quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

(Continuação 5)

Quarta Carta  do Barão de Forrester  

O Convento de Ancede situado num belo vale, ainda que em posição elevada, a um quarto de légua de Porto Manso, é digno de atenção: mas o seu estado actual de abandono e a ausência dos frades, contrastam de uma maneira singular com o seu aspecto ordinário em outros tempos. O lugar de Porto Manso muito sente a extinção destas corporações religiosas, pelas esmolas que os frades distribuíam diariamente aos pobres – e quanto ao terem acabado os dízimos, dizem os povos que este benefício resultou só a favor dos proprietários. Conheço um indivíduo que ganhou com a mudança e é o meu compadra e arrais, António de Oliveira Dias (mestre o mais hábil no Douro) que tem aqui seu casal, e que costuma nas ocasiões da minha chegada empregar os serviços do ex-cozinheiro do dito extinto convento de Ancede. Em mui poucos países tenho assistido a jantares mais bem servidos e abundantes do que o foi um, que o meu compadre aqui me deu. Todas as cobertas foram servidas com delicadeza e asseio. Tivemos excelente caldo, vaca cozida e arroz – galinhas cozidas com presunto e salsichões – enorme peru assado com o seu picado à Ancede – dois gansos formidáveis – alguns frangos – uma perna de vitela – presunto de Melgaço feito em fiambre – boa cernelha de vaca assada – três coelhos bravos ensopados – dois excelentes guisados – um leitão muito tostadinho – e meia dúzia de perdizes mortas com toda a cerimónia da antiga lei, em 1 de Setembro. Depois seguiram pudins, pão-de-ló (ou cavaca fina), biscoutos, morcelas, melancia, melão, laranjas, limas, maças, pêras, pêssegos e doce de calda; - porém nem um só cacho de uvas, nem tão pouco uma garrafa de vinho!
As uvas pela maior parte se perderam e tal será a escassez de vinho nestes sítios, que o velho que em outros anos se comprava a seis mil reis e moeda de ouro, já se está vendendo a 30$ooo réis.
Fiz os meus cumprimentos ao meu compadre pela sua prodiga hospitalidade e ele respondeu-me que muito estimava poder mostrar-me que nos vinte anos que me tinha servido, não somente tinha ganho para o sustento e educação da sua família mas também poupado bastante dos dinheiros que eu lhe tinha dado a ganhar, não somente para me fazer este pequeno oferecimento mas também para que tivéssemos um petisco para comermos na viagem que íamos seguindo.
De Porto Manso fiz uma digressão até à antiquíssima vila de Canaveses, onde no Marco achei as videiras com a mais bela aparência e cheias de magnificas uvas – facto este o mais notável, quando nos arredores todas as uvas estão perdidas pela moléstia.
O Tâmega em Canaveses, ainda trás bastante água e tem uns 400 a 500 palmos de largo. O sítio é tão belo, que apesar da falta de comodidades, achei bastante em que me entreter durante dois dias inteiros.
Em todo o concelho de Baião, o pão está muito caro em razão do calor que tem perdido a maior parte do que estava na terra e que não servirá senão para o gado.
A ribeira de Porto Manso, outrora mui produtiva e abundante em água, este ano produz menos que metade do usual e se as chuvas continuarem a faltar, as consequências poderão ser mui fatais.
O estado do rio Douro entre o ribeiro de Pala e o rio Bestança é digno de particular observação. O leito está todo descoberto e o rio é um mero canal que apenas tem 60 palmos de largura e cujo curso é entre enormes rochedos de granito de 25 a 35 palmos de altura. Estes rochedos estendem-se sobre um espaço de 800 palmos de largura em cada uma das margens, até á casa do açougue em Porto Manso e a casa do Souto no cais do rio Bestança – e ambos estes pontos estão na altura de 60 a 70 palmos da borda do rio. Mesmo quando estes rochedos se acham cobertos, é uma temeridade navegar no rio com barcos carregados – porém no Inverno acontece muitas vezes que as enchentes do rio trazem dentro do curto espaço de três dias tal quantidade de água, que o rio sobe até às duas casas indicadas, tendo pois 1600 palmos em lugar de 60 de largura, e 90 de altura.
O motivo do rio levantar tanto neste sítio é bem óbvio: - nos pontos de Escarnidas e Fiéis de Deus, o aperto das margens e a altura dos rochedos impede que as águas desemboquem, e por isso espalham-se pelo cais de Porto Manso, da mesma maneira que em 1780 antes de se demolir o cachão de S. João da Baleira, as águas não achando expediente cobriram toda a Ribeira da Vilariça.
Logo acima das pedras da Morteira, que são os mais altos rochedos no cais de S. Paio, defronte do Porto Antigo, existia no meio do rio a pedra nativa chamada da Seixeira, que tinha 20 palmos de altura sobre a actual margem do rio – mas não era prejudicial à navegação – antes era uma rica propriedade de um particular, que dela tirava bom rendimento pela pescaria que até 1828 rendeu seiscentos e tantos sáveis num dia. Apesar do dispêndio, inutilmente feito a meu ver, com a demolição deste rochedo – ele ainda tem seis palmos de altura fora de água.
Se antes de empreender estas obras, se tivessem aconselhado com os homens práticos, haviam de ter-se informado que o princípio da resistência da água da Seixeira, nascia da Fisga para baixo – águas que não levam os barcos para a Seixeira, mas sim sobre o rochedo Gonçalo Velho, no cais do Souto do Rio, onde iam e ainda vão bater: e em prova desta nossa asserção a corrente que principia na Fisga ainda continua com a mesma força na marca do rio em que sempre é prejudicial.
A pólvora não está muito cara – o ferro não falta – a gente da terra tem sempre vontade de trabalhar, venha a ordem para a demolição somente de metade do assustador Gonçalo Velho, e em poucos dias e sem que se faça grande despesa, ele deixará de existir.

