quarta-feira, 14 de junho de 2023

(Conclusão)

 
Exposições de flores no Palácio de Cristal
 
 
Ao longo dos seus 86 anos de existência, o Palácio de Cristal acolheu inúmeras exposições ligadas à floricultura, destacando-se a 1ª Exposição de Rosas, ocorrida em 17 de Junho de 1866, na nave central do Palácio de Cristal, sob direcção do jardineiro-paisagista Emílio David, com participação dos horticultores Marques Loureiro, Gentil Gomes da Silva e dezenas de amadores e a de 1879 ou a de 1899, inaugurada a 6 de Maio, subordinadas ao mesmo tema.
Muitas das exposições acontecidas tiveram a participação efectiva e como fotógrafo de Aurélio da Paz dos Reis.
Acontece que, a atenção que os portuenses dedicavam às flores conduziu a que aqueles certames acontecessem, também, nas instalações de algumas agremiações. Estas manifestações viraram moda.
 
 

Exposição de Rosas, em 1879



Exposição de Flores, no Palácio de Cristal, em 1900, na qual participou a “Flora Portuense” – Ed. Aurélio da Paz dos Reis
 
 
 

Expositor de Alfredo Moreira da Silva, horticultor e construtor de parques e jardins, na nave central do Palácio de Cristal, provavelmente, durante a Exposição Agrícola de 1903



 

Exposição de Crisântemos, no Palácio de Cristal, em 1904

 
 
No ano de 1908, a Exposição de Floricultura (foto abaixo) realizar-se-ia, mais uma vez, no Palácio de Cristal.
Nesse ano, a lista dos Horticultores era a que segue.





 

Exposição de Floricultura, no Palácio de Cristal, em 1908 – Ed. Aurélio da Paz dos Reis
 
 
 
 

Expositor de Alfredo Moreira da Silva, na Exposição de Crisântemos, no Palácio de Cristal, em 1910
 
 
O texto que se segue descreve a Exposição de Rosas de 1917, inaugurada em 26 de Maio.


In revista "O Tripeiro", 7.ª Série, Maio de 2017




No dia 11 de Maio de 1918, era inaugurada a tradicional Exposição de Rosas no Palácio de Cristal, que no dia 18, o certame reabriria para a visita de Sidónio Pais, que estava pela cidade.
 
 
 

In revista "O Tripeiro", 7.ª Série, Maio de 2018

 

Exposição de Rosas, no Palácio de Cristal, em 1919
 
 
 

Exposição de Rosas, em 1919, ocorrida no Palácio de Cristal – Fonte: Fotograma editado de filme da Cinemateca

terça-feira, 13 de junho de 2023

(Continuação)


Jacinto Matos
 
Jacinto Matos (1864-1948) veria o seu nome para sempre ligado à Quinta de Salgueiros ou Quinta do Ingleses, situada no Lugar de Antas de Cima, em tempos, junto do então topo norte do Estádio das Antas.


 

Planta da Quinta de Salgueiros e da implantação dos viveiros de Jacinto Matos

 
 
Legenda:
1. Hospital do Conde Ferreira
2. Rua de Costa Cabral
3. Rua Nova de Contumil
4. Rua da Vigorosa
5. Lugar de Antas de Cima


 
Assim, naqueles terrenos, Jacinto Matos teve os seus viveiros desde o início do século XX.

 
 

Entrada para a Quinta de Salgueiros



 
Horto de Jacinto Matos, em Antas de Cima - Fonte: Ilustração Católica (Braga), 6 de dezembro de 1913
 
 
 
 
Como horticultor, Jacinto de Matos continuava o negócio de um pequeno horto que seu pai, Zeferino de Matos, tinha na Rua da Boavista. Aliás, o horto aparece já, fundado, em 1870, no catálogo abaixo.


 
 



A partir de 1882, organizou e participou em diversas exposições no Palácio de Cristal do Porto e no Ateneu Portuense
Em 1899, participou na fundação da União dos Jardineiros do Porto enquanto presidente da assembleia geral (sendo reeleito em Outubro de 1901), sendo José Monteiro da Costa o presidente da direcção.
No livro Jardins Históricos do Porto (Ed. Inapa, 2001), Teresa Andresen e Teresa Portela Marques enumeram alguns dos jardins e parques projectados por Jacinto de Matos em todo o país: Parque de São Roque, jardim da Casa Allen (Casa das Artes), Quinta dos Salgueiros, jardim da Ordem dos Médicos (à Arca d'Água), Parque da Curia, Parque das Pedras Salgadas, espelhos de água dos jardins da Presidência do Conselho de Ministros, Jardim municipal de Nisa.


