terça-feira, 14 de março de 2023

25.181 Duas revoluções falhadas com a mesma rua como cenário

 
Revolta de 31 de Janeiro de 1891
 
 
No dia 31 de Janeiro de 1891, na cidade do Porto, registou-se um levantamento militar contra as cedências do Governo (e da Coroa) ao ultimato britânico de 1890, por causa do Mapa Cor-de-Rosa, que pretendia ligar, por terra, Angola a Moçambique.
Aliás, a actividade política, no Porto, nos meses que antecederam a revolta, ia muito tumultuosa.
Assim, em Setembro de 1889, uma bomba rebentaria junto do Governo Civil do Porto e, a 26 de Setembro daquele ano, morreria Augusto de Bragança, Duque de Coimbra, o 8º filho de D. Maria II e de D. Fernando, que esteve na linha de sucessão ao trono, até ao nascimento de D. Carlos.
O rei D. Luís I morreria em 19 de Outubro, desse mesmo ano e, nas eleições para deputados, efectuadas um dia depois, em 20 de Outubro, o Partido Progressista arrasou o Partido Regenerador.
 
 
 

Resultados das eleições de 20 de Outubro de 1889
 
 

Em Dezembro, daquele agitado fim de ano, D. Carlos seria aclamado rei.
A 1 de Janeiro de 1891, reuniu-se o Partido Republicano em congresso, de onde saiu um directório eleito, constituído por: Teófilo Braga, Manuel de Arriaga, Homem Cristo, Jacinto Nunes, Azevedo e Silva, Bernardino Pinheiro e Magalhães Lima.
Estes homens apresentaram um plano de acção política a longo prazo, que não incluía a revolta que veio a acontecer, no entanto, a sua supremacia não era reconhecida por todos os republicanos, principalmente por aqueles que defendiam uma acção imediata. Estes, além de revoltados pelo desfecho do episódio do Ultimato, entusiasmaram-se com a recente proclamação da República no Brasil, a 15 de Novembro de 1889.
As figuras cimeiras da "Revolta do Porto", que sendo um movimento de descontentes grassando, sobretudo, entre sargentos e praças careceu do apoio de qualquer oficial de alta patente.
Assim, foram o capitão António Amaral Leitão, o alferes Rodolfo Malheiro, o tenente Coelho, além dos civis, o Dr. Alves da Veiga, o actor Miguel Verdial e Santos Cardoso, além de vultos eminentes da cultura como João Chagas, Aurélio da Paz dos Reis, Sampaio Bruno, Basílio Teles, entre outros, aqueles que tomaram as rédeas da revolta.
Esta tem início na madrugada do dia 31 de Janeiro, quando o Batalhão de Caçadores nº 9 (sedeado no convento de S. Bento da Vitória), liderados por sargentos, se dirigem para o Campo de Santo Ovídio, hoje Praça da República, onde se encontra o Regimento de Infantaria 18 (R.I. 18). Ainda antes de chegarem, junta-se ao grupo, o alferes Malheiro, perto da Cadeia da Relação; o Regimento de Infantaria 10, sedeado na Torre da Marca, liderado pelo tenente Coelho; e uma companhia da Guarda Fiscal. Embora revoltado, o R.I. 18, fica retido pelo coronel Meneses de Lencastre que, assim, quis demonstrar a sua neutralidade no movimento revolucionário.
Às 4 horas da manhã, o jornal “A República Portugueza” imprimia o seguinte comunicado:


 




Eram 4 da manhã, quando as forças sublevadas (os quartéis de Caçadores 9, Infantaria 10 e Infantaria 18, este último invadido por populares que puseram fim às hesitações quanto à sua adesão), comandadas pelo alferes Malheiro, capitão Leitão e tenente Coelho, se encaminharam para a Praça D. Pedro, posicionando-se frente aos Paços do Concelho.
À frente da coluna, uma banda militar tocava “A Portuguesa”, de Alfredo Keil.
Os revoltosos descem a Rua do Almada, até à Praça de D. Pedro, (hoje Praça da Liberdade), onde, em frente ao antigo edifício da Câmara Municipal do Porto, ouviram Alves da Veiga proclamar da varanda a Implantação da República. Acompanhavam-no Felizardo Lima, o advogado António Claro, o Dr. Pais Pinto, Abade de São Nicolau, o Actor Verdial, o chapeleiro Santos Silva, e outras figuras.
 
 
 
 

Alves da Veiga
 
 
 
Verdial leu a lista de nomes que comporiam o governo provisório da República e que incluíam: Rodrigues de Freitas, professor; Joaquim Bernardo Soares, desembargador; José Maria Correia da Silva, general de divisão; Joaquim d'Azevedo e Albuquerque, lente da Academia; Morais e Caldas, professor; Pinto Leite, banqueiro; e José Ventura Santos Reis, médico.