Sou, de VV. &c.   
J.J. Forrester


Convento de Ancede – Ed. Pedro A. Leitão

terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

(Continuação 4)

Terceira Carta do Barão de Forrester - 20 de Setembro
            
A digressão de hoje foi de três léguas desde Fontelas até Porto Manso.
O vento foi favorável de tarde, e poderíamos ter feito maior jornada se não nos tivessem extasiado as belíssimas vistas por toda a extensão do rio, as quais se fossem conhecidas pelos artistas dos países do norte, chamariam metade do mundo viajante para admirar estas belezas, infelizmente ignoradas no seu próprio país. É verdade que são em muitos sítios os enormes rochedos que apresentam os primeiros planos aos quadros que desejáramos ver pintados; e como o governo de S.M.F. decretou que daqui em diante uma certa soma será aplicada para demolir estes obstáculos para a livre navegação do Douro, - se os viajantes se não apressarem a cá vir por estes primeiros meses, poderá ser que, pelo ano que vem [1855], a marcha da civilização destrua os principais objectos de gosto artístico que a mim, que os tenho admirado mais do que outros quaisquer que tenho visto, ainda me chamam como em peregrinação três vezes por ano.
Na marca actual do rio, que é talvez a mais baixa de que os práticos se lembram, até Porto Manso não há pontos nem galeiras ainda que nos pontos da Retorta, do Colo, Tojal e Escarnida não deixam de fazer sua corrente que bastante embaraço causa à navegação quando não há vento, de meia vela a favor, porque em caso contrário seria indispensável empregar gente ou bois para alar  os barcos nestes pontos. No ponto da Retorta, logo acima do Convento d’Alpendorada, havia um rochedo enorme que por mais de vinte anos era muito nosso conhecido, e tão alto era ele que os boieiros para cambarem o cabo por cima, precisavam de uma escada de 14 degraus: chamava-se o Penedo do Corvo.
Ultimamente, no ano passado foi em parte demolido; porém em 1853 o Verão foi sempre chuvoso e conservou-se muita água no rio – agora em 1854 o litoral está à vista – Que bela ocasião para os engenheiros do Governo completarem a sua obra, desfazendo mais uns cinco palmos que ainda tem o calhau, para assim facilitar a passagem dos barcos com setenta pipas com a marca do Pinhão, sem serem obrigados a desviarem-se dos restos do penedo tomando outro rumo, pelo qual correm o risco de quebrarem-se na pedra da Retorta!
Nos pontos de Valvela e Couces de Vimeiro, observei umas pedras quebradas por cima, com a evidente tenção de formar em cada um dos sítios um canal para passarem os barcos em certa marca do rio, que é das águas do Tua; porém, ficando estas obras como estão, receio que a navegação não tire muita vantagem delas.
Os povos, que hoje passamos, foram, na margem direita:
Vimeiro terra dos arrais de matriz e trasfegueiros – tem muito boas casinhas – reina grande actividade no cais – toda a gente parece ter que fazer e vivem muito bem. Este povo forma um grande contraste com todos os mais que temos visto do Porto para cá. Antigamente a Companhia da Agricultura das Vinhas do Alto-Douro tinha aqui o seu comissário e grandes armazéns; e nenhum arrais passava daquele sítio para baixo sem receber as suas ordens.
Lavadouro também é terra dos arrais, mas é um povo mui pequeno.
Pala igualmente é terra de arrais e lavradores – todos abastados, que vivem tão bem como os do Vimeiro.
Porto Manso é um povo de bastante importância e onde se encontram os arrais mais relacionados com o grande comércio de vinhos do Porto.
Há ali boas casas, boa e rica gente, e o sítio é delicioso e mui produtivo.
Na margem esquerda apenas há os pequenos povos de Souto do Rio e Porto Antigo, sítios mui pitorescos, e onde se carrega a maior parte das madeiras de castanho que vão para a cidade do Porto. Pode-se calcular, sem exageração, em 20 mil os paus, pés e pontas de castanheiros, que são carregados neste cais todos os anos.


