segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

25.25 O “Porto 1900” – Arnaldo Leite


Restaurante o “Túnel”

Arnaldo Leite foi um escritor e comediante portuense, nascido no fim do século XIX, que passou a primeira metade do século seguinte a fazer rir os seus conterrâneos, e a escrever sobre os costumes e factos da cidade que o viu nascer.


“Arnaldo Leite nasceu no Porto, a 9 de Março de 1886 e escreveu a primeira comédia, com 16 anos de idade, iniciando precocemente uma carreira de sucesso na literatura teatral. Homem de cultura esteve ligado a várias instituições portuenses, nomeadamente a Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto, escreveu e dirigiu várias publicações periódicas, sobretudo de carácter humorístico. Mas foi a comédia, sobretudo para teatro de revista, o género que o consagrou. Estreou-se no Porto, em 1907, com a peça “São Ordes!” e foi no Porto que manteve parcerias literárias com outros escritores, produzindo dezenas de peças em co-autoria com Carvalho Barbosa (29 peças em conjunto) e, já na década de 30, com Heitor Campos Monteiro.
De que ria o Porto da primeira metade do século XX? Das peças de Arnaldo Leite, das caricaturas de Cruz Caldas (que mantinha grande cumplicidade com Arnaldo Leite) e do humor de revistas tão conceituadas como o Cócorócó (1924-1927), o Pirolito: bate que bate (1931-1934) e o Maria Rita, que este escritor dirigiu e onde escrevia com regularidade. Paralelamente, Arnaldo Leite tinha colunas humorísticas em diversos jornais, portugueses e brasileiros e colaborou, com crónicas de costumes, no emblemático Tripeiro.
Da vasta obra de Arnaldo Leite, destaca-se o livro de poesia “Versos de um portuense” (1927) e a compilação de várias crónicas publicadas no Tripeiro a que deu o nome “O Porto 1900” (1952). Para teatro, escreveu “Pires da Costa Paio”, “O Luz em Queluz”, “Monólogo”, “Manhã Triste”, “O Adultério” e “O Mudo”, obras da sua exclusiva autoria. Em colaboração com outros autores, escreveu dezenas de peças, incluindo contos humorísticos, operetas e revistas, estas últimas estreadas nos palcos do Porto. Muitas das cançonetas e rábulas das suas peças ganharam fama e corriam a cidade de boca em boca e haverá ainda quem tenha memória de revistas como “Contas do Porto”, “Chá e Torradas”, Porto à Vista”, “Cama, Mesa e Roupa Lavada”, “O Pardal de S. Bento”, “A Costureirinha da Sé” ou “O senhor Ventura”.
Com o devido crédito ao blogue: “memoriacruzada.wordpress.com”



Uma das obras na qual Arnaldo Leite nos traça o perfil da cidade do Porto e nos narra alguns acontecimentos que marcaram outros tempos (nomeadamente a mudança de século) é O “Porto 1900”.
Esta obra, hoje só ao alcance de coleccionadores, podia muito bem ser reeditada, pois, teria sucesso assegurado.
É esse o caso de uma outra, bem icónica, sobre a cidade do Porto, da autoria de Alberto Pimentel e denominada “O Porto há trinta anos”, que em 2011 foi reeditada pela “Universidade Católica Editora-Porto”, com enorme sucesso e deleite dos estudiosos da história da cidade.


Capa do livro O “PORTO 1900” de Arnaldo Leite


Na gravura acima (representando a Praça da Liberdade, antiga Praça Nova e Praça D. Pedro) é visível a estátua equestre de D. Pedro IV, ao fundo o palacete Monteiro Moreira ocupado pela Câmara Municipal e, à direita, o famoso quiosque do Sebastião.
No correr de prédios à direita da gravura, à data, ficava o Café Central (onde hoje é o McDonald's) e a seguir (mais próximo de nós, como observador) o célebre Restaurante Camanho que deu origem à expressão, “É do Camanho”!
De notar que a estátua de D. Pedro está cercada por uma grade.
Voltando à obra mencionada, O “PORTO 1900”, vamos fazer referência a um breve trecho, no qual, Arnaldo Leite menciona um restaurante que ficava na Rua do Bonjardim.


Gravura da obra O “PORTO 1900”



Na gravura acima, estão especificados alguns dos restaurantes mais frequentados, à época. Com caixilho amarelo está aquele, sobre o qual, Arnaldo Leite nutria um apreço especial.
Ficava situado na Rua do Bonjardim, entre as ruas de Fernandes Tomás e Guedes de Azevedo, à direita de quem subia o Bonjardim.
Tinha o nome de Túnel, devido a ele se aceder por um estreito portal, muito comprido, que terminava numa quadra térrea, larga e ampla, ao lado da qual havia “gabinetes”.
O seu proprietário era o senhor Francisco, “criatura baixa, com uns olhinhos muito vivos e uma pêra muito bem tratada”, e a sua esposa uma cidadã belga de seu nome Anne Marie Adèle Heiderscheidt da Silva, que cozinhava à portuguesa, e com fama firmada no bacalhau assado no forno.
Em 1911, o Túnel passou para o Largo de Santo António do Bonjardim, depois chamado, Largo Tito Fontes, em homenagem ao distinto clínico (que aí habitou longos anos), à esquerda (no sentido ascendente) do referido largo. 
Em casa de piso térreo e 1º andar, o restaurante ocupou o andar superior. Manteve a qualidade do serviço, mas perdeu-se a entrada característica do túnel que lhe deu o nome.
No dia 7 de Março de 1919, com os republicanos em festa pelo malogro da implantação da monarquia, o restaurante foi cenário de um grandioso ágape.






