quarta-feira, 28 de junho de 2017

(Continuação 20)

18.15 Bom Sucesso

Aldeia do Bom Sucesso


Quando se planeou a construção do Mercado do Bom Sucesso, a fonte que se vê na foto anterior ao lado da capela, foi removida para o interior da quinta em meados do século XX, para se proceder a arranjo urbanístico da zona e, em 1982, o novo proprietário da quinta, Oswaldo Lopes Cardoso Rocha Ferreira, transfere-a para uma propriedade em Barcelos, encontrando-se actualmente numa quinta que pertenceu à família Rocha Ferreira, na freguesia de Martim em Barcelos, local onde foi recolhida junto com mais algum património escultórico, que a Quinta do Bom Sucesso possuía.  


Quinta do Bom Sucesso casa, capela e fonte


Fonte de Nossa senhora do Bom Sucesso em 1950 - Ed. Teófilo Rego; CMP, Arquivo Histórico Municipal


Vista actual do Bom Sucesso - Fonte: Google Maps


Traseiras da casa da Quinta do Bom Sucesso em meados do século XX


A Rua de S. Paulo ao Bom Sucesso em 1941


Casa e Capela na actualidade

O conjunto da Casa da Quinta do Bom Sucesso e Capela é um dos poucos exemplares de casas agrícolas do século XVIII, ainda existentes no Porto, em vias de classificação como Imóvel de Interesse Público pelo IGESPAR. localizando-se na proximidade da Rotunda da Boavista.
Esta quinta ia da Rua do Campo Alegre ao Cemitério de Agramonte e do Largo do Bom Sucesso à Viela do Friagem a actual Rua Arquitecto Marques da Silva e que foi também Viela do Friage.
A Quinta de Bom Sucesso era uma antiga propriedade rural dos arredores do Porto. No século XVIII e XIX, a cidade era ainda relativamente pequena (em comparação ao seu tamanho actual), e estava rodeada por propriedades rurais, pertencentes às grandes famílias do Porto. A maioria dos seus donos vivia em permanência em grandes mansões e palacetes na cidade. Eram fidalgos, burgueses e mercadores abastados que compravam essas quintas para veraneio e recreio. Por outro lado, era de muitas destas quintas que vinham os mantimentos para a cidade, as frutas e hortaliças vendidas nos seus mercados.
Esta quinta foi construída na primeira metade do século XVIII, por António de Almeida Saraiva.
A mais antiga referência à quinta é um registo, de meados do século XVIII, relativo a uma fonte, mandada fazer pelo proprietário, António de Almeida Saraiva, negociante, residente no Largo de São Domingos, que usava a quinta como casa de veraneio. Mandou erguer uma fonte de acesso público, que esteve junto da casa e que, hoje, já não se encontra nesse local. Sabe-se que tinha uma inscrição que nos chegou até hoje registada em papel:
“Esta fonte mandou-a fazer à sua custa no ano de 1748 António de Almeida Saraiva, senhor desta quinta, e cuja água dará ele e seus sucessores quando e na quantidade que muito lhes parecer. 1748, Nossa Senhora do Bom Sucesso.”
Uma imagem de Nossa Senhora do Bom Sucesso estava colocada num nicho que existia na frontaria dessa fonte que fi­cava ao lado da capela. Aquela personagem,

“ (…) era um dos muitos comerciantes e burgueses abastados da cidade, que utilizava a propriedade campestre para lazer.
Construiu uma boa casa, de desenho e linhas simples e levemente rurais, e ao lado, formando um L com a habitação, uma capela barroca, de desenho mais elaborado, que dedicou a Nossa Senhora do Bom Sucesso. E baptizou a quinta como Quinta do Bom Sucesso”.
Fonte: pt.wikipedia.org