Sou de VV. & c.
J. J. Forrester

Observações:

- Porto Manso fica em frente à foz do rio Bestança, já depois da Pala.
- Souto do Rio fica praticamente na foz do rio Bestança.

Porto Manso – Ed. Pedro A. Leitão

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

(Continuação 3)

Segunda Carta do Barão de Forrester  -  20 de Setembro


Logo ao amanhecer continuamos a nossa viagem – mas depois de grande trabalho da parte da tripulação que andou na água a levantar o barco para poder passar no seco da Varjiela, e custou-nos a chegar a Melres, levando-nos três horas a andar esta pequena distância de meia légua!
Defronte deste povo almoçamos, e durante este descanço podemos notar que o sítio abunda em férteis campos, lenhas, cortiça, laranja e vinho, com tudo isso parece que os habitantes não gozam da maior prosperidade. As habitações são miseráveis e não há entre elas uma única casa que se possa supor pertencer a lavrador abastado.
Esta circunstância é mais notável em razão da benignidade do clima que faz que as terras produzam quase espontâneamente, e dos habitantes não precisarem fazer grande despesa com o seu sustento e vestuário.
Os homens apenas trazem calças, colete e camisa – as mulheres contentam-se com uma saia, camisa e colete, e as crianças – rapazes e raparigas, até à idade de 8 ou 9 anos, andam só com camisinha, aqueles que a tem.
Entre o Carvoeiro e Melres passamos na margem esquerda do rio o povo de Pé da Moura (Lomba), sendo este o extremo ponto onde chega a maré e de onde a maior força da carqueja é remetida ao Porto. É curioso notar a direcção que nestes sítios toma o rio, porque principando em Lombeiro de Atães e acabando em Pédorido e Rio Mau, um quarto de légua adiante de Melres, descreve o perfil de uma cara de homem.
Ao meio dia o calor era tanto, marcando o termómetro 123 graus, e a atmosfera tão abafada, que não tivemos remédio senão dar à nossa tripulação três horas de descanço no areio d’ortos, ao pé do ribeiro da Raiva; mas depois o vento favoreceu-nos e podemos chegar à noitinha a Fontelas.
As vistas de ambas as margens são belíssimas, porém são poucos os povos e o seu estado em nada difere daquele que acabamos de descrever.
Há bastantes oliveiras e sobreiros desde Pé Dorido até defronte d’Entre –ambos-os-rios, onde o Tâmega desemboca no Douro. A perspectiva pelo vale do Tâmega é mui bela, quanto à natureza; porém é lastimoso notar-se que nem pelo rio nem por terra tenha a arte ajudado a aumentar os meios de comunicação com o interior do país, nem mesmo com Canaveses e muito menos com a importante vila de Amarante por onde o rio passa.
Em Entre-os-Rios tem aparecido bastantes vestígios dos romanos, e tanto neste povo como em Canaveses há caldas e águas férreas que deviam talvez ser de bastante estimação se houvesse comodidade que chamasse  a gente a frequentá-las. Neste sitio havia registo, pela antiga Companhia, de todos os barcos que iam para o Porto.
Castelo de Paiva é uma terra insignificante, mas de um aspecto muito romântico, sendo a origem do seu nome a ilha de rochedos pitorescos no meio do rio em frente da povoação. O rio Paiva é abundante em peixes, especialmente trutas.
Nos tempos feudais quando os senhores recebiam os foros dos caseiros e tinham direito de pesca em certas estações do ano, além das galinhas que lhes foram dadas para merenda, era forçoso até fornecer-lhes o trovisco. Entre os povos mais afamados naqueles tempos, o Castelo de Paiva, não era o menos importante pelas suas pescarias de trovisco (modo de pescar com essa planta venenosa), conforme o que coligimos de vários escritores, e apesar da pesca de trovisco ser, por lei, de há muito proibida, neste povo de Castelo de Paiva ainda continuam a pagar-se muitos foros em galinhas, aplicadas em outras áreas para as merendas da pesca de trovisco. Nos arredores de Paiva, fabrica-se grande quantidade de carvão de choça que se vende na cidade.
Tenho deplorado o estado de miséria em que parecem achar-se todos os povos que passamos entre o Porto e este sítio – agora acrescentarei que nos intervalos que medeia entre um povo e outro, não se encontra nem gente, nem gado, nem rebanhos, parecendo um país não habitado: ao mesmo tempo que cada passo aparecem deliciosos sítios a convidar o homem de gosto a ir para ali estabelecer o seu domicílio.