 
 

Palacete, na Avenida da Boavista, nº 2609, mandado construir por José Zagalo Ilharco, um amante da horticultura que haveria, em colaboração com Jacinto Matos de criar, em volta da sua casa, na Avenida da Boavista, o chamado Parque Zagalo Ilharco, jardim que rodeava a vivenda mandada construir em 1902


 
 

Jardim (1910) da casa da D. Adelaide Nogueira Pinto, em Leça da Palmeira
 
 
 
Adelaide da Rocha Nogueira Pinto (Leça da Palmeira 26.01.1866 - Leça da Palmeira 21.11.1899), sem descendência, era filha de José Nogueira Pinto (pai do Conde de Leça), nascido em 1834 e de Rosa Joaquina da Rocha, nascida em 1832.

 
 

Casa de Nogueira Pinto, na Rua Direita, nº 234, em meados do século XX

 
 

O que resta, hoje, da casa Nogueira Pinto – Cortesia de Vítor Monteiro





Exposição de Flores organizada por Jacinto de Matos, no Casino Peninsular da Figueira da Foz, em Junho de 1905 - Ed.  Ilustração Portuguesa de 24 de Julho de 1905
 
 
 
 
Aurélio da Paz dos Reis
 
 
Esta personalidade, para além de ter o seu nome ligado à sua actividade política desenvolvida na cidade do Porto, ficaria imortalizada, também, por ter sido o realizador e produtor do icónico e primeiro filme português, "A Saída do Pessoal Operário da Fábrica Confiança" (Rua de Santa Catarina).
No entanto, a sua actividade profissional principal era exercida no sector agrícola.
Assim, Aurélio da Paz dos Reis (1862-1931) tinha a sua casa de comércio, situada na Praça D. Pedro (Praça da Liberdade), numa loja onde, mais tarde, se iria instalar a Confeitaria Ateneia.
Aí, na “Flora Portuense”, a loja fundada em 1893, de comércio de flores, plantas e sementes, instalada na Praça D. Pedro, Aurélio da Paz dos Reis transacionava os produtos oriundos dos seus viveiros, localizados em terrenos anexos à sua residência na Rua do Barão de Nova Sintra, nº 125.
 
 
 

“Flora Portuense”

 
 

Aurélio da Paz dos Reis, no interior da loja “Flora Portuense”, em estereograma de 1900
 
 
 

No prédio mais afastado, do conjunto de três observados, tinha Aurélio da Paz dos Reis a sua residência e, a ela anexo, os referidos viveiros – Fonte: goole maps

 
 
 

Aurélio Paz dos Reis fotografado com a sua mulher e filhos no jardim da sua residência

 
 

Estufas e viveiros de plantas e flores, em Nova Sintra
 
 
 
 
Em complemento, no âmbito da fotografia, Aurélio da Paz dos Reis aproveitava a sua loja na Praça D. Pedro para comercializar alguns trabalhos fotográficos ou artigos ligados à fotografia.
Ainda neste capítulo, Aurélio da Paz dos Reis ficaria conhecido pelas excelentes reportagens fotográficas realizadas aquando das exposições de floricultura levadas a cabo no Palácio de Cristal, nas quais a “Flora Portuense” costumava participar.




Outras personalidades do mundo da jardinagem
 
 
A título pessoal, em regime de amadorismo, muitos burgueses portuenses se dedicaram ao arranjo dos seus jardins, que rodeavam espectaculares palacetes, numa actividade que pressupunha que fossem aplicados grossos cabedais.
De facto, era uma actividade cara, pois, na maioria das situações, era necessário, para sobressair, fazer importações de espécies raras e recorrer a serviços de entendidos profissionais, que se faziam pagar bem.
Entre muitos outros, ficaram célebres as intervenções do Conde de Silva Monteiro.
Apaixonado pela jardinagem, Silva Monteiro, para além de cuidar dos seus jardins do palacete situado na Rua da Restauração, tinha um espaço imenso em V. N. de Gaia, que transformou numa propriedade agrícola e de recreio, a Quinta da Lavandeira, pertencente também a seu irmão, onde a praticava e que, é hoje, o Parque Municipal da Lavandeira, à data, confinando com a Quinta do Sardão.
Nesta propriedade mandou construir Silva Monteiro, entre 1881 e 1883, na fundição do Ouro, uma estufa monumental em ferro e vidro, tendo dessa sua paixão pela jardinagem, chegado a receber alguns prémios em exposições efectuadas no Palácio de Cristal.