 
 
 

Quartel de Infantaria nº 18, à Praça da República - Ed. Estrela vermelha
 
 
 
Foi, então, hasteada uma bandeira vermelha do “Centro Democrático Federal de 15 de Novembro” (a bandeira vermelha e verde só será adoptada a partir de 1910) no mastro do frontão, apoiado pelos vivas e pelo entusiasmo da multidão.
É Santos Cardoso, um dos chefes civis da revolta, proprietário, editor e redactor do jornal “A Justiça Portuguesa”, que atiçou durante longos meses a violência contra a Monarquia, e constituiu o elemento preponderante da aliciação dos militares que participaram na revolta quem irá subir no mastro da varanda da Câmara aquela bandeira vermelha.
Com fanfarra, foguetes e vivas à República, a multidão decide subir a Rua de Santo António, em direcção à Praça da Batalha, com o objectivo de tomar a estação de Correios e Telégrafos.
No entanto, o festivo cortejo foi barrado por um forte destacamento da Guarda Municipal, posicionada na escadaria da igreja de Santo Ildefonso, no topo da rua. O capitão Leitão, que acompanhava os revoltosos e esperava convencer a guarda a juntar-se-lhes, viu-se ultrapassado pelos acontecimentos.
 
 
 

Capitão Leitão – Foto In “A república Portuguesa” de João Chagas
 
 
 
Em resposta a dois tiros, que se crê terem partido da multidão, a Guarda solta uma cerrada descarga de fuzilaria vitimando indistintamente militares revoltosos e simpatizantes civis. A multidão civil entrou em debandada e, com ela, alguns soldados.
 
 
 
“ A Guarda Municipal abrigada pelas varandas de pedra que guarnecem as escadas e patamares que dão acesso à Igreja de Santo Ildefonso … que permitem estabelecer como começou e desenvolveu o combate da Rua de Santo António… inesperadamente, e por via da falta de disciplina militar que a Polícia Fiscal não possuía, uma ou duas praças dessa polícia, saindo da forma fizeram 2 ou 3 tiros sobre a guarda municipal. O Major Graça (comandante da Guarda Municipal) … logo que ouviu aqueles tiros ordenou o toque de fogo às suas forças, reiterando-o, e mandando em seguida que se fizesse fogo vivo, pelo corneteiro sob as suas ordens…
Refeitos, porém, dessa desordem e do espanto que causara o início da luta, em pequenos grupos, ou isoladamente, os soldados da revolta começaram um fogo nutrido contra a Guarda Municipal… até que as munições se lhes esgotavam”. 
A Revolta do Porto de João Chagas e ex-Tenente Coelho

 
 

Confrontos junto da igreja dos Congregados durante a revolta de 31 de Janeiro de 1891
 
 
 
 
Os mais bravos tentaram ainda resistir. Cerca de trezentos barricaram-se na Câmara Municipal, mas, por fim, a Guarda ajudada por artilharia da serra do Pilar, por Cavalaria e pelo Regimento de Infantaria 18, sob as ordens do chefe do Estado Maior do Porto, General Fernando de Magalhães e Menezes força-os à rendição, às dez da manhã. Terão sido mortos 12 revoltosos e feridos 40.
Alguns dos implicados conseguiram fugir para o estrangeiro: Alves da Veiga iludiu a vigilância e foi viver para Paris; o jornalista Sampaio Bruno e o advogado António Claro alcançaram a Espanha, assim como o Alferes Augusto Malheiro que, daí, emigrou para o Brasil.
 
 
 
 

Croquis de L. Freire sobre o bombardeamento dos Paços do Concelho no 31 de Janeiro de 1891 - Ed. “O Occidente n.º 437 11de Fevereiro de 1891
 
 
 
Os nomeados para o "Governo Provisório" trataram de esclarecer não terem dado autorização para o uso dos seus nomes. Dizia o prestigiado professor Rodrigues de Freitas, enquanto admitia ser democrata-republicano:
 
 
"…mas não autorizei ninguém a incluir o meu nome na lista do governo provisório, lida nos Paços do Concelho, no dia 31 de Janeiro, e deploro que um errado modo de encarar os negócios da nossa infeliz pátria levasse tantas pessoas a tal movimento revolucionário."
 
 
A reacção oficial seria, como de esperar, implacável, tendo os revoltosos sido julgados por Conselhos de Guerra, a bordo de navios, ao largo de Leixões: o paquete Moçambique, o transporte Índia e a corveta Bartolomeu Dias.
Para além de civis, foram julgados 505 militares. Seriam condenados a penas entre 18 meses e 15 anos de degredo, em África, cerca de duzentas e cinquenta pessoas. Em 1893, alguns seriam libertados em virtude da amnistia decretada para os então criminosos políticos da classe civil.
Em memória desta revolta, logo que a República foi implantada em Portugal, a então designada Rua de Santo António foi rebaptizada para Rua de 31 de Janeiro, passando a data a ser celebrada, dado que se tratava da primeira de três revoltas de cariz republicano efectuadas contra a monarquia constitucional (as outras seriam o Golpe do Elevador da Biblioteca e o 5 de Outubro de 1910).
 
