quinta-feira, 30 de março de 2017

(Continuação 5) - Actualização em 11/06/2019

O Teatro Águia d'Ouro e o Cinema Águia d’Ouro


Em Janeiro de 1839, o Águia d'Ouro, ao Largo de Santo Ildefonso (a partir de 1860, passaria a fazer parte da Praça da Batalha), abriu as suas portas como café, tendo sido frequentado por clientes famosos como Camilo Castelo Branco e Antero de Quental, entre muitas outras personalidades da época.
No rés-do-chão do prédio, o café tinha o complemento de um restaurante, célebre pelas ostras que servia aos clientes e, por cima, funcionava uma hospedaria - a Hospedaria Águia d'Ouro.
Camilo, um grande apreciador de ostras, chegou a dar conta de que o depósito das Ostras do Montijo, em 1874, no Porto, se situava na Praça D. Pedro (Praça da Liberdade).
Ainda, no século XIX, passou a existir, no edifício da Praça da Batalha, um teatro inaugurado em 17 de Junho de 1899, que partilhava com o café o espaço, embora as entradas fossem separadas.
Naquele dia de festa, foi incumbida da inauguração a companhia de variedades de Louis Banquard, então director artístico do «theatro Alhambra» de Madrid (O Comércio do Porto, 15.06.1899, p. 2).
Três anos depois, em 1902, no espaço dedicado a sala de espectáculos, passou a funcionar um circo de cavalinhos, onde várias companhias equestres se exibiram.



Gravura do interior do teatro, em 1902



Teatro Águia d'Ouro, em 1903



A partir de Março de 1904, instalar-se-ia no edifício o “Club Fenianos Portuenses”.
Em Agosto de 1907, foram levadas a cabo as primeiras sessões de cinematógrafo e, em 1908, o teatro acabaria por dar lugar ao cinema. 
A novidade era o “cronomegaphone”, antecedente do cinema sonoro que só surgiria 20 anos mais tarde.
Em 1/1/1914 eram arrendatários do espaço, Arnaldo Rocha Brito, Pimenta da Fonseca e António Castro.
Em 7 de Fevereiro de 1919, o cinema reabriria, após sofrer obras de remodelação, exibindo 15 filmes.








À direita, o Café Águia d’Ouro e o Teatro Águia d’Ouro, em 1900



Teatro Águia d’Ouro e Café Águia d’Ouro, em 1905




Em Julho de 1922, o Teatro Águia d’Ouro sofre obras no seu interior, o mesmo acontecendo em 1928, ano em que é encomendado um novo projecto da nova fachada.



Desenho da nova fachada do Teatro Águia d’Ouro e Café Águia d’Ouro integrante de projecto de licenciamento




O Teatro Águia d’Ouro era considerado, nos anos 30, uma das melhores salas do Porto.
Em 15 de Setembro de 1930, inaugurou o cinema sonoro com o filme "The Jazz Singer", com Al Jolson, enquanto, o Café Águia d’Ouro, nesse ano, era alvo de obras, concluidas no ano seguinte.
A nova fachada do edifício e restantes obras, da responsabilidade do arquitecto Joaquim Augusto Martins Gaspar, foram inauguradas em Fevereiro de 1931.



Teatro Águia d’Ouro e Café Águia d’Ouro, em 1931



Sobre a foto anterior, é de notar que os azulejos da igreja só seriam colocados em 1932.





Grande plano da foto anterior



Assim, em 7 de Fevereiro de 1931, após obras de remodelação, determinadas pelos seus proprietários, à data a “Sociedade Nacional de Projecção, Lda”, da família Neves & Pascaud, viu o interior modernizado e ganhou uma nova fachada ao estilo “Art Déco” e, ainda, a célebre escultura da águia no seu pórtico.
Em 1932, o Teatro Águia d’Ouro volta a ser objecto de obras, realçando-se a colocação de um guarda-vento no vestíbulo.




Entrada do Teatro, em 1934


Cinema Águia d'Ouro, em 1942




Em 14 de Março de 1945, o cinema Águia d'Ouro foi ampliado e os proprietários dos prédios vizinhos foram indemnizados com 1.516 contos.
Nos anos 80, o café viria a falir e a ausência de espectadores ditou o encerramento do cinema em Dezembro de 1989. 
Durante duas décadas o edifício foi votado ao abandono, atingindo um estado de ruína bastante acentuado. Durante este período foi comprado pela empresa Solverde com o objetivo de ali abrir um bingo, mas o  projeto foi reprovado pela Câmara. Finalmente, em Agosto de 2006 a Solverde põe o imóvel à venda e o mesmo viria a ser adquirido por uma cadeia de hotéis que após obras de restauro da fachada e renovação do interior fez renascer das cinzas o edifício. Em outubro de 2011, o novo Hotel abriu portas. Na decoração do interior podem ser vistas algumas peças recuperadas dos escombros, tais como, suportes de partituras, microfones, bobines de filmes e posters entre outros.