 
 

Estufa do século XIX, no Parque da Lavandeira, aguardando recuperação
 
 
 
Outro apaixonado pela jardinagem foi o Conde das Devezas, Francisco Pereira Pinto de Lemos (1849-1916), que na sua quinta, em V. N. de Gaia, se dedicou à sua paixão – a floricultura, na qual sobressaiam vários exemplares de camélias.
Presentemente, com o antigo solar da quinta, em ruínas, os seus jardins foram transformados no “Parque da Quinta das Devesas”, um equipamento municipal aberto ao público, situado na Rua Leonor de Freitas.
 
 
 

À esquerda, pela rampa, se entra no Parque da Quinta das Devezas
 
 
 

Tulipeiro (Liriodendron tulipifera) à entrada do parque
 
 
 
 
Terá sido pela Quinta Vilar d’Allen, já sob a responsabilidade de Alfredo Allen, que terão sido introduzidas uma série de plantas exóticas em Portugal.
Esta quinta, situada ao fundo da Rua do Freixo, em Campanhã, nº 194, foi obra de João Allen, ou mais, precisamente, John Francis Allen, um cidadão inglês ligado ao comércio do vinho do Porto, que comprou, primitivamente, em 1838, a Quinta da arcádia.
Seria, no entanto, um seu filho, Alfredo Allen, 1º visconde de Villar d’Allen, quem iria ampliar a propriedade anexando à área adquirida por seu pai, as quintas da Vesada e a de Vila Verde e exercer uma acção decisiva sobre os jardins da propriedade.
 
 
“Os jardins da Quinta de Vilar d'Allen têm vários elementos de interesse como o lago, a zona da mata, a estufa, o Jardim dos Cisnes, vários exemplares de camélias e um jardim formal. Há uma grande quantidade de camélias de cerca de 180 variedades diferentes no jardim. Há, ainda, esculturas e ornamentos arquitetónicos da autoria de Nicolau Nasoni, assim como uma fonte do antigo Mosteiro de Monchique.
A Casa e a Quinta foram classificadas como Imóvel de Interesse Público em 2010 e pode ser visitada, por marcação”.
Fonte: “ambiente.cm-porto.pt/”
 
 
 
Alfredo Allen era enólogo, agricultor e jardineiro.
Foi um dos impulsionadores da Sociedade do Palácio de Cristal Portuense tendo, anteriormente, sido, na companhia do filho de Francisco Van Zeller, Roberto Van Zeller (1818-1868), director da Feira Agrícola do Porto, realizada de 12 a 14 de Julho de 1857, pela sociedade Agrícola do Porto, em terrenos da Torre da Marca onde, em 1865, haveria de nascer o Palácio de Cristal.

 
 

Fonte que terá pertencido ao mosteiro de Monchique, instalado na Quinta Villar d’Allen

 
 
Na foto acima está um dos dois chafarizes (existiam dois claustros) que esteve num dos claustros do mosteiro de Monchique.

 
“A Norte, o aterro cria uma zona individualizada, cercada por um pequeno bosque, onde Alfredo Allen, filho de João Allen e 1º Visconde de Villar d'Allen, introduziu na propriedade, e em Portugal, alguns exemplares de plantas e arbustos exóticos, entre os quais se destacam as famosas camélias de Villar d'Allen. Este tratamento paisagista tem vindo a ser considerado como um dos primeiros no nosso país que segue a tipologia dos jardins paisagistas e pituresques que procuram reproduzir a espontaneidade da natureza; sendo, muito possivelmente, inspirado nos livros trazidos de Londres e que ainda hoje integram o espólio da biblioteca de Villar d'Allen, entre os quais se destacam William Kent e Capability Brown. Nos jardins surgem, amiúde, pedras trabalhadas e falsas ruínas, entre as quais se destacam os fogaréus e os "cestos de fruta" atribuídos a Nicolau Nasoni e muito possivelmente provenientes do vizinho Palácio do Freixo, concebido por este arquitecto”. 
Cortesia de Rosário Carvalho

 
Sendo que, os viveiros da propriedade (5 hectares de jardim e mata) continuam em actividade, ainda há poucos anos, obtiveram o prémio para a melhor Camélia, durante a Exposição de Camélias do Porto organizada pela Câmara Municipal do Porto..
 
