domingo, 15 de janeiro de 2023

25.175 Um cabeleireiro com queda para os negócios

 
João Heitor Guichard ficou para a posteridade, sobretudo, pela pena de diversos escritores, frequentadores dum café na Praça D. Pedro (actual Praça da Liberdade), gerido por aquele súbdito francês, ao descreverem nas suas prosas algumas peripécias que por lá se passaram e o ambiente vivido no seu interior. Em meados do século XIX, o café do Guichard era uma referência na cidade. Aí, se encontravam algumas personalidades da época, em tertúlia e para bebericar o café e a cerveja que começava a conquistar o gosto de alguns portuenses.
João Heitor Guichard era cabeleireiro, numa época em que se destacaram naquela profissão, no Porto, profissionais com nome na praça como, José Joaquim da Costa, Mr. P. Villaret, Mr. Amable Godefroy, Pedro Suére e Domingos Sebastião.


In jornal “A Coalisão”, do dia 3 de Julho de 1843



In jornal "A Revolução de Setembro", de 14 Agosto de 1843


Exercendo, originalmente, aquela profissão de cabeleireiro, João Heitor Guichard foi, no entanto, um comerciante com interesses vários.
João Heitor Guichard foi casado com Elena Eufrásia Formant, sabendo-se que houve um filho de seu nome Heitor Guichard Júnior, nascido a 1 de Fevereiro de 1835, na freguesia da Vitória, no Porto, e baptizado a 8 do mesmo mês, que exerceria como o seu pai, também, a actividade comercial.
Elena Eufrásia era uma das modistas com fama na cidade, e com João Heitor Guichard constituíam um casal dentro dos padrões dos que se dedicavam ao sector da moda: cada membro do casal tinha na sua actividade profissional, funções complementares e permutavam clientes.
 
 
 
“As relações familiares entre os agentes de moda eram usuais. Não é difícil depararmo-nos com uma modista com casa ou armazém de modas associada ao estabelecimento comercial do marido, que poderia ser cabeleireiro, ou mesmo alfaiate ou um mero comerciante, como Madame Guichard (D.Elena Eufrásia Formant) e o cabeleireiro João Heitor Guichard, mais conhecido por Heitor Guichard, dono do célebre Café Guichard, aberto em 1847 na Praça de D. Pedro, ou o casal Pedro e Bernardina Suére, entre outros”.
Cortesia de Maria Antonieta Lopes Vilão Vaz de Morais; In “Os Agentes da Moda no Porto (1830-1850)”
 
 
 
 
Para além do seu salão de cabeleireiro, João Heitor Guichard abriria o famoso café na Praça Nova e, próximo deste, uma casa de modas gerida por sua mulher e ainda, um depósito de materiais, na Rua de Santo António como representante do marceneiro e “marmorista” francês Pedro Bartholomeo Dejante, como demonstra o anúncio seguinte.
 
 
 
“Bartholomeo Dejante, enxamblador de SS. MM. faz publico que estabeleceu em Lisboa uma grande fábrica movida a vapor para serrar mármore e madeiras &c. Quem pertender algum objecto de marmore deverá remetter as medi­das exactas, podendo dirigir-se à mesma fábrica na Rua Direita da Boa Vista n.º 4 ou ao seu depósito no Porto em casa de H. Guichard, Rua de S.to António n.º 23, onde já se acha à venda um bom sortimento de folhas de mogne. Toma-se conta de qualquer encommenda que será desempenhada com promptidão”.
“O Gratuito”, Jornal de annuncios da Typographia Commercial, n.º 242, Porto, 20 de Julho de 1843; cit. por José Francisco Ferreira Queiroz
 
 
 
O café do Guichard teria aberto portas, possivelmente, c. 1845, e encerrá-las-ia, em 5 de Fevereiro de 1857.
Em 30 de Setembro de 1861, o jornal “O Commercio do Porto” dava conta da venda de dois bilhares que tinham servido no famoso café.
 

 


 

Após a extinção das ordens religiosas, por decreto de Joaquim António de Aguiar, de 30 de Maio de 1834, foi o edifício do Convento da Congregação do Oratório da regra de S. Filipe de Néri, à Praça Nova das Hortas, posto em almoeda e adquirido à Fazenda Nacional.
Uma parte passou para a posse dos Contratadores do Tabaco (que tinham a ideia de aí fazer montar a sua fábrica) e, a outra, foi comprada pelo cidadão brasileiro de torna-viagem, Manuel José Duarte Guimarães que, passado algum tempo, diligenciou a compra da parte afecta aos contratadores e entrou na posse de todo o edifício, do qual fazia parte uma torre sineira erguida do lado poente da igreja.
 
 
 
À esquerda, o convento e a torre sineira que entraram na posse de Manuel José Duarte Guimarães – Gravura de Joaquim Villanova, em 1833
 
 
 
 
“Do lado da Praça de D. Pedro, aproveitando as boas caves de abóbada que os padres costumavam alugar a particulares mandou outrossim o mesmo senhorio (Manuel José Duarte Guimarães, brasileiro de torna viagem), ao rés-da-rua abrir portas regulares para estabelecimentos e rasgar mais janelas de varandas a todo o correr do primeiro andar. Depois de concluída a obra de adaptação, é que os botequins, pouco a pouco, começaram a concentrar-se à volta do extinto edifício do Convento dos Congregados, tanto para a banda da praça, como para a de Sá da Bandeira (actual Sampaio Bruno) como ainda para a do Bonjardim (actual Sá da Bandeira)”.
Horácio Marçal – “Os antigos botequins do Porto”, in O Tripeiro. 6ª Série, Ano IV, n.º 3. Porto: Março 1964, p. 72.
 
 
Dado que, em 3 de Julho 1844, Manuel José Duarte Guimarães, acima referenciado, solicita permissão de remodelação do edificado existente (antigo convento dos Congregados) e acrescentar sacadas de pedra, para a qual viria a obter a licença nº 156, tal facto, apontará para que o café do Guichard fosse, por aqui inaugurado, certamente, em data posterior ao pedido vertente.
Sabe-se que as demolições necessárias para o levantamento da obra, teriam já começado em 1842.
 
 
 
 

Nos baixos do prédio da esquina próxima, a poucos metros dela, ficava o café do Guichard - Fonte: revista “O Tripeiro”, Série VI, Ano IV, nº 3, Março de 1964

 
 
Em meados do século XIX, neste café, ocorreria o lançamento do sorvete na cidade, por um italiano, de seu nome Trucco, na altura um seu empregado. Mais uma achega para que o café fosse falado.
Como já foi referido, o café do Guichard sempre mereceu, da parte dos escritores, referências que ficaram para a posteridade.
 