Fachada do cinema Águia d’Ouro nos anos sessenta




Hotel Moov, actualmente



Pela foto acima adivinha-se, que nos últimos anos, a porta da esquerda era a entrada para a sala de espectáculos e, a da direita, para o café.





Inaugurado a 18 de Maio de 1912, o “Olympia Kinema Teatro”, na Rua de Passos Manuel, foi mandado construir por um retornado do Brasil, Henrique Ferreira Alegria, sob projeto do arquiteto João Queirós.
O “Olympia” fica marcado pela sua programação cultural, como por exemplo a estreia do filme “Amor de Perdição” de Georges Pallu, em 1921.
Henrique Alegria foi o responsável pela construção da sala e, foi ele quem, durante os primeiros anos de vida geriu o espaço, em parceria com a Invicta Filmes.
Durante os anos 10, 20 e 30 foram comuns na sua programação as estreias de cinema alemão. É bom relembrar que até aos anos 30 a Alemanha era uma das principais potências cinematográficas.
A sala tinha lotação para 600 pessoas, e foi classificada como tendo instalações modernas e luxuosas. Para além das sessões de cinema, o Olympia também recebeu eventos musicais e peças de teatro. Depois de ter sido comprado pela empresa Neves & Pascaud continuou a prosperar. Durante os anos 60 teve uma programação muito virada para os westerns, na década de 70 para o cinema de acção e de artes marciais, seguindo a tendência da época.
Durante os anos 80, nos últimos anos de vida como cinema, chegou mesmo a passar filmes porno. Mas o cinema já se encontrava em fase de decadência e acabaria por fechar portas reabrindo como bingo.
A crise dos últimos anos levou ao seu encerramento em 2010. Depois disso, vários projectos ligados aos sectores da diversão ou da restauração têm sido tentados.


Olympia Kinema Teatro em finais dos anos 30, antes da construção do Coliseu

Fachada do Olympia

Anúncio da reabertura do Salão Olympia, em 1921








Foi na Quinta da Prelada, na actual Avenida Conselho da Europa, que se localizaram as instalações da Invicta Filmes.
Em 22 de Novembro de 1917, é constituída uma sociedade por quotas, com um capital de 150 mil escudos, denominada “Invicta Film Lda”.
Alfredo Nunes, com actividade anterior ligada ao funcionamento do “Salão Jardim Passos Manuel” como gerente, vai na nova sociedade, dentro do conselho de administração, ocupar o cargo de gerente-técnico após obter o apoio financeiro indispensável do banqueiro José Augusto Dias.
Na sociedade, Henrique Alegria, que tinha estado envolvido na construção e exploração do cinema “Olympia”, vai ser contratado para director artístico.
Alfredo Nunes traz com ele todo o pessoal que já fazia parte da sua pequena empresa, "Nunes de Matos & Cia – (Invicta Film)", fundada em 1910, com sede na Rua de Santo Ildefonso, n.º 135.


 
Publicidade a "Nunes de Matos & Cia”, em 1912
 
 
 
Em 1918, Alfredo Nunes e Henrique Alegria partem para Paris para a contratação de pessoal técnico e equipamentos.
Durante a estadia em Paris, conseguem que a conceituada Pathé ceda os técnicos de que precisam: um realizador, de nome Georges Pallu (1869-1948), um operador de imagem, Albert Durot, um chefe de laboratório, Georges Coutable e a sua mulher Valentine, montadora de filmes.
Ainda, em 1918, em terrenos da Quinta da Prelada, propriedade da Santa Casa da Misericórdia, é adquirida uma área de 50.000 m2, onde irão surgir os laboratórios e estúdios da empresa totalmente concluídos, apenas, em 1920.
Até 1924, são os anos de ouro da empresa.
A partir deste ano sucede-se os fiascos de que são exemplo as obras “Cláudia” e “Lucros ilícitos”.
De 1925 a 1928, praticamente, só funciona a sua actividade laboratorial, que será eclipsada pela mesma actividade desenvolvida pela firma “Castelo Lopes, Lda”.
Em 5 de Julho de 1930, é vendido o estúdio da Invicta Film e, em 2 de Janeiro de 1931, todos os haveres da “Invicta Film” vão a leilão e o estúdio onde rodou “Zé do Telhado” é demolido.