“A capela, provavelmente, já existia no ano de 1704, porque num registo paro­quial de Cedofeita desse ano vem referi­do "o lugar da Areosa, junto à Senhora do Bom Sucesso". Lugar da Areosa que no re­ferido inquérito de 1758 é indicado pelo padre Manuel Brandão como a "aldeia da Arioza". A capela ganhou fiéis, e segundo as "Memórias Paroquiais de 1758", já tinha alguns devotos que vinham desde a cidade do Porto até à capela para orar e dirigir preces à imagem de Nossa Senhora do Bom Sucesso.
A quinta do Bom Sucesso passou, depois, da posse de António Saraiva, para a posse de D. Maria Angélica, filha de António Saraiva; a seguir, para um neto do primeiro dono, o desembargador António Pedro de Alcântara e Sá Lopes; e, posterior­mente pertenceria a um bisneto, António de Sá Lopes, também desembargador de profissão, que a habitava em 1840. 
Depois, foi vendida a um súbdito inglês chamado Diogo Franklim que, provavel­mente, por ser anglicano, descurou o cul­to da capela e a "romaria" dos devotos foi esmorecendo. Os últimos ocupantes da quinta foram o coronel Francisco Rocha Ferreira Júnior e suas filhas. Por esta altu­ra, já a propriedade fazia parte da fregue­sia de Massarelos. 
A Quinta do Bom Sucesso era enorme. Estendia-se por toda aquela vasta área que hoje fica entre as ruas do Campo Alegre, Bom Sucesso, Marques da Silva e Largo do Bom Sucesso. Além de terrenos de cultivo, pomares e hortas, a propriedade possuía também um belo jardim feito à moda francesa”. 
Com a devida vénia a Germano Silva


Mas o avançar da cidade não poupou a propriedade. Os tempos ditaram a sua venda e urbanização. Hoje, as terras ocupadas pela quinta, outrora cultivadas, estão sob o alcatrão e o cimento das ruas e edifícios do Porto urbano do nosso tempo, e da antiga propriedade restou a casa da quinta, e a capela pegada. Estas foram por sua vez incorporadas no arranha-céus de vidro do Shopping Cidade do Porto. Estão restauradas, mantiveram a sua traça original no exterior. A casa é hoje um restaurante-bar.
A capela onde era muito venerada a imagem de Nossa Senhora do Bom Sucesso era procurada para patrocinar todo o tipo de sucessos: suces­so num negócio; numa viagem; no casa­mento; ao jogo; na passa­gem para a outra vida. Era costume antigo os cortejos fúnebres, que se dirigiam para o cemitério de Agramonte, ali perto, para­rem junto da fonte a urna colocada diante da imagem de Nossa Senhora. 
A capela hoje foi reaberta ao culto, ao cuidado dos Missionários da Fraternidade Missionária Verbum Dei.
Em terrenos desta quinta do Bom Sucesso haveria de nascer em 1951 o Mercado do Bom Sucesso, que até aos dias de hoje passou por algumas modificações importantes.

Mercado do Bom Sucesso a dois passos da capela

terça-feira, 27 de junho de 2017

(Continuação 19) - Actualização em 25/03/2020



No início da década de 40 do século XX, começam as demolições do casario existente no local que viria a ser conhecido como Praça de D. Filipa de Lencastre.



Casa do tribunal da Picaria


Na foto acima, na actual Praça Filipa de Lencastre, esquina com a Rua da Picaria, está ainda a casa onde funcionou o tribunal em que Camilo foi julgado e absolvido, pela sua ligação com Ana Plácido, numa tarde, de tal tempestade que o povo dizia que “era Deus que não queria a sua condenação”.
Esta casa foi de pessoas que tinham parentesco com os viscondes de Balsemão, que viviam na Praça dos Ferradores, a actual Praça Carlos Alberto.
Era identificada, por isso, como “Casa de Maria Manuel Azevedo” ou “Casa dos Alvo Brandão”.
Hoje, o prédio está ligado à actividade da restauração.
No correr de casas baixas do século XVIII, contíguas ao antigo tribunal esteve também, em tempos, o Cabaret Primavera e na esquina com a Rua da Picaria o cabaret Trianon.
À rua que se desenvolve ainda hoje, à esquerda do edifício da foto acima e que sobe até ao Largo da Picaria, era, como hoje, a Rua da Picaria e o sítio onde se encontra aquele friso de moradias era a Travessa da Picaria que ia até à Rua do Almada.
Desembocando na Rua do Almada, vinda do Laranjal, vê-se na planta abaixo, a Rua dos Lavadouros que, antes, foi Rua de S. António dos Lavadouros.
Esta Rua de Santo António dos Lavadouros, depois, Rua dos Lavadouros, pode dizer-se que era o prolongamento da Travessa da Picaria até ao Laranjal.
Naquela Rua dos Lavadouros predominavam os vendedores de mobílias de pinho que, após a extinção da artéria, se passaram para a Rua da Picaria.
Muito perto da confluência da Rua dos Lavadouros com a Rua do Almada, existiu uma fonte concluída no ano de 1795 e que ficaria conhecida como 1ª Fonte da Rua do Almada.