 
 

No cemitério do Prado do Repouso, o Monumento de homenagem aos mortos da revolta de 31 de Janeiro
 
 
 
Revolta de Fevereiro de 1927
 
 
A Rua de Santo António ficaria também ligada a outra revolta importante ocorrida na cidade e que seria votada ao insucesso.
Entre 3 e 9 de Fevereiro de 1927, o Porto foi palco de uma rebelião militar liderada pelo general Sousa Dias. Foi a primeira tentativa consequente de derrube da Ditadura Nacional que então se consolidava em Portugal, na sequência do golpe de 28 de Maio de 1926.
A intentona terminou com a rendição e prisão dos revoltosos e saldou-se em cerca de 80 mortos e 360 feridos no Porto e deu início ao período chamado “ O Reviralho”.
 
 
“A rebelião iniciou-se pelas 4:30 da madrugada do dia 3 de Fevereiro, com a saída do Regimento de Caçadores 9, a que se juntou a maior parte do Regimento de Cavalaria 6, vindo de Penafiel, vários núcleos de outros regimentos da cidade e uma companhia da Guarda Nacional Republicana aquartelada na Bela Vista, Porto.
O comando das forças fora confiado ao general Adalberto Gastão de Sousa Dias, tendo como chefe do estado-maior o coronel Fernando Freiria, apoiado por um comité revolucionário constituído por Jaime Cortesão, Raul Proença, Jaime Alberto de Castro Morais, João Maria Ferreira Sarmento Pimentel e João Pereira de Carvalho. Entre os apoiantes incluía-se também José Domingues dos Santos, o líder da esquerda democrática que em 1918 dirigira a conspiração civil contra a Monarquia do Norte.
Jaime Cortesão foi de imediato nomeado governador civil do Porto e Raul Proença, além de conspirador, foi organizador e combatente de armas na mão, servindo de ligação aos co-conspiradores de Lisboa.
Durante a madrugada e manhã do dia 3 de Fevereiro, as forças dos revoltosos dirigiram-se para a zona da Praça da Batalha, onde estavam as sedes do quartel-general da Região Militar e do Governo Civil e a mais importante estação do telégrafo. As forças governamentais, depois de algumas horas de desorganização, passaram a ser constituídas por uma parte reduzida do Regimento de Infantaria 18, que tinha como comandante o coronel Raul Peres, o Regimento de Cavalaria 9 e o Regimento de Artilharia 5, este aquartelado na Serra do Pilar. Na tarde do dia 3 de Fevereiro, sob o comando do coronel João Carlos Craveiro Lopes, chefe do estado-maior da Região Militar e governador militar da cidade, as forças pró-governamentais concentraram-se no quartel da Serra do Pilar e abriram fogo de artilharia contra os revoltosos.
Na manhã desse mesmo dia 3 de Fevereiro, numa manobra arriscada, mas indicativa da certeza de que estava assegurada a fidelidade ao Governo das tropas de Lisboa, o Ministro da Guerra, coronel Abílio Augusto Valdez de Passos e Sousa, saiu de Lisboa num comboio com destino a Vila Nova de Gaia, onde chegou ao anoitecer. Assumiu então o controlo operacional das forças pró-governamentais ali instaladas sob o comando do coronel João Carlos Craveiro Lopes, mantendo-se na frente de combate até à subjugação dos revoltosos”.
In Wikipédia
 

 

Trincheira ao cimo da Rua de 31 de Janeiro

 
 

Revolta de 1927, na Rua de Santo António
 
 
 
 

A trincheira da morte, ao cimo da Rua de 31 de janeiro, na revolta de 1927 - Ed. monumentosdesaparecidos.blogspot

 
 
 

Trincheira, em Fevereiro de 1927, na confluência da Rua de Entreparedes e Praça da Batalha
 
 
 

Trincheira na Sé, no acesso à ponte Luís I, na revolta de 1927 - Ed. monumentosdesaparecidos.blogspot
 
 
 
Raúl Proença, em 4 de Fevereiro, tenta que os civis se juntem ao movimento, solicitação que não vai ter grande adesão.
Quanto a forças militares, aderem tropas pertencentes a unidades aquarteladas em Viana do Castelo, Figueira da Foz e Faro, estas últimas apoiadas por forças de Olhão, Tavira e Vila Real de Santo António.
Pior é que o esperado envolvimento das unidades militares lisboetas não acontecem. Pela capital o quotidiano é feito de hesitações, que irão durar até ao fim dos confrontos. É quando tudo já está perdido para o lado dos revoltosos portuenses, que Lisboa esboça algo que irá ficar conhecido como a “Revolta do Remorso”.
 
 
 
 

Trincheira na Rua Alexandre Herculano
 
 
 
O quartel general das tropas governamentais assentou arraiais nas Devesas, em V. N. de Gaia.

 
 

Embarque junto da Estação das Devesas, em V. N. de Gaia, para o Porto a 5 de Fevereiro de 1927 - Ed. Ferreira da Cunha, Arquivo Municipal de Lisboa


 
Na manhã do dia 5 de Fevereiro o vapor Infante de Sagres chegava a Leixões, com tropas governamentais, comandadas pelo coronel Augusto Manuel Farinha Beirão, enquanto mais forças governamentais atravessavam o Douro em Valbom e se encaminhavam para o centro da cidade.
Sem o apoio das unidades militares de Lisboa, os revoltosos tentam uma conciliação, que leva o comandante Jaime de Morais e o major Severino a visitar o quartel-general do Ministro da Guerra, instalado num prédio da Avenida das Devesas, em Gaia, numa tentativa de negociar a rendição em troca da liberdade para os revoltosos.
Os parlamentários dos revolucionários foram obrigados a atravessar a cidade vendados, mas o resultado foi inconclusivo já que o Ministro recusou uma rendição que não fosse incondicional: ou a rendição total ou o bombardeamento da cidade.


