terça-feira, 5 de setembro de 2023

25.201 Elevador da Calçada das Freiras

 
Calçada das Freiras em meados do século XIX


Calçada das Freiras e, por uma nesga, vê-se o rio Douro, c. 1910




 
Projecto de 1873 do Elevador, entre o rio Douro e as Devesas

 
 
“Esquema do elevador da Calçada das Freiras (hoje chamada Rua de Serpa Pinto), em Vila Nova de Gaia, 1873.
O desenho foi de Raul Mesnier de Ponsard (1848-1914), engenheiro natural da cidade do Porto e ligado a vários projetos de construção de caminhos-de-ferro de cremalheira que existiram em Portugal. O elevador gaiense era puxado por uma locomotiva a vapor e utilizava uma cremalheira para subir a íngreme calçada das Freiras, entre o cais de Gaia e a estação ferroviária das Devesas.
Era muito usado para transportar barris de vinho do Porto entre os armazéns e o cais da Cruz, para além de incluir uma carruagem destinada a passageiros. A linha tinha uma extensão de 750 metros, começou a operar a 17 de abril de 1882 e foi desativada no início da década de 1950”.
Fonte: “portoarc.blogspot.pt”
 
 
 

Aviso sobre funcionamento do Elevador


 

Postura Regulamentar do Elevador da Rua Serpa Pinto, em 1900


 

Calçada das Freiras, hoje, Rua Serpa Pinto, c. 1900. São visíveis os trilhos do Elevador – Ed. Foto Guedes
 
 
 
 

Lateral do Convento na antiga Calçada das Freiras. Os carris são do Elevador, em 1939

 
 

Calçada das Freiras, observando-se os trilhos do elevador, c. 1930
 
 
 
 
Na foto acima, observam-se os armazéns de vinho da González Byass que, depois de 1979, foram Porto Vasconcellos, na Calçada das Freiras (hoje, a Rua de Serpa Pinto), em Vila Nova de Gaia.
O elevador circulou desde o Cais de V.N. de Gaia até às Devesas e, popularmente, era conhecido por elevador da CUF, por levar, também, mercadorias até à Companhia União Fabril (CUF), ao cimo da Calçada das Freiras. 
Em Março de 1961, a C.M. de V. N. de Gaia anuncia que os carris e a cremalheira, do Elevador da Calçada das Freiras, seriam levantados. 
 

 

sábado, 2 de setembro de 2023

25.200 A demolição do Palácio de Cristal

Sobre o edifício do Palácio de Cristal, é a descrição feita pela escritura/aristocrata inglesa Lady Catharina Carlota Jackson, no livro “A Formosa Lusitana” (1877), na sequência de uma visita em 1873, e que a seguir se faz referência.
 
 


 
 
Para lá do edifício do Palácio de Cristal chamavam a atenção os jardins circundantes.
Em 1866, a Sociedade Gestora do Palácio de Cristal contratou um trompetista húngaro de apelido Holly para formar e dirigir a Banda Marcial do Palácio de Cristal, aos fins-de-semana e aos Domingos à tarde no Coreto e na Concha Acústica.
Antes, para ocupar o cargo de organista residente, foi contratado, em Paris, Charles-Marie Widor.
Em 1868, uma sala de leitura, das referidas no texto acima, já tinha sido transformada num teatro – o Teatro Gil Vicente. Esta sala de espectáculos vai ser a preferida da colónia britânica e, a partir de 1883, do Orpheon Portuense.
Em 1915, colocou-se a hipótese de venda do Palácio de Cristal à Câmara Municipal do Porto, o que não se concretizaria.
Em 21 de Fevereiro de 1916, seria assinada, no cartório do Dr. António Mourão, a escritura de arrendamento do Palácio de Cristal, pelo prazo de 19 anos, a uma parceria de que eram directores César Ramos e Romualdo Torres, este, último, um conhecido jogador de futebol do Futebol Clube do Porto.
Finalmente, durante a presidência (1933 a 1936) da Comissão Administrativa da Câmara do Porto por parte do Dr. Alfredo de Magalhães, o Palácio de Cristal foi comprado pela edilidade.

 
“Somando sucessivos prejuízos, não foi vendido á C. M. do Porto em 1915 por forte influência do Conde de Samodães. Até que em 9 de Fevereiro de 1934 esta o comprou por 2.000 contos, na esperança de o dinamizar e fazer mais exposições importantes, o que nunca aconteceu. Continuavam-se a fazer bailes de Carnaval e S. João e festas várias. Era então Presidente o Dr. Alfredo de Magalhães. Até que se anunciou o Campeonato Mundial de Hóquei em Patins de Junho de 1952. Por insistência do Delegado no Norte da Direcção Geral dos Desportos, Mário de Carvalho, logo se pensou realiza-lo no Porto. Mas cá não havia recinto e em Lisboa o que havia só continha 5.200 lugares, o que era considerado muito pouco. Após uma acesa luta política entre Porto e Lisboa e mesmo dentro na nossa CMP, presidida por Licínio Presa, foi decidido deitar abaixo o Palácio de Cristal, na reunião de 18/12/1951, embora a votação e aprovação final só tivesse sido conseguida em 9/1/1952. Porém, o antigo palácio já estava a ser demolido desde as 8 h da manhã do Domingo (?) 16/12/1951 e estava completamente desfeito, excepto a frontaria, em 6 de Janeiro seguinte!”
Engº. Francisco de Almeida e Sousa, In O Tripeiro, 7ª. Série, Ano XX, Nº. 12; Fonte: “portoarc.blogspot.pt
 