 
“O ‘Café Guichard’ é o ‘Marrare do Polimento’ do Porto, com a simples diferença de não possuir essa profusão luxuosa de madeira envernizada, que immortalisou nas collunas de um jornal burlesco o ‘Café Marrare’. O ‘Guichard’ é, como o Porto, inimigo das inovações; apesar de ser situado no ponto mais central e mais concorrido da cidade, conserva exteriormente as aparências tradicionais do antigo ‘botequim’. Meias portas pintadas de verde e envidraçadas do meio para cima, quasi sempre fechadas, estão muito longe do bom gosto que se nota em Lisboa neste género de estabelecimentos. Á primeira vista pareceu-me uma taberna inglesa; todavia, como me disseram que era ali o melhor café da cidade, entrei. O interior corresponde ao exterior; mau gosto em tudo; nas pinturas, nos moveis, nas luzes, e mesmo nas bebidas! Para ser o rival do ‘Marrare’, está pouco acima dos cafés mais vulgares de Lisboa.”
Gomes de Amorim; In “Viagem ao Minho”
 
 
“A sociedade mais confusa vai ao Guichard, - botequim celebre pelos romances, pelos folhetins, e que deve, creio eu, á literatura, a sua reputação, visto ser tão feio que não pode devel -a…aos freguezes!…
Júlio César Machado; In “Scenas da minha terra”
 
 
 
"Em 1849, era João Roberto de Araújo Taveira um dos mais galhofeiros e satíricos rapases da phalange do café Guichard - que eu chamava uma colmeia onde se em melavam doces favos de espírito, se aquelle botequim não fosse antes um vespereiro que desferia, ás revoadas, ferretoando os bócios dos gordos philistinos da "Assembleia" e as macias espaduas lácteas das suas consortes no coração e nos ádypos".
Camilo Castelo Branco; In "Serões de S. Miguel de Seide"
 
 
Em 1852, o prédio da esquina, mandado erguer por Manuel José Duarte Guimarães, albergava por arrendamento a João Heitor Guichard, não só o Café do Guichard, como um armazém de modas que a sua esposa geria.
No âmbito do exercício da sua actividade ligada ao café, ao qual emprestava o seu nome, na Praça D. Pedro, João Heitor Guichard acabaria por desenvolver uma actividade industrial conexa.
Assim, quando o consumo de cerveja na cidade do Porto que, apesar de ainda limitado face ao mais popular e alargado consumo do vinho, passou a assumir um papel significativo nos espaços de sociabilidade portuense mais frequentados pela juventude, desde os botequins e cafés até às emergentes cervejarias, onde o “bock” se tornou bebida corrente, João Heitor Guichard montaria, em Arnelas, V. N. de Gaia uma fábrica de cerveja e, mais tarde, uma outra próxima daquele seu conhecido café, no centro da cidade do Porto.
Era conhecida pela “Fábrica de Cerveja de Arnelas”.
Esta fábrica terá sido a primeira de um ramo industrial que viria a conhecer algum sucesso em V. N. de Gaia.
Começou a laborar no início de 1848 e, em Maio, desse ano, era possível lermos o seguinte anúncio:
 
"Cerveja de superior qualidade, da nova fábrica de H. Guichard, vende-se no café do mesmo, praça de D. Pedro".
In jornal "Periódico dos Pobres no Porto ", nº 33, Porto, 7 de Fevereiro de 1849, p. 133
 

 

In jornal “A Revolução de Setembro”, de 2 de Maio de 1850

De acordo com o jornal "Periódico dos Pobres no Porto", nº 291, Porto, 9 de Dezembro de 1852, p. 2023, Heitor Guichard viria a instalar uma outra fábrica de cerveja, mais próxima do seu café, na Praça D. Pedro, que já estaria a laborar, em 1850, segundo a publicidade acima exibida. Talvez, seja esta a razão, que tenha contribuído para o definhamento da fábrica de Arnelas, embora, ambas tenham coexistido durante mais algum tempo.

 
 

Arnelas, na margem esquerda do rio Douro
 
 
 
Já na década de 1860, João Heitor Guichard era representante, no Porto, de Eugène Larrouy, uma casa comercial belga.
Em 18 de Setembro de 1865, um dia festivo para a cidade do Porto, João Heitor Guichard estará presente no dia da abertura da Exposição Internacional, que assinalaria o evento da inauguração do Palácio de Cristal, juntamente com o seu filho Heitor Guichard Júnior, que com ele trabalhava e dava o nome para o catálogo da exposição das peças expostas, que lhes diziam respeito.
Pai e filho aparecem mencionados no catálogo da exposição e João Heitor Guichard é apresentado com presença na anterior Exposição Industrial do Porto, em 1861, e na de Braga em 1863, nas quais saiu premiado com medalha de bronze. Dado com presença na Exposição de Paris de 1853, sairia premiado com a medalha de prata.
Igualmente, vai estar presente no certame aquele que se ligará à família Guichard, Henrique Burnay, representante em Lisboa da mesma firma belga e com o qual fundariam a empresa Burnay & Guichard, que ficará arrendatária do Palácio de Cristal, após a sua inauguração.
Na exposição, os mármores belgas, expostos, foram enviados por Leopold Devas, de Antuérpia, que tinha como agentes no Porto e em Lisboa, respectivamente, Heitor Guichard Júnior e Henry Burnay.
 
 
 
“O empresário Henry Burnay participou na Exposição Internacional de 1865, expondo «um quadro a óleo representando Napoleão em Fontainebleau» e «outro representando Nossa Senhora da toalha», surgindo também como agente em Portugal de outros expositores estrangeiros. Ocupou o lugar de Vogal no Júri do 11º Grupo – Indústrias dos Metais e Pedras Finas”.
Cf. Sociedade do Palácio de Cristal Portuense – Catalogo Official da Exposição Internacional do Porto em 1865, p. 94
 
 
Sobre a abertura da exposição, todas as festividades aconteciam, então, com um ligeiro atraso relativamente à data inicialmente prevista de 21 de Agosto.
Acresce que, a anunciada e programada mostra de animais vivos e plantas teria início, apenas, a 12 de Novembro, tomando o lugar de exposição complementar.
Do catálogo da exposição constavam expositores nacionais e estrangeiros.
 
 
“Ao anúncio responderam afirmativamente 3424 expositores de todo o mundo: 1614 portugueses, 752 das colónias, 499 franceses, 265 alemães, 107 ingleses, 89 belgas, 62 brasileiros, 24 espanhóis, 1 holandês, 5 suíços, 16 dinamarqueses, 2 russos, 1 turco, 1 do Japão e 1 dos EUA. Seguindo uma organização semelhante à das restantes mostras que se vinha organizando, os expositores distribuíam-se em quatro grandes divisões, cada uma com um número variável de classes e subclasses390: 1ª divisão – Matérias-primas, com sete classes; 2ª divisão – Máquinas, com treze classes; 3ª divisão – Produtos Manufaturados, com dezanove classes; 4ª divisão – Belas Artes, com seis classes”.
Cortesia de Vera Lúcia da Silva Braga Penetra Gonçalves; MESTRADO HISTÓRIA DA ARTE, PATRIMÓNIO E CULTURA VISUAL (2018)
 
 

Galeria de Pintura da 1ª Exposição Internacional do Palácio de Cristal - Gravura apresentada na revista “Archivo Pittoresco”, Nº 47/1865

 
 
