte sacra, transmitindo ao espaço um certo espírito de antiquário, em consonância com o culto dos estilos nacionais e das antiguidades em finais do século XIX. Constitui por isso um dos raros ambientes do romantismo tardio na cidade do Porto.
Estudos recentes indicam que a decoração fixa da casa corresponde à época da sua construção, entre 1893 e 1908, incluindo lambris de madeira entalhada, de fabrico moderno ou restaurada, tetos de caixotão, espelhos, mobiliário, papéis de parede, lustres e lanternas. Este revestimento original parece resultar de um verdadeiro projeto de interiores, concebido com ostentação e dentro de um gosto atualizado seguido pelo fundador da casa, Fernando António de Castro. É de notar que este negociante da Rua das Flores provinha de um ambiente instruído, sendo filho de um tabelião e membro da família Campos Melo, próspera nos lanifícios da Covilhã.
Fonte: museusemonumentos.pt
 
 
 
 
Fernando de Castro (filho) um poeta e desenhador, reconhecido caricaturista irá, ao longo da sua vida, reunir um riquíssimo espólio de arte dos mais variados estilos e que, hoje, podemos apreciar.
Para alguns foi um coleccionador compulsivo.
A Casa Museu, propriamente dita, é um edifício oitocentista de planta em L, de três frentes, com quatro pisos, sendo dois deles uma cave semi-enterrada e um piso acrescentado.
Em Abril de 1952, a Casa-Museu era descrita, na revista “O Tripeiro”, V.ª Série, VII Ano, Abril 1952, pág. 268, por Hugo Rocha, como segue.
 
 
“À entrada, na sala minhota, observam-se os tectos e lambris que vieram de Braga do extinto mosteiro dos Remédios, peças de talha oriundas do convento franciscano bracarense de Monteriol”.

 
 
Interior da Casa-Museu Fernando Castro


 

Casa-Museu Fernando Castro

 
 
E continuava Hugo Rocha.
 
 
“A sala de jantar com o tecto e os seus caixotões em talha policrómica e dourada espanhola do século XVIII; os quadros de pintores holandeses, franceses, italianos e portugueses; a mobília em talha de estilo Renascença bem como os seus vidros e porcelanas, surpreendem pela riqueza.
A escada de comunicação com o 1.º andar e a galeria D. João V, ostentam quadros de Grão Vasco, Gaspar Dias, candeeiros faianças em estilo D. João V, tábuas das escolas flamengas e portuguesas.
A sala de leitura apresenta as suas estantes em estilo Renascença, quadros de Sousa Pinto e esculturas de Soares dos Reis e presépios de Teixeira Lopes e obras de Camilo em edições raras.
No 2.º andar destaca-se no quarto de dormir a cama em estilo Rocaille”.
 
 
 

Escadaria de acesso aos andares superiores da Casa-Museu Fernando Castro
 
 
 
 
 

Quarto de dormir – Fonte: museusemonumentos.pt



Por fim, Hugo Rocha descrevia as galerias onde eram exibidas obras dos grandes mestres.
 
 
“Anexo ao edifício, podem observar-se duas galerias.
A maior, com pintura e, a mais pequena, com peças de estatuária sacra, românica e gótica em pedra de Ançã e em madeira.
Na pinacoteca podem observar-se obras de Josefa de Óbidos, Roquemont, Rosa Bonhheur, Daubigny, Bastien, Lefage, Casanova, Silva Porto, Malhoa, Columbano, Carlos Reis, Sousa Pinto, Henrique Pousão, António Carneiro, António José da Costa, Roque Gameiro, Alves de Sá, João Vaz, Acácio Lino, José de Brito, Alberto de Sousa e outros.”