Por estes tempos, na mesma Rua do Bonjardim, mas já próximo de Liceiras, ficava o Restaurante Freitas.
Liceiras era o lugar onde agora está o parque automóvel da Trindade e área que lhe é limítrofe.
Francisco António da Silva faleceria em 1922, tendo o afamado restaurante "O Túnel" encerrado pouco depois.



“Estamos na Rua do Bonjardim e chegados às Liceiras”. A estação do metro da Trindade (não visível) é ao fundo à direita


No texto seguinte, Arnaldo Leite conta as peripécias da marcação duma refeição de bacalhau assado no forno, no Túnel.





terça-feira, 4 de dezembro de 2018

(Conclusão)




Teatro Rivoli (1913) - Baixo-Relevo na fachada do Teatro Rivoli



Painel representando a "Comédia" nos tímpanos da entrada da plateia no Teatro Rivoli



Estátua do Bispo do Porto D. António Augusto de Castro Meireles no Carvalhido - Ed. JPortojo



Igreja de Santo António dos Congregados - Altares de Nossa senhora Auxiliadora e de Santo António



Alto-Relevo em mármore do Café Guarany representando um Índio (1933) - Fonte: “cafeguarany.com”


Águia à entrada do antigo Café Imperial


Lá está a águia nos dias de hoje



“Banhista”



Esta escultura (assinada) em bronze, denominada “Banhista”, faz parte da colecção particular da Fundação Escultor José Rodrigues, sita na da Rua da Fábrica Social, numa zona antigamente conhecida por Bairro Alto.
Um exemplar em mármore da escultura esteve durante muitos anos no átrio do antigo Cine-Teatro Águia d'Ouro.


Baixos-Relevos no Hotel Infante Sagres


Na foto abaixo vê-se a oficina de Henrique Moreira, ocupando a antiga casa das máquinas do primeiro Elevador dos Guindais.



Oficina de Henrique Moreira nos Guindais – Fonte: Rui Cunha 


No resto do País podem observar-se muitas outras obras do escultor Henrique Moreira:
Monumento à Padeira de Avintes e os bustos de Eng.º Arantes de Oliveira e de Calouste Gulbenkian em Avintes, Vila Nova de Gaia;
A estátua de Ferreira de Castro e Nossa Senhora de La Salette, em Oliveira de Azeméis;
O Monumento aos Mártires da Grande Guerra e o busto do Conde Dias Garcia, em S. João da Madeira;
A escultura de Cristóvão Colombo no Funchal;
A homenagem ao Almirante Jaime Afreixo em Murtosa;
O Padre Saúde em Sandim;
Estátua a António Cândido em Amarante;
Estátua do Infante D. Henrique em Tomar;
O Bombeiro em Barcelos;
Estátua de José Guilherme Pacheco em Paredes;
Frontão do Palácio de Justiça em Coimbra;
“Quatro Estações” (Quatro estátuas representando a "Primavera", o "Estio", o "Outono" e o "Inverno", situadas na Avenida Dr. Alfredo de Sousa no início das escadarias do Santuário de Nossa Senhora dos Remédios em Lamego e que antes estiveram numa quinta do Dr João de Almeida, em Magueija);
Estátua de D. Sílvia Cardoso em Paços de Ferreira;
Padrão Comemorativo em Praceta de Baião;
Quatro-relevos para o Salão de Festas do Pavilhão dos irmãos Rebelo de Andrade para a Exposição Ibero-Americana de Sevilha, de 1929; Participação nas decorações do Pavilhão de Raul Lino para a Exposição Internacional e Colonial de Paris, de 1931.
Mesmo em Angola é autor do Padrão aos Mortos da Grande Guerra na Praça dos Lusíadas.
A sua obra, figurativa, academista e centrada na representação de figuras ilustres e populares, granjeou-lhe vários galardões e honrarias as tais como: a Medalha de ouro na Exposição Ibero-americana de Sevilha de 1929, vários prémios na Sociedade Nacional de Belas Artes (1916, 1917 e 1935), o Prémio Soares dos Reis, em 1963, a Medalha de Ouro da cidade do Porto e a Medalha de Honra da Vila de Avintes.
Faleceu no Porto em 16 de Fevereiro de 1979, sendo sepultado no Cemitério de Agramonte.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

25.24 Henrique Moreira – O Escultor do Porto (Actualização em 29/07/2019)


O escultor Henrique Moreira nasceu em V. N. de Gaia, Avintes, em 9 de Maio de 1890, no seio de uma família modesta de lavradores.
O seu pai, Manuel de Araújo Moreira fora tanoeiro e a sua mãe Josefa da Silva toucinheira, em Magarão, tornando-se depois merceeiros no lugar de Cabanões (actual Rua 5 de Outubro), em Avintes.
Faleceu na sua casa, na Avenida Antunes Guimarães, no Porto, em 16 de Fevereiro de 1979.



