segunda-feira, 17 de setembro de 2018

25.6 Prédio na Rua de Santa Catarina, nº 53


Este prédio está pegado ao dos Armazéns Nascimento ou, se, se quiser, ao das Galerias Palladium.
Desde há muito, que sobre as origens do mesmo se têm debruçado estudiosos e historiadores, sem, no entanto, alguém ter jamais chegado, a uma conclusão definitiva.
Para além de se saber que deve ter sido construído durante o século XIX (existe uma foto de 1875, obtida a partir do início da Rua de Santa Catarina), podem encetar-se sobre ele algumas averiguações, recorrendo ao estudo da pedra de armas que ostenta no frontão da fachada.


Rua de Santa Catarina em perspectiva obtida da Praça da Batalha c. 1875


Na foto acima, à esquerda, encimada pelo frontão triangular, vemos o prédio nº 53, da Rua de Santa Catarina.
De notar que o edifício que se segue ainda não é, ainda, o dos Armazéns Nascimento e na esquina com a Rua de Santo António está a “Nova Casa Havaneza”.
A ourivesaria Reis que acabaria por habitar naquela esquina, seria fundada em 1880.
Os trilhos que se veem no pavimento só podem ser, a fazer fé na data, do “Americano”.
O brasão em mármore que o referido prédio ostenta, será do séc. XIX, sendo o seu escudo francês ou quadrado e  esquartelado.


Brasão do prédio da Rua de Santa Catarina nº 53


Na sua leitura verifica-se que o escudo é esquartelado e os pontos I e IV identifica os Sousa (do Prado), o II, dos Tavares e o III, de Queiroz.
Para além disso o elmo não tem paquife e contempla um timbre dos Sousa.
Porém como os esmaltes ou metais não estão indicados (como é óbvio), o segundo quartel tanto pode ser dos Tavares, como dos Macedos.
Nessa perspectiva, tanto poderia ser Sousa Tavares (?) ou Sousa de Macedo (?).

“ (…) Armando Mattos, em 1945, na sua obra "Pedra de Armas do Porto", definia-o como sendo um brasão dos Sousa Queiroz”.
Fonte: Manuel José Cunha

O barão (por decreto de 14 de Outubro de 1874) de Sousa Queiroz (1806-1891,) de seu nome completo Francisco Antônio de Sousa Queirós, era filho do brigadeiro Luís António de Sousa Queiroz (1757-???), natural de Amarante e emigrado no Brasil e de Genebra de Barros Leite, tendo casado, em 1833, com Antónia Eufrosina de Vergueiro.
O brigadeiro Luís António de Sousa Queiroz, por sua vez, era filho de José Luiz de Sousa e Ana Maria Macedo e tinha por irmão o coronel Francisco António de Sousa Macedo e Queirós (1777-???).
Do casamento do barão de Sousa Queiroz que foi um influente político brasileiro e abastado lavrador de café e opulento proprietário urbano de S. Paulo, nasceram vários filhos, que, como o pai, acabaram por centrar a sua actividade na terra natal.
As armas do Barão de Souza Queiroz, são uma combinação das armas das famílias Souza do Prado, Macedo, Teixeira e Queiroz e um pouco diferente daquele que estamos a estudar, por ser distinto, o seu ponto III.


Brasão do barão de Sousa Queiroz



Por outro lado, o tio do barão, o coronel Francisco António de Sousa Macedo e Queiroz casaria com Isabel Inácia da Conceição e teriam como filhos, Francisco Inácio de Sousa Queiroz e Maria Inocência de Sousa Queiroz.
No meio desta família, com origens em Amarante, se encontrará, certamente, a solução que nos propusemos inicialmente.
Quem mandou construir o prédio ainda existente e o habitou, na Rua de Santa Catarina, nº 53?

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

25.5 A Casa Escondida



Igreja dos Carmelitas à esquerda e Igreja dos Terceiros do Carmo à direita


A Igreja dos Carmelitas descalços foi construída entre 1616 e 1628.
Em 1736, é fundada a Ordem Terceira do Carmo, que a princípio tinha a sua sede no Convento dos Carmelitas Descalços, bem ali ao lado, mas em 1752 foi cedido o terreno ao lado da Igreja dos Carmelitas para a construção da Igreja do Carmo.