 
 
As polémicas que precederam a demolição do Palácio de Cristal foram muitas.
Mário de Carvalho (Delegado no Norte da Direcção Geral dos Desportos) diz que os tempos que se viviam eram de modernidade e avaliza a demolição e há quem tente que a “Mama”, como ficaria conhecida à época o actual pavilhão, fosse construído noutro local, como advogavam o Prof. Hernâni Monteiro e o vereador Pinheiro Torres.
Acontece que, já alguns anos antes, quando se começou a colocar a hipótese de deitar por terra o Palácio de Cristal, o arquitecto Artur Andrade apresentou dois projectos que não tiveram aceitação, dizia-se, por razões políticas, em 1946 e 1948.



 

Projecto de Artur Andrade para o Pavilhão dos Desportos, em 1946
 
 
 

Projecto de Artur Andrade para o Pavilhão dos Desportos, em 1948
 
 
 
 
O Pavilhão dos Desportos, que depois seria baptizado como Pavilhão Rosa Mota, é um projecto do arquitecto José Carlos Loureiro que nele tinha previsto levantar outras construções que, por derrapagem do orçamento, ficaram para sempre no papel.
Entretanto, a demolição do Palácio de Cristal iria decorrer em ritmo acelarado para que tivesse lugar o campeonato do mundo de hóquei em patins.
O campeonato começaria em 29/6/1952, mas o novo pavilhão ainda estava por acabar. Foi disputado a céu aberto. A frontaria do Palácio de Cristal ainda estava de pé!
Devido à chuva, que cairia durante dois dias, uma jornada da prova realizar-se-ia em Matosinhos, num armazém adaptado para o efeito.
Portugal sagrou-se Campeão do Mundo ao ganhar à Itália na final por 4-0.
O pavilhão só ficaria completamente pronto, exibindo a sua abóboda, em 10 de Outubro de 1956, e levando a efeito uma Exposição Agrícola, 100 anos depois de uma outra que ocorreu em terrenos da Torre da Marca situados nesse mesmo local.

 
 

Novo Pavilhão dos Desportos, sem a abóboda, em 1952 e visível, ainda de pé (à esquerda), a fachada do antigo Palácio de Cristal
 
 
 

Selos comemorativos do campeonato de Hóquei em Patins de 1952

 
 

Em 1952, a Selecção de Hóquei em Patins: Raio, José Dias, Correia dos Santos, Cruzeiro e Emídio Pinto

 
 

Demolição do interior do Palácio de Cristal

 
 

Demolição do Palácio de Cristal


 

Fim dos trabalhos de demolição do Palácio de Cristal

quinta-feira, 6 de julho de 2023

25.199 TELEBANCO e “Cupertino de Miranda & Cia”

O Banco Português do Atlântico foi a primeira grande instituição bancária do nosso país, tendo aparecido com este nome no final de 1942, resultando da experiência, primeiro, da casa bancária “Cupertino de Miranda & Irmão Lda”, que existia desde 14 de Maio de 1919, com um capital de 100 contos e duma outra que lhe sucedeu, desde 30 de Abril de 1931, a “Cupertino de Miranda & Cia”, registada na conservatória da cidade a 8 de Maio de 1931 e que viria a granjear uma excelente reputação.
Na casa bancária “Cupertino de Miranda & Irmão Lda”, inicialmente, os dois irmãos (Artur Cupertino de Miranda e o Dr. Augusto Cupertino de Miranda, que chegou a desempenhar o cargo de Presidente da Comissão Administrativa da Câmara Municipal do Porto, entre 29 de Junho e 15 de Agosto de 1918) ficaram cada um com 30% e os restantes 40% (40 contos) são subscritos pelo Banco Popular Português.
Nos cerca de dois anos seguintes, a “Cupertino de Miranda & Irmão Lda” manteve o “Banco Popular Português”, que se tinha fundado, no Porto, em de 9 de Abril de 1917, como accionista.
A 4 de Fevereiro de 1921, Artur Cupertino de Miranda adquire aquela quota de 40% e, em 1922, faz a doacção de parte da quota primitiva a seu filho Artur Luís Cupertino de Miranda e compra a quota do seu irmão ficando, pai e filho, como únicos accionistas de “Cupertino de Miranda & Irmão Lda”.
Em 14 de Outubro de 1922, é efectuado um aumento de capital à sociedade e a sede é fixada na Rua de Sá da Bandeira.
Entram como novos sócios: José de Almeida Cunha, Almeida Cunha, Irmãos & Cia, Francisco da Silva Marinho, Klaus Stefnanson Jervell, Augusto Marques da Silva Júnior e Joaquim Fonseca. 