 
 
 

Casa da Quinta de Villar d’Allen – Fonte: “ambiente.cm-porto.pt/”
 
 
 
 
Também Francisco Van Zeller (1774-1852), proprietário da Quinta de Santo Inácio, localizada na Rua 5 de Outubro, nº 4503, Avintes, V. N. de Gaia, se destacou ao ser considerado o responsável pela introdução oficial, entre 1808 e 1810, das camélias no nosso país, trazidas justamente para a Quinta de Fiães, onde, ainda hoje, podem ser admiradas.
Na Quinta de Santo Isidro, além das camélias, os jardins foram recriados, há poucos anos, aquando da abertura da quinta ao público, com a inclusão de roseirais e mixed-borders no jardim formal e, no jardim romântico, uma grande colecção de azáleas e rododendros.

 
 
Jardins da Quinta de Santo Inácio - Cortesia de Vilma Silva (2005)
 
 
 
A propósito da introdução das camélias, há quem garanta que a camélia (Camellia japonica) terá aparecido, primeiro, na primeira metade do século XVI, na Quinta do Campo Belo, sobranceira ao rio Douro, na margem direita da foz da Ribeira das Azenhas, em V. N. de Gaia, oriunda do Japão.
Adriano de Paiva de Faria Leite Brandão (1847-1907), 1º conde do Campo Belo que, a partir de 1872, integrou o quadro de lentes da Academia Politécnica do Porto, foi um grande matemático e cientista nas áreas da Termodinâmica e da Óptica.

 
 
«O Conde de Campo Belo ficou conhecido nos meios científicos pelas suas reflexões sobre a telescopia como uma nova aplicação da eletricidade (1878). Explorou este tema na obra "La Télescopie Électrique Basée sur l'emploi du Selenium", em 1880, referindo-se a um "telescópio elétrico com o qual se poderiam transmitir imagens". Este trabalho teve impacto internacional e inspirou estudos pioneiros no campo da televisão. Foi lido e estudado durante os anos vinte em Itália, quando o regime de Mussolini se interessou pelo tema televisivo. Foi também autor de "These Ex Naturali Philosophia" (1868)».
Fonte: sigarra.up.pt/up/
 
 
 
 
Paço e jardins da Quinta do conde de Campo Belo – Fonte: sapoencia.blogs.sapo.pt/

 
 
Sobre as plantações da camellia japónica na Quinta do Campo Belo, a obra de Frederick Meyer, publicada em 1959, intitulada “Plant explorations: ornamentals in Italy, southern France, Spain, Portugal, England, and Scotland”, na figura 49, apresentava uma foto, de Teófilo Rego, do primitivo exemplar com cerca de 400 anos.

 
 

Camellia japonica, na Quinta do Campo Belo

 
 
Sobre a foto anterior Frederick Meyer dizia:


 


 
 
Curiosamente, Frederick Meyer, na mesma obra, faz referência à Quinta do Meio que, a partir de 1871, passa a ser arrendada a William Chester Tait, negociante abastado ligado ao Vinho do Porto e ornitologista, que acabará por comprá-la em 1900.
O irmão de William Chester Tait, Alfred Welby Tait era um botânico de reconhecidos méritos, nomeadamente, especialistas em espécies nativas do Gerês, onde tinha casa.
Por isso, não admira que esta propriedade fosse também relevada pelos seus jardins e espécies arborícolas.


 




Actualmente, os jardins anexos ao palacete do 3º visconde Villar d'Allen, Joaquim Ayres de Gouveia Allen, na Rua António Cardoso, da Casa de Serralves, do Palacete dos Andressen (Jardim Botânico), do Parque Ocidental da Cidade, do Palácio de Cristal e os muitos Jardins Públicos espalhados pela cidade do Porto, podem dar-nos uma ideia de quanto os portuenses são afeiçoados a eles.