Igreja dos Carmelitas e igreja da Ordem Terceira (ainda sem azulejos) e Praça dos Voluntários da Rainha ainda sem fonte antes de 1885 - AMP


Entre as duas igrejas sobra um espaço que é uma casa bem esguia de 3 pisos.
Várias explicações são dadas para justificar o fenómeno, como seja, o de dizerem que era impeditiva a construção lado a lado das igrejas e, por isso, sobrou aquele espaço. Nada mais falso.
O facto deve-se à existência de duas capelas laterais da igreja dos carmelitas descalços, caso da capela do Senhor Santo Cristo e da capela de Nossa Senhora da Soledade, razão, pela qual, a igreja dos terceiros do Carmo ao adoçar àquelas capelas, acabou por criar o espaço onde veio a surgir, por razões estéticas, a “casa escondida”.
A casa serviu de residência para alguns capelães e, em algumas situações, também abrigou artistas que faziam trabalhos na decoração da Igreja e de médicos que trabalhavam no hospital da Ordem do Carmo.
Nos últimos tempos lá viveram o Sacristão e o zelador da Igreja.




No espaço entre as igrejas é possível observar as tais capelas laterais – Fonte: Google maps


Escada interior da “Casa Escondida”


Quarto de dormir da “Casa Escondida”


Pequeno Escritório da “Casa Escondida”


Sala de Estar e Sala de Jantar da “Casa Escondida”



Vista para o exterior da “Casa Escondida”


Aquela igreja dos terceiros do Carmo, cujo varandim sobre a porta de entrada tem risco de Nicolau Nasoni, tem uma outra particularidade pouco conhecida dos portuenses: durante os anos de 1846 a 1866, existiram no seu sub-solo, umas catacumbas construídas para servir os membros da venerável Ordem do Carmo, a exemplo das da Ordem de S. Francisco, da freguesia de S. Nicolau, com capacidade para 140 enterramentos, embora nem todos fossem perpétuos. No total, teriam sido aí sepultados, cerca de 400 membros da Ordem.
Em 1869, em virtude da institucionalização dos cemitérios públicos municipais, a Ordem do Carmo adquiriu um vasto talhão no cemitério de Agramonte e as catacumbas foram encerradas. Hoje, servem de armazém a um grande espólio com as peças mais valiosas da Ordem.
Aquela actividade funerária era uma ajuda deveras importante para angariação dos proventos da Ordem. Uma outra, consistia na exploração da actividade hospitalar que, neste caso, se centrou num hospital anexo á igreja e que se estendia pela Praça de Carlos Alberto.
Começado a construir em 1791, seria inaugurado em 1801 e, só encerraria, já nos nossos dias, em 2012, por não aguentar as pressões da concorrência.


Hospital da venerável Ordem do Carmo – Ed. JPortojo

terça-feira, 11 de setembro de 2018

25.4 Campeonato do Mundo de Hóquei em Patins de 1958 e outras vitórias - (Actualização em 05/09/2019)

A cidade do Porto tem uma longa ligação ao Hóquei em Patins.
Desde o dia 4 de Junho de 1909, que se realizavam periodicamente nas instalações da Auto-Motora, na Rua Heróis de Chaves, nº 369 (Rua D. João IV), aproveitando as excelentes condições do piso para a prática de patinagem, que começava a despontar entre as camadas mais privilegiadas da população, uma demonstração daquela nova modalidade desportiva.
Um outro local usado para o efeito era a nave do Palácio de Cristal.
Na cidade do Porto e a expensas de particulares, mas com o objectivo de servir o FC Porto é construído em 1914, junto ao campo da Constituição, um ringue que permitia a prática de patinagem.
No entanto, o primeiro jogo de hóquei em patins, no Porto, ocorreria em 11 de Junho de 1922, por iniciativa da revista “Sporting”, na nave central do Palácio de Cristal, exibindo-se os lisboetas Hóquei Clube de Portugal e o Lisboa Ginásio Club, num jogo de demonstração da modalidade.
No entanto, o primeiro grande momento vivido no Porto, no que concerne à modalidade, aconteceria no Campeonato do Mundo de 1952 e teria continuidade com os Campeonatos do Mundo de 1956 e 1958.