Título de 1917 da fundação do Banco Popular Português
 
 
 
Por sua vez, as primeiras tentativas de fundação do Banco Popular Português datam de 1916, quando em 15 de Abril (data do decreto) Crispim Nunes da Costa consegue autorização do governo para tal empreendimento.
Devido a dificuldades de realização do capital exigido por lei, só a 13 de Janeiro de 1917, o governo renovava a autorização concedida, anteriormente, mas só a 9 de Abril era lavrada escritura pública de constituição de sociedade anónima no 14.º Cartório Notarial do Porto, nas notas de Artur Cardoso Pinto Osório.
Logo após a sua fundação tornaram-se agentes do banco os instaladores de Braga, Aveiro, Viseu, Guarda, Coimbra, Covilhã, Santarém, Lisboa e Faro.
Sobre o Banco Popular Português,

 
“Estava sedeado no Porto, na freguesia da Sé, na Rua do Loureiro, n.ºs 46 a 50, à direita da Estação de São Bento. Nas glosas d’O Tripeiro (VI série, ano VIII, n.º 6, Junho de 1968), é referido que em 11 de Junho de 1918 o banco se mudou para o prédio da Praça da Liberdade onde se localizava o Café Suíço (na esquina da actual Rua de Sampaio Bruno com a Praça de D. Pedro). Contudo, a verdade é que só em 1923 se iniciaram negociações tendo em vista a instalação definitiva do banco naquela morada. É provável que o Popular Português tenha ali criado um escritório, mas é de todo impossível que tenha abandonado a sede na Rua do Loureiro, já que em 1928 ainda lá se encontrava”.
Cortesia de Hugo Silveira Pereira, Investigador no CITCEM – FLUP
 
 
 
 
Para lá da ligação, breve, com “Cupertino de Miranda & Irmão Lda” e de um portefólio de acções e títulos de dívida dos estados português, francês, brasileiro, inglês, argentino, italiano e alemão, de companhias ferroviárias e da CUF e muitas acções de bancos, fábricas diversas, moagens, agrícolas, energéticas, transportadoras e metalúrgicas detinha ainda a maioria das acções da Companhia Metalúrgica do Norte (empresa que auxiliou financeiramente), sociedade na casa Justino Pinto de Oliveira & C.ª Lda., investimentos na Moagem Harmonia, Sociedade de Vidago e Pedras Salgadas e Fábrica de Tecidos Avenida, Lda., o Banco Popular Portuguez fundaria a Sociedade de Turismo do Porto.
A Sociedade de Turismo do Porto foi, então, fundada em 28 de Outubro de 1919 pelo Banco Popular Português, Banco do Minho e José Augusto Dias F.º & C.ª, com um capital de 1 260 contos e sede na Rua do Loureiro, propondo-se a explorar a indústria turística em Vila do Conde e Póvoa de Varzim, construindo casinos, casas de espectáculo, hotéis, sanatórios e balneários e financiando a construção de jardins, parques e campos de jogos.
Em 1928, o Banco Popular Português acabaria por encerrar as suas portas, soçobrando perante a vaga de turbulência especulativa acontecida no sector bancário iniciada em 1918 e a crise que se seguiu entre 1920 até 1925, sendo vítima da selecção natural, estando neste ano representado em 107 localidades.



Publicidade ao Banco Popular Português



Em Agosto de 1925, foram cancelados os pagamentos em virtude do agravamento da situação económico-financeira da praça do Porto e do pânico que se apoderou dos depositantes do banco após igual medida ser tomada pelo Banco Comercial do Porto.
Nos meses que se seguem é tentada a refundação do banco, mas, em 1928, procede-se à sua liquidação, como era anunciado pelo jornal "O Commercio do Porto" de 10 de Junho de 1928.







O Conselho de Administração, que encerrou as portas do Banco Popular Português, era composto por: Francisco Augusto Pinto Félix, Jaime Rodolfo Novais e Silva, José Mariano de Azevedo de Figueiredo e António Eduardo Ferreira Barbosa Júnior.
Em 23 de Novembro de 1944, o Banco Popular Português estava extinto.
Entretanto, a “Cupertino de Miranda & Irmão Lda” seguia o seu caminho.



Publicidade, em 1925
 
 


Publicidade, em 1928
 
 
 
Em 1931, surge então, a “Cupertino de Miranda & Cia” que vai, para além de exercer a actividade bancária na cidade do Porto, estendê-la para Famalicão, por solicitação da Associação Comercial e Industrial, para tomar o lugar da encerrada “Brandão & Cia”.
A agência famalicense vai abrir em Julho de 1931.
Nos finais de 1937, abriria a agência da Póvoa de Varzim.
Então, já a actividade se estendia até ao Brasil.
 
 
 

Publicidade em 16 de Novembro de 1938
 
 
 
 

Publicidade a “Cupertino de Miranda & Cia”, na Rua de Sá da Bandeira


 
 

No prédio, em 1º plano, esteve “Cupertino de Miranda & Cia” – Fonte: Google maps

 
 

“Cupertino de Miranda & Cia”, na Rua de Sá da Bandeira
 
 
 
 
Em 1942, chega ao fim a actividade “Cupertino de Miranda & Cia” e, a partir de 30 de Dezembro de 1942, passa a ser “Banco Português do Atlântico.
O Banco Português do Atlântico acabaria por mudar para a Praça de D. João I, após a inauguração do icónico edifício da cidade do Porto denominado Palácio Atlântico, inaugurado em 6 de Janeiro de 1951.
Artur Cupertino de Miranda (Vila Nova de Famalicão, Louro, 15 de Setembro de 1892 — Lisboa, 13 de Julho de 1988).
Artur Cupertino de Miranda nasce na Quinta de Felgueiras, no seio de uma família de abastados lavradores, sendo o mais novo de quatro irmãos, José, Augusto, António e Artur. Casa com 19 anos com Alzira Celeste Maya de Cupertino de Miranda (1892 – 1978) e fixa residência no Porto.
 
