Enquanto o carvão extraído nas minas de S. Pedro da Cova
(margem direita do rio Douro) tinha como destino principal abastecer as
caldeiras da Companhia Carris de Ferro do Porto (depois, Serviço de Transportes
Colectivos do Porto), em Massarelos, sendo transportado por cestas que se
movimentavam num cabo aéreo de vários quilómetros até ao Monte Aventino
(Antas), na cidade do Porto, o carvão proveniente do couto mineiro do Pejão
(margem esquerda do rio Douro) era transportado pelos chamados rabões que
deslizavam no rio Douro desde de Germunde/Pedorido até à Ribeira do Porto e,
daqui, seguia para as várias unidades industriais do país.
Os rabões eram barcos rabelos que ostentavam uma vela preta.
Tanto o couto mineiro de S. Pedro da Cova como o do Pejão,
que fazem parte da Bacia Carbonífera do Douro, forneciam a matéria-prima para
funcionamento da Central da Tapada do Outeiro (desactivada desde 2004), em
Gondomar.
No caso das minas do Pejão, o carvão era transportado para a
Central da Tapada do Outeiro por meio de um transportador aéreo de vagonetas e,
deste modo, era vencido o atravessamento do rio Douro.
Vista de Germunde, vulgo Pejão
Principalmente, o carvão extraído do couto mineiro do Pejão era
transferido nas margens do rio Douro para navios costeiros que o transportavam
para as fábricas de cimento de Alhandra ou Outão.
Só entre 1953 e 1955, a Empresa Carbonífera do Douro,
que explorava o couto mineiro, tinha ao seu serviço 46 rabões e, ainda, 52
barcos de particulares.
Por esta altura, em Outubro de 1952, anunciava-se que a
produção de carvão chegava a 300.000 ton/ano e o objectivo era obter 500.000
ton/ano.
“As viagens dos rabões
eram feitas utilizando as marés: partiam quando elas vazavam, regressando
quando começavam a subir.
No inverno, quando o
rio ia alto, carregados com 40, 50, 60 toneladas de carvão, os rabões faziam a
viagem em 4 a 5 horas. No regresso, era o rebocador “Pejão” que puxava os
rabões, já vazios.
No verão, tudo era
diferente. Como o rio andava baixo, uma viagem podia demorar 7 a 8 horas,
incluindo o tempo dos trasfegos. Nessas adversas circunstâncias de navegação,
os rabões partiam de Germunde com cargas menores, dirigindo-se para Pé de
Moura/Gondomar. Aí, o carvão era trasfegado para outros barcos, que depois
zarpavam para o Porto, regressando os outros rabões a Germunde”.
Fonte: pejao.net
Rabões para transporte de carvão (embarcações de vela
preta). Os rabelos de vela branca são de transporte de Vinho do Porto
Rabões, em fila, chegando a Germunde rebocados pelo Pejão
Quando o rio ia baixo e não permitia que o rebocador “Pejão”
(e, mais tarde, o rebocador “Fojo”) rebocasse os rabões, a viagem de retorno do
Porto a Germunde fazia-se à vela, à vara e com pás de remar (remos), após a
transferência da carga para outras embarcações em Pé de Moura/ Gondomar.
Descarga de carvão, no cais da Cantareira, sendo visível, à
esquerda, em cima, a capela de Santa Catarina. O carvão aqui chegava nos rabões ou, por vezes, nas barcaças, para as quais era trasfegado em Pé de Moura
Navio “SECIL”, na década de 1950, amarrado no lugar do cais da
Empresa Carbonífera do Douro, Senhor da Boa Passagem, V. N. de Gaia, diante do
edifício da Alfândega do Porto, recebe carvão dos típicos rabões vindos das
minas do Pejão, Castelo de Paiva
O rebocador Fojo, que antes de assim ser rebaptizado se
chamava “Mercúrio Segundo”, foi comprado pela Empresa Carbonífera do Douro,
quando fazia serviço no rio Douro.