 
 

Os parlamentários, comandante Jaime Morais e o major Severino dirigindo-se vendados para o quartel-general das forças governamentais

 
 
Na sequência do malogro das conversações, as duas partes começaram a metralharem-se.

 
 

Altar da igreja dos Congregados atingido por um projéctil lançado pela bataria governamental instalada na serra do Pilar. Ainda hoje é visível o dano e, a propósito, numa vitrina está exposta a munição referida, que acabou por não explodir. Eram quatro e um quarto da tarde do dia 6 de Fevereiro
 
 
 
 
“Finalmente, na tarde do dia 7 de Fevereiro, esgotadas as munições, o quartel-general dos revoltosos, instalado no Teatro de S. João, manda dispersar os civis ali aquartelados. À meia-noite o general Sousa Dias faz chegar ao Regimento de Artilharia 5, em Gaia, por intermédio do major Alves Viana, da GNR, um documento apenas por si subscrito, em que propõe a rendição, com salvaguarda da isenção de responsabilidades de sargentos, cabos e soldados. Passos e Sousa aceita apenas a isenção de cabos e soldados, declarando que os oficiais e sargentos envolvidos seriam punidos. Qualquer civil apanhado de armas na mão seria imediatamente fuzilado.
Sem mais opções, pelas 3:00 horas da madrugada do dia 8 de Fevereiro Sousa Dias aceita as condições propostas e ordena a rendição dos revoltosos. Pelas 8:30 horas, Passos e Sousa entra triunfalmente na cidade, pela Ponte D. Luís. Estava terminada a revolta no Porto.
Durante os 5 dias que durou a revolta no Porto perderam a vida mais de 100 pessoas, entre militares e civis, entre os quais o jornalista António Maria Lopes Teixeira, director do Diário do Porto. Foram mais de 500 os feridos, alguns dos quais viriam a sucumbir nos dias imediatos. Os estragos causados pelos bombardeamentos e tiroteios também foram grandes, com muitas casas devastadas e muitos edifícios públicos grandemente danificados”. 
In Wikipédia
 
 
 

Cortejo fúnebre de uma vítima dos confrontos
 
 
A malograda revolta de Fevereiro de 1927 foi a última tentativa séria de colocar o País no rumo da democracia. Tal só seria alcançado com a revolução do 25 de Abril.

terça-feira, 7 de março de 2023

25.180 Sampaio (Bruno) e o ideário republicano na transicção de séculos

 
Em traços gerais, José Pereira de Sampaio (1857-1915) foi um dos mais destacados e lúcidos representantes do ideário republicano portuense. Participante na abortada revolta republicana de 31 de Janeiro de 1891, de cujo Manifesto foi redactor, exilou-se em França, facto que marcou profundamente o rumo da sua obra posterior: Notas do Exílio, 1893 e, sobretudo, A Ideia de Deus, 1902.
Sampaio Bruno chegaria a integrar o Directório do Partido Republicano Português – PRP, em 1902, mas teve uma grave desavença com Afonso Costa abandonando, então, definitivamente, a militância no PRP, mas continuando como publicista ligado a um republicanismo independente e crítico.
Afonso Costa, natural de Seia, a quem o Porto ergueu uma estátua no Campo de 24 de Agosto, era um advogado e, à data da desavença, membro do Parlamento na sequência eleições gerais de 1900.
Já antes, em 26 de Novembro de 1899, os republicanos tinham vencido as eleições no Porto, sendo eleitos os deputados Afonso Costa, Paulo Falcão e Xavier Esteves. Contudo, os resultados foram anulados em 5 de janeiro de 1900.
Viria a ser, mais tarde, com a proclamação da República, em 1910, ministro da Justiça do Governo Provisório (1910-1911) tendo assumido, também, por diversas vezes, os cargos de Chefe do Executivo (1913-1914, 1916 e 1917) e de Ministro das Finanças. Foi líder do Partido Republicano Português que, por esta altura, passou a designar-se Partido Democrático.
Entretanto, Sampaio (Bruno) ter-se-á afastado da actividade política em 1911, publicando, então, diversos estudos de bio-bibliografia e passando a ocupar o lugar de Director da Biblioteca Pública Municipal do Porto.