Após o fecho da Exposição Internacional, nos meses que se seguiram, a Sociedade do Palácio de Cristal, que fazia a administração do empreendimento, pretendendo tirar o máximo de rendimento do mesmo, para além das exposições ou comemorações, decidiu dar vida ao recinto com a realização de espectáculos e festas, entregando a sua exploração à empresa Burnay & Guichard.
Naquele âmbito, é de realçar a actividade da empresa Burnay & Guichard, de Henry Burnay (1838-1909), Conde de Burnay e Heitor Guichard Júnior, tidos como os verdadeiros impulsionadores daquele lugar, após a Exposição Internacional, com os tão afamados espectáculos pirotécnicos e outros divertimentos que iam promovendo.
À data da Exposição Internacional de 1865, Henrique Burnay e Heitor Guichard Júnior eram dois jovens a rondar os trinta anos.
É provável, que fosse este, e não o seu pai, João Heitor Guichard, que se envolveu na organização das festas e espectáculos realizados no Palácio de Cristal.
Heitor Guichard Júnior tinha, também, desde muito jovem, uma actividade musical na cidade e estava por dentro da arte do espectáculo.
Assim, algumas exposições terão sido iniciativa daquela empresa, que parece ter alugado o Palácio de Cristal, desde cedo, como é o caso duma ocorrida em 1869, com a realização de uma mostra de plantas, flores, produtos hortícolas, máquinas, utensílios e objectos relativos à jardinagem e horticultura, no âmbito da qual sairia premiado, em primeira classe, com a quantia de cinquenta mil reis, o consórcio de José Marques Loureiro e Emílio David.
O certo é que, na prática, para a Sociedade do Palácio de Cristal a actividade da empresa pouco significava.
 
 
«De vez em quando o snr. Henrique Burnay, hoje conde, e o seu socio Heitor Guichard planeavam um divertimento pyrotechnico, mas isso, se constituia uma receita para os dous, não chegava a produzir dividendo para os accionistas do Palacio.
Na nave central trabalharam durante algum tempo dous acrobatas portuguezes, Pena e Bastos, que se arrojavam a arriscados equilibirios. No coreto da avenida havia musica, pela banda do Palacio, aos domingos e quintas-feiras de tarde, mas só aos domingos era que o publico portuense, essencialmente laborioso, estava acostumado a sahir á rua.»
Alberto Pimentel – O Porto há Trinta Anos
 
 
As festas e bailes de Carnaval eram também merecedores de destaque, conhecendo especial relevo nas referências literárias e registos fotográficos.
Na década de 1870, perde-se o rasto de João Heitor Guichard, desconhecendo-se, inclusivamente, a data da sua morte.
Heitor Guichard Júnior casaria com Cândida Emília Leal Cerqueira e, em 1864, João Heitor Guichard seria padrinho de baptismo de seu neto Raúl Guichard, filho daquele casal.
Cândida Emília Leal Cerqueira Guichard faleceria, em 31 de Janeiro de 1896, com 60 anos, na sua residência na Rua da Belavista (actual Raúl Brandão), nº 42, freguesia da Foz do Douro.
Heitor Guichard Júnior teve uma actividade ligada à música.
Assim, em 10 de Junho de 1855, aparece como integrando a orquestra num espectáculo musical levado a cabo na igreja do convento de S. Bento da Vitória pela Sociedade Filarmónica do Porto.
 
 

I
In jornal “O Commercio” de 12 de Junho de 1855. O nome de Heitor Guichard Júnior está identificado pela pinta preta
 
 
Heitor Guichard Júnior é dado, também, como membro do coro do Orpheão Portuense em alguns espectáculos.
 
 
 

 In revista “O Bombeiro Portuguez” de 1 de Fevereiro de 1882, sobre espectáculo realizado no Teatro Gil Vicente (Palácio de Cristal) e oferecido aos sócios da Associação dos Bombeiros Voluntários do Porto
 
 
 

Cortesia de HL. Gomes de Araújo; In A Origem do Orpheon Portuense -  As Famílias Fundadoras
 
 
 
Ainda, no âmbito da sua faceta musical, a revista “A Arte Musical”, ano VI, nº 143 de 15 de Dezembro de 1904, dava conta de que Heitor Guichard tinha na sua posse uma rebeca do luthier Giovanni Battista Guadagnini, que teria pertencido a Nicolau Ribas e tinha sido restaurada, em Paris, por Gustave Bernardel.
Acrescentava que ele era, também, proprietário de um violoncelo do luthier Domenico Montagnana, com a data de 1719 e, um outro, com a data de 1757, de construção atribuída ao luthier alemão Leopold widhalm.
A 12 de Junho de 1891, Heitor Guichard Júnior, haveria de se naturalizar português.
Tendo abraçado a causa republicana, em 1915, com a 1ª Grande Guerra Mundial a decorrer, Heitor Guichard, com 80 anos, e na qualidade de decano das Juntas de Paróquia do Porto, recebe durante uma visita à cidade Leote do Rego, o oficial que comandou a divisão naval que defendia a costa portuguesa e apoiou a participação de Portugal naquele conflito.

 
 

In jornal “O Mundo” de 28 de Junho de 1915
 
 
Quanto a João Heitor Guichard, até hoje, foi impossível alguém descobrir as datas do seu nascimento e da sua morte e o local e circunstâncias em que ocorreram. O Prof. Francisco Queiroz descreve-o do seguinte modo:

 
“Refira-se que Heitor Guichard foi um conhecido comerciante no Porto. Começou por deter uma loja de comércio onde se vendia de tudo, desde pomada de urso e outras mezinhas até artigos para senhoras, cabeleiras postiças, modas e fazendas, vinhos, gravatas, espingardas, chapéus, candeeiros, tapetes, graxa, etc. Contudo, julgamos que a verdadeira profissão de Heitor Guichard fosse, no início, a de cabeleireiro.”



Em 5 de Abril de 1912, o jornal brasileiro, do Rio de Janeiro, “O Paiz”, dá conta do falecimento de Heitor Guichard Júnior.
Desconhecem-se pormenores sobre o percurso de vida desta personagem e da sua possível ligação familiar aos Guichard que, por aqui, abordamos.
 
 
 


 

domingo, 8 de janeiro de 2023

25.174 Grande Hotel de Paris - Hotel do Louvre

 
No prédio do gaveto formado pelas actuais ruas do Rosário e de D. Manuel II,  abriu portas, em 1865, pela primeira vez, o Grande Hotel de Paris que ficaria celebrizado como Hotel do Louvre, desde da década de 1870.



 
“Abre-se o hotel denominado Grande Hotel de Paris no primeiro de Setembro próximo; é situado na Rua do Rosário, fazendo duas faces, sendo outra para a rua do Triunfo, perto do palácio de Sua Majestade.”
In jornal “Restauração”, 19 de Agosto de 1865 – Sábado

 
Após cerca de quinze dias, sobre a abertura do Hotel de Paris, seria inaugurado o Palácio de Cristal.
Uns meses antes, em Março de 1865, abriria junto do Paço Real (Palácio dos Carrancas), na Rua do Triunfo, n.ºs 72 a 74, O Restaurante do Triunfo.