 
 
 
Paisagem do Porto; Tela de Artur Loureiro (1853-1932) - In Casa-Museu Fernando Castro, Porto
 
 
 
Cena de peça de Molière; Tela de Giuseppe Signorini, na Sala de Baile


 
António Soller (Retrato, 1882) – In Casa- Museu Fernando Castro, Porto; Pintor: Francisco José Resende 

 
 
 
Na gravura anterior, observa-se um retrato de António Soller, um pianista e compositor, nascido em Lisboa, em 1840, exposto na Casa Museu Fernando Castro.
Na segunda metade do século XIX, o pianista viveu no Porto e, em 1862, já por lá se encontrava.
Nesse ano, no Teatro Baquet, foi executado um hino, durante uma récita de gala em honra do príncipe Humberto, irmão de D. Maria Pia, escrito por António Soller.
Sobre aquele músico, conta-se que estando ele de visita à Exposição de Paris de 1878 viu o fonógrafo de Edison e não acreditou.
Pediu licença para ir cantar ao bocal do fonógrafo e, segundo as suas próprias palavras:

 
“cantei o Hino de Maria da Fonte! Só depois do fonógrafo repetir o que acabava de cantar, é que me dei por convencido da sublime e esplêndida invenção de Edison”.
António Soller - In revista “O Tripeiro”, V.ª Série, Ano VIII, Abril de 1953, pág. 355

quinta-feira, 1 de maio de 2025

25.275 O percurso da Faculdade de Letras da Universidade do Porto

 
A Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP) foi fundada em 1919 e, depois de uma passagem breve pelas salas da Faculdade de Ciências, à Praça dos Leões, instala-se, em 1921, na Quinta Amarela, ao Carvalhido.
Entre as muitas personalidades que se destacaram na fundação desta escola, Leonardo Coimbra teve um papel fundamental.
 
 
 
Faculdade de Letras da Universidade do Porto, na Quinta Amarela

 
 
Em 1927, a vontade manifestada pelos herdeiros da Quinta Amarela de vender terrenos ali existentes, acabaria por precipitar a transferência da FLUP para a Rua do Breyner, nº 164, onde funcionou até ao seu encerramento, em 1931.
No entanto, o motivo principal para o encerramento foi, em 1928, a decisão tomada pelo Governo saído da ditadura militar que, argumentando motivos de ordem financeira, foi implacável, quanto ao seu encerramento.
Os alunos matriculados obtiveram autorização para terminarem as suas licenciaturas, o que aconteceu até 31 de Julho de 1931. Os professores passaram a prestar serviço como professores provisórios nos liceus.



Edifício onde esteve a Faculdade de Letras UP, o Instituto Industrial e a Escola Fontes Pereira de Melo, na Rua do Breiner, n.º164 – Fonte: Google maps



Seguir-se-iam anos de luta para reabrir a unidade de ensino e, assim, no dia 14 de Janeiro de 1948, irá ser inaugurada, num anexo da Biblioteca Pública, a S. Lázaro, voltado para a Rua Morgado Mateus, a sala D. Jerónimo Osório de Estudos Portugueses. Aí, passará a funcionar o Centro de Estudos Humanísticos, embrião da Faculdade de Letras, cuja constituição resultou de reunião efectuada, em 22 de Maio de 1947, no Salão Nobre da Universidade, presidida pelo Prof. Amândio Tavares, reitor.
Reaberta a Faculdade de Letras da UP, em virtude da publicação de um decreto de 17 de Agosto de 1961, instalar-se-ia no antigo edifício da Faculdade de Medicina, ao Carmo.
Na realidade, o funcionamento efectivo ocorreu, apenas, a partir de 1962/63, para as licenciaturas em História e Filosofia e para o antigo curso de Ciências Pedagógicas.
 
 
 