“A tarefa parecia difícil e melindrosa, tendo em conta que os moçambicanos e os metropolitanos, bem pouco tempo antes, tinham lutado encarniçadamente (mas de modo desportivo), uns contra os outros. Visto à posteriori, a liderança inteligente, honesta e simples de Emídio Pinto, conseguiu rodear “os de lá”, o Moreira, o Adrião, o Bouçós e eu, com um lote de companheiros de estirpe elevada, o Edgar Bragança, o António Matos, o Carlos Bernardino, o Vaz Guedes, o Perdigão, o Trabazos e o Mário Lopes.
Foi com este grupo, irmanado em franca amizade, que viajámos para o Palácio de Cristal, hoje Rosa Mota, de 24 a 31 de Maio, a fim de enfrentar os nossos adversários, numa prova dura que obrigava à disputa de 9 jogos em 8 dias.
Num aparte, lembro-me que nos encontrávamos em plena campanha de eleições, com Humberto Delgado a percorrer o país. O ambiente cinzento que encontrámos ao chegarmos à “Cidade Invicta”, era sobremaneira carregado. As pessoas passavam com ar sério, apressadamente, a resmungar, como se falassem para alguém. Estou plenamente convencido que o Campeonato do Mundo teve um efeito moderador no espírito dos portuenses. A Selecção Nacional, com as suas idas aos treinos, atraía mirones com quem trocávamos palavras e cumprimentos e a imprensa dava enorme cobertura aos acontecimentos. Tivemos a Televisão na Estalagem onde realizaram um apontamento acerca do dia-a-dia da Selecção que ficou histórico pois, como média, ainda se encontrava na sua meninice”.
Com o devido crédito a Francisco Velasco (jogador e campeão mundial)



A selecção campeã do Mundo de Hóquei em Patins de 1958 – Foto de Francisco Velasco

A foto acima, foi obtida durante a visita de um grupo de estudantes à Estalagem do Lidador, no Lugar das Guardeiras, Moreira da Maia, onde a equipa estagiou enquanto decorreu o campeonato.


Programa da RTP em Maio de 1958 quando dava os primeiros passos e a referência ao campeonato do Mundo de Hóquei em Patins de 1958



Na gravura acima, pode observar-se que a emissão da RTP, em 1958, abria às 21,00 H e fechava às 23,30 H.



Assistência ao Campeonato Mundial de Hóquei em Patins de 1958



Campeonato mundial de Hóquei em Patins 1958


Vencemos a Alemanha (8×1), a França (6×0), a Suíça (6×1), a Holanda (14×0), a Itália (3×1), a Bélgica (2×1), arrancados a ferro e fogo, a Inglaterra (6×0) e empatando com a Espanha (2×2), depois de novamente estarmos a perder por (2×0) na primeira parte. O empate foi suficiente para a conquista do título.
Seriam campeões do mundo sob a liderança de Emídio Pinto: Moreira, Vaz Guedes, Adrião, Bouçós, Velasco, Matos, Bernardino, Edgar, Perdigão, Trabazos e Mário Lopes.
O campeonato do mundo, só voltaria ao Porto em 1968.
Entretanto, na cidade do Porto já tinham sido disputados os campeonatos do Mundo e da Europa em 1952, aquando da inauguração do Pavilhão dos Desportos (Rosa Mota) e os de 1956, que seriam, também, ganhos por Portugal.
Nos primeiros 20 anos (1936-1956), o campeonato do mundo foi disputado simultaneamente com o “Europeu” e o vencedor conquistava, assim, dois títulos.
Neste período, a prova conheceu um interregno após duas edições (1936 e 1939, ambas conquistadas pela Inglaterra).
Naquele longínquo ano de 1936, a competição, que teve como primeiro campeão do mundo a Inglaterra, fora disputada por sete países e em simultâneo com a 9ª edição do campeonato da Europa.
Quando foi retomada a sua realização, em 1947, após a II Guerra Mundial, era disputada todos os anos. E, apesar de já contar com países não europeus, até 1958, o campeonato do mundo manteve a sua dupla função de Mundial e Europeu.
O campeonato do Mundo de 1952, que nos é particularmente caro, era a 8ª edição, disputada simultaneamente com a 18ª edição do Campeonato da Europa e decorreria entre 28 de Junho e 7 de Julho, na cidade do Porto.
Seria disputado no Pavilhão dos Desportos, actualmente conhecido como Pavilhão Rosa Mota (ainda com a abóbada incompleta).
Foi realizado com a fachada principal do antigo edifício do Palácio de Cristal ainda de pé, pois não tinha havido tempo para acabar a obra e o torneio decorreu, assim,  ao ar-livre.