(Continua)

segunda-feira, 12 de junho de 2023

25.194 Alguns arboricultores, floricultores e horticultores importantes com actividade na cidade do Porto

 
Segundo alguns autores, terá sido, o bispo de Viseu, D. Miguel da Silva, quem introduziu no reino a prática de embelezar os jardins com plantas ornamentais, entre os anos de 1527 e 1540.
Na construção dos jardins, para além dos elementos vegetais, muitos deles de natureza exótica, trazidos pelos navegadores envolvidos nos descobrimentos, empregavam-se também uma série de outros recursos arquitectónicos.
Os mosteiros estão na primeira linha de exibição daqueles jardins.
É exemplo maior, o de Vale da Piedade, antes, Vale de Amores, de cujos jardins o próprio Almeida Garrett fez eco.
No entanto, as actividades agrícolas, ligadas à jardinagem, desenvolveram-se, sobremaneira, após a vinda para o Porto do arquitecto paisagista alemão, Émille David, encarregado do levantamento dos jardins do Palácio de Cristal, inaugurado em 1865.
Dotado de conhecimentos técnicos, que hoje atribuímos aos arquitectos paisagistas, Emille David introduziu e divulgou, também, entre nós, o traçado do jardim romântico.
Na sua concepção, Émille David privilegiava o uso da pedra, com a qual elaborava grutas artificiais (com ares de naturais), caminhos sinuosos ou alamedas ladeadas de árvores de grande porte, muitos pontos de água correndo em bicas, chafarizes e fontes ou brotando simplesmente e escorrendo sobre paredes. E, sempre que possível, lagos com ilhotas, idealmente, com barcos a remos sulcando as suas águas.
Uma burguesia endinheirada, alguma dela constituída por brasileiros de torna-viagem, vai aderir à moda instalada e dotar a área envolvente aos seus palacetes com belos jardins desenhados por técnicos competentes e bem informados, sobre o que se fazia no sector por essa Europa fora.
Assim, para além do muito conhecido José Marques Loureiro, outras personalidades desenvolveram os seus negócios, no Porto, tendo-se tornado, em sequência, conhecidos em todo o País, nesta importante actividade económica.
São os casos de Jerónimo Monteiro da Costa, Alfredo Moreira da Silva, Jacinto Matos e Aurélio da Paz dos Reis, entre muitos outros.
 
 
 
José Marques Loureiro
 
 
A quinta anexa ao Solar do Capitão Meireles, localizado na Rua dos Fogueteiros (Rua Azevedo Albuquerque), também chamado de palacete da casa da Quinta das Virtudes, seria transformada num horto (algures, dentro das primeiras décadas do século XIX), o horto de Pedro Marques Rodrigues, o “Pedro das Virtudes”.
Mais tarde, aquele horto prosperaria, em resultado do aproveita­mento que o horticultor Marques Loureiro fez dele, a partir de 1844, depois de o ter adquirido ao Pedro Rodrigues em troca do pagamento de um estipêndio (espécie de salário com isenção de trabalho) diário.
O "Jardim do Senhor Loureiro" passa, então, em 1849, a “Horto das Virtudes”.
 
 
 

Parque da Quinta das Virtudes – Fonte: “visitporto.travel”

 
 

Parque da Quinta das Virtudes
 
 
 
 
José Marques Loureiro (1830-1898) seria nomeado fornecedor da Casa Real em 1865, e nos anos de 1869 e 1870, associa-se ao arquitecto paisagista Émile David (Berlim, 1839 – Porto, 1873) com quem divide a direcção do Horto das Virtudes.
Émile David  iniciara o seu percurso na cidade do Porto em 1864, ano em que foi convidado para o planeamento e a direcção dos jardins do Palácio de Cristal, cargo que ocupa até 1869. É, durante este mandato, em 1865, que executa em paralelo os planos para o Jardim da Cordoaria e para o Jardim do Passeio Alegre e, ainda, os jardins do Palacete da baronesa do Seixo, na Rua de Cedofeita.
Após 1870, Émile David abre um gabinete próprio junto à Rua de Santa Catarina, onde projecta jardins — sobretudo para residências privadas — e se dedica ao comércio de plantas, sobretudo exóticas.
Entretanto, José Marques Loureiro lançaria, também, o Jornal de Horticultura Prática, que foi publicado mensalmente, ao longo de 23 anos, entre 1870 e 1892.
Reunidos em 23 volumes, cada um deles, correspondente a um ano de publicação do Jornal de Horticultura Prática, possui cerca de 240 páginas de texto (algumas delas com gravuras), descrevendo uma série de espécies vegetais, as inovações das ferramentas de auxílio à agricultura e algumas intervenções notáveis, como foi o Palácio de Cristal, entre muitos outros assuntos.
 