 
 

O Palácio Atlântico e a Praça D. João I ainda sem as estátuas equestres
 
 
 
O Banco Português do Atlântico lançaria o Telebanco na Praça D. João I, inaugurado em 20 de Dezembro de 1965.
Nesse ano a publicidade anunciava “Vá ao Banco sem sair do seu carro”. 
A primeira pessoa a utilizar o serviço foi o presidente do banco, Cupertino de Miranda, acompanhado do chefe da PSP coronel Santos Júnior e do engº Arsénio da Fonseca da Câmara Municipal do Porto.
O Telebanco era uma caixa automática que permitia fazer depósitos e levantar cheques sem sair da viatura e sem o contacto directo com o funcionário, que dialogava por intermédio de um ecrã do telebanco, sendo os objectos movimentados dentro de cápsulas, através de tubagens pneumáticas, entre a sede bancária e os clientes à velocidade de 5 metros por segundo.

 
 

Instruções para o funcionamento do Telebanco



 

O Telebanco haveria de funcionar, na Praça D. João I, entre as estátuas equestres



 

Cupertino de Miranda inaugurando o serviço de Telebanco, em 1965



 

Cliente do Telebanco
 
 
 
Entretanto, em 15 de Agosto de 1963, Artur Cupertino de Miranda já tinha instituído, juntamente com a sua mulher, uma fundação com o seu nome, a “Fundação Cupertino de Miranda”, sedeada em Vila Nova de Famalicão, com fins de educação, cultura e assistência.
Após a morte de sua mulher, Artur Cupertino de Miranda vai viver para Lisboa, onde virá a falecer em 1988.
“Fundação Cupertino de Miranda”, que ainda cumpre o destino que lhe foi traçado, foi dotada de um museu, de uma biblioteca e de um auditório, de forma a desenvolver actividades de promoção e divulgação de iniciativas culturais várias.
De acervo riquíssimo, fruto de doações de diversas origens, destaca-se em lugar de destaque muitas obras de arte moderna e contemporânea. 
O engenheiro João Meireles e a sua mulher ofereceram um conjunto de obras representativas do surrealismo da colecção de Cruzeiro Seixas. 
Para além da vertente cultural, a “Fundação Cupertino de Miranda” tem, também, uma actividade de assistêncial social diversa, de que se destaca a construção, na freguesia do Louro, da creche-jardim de infância D. Alzira Cupertino de Miranda.

 
 
 

Fundação Cupertino de Miranda no centro de Vila Nova de Famalicão
 
 
Após o 25 de Abril de 1974, durante a vaga de nacionalizações, o Banco Português do Atlântico absorveu o “Banco Fernandes Magalhães” (Porto) e o “Banco do Algarve”.
Em 30 de Junho de 2000, viria a ser incorporado no “Banco Comercial Português”, que tinha sido fundado, no Porto, em 25 de Junho de 1985.

domingo, 2 de julho de 2023

25.198 Leitaria da Quinta do Paço – Uma história pouco conhecida

 
 
Muitos de nós já provamos ou ouvimos falar nos éclairs da Leitaria da Quinta do Paço, situada na  Praça Guilherme Gomes Fernandes que, antes, foi Praça de Santa Teresa e Praça do Pão.
O que muitos desconhecem é que a Leitaria da Quinta do Paço, da família Aranha Furtado de Mendonça, era uma fábrica de lacticínios da freguesia de Eiriz, Paços de Ferreira e, desde 1920, produzia e embalava, em instalações próprias, quantidades importantes de leite e outros produtos lácteos (manteiga, queijo e chantilly), que eram também distribuídos na cidade do Porto, através de um inter-posto que existia na Rua da Ribeira Grande, ao Amial, na freguesia de Paranhos.
Alexandre da Silva Moreira Aranha Furtado de Mendonça foi o grande impulsionador da leitaria. Nascido a 12/11/1895, em Santa Maria de Sobrado / Castelo de Paiva / Aveiro, era licenciado em Agronomia, chegando a ser Presidente da Secção de Lacticínios da AIP.
Em funções políticas, foi Vereador e Presidente da Câmara Municipal de Paços de Ferreira, Procurador ao Conselho Provincial do Douro Litoral e, ainda, Procurador à Câmara Corporativa.



 

A Fábrica da Leitaria da Quinta do Paço, em Paços de Ferreira



 

As leiteiras regressam à Fábrica, em Paços de Ferreira, já com as garrafas de leite vazias - foto: © Leitaria Quinta do Paço



Interposto da Leitaria da Quinta do Paço, na Rua da Ribeira Grande, em 1960


 
As leiteiras da Leitaria da Quinta do Paço após a distribuição, na Rua de Armando Cardoso, já próximo da Rua da Ribeira Grande
 
 
 
Naquela época, a Leitaria da Quinta do Paço afirmou-se no mercado como a primeira empresa do sector a distribuir leite pasteurizado, em garrafas de vidro, numa altura em que a distribuição era feita em bilhas, que as vendedoras do Porto transportavam à cabeça.
Ano após ano, foi ganhando fama e impondo a qualidade dos seus produtos, gozando de uma fama que se mantém até hoje.
A manteiga com sal, vendida ao peso, na embalagem de papel vegetal, continua a ser um clássico, bem como os queijos e o chantilly.
O chantilly depressa ganhou fama, ao ser vendido ao balcão da sua loja no Porto, em saquinhos de papel encerado, tendo protagonizado nos anos cinquenta, aquilo que viria a ser o ex-líbris da marca: o Éclair com cobertura de chocolate.
Foi, também, a empresa que lançou os yogurtes, sendo que as embalagens (potes), originalmente, eram fabricadas na Fábrica de Louças de Sacavém.
 