Planta de George Balck de 1813, onde se vê a Rua dos Lavadouros (trajecto AB) na confluência (A) da Rua das Hortas com a Rua do Almada




Na planta acima, observa-se ainda que, a Rua da Picaria (M) corre paralela à Rua do Almada e que, esta, no seu troço inicial, partia da Rua das Hortas.
A Rua das Hortas corresponderia ao que hoje é o troço inicial da Rua do Almada, entre a Rua dos Clérigos e a Praça D. Filipa de Lencastre.



 Ao fundo da Rua da Picaria



Na foto acima obtida ao fundo da actual Rua da Picaria, observa-se a confluência da antiga Travessa da Picaria (segue pela esquerda) com a antiga Travessa da Fábrica (segue pela direita e mais à frente é, hoje, a Rua de Aviz). Ambas as travessas desapareceram e fazem actualmente parte da Praça de D. Filipa de Lencastre.
No entanto, as casas do lado esquerdo da Travessa da Picaria (na imagem) nunca chegaram a ser demolidas e constituem hoje, a frente Norte da praça, onde funcionou o tribunal que julgou Camilo.
Ao fundo da Travessa da Picaria, vê-se o prédio da garagem de "O Comércio do Porto", na Rua do Almada, que à data da foto já estava concluído.
Aliás, por consulta, mais abaixo, da planta de Telles Ferreira, pode constatar-se que o edifício da garagem de "O Comércio do Porto" e o próprio edifício do jornal “O Comércio do Porto”, na Avenida dos Aliados, ocuparam o chão por onde antes corria a Rua dos Lavadouros.
O conjunto de edifícios frontais foi totalmente demolido e agora, está aí, o miolo da praça.



Ao fundo da Rua da Picaria. Em frente a Travessa da Fábrica



Na foto acima, com exclusão do edifício dos telefones (do qual se vê um pouco, do lado direito da imagem), tudo o que é apresentado nesta foto, pelo lado esquerdo, foi demolido, assim como no lado direito, por onde foi traçada a actual Rua de Ceuta. Os espaços ocupados pelas antigas Travessa da Fábrica (em frente) e Travessa da Picaria  (invisível pela esquerda) fazem hoje parte da Praça Dona Filipa de Lencastre.



Planta da área ocupada hoje pela Praça D. Filipa de Lencastre, na planta de Telles Ferreira de 1892. Grosso modo, o edificado na área delimitada pelo polígono em destaque foi demolido para abertura da praça



Publicidade em 1934


Acima um folheto publicitário da Anglo Portuguese Telephone Cª Ltd antecessora dos TLP (Telefones de Lisboas e Porto) sita na Rua da Picaria.
Era num dos edifícios da Travessa da Picaria, que estavam instaladas a redacção, administração e oficinas do célebre jornal "Diário da Tarde" que era dirigido pelo insigne jornalista Eduardo de Sousa.
Por aqui e pela Rua dos Lavadouros, que ligava a Travessa da Picaria ao Laranjal, vendiam-se as caixas feitas de madeira de pinho muito utilizadas pelos emigrantes que iam para o Brasil para o transporte dos seus haveres. Não apenas as caixas, mas também a mo­bília de madeira de pinho era feita e ven­dida em oficinas e estabelecimentos dos La­vadouros e da Picaria.
Desapareceu há poucos anos o último estabelecimento deste género que funcionava num prédio da antiga Travessa da Picaria, já muito per­to da Rua do Almada.
Outra pequena indústria fixada nos Lavadouros era a das lousas, que compreendia: lava-louças para cozinhas; lousas para escolas (o quadro negro); reservatórios de água para uso doméstico; cabe­ceiras para sepulturas; e placas usadas na construção civil.