 
 

Jornal de Horticultura Prática
 
 
 
 
Devido a doença, o “Jardineiro das Virtudes”, como gostava que lhe chamassem, afastou-se do negócio, criando com outros sócios a “Real Companhia Horticolo-Agricola Portuense”, que continuou a publicar os costumados catálogos e para a posteridade ficaria o mérito de ter publicado catálogos de flores e frutos, facto inédito naqueles tempos, tendo obtido grande sucesso e fama em todo o país.

 
 

Viveiros da Companhia Hortícola – Publ. em 1959, In “Plant explorations: ornamentals in Italy, southern France, Spain, Portugal, England, and Scotland” de Frederick Meyer (1917-2006); Foto (fig.45) de Teófilo Rego
 
 
 
 
Assim, em 1890, o Horto da Quinta das Virtudes viria a chamar-se “Real Companhia Horticolo-Agricola Portuense”, passando a estar a cargo de Jerónimo Monteiro da Costa, que se tinha associado a José Marques Loureiro.
Então, na sequência daquela parceria, uma outra área afecta ao mesmo sector de actividade haveria de ser utilizada, em terrenos que haveriam de ser também ocupados pelo F. C. Porto - o Campo da Rainha, na Rua da Rainha.
 
 
 

"Horto das Virtudes" e lá, bem no alto, o Mercado do Peixe 



 

Catálogo de Sementes da “Real Companhia Horticolo-Agricola Portuense”
 
 
 
 
José Marques Loureiro faleceu em 14/7/1898, aos 68 anos.
Em homenagem a José Marques Loureiro seria erguida uma estátua, em bronze, denominada “A Flora”, da autoria de Teixeira Lopes (filho) foi inaugurada em 20 de Agosto de 1904, no Jardim João Chagas, na Cordoaria.

 
 

“A Flora” do escultor Teixeira Lopes (filho) – Ed. ManuelaDLRamos

 
 
Na foto acima, à esquerda, destaca-se o tronco da sequóia gigante (Sequoiadendron giganteum) da Cordoaria e, ao fundo a Araucaria bidwilli recentemente classificada como árvore de interesse público (ambas plantadas em 1867).
 
 
 
“Ainda está na memoria de todos os grandes serviços que Marques Loureiro prestou á horticultura portugueza, da qual foi, por assim dizer, o seu creador. Ainda não se pensava em todo o paiz no que ella era e poderia vir a ser, quando esse homem corajoso e apaixonado por Flora, lançava os primeiros alicerces para o vasto e sumptuoso templo que lhe elevou no Porto. É gloria para esta terra! Foi d’aqui que se propagaram todas as especies e variedades que embellezam e enriquecem o paiz; como foi aqui que se realisaram os mais brilhantes torneios floraes, graças ao seu enthusiastico apoio.
É assim que elle tem direito ao reconhecimento de todos quantos, mais ou menos, são apaixonados pelo mundo vegetal, que ainda hoje seria, provavelmente, o que era ha meio seculo, se um Marques Loureiro não houvera apparecido entre nós.”
Jornal Horticola-Agricola, Dezembro de 1899
 
 
 
A Quinta das Virtudes passaria, em 1965, a fazer parte do património da Câmara Municipal do Porto.
Hoje, o solar alberga a Cooperativa Árvore e a quinta é o Parque Municipal das Virtudes.
 