 
Afonso Costa (à direita) durante uma visita ao Porto, em 1912, tendo a seu lado António Macieira (deputado na Assembleia Constituinte de 1911, Ministro dos Negócios Estrangeiros e que, antes, no desempenho de funções de Ministro da Justiça, presidiu à elaboração da Lei de Separação do Estado das Igrejas)


 
 

Visita de Afonso Costa à Efanor, na Senhora da Hora, em 1913

 
 
Mais concretamente, José Pereira de Sampaio (Bruno) era filho de José Pais de Sampaio, mação e anti-clerical convicto e de Ana Albina Pereira Barroso. Nasceu a 30 de Novembro de 1857, pelas 17horas, na cidade do Porto, na Rua de Santa Catarina, nº 492 (antiga numeração), em prédio que seria demolido para abertura da Rua de Passos Manuel.
Em 1860, a família muda-se para a Rua do Bonjardim, nº 410, também no Porto, próximo do término superior da Rua da Cancela Velha e no enfiamento das traseiras do palacete da Praça da Trindade, onde vivia António Bernardo Ferreira e, no qual, tinha também a sua sede, desde três anos antes, o Clube Portuense, que aí substituiria a Assembleia Portuense.
Naquela nova morada, na Rua do Bonjardim, a família Sampaio vai explorar uma padaria, A Petit-Bijou, que Sampaio (Bruno) viria, mais tarde, a herdar.
Sampaio (Bruno) vai fazer os estudos preparatórios no Colégio Podestá, à data, já funcionando na Rua Firmeza.
 
 
 

No prédio da Rua do Bonjardim, nº 410, em primeiro plano, esteve a padaria da família Sampaio (Sampaio & filhos) e, mais tarde, a conhecida padaria Céres que, entretanto, fechou em 1989. No prédio seguinte, ainda visível, esteve à entrada do século XX e anos seguintes, a refinaria de açúcar Confiança – Fonte: Google maps



Publicidade à padaria "Céres", em 1970



 
 
Na biblioteca do pai, desde muito jovem, Sampaio (Bruno) lê tudo o que apanha à mão. Na sua obra “Carta Íntima” destaca três livros que preencheram a sua adolescência, Mário, de Silva Gaio, a versão portuense de Santos Silva de “Os Miseráveis” de Victor Hugo e “Mistérios do Povo” de Eugène Sue.
A 8 de Abril de 1872, com apenas catorze anos, publica o seu primeiro artigo no Diário da Tarde (com morada na Travessa da Picaria), influenciado pelos artigos de Guilherme Braga, e assina-o com o pseudónimo de Sampaio (Bruno), condoído com o suplício infligido, em Fevereiro de 1600, pela Santa Inquisição a Giordano Bruno, um  frade dominicano italiano, teólogo, filósofo, escritor, matemático, poeta, teórico de cosmologia e ocultista hermético.
Ainda no ano de 1872, em colaboração com Júlio A. Barbosa e Silva, Henrique Barbosa e A. Cardoso, funda o jornal académico “O Laço Branco”, de que se publicaram três números. Também publicou o romance “Os Três Frades”.
No ano seguinte, em colaboração com Gervásio Ferreira de Araújo (Gério Vaz) e António Pereira de Sampaio (Aubin), fundou outro jornal, “O Vampiro”, também de curta existência (seis números).
Como curiosidade, diga-se que, Gervásio de Araújo tinha uma convivência diária com Sampaio (Bruno), pois sendo natural de Ribeira de Pena, tinha muito novo vindo trabalhar para a padaria do pai de Bruno, onde exerceu as funções de caixeiro.
Nesse estabelecimento comercial, José Sampaio (Bruno) e outros estudantes liceais, casos de Ricardo Jorge, Basílio Teles, António Lança e J. C. Pinheiro Guimarães, por lá se reuniam ligados por afinidades literárias, ideológicas e políticas.
Gervásio Araújo assiste aos debates e com uma enorme força de vontade vai matricular-se no liceu e tornar-se um dos tertulianos.
Em 1880, Gervásio Araújo vai publicar, sob o pseudónimo de Gério Vaz, a obra “As Farpas Modernas”, uma publicação periódica de curta duração (apenas dois números), importante para compreender o dinamismo da cidade do Porto em finais do século XIX e a sua vontade de protagonismo político e cultural, em cujo preâmbulo se pode ler a seguinte passagem ilustrativa do seu conteúdo “… folheto destinado a fazer luz sobre os factos mais escandalosos da nossa politica, a pôr em relevo as misérias dos nossos costumes, da nossa sociedade...”.
Nessa publicação vai defender a autora de Portugal à vol d’oiseau, Madame Rattazzi, na pugna que ela teve com Camilo Castelo Branco, a propósito daquela obra.
 
 
 



Gervásio Araújo virá a ser professor liceal de literatura, jornalista, poeta e emigrante no Brasil, onde exerceu as funções de professor universitário, em S. Paulo, onde veio a falecer em 11 de Junho de 1916.
Segundo informação recolhida na revista “O tripeiro”, Gervásio Araújo esteve presente com a esposa no célebre incêndio que destruiu o Teatro Baquet, em 21 de Março de 1888.