“… junto ao paço real e próximo do Palácio de Cristal, acabou há pouco de abrir este estabelecimento… dão-se jantares desde as 2h30 às 5h30 da tarde, sendo servidos muito bem, dando café com as bebidas competentes que pedem os fregueses. Torna-se por todos os motivos agradável aos seus visitantes, já pelos bons petiscos, como pelas vistas que da dita casa se gozam, tendo um bom quintal” 
In jornal “Diário do Povo”, de 3 Abil 1865 (cit. Guido de Monterey, “O Porto 2”, p. 593)



Ao Hotel do Louvre ficariam ligadas diversas personalidades importantes que o escolheram para nele se hospedar.
Assim, por lá passaram nomeadamente, Lady Jane Franklin, viúva do célebre explorador do Pólo Norte, John Franklin (1786 - 1847) que, enquanto esteve hospedada no Grande Hotel de Paris, em 1869, visitou a cidade e os seus monumentos.
Em 1872, durante uma visita à cidade e ao Norte do país, seria a vez do imperador do Brasil, D. Pedro II e a imperatriz D. Teresa Cristina Maria de Bourbon se hospedarem neste hotel que, para o efeito, foi sujeito a diversos melhoramentos.
No entanto, no final, D. Pedro II recusou-se a pagar a conta que achou especulativa.
O caso peregrinou pelos tribunais, durante cinco anos, com sentença favorável ao hotel.
Por essa razão, a proprietária, Maria Henriqueta de Mello Lemos e Alvellos, chegou a deslocar-se ao Brasil para cobrar a dívida, onde alguns capitalistas saldaram a dívida para evitar mais embaraços.
Na segunda metade do ano de 1879, possivelmente em Julho, é Maria Ratazzi que é recebida no hall do Hotel do Louvre, procurando hospedagem, mas não concretizaria os seus intentos em consequência do modo deselegante como foi recebida pela gerência do hotel e abala para se acomodar no Hotel Francfort.
O chão em que nasceria o Hotel do Louvre teve uma evolução que a seguir se assinala.
Assim, na planta abaixo, de 1808, se observa que a Rua do Rosário (2) já está prevista e o lado norte da Rua dos Quartéis (1) apresenta o corpo do Palácio dos Carrancas (A), com construção iniciada em 1795, e uma outra construção anexa (B).



Planta (1805) local da parte ocidental da cidade…de Luis Ignacio de Barros Lima



Abaixo, na planta de Balck, de 1813, a área entre o Palácio dos Carrancas e a esquina formada pelo lado norte da Rua dos Quartéis e a Rua do Rosário já se apresenta edificada.


 




Em 1830, o traçado da concordância das ruas dos Quartéis e do Rosário, cuja ultimação e escolha das soluções mais correctas se vinha a arrastar nos últimos anos é, finalmente, decidido.
Então, a esquina da Rua do Rosário com a Rua dos Quartéis, que viria a ser do Triunfo, estava ocupada pela residência (A) de António Caetano da Silva Pedroza Guimarães (filho de José Joaquim da Silva Pedrosa, entretanto, já falecido em 1819) e um terreno (B) com uma casa de que era também proprietário, apenas com os alicerces implantados e que desejava concluir para, posteriormente, tentar adquirir o terreno contíguo (C).
Por isso, António Caetano da Silva Pedroza Guimarães, solicita a informação ao departamento de obras da câmara do Porto de que “perciza por isso que se lhe marque o alinhamento, em que a mesma rua deve ficar desde a sua entrada”.
Para o efeito, entrega uma planta do local, da qual, a seguir, se apresenta um pequeno extrato.

 
 

Planta editada, da confluência das ruas dos Quartéis e do Rosário, de 1830
 
 
Acontece que, algures, na década de 1840, os lotes A, B e C da planta anterior já tinham entrado na posse de outro proprietário.

 
 
«Isto porque, por esta altura, o proprietário dos lotes de terreno que na planta anterior estavam representados pelas letras “A”, “B” e “C” já não era António Caetano da Silva Pedrosa Guimarães, mas o negociante Gaspar Joaquim Borges de Castro que encetara, uns anos antes, a sua efetiva regularização. Nesse terreno de ângulo agudo, o negociante pretendia edificar uma casa com duas frentes. No entanto, esse detalhe morfológico originava problemas quer à circulação das carruagens, quer na organização interna do edifício. Assim sendo, a solução encontrada foi o ligeiro arredondamento da esquina do edifício, de forma a este ficar mais funcional, permitindo também haver mais espaço para a paragem das carruagens, bem como para se realizarem as cargas e descargas necessárias para o seu funcionamento (Livro Plantas de Casa nº28 f.51, 1863, AHP). Este edifício tinha sido pensado e projetado para servir de armazém de vinhos, onde o proprietário poderia guardar as pipas e as garrafas que comercializava, mas o projeto foi alterado e, no seu lugar, acabou por nascer um luxuoso hotel, o mais luxuoso que a cidade havia tido até à data (“O Tripeiro”, série I, ano II), que se anunciava até como “o melhor e mais rico estabelecimento d’esta ordem que conta actualmente a cidade do Porto” (Comércio do Porto, 12-08-1865).»
Cortesia de Daniela Filipa Duarte Alves, Hélder Filipe Sequeira Barbosa e Jorge Ricardo Pinto
 
 
 
 
O prédio onde começaria por estar o Grande Hotel de Paris foi mandado construir, em 1863, pelo negociante Gaspar Joaquim Borges de Castro (sogro do 2º visconde de São João da Pesqueira), casado com Joaquina Augusta Vieira de Castro, com a qual teve nove filhos, que ali pretendia residir e instalar um armazém de vinhos,  intenção que não se concretizaria.
Em 1875, António Joaquim Borges de Castro, sobrinho e testamenteiro de Gaspar Joaquim Borges de Castro, entretanto falecido em 1871, residente, à data, na Rua do Triunfo, solicita na qualidade de tutor das suas filhas menores e, no caso para apreço, de uma jovem herdeira, a cobertura do terraço da casa no cunhal da Rua do Rosário e da Rua do Triunfo. 


Desenho anexo a pedido de licença de obras que obteria o nº 73/1875 para cobertura de terraço de prédio


Antes, em 16 Julho 1859, Henriqueta Augusta Vieira Borges de Castro já se tinha casado com Luís de Sousa Vahia Rebelo de Morais, 2º Visconde de São João da Pesqueira, tendo em 27 Novembro de 1862, nascido desse casamento o futuro 3º Visconde de São João da Pesqueira, Luís Maria de Sousa Vahia Rebelo de Morais que, em 25 Novembro de 1897, desposaria Maria Adelaide Pinto da Silva.
A inauguração do Grande Hotel de Paris (primeira denominação do Hotel do Louvre) ocorre a 1 de Setembro de 1865, a cerca de duas semanas da inauguração do Palácio de Cristal.
 
 
 

In Jornal “O Comércio do Porto” de 12 de Agosto de 1865
 
 
Segundo um leitor da revista “O Tripeiro” o Grande Hotel de Paris abriu portas por iniciativa de Rodrigues da Cruz, um tio da mulher do comandante dos bombeiros, Guilherme Gomes Fernandes.

 
 

In revista “O Tripeiro” de 10 de Agosto de 1909, nº 41, página 127, Iª série, 2º ano, rubrica “Correspondência entre os leitores”


 
Como curiosidade diga-se que, cerca de um ano antes, em 30 de Outubro de 1864, o jornal "O Comércio do Porto" de 27 de Outubro informava da abertura de um "Novo Hotel de Pariz", na Rua do Bonjardim.