Pavilhão sem cobertura – Ed. Alvão



Agradecimento público do Engenheiro responsável pela construção do Pavilhão do Palácio – Fonte: "Diário de Lisboa", nº 10623, Ano 32, Domingo, 29 de Junho de 1952; Cortesia da Fundação Mário Soares



No dia 28 de Junho, um Sábado, o campeonato arrancou e nessa jornada inaugural, Portugal derrotou a Suiça por 7-1, tendo a equipa das quinas apresentado os seguintes jogadores:
Emídio, Raio, Edgar, Jesus Correia e Correia dos Santos. (6º jogador – Cruzeiro).
No dia seguinte, durante a tarde, prosseguiu o campeonato, com a realização dos 2 jogos que estavam marcados, com os jogadores intervenientes, a suportar um calor imenso, debaixo de um sol escaldante.
Pelas 17 horas, abateu-se uma trovoada seguida de forte chuva, sobre a cidade, o que levou a que a jornada da noite, prevista começar para as 20 h e 45 m, fosse adiada, um pouco, para limpeza do recinto.
Porém, durante o 2º encontro da noite entre o Egipto e a Holanda, ao 1º minuto da 2ª parte, abateu-se sobre o ringue, tamanha tempestade, que obrigou à limpeza do piso. O jogo ainda foi concluído, mas foi impossível continuar com o torneio.
Quem tinha viajado de Lisboa para assistir ao jogo de Portugal, em comboio especialmente fretado, voltou para a capital sem ter assistido ao ansiado desafio.
Foi então decidido que, se no dia seguinte, as condições não fossem as melhores, o campeonato prosseguiria num recinto improvisado, em Matosinhos, que comportava apenas 1500 pessoas, o que acabou por acontecer, dando à vila um aspecto de festa, mais parecendo que era dia de Senhor de Matosinhos.
Em ringue coberto, realizaram-se os jogos, na tarde do dia 30 de Junho, mas, à noite, o campeonato prosseguiria já no Palácio.
Dizia o “Jornal de Notícias” que, em Matosinhos, os jogos tinham decorrido num “armazém improvisado”.
Já o jornal “O Norte Desportivo” salientava que, o “rink” utilizado em Matosinhos, deixaria muitos clubes a “invejarem a sua qualidade”.
O jornal “Diário de Lisboa”, em 2ª Edição, do próprio dia 30 de Junho, destacava dos jogos efectuados nessa tarde, a vitória da Itália, por 3-2, sobre a Espanha, a vitória por 4-1, da Inglaterra sobre a Suiça e a vitória de Portugal sobre a França, por 9-0.