 Sou de VV. & c.
J. J. Forrester

Observações:

- Pedorido é uma antiga freguesia do concelho de Castelo de Paiva, onde desagua o rio Arda, afluente da margem esquerda do rio Douro. 
- Fontelas fica em frente a Sebolido.
- A temperatura de 123 graus refere-se, com certeza, à escala de fahrenheit, ou seja a cerca de 50º celsius.


Choupal do Pedorido – Ed. “cm-castelo-paiva”


Entre-os-Rios


Na foto acima a ponte Hintze Ribeiro muito antes da derrocada, com o rio Douro vindo da direita e o rio Tâmega, em frente, no seu percurso até se encontrar com aquele.
À esquerda a casa da quinta das Granjas, na Eja.

quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

(Continuação 2)




Primeira Carta do Barão de Forrester - 11  de Setembro de 1854

Quem quer seguir viagem do Porto pelo rio Douro acima, deve lembrar-se que até Pé de Moura quase nunca no Verão os barcos carregados poderão passar sem maré, e ainda que a nossa barquinha não levava o que se pudesse chamar carga, contudo os arranjos de camas, baús e mais utensílios próprios ou necessários para uma longa viagem, bem como a tolda, os armários, beliches, mantimentos, etc. pesavam, pelo menos, metade da lotação do barco que era de nove pipas – escolhemos por conseguinte a hora da maré, que deitava das 3 para as 4 horas da tarde para a nossa saída de hoje. 
Também ainda que não somos astrólogos nem sabemos calcular bem as mudanças do tempo, temos tal ou qual fé nas diferentes fases da Lua – e como há 15 dias a esta parte sempre tivemos vento Leste fortíssimo, entendemos que este quarto de Lua crescente nos poderia favorecer, e com efeito assim aconteceu porque não somente podemos aproveitar a maré mas tivemos vento pela popa. 
Chegamos às 8 horas e meia a Carvoeiro, 3 léguas e meia da cidade, andando à razão de 3 quartos de légua por hora.
O leito do rio Douro até este ponto é uma pouca de areia – o canal para a navegação é estreitíssimo e actualmente na maré baixa apenas trás de 2 a 3 palmos de água. Estas areias depositam-se todos os anos com as enchentes do rio, e as marés de Verão concorrem para a sua conservação. Assim tem acontecido desde que os Fenícios se estabeleceram em Portugal – e pelo que se vê, a arte, a ciência, e o mecanismo não puderam remediar o mal! – ao menos pelo que vemos, não parece ter havido tentativa alguma para este fim. 
Pela margem esquerda notamos as pequenas povoações de Quebrantões – Oliveira – Espinhaça de Avintes – Arnelas – Crestuma e Carvoeiro, e pelo lado direito Campanhã, Valbom, Gramido, Atães, Sousa, Gibreiro, Esposar, Lixa e Pombal. 
Quebrantões é notável por ser o sítio onde na guerra peninsular, os exércitos luso-britânicos passaram, quando os franceses evacuaram o Porto. Agora é neste sítio a barreira por onde nenhum barco, por pequeno que seja, pode passar sem ser examinado. 
Defronte são as ruinas do grande Seminário que foi arruinado durante o cerco do Porto e logo ao pé, também se veem algumas paredes do palácio desmantelado do Bispo: tanto as belas árvores desta quinta como as do Convento da Serra foram cortadas em 1833. 