 
O Hotel do Louvre que se tornou um dos melhores hotéis da cidade chamar-se-ia, então, até c. 1870, Grande Hotel de Paris e, nesta data, seria já administrado por Maria Henriqueta de Mello Lemos e Alvellos, oriunda de uma família distinta da Beira-Alta.
 
 
 

Publicidade ao Hotel do Louvre, In jornal “O Comércio do Porto” de 25 de Setembro de 1870
 
 
 
Maria Henriqueta de Mello Lemos e Alvellos haveria de abrir, primeiro, uma filial do Hotel do Louvre, na Foz do Douro, na Avenida de Carreiros, numa casa propriedade de Manuel Maria da Costa Leite (1813–1896), 1.º Visconde de Oliveira, genro de Gaspar Joaquim Borges de Castro e, após o seu encerramento um outro, com o mesmo nome, ainda, na Foz do Douro, na esquina das ruas do Túnel e do Gama, onde residiu, mais tarde, o clínico e vereador, Dr. Nunes da Ponte.
 
 
 
In revista “O Tripeiro” de 10 de Agosto de 1909, nº 41, páginas 79 e 80, Iª série, 2º ano, rubrica “Correspondência entre os leitores”

 
 
Em 1880, é dada notícia de um incêndio de reduzida dimensão, mas que, no entanto, não teve consequências significativas no estado do hotel.
 
 
“A notícia é de 15 de junho - Às 5 horas e um quarto da tarde. Rua do Triumpho. Propriedade do visconde das Devezas, onde está estabelecido o hotel do Louvre, de D. Maria Henriqueta de Mello Lemos e Alvellos. O incendio que causou insignificantes prejuizos declarou-se na fuligem da chaminé e foi extincto pela bomba dos voluntários.”
 
 
 
Em 1880, o Hotel do Louvre acaba mesmo por fechar as portas, na sequência de um processo que Joaquina Augusta Vieira Borges de Castro, filha de Gaspar Joaquim Borges de Castro, move contra Maria Alvellos, por esta lhe estar a dever a prestação de arrendamento referente aos anos de 1879 e 1880.
A filial da Avenida de carreiros terá estado aberta, apenas, dois anos e a unidade hoteleira da Rua do Túnel, ainda menos tempo.
Em 1904, Maria Henriqueta de Mello Lemos e Alvellos morre na miséria. Passados cinco anos, em 1909, o prédio estava ocupada pela Administração do Bairro Ocidental do Porto.
Foi neste prédio, em  1 de Janeiro de 1881, inaugurada uma das primeiras clínicas particulares da cidade - a Casa de Saúde do Dr. António Bemardino de Almeida e, c. 1930, por aqui se instalou o Orfeão Lusitano.
Nos anos 30, foi sede do velhinho e popular Sport Comércio e Salgueiros seguindo-se o Cineclube do Porto fundado em 1945 e o Movimento Unidade Democrática (MUD) entre 1947 e 1948, até à sua expulsão pela PIDE.
No final do século XX, veio a ser ocupado pela Escola de Condução “A Desportiva”, que ali permaneceu até meados do início do século XXI, na altura da construção do Túnel de Ceuta.
 
 
 
 

À direita, na foto, o edifício do antigo Hotel do Louvre

 
 
Na fachada do prédio, é possível observar em placa afixada na mesma, um texto alusivo à intervenção da Polícia Política do Estado Novo, vulgo PIDE, sobre o MUD (movimento de Unidade Democrática), que teve ali a sua sede.

 
 

Placa alusiva à intervenção da PIDE
 
 
 
Mesmo diante do edifício onde esteve o Hotel do Louvre está hoje um busto de Arthur Wellesley (1768 – 1852) que viria a ser, Duque de Wellington.
De origem Irlandesa, como comandante militar teve  uma actividade vitoriosa em Portugal e Espanha durante as invasões francesas da Península Ibérica.
Com a fuga e retorno ao poder, de Napoleão, o Duque de Wellington foi nomeado comandante das forças aliadas (britânicos, prussianos e holandeses) derrotando o Imperador francês, definitivamente, na batalha de Waterloo.
Membro da Câmara dos Lordes, envolveu-se na política tornando-se primeiro-ministro da Inglaterra, em 1828.
O governo português atribuiu-lhe os títulos de Conde de Vimeiro, Marquês de Torres Novas e Marquês do Douro e, ainda, Duque de Vitória.
Wellington é também, o nome dado a uma cidade fundada em 1840 na Nova Zelândia, sendo a capital daquele país, desde 1865.
 
 
 

Duque de Wellington
 
 
Nos anos de 2021 e 2022, o prédio onde esteve o Hotel do Louvre, sofreu grandes obras que o transformaram num condomínio habitacional.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

25.173 A introdução do consumo da cerveja nos hábitos dos portuenses

 
Os primórdios
 
A produção de cerveja, em Portugal, aponta para o ano de 1689, com o aparecimento da primeira fábrica. A relutância da sociedade para o consumo de cerveja, que era considerada uma bebida de baixo preço e inimiga do vinho, estendeu-se às autoridades que proibiram a sua importação entre 1710 e 1810, o que suscitou, nesse período, a entrada de algumas quantidades por contrabando. Entre as diversas mercadorias entradas por contrabando e apreendidas pelos fiscais da Alfândega do Porto, entre 1788 e 1791, contavam-se 10 almudes de cerveja (cerca de 250 litros).
O hábito do seu consumo acelarou, porém, quando começaram, no século XIX, a abrir os primeiros botequins e cafés.
Ainda nas primeiras décadas do século XIX, o consumo de cerveja na cidade do Porto estaria circunscrito quase exclusivamente aos residentes estrangeiros, sobretudo aos ingleses.
Contudo, a partir da década de 1830, a cerveja foi conquistando um número crescente de adeptos e, nesses tempos, já se divulgavam receitas para fazer cerveja caseira.
No entanto, habituados ao consumo de vinhos, a mudança não foi fácil.
Disso nos é dado prova, pelos fazedores de opinião desses tempos – os escritores.
Assim, Júlio Dinis na sua obra “Uma Família Inglesa” descreve a posição de um típico inglês, Richard Whitestone, perante o consumo de cerveja:
 
 
A mesma indiferença, a mesma, senão absoluta impassibilidade, estabilidade de razão pelo menos, com que, uns após outros esvaziava copos de cerveja e cálices de Porto e Madeira, de rum, de conhaque, de kummel, de ginger beer, e até de absinto, libações que a qualquer pessoa menos inglesmente organizada ameaçariam, em pouco tempo, com as mais pavorosas consequências de um completo alcoolismo”.

 
Em 24 de Abril de 1858, a família Forrester publicitava a sua fábrica de cerveja no jornal "O Comércio do Porto".






Por sua vez, Ramalho Ortigão, nas FARPAS, faz alusão ao consumo de cerveja, após uma noitada de batota na Foz, nos seus tempos de juventude, na década de 1860, numa “espelunca” improvisada “no lindo cottage do Mallen, na Praia dos Ingleses, com um terraço sobre o mar e a entrada pela rua da Senhora da Luz”. Quando todos abandonaram a sala, já ao romper do dia, os vestígios eram indisfarçáveis:
 
 
 
 




 
Na gravura acima, publicada no livro "As Praias de Portugal, Guia do Banhista e do Viajante", editado em 1876, talvez numa das casas representadas, funcionasse o tal cottage do Mallen de que falava Ramalho Ortigão.
Camilo Castelo Branco várias vezes aludiu, nos seus romances, ao consumo de cerveja. Entre essas ocasiões, no romance “Duas Horas de Leitura” fê-lo, quando com o seu companheiro de viagem, que tinha por destino Vila Nova de Famalicão, param na estalagem da Mariquinhas, na Carriça, para darem descanso aos cavalos e matarem a sede.
 