“Na infância, Henrique frequentou a Escola Primária de Cabanões, onde revelou o talento para o desenho. O exame da 4ª classe foi realizado no Porto. Nesses tempos, como o próprio contava, os seus passatempos favoritos eram desenhar bonecos e modelar figuras em barro.
Depois de concluídos os estudos básicos trabalhou na loja do pai, mas, ao contrário dos irmãos Joaquim e Cesário, o negócio familiar não o seduziu, pois a sua paixão continuava a ser o desenho. Foi também aprendiz de sapateiro e de santeiro.
Em 1905, com 15 anos de idade ingressou na Academia Portuense de Belas Artes. Nesta escola, então instalada nos claustros do convento de Santo António da Cidade (atual Biblioteca Pública Municipal do Porto) rapidamente se notabilizou. No primeiro ano de frequência completou o correspondente a dois anos letivos e seis anos mais tarde terminou o curso com a classificação final de dezassete valores.
Nas Belas Artes foi discípulo de José de Brito, António Teixeira Lopes, Sousa Pinto e Marques da Silva, e condiscípulo dos escultores Diogo de Macedo, António de Azevedo, Zeferino Couto, Sousa Caldas, Manuel Martins e Azulina Gouveia, dos pintores Joaquim Lopes, Heitor Cramez e Armando Basto e ainda dos arquitetos Manuel e Francisco Marques.
Após a conclusão da licenciatura passou a trabalhar no atelier do Mestre Teixeira Lopes, vindo, poucos anos depois, a seguir um caminho autónomo.
A 29 de Novembro de 1913 casou com Adelina Campos Nunes, sua conterrânea, na Igreja Paroquial de Avintes, tendo por padrinhos Joaquim de Oliveira Lopes e a mulher, e como testemunhas Teixeira Lopes e o seu sobrinho Maciel. O casal viveu os primeiros anos em comum em Vila Nova de Gaia (na casa dos sogros, na Rua da Rasa, na Serra do Pilar, e no Candal) e posteriormente no Porto na Foz do Douro e por fim na Avenida Antunes Guimarães. Tiveram cinco filhos.
Dedicou toda uma vida somente à produção escultórica, em Portugal (apenas viajou até Espanha), apesar de ter sido convidado, por diversas ocasiões, pelo amigo Sousa Caldas para lecionar na Escola Faria Guimarães, declinando a proposta com a alegação de que os rígidos horários escolares afetariam o seu trabalho”.
Fonte: “sigarra.up.pt”




Atelier de Henrique Moreira, no cimo dos Guindais
 
 
 
“O atelier de Henrique Moreira, talvez o escultor que mais obras deixou no Porto, ficava na antiga casa das máquinas do antigo elevador dos Guindais, desactivada depois do acidente. Amigo de nossa família, ainda o visitei em jovem, tendo ficado assombrado com a quantidade das esculturas em gesso que aí estavam “semeadas”. Uma boa parte delas eram de obras já executadas. Na foto ainda se vêm pedras e trabalhos.
Desde o século XIX a escola de Belas artes do Porto tem-se distinguido por grandes escultores tais como Soares dos Reis (1847-1889), Teixeira Lopes (pai) (1837-1918), Teixeira Lopes (filho) (1866-1942), Américo Gomes, António Fernandes Sá (1874-1959), Henrique Moreira (1890-1979) e tantos outros”.
Com a devida vénia a Rui Cunha
 


As obras deste escultor estão dispersas por todo o País.
A maioria dos portuenses, por certo, passa ao lado de muitas delas, sem se aperceber de quem foi o seu autor.
Por exemplo, e fazendo referência apenas a uma parte do que foi a sua produção artística, apresentam-se algumas obras do mestre.





Obras de Henrique Moreira



Monumento aos Mártires da Grande Guerra (1928)


O monumento de homenagem aos mártires da 1ª Guerra Mundial está na Praça Carlos Alberto. Foi inaugurado em 9 de Abril de 1928, e acabaria por substituir um primeiro monumento, construído na cidade, em 1924, por iniciativa da Junta Patriótica do Norte.



Busto de Camilo Castelo Branco na Avenida Camilo


Em 16 de Março de 1925, é inaugurado um busto de Camilo Castelo Branco, por iniciativa do jornal “O Comércio do Porto”, no início da avenida com o nome do escritor, nos 100 anos do seu nascimento. Durante muito tempo, houve diversas tentativas de erigir uma estátua, mas sem sucesso.



“Menina da Avenida”, “Menina Nua” ou “Juventude” (1929) na Avenida dos Aliados



A “Menina Nua” e a sua personagem

 
 