 
 

In revista “O Tripeiro”, V série, Ano XV, Nº 2, Junho de 1959, pág. 50

 
 
Concluindo: Gervásio de Araújo, de caixeiro de padaria a intelectual.
Voltando a José Sampaio (Bruno), ainda no ano de 1873, surgiu a revista “Harpa”, dirigida por Joaquim de Araújo. Desta revista saíram vinte números e nela participaram, além de Sampaio (Bruno), Magalhães Lima, Bettencourt Rodrigues, Cesário Verde, etc.
Em 1874, com dezasseis anos, Sampaio (Bruno) frequentando o 5º ano do Liceu, começou a escrever na revista “Tribuna”, onde participaram Latino Coelho, Pinheiro Chagas e outros. Fundou um cenáculo literário onde se discutiam problemas de toda a índole. Dessa tertúlia faziam parte Manuel Teixeira-Gomes, Basílio Teles e Gomes Leal.
Neste ano, Sampaio (Bruno) publicou “Análise da Crença Cristã”, Porto, a sua primeira obra de carácter filosófico que levantaria bastante polémica na época pelo seu fundo subversivo. O racionalismo deísta e as ideias liberais foram as influências dominantes no seu pensamento.
Em 1875, em virtude de ter adoecido, não pôde matricular-se na Escola Politécnica do Porto.
No biénio seguinte, já na Politécnica, realizou os exames de física, química, e história natural com aprovação. Desde então trocou a carreira das ciências pelas letras.
É ponto assente que Sampaio (Bruno) não chegará a tirar qualquer curso, apesar da sua imensa cultura.
Nessa particularidade, está como Herculano, Camilo, Oliveira Martins, Aquilino, Cesário Verde, Fernando Pessoa e Almada Negreiros. Mais recentemente: Sofia, Natália, Agustina, Saramago, Mário Cesariny e Eugénio de Andrade.
Em 1879, participa no lançamento da “Gazeta do Realismo”, da qual só saiu um número e foi apreendida pela polícia devido ao seu sucesso. Sampaio (Bruno) participou nela com o pseudónimo de Alphonse Daudet, escrevendo o artigo de fundo: Enquanto o pano não sobe.
Entre 1881 e 1891, tem participação profícua em muitos jornais e outras actividades ligadas à actividade literária, assim:
em 1881, funda os semanários “O Democrático” e “O Norte Republicano”, e deu colaboração ao jornal “Folha Nova”, dirigido por Emídio de Oliveira (Spada). Prefacia o livro de Alexandre Braga, Discurso Anti-Jesuítico, Porto;
em 1883, organiza o diário “A Discussão”;
em 1884, prefacia o livro de Joaquim de Araújo, Lira Íntima, Braga;
Em 1886, publica “A Geração Nova”, Porto e prefacia o livro de Pacheco de Amorim, “Aerólitos”, Braga;
Em 1889, prefacia o livro de Simão José da Luz Soriano, “História do Cerco do Porto”, Porto;
Adere, então, ao Partido Republicano e, juntamente com Antero de Quental, Basílio Teles e outros, forma a Liga Patriótica do Norte, como forma de protesto ao ultimato inglês de 1890, onde é o responsável pelos respectivos estatutos.
Neste ano, aquando do aparecimento do jornal “A República Portuguesa”, participa nele juntamente com João Chagas, Júlio de Matos, Guerra Junqueiro, entre outros;
Em 1891, participa na malograda revolta portuense do 31 de Janeiro, para implantação da República.
Em sequência, Bruno vai para o exílio, de onde só regressou após a amnistia, sendo acolhido por Guerra Junqueiro.
No exílio publicou o “Manifesto dos Emigrados da Revolução Republicana Portuguesa de 31 de Janeiro de 1891”, Paris.
 
 
 

Sampaio (Bruno)


 
No exílio, em Paris, juntamente com João Chagas, convive com Santos Dumont, Verlain e António Nobre.  
Em 1893, regressaria a Portugal, depois de viver na Galiza e em Paris. Publicou, então, “Notas do Exílio”, Porto.
Em 1895 e 1896, prefaciou o livro de Guilherme Braga, “O Bispo”, Porto, e o livro de Moreira Lopes, “Lágrimas de Amor”, Porto, respectivamente.
Em 1897 e 1908, escreveu no diário A Voz Pública.
Em 1898, publicou “O Brasil Mental”, Porto.
Em 1901, prefaciou o livro de D. João de Castro, “Paráfrase e Concordância”, Porto.
Com o passar dos anos, o seu pensamento torna-se mais místico e esotérico, mergulhando na cultura agnóstica de inspiração judaica e na cabala. O seu carácter íntegro e honesto leva-o a afastar-se do Partido Republicano Português, desiludido com o rumo que a situação estava a tomar.
Em 1902, Sampaio (Bruno) é vítima de uma agressão praticada por Afonso Costa.
Esta agressão é narrada pelo jornal “A Voz Pública”, periódico com o qual colaborava Sampaio (Bruno), com o título: Agressão traiçoeira: tentativa de homicídio pelo dr. Affonso Costa na pessoa do snr. José Pereira Sampaio (Bruno)

 
 
In jornal “A Voz Pública”, de 12 Janeiro de 1902, pág. 1


 
No mesmo artigo jornalístico explicava-se a origem do desaguisado entre camaradas de partido.