O antigo tribunal está lá no cimo, à esquerda da foto



No século XXI. Vista descendente da Rua do Almada no ponto onde acabava a Travessa da Picaria



Vista descendente da Rua do Almada, na década de 1930, no mesmo local da foto anterior. À direita era a Travessa da Picaria



Foto tirada da Rua Elísio de Melo. Os prédios frontais seriam demolidos para levantar a praça





Aspecto das demolições



A abertura da Praça D. Filipa de Lencastre



Nas fotos acima pode observar-se a abertura da praça. A Avenida dos Aliados, lá ao fundo, já estava traçada e com os novos edifícios.
A actual Rua de Avis era, à altura, Travessa da Rua da Fábrica. Na esquina dessa travessa com a Rua da Fábrica, ficava a Casa da Fábrica.



Casa da Fábrica, na esquina da Travessa da Fábrica com a Rua da Fábrica



Foto do fim da década de 40 do século XX



Na foto acima ainda não tinha sido aberta a Rua de Ceuta.
Ao cimo da Rua de Ceuta, ligando a Rua da Conceição com a Praça Guilherme Gomes Fernandes, está a Rua José Falcão que foi aberta há mais de 100 anos e que, começou por se chamar Rua de D. Carlos I.
A partir da implantação da República passou a ser a Rua José Falcão.
Esta personagem foi um republicano nascido em Miranda do Corvo, doutorado em Matemática, e conhecido ainda por ter sido pai do 1º governador civil do Porto, após a república.
Depois do malogrado golpe de 31 de Janeiro de 1891, para o qual muito contribuiu a sua obra “Cartilha do Povo”, José Falcão foi incumbido de reestruturar o Partido Republicano.
A rua foi aberta em terrenos da quinta da Conceição, à data nas mãos de Henrique Kendall, que os cedeu à edilidade.






segunda-feira, 26 de junho de 2017

(Continuação 18) - Actualização em 21/03/2018 e 07/11/2019

A Igreja dos Carmelitas ou Igreja dos Carmelitas Descalços começou a ser construída em 1616 e ficou concluída em 1628. A decoração do interior só viria a ficar pronta em 1650.