“Chamava-se, Aurélia Magalhães Monteiro, e era conhecida por Lela, Lelinha ou pela «Ceguinha do 9» (cegou aos 43 anos) - para a eternidade ficará sempre a ser a «Menina Nua» da Av. dos Aliados. Nasceu no dia 4 de Dezembro de 1910, na freguesia do Bonfim, e pouco tempo antes de falecer, dizia-me «que tinha sido uma das mulheres mais apreciadas e cobiçadas do seu tempo» … Estive duas semanas a «posar» e ainda hoje recordo com alegria e saudade aqueles momentos de trabalho, pois posso morrer amanhã que todos ficarão a saber quem era a Lela... se a memória não me falha, comecei com o mestre Teixeira Lopes, na figura-modelo da rainha D. Amélia, esta estátua encontra-se actualmente no Museu com o mesmo nome, em Vila Nova de Gaia… fiz de modelo para vários mestres, entre eles: Acácio Lino, Joaquim Lopes, Dórdio Gomes, Sousa Caldas, Augusto Gomes, Camarinha e os consagrados, Henrique Moreira e Teixeira Lopes…” Aurélia Magalhães Monteiro, a Lela, Lelinha, ou a «Ceguinha do 9», faleceu no dia 2 de Junho de 1992, com 82 anos de idade; no entanto a «Menina Nua», continua viva, fixa e eterna, ali na Av. dos Aliados envolta nos nevoeiros citadinos, perpétua e ardente, nos dramas e vitórias deste povo.
Extraído do livro “Pasteleira City”, de Raul Simões Pinto. Edições Pé de Cabra, Fevereiro de 1994 




“Os Meninos”, ou “Abundância”, ou "No País das Uvas" (1931), na Avenida dos Aliados


 

“No primeiro talhão da Av. dos Aliados foi colocado ontem, 27 de Fevereiro de 1932, um novo motivo decorativo, da autoria do distinto escultor Henrique Moreira.
“No País das Uvas” é uma formosa concepção artística, representando três crianças, trabalhadas em bronze, que sustentam uma taça transbordante do precioso fruto.”
In jornal “O Comércio do Porto” de 28 de Fevereiro de 1932 – Cit. de Guido Monterey (“O Porto 2”, p. 465)





“O Salva-vidas” ou “Lobo-do-mar” (1937) junto da praia do Molhe


Monumento de homenagem a Raul Brandão (1967) na Foz do Douro – Ed. “Mapio.net”


Estátua do Padre Américo (1961) no Jardim da Praça da República - Ed. JPortojo


Monumento aos Heróis da Guerra Peninsular na Rotunda da Boavista - Ed. “Mapio.net”


"O Triunfo da Indústria" (1946) na fachada do Palácio do Comércio, na Rua de Sá da Bandeira


“O Pedreiro” (1933) no Largo Alexandre Sá Pinto


Este pedreiro, várias vezes, desceu do seu pedestal.
Colocado num jardim fronteiro à Escola Infante D. Henrique, por vezes, os estudantes condoídos, sentavam-no na relva com o letreiro: “A descansar”.
A escultura veio para aqui transferida do Jardim da Cordoaria, onde esteve, antes.


Busto de Antero de Figueiredo (1966) junto ao Mercado da Foz do Douro


Monumento de homenagem ao Dr. Joaquim G. Ferreira Alves em Valadares – Benemérito, Fundador e Director Clínico do Sanatório de Valadares


Baixo-relevo no interior do Coliseu do Porto



Baixos-Relevos coloridos no interior da loja “Lopo Xavier & Cia. Lda” (Praça Carlos Alberto), in Lojas do Porto, volume 1, Edições Afrontamento Porto 2009 de Luís Aguiar Branco 



No interior desta loja, conservam-se dois baixos-relevos de Henrique Moreira (acima reproduzidos), alusivos ao trabalho familiar que o negócio da firma pretende promover.
Sobre esta retrosaria, icónica da cidade do Porto, diz-se no seu site:

“A Lopo Xavier & Companhia Lda., é uma loja da cidade do Porto dedicada à revenda de produtos de retrosaria, fios e tecidos. Foi fundada em 1934 por Lopo Xavier e Idalino Pacheco, com a colaboração benemérita de Gustavo Burmester.
Em 1972 os sócios fundadores Lopo Xavier e Idalino Pacheco convidaram a juntar-se-lhe na direção da firma, os seus trabalhadores: Arnaldo Sotto-Mayor, Bernardino Ribeiro Silva e Mário Martins Ribeiro.
A firma manteve toda a sua tradição apesar do desaparecimento dos seus sócios: o Sr. Lopo Xavier em 1980, o Sr. Arnaldo Sotto-Mayor em 1988, o Sr. Idalino Pacheco em 1997 e por último o Sr. Bernardino Ribeiro da Silva em 2013.


A loja “Lopo Xavier & Cia. Lda” que, em 6 de Outubro de 1934, foi alvo de uma alteração da fachada, segundo um projecto do arquitecto Aucíndio Ferreira dos Santos, é um dos poucos estabelecimentos comerciais (históricos) que ainda permanecem, naquela zona da cidade, abertos ao público.
Desde há dois anos, que esta loja vem resistindo a uma ordem de despejo, vinda da venerável Ordem do Carmo, o senhorio de sempre.
Maria João Alonso e Ana Maria Alonso Oliveira, as actuais proprietárias, vêm lutando com denodo, para que não sejam obrigadas a cessar a actividade comercial do estabelecimento, após terem conseguido que o município o declarasse com interesse histórico, e para que não se perca mais uma, memória da cidade. 



 Desenho do alçado da fachada, in Lojas do Porto, volume 1, Edições Afrontamento Porto 2009 de Luís Aguiar Branco 



Fachada actual de “Lopo Xavier & Cia. Lda” – Ed. Manuela Campos (2019)


A fachada actual desta loja é da autoria do arquitecto Avelino dos Santos, da “ARS-Arquitectos” e data de 1947.