 
 





 
Ainda, neste ano de 1902, Sampaio (Bruno) publica a obra “A Ideia de Deus”, Porto, e prefaciou os livros de H. Schaefer, “História de Portugal”, Porto, e de António Nobre, “Despedidas”, Porto.
Em 1903, publica um folheto escrito em francês intitulado “Theorie Exacte et notation finale de la musique”, Porto, no qual demonstrou a solução do problema sobre as divisões musicais. A essas divisões, rigorosamente exactas, chamou-lhes Escala Tessaradecatónica. Resolveu mandar construir um pequeno harmónio para demonstrar a sua solução. Prefaciou o livro de Maximiano Rica, “Líricas”, Porto.
Em 1904, publicou “O Encoberto”, Porto, do qual se destaca o pequeno texto seguinte:

 
… Na verdade, a reacção, política e moral, que vem seguindo seus tramites neste país parece que não está cerce ainda do término do impulso de seu movimento primário; antes a todos se prefigura que ela continuará a desenrolar-se por âmbito ainda longo também. De dia para dia, os governantes vão desgastando, com efeito, em todas as regalias liberais.
 O que há de mais desanimador neste painel de uma retrogação constante é a indiferença com que uma população inerte assiste a semelhante progressiva usurpação dos seus direitos. Se o movimento descensional não encontrasse os embargos de causas exteriores, poderíamos, mesmo, supor que na ordem política se regressaria ao puro governo absoluto e na ordem moral á extrema intolerância religiosa. Não seria, pois, inteiramente abusiva a hipóteses de que em Portugal se reintegrassem as instituições de períodos históricos ultrapassados e supostos, logicamente, extintos. Em Lisboa voltar-se-ia a acender as fogueiras dos autos-de-fé da Inquisição; e, no Porto, volver-se-ia a montar as forcas das execuções da Alçada. Se hoje há corregedores, breve haveria também sargentos da ordenança; e uma turba embrutecida gritaria novamente: ‘Viva o senhor capitão-mor, que já nos pode mandar enforcar!
 
 
 
Em 1905, prefaciou a tradução portuguesa da obra de Vítor Hugo, “Os Génios”, Porto.
Em 1906, publicou “Os Modernos Publicistas Portugueses”, Porto, e “Portugal e a Guerra das Nações”, Porto.
Em 1907, publicou “A Questão Religiosa”, Porto, e prefaciou o livro de Augusto Luso, “Últimos Versos”, Porto, e, ainda, o de Euclides da Cunha, “Contrastes e Confrontos”, Porto.
Em 1908, é nomeado 2º oficial conservador da Biblioteca Municipal do Porto. Publicou Portugueses Ilustres, 3 vols., Porto.

 
 

Caricatura de Sampaio (Bruno) da autoria de Abel Salazar – Fonte: revista “O Risco”, 20 de Setembro de 1908

 
 
Em 1909, tendo surgido o jornal “A Pátria”, cujo director era Duarte Leite, Bruno vai colaborar escrevendo três artigos por semana até 1910.
Por morte de Rocha Peixoto, é nomeado primeiro bibliotecário da Real Biblioteca Municipal do Porto.
Publica, neste ano, “A Ditadura”, Porto, e prefaciou a obra de Joaquim Costa, “A Alma Portuguesa”, Porto.
Em 1910, prefacia os livros do mercador Afonso Vasques Calvo, "O Livro da Corte Imperial” e do Infante D. Pedro, “O Livro Virtuosa Benfeitoria”, manuscritos dados à estampa pela Biblioteca Pública Municipal do Porto.


 



A publicação bimensal “Varões Assinalados”, da qual saíram 48 números, no seu nº 12 de Fevereiro de 1910, retratava Sampaio (Bruno), numa caricatura, acompanhada de uma biografia humorística da autoria de Guedes d’Oliveira. Aí se fazia referência ao “Manifesto dos Emigrados”.




Caricatura de Sampaio (Bruno), autoria de Francisco Valença (1882 - 1962), ilustrador e caricaturista

 
 
Em 1911, no Porto, publicou no jornal Diário da Tarde (com morada na Praça D. Pedro), uma declaração ao povo e ao Governo expondo razões porque resolvia suspender esta publicação. Enviou também a vários jornais a seguinte declaração: «Rogo-lhes o obséquio de darem publicidade no seu jornal a esta declaração que entendo dever fazer, e é de que, desta data em diante, me retiro, completa e absolutamente enojado, da vida política portuguesa.». Prefacia o livro de Tomé Pinheiro da Veiga, “O Livro Fastigímia”, manuscrito dado à estampa pela Biblioteca Pública Municipal do Porto.
Neste ano, acompanha Guerra Junqueiro pugnando para que a bandeira da República mantivesse as cores, azul e branca. Ao centro teria o escudo e a esfera armilar (sem coroa) e, em volta, umas estrelinhas verdes e vermelhas.
 