 
 
Produção cinematográfica de Georges Pallu


 
 

Filmografia da “Invicta Film, Lda”


A ante-estreia do filme, uma adaptação ao cinema de um conto de Júlio Dantas, "As Aventuras de Frei Bonifácio", teve lugar no dia 5 de Agosto de 1918, no Salão Jardim Passos Manuel. Na tela, actuavam os artistas Maria das Neves, Duarte Silva, José Silva, António Vale e alguns mais.
No dia 6 de Julho de 1919, no Teatro Sá da Bandeira, ocorre a ante-estreia do filme de Georges Pallu, baseado no romance "A Rosa do Adro" do jornalista, escritor e apaixonado pela arqueologia Manuel Maria Rodrigues (1847-1899), nascido em Valença do Minho e cuja narrativa se situa nas vivências de um triângulo amoroso.
Tendo sido jornalista do jornal "O Comércio do Porto", Manuel Maria rodrigues foi, ainda, correspondente dos jornais "O Século" e do "Comércio de Portugal".
A sua paixão pela arqueologia, para a qual não tinha formação académica, colocou-o, por vezes, no centro de polémicas públicas nas quais foi muito criticado e, até, ridicularizado.



A Rosa do Adro - Fonte: frame do filme de Georges Pallu, 1919




No dia 23 de Novembro de 1919, em ante-estreia para a crítica, imprensa e para as personalidades convidadas, é passado no Salão Passos Manuel "O Comissário de Polícia", com argumento de Gervásio Lobato, que obteve larga aprovação.




Invicta Filmes, na Prelada


Na foto acima, em primeiro plano, observa-se o edifício onde estavam sediados os escritórios e o laboratório da Invicta Film e que, hoje, é o chão do cimo da Avenida do Conselho da Europa, na confluência com a Rua da Prelada. Neste edifício, após o seu abandono pela Invicta Film, em 1928, pois os laboratórios mantiveram-se em actividade para além do encerramento da empresa, se instalou a fábrica Faria, Fonseca & C.ª. Esta empresa era também conhecida como a Fábrica de Acabamentos do Carvalhido e, por aqui esteve, desde 1933 até 1969.
À esquerda, mais afastado, o barracão com estrutura metálica, que funcionava como estúdio de filmagens, foi desmantelado logo que se deu a falência da empresa.