 
 
Yogurte da Leitaria da Quinta do Paço em pote da F. Louças de Sacavém

 
 

Loja da Fábrica de Loiça de Sacavém, na Rua das Carmelitas, 40
 
 
 

Uma “excursão do pessoal” da empresa, em 1951, à loja da Baixa, que ainda hoje se mantém - foto: © Leitaria Quinta do Paço


 
Presentemente, a leitaria tem várias lojas: Norte-shoping, Mercado do Bom Sucesso, Baixa da cidade do Porto, Vila do Conde e, ainda, duas outras em Lisboa.
A Leitaria da Quinta do Paço seria percursora na comercialização e fabrico de produtos derivados do leite.  



Publicidade, em 1941, In "Revista Panorama", nºs 5 e 6



Sabe-se que, na década de 60 do século passado, começaram a ser impostas algumas restrições à distribuição de leite, tendo aparecido as cooperativas obrigando, assim, a fábrica modernizar-se. 
A distribuição primitiva feita por leiteiras, porta a porta e munidas com um canado, que se observa na foto abaixo, seria de vez abandonada.
O "canado" era uma vasilha de lata em que as leiteiras dos arredores do Porto transportavam o leite para a cidade.


 

Leiteira distribuindo o leite com um canado

segunda-feira, 26 de junho de 2023

25.197 Firmino Pereira e a Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto

 
Desde a sua fundação, em 1882, a Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto (AJHLP) teve várias moradas até se fixar, finalmente, na actual, numa rua que tem o nome de um distinto jornalista – Rodrigues Sampaio.
Os seus estatutos foram redigidos em 1885, por Sampaio Bruno.
 
 
 

Percurso encetado pela Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto, até se instalar na morada que hoje ocupa - Fonte: revista "O Tripeiro, série VIª, 2º Ano, pag. 43




A Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto foi, então, constituída a partir de uma reunião de jornalistas, a convite dos redactores de O Comércio do Porto, realizada na noite de 20 de Setembro de 1882, na Sociedade de Geografia Comercial, na Rua Formosa, no Porto. Nessa reunião, foram aprovadas duas propostas: uma, destinada a nomear uma comissão para “promover uma condigna manifestação de sentimento pela morte do ilustre jornalista António Rodrigues Sampaio e que promova uma subscrição para se instituir um prémio que, na escola de instrução primária de S. Bartolomeu do Mar, seja anualmente conferido ao aluno que mais se distinguir na mesma aula”; outra, a sugerir que, na sequência da comemoração da morte “do ilustre decano da imprensa portugueza, se lancem as bases de uma Associação de Jornalistas, que tenha por um dos seus fins principais a creação de um montepio destinado a socorrer as famílias dos jornalistas que faleçam em circunstâncias precárias”.
Menos de um mês decorrido sobre a referida reunião, mais precisamente no dia 13 de Outubro de 1882, no salão nobre do Teatro Príncipe Real, decorreu a instalação solene da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto, tendo-se registado, desde logo, a inscrição de 35 sócios. Durante a cerimónia, foram registados vários apoios, entre os quais se destaca: o do dr. Soares Franco, a oferecer os seus serviços médicos aos membros da Associação; e do jornalista e professor António José da Silva Reis, a oferecer-se para ministrar, gratuitamente, o ensino das línguas francesa e inglesa aos filhos dos associados. “Foi assim que, para honrar a memória de António Rodrigues Sampaio, insigne jornalista portuguez, benemérito da pátria e da liberdade, se instituiu no Porto, no trigésimo dia do seu passamento, a Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto”.


 
 
 

Palacete do conde da Trindade, ao centro, c. 1919, na Praça Carlos Alberto, onde esteve (1896 a 1906) a AJHLP, dividindo instalações alugadas com o Centro Comercial do Porto
 
 
 

Para lá dos Grandes Armazéns do Chiado (exibindo as bandeiras), já em plena Praça Santa Teresa, o prédio no qual a AJHLP dividia instalações com o Centro Comercial do Porto


 
Firmino Pereira (Porto ??? – Porto, 17 Março de 1918), um reputado jornalista, exerceria, durante alguns anos, o cargo de primeiro secretário da Direcção da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto.
Firmino Pereira deixou-nos uma obra de leitura obrigatória para quem se interessa pela história da cidade do Porto, tendo sido, ainda, para além de escritor, jornalista, crítico de arte e teatrólogo. Usou o pseudónimo F. P..
Como escritor Firmino Pereira escreveu “O Cerco do Porto”, “A Glória de Portugal”, “A Primeira Nuvem”, mas a sua obra emblemática é aquela em que traça uma panorâmica do Porto da 2ª metade do século XIX – O Porto d’outros tempos”.






A quinzenal folha portuense “O Bombeiro Portuguez”, de 1 de Fevereiro de 1882, dá conta da actividade teatróloga de Firmino Pereira, durante um espectáculo oferecido por amadores aos sócios da Associação dos Bombeiros Voluntários do Porto, que teve lugar no fim do mês de Janeiro, daquele ano, no Teatro Gil Vicente, ao Palácio de Cristal.