Em finais da década de 1970, há testemunhos de que se
encontrava semi-submerso junto da Marina do Freixo (Campanhã) e deve, por essa
altura, ter sido desmantelado.
O rebocador “Mercúrio Segundo”
O rebocador “Mercúrio Segundo”, junto de duas barcaças, numa
excursão à Quinta da Fonte da Vinha, Oliveira do Douro, em 05/07/1953,
organizada pelo Clube Fluvial Portuense /O Comercio do Porto
Nas minas do Pejão, era extraído carvão do tipo antracite A, que fazia parte da Bacia
Carbonífera do Douro. Este carvão era usado como combustível, substituindo a
lenha em fogões, caldeiras e comboios, por exemplo.
Rabões no rio Douro
Com o incremento da corrida ao carvão mineral e o início da
exploração da Bacia Carbonífera do Douro, em meados do século XIX, acentua-se o
interesse no território a sul do Douro, nomeadamente, no denominado Couto
Mineiro do Pejão constituído pelas minas do Choupelo, Fojo e Germunde.
“A história do Couto
Mineiro do Pejão começa em 1859, quando o Concelho d’Obras Públicas e Minas
decidiu examinar e reconhecer a existência de uma mina de carvão situada no
Monte das Cavadinhas, no Pejão, freguesia de São Pedro do Paraíso, concelho de
Castelo de Paiva. As Minas do Pejão começaram a ser exploradas
em 1884, data a partir da qual se iniciaram os trabalhos de prospeção, pesquisa
e consequente exploração subterrânea. Entre 1908/1917, as minas foram
exploradas pela Companhia Portuguesa de Carvão e pela
Anglo-Portuguesa Colliers, Lda. No entanto, em 1917 foi fundada a Empresa Carbonífera do Douro, Lda, a
qual passou a explorar aquela concessão.
Em 1933, a Empresa
Carbonífera do Douro faliu e foi adquirida por um grupo belga liderado por Jean
Tyssen. Foi durante o período da sua administração que a empresa sofreu
uma enorme evolução, quer na produção, quer a nível de
desenvolvimento de infraestruturas e, sobretudo, a nível social.
Durante a Segunda
Guerra Mundial e nos primeiros anos pós-guerra, a Empresa atravessou
um período de grande desenvolvimento com as duas minas em exploração contínua.
Em 1977, a exploração
foi adquirida pelo Estado Português e em 1984 passa para as mãos da Ferrominas,
através de um convénio celebrado entre o IPE e aquela entidade.
Em 31 de Dezembro de
1994, as Minas do Pejão foram encerradas oficialmente. Decisão
imposta pelo Governo da época, em que milhares de pessoas ficaram no
desemprego, numa zona deprimida por si só, uma zona que vivia à custa da mina e
onde não havia mais nada”.
Cortesia de André Ramalho
Endereços dos escritórios da Empresa Carbonífera do Douro,
Lda
Endereços dos representantes da Empresa Carbonífera do
Douro, Lda
Germunde, vulgo Pejão, em 1951
O Couto Mineiro do Pejão chegou a ser servido por uma linha
de caminho de ferro utilizada para transportar a produção das minas de carvão
de Pedorido até um cais fluvial no Rio Douro, junto a Germunde.
Esse caminho de ferro era do sistema Decauville, com uma
bitola de 600 mm, sendo para além do comboio da Praia do Barril, e do
Minicomboio da Caparica, uma das poucas linhas em Portugal a utilizar este
sistema.
O caminho de ferro incluía uma ponte na localidade de
Pedorido, que foi construída pela Empresa Industrial Portuguesa em 1893.
Ponte Ferroviária de Pedorido, na foz do rio Arda, hoje, de
uso pedonal
“Para o transporte do
minério foram empregues comboios rebocados por locomotivas a vapor, às quais
não foram dados números mas nomes.