Baixos-Relevos no Frigorífico do Peixe (1935/39), hoje um hotel, em Massarelos


(Continua)

terça-feira, 27 de novembro de 2018

(Conclusão) - Actualização em 20/03/2021


Lugar da Igreja, Quinta do Dourado e capela de S. Cristovão


A Quinta do Dourado, situada no antigo Lugar da Igreja, hoje, na Rua da Igreja Velha, é composta de casa nobre e de caseiros, jardim, capela, eira de pedra e uma cortinha de lavradio.
Em 1741, a quinta é dada na posse de M. Costa Santiago que, pelo menos, em 1772, ainda a detinha e, em 1849, passou à administração de Boaventura da Costa Dourado.
Esta personagem foi um brasileiro de torna-viagem, que tinha partido, em 1813, para o Rio de Janeiro, para ver se, aí, resolvia os seus problemas mercantis e financeiros.
Regressado a Portugal, antes de 1831, com a sua mulher, Ursula Joaquina (Dourado) e os seus 2 filhos brasileiros baianos,  a família foi viver para a Rua das Flores, na freguesia da Sé, no Porto, onde se estabeleceu como comerciante. Teria, então, trabalhado para a família Clamouse Brown.
A quinta continuaria nas mãos dos descendentes do casal até que, por falecimento de Boaventura de Costa Dourado, sem filhos, em 29 de Janeiro de 1920, a quinta é alvo de partilhas entre quatro irmãos do falecido e os descendentes de uma irmã, também já falecida.
Uma partilha comporta a casa de caseiros, terreno de lavradio, engenho para tirar água e dois tanques – Quinta do Albuquerque.
O restante, que compreendia a casa principal, continuaria a ser a Quinta do Dourado.
Em 1954, depois de passar por vários proprietários a Quinta do Albuquerque vai unir-se novamente à Quinta do Dourado, à data, propriedade do engenheiro João Paes de Aguilar, continuando, actualmente, na posse dos seus descendentes.
Em 2023, a Quinta do Dourado vai ser classificada como “monumento de interesse municipal”.




“Situada na R. da Igreja Velha, tem casa nobre, casa de caseiros, jardins, capela, eira de pedra, uma cortinha de lavradio, um monumental portão de entrada com nicho vazado no tímpano a recolher o orago protetor S. Cristóvão e, no logradouro da entrada, bem próximo da capela, existe um pavilhão ladeado por 2 pedras de arma de bom lavor e, defronte dele, um amplo lago enquadrado por esculturas barrocas em granito.
O atual portão de entrada belo monumental, o amplo lago e o pavilhão ladeado por 2 pedras de arma de bom lavor são da responsabilidade do último comprador da quinta em 1954, o Eng.º João Paes de Aguilar, que fez grandes obras na quinta modificando os jardins, construindo o lago e o pavilhão e substituindo o portão de entrada pelo atual que ele mandou fazer propositadamente para valorizar e recuperar a quinta”.
Com o devido crédito a José Rodrigues



 
Quanto à capela, dizem os documentos que, em 1772, o proprietário, M. Costa Santiago, reconstruiu-a e que, em 1849, passou à administração de Boaventura da Costa Dourado, para nela mandar celebrar missa.
No seu quintal, teria estado a igreja paroquial de S. Mamede que, entretanto, desapareceu.




Capela da Quinta do Dourado



Sobre a capela acima e segundo, José Rodrigues:


“Capelinha barroca, ereta sob a proteção de S. Cristóvão, e já sem a belíssima talha, foi referenciada em 1741 como 'huma capela com o seu quintal pegado que adquirido de novo por compoziçãm que fes com os moradores da freguezia de Sam Mamede da Ermida que esta tudo cito no lugar donde estava situada a lgreja Velha da dita freguezia' (segundo o Eng.º Agostinho Boavida, em 1772, o proprietário M. Costa Santiago reconstituiu-a).
Parece concluir-se, com relativa segurança, que no quintal anexo à capela a que se reporta o aludido documento de 1741 esteve implantada a antiga igreja paroquial de S. Mamede de Infesta.
Em 1849, a quinta passou a ser propriedade de Boaventura da Costa Dourado para mandar celebrar missas na capela de S. Cristóvão existente na quinta.”








Portão de entrada da Quinta do Dourado e casa nobre, na Rua da Igreja Velha




Igreja Velha e Igreja Nova
 
 
Segundo a obra “S. Mamede de Infesta” do engenheiro Agostinho Fastio Boavida (1904-1964), a chamada Igreja Velha de S. Mamede situava-se em terrenos contíguos àqueles onde acabou por ser erguida a capela dedicada a S. Cristovão da Quinta do Dourado.
Essa tal Igreja Velha funcionou, segundo aquele estudioso, como paroquial até 1725. Eram tempos em que a freguesia era denominada de S. Mamede da Ermida.
Devido ao seu estado de ruína foi construída uma outra, em sua substituição, a expensas do Baliado de Leça, sagrada em 1735, pelo Reverendo Abade José Ferreira da Fonseca, no local em que está a actual Igreja de S. Mamede de Infesta, erecta durante a segunda metade da década de 1860.
Os serviços religiosos da freguesia foram executados, durante a construção daquele templo, até 1735, pela Igreja da Ermida, que ainda existe.