 
 
 
 
 
A icónica “Ginkgo Biloba” da Quinta das Virtudes




Jerónimo Monteiro da Costa
 
 
Para além da sua actividade profissional, Jerónimo Monteiro da Costa ficaria conhecido por ser pai de José Monteiro da Costa, o presidente do Grupo do Destino, que seria o embrião do F. C. Porto e, ainda, porque seria em terrenos de que fazia parte a sua firma hortícola, situados na Rua da Rainha (Rua Antero de Quental) que, por amabilidade sua, haveria de surgir, por cedência, numa pequena porção de terreno afecto ao mesmo, o primeiro campo de futebol do F. C. do Porto. Estava-se no ano de 1906.
Jerónimo Monteiro da Costa havia estado associado a José Marques Loureiro (1830-1898), uma das maiores referências no sector hortícola destacando-se, como resultado daquela sociedade, a construção do Parque de Vizela, junto das suas antiquíssimas termas.
 
 
 
“Localizado no centro da cidade, o Parque das Termas foi construído entre 1885 e 1886, tendo sido delineado e plantado pelo distinto floricultor e horticultor José Marques Loureiro, proprietário do Horto das Virtudes, e pelo jardineiro paisagista Jerónimo Monteiro da Costa, autor dos jardins de Arca D'Água, do Carregal e de outros históricos jardins do Porto. Este espaço é considerado como sendo o “pulmão” de Vizela, devido à sua vasta vegetação, distinguindo-se aqui inúmeras espécies de árvores, algumas delas centenárias. Com uma vasta área de densa vegetação, este é o local ideal para passear, descansar, fazer desporto (nomeadamente ténis) ou simplesmente desfrutar da natureza no salão.”
Fonte: A Nossa Terra – Minho em mil sugestões
 
 
O desempenho de Jerónimo Monteiro da Costa vai, de facto, ser decisivo, no avanço do projecto do Jardim do Passeio Alegre.

 
 

Local onde seria instalado o Jardim do Passeio Alegre, c. 1860

 
 
Pela observação da foto acima pode concluir-se que a icónica casa do Maia, com as duas torres, começada a construir em 1855, já está acabada.
Alguns factos conhecidos como seja o pedido de licença para a construção do que veio a ser chamado de “Chalet do Carneiro”, em 1873 e, ainda, a notícia de terem sido derrubados alguns bancos e árvores no Passeio Alegre, em 18 de Março de 1875, levam a concluir que um pequeno jardim já existiria naquela data.
Antes, em 1869, já tinha por aqui sido implantado o chafariz comprado há três anos atrás, vindo do convento de S. Francisco, mas que do qual a água só brotaria, no ano seguinte.
Tudo isto nos leva a concluir que um primitivo Jardim do Passeio Alegre teve existência nesses tempos.
Aliás, a foto que se segue é ilustrativa deste raciocínio.
 
 
 

No areal, à esquerda, haveria de nascer o Jardim do Passeio Alegre – Ed. Emílio Biel, c. 1880; Fonte: gallica.bnf.fr, Bibliothèque nationale de France

 
 
Por ampliação da foto anterior, parece que o Chalet do Carneiro já existe, em destaque pela elipse, na foto seguinte.
 
 
 



Como se pode observar, na foto acima, parte da área que seria afecta ao actual jardim, ainda era uma enseada e podemos ainda constatar o que parecem ser os carris do “americano”, transporte inaugurado em 1872.
Junto da estrada, que segue em frente, em área em que parece divisar-se, tenuemente, o Chalet do Carneiro, parece existir uma faixa de terreno triangular ajardinado.
Segundo as orientações do arquitecto paisagista Jerónimo Monteiro da Costa, entre 1888 e 1892, decorreria a implantação do Jardim do Passeio Alegre, cujo projecto inicial tinha sido encomendado em 1870, pela Comissão de Banhistas, ao arquitecto paisagista alemão, Emílio David e que, entretanto, já tinha falecido.
Em Dezembro de 1888 seria, finalmente, entregue à Câmara, por portaria, os terrenos do Passeio Alegre, cedendo o Ministério de Obras Públicas quaisquer direitos que sobre eles tivesse.
Acontece, então, a conclusão dos aterros iniciais e são plantadas as árvores, que vêm de Hamburgo.
Em 1893, finalmente, são adjudicadas as obras para conclusão dos aterros de toda a área.
O jardim irá crescer, então, para as dimensões actuais.
 