 
 


 
 
Cerca de dois anos antes, a mesma revista, “O Bombeiro Portuguez”, de 1 de Setembro de 1880, informava sobre as comemorações do primeiro lustro da existência da Real Associação Humanitária Bombeiros Voluntários do Porto, entre os dias 25 e 29 de Agosto de 1880.
Para narrar o sarau acontecido no dia 27 de Agosto, no Teatro Gil Vicente, do Palácio de Cristal, socorria-se, para o efeito, do material publicado no jornal “A Actualidade”, no qual era feita referência à peça exibida, da autoria de Firmino Pereira, intitulada “ A Primeira Nuvem”.
A festa começou com a execução do hino dos bombeiros voluntários.
 
“Às 8 horas e meia a orchestra da sociedade dramática de amadores Luz e Caridade, que generosamente se prestou a abrilhantar a festa, executou o hymno dos bombeiros voluntários, composição do sr. Douwens, inteligente director da banda de infantaria 10”.
In jornal “A Actualidade”

 
Sobre aquela peça teatral, dizia a referida revista “O Bombeiro Portuguez”:

 
 
In revista “O Bombeiro Portuguez”, de 1 de Setembro de 1880  (Cit. jornal “A Actualidade”)




A foto abaixo (tirada no Bom Jesus do Monte, em Braga) apresenta Firmino Pereira na qualidade de repórter, durante uma visita do rei Luís I ao norte de Portugal, estando também representados os enviados de diversos jornais de Lisboa e Porto que cobriram o acontecimento.



 
 
A meio, de pé, Firmino Pereira
 
 

A seguir, se dá conta de uma notícia publicada no nº 3 do jornal semanário "O Imparcial", sobre uma reunião, na qual Firmino Pereira desempenhou o cargo de secretário, acontecida na Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto, no mês de Outubro de 1899, em plena pandemia de peste bubónica vivida na cidade.









O semanário “O Imparcial”, que teve uma existência breve, tinha a sua administração e redacção na Praça D. Pedro, nº 95, em instalações contíguas às do "Restaurante Porto", cujo chão é hoje ocupado pela agência do Banco de Portugal.
Na qualidade de jornalista, Firmino Pereira exerceu a actividade no “Commercio Portuguez”, n’ “A Actualidade” e n’ “A Lucta”.
O “Commercio Portuguez” estaria nas bancas entre 1876 e 1890, “ A Actualidade” entre 1874 e 1891 e “A Lucta”, entre 1874 e 1890.
 
 
 
«Com efeito, a Actualidade, apesar de ter um carácter independente, “serviu mais ou menos a política regeneradora”. O primeiro número saiu a 1 de Fevereiro de 1874, sendo seu director e proprietário Anselmo Evaristo de Moraes Sarmento e tendo como redactores Elvino José de Sousa, Alfredo de Matos Angra, José Caldas, Júlio Caná, Firmino Pereira e “outros jornalistas da velha guarda”. Era considerado “um dos melhores jornais diários que o Porto tem possuído”, tendo cessado a sua publicação em 31 de Julho de 1891, e sido substituído pelo Ideia Nova. Refira-se igualmente que os números deste jornal, por nós consultados e respeitantes aos anos de 1890 e 1891, não manifestam qualquer hostilidade para com Alves da Veiga e os restantes revoltosos do 31 de Janeiro, facto a que não será alheia a pretérita colaboração do izedense neste periódico portuense.
Vide a este respeito, «Jornais da minha terra; subsídios para uma História do jornalismo portuense”, O Tripeiro, 2ª Série, n.º2, Porto, 15 de Janeiro de 1919, p.41».
Cortesia de Guilherme Martins Rodrigues Sampaio (Tese de mestrado da U.L. Departamento de História – 2009)



 
Capa d’ “O Sorvete” (revista humorística), Nº 312, 7º Ano, Porto, 4 de Maio de 1884. Firmino Pereira anuncia a sua saída do jornal “A Lucta”, diz: - A chronica? Morreu! Sahí da “Lucta”



 
No fim do ano de 1897, Firmino Pereira viria a tornar-se um funcionário público.
Assim, em 23 de Outubro de 1897, foi nomeado para exercer interinamente o cargo de secretário da Administração do 1º Bairro do Porto, cargo que, pouco depois, se tornou definitivo.
O Decreto de 21 de Outubro de 1868 modificou a divisão geográfica e administrativa do concelho do Porto, sendo criados o Bairro Oriental (1.º Bairro) e o Bairro Ocidental (2.º Bairro).
O Bairro Oriental ou 1º Bairro compreendia as freguesias do Bonfim, Campanhã, Santo Ildefonso, Paranhos e Sé.
Faziam parte do Bairro Ocidental (2.º Bairro) as freguesias de Cedofeita, Foz do Douro, Lordelo do Ouro, Massarelos, Miragaia, São Nicolau e Vitória. A partir de 1895, as freguesias de Aldoar, Nevogilde e Ramalde, anexadas ao concelho do Porto, passam a integrar o Bairro Ocidental, de acordo com o decreto de 21 de Novembro desse ano.
A Lei n.º 8/81, de 15 de Junho de 1981, extinguiu as administrações dos bairros, passando a Câmara Municipal do Porto a assumir as suas competências. O Município do Porto criou para o efeito a Repartição Administrativa Oriental, no seguimento da Ordem de Serviço da Presidência nº 438/82.

 
 

Firmino Pereira, c. 1898 – Ed. Foto Guedes; Fonte: AHMP

 
 
 Na época natalícia do ano de 1914, no jornal “O Primeiro de Janeiro”, nos dias 24, 25, 27 e 30 de Dezembro, Firmino Pereira publica uns artigos sob o título «O Natal na Igreja, no Teatro e na Rua».
O texto que se segue é de um seu amigo, Emídio de Oliveira, constituindo um elogio fúnebre ao Firmino Pereira, que terá partido, sem o amparo dos seus.