Igreja Matriz de S. Mamede de Infesta




Igreja Matriz de S. Mamede de Infesta e a envolvente agrícola de outros tempos



A actual igreja matriz de S. Mamede de Infesta, começada a construir em 1864 e concluída em 1866, veio substituir a tal Igreja Nova, no mesmo chão, denominado monte de Nossa senhora da Conceição.
Assim, no fim de semana de 8 e 9 de Setembro de 1866, foi consagrada a nova igreja durante grandes festejos.



In "Jornal do Porto" de 11 de Setembro de 1866




Este templo tendo, perto de si, um topónimo referente a igreja velha (Rua da Igreja Velha) e dado sabermos que, em 1643, existia uma aldeia denominada Aldeia da Igreja, faz crer que, por aqui, esteve um templo primitivo que antecedeu o contemporâneo, como confirmou o engenheiro Agostinho Fastio Boavida.
S. Mamede de Infesta é a denominação que esta freguesia tem no ano de 1706, pois, anteriormente, só se chamava S. Mamede.
Infesta é um vocábulo associado a subida, “para aquelas terras se subia vindo do leito do rio Leça, situado lá em baixo”.
Foi também referida como S. Mamede da Ermida e S. Mamede da Ermida da Infesta, nas Constituições do Bispado do Porto de 1735 e noutros documentos do século XVIII e, antes, tinha-o sido, como S. Mamede de Moalde no "Catálogo e História dos Bispos do Porto" de Rodrigo da Cunha, em 1623. 
Este território faz parte do Couto de Leça, doado em 1157 por D. Afonso Henriques à Ordem do Hospital e confirmado por D. João II, e compreendia cinco freguesias: freguesia do mosteiro de Leça, chamada de Soçino, ou seja, Leça do Balio; Gueifães; Barreiros; S. Mamede, depois, S. Mamede de Infesta e Santiago, depois, Custóias.




“Durante séculos, S. Mamede foi freguesia do “Couto de Leça do Venerando Balio, concelho e comarca da Maia”, como consta das “Memórias Paroquiais de 1758”:
… E esta freguezia, e as coatro, q. estam de marcos adentro deste Couto, que sam: Santiago de Costoyas, Sam Mamede de Ermida, ou da Infesta, Sam Migel de Barrejros, e Sam Faustino de Guefañs. …“.
Transformado o Couto em Concelho, com a sua extinção em 1836S. Mamede, Custóias e Leça, passaram a incorporar o concelho de Bouças”.
Fonte: “saomamedeinfesta.blogspot.com”



Primitivo acesso à Igreja de S. Mamede de Infesta, da qual se divisa, ao longe, a sua torre


A actual Igreja Matriz foi projectada pelo arquitecto portuense Pedro de Oliveira, inspirado na Igreja da Trindade.
A sua primeira pedra foi lançada em 27 de Agosto de 1864, devendo-se o facto a um natural da terra, então radicado no Brasil, de seu nome, Rodrigo Pereira Felício (Conde de S. Mamede), falecido no Rio de Janeiro em 27 de Julho de 1872 e que, para o erguer da obra, enviou a enorme quantia (para essa época) de doze contos de reis.
A maior parte da talha da igreja é proveniente do convento de Monchique (Miragaia-Porto).
O seu retábulo-mor foi pintado por Francisco Pinto da Costa (1826-1869) da Rua da Picaria, nº 86.
Este pintor, no final do ano de 1861, tinha sido encarregado pela Câmara Municipal do Porto para se deslocar a Lisboa para fazer o retrato de El-Rei D. Luís I.
Acontece que, nessa época, Rodrigo Pereira Felício, um dos que contribuíram para o levantamento da estátua de Passos Manuel, inaugurada em 24 de Agosto de 1864, em Matosinhos, e a quem se ficaria a dever a nova Igreja Matriz de S. Mamede de Infesta, se encontrava pela capital, de acordo com a notícia abaixo.
 



In “Jornal do Porto” de 16 Dezembro 1861





Igreja Matriz de S. Mamede de Infesta vista do cruzamento da actual Avenida do Conde e da Rua Godinho Faria




Mesma vista da foto anterior mas sem o cruzeiro implantado




No âmbito do imaginário popular, conta-se que, no dia da inauguração da igreja, quando as autoridades aguardavam para dar início à cerimónia, apenas a chegada do Conde de S. Mamede, surgindo ele com a sua carruagem, junto do cruzeiro (que se observa na foto acima) e se deparou com uma igreja de apenas uma só torre sineira, terá dado meia volta e regressado ao Brasil.




Igreja Matriz de S. Mamede de Infesta, em 1910





Lugar de Picoutos e Quinta e Capela de São Félix



Situada no antigo lugar de Picoutos, a Capela de São Félix, hoje, à face da Rua da Mainça integrava, originalmente, a quinta com o mesmo nome, sendo, aquele, o orago privativo da família proprietária.
Embora a propriedade de São Félix se estendesse pela área da freguesia de São Mamede de Infesta, a Capela de São Félix situa-se em território de Leça do Balio.
Há alguns anos, a capela era usada para armazém de apoio à área agrícola anexa.
Por acção da população, começou por ser limpa e, mais tarde, totalmente recuperada pelas autoridades.