 
 


 
 
 
 
Por outro lado, Camilo Castelo Branco, na sua obra “O Cego de Landim” (1877), criticava o uso imoderado da cerveja pelos jovens da época.
Camilo tinha as suas razões para fazê-lo, já que, o seu filho Jorge acumulava a infelicidade da demência com bebedeiras de cerveja.
Já, Eça de Queiroz nos seus “Contos” faz referência à nova bebida.
 
 
 
“Meu caro amigo! Os meses cerimoniais de luto passaram, depois outros, e José Matias não se arredou do Porto. Nesse Agosto o encontrei eu instalado fundamentalmente no Hotel Francfort, onde entretinha a melancolia dos dias abrasados fumando (porque voltara ao tabaco), lendo romances de Júlio Verne, e bebendo cerveja gelada até que a tarde refrescava e ele se vestia, se perfumava, se floria para jantar na Foz.”

 
 

Hotel Francfort, c. 1900
 
 
 
 

A meio da foto, na esquina das ruas do Laranjal (à esquerda) e de Elias Garcia (à direita), nos andares superiores esteve o Hotel Francfort. Eram tempos em que estava a decorrer as demolições para abertura da Avenida dos Aliados
 
 
 
As experiências industriais para produção de cerveja começariam em 1836, e progrediriam, em crescendo, até ao fim do século XIX. Durante esses anos a cerveja era designada por “bock”, por analogia a termos resultantes da sua importação.
Assim, um copo de cerveja equivalia a um “bock”.
 

 

 
“A expansão do consumo da cerveja no Porto romântico, em especial a partir de meados de Oito­centos, provocou um crescente dinamismo da indústria cervejeira local, multiplicando‑se os pedidos de alvarás para a instalação de novas unidades, que contribuíram para a substituição gradual da cerveja importada (sobretudo, inglesa e alemã) por cerveja de produção nacional.
Se as primeiras experiências industriais deste sector, como a Fábrica de Cerveja Portuense, de 1836, parecem ter sido efémeras, outras unidades que se instalaram depois seriam mais duradouras.
Em 1861, existiriam já, pelo menos, treze fábricas de cerveja nos concelhos do Porto e Gaia, embora se tratasse, na maior parte dos casos, de pequenas unidades artesanais, correspondendo a consumos ainda bastante reduzidos. Como referia o deputado do Porto Faria Guimarães, em 1860:
“Estas fábricas [de cerveja] fazem entre nós poucos interesses, porque o nosso povo prefere o vinho à cerveja, e mesmo o verde, quando o há, é melhor do que ela; mas se for maduro não se estima menos. A cerveja apenas se gasta entre nós em alguns meses do verão, e nesses mesmos em pequena quantidade”.
Mas a tendência crescente de expansão dos consumos estimulou a instalação de unidades maiores e mais bem apetrechadas, como a “Fábrica de Cerveja da Baviera”, de Jansen & Cª, que se associou a Agostinho Moreira dos Santos, na Rua da Piedade, desde 1863, e que construiu, na década seguinte, uma nova fábrica na Rua do Melo, inaugurada em 1876.
Ou a modernização, desde 1884, da velha Fábrica da Piedade pelo alemão Maximiano Schreck, que dispunha também de uma afamada cervejaria na Rua do Laranjal, anunciando, além da “cerveja nacional”, “cerveja alemã branca e preta, a qual rivalizando com a estrangeira custa pouco mais do que metade do preço”.
Num mercado em expansão, a concorrência das cervejeiras portuenses através de uma rede de distribuição dominada por depositários (armazenistas), que impunham preços e condições que limitavam as margens de lucro dos industriais, conduziria, nos anos oitenta, a estratégias de carteli­zação do sector. Esse movimento de concentração dos industriais cervejeiros do Porto culminaria na criação da CUFP – Companhia União Fabril Portuense das Fábricas de Cerveja e Bebidas Refrigerantes (antepassada da actual Unicer), em 7 de Março de 1890, reunindo capacidades financeiras e técnicas para desenvolver a produção industrial e controlar o mercado portuense e nortenho. No ambiente anglófobo que se vivia então na cidade, na sequência do Ultimatum inglês de 11 de Janeiro, vale a pena destacar que a primeira marca de cerveja lançada pela nova empresa foi a “Serpa Pinto”, numa clara afirmação nacionalista e nacionalizadora da bebida que muitos continuavam a considerar anti‑nacional”.
Com a devida vénia a Gaspar Martins Pereira, Professor catedrático do Departamento de História e de Estudos Políticos e Internacionais da FLUP


Agostinho Moreira dos Santos, acima referido, foi quem inaugurou, no início da década de 1860, uma fábrica de cerveja na Rua da Piedade e terá ficado conhecido na cidade, também, por ser o gerente dos teatros Circo e Camões e neles promover, pelo Carnaval, animados bailes de máscaras.
 
 


Requerimento dirigido à CMP, por Agostinho Moreira dos Santos, para construção de prédio que viria a ser a sua fábrica de cerveja e que receberia a licença de construção, nº 208/1857 – Fonte: AHMP
 
 
 

Desenho da fachada da fábrica que Agostinho Moreira dos Santos se propunha erigir na Rua da Piedade – Fonte: AHMP
 
 
 
Ainda, no ano de 1857, Agostinho Moreira dos Santos solicita à Câmara a obtenção de licença para acrescentar um andar ao edificado já aprovado, anteriormente, para o mesmo local.

 
 

Nova fachada, constante de projecto apresentado à Câmara do Porto, da fábrica de cerveja da Rua da Piedade, que obterá Licença de obra nº 331/1857

 
 