Fonte: "Diário de Lisboa", nº 10624, Ano 32, 2ª Feira, 30 de Junho de 1952; Cortesia da Fundação Mário Soares



Fonte: "Diário de Lisboa", nº 10625, Ano 32, 3ª Feira, 01 de Julho de 1952; Cortesia da Fundação Mário Soares



Lance ocorrido em ringue improvisado na Vila de Matosinhos - Fonte: "Diário de Lisboa", nº 10625, Ano 32, 3ª Feira, 01 de Julho de 1952; Cortesia da Fundação Mário Soares


Local onde esteve o armazém que substituiu, esporadicamente, o Pavilhão dos Desportos do Palácio de Cristal no Campeonato Mundial de Hóquei em Patins em 1952 - Fonte: Google maps



Segundo o matosinhense, Carlos Adão Cruz, o armazém (de algodão) em Matosinhos, que recebeu uma jornada do campeonato do mundo de 1952, situava-se na esquina das avenidas Villa Garcia Arosa e D. Afonso Henriques, onde hoje está uma loja do hipermercado Continente e, antes, tinha estado uma loja da firma Fabio Lucci do ramo têxtil. 



À esquerda, o armazém, na década de 1960, que antecedeu a loja do hipermercado da foto anterior e onde se realizou uma jornada do campeonato do mundo de hóquei em patins em 1952 - Cortesia de Vítor Monteiro




Campeonato Mundial de Hóquei em Patins de 1952



Os campeões do Mundo de 1952


Da esquerda para a direita: Cruzeiro, Jesus Correia, Capitão Santos Romão (presidente da Federação), Emídio, Correia dos Santos, José Dias, Raio, Edgar, Cipriano e Sidónio Serpa (seleccionador nacional).


Capa da Revista Flama com os campeões mundiais de Hóquei em Patins de 1952


O Campeonato do Mundo de 1956 decorreu entre 26 de Maio e 2 de Junho de 1956, também na cidade do Porto.



Publicação alusiva ao Campeonato Mundial de Hóquei em Patins de 1956


Portugal e a taça de campeão do Mundo de 1956 de Hóquei em Patins com o dirigente Moreira Rato e o seleccionador Leonel Costa



Classificação do campeonato mundial de 1956


A selecção em 1956 tinha como seleccionador, Leonel Costa, guarda-redes, Matos e Vilaverde, como defesas, Edgar e Figueiredo, como médios, Cruzeiro e Virgílio e avançados, Jesus Correia, Correia dos Santos, Perdigão e Lisboa.
A equipa espanhola, naquela época, tinha uma formação de grande categoria composta por, Zabalia, Orpineli, Boronat, Puigbó e Parella (Gallen), mas insuficiente para nos fazer frente.
Já antes, em 1947, tinha acontecido o primeiro título mundial para Portugal, disputado no Pavilhão dos Desportos, no Parque Eduardo VII, em Lisboa.
"Los portugueses ya son campeones", lia-se no “Mundo Deportivo” de 23 de Maio de 1947.
O dia que marca a última jornada, do que foi o 3º Campeonato do Mundo (simultaneamente 13º Campeonato da Europa), acabou em consagração.
O inédito título fora garantido na véspera, a 22 de Maio de 1947 (sem jogar).
No dia de folga dos portugueses, a Inglaterra, vigente campeã do Mundo, perdia com a então o vice-campeã, a Itália, por 4-3 e a matemática ditava um Portugal campeão, pela primeira vez na história da modalidade.


Jogo Portugal vs Inglaterra do mundial de 1947 observando-se Cipriano e Correia dos Santos



Classificação final do torneio


Os campeões em 1947 com o seleccionador José Prazeres – Fonte: Arquivos da RTP



Tendo como seleccionador José Prazeres, foram campeões do Mundo e da Europa, em 1947, Cipriano Santos, Álvaro Lopes, Sidónio Serpa, Jesus Correia, Olivério Serpa (cap.) e Correia dos Santos e os suplentes que não chegaram a actuar, Emídio Pinto e Manuel Soares (o primeiro seleccionado do Norte).
Entretanto, em Junho de 1949, Portugal festejaria a vitória no campeonato Mundial (5ª edição) e Europeu de Hóquei em Patins, realizado no Pavilhão dos Desportos de Lisboa.
Fora de portas, em 1948, Portugal ganharia o título mundial, em Montreux, na Suiça, quando pela primeira vez participou um país fora da Europa, o Egipto e, em 1950, em Milão.