“Esta pequena capela setecentista de uma só nave de planta retangular e sacristia adossada lateralmente também retangular. Os diferentes volumes são articulados com coberturas diferenciadas em telhado de uma e duas águas. A fachada é enquadrada por cunhais rematados por pináculos piramidais. O portal principal de vão retangular é balizado por pilastras toscanas que suportam um frontão curvo interrompido, sobrepujado, sucessivamente, por uma janela envidraçada e um nicho emoldurado que já não contém o santo padroeiro. No topo, apresenta um campanário, de um só vão, rematado por um frontão triangular interrompido, sobre o qual se implanta uma cruz. O interior de nave única abobadada é iluminado pela janela da fachada principal e por duas outras gradeadas rasgadas nas paredes colaterais. De salientar ainda o coro-alto, apoiado por consolas de pedra e com varandim de madeira cujo acesso é feito pelo exterior. No altar existe um retábulo, em talha dourada, com colunas salomónicas revestidas por cachos de uvas, fénix e putti.
Não se conhece a data exata da fundação da Capela de São Félix, bem como a da construção da quinta onde se encontrava integrada, que em 1868 era registada por Dom Rodrigo Gonçalves, seu proprietário na época, como possuindo também casas nobres de um andar, casas térreas, cavalariça e cocheira, celeiro e oficinas de lavoura, jardim com tanque, hortas e campos de lavoura (Sá: 1983, pp. 165-172). A quinta foi totalmente desintegrada, não subsistindo hoje nenhum dos seus elementos, à exceção da capela.
A capela serviu de local de sepultamento aos proprietários, entre o terceiro quartel do século XVIII e a primeira metade do século XIX, podendo por isso datar-se a sua edificação entre 1750 e 1775. No local enterraram-se primeiramente os membros da família Sousa Félix, possivelmente os proprietários originais da quinta na segunda metade do século XVIII, e depois membros da família Sousa Lopes, já no início da centúria de Oitocentos.
Ao longo dos séculos XIX e XX a Quinta de São Félix passou por diferentes proprietários, até que foi adquirida pela Câmara Municipal de Matosinhos em 1982. Nas décadas seguintes o espaço da quinta, em torno da Capela de São Félix, foi urbanizado, encontrando-se atualmente dividido em lotes nos quais se construíram moradias unifamiliares”.
Com o devido crédito a Catarina Oliveira




Capela de São Félix (fachada principal) em Matosinhos – Ed. DGPC




Capela de São Félix (tardós) em Matosinhos – Ed. DGPC



Sobre a história da Quinta de São Félix, pode afirmar-se que, já em 10/09/1756, a Quinta de Picoutos, em Santa Maria de Lessa do Balio, era propriedade de Manoel da Silva e Souza Felix (falecido a 17/07/1779 e sepultado na Capela da Quinta de Picoutos), filho de Manoel de Souza Felix e Mariana Coelho, que casou com Marianna de Souza da qual teve o seu filho Bartholomeu da Silva e Souza Felix (falecido solteiro a 10/09/1756 e enterrado na Igreja de Santa Maria de Lessa do Bailio) e a sua filha Joanna Maria de Souza (falecida solteira a 09/08/1778 e sepultada já na Capela da Quinta de Picoutos),
Na ausência de herdeiros directos a propriedade, após ser detida, fruto de doacção a favor do padre Antonio de Sousa Felix e Beça, que faleceu a 18/10/1782, irá parar, na ausência de testamento, por vocação legítima, às mãos de duas irmãs, Maria de Souza e Rita Angelica de Souza, ambas solteiras.
Rita Angelica de Souza faleceu solteira na Quinta de Picoutos a 22/04/1804 com cerca de 75 anos e a sua irmã Maria de Souza teria, entretanto, casado com Domingos Gonçalves Lopes, pois este apareceu como proprietário da quinta concomitante com as 2 irmãs.
Este, Domingos Gonçalves Lopes era irmão de José Gonçalves Lopes, da Casa de Sam Thiago de Custóias e tutor dos filhos deste, após a sua morte, em 1796, por serem menores de idade.
Como do casamento de Domingos Gonçalves Lopes com Maria de Sousa não houve filhos, foi herdeiro Rodrigo Gonçalves Lopes, um sobrinho do qual tinha sido tutor, um dos filhos do seu irmão José Gonçalves Lopes.
Este irmão foi casado com Ana Maria Joaquina, oriunda da Quinta do Rio, em Ramalde do Meio.
Falecido, Rodrigo Gonçalves Lopes, em 21 de Junho de 1836, suceder-lhe-ia um seu sobrinho, o Comendador Dom Rodrigo Gonçalves Lopes, que casou com Joaquina Augusta Vaz Preto Lopes e Silva (falecida antes de 08/12/1868) e, nessa altura, comprou o domínio directo da quinta a João Luiz da Rosa, que, por sua vez, a tinha arrematado à Fazenda Nacional (o motivo desta transação foi a extinção das Ordens Religiosas em 1834 e o confisco das suas propriedades para a Fazenda Nacional, sendo depois vendidas em hasta pública).
 