Uma das locomotivas,
denominada de Choupelo, foi
construída pela firma Orenstein & Koppel, tendo sido utilizada pelo
exército alemão durante a Primeira Guerra Mundial, e depois adquirida pela
companhia do Pejão. Outra locomotiva a vapor, chamada de Pejão, foi construída pela empresa britânica Robert Hudson,
utilizada no Reino Unido durante a Primeira Guerra Mundial e depois transferida
para Portugal.
Após o final da
exploração mineira, tanto esta locomotiva como a Choupelo passaram para a
gestão da Direção Geral de Minas, tendo sido levadas para as oficinas da
Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses em Campanhã.
A Pejão foi guardada
no Museu Nacional Ferroviário, no Entroncamento, enquanto que a Choupelo foi
preservada primeiro no Núcleo Museológico de Estremoz, e depois levada também
para o Entroncamento. Uma outra locomotiva, denominada Pedorido, pode ser encontrada à entrada do edifício da Junta de
Freguesia do mesmo nome. Existiu pelo menos uma outra locomotiva a vapor,
conhecida como Germunde”.
Fonte: pt.wikipedia.org
Estação Ferroviária do Fojo e comboio, em primeiro plano
Locomotiva Pedorido – Cortesia de J. J. Roseira, In mapio.net
No que diz respeito ao complexo habitacional das minas do
Pejão, remete-se para o texto seguinte.
“Contrariamente ao que
se verifica noutros complexos mineiros, no “Couto Mineiro do Pejão”, as
habitações agrupavam-se em bairros dispersos pela serra, destacando-se três
grandes conjuntos habitacionais construídos pela Empresa, Folgoso, Santa
Bárbara e Germunde, constituindo um universo de 287 habitações -construídas
entre 1949 e 1957-, nas quais a simplicidade e banalidade das construções, bem
como a harmoniosa relação que as suas implantações estabelecem com a topografia
acentuada do terreno, determinam o seu valor identitário.
A arquitectura que
caracterizava as habitações mineiras assentava numa grande adaptação à
ruralidade, fomentando a continuidade da ligação do mineiro à terra. O trabalho
de lavoura era entendido como uma segunda actividade a desenvolver no seio
familiar e que, segundo a Empresa Carbonífera, devia ser conservada. Na maior
parte dos bairros, manteve-se a lógica do comunitarismo agrário através de
equipamentos comunitários como o forno do pão ou os lavadouros. Noutros,
verificou-se mesmo a sua reprodução. A ocupação dos tempos livres devia ser
canalizada para o ambiente familiar, evitando as discussões políticas de café
ou até mesmo actividades grevistas.
Também às políticas
habitacionais promovidas pela Empresa se deveu a construção e recuperação das
habitações dos trabalhadores das minas que, através de um “fundo especial de
empréstimos e comparticipações”, do provisionamento de um “modelo
arquitectónico adequado” e do fomento da autoconstrução, tornavam possível a
aspiração de o mineiro de possuir casa própria”.
Cortesia de Daniela Pereira Alves Ribeiro
Bairro de Santa Bárbara, 1955 – Cortesia de Daniela Pereira
Alves Ribeiro
Após o encerramento das minas, têm sido especificadas algumas
propostas de reutilização das estruturas mineiras.
Principalmente, é de destacar o projecto para levantamento
de um Museu do Carvão & das Minas do Pejão e, um outro, para um aldeamento
turístico.
Hoje, porém, os edifícios habitacionais encontram-se à
venda, individualmente, e sem qualquer pretensão de desenvolvimento enquanto
conjunto.
Mantêm-se, no entanto, a perspectiva do museu.
Para os edifícios industriais tenta-se adaptá-los a instituições
culturais.
Oficina abandonada do complexo das minas do Pejão – Cortesia
de Armando Ramalho
Cavalete do Fojo, estrutura mineira localizada em Folgoso e
desactivada em 1968, esperando intervenção promovida, em 2022, pela Câmara
Municipal de Castelo de Paiva
Proposta de solução para a recuperação do cavalete do Fojo
Mineiros do Pejão, estátua de homenagem situada à face da
EN222 – Cortesia de Armando Ramalho