Oliveira, sempre tem sido célebre pelo seu antigo convento e por ser a sua cerca um recreio para os habitantes do Porto. 
Avintes, é a terra das padeiras que abastecem a cidade do Porto com excelente pão. 
Arnelas, notável por suas madeiras e lenha e pela sua feira de S. Miguel, em que as nozes abundam. 
Crestuma, pela abundância de águas e lenhas suficientes para fazer trabalhar imensas fábricas – porém onde por ora ainda não há nenhuma. Aqui no tempo da antiga Companhia havia o registo de todos os barcos com vinho que iam para o Porto. 
Carvoeiro, pela quantidade de lenhas e madeiras que manda para o Porto. 
Campanhã, pelas fábricas de curtume e pelo isolado palácio arruinado do Freixo, que tem as armas dos Lencastres sobre a porta. 
Valbom, por ser a terra dos pescadores, que nas suas belíssimas lanchas vão ao mar. 
Gramido, sítio onde o Sr. D. Miguel em 1833 estabeleceu uma ponte de barcos e onde em 1846 se fez a convenção entre as forças luso-espanholas e a Junta do Porto. 
Os povos desde Atães até Pombal sustentam-se do produto das suas terras mandando apenas de vez em quando algumas melancias, melões e hortaliças para o Porto. 
É para notar que em toda esta extensão do rio, em quanto que os homens se ocupam na agricultura, as mulheres conduzem os seus barcos com géneros ou passageiros para o Porto. Estas mulheres são muito hábeis na sua ocupação; a maneira como elas cantam suas modinhas, que geralmente são originais, faz crer com especialidade ao estrangeiro, que são as criaturas mais felizes do mundo e que ignoram inteiramente o que é a fome e a miséria. 
São muitos os dias que nem dois patacos ganham – porém continuam a cantar e parecem contentíssimas com a sua sorte. 
Chegados ao nosso ancoradouro, tratamos de fazer os arranjos necessários para ai passarmos a noite. 

Sou de VV. & c. 
J. J. Forrester 




Observações:

-Pé de Moura fica na actual freguesia de Lomba pertencente a Gondomar, mas na margem esquerda do rio Douro.
-Por Decreto de 2 de Maio de 1855 foi estabelecida a "légua métrica", equivalente a 5 000 metros.
- Carvoeiro situa-se entre Lever e Lomba

segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

(Continuação 1)

 22.2 Cartas do Barão de Forrester

 

As cartas que se seguem foram publicadas em 1854 no jornal “O Commercio”, futuro "O Comércio do Porto", que tinha sido fundado em Junho daquele ano, narrando uma viagem pelo rio Douro do Barão de Forrester tendo sido extraídas do blogue “aportanobre.blogspot.pt.”
No fim de cada carta estão alguns comentários nossos.

sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

22. Diversos - Actualização em 13/12/2020 e 13/12/2020


 
22.1 O museu do filumenismo que não se concretizou
 
 
No prédio da esquina da Rua da Restauração e do Largo do Viriato, observável na foto seguinte, ainda hoje existe uma casa que foi morada do Dr. Fernando Valente, um dos maiores coleccionadores filumenistas de Portugal e que é ocupada, actualmente, por um escritório de advogados. 