“A Invicta Film foi uma produtora portuguesa de cinema, sedeada na cidade do Porto, cuja actividade se destacou nos anos vinte, com um número significativo de filmes relevantes para a história do cinema em Portugal.
O produtor portuense Alfredo Nunes de Matos tinha a sede de uma modesta empresa, fundada em 1910, no nº 135 da rua de Santo Ildefonso, no Porto. Em 1912 muda-se para uma dependência do Jardim Passos Manuel, dando à firma o nome de "Nunes de Matos & Cia – (Invicta Film)".
Produz «panorâmicas», documentários de propaganda comercial, industrial e de actualidades. Vários deles são exibidos em Portugal e no estrangeiro. É fornecedor de jornais nacionais para firmas tão importantes como a Pathé e a Gaumont, sociedades francesas com um papel determinante na distribuição e exibição de filmes na França e no mercado internacional. É o caso de alguns filmes de particular significado, como as Manobras Navais Portuguesas ou as Grandes Manobras de Tancos (1912, exercícios de preparação do exército português para eventuais conflitos) ou ainda O Naufrágio do "Veronese" (imagens de um desastre marítimo ocorrido em frente da Boa Nova, em Leça da Palmeira, perto de Leixões, na madrugada de 10 de Fevereiro de 1913). O jornal de actualidades causa sensação em Portugal e no estrangeiro. Desse filme são vendidas mais de cem cópias, para a Europa e Brasil.
O projecto de Nunes de Matos consolida-se com a adesão de outros interesses, de gente bairrista do Porto, encabeçados pelo banqueiro José Augusto Dias, já a guerra tinha feito muitos mortos. No cartório do notário António Mourão é assinada a 22 de Novembro de 1917 a escritura de uma sociedade por cotas, de responsabilidade limitada, designada como Invicta Film Lda., com o capital de 150.000 escudos, uma quantia muito avultada à época. São sócios umas dezassete importantes personalidades. As cotas vão de cinco a sete contos.
Entretanto, em 1907, instalara-se ali mesmo ao lado o dono da Fundição Alegria & Cª, empresa do Rio de Janeiro, um retornado português, chamado Henrique Ferreira Alegria. Interessado pela exibição cinematográfica, abrira a 18 de Maio de 1912 o Cinema Olympia, a dois passos do Jardim Passos Manuel. Acaba por ser integrado na nova empresa como director artístico, isto é, como director de produção. Matos e Alegria partem juntos para Paris em meados de Janeiro de 1918. Numa entrevista ao jornal O Século, dada no dia 14 desse mês, Nunes de Matos declara: «Vou em primeiro lugar a Paris e à Itália procurar o que há de melhor, a última palavra em mecanismos. Porque o meu principal intento é emancipar-me de estrangeiros, embora não deixe de concordar que, para começo, é lá que tenho de ir buscar tudo». Deixa também claro que tenciona trazer de lá um régisseur à altura das suas ambições.
Em Paris, junto da Pathé Frères, na Rue de Ravart, obtêm os viajantes «a mais perfeita e amigável compreensão» e, coisa não menos importante, o plano e o projecto das futuras instalações dos estúdios da Invicta Film. Cede-lhes a Pathé também os técnicos de que precisam: um realizador, de nome Georges Pallu, um operador de imagem, Albert Durot, um chefe de laboratório, Georges Coutable e a sua mulher Valentine, montadora de filmes, O casal será mais tarde substituído por outro operador e outra montadora, vindos também da Pathé, J. Trobert e Madame Meunier. É contratado ainda um arquitecto decorador, Albert Durot, depois substituído por Maurice Laumann, também dos quadros da Pathé.
O convénio entre as duas empresas é assinado a 17 de Fevereiro. A 12 de Março de 1918 é firmado o contrato de trabalho entre a Invicta Film e Pallu, que se responsabiliza pela escolha dos argumentos com o director artístico, pela sua adaptação para cinema e ainda pela montagem dos cenários. Seria ele também o responsável pela construção do estúdio. O contrato era de um ano, mas a colaboração duraria cinco. É Pallu quem traz para a empresa o realizador Rino Lupo, que será também, com Pallu, um dos dois mais importantes realizadores da Invicta Film.
Com nova maquinaria a sociedade decide comprar à Misericórdia uma vasta área de terreno pertencente à Quinta da Prelada que tinha sido dos Noronhas.
Aí são construídos os Laboratórios e os Estúdios que estariam apenas prontos em 1920, não impediu, entretanto, que fossem produzidos alguns filmes.
Georges Pallu escolhe como primeira obra a adaptação de um conto inédito de Júlio Dantas, Frei Bonifácio, que seria entretanto publicado no jornal lisboeta O Dia, em 2 de Outubro de 1918. O filme estreia em Lisboa, com bons resultados, no cinema Olympia, uma das mais prestigiadas salas da cidade, a 4 de Outubro. Realizados por Pallu em 1919 seguem-se A Rosa do Adro e O Comissário de Polícia, com estreia na mesma sala, o primeiro em 27 de Outubro e o segundo em 2 de Fevereiro do ano seguinte. Uma outra obra, O Mais Forte, produzida nesse mesmo ano, serve para testar os estúdios então abertos na Quinta da Prelada,
O segundo grande empreendimento da Invicta Film é a adaptação da obra de Camilo Castelo Branco, Amor de Perdição, em 1921, obra realizada também por Pallu. O filme estreia em 28 de Novembro em Lisboa, no cinema Condes. Segue-se Mulheres da Beira e Quando o Amor Fala.
«Uma tarde de Agosto de 1921 um homem de aspecto estranho, de estatura mediana e de olhos vivos a espreitarem por detrás de umas lunetas pequenas, que cintilavam sob um boné de viagem enterrado até às orelhas, transpôs o portão da Quinta da Prelada».
O homem, um estrangeiro, pretende falar com a gerência. Quem o recebe é George Pallu. Diz o estrangeiro que se chama Rino Lupo, que é de origem italiana, que trabalhou na conhecida produtora francesa de Léon Gaumont como régisseur, que ouviu falar em Varsóvia dos progressos da Invicta Film por um português que por lá andava, que gostaria de colaborar com a empresa e ficar por algum tempo em Portugal. A conversa de Lupo convence Pallu e ele é contratado. A direcção dos projectos da Invicta Film será partilhada a partir de então entre os dois realizadores.
Os resultados um tanto «atrabiliários» do trabalho de Lupo devidos à sua mania do improviso e ao seu modo desorganizado levam ao seu despedimento (1923).
Persistente e agora seduzido pelo sol de Lisboa, mais quente que o do Porto, muda-se para a capital onde abre a Escola de Arte Cinematográfica com sede no nº 182 da Rua da Palma. Mas, imprevisível como é, regressa de novo à invicta cidade onde funda a sua Escola de Cinema, da qual sairão formados os actores da melhor das suas obras, Os Lobos (1923), produção da Ibéria Film, que com nova montagem, será aceite pela Gaumont para distribuição internacional (1924).
Rino Lupo dirigirá ainda em Portugal mais quatro filmes: Carmiña, Flor de Galicia, versão espanhola de Mulheres da Beira (1926), uma obra inacabada, O Diabo em Lisboa (1927), Fátima Milagrosa (1928) e José do Telhado (1929). Lupo deixa Portugal, já na época do filme sonoro, em 1931.
Quem entretanto também abandona a Invicta Film por razões contratuais é o operador de imagem Artur Costa de Macedo depois de ter filmado as Mulheres da Beira. Fora ele o responsável pela cobertura de alguns dos aspectos mais emocionantes da aventurosa travessia aérea do Atlântico empreendida por Gago Coutinho e Sacadura Cabral.
São no entanto insuficientes as receitas. Não existe rede de distribuição que sirva os interesses da empresa. Os problemas financeiros surgem a partir de meados de 1923. Tenta-se ainda exportar alguns dos filmes já produzidos para o Brasil e Estados Unidos, visando os centros de emigração. Consegue-se vender alguns, mas os resultados são poucos.
A Invicta Film dispensa todo o pessoal da produção a 15 de Fevereiro de 1924, mas mantém o laboratório aberto. Encerra definitivamente a actividade em 1928.
Fica encerrado assim também o ciclo de alternâncias entre o Porto e Lisboa, na predominância das actividades de produção, desde que surgira o primeiro filme português. A criação dos laboratórios da Tobis Portuguesa no começo dos anos trinta, com o advento do sonoro e com equipamentos de ponta, completa a reviravolta”.
In  pt.wikipedia.org