sexta-feira, 7 de setembro de 2018

25.3 Hino e Marcha do F. C. do Porto



Revista Stadium em Maio de 1947


No artigo acima, dava-se conta de que o proprietário a quem tinham sido comprados os terrenos destinados ao estádio, já tinha recebido, como pagamento, um primeiro sinal.
Era, à data, presidente da Direcção do F. C. Porto e grande impulsionador daquele empreendimento, o Dr. Cesário Bonito quando, em 1948, procedeu à assinatura da escritura definitiva dos terrenos, em causa.
Desde então, até à inauguração do empreendimento em 28 de Maio de 1952, seriam presidentes do clube, Júlio Ribeiro Campos (1948-49, fundando o jornal “O Porto” e 1950-51) e Miguel Pereira (1949, lançamento da 1ª pedra).
Aquando da inauguração já era presidente, desde o começo do ano, o Dr. Urgel Horta.
No início da década de 50, do século XX, as festas denominadas “pró-estádio” sucediam-se, tendo por objectivo a angariação de fundos para a sua construção, durante as quais era cantada a Marcha do F. C. do Porto da autoria de João Manuel e Carlos Dias, pela voz de Maria Amélia Canossa.
Numa delas, a 8 de Março de 1951, realizar-se-ia no Coliseu do Porto um espectáculo promovido pela Comissão Executiva Pró-Estádio – o programa radiofónico “ O comboio das seis e meia” com Vasco Santana, ao vivo.




Anúncio do espectáculo do Coliseu do Porto com Vasco Santana




Letra da Marcha

Cantemos com voz sonora a toda a hora
Pois somos Portistas e sempre bairristas
Pelo nosso Porto
Gritamos com todo o ardor o nosso amor
Levamos o estandarte e em qualquer parte
Do nosso Porto.

Porto, Porto, Porto
És a nossa glória
Dá-nos neste dia
Mais uma alegria
Mais uma vitória
Porto, Porto, Porto
És a nossa glória
Dá-nos neste dia
Mais uma alegria
Mais uma vitória.

É tão nobre a tua história a tua memória
Gritemos sem cessar pra te ajudar
Ai ao nosso Porto
O teu passado brilhante nunca distante
Em nós está presente e eternamente ao nosso Porto.

Porto, Porto, Porto
És a nossa glória
Dá-nos neste dia
Mais uma alegria
Mais uma vitória
Porto, Porto, Porto
És a nossa glória
Dá-nos neste dia
Mais uma alegria
Mais uma vitória


Fotobiografia de Amélia Canossa – Fonte: “memoriaporto.blogspot.com”


Amália Rodrigues por intermediação de Maria Amélia Canossa haveria de participar, também, nas festas “pró-estádio”, de angariação de receitas para a sua construção.


Anúncio sobre o convite para Amália Rodrigues actuar em espectáculo organizado pela comissão executiva "Pró-Estádio do F. C. do Porto" - Fonte: #MuseuCoolFacts




Extrato de notícia sobre actuação de Amália Rodrigues no Coliseu – Fonte: “Data Base” da Revista Dragões