Agostinho Moreira dos Santos falecerá, em 29 de Julho de 1882, na Rua da Piedade onde, também, residia, deixando viúva e seis filhos herdeiros.
Em 1884, já Maximiano Schreck estava à frente dos destinos da fábrica de cerveja da Rua da Piedade, a qual iria modernizar.
No Porto, em 1890, existiam seis unidades de produção (Fábrica da Piedade, Fábrica do Mello, M. Achvek & Cia., J.J. Chentrino &Cia, J.J. Persival & Cia e M. Schereck) que, a 7 de Março desse ano, foram fundidas com uma unidade de Ponte da Barca, numa única empresa, a Companhia União Fabril Portuense  de Cerveja e Bebidas Refrigerantes (CUFP), que laborou até 1977, altura em que passa a constituir a Unicer.
Até 1900 e durante vários anos, o alemão F. Scharngal desempenhou as funções de técnico cervejeiro da CUFP, mas, naquele ano, seria despedido, desconhecendo-se as razões para tal desfecho.
Em sequência, em Fevereiro de 1901, um outro técnico alemão seria contratado, de seu nome Anton Dürer, que exerceu as suas funções até Março de 1916 quando, devido ao conflito mundial de 1914/1918, devido à sua nacionalidade, foi obrigado a abandonar Portugal.
O edifício da unidade referida e sita em Ponte da Barca, seria vendido, em 1902, à câmara local e os equipamentos transferidos para o Porto, como forma de obtenção de fundos para a aquisição de um terreno na Rua da Piedade, onde viria a situar- se, por muitos anos, a sede e os escritórios centrais da empresa que, até aí, se localizavam na Rua do Mello.
A ligação entre as unidades fabris da Rua do Mello e da Rua da Piedade remontava a alguns anos atrás quando, em 1863, a “Fábrica de Cerveja da Baviera”, de Jansen & Cª, se associou, a Agostinho Moreira dos Santos, proprietário de uma outra unidade na Rua da Piedade e acabaram por, em 1876, inaugurar uma nova fábrica na Rua do Mello.
Por outro lado, em 1884, já o alemão Maximiano Schreck modernizava a velha fábrica da Rua da Piedade, ele que detinha uma conceituada cervejaria na Rua do Laranjal, nos baixos do prédio onde se situava o Hotel Francfort.

 
 

A cervejaria Schreck localizava-se no rés-do-chão do prédio da esquina, junto à área do gaveto (à direita), onde estava o Café do Chaves. A fachada observável do prédio, onde nos andares superiores esteve o Hotel Francfort, estava voltada para a Rua do Laranjal e, aquando da obtenção da foto, procedia-se a demolições para a abertura da Avenida dos Aliados
 
 
 
“É decidida a venda das instalações de Ponte da Barca, dos armazéns de vinho de Vila Nova de Gaia e de todo o ferro e cobre sem aplicação, como forma de obter fundos para a aquisição do terreno – por 8,5 contos de réis – junto da Fábrica da Piedade. O financiamento é obtido por hipoteca, tendo-se entrado com 6 contos em dinheiro e cinco letras de 500 mil réis pagas semestralmente, sem juros.
O negócio do vinho é extinto por não ser compensador e os produtos armazenados nas Devesas são vendidos em conjunto, permitindo um encaixe de dois contos e 800 mil réis.
Fonte: “unicer.pt”
 
 

Entretanto, outras fábricas, espalhadas pela cidade, terão encerrado. Será o caso da que, abaixo, ainda publicitava, em 1891.

 
 
 

In jornal “O Comércio do Porto” de 2 de Maio de 1891
 
 
 
 
 
Companhia União Fabril Portuense de Cerveja e Bebidas Refrigerantes, SARL/
 
 
 
“Poucas empresas podem orgulhar-se de uma tão longa história, com raízes fundas que remontam aos inícios da industrialização do sector das bebidas, na segunda metade do século XIX. As origens da Unicer remetem-nos para o movimento dos industriais cervejeiros do Porto que fundaram, em 7 de Março de 1890, a CUFP - Companhia União Fabril Portuense das Fábricas de Cerveja e Bebidas Refrigerantes, uma sociedade anónima de responsabilidade limitada, dispondo de um capital inicial de 125 contos, com o objectivo de reunir capacidades financeiras e técnicas para desenvolver o seu sector de actividade. Das sete fábricas que se uniram nesse projeto, seis do Porto e uma de Ponte da Barca, algumas tinham já várias décadas de existência. Foram essas fábricas que iniciaram o abastecimento de cerveja nacional aos cafés e cervejarias do Porto, substituindo gradualmente a cerveja importada, numa época de mudança dos hábitos de consumo, sobretudo nos meios urbanos. Num país de tradições vinícolas, a cerveja passou de «bebida estranha» a «bebida da moda». No início, a CUFP começou a laborar nas fábricas da Rua Piedade e da Rua do Melo, em condições pouco mais que artesanais. Empregava apenas 13 trabalhadores e produzia, essencialmente, cervejas, gasosas e gelo, em quantidades limitadas. Nessa altura, a produção de cerveja rondaria os 360 mil litros.
Os negócios da empresa estendiam-se ainda a outras bebidas alcoólicas, como licores, cognacs e aguardentes, vinhos e genebra. A gestão era feita diretamente por acionistas eleitos para o efeito e decorria num ambiente familiar. Desde então até à actual Unicer, mais de 120 anos de história contam uma persistente busca de renovação em todas as dimensões da atividade da empresa”. 
Site da Unicer
 
 
 
Após a data da formação da CUFP - Companhia União Fabril Portuense das Fábricas de Cerveja e Bebidas Refrigerantes, na Rua do Laranjal, nº 22, no prédio onde estava sedeado o Hotel Francfort e a cervejaria do alemão Maximiano Schreck, seriam comercializados os produtos saídos das suas fábricas de acordo com a publicidade seguinte.
Aí, a CUFP passou a ter os seus escritórios e uma cervejaria.
A produção da cerveja fazia-se na fábrica da Rua do Melo e na fábrica da Rua da Piedade.

 
 
 

Publicidade, em 1890, com referência à marca “Serpa Pinto”
 
 
 
 

Publicidade à Companhia União Fabril Portuense, na Rua do Laranjal, nº 22, em 1891
 
 
 

Publicidade, In jornal “A Voz Publica” de 1 Agosto 1891



Catorze anos depois da constituição da CUFP, seria construída uma nova fábrica na Rua da Piedade para substituição da existente.




CUFP, na Rua da Piedade
 
 
Acima está a fachada principal das instalações da fábrica da CUFP - Companhia União Fabril Portuense de Cerveja e Bebidas Refrigerantes - Sociedade Anónima de Responsabilidade Limitada, situada então na Rua da Piedade, hoje um terreno ajardinado, junto de onde se encontram actualmente os edifícios «Mota-Galiza», à Praça da Galiza e onde, presentemente, está a ser construída uma estação do Metro.
O edifício ficou concluído em Janeiro de 1904, situando-se na Rua da Piedade, nº 140, a sede da empresa e unidade fabril.
 
 
 

Cartaz de 1907, anunciando a primeira marca icónica (A Cristal) produzida na nova fábrica da Rua da Piedade
 
 
 
Até a CUFP mudar a sua fábrica para as suas instalações actuais, em Leça do Balio (1964), manteve os seus pólos de produção dispersos, nomeadamente o da Rua da Restauração, nºs 60-82, construído entre 1912 e 1913, com algumas alterações nos anos 1940, conhecida como Fábrica de Cerveja Leão, destinada a fabrico de cerveja e gelo.
Esta unidade é inaugurada a 20 de Novembro de 1914, passando a Companhia a deter duas fábricas (da Piedade e da Restauração) em regime de concorrência. Os investimentos na nova unidade foram de 250 contos. Pretendia-se colocar em Marrocos a cerveja produzida por esta nova unidade.
A conhecida internamente como “Fábrica do Leão” é encerrada em 1916, depois de por decisão governamental terem sido expulsos dois técnicos cervejeiros alemães que prestavam serviço técnico na unidade fabril.
Estava-se em plena 1ª guerra Mundial e as matérias-primas, de diversa ordem, iam escasseando, neste caso, o malte e a cevada.
Em 1929, ainda seria assinado com a Fábrica de Moagens Victória, antiga Fábrica do Corpo Santo, um contrato de venda de água de mina por 6.500$00, que corria nos terrenos da Fábrica do Leão.