“A "restaurada" Faculdade de Letras da Universidade do Porto teve as suas primeiras instalações no antigo edifício da Faculdade de Medicina, no Largo da Escola Médica, lado a lado com a cerca do extinto Convento do Carmo. Aqui, a Faculdade partilhou espaços com a Faculdade de Ciências e com outros estabelecimentos universitários.
Como esta solução não poderia manter-se por muito tempo devido ao número crescente de cursos e, portanto, de população discente, o Ministério das Obras Públicas determinou que se estudasse a adaptação do edifício contíguo ao Jardim Botânico - a Casa (ou Palacete) Burmester -, também conhecido por Quinta do Campo Alegre, nesta altura pertença da Universidade. Pretendia-se instalar, no todo ou em parte, as diversas componentes da Faculdade de Letras. A ocupação deste palacete deu-se logo durante a década de 60, tendo sido a Secção de Filosofia da Faculdade de Letras a inaugurar a utilização do espaço.
A criação da licenciatura em Filologia Românica no ano escolar de 1969-1970 não levantou problemas de maior, uma vez que ainda foi possível instalá-la no edifício onde antes estivera a Faculdade de Medicina. E o mesmo sucedeu com a licenciatura em Geografia, cujo primeiro ano lectivo teve início em 1972. Contudo, quando se tratou do curso de Filologia Germânica, também nascido em 1972, já foi necessário recorrer a um edifício alternativo, localizado na Rua das Taipas.
Durante o ano escolar de 1975-1976, o curso de História viu-se obrigado a abandonar as instalações primitivas no edifício do Largo do Carmo, tendo ido ocupar parte do Seminário de Vilar, onde permaneceu até ao ano lectivo seguinte.
Para além do desconforto visível provocado pela dispersão dos cursos da Faculdade de Letras, urgia encontrar espaço para o Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar, criado em 1975. Foi nesta altura que a Faculdade de Letras se viu na contingência de recorrer a um imóvel em vias de conclusão, localizado no Campo Alegre: tratou-se do chamado "Complexo Pedagógico", inicialmente destinado ao Instituto de Botânica, que dispunha de área coberta de, aproximadamente, de 6.500 m2. Apesar de uma série de inconvenientes, a ocupação do "Complexo Pedagógico" representou a possibilidade de reunir num único espaço os cursos que até aí haviam estado dispersos pela cidade.
A versão definitiva do Programa Preliminar das novas instalações na Via Panorâmica ficou pronta em Junho de 1986. Uma vez concretizadas as obras de construção, o ano lectivo de 1995-1996 decorreu já quase integralmente nas novas instalações, de cujo projecto foi autor o Arquitecto Nuno Tasso de Sousa. A mudança efectivou-se durante o mês Dezembro de 1995.”
Fonte: “arquivo-digital.up.pt/”
 
 
 
 
 
Antiga Faculdade de Medicina, ao Largo da Escola Médica, onde reabriria a Faculdade de Letras da UP
 
 
 
Na década de 1960, a Faculdade de Letras da UP vai estender-se pelo Palacete Burmester, à Rua do Campo Alegre, com o funcionamento de seminários dos cursos de História e Filosofia.
O Palacete Burmester, no Porto, nos dias de hoje, passou a ser o local, denominado Casa dos Livros, onde estão guardados os acervos integrais de Vasco Graça Moura, Heriberto Hélder, Eugénio de Andrade, Manuel António Pina, Óscar Lopes, Albano Martins, António Cortesão e Humberto Baquero Moreno.
 
 
 
 
Palacete Burmester – Cortesia Avelino Gamelas da Silva
 



Após a formação do curso de Filologia Germânica, em 1972, devido à exiguidade de instalações existentes, este curso teve que ser alojado num palacete da Rua das Taipas, onde, actualmente, funciona o Instituto de Multimédia.

 
 
 
Palacete dos Vilar de Perdizes, onde funcionou o curso de Filologia Germânica da FLUP
 
 
 
Entre 1975 e 1977, o curso de História da FLUP ocupou instalações no antigo Seminário de Vilar.




Seminário de Vilar, na Rua de Vilar

 
 
Com a necessidade de abandonar o edifício do Carmo para nele ser instalado o Instituto de Educação Física (actual Faculdade de Desporto da UP), a partir de 1977, todos os cursos da Faculdade de Letras do Porto, se juntam no denominado “Complexo Pedagógico”, em terrenos da Quinta Burmester.
Estas instalações, inicialmente, destinavam-se a albergar o Instituto Botânico, pois o Jardim Botânico encontra-se em área contígua pertencente à Casa Andresen, mas acabaram por ter outro destino.
Nas instalações do Complexo Pedagógico funciona, hoje, o Departamento de Ciência de Computadores da Faculdade de Ciências da UP.
 
 
 
 
 
“Complexo Pedagógico” observado a partir da Rua de Entrecampos, em terrenos da Quinta Burmester (Rua do Campo Alegre) – Fonte: Google maps
 
 
 
Em Dezembro de 1995, finalmente, após dez anos de construção é inaugurada, à via Panorâmica, com projecto do arquitecto Tasso de Sousa, a nova Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
 



Faculdade de Letras da UP, na Via Panorâmica – Cortesia de Carlos Carneiro / Global Imagens