 
“ (…) Devido às vicissitudes da vida do Comendador Dom Rodrigo Gonçalves Lopes que vivia a 09/02/1868 na R. do Anjo da freguesia de São João do Souto em Braga, a sua Quinta de S. Félix foi leiloada em 1872 para pagar as suas dívidas:
ela foi arrematada por Francisco António da Costa Braga que teve-a em seu poder durante 20 anos, até 1892.
Foi vendida então por ele ao negociante Cassiano dos Santos de Almeida que tinha feito testamento com 30 anos a 27/12/1888 e que faleceu solteiro e falido na freguesia da Sé a 05/12/893.
Em 1894, foi novamente arrematada em hasta pública por Joaquim Pedro de Resende que a vendeu, 4 meses depois, a António Cabral Borges.
Em 1901, ele vendeu-a a António Moreira Bessa, tendo entrado depois no património de Manoel Quelhas Lima, 1 dos 8 filhos de António Martins Lima e Amelia dos Santos Quelhas (17/10/1875 - 10/09/1969), casado com Maria Júlia Azenha (Quelhas Lima).
Infelizmente, esta quinta já não existe restando apenas a sua capela, a Capela de S. Félix”.
Cortesia de José Rodrigues



Capela de São Félix





Abel Salazar – Casa-Museu Abel Salazar - Capela de Nossa Senhora da Apresentação
 

Esta capela localiza-se no lugar da Devesa (estrada velha do Porto a Braga) e já tinha existência em 1766, segundo o engenheiro Agostinho Fastio Boavida.
O primeiro registo da capela e casa anexa data de 1867 a favor de Marcelina Nogueira da Silva Guimarães e seu marido, por legado, em testamento aberto em 1855.
Em 1899, a propriedade pertencia a Álvaro A. Meireles. Aqui, viveu e trabalhou Abel Salazar, cuja morte em 1946, determinou que a casa fosse transformada em casa-museu após ser adquirida pela Fundação Calouste Gulbenkian.
 
 

Casa – museu Abel Salazar – Cortesia de Joaquim Silva



Abel de Lima Salazar (Guimarães, 19 de Julho de 1889 – Lisboa, 29 de Dezembro de 1946) foi um médico, professor, investigador, pintor e resistente ao regime salazarista português que trabalhou e viveu no Porto.


 

Feira, n/d, Óleo s/ madeira - Foto: Abel Salazar, In Casa-Museu Abel Salazar

 
 
Cursando na Escola Médico-Cirúrgica do Porto, entre 1909 e 1915, conclui o curso de Medicina apresentando a sua tese inaugural “Ensaio de Psicologia Filosófica”, que acaba classificada com 20 valores.
Em 1918, com 30 anos de idade, é nomeado Professor Catedrático de Histologia e Embriologia na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, acabando por fundar e dirigir o Instituto de Histologia e Embriologia da universidade, um modesto centro de estudos.
O seu currículo académico vai sendo melhorado e, em 1934, é iniciado na Maçonaria.
Em 1935, é afastado da sua cátedra, do laboratório, é proibido de frequentar a biblioteca e de ausentar-se do País pela Portaria de 5 de Junho desse ano, dada "a influência deletéria da sua acção pedagógica sobre a mocidade universitária".
Em 29 de Dezembro de 1946, morre em Lisboa, onde já se encontrava há cerca de dois meses, procurando cura para a sua doença.
O seu corpo fica depositado na Casa do Distrito do Porto, na capital.
Na viagem de trasladação do corpo, em Leiria, a polícia de escolta desviou o itinerário para evitar a passagem por Coimbra, e à chegada ao Porto foi directamente encaminhado para o cemitério do Prado do Repouso. 
Entretanto, os portuenses recriaram um velório na Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto, e daí fizeram um cortejo que se dirigiu ao Prado de Repouso. Por aqui, estiveram presentes nas cerimónias fúnebres, em 31 de Dezembro, cerca de 50.000 pessoas que, no seu término, em virtude da intervenção da polícia, registaram-se diversos tumultos e Ruy Luís Gomes acabou por ser detido.




Velório simbólico de Abel Salazar na Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto - Fonte: Fundação Mário Soares


 
 

Multidão assiste às cerimónias do funeral de Abel Salazar, em 31 de Dezembro de 1946 - Fonte: Fundação Mário Soares





Capela de Santo António do Telheiro
 
 
Junto da antiga estrada do Porto para Braga, entre a Arca d’Água e S. Mamede de Infesta, a partir de 1786, data da sua inauguração, passava-se pela capela de Santo António do Telheiro, cujo nome advém, diz a lenda, da existência de um telheiro ou telheirinho que aí existia, antes, debaixo do qual, num dia de tempestade medonha, se abrigou Santo António de Lisboa, em peregrinação para Santiago de Compostela.
A capela seria construída, a exemplo de muitas outras, com donativos de uma caixa de esmolas colocada no local, quando por lá já passava a Estrada Real que ligava o Porto a Braga.
Aquele diminutivo de “telheirinho” deu origem ao nome “carinhoso” de Santo Antoninho do Telheiro”, nome pelo qual é também conhecida esta capela.
Em 1956, a capela foi ampliada e foi-lhe acrescentada a torre sineira lateral e o revestimento da fachada com azulejos.
As festas de Santo António do Telheiro são das mais importantes que se realizam em S. Mamede de Infesta. Prolongam-se por mais de uma semana e decorrem no princípio do mês de Setembro.

 
 

Capela de Santo António do Telheiro