Casa na esquina da Rua da Restauração e do Largo do Viriato – Ed. JPortojo



Em parte desta casa, esteve prevista a instalação de um museu de filumenismo, o que não se viria a concretizar, devido ao falecimento do Dr. Fernando Valente.
Sobre a instalação desse museu de filumenismo, que não se concretizou, narra o texto que se segue:



“Não fora a amizade que nos liga, há muitos anos, ao Dr. Fernando Valente, e isto seria quase uma indiscrição. E curioso que numa das mais pequenas freguesias do Porto se tenha concentrado uma tão grande gama de museus, mas este é muito especial, porque se trata de um museu dedicado a uma particular forma de coleccionismo.
Filumenismo é uma palavra composta que significa, simplificadamente, o amigo de coleccionar o que diga respeito às embalagens dos fósforos e de tudo o que se lhe refira. Fernando Valente desde sempre se dedicou à colecção do que podemos chamar pecas completas, ou seja, de caixas e carteiras com o seu rótulo e os fósforos que lhe dizem respeito. E são milhares de caixas, pequenas, medias e gran­des, simples ou duplas, com ou sem publicidade, que aqui estão alinhadas nas vitrinas para o efeito especialmente con­cebidas. Estão em fase de colocação e etiquetagem. E, para que o visitante tenha uma noção mais exacta de uma das fases do fabrico, exactamente a colagem da etiqueta nas antigas caixas de fósforos, o nosso amigo conseguiu adquirir um exemplar de uma dessas máquinas que serviu numa das grandes unidades fosforeiras da cidade. Depois de conve­nientemente restaurada na sua simplicidade original, aí está ela no Museu a mostrar como trabalhava ao serviço da fábrica.
Logo que concluída a instalação, o proprietário tem todo o prazer em facultar ao público a visita e quem quiser pode deliciar-se com a vista de caixas de fósforos, desde aquelas do tempo dos nossos avós ate as mais actuais.
A instalação e na cave do edifício que existe na esquina da Rua da Restauração com o Largo do Viriato, em frente ao antigo Museu Allen, e não deixa de ser curioso que o prédio ainda pertença a esta família a quem Fernando Valente está ligado; e o tal prédio onde durante algum tempo esteve ins­talado o famigerado Partido do Progresso... A entrada será pela porta do Largo do Viriato. Que em breve tenhamos mais um museu na freguesia ao serviço de quantos o quei­ram visitar. E se nos lembrarmos que em Portugal só conhe­cemos outro (em Tomar), já se poderá avaliar da importância deste nosso Museu”.
Fonte: j-f.org/miragaia/gentes.htm (2003)




quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

(Conclusão) - Actualização em 19/03/2019


No ano de 1868, Serafim Ribeiro apresentou proposta para a construção da sua futura habitação.  Aquela personagem pertenceu à mesa administrativa da Irmandade do Santíssimo Sacramento e Senhor do Bonfim e Boa-Morte.


Prédio na Rua do Bonfim, nº 328/ 334 (antes de ser intervencionado) e Fábrica de Tecidos do Bonfim, à direita – Fonte: Google maps


Em 1883, Serafim Ribeiro terá solicitado licença para acréscimo de um novo piso, com a introdução de um terraço e portais em arco quebrado, destacando-se o prédio pela sua fachada coberta de azulejos de tonalidade azulada e branca em contraste com o vermelho sangue das janelas e das portadas.
Em 1921, o prédio foi adquirido por Manuel Pinto de Azevedo que detinha, desde há alguns anos, a sua Fábrica de Tecidos do Bonfim, mesmo ali ao lado.