Estúdios da Invicta Filmes na Prelada



Central eléctrica da Invicta Filmes em 1920 



Cine-Teatro Avenida de V. N. de Gaia


Cine Teatro Avenida


Notícia sobre a inauguração do Cine Teatro Avenida - Fonte: jornal "O Comércio do Porto" de 25 de Dezembro de 1946



Esta sala de espectáculos foi inaugurada em 28 de Dezembro de 1946, sendo seu fundador Alberto Ferraz Carneiro, sócio gerente da Sociedade do Cine-Parque da Avenida, Ldª e que, em 1945, solicitou às entidades competentes a construção de um cine-teatro num terreno pertença da referida sociedade.
Tinha o cine-teatro uma área coberta de 1380 metros quadrados e uma luxuosa sala de espectáculos, com aquecimento e dotada de um equipamento de projecção, à data, de última geração.
A sua lotação era de 1090 lugares, podendo estendê-la até aos 1200. Possuía um salão de festas, três bares, servindo a plateia, balcão e geral.
Na sua construção foram gastos 6800 contos.
A “Fábrica de Fiacção e Tecidos de Ermesinde, SARL”, foi a empresa proprietária e exploradora do Cine-Teatro de V. N. de Gaia.
No início dos anos 80 do século passado foi demolido.




Aqui, no gaveto formado pela Avenida da República e a Rua Parque da República, ficava o Cine Teatro Avenida de V. N. de Gaia – Fonte Google maps


Cine Teatro da Avenida de Vila Nova de Gaia


Houve, desde Abril de 1924, uma outra sala de espectáculo em V. N. de Gaia, um “Cine-Parque da Avenida”, sito na Avenida da República.
Álvaro A. Carvalho foi proprietário dessa sala de espectáculos, edificada no gaveto da Avenida da República e da Rua do Parque da Avenida.
Aliás, Álvaro A. Carvalho era proprietário de uma quinta que confrontava as ruas Joaquim Nicolau de Almeida e Parque da República e, ainda, a Avenida da República.
Durante a presidência de Ângelo Mendonça da Cunha Morais (1897 - 1968), entre 22 de Maio de 1923 e 26 de Maio de 1925, a Câmara de V. N. de Gaia tentou adquirir o edifício do Cine-Parque da Avenida para aí instalar a “Escola Mourão”, dando cumprimento ao legado do empresário Pinto Mourão, o que não chegou a verificar-se.
Álvaro A. Carvalho acaba então por vender o terreno em que se encontrava o “Cine-Parque da Avenida” (seria demolido) a Ferraz Carneiro, para a construção do "Cine Teatro da Avenida", e lotear a restante área da quinta. 

quarta-feira, 29 de março de 2017

(Continuação 4)


O Salão Chiado do Porto foi uma pequena sala de cinema inaugurada em Agosto de 1907, tendo encerrado por volta de 1934. Localizava-se na Rua das Carmelitas e foi pioneiro na utilização de “cupões de desconto”. Os “cupões” eram publicados diariamente no "Jornal de Notícias" e davam um desconto de 20% na aquisição de um bilhete.
 