 
 

Jardim do Passeio Alegre, c. 1900
 
 
 
 

Perspectiva do Jardim do Passeio Alegre, c. 1940
 
 
 
Jerónimo Monteiro da Costa seria, em 1897, já na qualidade de Director dos Jardins Municipais do Porto, ainda, o responsável pelo projecto de concepção e a respectiva execução dos Jardins do Carregal ou Jardim de Carrilho Videira.
Mais tarde, já em pleno século XX, em 1928, seria inaugurado o Jardim de Arca D'Água, na Praça 9 de Abril, também projectado por Jerónimo Monteiro da Costa e caracterizado pelos seus 22.000 m2 onde, entre diversas árvores frondosas, se destacam um magnífico conjunto de magnólias que envolvem o seu coreto.
 
 
 
 
 
Alfredo Moreira da Silva
 
 
Alfredo Moreira da Silva (Grijó, 1859 – 1932) começou a trabalhar na Quinta das Virtudes, no Porto, sob orientação de José Marques Loureiro. Já na posse dos conhecimentos que pensou serem necessários para se abalançar num negócio próprio, aluga em Grijó, em 1894, no Largo da Senhora da Graça (lugar de Corveiros), uma quinta, para aí construir um viveiro, expandindo o seu negócio para a cidade do Porto, logo no ano seguinte, onde se estabelece num pequeno estabelecimento.
O crescimento do negócio vai permitir que arrende, em 1911, a Quinta da Pena, em Perosinho e, mais tarde, a Quinta da Revolta, em Campanhã, passando então a deter um dos maiores hortos agrícolas da Península Ibérica.
À pequena loja primitiva, situada em Cedofeita, próximo de onde haveria de ser implantada, muitos anos mais tarde, a igreja paroquial de Cedofeita, em virtude dos primeiros trabalhos para a construção daquele templo, foi mudada para instalações, em 1899, passando a ocupar um estabelecimento mais moderno, com um horto anexo, na Rua do Triunfo, hoje D. Manuel II, mesmo em frente ao Palácio dos Carrancas (Museu Soares dos Reis).
No fim do dia 8 de Novembro de 1908, após a chegada à cidade para uma visita de alguns dias, o rei acenou da varanda do Paço dos Carrancas aos milhares de pessoas.
À noite, chovia a cântaros, mas a multidão assistiu ao espectacular fogo-de-artifício lançado do horto de Alfredo Moreira da Silva.
 
 
 

Entrada do horto de Alfredo Moreira da Silva
 
 
 

Interior do horto de Alfredo Moreira da Silva



Loja de Moreira da Silva & Filhos, em 1933, na Rua D. Manuel II


 
Em 17 de Julho de 1916, os jornais da época davam conta de um banquete oferecido por Alfredo Moreira da Silva & Filhos, na Quinta da Pena, a Perosinho, à imprensa portuense, na qual foram anfitriões Albano Moreira da Silva e sua esposa, Ana Carvalho da Silva.
O Jardim do Morro, levantado em 1927, é uma obra atribuída a Alfredo Moreira da Silva.

 
 

Jardim do morro, junto da saída superior da ponte Luís I, em V. N. de Gaia
 
 
 
Os jardins do Parque da Quinta das Devesas, uma referência no cultivo e exibição de camélias, apresentam uma variedade criada por Alfredo Moreira da Silva (1902-1971), neste caso, um neto do iniciador do negócio, com o mesmo nome do seu conhecido avô, que acabou, assim, por imortalizar.
 
 
 

Placa identificativa referente à firma Alfredo Moreira da Silva & Filhos, existente no Jardim das Camélias do Parque da Quinta das Devesas

 
 

Camélia Maria Manuela – Fonte: Placa identificativa referente à firma Alfredo Moreira da Silva & Filhos, existente no Jardim das Camélias do Parque da Quinta das Devesas


 
Alfredo Moreira da Silva não poderia sonhar que, passado mais de um século, a sua empresa existiria ainda nas mãos dos seus descendentes.
Assim, o negócio de Alfredo Moreira da Silva seria continuado com sucesso pela família até aos dias de hoje. A empresa “Viveiros Alfredo Moreira da Silva & Filhos Lda.” continua a deter os hortos da Quinta da Revolta e de Grijó, assim como outros nos concelhos de Mira e Coimbra, mantendo a conhecida divisa da empresa, "Plantai as nossas árvores e colhereis os melhores frutos."


(Continua)