Igreja dos Carmelitas, em desenho de J. Villanova, em 1833



No desenho anterior, sobre as portas, estão as imagens de S. José, Santa Teresa de Ávila e Nossa Senhora do Carmo – no largo existia um dos muitos cruzeiros do Porto.
Os carmelitas descalços chegaram ao Porto em Janeiro de 1617, com a intenção de aqui fundarem um convento. Instalaram-se, primitivamente, numas casas modestas da antiga Rua de S. Miguel, hoje chamada de S. Bento da Vitória. Interce­deu por eles, junto de Filipe II, que então reinava em Portugal, a poetisa Bernarda Correia de Lacerda. E a autorização para a construção do mosteiro não tardou a ser concedida. 
Para custear as obras da construção do novo convento, a Câmara do Porto ofere­ceu aos frades 2000 cruzados, uma avul­tada soma, para a época. Mas o maior con­tributo foi o das esmolas dadas pelo povo. Em 1622, os frades transferiram-se da ve­lha Rua de S. Miguel para a parte já levan­tada do novo convento. A igreja começou a ser construída pouco depois, mas só fi­cou concluída em 1628. 
A fachada de cantaria granítica possui três entradas com arcos de volta perfeita, encimadas por igual número de nichos, com as imagens de São José, Santa Teresa de Jesus e de Nossa Senhora do Carmo ao centro. O corpo superior contém três janelões, sendo o central de forma rectangular e os dois laterais com a forma de trapézio rectangular. A rematar a fachada um frontão triangular encimado por balaústres.
Possui uma torre sineira do lado poente, revestida a azulejos monocromáticos da cor azul, rematada por uma cúpula em forma de bolbo.
A torre sineira começou por estar colocada a nascente, mas foi mudada para ser construída a igreja dos Terceiros do Carmo.
Esta igreja é do estilo barroco primitivo, portanto de traços muito sóbrios.
Durante a segunda invasão francesa (1809), a Igreja dos Carmelitas foi ocupa­da por um regimento de Napoleão. Os sol­dados saquearam-na.
Uma outra igreja fica na esquina da actual Praça de Carlos Alberto e a Rua do Carmo. É a Igreja do Carmo ou Igreja da Venerável Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo, em área contígua à Praça dos Leões. De estilo barroco/rococó, foi construída na segunda metade do século XVIII, entre 1756 e 1768, pela Ordem Terceira do Carmo, sendo o projecto do arquitecto José Figueiredo Seixas. A construção do hospital, na retaguarda e com frontaria para a Praça Carlos Alberto, começou mais tarde ficando concluído em 1801.
Em 1736, a Ordem do Carmo estava ins­talada na desaparecida capela da Batalha, junto da Porta da Batalha. O templo era pequeno e, em 1751, a ordem deliberou mandar construir igreja própria. Para esse efeito, comprou um pedaço de terreno que ficava no Campo dos Ferrado­res (hoje Praça de Carlos Alberto) do lado nascente da Igreja dos Carmelitas. A cons­trução do novo templo só começou em 1756, mais de 130 anos depois do início das obras da igreja dos Carmelitas. 
Uma curiosidade: quando se deu início às obras da Igreja do Carmo, estavam a ser construídas também as igrejas da Lapa e do Terço. Mas as fachadas das três são diferen­tes umas das outras. O projecto da Igreja do Carmo foi feito pelo arquitecto e pintor Jo­sé Figueiredo Seixas, que contou com a ajuda de Nicolau Nasoni para a construção do varandim que está na fachada. 
Há quem veja na fachada da Igreja do Carmo influência do trabalho feito na Igreja dos Clérigos, que estava novinha em folha, quando aquela começou a ser construída. 
Possui um extraordinário painel lateral em azulejos representando cenas alusivas à fundação da Ordem Carmelita e ao Monte Carmelo, desenhado por Silvestre Silvestri, pintado por Carlos Branco e executado nas Fábricas do Senhor d'Além e da Torrinha, em Vila Nova de Gaia, datados de 1912 e que constitui uma obra de referência da Azulejaria Portuguesa.
Esta igreja está geminada com a Igreja dos Carmelitas, do lado oeste, constituindo um volume único, embora se diferenciem as duas igrejas.
Foi classificada como Monumento Nacional a 3 de Maio de 2013, em conjunto com a Igreja dos Carmelitas, adjacente.
Como todas as outras ordens terceiras da cidade, a Ordem dos Terceiros do Carmo também teve o seu cemitério junto da sua igreja.
A pequena porção de planta, abaixo, extraída da planta de Perry Vidal de 1844 e, actualizada, em 1865, indica, com o nº 20, a localização daquele cemitério.






Só após a instalação do cemitério começou a ser pensado implantar um hospital.
Tudo começa, em 1780, quando é feita uma angariação de fundos para montar um Curativo que não tem consequências.
Dois anos, mais tarde, é feita uma tentativa para prestação de cuidados domiciliários, mas entretanto, estava finalmente em curso o lançamento do Curativo e começa a ser pensado um hospital. 
No âmbito do funcionamento do Curativo serão, então, geridas as verbas destinadas ao hospital.
Em 6 de Abril de 1891, arranca, finalmente, a desejada obra que, em 1801, estava praticamente pronta. 

 


Hospital do Carmo, em 1833, voltado para a Praça Carlos Alberto, em desenho de J. Villanova



Em 1811, decide-se montar uma botica, que será instalada numa das lojas do edifício do hospital. Todavia, em 1862, adquiriu-a Joaquim Baptista de Lemos, que a vai transformar na Farmácia Lemos com portas abertas até aos nossos dias.
A partir de 1865, o Hospital do Carmo passará a prestar assistência a doentes alheios à Ordem.



Igreja dos Carmelitas (à esquerda) e Igreja do Carmo (à direita)



Um carro americano passando no Carmo




Igrejas dos Carmelitas e do Carmo – Ed. CMP, Arquivo Histórico Municipal



A foto acima é de 1890 e, nela, se vê, vindo da Praça Carlos Alberto, um Americano.