 
 
 

Vista aérea de demolições, em 1953, para reconversão do Mercado do Anjo. Por aqui, esteve, entre 1907 e 1934 o Salão Chiado – Fonte: AHMP
 
 
 
 
A entrada no Mercado do Anjo, a partir da cota mais baixa da esquina da Rua das Carmelitas com São Filipe de Néri, realizava-se através de uma escada existente nessa esquina.
A escada era ladeada por dois edifícios projetados pelo arquitecto Marques da Silva na sua proposta para o "Novo Mercado do Anjo", de 1905.
 
 

Neste local, Junto à Igreja dos Clérigos, funcionou o Salão Chiado – Fonte: Google maps





Este cinema esteve na esquina das Ruas Alexandre Herculano e Duque de Loulé, no local onde existe um belo edifício que foi ocupado pela EDP e antes tinha sido pela "Eléctrica del Lima".

 “O Metropolitano era engraçado porque representava uma estação de caminho do ferro, com o seu cais e uma carruagem a entrar em túnel. A Carruagem era o salão em que passavam os filmes, que representavam uma viagem qualquer, em caminho de ferro. A tela estava ao fundo da carruagem e todos os lugares estavam virados para a tela. Quando começava o espectáculo, fechava-se a carruagem e dava-se o sinal de partida, ouvia-se um apito e a carruagem começava a estremecer como se fosse andar, dando-se ao espectador a ilusão de que andava”. 
Um leitor de O Tripeiro


Edifício da "Eléctrica del Lima"



Salão Jardim Passos Manuel


O Jardim Passos Manuel, situado na rua do mesmo nome, foi inaugurado a 18 de Março de 1908 e construído por iniciativa do empresário portuense Luiz Alberto Faria Guimarães. Dispunha de jardins com esplanada e uma sala de bingo no local hoje ocupado pelo Cinema Passos Manuel. Tinha também um cinema ao ar livre, uma central elétrica que fornecia energia às ruas limítrofes, um restaurante, um quiosque de venda de jornais e revistas, um salão exclusivo para reuniões de negócios, um café-concerto que tinha em permanência uma orquestra, um clube nocturno e um recreio para crianças. No jardim, um coreto servia de palco.
Este espaço foi demolido em 1938, nascendo no seu lugar o Coliseu do Porto e o Cinema Passos Manuel.



Entrada do Salão Jardim Passos Manuel



Vista actual do que foi a frente do Jardim Passos Manuel – Ed. MAC



Pela foto anterior, poder-se-á concluir que a frente do Jardim Passos Manuel que confinava com a Rua de Passos Manuel, corresponderá, nos nossos dias, à frente do Coliseu do Porto e ainda a um prédio construído a montante.
O Jardim Passos Manuel era um lugar elegante, sofisticado, moderno, baseado nos jardins parisienses da época, e proporcionava todo o tipo de entretenimentos: café-concerto, music-hall, esplanada e cinematógrafo.




Hall do Salão Jardim Passos Manuel



Publicidade ao Jardim Passos Manuel



Edifício do restaurante e palco coreto



Jardim Passos Manuel



Esplanada e palco coreto do Salão Jardim Passos Manuel



Em 1911, este Salão é renovado e ampliado, passando também a incluir jardim-esplanada, salão de festas, pavilhão restaurante, hall e um pequeno teatro.