“Foi há 64 anos, no dia 31 de Março, que Maria Amélia Canossa gravou pela primeira vez a letra que Heitor Campos Monteiro tinha escrito. O palco escolhido foi o emblemático Teatro S. João e, reza a história, as gravações foram efetuadas de madrugada, quando a cidade dormia, para evitar ruídos exteriores indesejáveis. Havia que o fazer rapidamente, a tempo de chegarem os discos, produzidos em Inglaterra, para a inauguração do Estádio das Antas, marcada para 28 de Maio. Aconteceu: o hino foi cantado, como seria nas inaugurações do Estádio do Dragão, em 2003, ou do Dragão Caixa, em 2009. Ganhou o estatuto de património do clube!
É preciso recuar a 1922 para se encontrar a génese do hino, produto de uma certa tendência de bem-fazer que caracterizou os primórdios do FC Porto. Nesses anos 20 do século passado, era habitual a banda do Asilo do Terço animar os intervalos dos jogos. Tratava-se de uma instituição de beneficência, em permanente luta pela sobrevivência económica. O clube ajudava com a realização de festivais desportivos cujas receitas revertiam para a instituição. E foi para um destes encontros, realizado em Agosto, que o então maestro da banda, António Figueiredo e Melo, decidiu compor uma música inédita para os seus pupilos executarem.
Terá sido tocada em vários outros festivais ou mesmo jogos, mas foi caindo no esquecimento, para renascer em 1952, por uma feliz coincidência: Hipólito Magalhães, membro da Direcção do Asilo, também fazia parte da Comissão de Festas da Inauguração do Estádio das Antas e lembrou-se da partitura, propondo que fosse tocada na inauguração do novo estádio. O presidente da Comissão, Mário do Amaral, adorou a ideia e acrescentou que bom seria que se lhe juntasse uma letra, convidando Heitor Campos Monteiro (então, sócio n.º 464 do clube) para a escrever, ao que acedeu prontamente.
A letra do hino seria publicada na primeira página do jornal O Porto na edição n.º 142, de 13 de Maio de 1952, já depois de Maria Amélia Canossa ter gravado o registo que viria a ser imortalizado em disco. Nessa mesma edição, era revelado que o Maestro Afonso Valentim, nome importante da música portuense, fizera “ligeira modificação, com vista a dar-lhe um ritmo adequado aos tempos em que vivemos”. Arranjos concluídos, letra aposta, havia que garantir que, no dia da inauguração do estádio, as bancadas estivessem em condições de colaborar e, para isso, na semana anterior, o hino foi reproduzido na rádio, para que as pessoas tivessem “a possibilidade de o decorarem a fim de que, daqui a oito dias, o possam cantar no espetáculo tão ansiosamente aguardado”, lê-se nessa edição de ‘O Porto’”.
Fonte: “fcporto.pt”-2016


Letra do Hino

Ó meu Porto, onde a eterna mocidade
Diz à gente o que é ser nobre e leal.
Teu pendão leva o escudo da cidade
Que, na história, deu o nome a Portugal!

Ó campeão, o teu passado
É um livro de honra de vitórias sem igual
O teu brasão, abençoado
Tem no teu Porto mais um arco triunfal
Porto, Porto, Porto, Porto
Porto, Porto, Porto, Porto
Porto, Porto

Quando alguém se atrever a sufocar
O grito audaz da tua ardente voz
Ó Porto, então verás vibrar
A multidão num grito só de todos nós

Ó campeão, o teu passado
É um livro de honra de vitórias sem igual
O teu brasão, abençoado
Tem no teu Porto mais um arco triunfal
Porto, Porto, Porto, Porto
Porto, Porto, Porto, Porto
Porto, Porto


Direcção do F. C. Porto, presidida pelo Dr Urgel Horta, responsável pela inauguração do Estádio das Antas


Equipa do Futebol Clube do Porto em 1952 no ano da inauguração do Estádio das Antas


Relativamente à foto acima, podemos ver a partir da esquerda para a direita – Américo, Virgílio, Ângelo Carvalho, Barrigana, Valle, Del Pinto, Albasini e Osvaldo Cambalacho; e em baixo, pela mesma ordem – Hernâni, Porcel, Monteiro da Costa, Pedroto, José Maria e Carlos Duarte.
De notar que a foto é posterior ao dia da inauguração do estádio, pois, apresenta já, Carlos Duarte e Albasini.
Estes dois jogadores, bem como, Perdigão, só chegariam ao clube, 8 dias após, aquela data festiva.
Passados 4 anos, o F.C. Porto seria Campeão Nacional, em jogo da última jornada disputado nas Antas contra a A. A. Coimbra, por 3-0, tendo por treinador Yustrich e, em 1959, repetiria a façanha no campeonato com uma vitória no jogo realizado na última jornada, em Torres Vedras, também por 3-0, treinado por Bella Guttman.
Seria este o campeonato que teve, para além do campeão, um outro protagonista, por sinal árbitro, que mais tarde seria irradiado e, assim, ficaria para sempre na história, mas pelos piores motivos, de seu nome, Inácio Calabote.
O clube passaria depois, no que aos títulos dizia respeito, por um longo jejum de 19 anos.