Largo do Carmo, em 1905





Igreja dos Carmelitas (à esquerda) e do Carmo (à direita) 



Entre as duas igrejas, existe a casa mais estreita do Porto, que foi habitada pelo sacristão e sineiro do Carmo




Na cerca do convento dos Carmelitas Descalços, foi construída a Escola Médico-Cirúrgica do Porto, tendo para aqui transitado, vinda da ala sul do Hospital da Misericórdia (Hospital de Santo António), em 1884.
Tendo num outro edifício construído nesse local chegado a estar alojada a Faculdade de Medicina do Porto, a partir da revolução de 25 de Abril, por lá esteve, também, o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) até 2011, quando transitou para a Rua Jorge de Viterbo Ferreira.

 
 

À esquerda, o edifício onde se instalou o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) – Fonte: Google maps, em 2022





Planta de 1827 para regular o alinhamento da Cerca dos Religiosos Carmelitas, da Praça do Carmo, ao Hospital Real de Santo  Antonio – AHMP; Fonte: blogue ”doportoenaoso”



Na planta acima, com o nº 6, a igreja dos Carmelitas e, com o nº 7, a igreja dos Terceiros. Por ela se vê a área que foi subtraída à cerca dos Carmelitas.
Na área fronteira ao convento dos Carmelitas, mais para poente, que o povo diz ser o Largo Júlio Dinis por aí estar uma estátua do escritor, mas que de facto é o Largo Prof. Abel Salazar. 
Desse local, desapareceram várias artérias de outros tempos como a Viela do Loureiro e a Viela dos Poços da qual fazia parte a actual Travessa do Carmo, mas, que, num documento de 1755 vem identificada como Viela dos Poços das Traseiras da Cordoaria, e que 4 anos depois era Rua dos Poços das Traseiras da Cordoaria.
Nos começos do século XVI, a configura­ção do actual Largo do Prof. Abel Salazar, era muito diferente daquela que hoje apresenta. Por esse tempo, a partir, sensivelmente, do sítio onde se colocou o monumento a Jú­lio Dinis, começava um renque de casas que se estendia para as bandas da esquina com o Jardim da Cor­doaria.
Entre estas casas e as que ainda hoje se veem no lado nascente do Largo do Prof. Abel Salazar, que ficam mesmo defronte da fachada do hospital, havia uma estreita artéria chamada Viela do Loureiro
A demolição das casas da Viela do Lourei­ro fez-se nos finais do século XIX. Só em 1901 o logradouro foi ajardinado. 



Hospital de Santo António e Régia Escola de Cirurgia no local inicial de instalação



No desenho acima, à direita, estão as casas que seriam demolidas e com elas desapareceria a Viela do Loureiro.
A antiga e desaparecida Travessa do Carmo, que nada tem a ver com a de hoje e que segundo um documento da época: ”… era uma viela que fica defronte da igreja do Carmo é alumiada por dois lampiões de azeite a sua numeração é de 1 a 14, sendo a casa nº 7 habitada pelo médico Assis.”
Numa planta deste ponto da cidade, fei­ta em 1788 pelo engenheiro urbanista D. José de Champalimaud de Nussane, vem descrito "o terreiro e viela do Carmo, com os aquedutos que atravessam". Estes aque­dutos eram simplesmente os coletores das águas pluviais e das imundícies provenien­tes das casas que ladeavam a artéria. 
Quem entrar na actual Travessa do Carmo, pelo lado do Largo do Prof. Abel Salazar, não terá dificuldade em constatar que ali em frente há vestígios nítidos de que a es­treita artéria teria continuação para os la­dos do largo hoje denominado Praça de Pa­rada Leitão. Assim era de facto.