 
 
Jornal “República” de 30 de Março de 1918
 
 
 
Voltando à história da AJHLP, era costume todos os anos a AJHLP levar a cabo um festival num dos teatros da cidade. Foi o caso do acontecido em 1902, a seguir narrado.
 
 
 
In jornal “A Voz Pública” de 28 Fevereiro de 1902, pag. 2
 
 
 
 
Durante os anos que se seguiram foram várias as acções para recolha de fundos que permitissem o levantamento do edifício próprio da AJHLP.





Sarau de ópera a favor da AJHLP, em 8 Fevereiro de 1907
 
 
 
Finalmente, em 1916, o Presidente da República, Bernardino Machado lançava a primeira pedra para o novo edifício da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto (AJHLP).

 
 
 

Lançamento da 1ª pedra da Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto, em 1916, com a presença do chefe do Estado Bernardino Machado, acompanhado por Afonso Costa, António Loureiro Dias e José Barros Júnior



No dia 13 de Outubro de 1921, a Associação assinalou 39 anos de existência, e foi então que um grupo, auto denominado “Velhada do Jornalismo Tripeiro”, decidiu conjugar esforços para reconstituir quase meio século da vida portuense, no que aos jornais e jornalistas diz respeito. Reconstituição que culminou na publicação, em 1925, da obra “Os Jornalistas do Porto e a sua Associação”, compilada por Luiz Ferreira Gomes, quatro anos após ter sido lançada a ideia de reunir testemunhos de reconhecida idoneidade, como: Alfredo de Matos Angra, Catão Simões, José António de Souza Moreira, António Maria Lopes Teixeira, Marcos da Silva Nunes Guedes, Alberto Bessa, Júlio de Oliveira e Henrique António Guedes de Oliveira. E é com base nestes preciosos testemunhos que é descrito, com grande minúcia, “como eram feitos os jornaes há cincoenta anos” (finais do séc. XIX e início do séc. XX), desde os tempos de predomínio de O Primeiro de Janeiro (1871) e O Comércio do Porto até ao aparecimento do Jornal de Notícias (1879), após uma fracassada experiência como título de uma gazeta que durou pouco mais de um ano. Eram os três jornais diários da cidade do Porto que tinham as suas posições consolidadas.
No ano de publicação daquela obra falecia, no Porto, o jornalista Marcos Guedes, um dos mais entusiastas servidores da Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto.
 
 
“Marcos da Silva Nunes Guedes (Poiares da Régua, 30/4/1858-Porto, 1925). Poeta, director literário d’O Sorvete, jornalista, redator d’ O Primeiro de Janeiro – durante 29 anos; colaborador d’O Século; com Guedes de Oliveira fundou a Tipografia Guedes. Correspondente do Correio da Manhã do Rio de Janeiro – cf. Cor­reio da Manhã. Ano IV, n.º 1.125. Rio de Janeiro: 12 de Julho de 1904, p. 3, col.as 1 e 2). O Sorvete. N.º 108, 14.º Ano. Porto: 22 de Maio, 1892 (centrais) (a suspirar pela sua amada a atriz Geraldine); O Sorvete. N.º 82, 22º Ano, 2.ª Série. Porto: 8 de Janeiro de 1899 (capa) (este conjuntamente com Sanhudo vêm agradecer a todos aqueles que lhes deram os parabéns pela passagem do 21.º aniversário d’O Sorvete)”.
Cortesia de Rui Manuel da Costa Perdigão da Silva Fiadeiro Duarte (de Cifantes e Leão); In “Sebastião Sampaio de Souza Sanhudo – a sua vida e a sua obra (20/2/1851-17/8/1901)”
 
 
 
“Marcos Guedes foi um verdadeiro Artista e um devoto trabalhador em prol de todas as causas Nobres e humanitárias. Foi um dos mais apaixonados servidores da Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto e foi também um dos mais típicos e respeitáveis intelectuais portuenses. Prestou valioso concurso a diferentes instituições culturais e era sócio benemérito do Ateneu Comercial do Porto, tendo sido director desta florescente colectividade quando ela ainda se denominava Sociedade Nova Euterpe”.
Fonte: Revista “O Tripeiro” Nº 12, Abril 1958, V Série, Ano XIII


 
 

Marcos Guedes em fotografia resultante de trabalho de estúdio – Foto Guedes
 
 
 
Marcos Guedes versejava como poucos do seu tempo. São dele as quadras que se seguem escritas no álbum de D. Celeste Gonçalves e publicadas no Almanaque de “O Primeiro de Janeiro” para 1917:
 
 
É tanta a sua beleza,
Tão rara e tão singular,
Que foi feita, com certeza,
Dum pedaço de luar.
 
A sua voz é tão doce
Que a virgem mão se pudesse,
Queria que ela fosse
A que seu filho tivesse.
 
A sinfonia divina
Que se forma do seu riso
É a mesma que Deus ensina
Aos anjos no Paraíso.
 
 
Por volta de 1930, a nova sede da associação estava pronta, na Rua Rodrigues Sampaio, topónimo que homenageava um jornalista, à data, já desaparecido.