Salão de Festas do Jardim Passos Manuel - Fonte: AHMP




Com a descoberta de mais de 2.000 partituras com o carimbo do Arquivo Musical do Jardim Passos Manuel, veio comprovar-se que neste salão actuavam, permanentemente, uma orquestra e dois sextetos, o que revela a importância e a popularidade deste espaço.
Uma exposição de Amadeo de Souza-Cardoso, em 1916, foi apresentada nas magníficas instalações do Jardim Passos Manuel.
Mas não foi bem recebida por uma parte significativa da intelectualidade portuense daquele tempo – apesar de ter sido moderadamente elogiada pela imprensa da época. Dois casos, pouco conhecidos do grande público, que Álvaro Pinto relata no número 108 (1947) da revista “Ocidente” que ele dirigia, dão-nos uma ideia do que foi a reação desse sector da intelectualidade portuense daquele tempo. O primeiro foi protagonizado por Eduardo Artayete, misto de poeta romântico e boémio noctívago.
No dia da inauguração da mostra no Jardim Passos Manuel, quando a cerimónia ia no seu auge, ouviu-se, vindos de um canto da sala, gritos de “acudam-me, acudam-me, que horríveis tonturas …” Era Artayete que, agachado e com as mãos a agarrar a cabeça, protestava, à sua maneira, contra o tipo de pintura ali exposta.
O segundo caso aconteceu dias depois da exposição. Amadeo de Souza-Cardoso apareceu no serviço de urgência do Hospital de Santo António onde foi atendido pelo médico Júlio Abeillard Teixeira.
Tinha sido agredido ao sair da exposição, como contou no hospital: 


“Descia a rua de Passos Manuel e já tinha passado o cruzamento com a rua de Santa Catarina quando notei que alguém me seguia monologando. Apressei o passo. Perto da travessa (actual rua do Ateneu Comercial do Porto) a pessoa que me seguia interpelou-me: olhe lá, o senhor é que pintou aquilo que está lá em cima? Sim, fui eu … não pude dizer mais nada. O homem agrediu-me com rancor e eu nem tive tempo de me defender. Quando apanhei o chapéu já o sujeito se tinha raspado…”


O jornal "A Montanha", que costumava publicitar, diariamente, o programa do Jardim Passos Manuel, também não apreciou o estilo apresentado pelo pintor, dizendo:

"Aquilo não é abstracionismo, é obstrucionismo"


Envolvendo a citada exposição, alguns cuidados foram tomados no âmbito da logística. Assim, os quadros do artista após serem recebidos em caixotes na estação ferroviária de S. Bento, foram transportados, em carros de bois, para a Travessa Passos Manuel, onde se situavam os armazéns da «Fábrica Confiança», empresa com entrada pela Rua de Santa Catarina, ficando lá depositados, porque esta ficava a escassos metros do local onde iria decorrer a exposição.
Como curiosidade, diga-se que Amadeo tinha trabalhado algum tempo na fábrica Confiança como caixeiro.
Abaixo, pode ler-se o anúncio da Exposição de Pintura (abstracionismo) de Amadeo de Souza-Cardoso, realizada de 1 a 12 de Novembro de 1916, no Salão de Festas Jardim Passos Manuel, no Porto.


 

Programação do Jardim Passos Manuel no jornal “A Montanha”, 1 de Novembro de 1916
 
 
 
No dealbar da década de 1920, acompanhando a evolução dos hábitos e dos tempos, o Salão Jardim Passos Manuel renova-se.
 
 

Nova Fachada do Jardim Passos Manuel – Fonte: AHMP



Numa óptica de renovação, o Jardim Passos Manuel passaria a abrir as portas ao fim da tarde, como café-concerto. Às nove e meia começavam as sessões de cinema. No jardim, durante o Verão, havia exibições ao ar livre. Mas a grande boémia começava depois da meia-noite. O music-hall recebia uma clientela masculina de todas as idades e extractos sociais atraída, pela sedução das danças das coristas e, pelo salero e sapateado das dançarinas espanholas.
Era, assim, um espaço polivalente, que acolhia sucessos do cinematógrafo, saraus, reuniões culturais e conferências. As festas carnavalescas foram as mais atractivas e as que mais abrilhantaram o recinto, ficando na memória de todos aqueles que estiveram presentes.
Este Salão chegou mesmo a ganhar fama de casamenteiro, pois os rapazes e as raparigas de então não tinham muitas outras oportunidades de se conhecerem. Dizem que muitos dos namoros aqui iniciados acabaram em casamentos.
Mais do que um mero espaço de diversão, o Salão Jardim marcou uma época, sendo um pólo de animação cultural e recreativa, dinamizando a cidade com espectáculos e atracções de todo o tipo, trazendo ao Porto grandes nomes da música e do espectáculo.
No final dos anos 30, a sua actividade começou a decair, o que em parte se deveu à aparição de novas formas de entretenimento: rádio, indústria fonográfica e os salões de baile. Mas o Salão Jardim Passos Manuel permaneceu para sempre vivo na memória de muitos. Foi neste local mítico que o Porto viu nascer o Coliseu.