Entrada da Travessa do Carmo, em 1964




Há coisa de cento e cinquenta anos, pouco mais ou menos, ha­via uma espécie de beco, denominado Viela do Assis, por nela vi­ver o médico célebre daquele tempo, Francisco de Assiz Vaz e que corria paralela aos Passeios da Graça e que já tinha sido antes, a Viela dos Condenados.  
Perten­ciam a essa viela as casas, algumas, hoje, bastante alteradas, que ficam do lado onde está o edifício onde funciona o Café Âncora d'Ouro, o popular "Piolho".
To­mou o nome de Assis por ter vivido, no prédio arredondado, que faz esquina com o Jardim da Cordoaria, o médico Francisco de Assis de Sousa Vaz, que faleceu em 1870.
Aquele notável cirurgião do Hospital Geral de Santo António, nasceu em 1797, na Ferraria de Cima (Rua dos Caldeireiros). Este clínico notabilizou-se por ter presidido aos últimos suspiros do rei Carlos Alberto e ter sido pioneiro na luta contra os enterramentos nas igrejas. 
O clínico que, de 1851 a 1870, dirigiu a Escola Médico-Cirúrgica do Porto, apesar de se ter jubilado em 1854, vivia na casa redonda da esqui­na da Praça de Parada Leitão e da Cordoaria, que teve projecto aprovado de 1860, onde chegou a estar o Hotel Portugal e, antes, foi sede do Consulado da França. 
Antes, possivelmente, por lá terá vivido Rita de Assis de Sousa Vaz (falecida em 1884), pois, na qualidade de proprietária, solicitou à Câmara do Porto a autorização para a execução de obras para o prédio.
Em 2013, a casa que habitou Assis Vaz, foi alvo de remodelações. 
Voltando ao percurso histórico, a Viela do Assis corria desde a esquina onde estava a casa do Assis, até à Rua do Carmo, onde se localizavam as igrejas do Carmo e dos Carmelitas. 
Há muito que esta estreita e imunda viela desapareceu. 
As casas de todas aquelas vielas, becos e tra­vessas ficavam nas traseiras das casas que tinham as suas fachadas voltadas para a Cordoaria. Daí o dizerem, como acima fi­cou referido, viela disto ou daquilo, das Tra­seiras da Cordoaria. 
Anteriormente, os Passeios da Graça ou Passeio da Graça e a Viela do Assis denominavam-se, respectivamente, Rua e Travessa do Carmo, pela sua proximida­de com a Igreja dos Terceiros daquele Ordem. 



Casa do Dr. Francisco Assiz Vaz, à esquerda



Casa do Assis actualmente - Ed. MAC



Jardim da Cordoaria em 1895



Na foto acima, inserida no “ Guia do Forasteiro do Porto e Província do Minho-1895”, observa-se do lado direito do arbusto central a casa do Dr. Francisco Assis Vaz que, à data, estava ocupada pelo consulado de França. Junto desta casa, vê-se a entrada da primitiva Travessa do Carmo, a separar a dita casa e um quarteirão situado ao lado direito da foto que seria demolido para abertura da Praça Parada Leitão.
A meio da travessa citada saía perpendicularmente a ligação da Viela do Assis à Viela dos Poços passando esta, actualmente, a ser a Travessa do Carmo.



Acesso emparedado do acesso da Viela dos Poços à casa do Assis



Pela abertura entre os prédios da actual Travessa do Carmo, da foto anterior, passava a estreitíssima viela de acesso à actual Praça de Parada Leitão.




Planta da zona do Olival e Praça do Carmo



Na planta acima a Cordoaria está no canto inferior esquerdo.



Planta legendada

Legenda:

1- Passeios da Graça depois Rua do Carmo
2- Viela do Assis depois Travessa do Carmo
3 e 5- Viela dos Poços ou Viela dos Poços das Traseiras da Cordoaria
4- Viela do Loureiro


Actualmente o troço identificado com 3 é a Travessa do Carmo.



Planta da Cordoaria em 1850

Legenda:

1- Hospital de Santo António
2-7- Edifícios demolidos
4- Edifícios demolidos que estavam adossados à muralha
3- Cadeia da Relação
5- Igreja de S. José das Taipas e edifícios anexos
6- Capela dos padres Trinitários e Roda
8- Igreja de Nossa Senhora da Graça e suas dependências anexas, em parte já "engolidas" pelo edifício da Faculdade de Ciências, edifício esse que levaria quase 100 anos a completar-se, sendo a Igreja da Graça apenas demolida no início do século XX.



Cordoaria com Igreja dos Clérigos ao fundo em 1885 - Ed. Emílio Biel


Na foto acima é visível o telhado da igreja de Nossa Senhora da Graça.