Prédio na Rua do Bonfim, nº 328/ 334 (depois de ser intervencionado) e Fábrica de Tecidos do Bonfim, à direita – Fonte: Google maps




Casa dos Freire


Situa-se na Rua D. Hugo data de finais do século XVII, princípios do XVIII. Tem dois pisos e possui o brasão dos Coutinhos, Pereiras, Andrades e Bandeiras.
No séc. XVIII o edifício sofreu algumas modificações. O portal que dá acesso ao átrio da casa é encimado por cartela com escudo esquartelado e sobrepujada por coroa. No andar nobre há seis janelas de peito três de cada lado do brasão.
Nesta casa está presentemente sedeada a Fundação Guerra Junqueiro.
É provável que a casa tenha pertencido primordialmente, ao arcediago Luís de Magalhães da Costa, instituidor do morgadio de Oliveira do Douro. António Mateus Freire de Andrade Coutinho Bandeira herdaria a casa do arcediago que foi seu avô, tendo mandado brasonar a fachada da mesma.
Na viragem do século XVIII para o XIX viveu nesta casa, António Mateus Freire de Andrade Coutinho Bandeira (1747-1820), com sua mulher D. Tomazia Joaquina de Mendonça Cardoso Figueira de Azevedo. 
A casa seria vendida à Câmara Municipal do Porto e alberga, hoje, o museu da Fundação Maria Isabel Guerra Junqueiro cuja primeira fase de instalação ocorreria em Abril de 2000, com a consequente abertura ao público, localizando-se mesmo em frente à Casa-Museu Guerra Junqueiro. 
O espólio do Museu da Fundação Maria Isabel Guerra Junqueiro é constituído por antiguidades de diversas origens, adquiridas por Guerra Junqueiro durante a sua vida, numa actividade que era uma verdadeira paixão.


Casa dos Freire de Andrade

Casa dos Freire de Andrade – Ed. IRSU, SIPA



 
 
Situada na Rua da Vilarinha, n.º 477, projectada em 1939, pelo arquitecto José Porto (1883-1965), foi morada do cineasta por mais de quatro décadas.
Os arquitectos Viana de Lima, na decoração dos interiores e Cassiano Branco desenharia os espaços exteriores, colaboraram nos acabamentos da moradia.
Aqui viveu Manuel de Oliveira e constituiu família – quatro filhos e sete netos – durante quatro décadas.
Após a revolução do 25 de Abril de 1974, perdeu-a na sequência de uma hipoteca para pagar um empréstimo que fizera para a remodelação da fábrica de malhas fundada pelo seu pai.
Quando abandonou a casa Manuel de Oliveira rodou um filme intitulado “Visita ou Memórias e Confissões” com texto de Agustina Bessa Luíz.
A casa, a partir de então, foi adquirida por um médico e, depois, por um empresário nortenho do sector imobiliário.
A moradia seria sucessivamente intervencionada pelos arquitectos Eduardo Souto Moura, Gonçalo Ribeiro Teles, Alexandre Burmester e Maria de Fátima Burmester, sendo dotada de um court de ténis, piscina e ginásio.
Em Dezembro de 2013, foi classificada como Imóvel de Interesse Público, no 105º aniversário do realizador.
 
 
 
Casa de Manuel de Oliveira, na Rua da Vilarinha



 

Casa Renascença (demolida)
 

Este palacete, já demolido, foi construído na Rua do Príncipe da Beira (Rua 5 de Outubro).
Teve licença de construção n.º 765, de Maio de 1912, solicitada por Albertina de Albuquerque, como sua proprietária.
O projecto esteve a cargo do mestre-de-obras Manuel Ferreira da Silva Janeira, muito requisitado na época.

 
 

Alçado principal da Casa Renascença


 
 

Alçado traseiro da Casa Renascença

 
 
 

Actualmente, a área anteriormente ocupada pela Casa Renascença
 
 
 
Entre as muitas obras de Manuel Ferreira da Silva Janeira é de destacar o prédio da Avenida Brasil, n.º 523, de estilo “Art Nouveau”, recentemente remodelado, situado junto da casa onde morreu o poeta António Nobre, já demolida (Agosto de 2018).

 
 
 

À esquerda, a casa do irmão do poeta António Nobre, onde faleceu o poeta e, à direita, o prédio da responsabilidade de Manuel Ferreira da Silva Janeira, com projecto de 1912, mandada erguer por António Rodrigues Cardoso