Fábrica de Moagem do Corpo Santo, In jornal “A Voz Pública” de 12 Julho de 1900

 
 
Perspectiva actual da gravura anterior - Fonte: Google maps



Publicidade à Fábrica de Moagem de Trigo do Corpo Santo - Fonte: Jornal "A Voz Pública de 12 de Janeiro de 1902



Em 1941, seria montada uma malteria nas instalações da Fábrica Leão e, em 1966, as instalações seriam vendidas para albergarem outros serviços e empresas.
 
 
 
 
Edifício onde funcionou a Fábrica de Cerveja Leão, na Rua da Restauração
 
 
 
A partir da década de 1930, as instalações fabris da Rua da Piedade são alvo de uma ampliação.
 
 
 

Edifícios da CUFP, na Praça da Galiza e Rua da Piedade, após ampliação das instalações primitivas que lhe eram contíguas - Ed. Jornal de Notícias
 
 
 
Na foto anterior, já é possível apreciar, para além do edifício mais antigo de 1904, um outro mais recente, o da esquina, dos anos 30, projectado por Arménio Losa.
Em 1918, já se tinha concretizado, também, a aquisição de um edifício e terreno na Rua da Boavista, pertencentes à antiga Fábrica de Panificação.
Em 1921, foram compradas mais quatro casas contíguas à Fábrica da Piedade, onde seria erguido o tal novo edifício.
 
 
 

Frota de camiões da CUFP, na Rua de Júlio Dinis, junto da fábrica
 
 
 

Instalações da CUFP, em 1957, quando foi inaugurada, a 1 de Maio, a cervejaria, no topo sul (oposto ao visionado) para promover as suas marcas e a fábrica já tinha tomado o local (à direita) onde esteve a primitiva fábrica
 
 
 
Todo a área de implantação dos edifícios fabris da CUFP, hoje uma área que está a ser preparada para que aí surja uma estação de Metro seria, mais tarde, permutado por um outro na Rua Diogo Botelho, frente à Universidade Católica.
Os edifícios «Mota-Galiza» foram por sua vez construídos, no terreno da Fábrica do Jacinto, na Rua da Piedade, mais a poente, o que pode ser apreciado na vista abaixo.


 

Perspectiva do local da foto anterior, que podia ser visionada há poucos anos, quando a área se tinha tornado um amplo relvado – Fonte: Google maps
 
 
 
Um dos ex-libris da CUFP seria lançado em 1927.
 
 
"No dia 9 de Novembro de 1927 foi registado o nome da marca Super Bock, marcando assim início a história de uma das mais emblemáticas marcas portuguesas.
A ideia que culminou no surgimento da marca Super Bock partiu de um dos administradores da CUFP (Companhia União Fabril Portuense das Fábricas de Cerveja e Bebidas Refrigerantes), empresa que acabou por originar em 1977 a empresa que actualmente detém a Super Bock e várias outras marcas, a Unicer.
Esta cerveja é da variedade bock, inserida no tipo Lager, a cerveja mais consumida no mundo, caracterizada por fermentar a temperaturas mais baixas, tendo um teor alcoólico de 5,2%.
A história da Super Bock é inseparável da história da CUFP, sendo que, tal como o nome indica, a produção e consumo da cerveja se situou principalmente no Norte do país durante os seus primeiros anos, facto pelo qual demorou algum tempo a estender-se em massa para o sul do país. Esta expansão deveu-se em muito à inauguração da unidade fabril de Leça do Balio na década de sessenta, unidade que estava preparada para produzir cerca de 25 milhões de litros de cerveja por ano, para responder ao aumento da procura e de consumo que se verificou nesses anos. Assim, com o aumento da produção e com a aposta no reforço da distribuição, a Super Bock chegava a Lisboa no ano de 1972.
A Super Bock recebe a sua primeira distinção internacional, ao ganhar a medalha de ouro no concurso Monde Selection de La Qualité, evento realizado no Luxemburgo, que premeia as cervejas com maior qualidade. O número de medalhas ganhas pela Super Bock neste concurso atinge já as 35, sendo a única marca no nosso mercado que atingiu este feito. A expansão internacional também é notória, estando actualmente a Super Bock presente em cerca de 40 países nos 5 continentes”.
 “aminhagestao.blogspot.com/”
 
 
 
 
A partir de 1927 e anos seguintes, surgem duas novas marcas de cerveja: a Super Bock e a Zirta, logo seguidas pelo aparecimento da Nevália, uma cerveja que existiu, apenas, durante os anos da 2ª Grande Guerra e que serviu para preservar as outras marcas, face à deficiente qualidade das matérias-primas. Em 1941, surge também a Vitória, marca da qual se venderam grandes quantidades para apoiar os soldados aliados que se encontravam em Gibraltar. Para além da aposta no mercado nacional, a CUFP também participa no capital social da CUCA, empresa de cervejas de Angola. O crescimento da empresa era constante e, em meados da década de 1950, a CUFP produzia mais de três milhões de litros e as receitas atingiam o valor recorde de 28 milhões de escudos. Por esta altura, a CUFP produzia as marcas Cristal, Super Bock, Invicta Negra, Invicta Cola, Além-Mar e Zirta.
Com o objectivo de divulgar as marcas da CUFP - Cristal, Super Bock, Invicta Negra, Invicta Cola, Além-Mar e Zirta - é inaugurada, em 1957, uma cervejaria situada num edifício da Rua de Júlio Dinis, contíguo às instalações fabris que rapidamente se tornou num sucesso comercial, depois de em 1960 ser concluída a construção de uma esplanada na parte ajardinada da cervejaria.
 
 
 

À esquerda da foto ficava a esplanada da cervejaria – Fonte: Google maps



À entrada da cervejaria, anexa à unidade industrial que se desenvolvia até à Praça da Galiza, ficava a sua ampla esplanada. 
Ela situava-se junto do cotovelo que faz a Rua de Júlio Dinis no seu traçado para o Palácio.
A conceituada e renomada marca “Super Bock” apareceria em 1927.
 
 
 

Publicidade à laranjada Invicta lançada em 1933
 



Esta marca  de refrigerante «Invicta» surgiu em 1956 e foi comercializada nas variedades de Laranjada, Cidra e Lima – Fonte: “portoarc.blogspot.pt”
 
 
 
Em 1940, ocorreria a comemoração das bodas de ouro da empresa.






 
Dada a necessidade de aumentar a sua produção, seria construída uma nova fábrica, em Leça do Balio, inaugurada em 1964.
A CUFP passaria, a partir dos anos 70, do século passado, por várias fases: após o 25 de Abril, foi nacionalizada em 30/8/1975; reestruturada em 1977 com a fusão da CUFP, União Cervejeira de Portugal e Copeja e reprivatizada em 1990.
Após o ano 2000, diversificou os seus produtos comprando interesses em empresas produtoras de águas, vinho, café e turismo e a empresa adquire o Grupo Vidago, Melgaço e Pedras Salgadas (VMPS) e ainda a totalidade do capital da Caféeira SA, a mais antiga marca de café em Portugal.


 

Instalações em Leça do Balio