Sala de concertos e teatro do Salão Jardim Passos Manuel



Palco no Exterior


Central Eléctrica



Inaugurado em Agosto de 1907 na confluência da Rua da Conceição e Rua José Falcão, antiga Rua D. Carlos, o Salão Pathé gozou de grande popularidade nos primeiros anos da sua existência. Segundo notícias publicadas na época, as sessões com lotação esgotada eram comuns. Tal sucesso era devido, em grande parte, ao facto de ser frequentado maioritariamente pela burguesia, atraída pelas excelentes instalações do salão, que eram consideradas na altura as mais completas, confortáveis e elegantes da cidade do Porto. Inicialmente eram projetadas duas a três sessões diárias. 
Em 2 de Julho de 1909, o Pathé exibiu "O Homem dos Bonecos", primeiro filme colorido, passado no Porto.
Com o surgimento do cinema sonoro, o Pathé foi entrando em declínio e acabaria por encerrar por volta de 1932.


Aqui esteve o Salão Pathé - Fonte: Google Maps

Cartaz de filme a passar no Phaté






O Cinema da Carvalhosa situava-se ao lado do edifício da Faculdade de Farmácia na Rua Aníbal Cunha e em 1905 já exibia películas. Chegou a ser conhecido como Salão da Carvalhosa e encerrou a sua actividade cerca de 1926, sendo, durante os anos 30, convertido em garagem. Algumas décadas depois, o edifício foi demolido sendo substituído por outro mais moderno e curiosamente voltou a funcionar como garagem.


Edifício original do Cinema da Carvalhosa, já como estação de serviço


Publicidade do Salão da Carvalhosa no “Voz Publica” em 29/09/1909




O Edifício actual é uma garagem





Em 8 de Julho 1907 ao Largo Marquês de Pombal/Rua da Constituição, julga-se que mais propriamente na Rua do Lindo Vale é inaugurado o Salão Marquez de Pombal, sendo empresário Armindo José Fernandes.



Por aqui esteve o Salão do Marquês na Rua Lindo Vale







Este “Pavilhão Cinematographico Cine Palais”, como lhe chamava o seu proprietário, Don António Manresa, teve licença de construção da Câmara do Porto n.º 625/1907 de 27 de Setembro de 1907.
No entanto, em Janeiro de 1907, já tinha sido feito um requerimento à Câmara do Porto, que teve de ser instruído com novos documentos.
Por isso, parece que o Cine Palais foi inaugurado em 27 de Abril de 1907 e ficou a aguardar a licença definitiva.
O pavilhão era ambulante, com esqueleto de madeira ligada por parafusos e coberto com pano e lona, com duas entradas frontais, pela Rua de Alexandre Herculano e três portas de saída, duas de um lado e a outra do lado oposto.
Ficou situado na esquina sul-nascente das ruas de Loulé e Alexandre Herculano, num terreno arrendado para o efeito.
E, nada mais se sabe.







Nos baixos do prédio, à Praça dos Voluntários da Rainha e que tinha também acesso pela Rua da Galeria de Paris, foi possível aos fregueses da conhecida loja, transpondo esta entrada, a partir de 9 de Maio de 1907, frequentar uma sala de espectáculos (concertos musicais e animatógrafo), que podia comportar 1000 espectadores.
A construção do referido prédio, que ainda sobrevive nos nossos dias, foi executada sob a direcção de José Isidro de Campos, pelo conselheiro Boaventura Rodrigues de Sousa.
Este animatógrafo teve licença de funcionamento até Junho de 1909.
 
 
 

Grandes Armazéns do Chiado






Em 30 de Março de 1907, é inaugurado na Rua do Bonjardim ao Pátio do Paraíso, o Salão Cinematográfico Portuense que, em Julho, passou a chamar-se Animatographo do Paraíso e em Outubro Salão D’Élite.
 

Pátio do Paraíso da Associação Humanitária Bombeiros Voluntários do Porto – Ed. Foto Guedes





São poucas as informações sobre esta velhinha sala de cinema. Parece ter sido inaugurado em 10 de Fevereiro de 1907. Como o nome indica, ficava localizada na Rua de Santa Catarina e era uma sala de pequenas dimensões e sem grandes luxos. A sua memória perdeu-se com o tempo, mas, talvez se possa dizer, que ficava no local de que nos fala um texto do “O Comércio do Porto”.


“Começam a realizar-se sessões de cinematógrafo no Salão de Santa Catarina, na rua do mesmo nome, em frente à Rua Firmeza, também com sessões triplas à noite”.
Fonte: “O Comércio do Porto”, 23.02.1907, p. 3



In jornal "A Voz Pública" de 23 de Abril de 1908