“António Rodrigues Sampaio (São Bartolomeu do Mar, Esposende, 25 de Julho de 1806 — Sintra, 13 de Setembro de 1882) foi um jornalista e político português que, entre outras funções, foi deputado, par do Reino, ministro e presidente do Conselho (chefe de governo).
Rodrigues Sampaio foi um dos maiores vultos do liberalismo português de oitocentos, jornalista ímpar e parlamentar de excepção. Personalidade controversa, polémica, mesmo revolucionária, mas sempre coerente e fiel aos seus princípios e desígnios, foi um agitador de renome nacional, o que lhe valeria a alcunha de o Sampaio da Revolução, já que se notabilizou como redactor principal do periódico “A Revolução de Setembro”. Era um jornalista de causas, não de notícias, como aliás era o jornalismo do século XIX. Apesar da violência verbal e da forma assertiva que sempre utilizou nos seus ataques políticos, Rodrigues Sampaio nunca promoveu o ataque ad hominem. Mesmo quando os seus correligionários lhe pediram que pusesse em causa a dignidade e honradez de D. Maria II e da Corte, negou-se terminantemente, escrevendo que um antro de corrupção política não faria da Corte um lugar de devassidão moral. Foi esta postura de grande escrúpulo, associado a um incansável labor na defesa dos valores pelos quais pugnava, que lhe concedeu um lugar cimeiro no jornalismo político português.
Era membro importante da Maçonaria.
Fonte: “pt.wikipedia.org”
 
 
 
Firmino Pereira sobre António Rodrigues Sampaio, contava o seguinte episódio:
 
“Um dia, numa polémica com um jornal de Lisboa, disse umas verdades amargas ao seu adversário, e este, em lugar de se confessar vencido, declarou que bem conhecia a mão que o queria aniquilar. Sampaio, no dia seguinte, respondia triunfantemente:
 – Ora ainda bem que o animal conhece pelas esporadas que leva no lombo quem é o cavalheiro que o monta”!


 
Na década de 1930, a capacidade financeira da AJHLP seria muito abalada com os encargos decorrentes do levantamento da sua sede própria, a Casa do Jornalista, o que originou que, em 1934, ela tivesse sido arrematada em hasta pública pela Caixa Geral de Depósitos.
Nesse ano, a Casa do Jornalista passaria por imposição do regime político, que decretava o fim do associativismo, a ser designada por Casa da Imprensa e do Livro.
Entre 1934 e 1948, a Casa da Imprensa e do Livro veria a sua existência intimamente ligada ao seu presidente da direcção, Alfredo de Magalhães, ex-presidente da Câmara Municipal do Porto e ex-Ministro da Instrução Pública que vai relançar a Associação.
Em 1944, o objectivo da associação para providenciar a assistência aos jornalistas portuenses e  seus familiares perderia razão de ser com a criação de um sindicato único a nível nacional e de uma caixa de reformas dos jornalistas, a qual só alguns anos depois começou com a distribuição dos seus fundos.
Quando em 1948, Alfredo de Magalhães cessa funções, a Casa dos Jornalistas e do Livro está resgatada, a biblioteca guarnecida e estruturada e tinha sido retomado o pagamento de pensões.
No dia 8 de Outubro de 1949, a AJHLP inaugurava nas instalações da sua sede um refeitório, servindo almoços, jantares e ceias por 5$00 e 7$50.
Em 1952, será lançado o boletim mensal da AJHLP, designado de Gazeta Literária.
Em 1974, perante alguns sinais de degradação que o edifício já anunciava, a associação tenta alguns apoios financeiros para a sua conservação e construção de mais dois pisos, sendo o projecto da autoria dos arquitectos António Portugal e Fernando Lanhas. As obras são iniciadas, mas por falta de verbas, são interrompidas. 
Em 14 de Novembro de 1982, cumpria-se a cerimónia de comemoração do centenário da AJHLP e, sob a alçada de Viale Moutinho, continuava a ser anunciado da necessidade de se  proceder a obras urgentes na sede da AJHLP. 
Entretanto, é colocada à disposição dos sócios uma casa de férias, antiga propriedade de Antero de Figueiredo, situada em Meixomil, Paços de Ferreira.
Finalmente, em 2009, as obras anteriormente interrompidas são retomadas e concluídas.
Este último projecto é o resultado de uma reformulação executada pelos arquitectos Emílio Teixeira Lopes e Pedro Gomes e, hoje, o edifício está completamente recuperado.
No dia 12 de Outubro de 2022, nas comemorações dos 140 anos da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto, foi descerrado junto da sede da AJHLP um busto de António Rodrigues Sampaio, da autoria de José Joaquim Teixeira Lopes (1837-1918), escultor que ficaria conhecido por Teixeira Lopes (pai) e, ainda, por ser o autor da estátua de D. Pedro V, localizada na Praça da Batalha.


 

Busto de António Rodrigues Sampaio



 
O edifício da AJHLP, com os seus cinco pisos, sito na Rua Rodrigues Sampaio, esquina com a Rua do Bonjardim, seria alvo de várias intervenções ao longo dos anos, de acordo com a narração anterior.
Os dois últimos andares destinam-se à instalação da Biblioteca/Hemeroteca, Sala de Leitura, e do Auditório Multiusos com capacidade para cem lugares. No terceiro piso, fica o bar/ café-concerto. O restante espaço destina-se aos serviços da AJHLP, depósito de espólio, arquivos e ateliers de criação.


 
 

À esquerda, o edifício da AJHLP, em 1948, quando decorriam as demolições para abertura do espaço onde iria surgir a Praça D. João I