 
 

À esquerda, Sampaio (Bruno) e Guerra Junqueiro lutando pela sua bandeira e, à direita, os republicanos – Postal de 1911
 
 
 
 
 

Proposta de bandeira de Guerra Junqueiro para a República Portuguesa
 
 
 
“1912 – Publicou O Porto Culto, Porto; e, prefacia a obra de Manuel Pereira de Novais, Anacrisis Historial, manuscrito dado à estampa pela Biblioteca Pública Municipal do Porto.
1912/13 – Durante este biénio trabalhou na preparação do livro Teoria Nova da Antiguidade.
1914/15 – Colaborou na revista A Águia e no jornal O Primeiro de Janeiro com artigos sobre Filosofia e História. Publicou Do Livro da Arte de Furtar e de seu Verdadeiro Autor, Porto; e prefacia o livro de Artur Botelho, Alma Lusitana, Porto. Antes de falecer, prefaciou ainda o livro de Borges Carneiro, Esboços Pálidos, Porto; e o de António Joaquim, Rapsódia Camiliana, Porto.
1915 – 6 de Novembro, faleceu vítima de hidrocele que nos últimos anos o impossibilitara de caminhar.
 1931 – A 30 de Novembro deste ano, realizou-se a primeira homenagem póstuma a Sampaio (Bruno) no Salão Nobre da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto, tendo discursado Leonardo Coimbra e Teixeira Rego”.
Cortesia de José-Lança Coelho; In: Revista NOVA ÁGUIA (16º número), 11 de Julho de 2015

 
Fernando Pessoa chegou correspondeu-se com Sampaio (Bruno) e ter-lhe-á enviado o primeiro número da revista “Orpheu” para obter dele uma opinião sobre as temáticas abordadas.
Miguel de Unamuno, por vezes, vinha de propósito de Madrid, visitá-lo e trocar impressões.
 
 
 
“A sua obra reflecte o Porto cívico e cultural de outros tempos e do seu tempo: o Porto de Antero de Quental, a presidir à Liga Patriótica do Norte. O Porto literário de Eça de Queiroz, à frente da Revista Portugal. O Porto de Camilo (mas a caminho dos editores e oftalmologistas). O Porto dos primórdios literários de António Nobre e Raul Brandão e de Manuel Teixeira Gomes a tentar fazer o curso de Medicina. O Porto do pintor Marques de Oliveira (mestre de Henrique Pousão), que retratou o mar e o areal da Póvoa de Varzim. O Porto de Soares dos Reis que, de insatisfação a insatisfação, e sufocado por intrigas e invejas, num desesperado encontro com a morte, resvalou nas garras do suicídio. O Porto medularmente republicano de Rodrigues de Freitas, de Basílio Teles, de Aurélio Paz dos Reis (o criador do cinema português) e de Sampaio Bruno. Reflete, ainda, o Porto, orgulhosamente, concentrado nas suas fronteiras territoriais, entregue à azáfama comercial, absorvido com a roda–viva industrial e, simultaneamente, recetivo às solicitações da cultura e ao sentido da universalidade”.
Cortesia de António Valdemar (jornalista e investigador, membro da Academia das Ciências); In jornal “Público”, 2 de Novembro de 2015, p.46

 
 
Em 2015, a Biblioteca Pública Municipal do Porto presta-lhe uma homenagem inaugurando uma exposição evocativa da sua personalidade e subordinada ao título “À Margem do Tempo”. Recordando Sampaio Bruno (1857-1915), o publicista, republicano, filósofo e investigador portuense.

 
 

Comemoração do centenário do falecimento de Sampaio (Bruno)




Sampaio (Bruno), hoje, tem o seu nome, na cidade que o viu nascer, numa placa de toponímia – Rua Sampaio Buno – que liga a actual Praça da Liberdade à Rua de Sá da Bandeira.
Esta ligação foi decidida executar após o término das lutas liberais e do cerco do Porto e, no projecto da obra, segundo a opinião do historiador da cidade, Eugénio Andrea da Cunha Freitas, na sua Toponímia Portuense, foi-lhe atribuído o topónimo de Travessa de Sá da Bandeira, e a um outro arruamento, o topónimo de Rua de Sá da Bandeira, que se projectava para ficar próximo ao Palacete de Monteiro Moreira (onde funcionava a Câmara desde 1819). Este último arruamento referido, nunca viria a ser executado e, por isso, a travessa passou a rua.
Aqueles topónimos seriam atribuídos, após consulta ao, então, visconde de Sá da Bandeira (Bernardo de Sá Nogueira de Figueiredo (Santarém, 26 de Setembro de 1795 — Lisboa, 6 de Janeiro de 1876), que deu a respectiva autorização em 1837. Os trabalhos arrancariam em 1842.
Só, mais tarde, seria Rua Sampaio Bruno, quando a cidade decidiu rasgar a Avenida dos Aliados, e homenagear um outro dos seus ilustres, e uma nova Rua de Sá da Bandeira haveria de surgir com novo traçado.

                                                                                                   
 




Na foto acima, a meio, pela esquerda, segue a Rua D. Pedro (será, mais tarde, Rua Elias Garcia e, depois, o lado nascente da Avenida dos Aliados) e, pela direita a primitiva Rua de Sá da Bandeira. No prédio, à direita, do qual se vê uma nesga, ficava o café Suisso. No prédio, à esquerda, alojou-se até 1916 a Câmara Municipal.