«A Quinta e Casa
Burmester, sitas no nº 1055 da Rua do Campo Alegre, foram baptizadas com o
apelido dos seus donos mais recentes, antes de a propriedade passar a fazer
parte integrante do património imobiliário da U. Porto, em 1957. Chamava-se
"Quinta do Campo Alegre" quando, em 1896, foi comprada por 2 contos
de réis a Eduardo Alves da Cunha e mulher, Anna Luiza Marques d’Oliveira Cunha,
pelo negociante Gustavo Adolfo Burmester. A aquisição da quinta e dos
respectivos rendimentos, outrora pertencentes à sociedade comercial António
Alves da Cunha & Companhia, teve lugar a 11 de Maio de 1896. A escritura de
venda descreve-os da seguinte maneira:
"Campo de terra
lavradia denominado "Campo Allegre" com uma casa para caseiro, poço
d’agua com engenho e mais pertenças, sito na rua do Campo Alegre com uma porta
d’entrada que tem o número seiscentos e vinte e um, freguezia de Massarellos,
d’esta cidade, confrontando do norte com a dita rua do Campo Alegre, do poente
com viella publica, denominada do Monteiro, do sul com o campo de Egydio
Teixeira Duarte e do nascente com Pedro Maria da Fonseca Araújo e António
Gonçalves da Silva; é de natureza de prazo, foreiro no domínio directo ao
Priorado de Cedofeita, hoje massa commum da Collegiada, com o foro annual de
sessenta e nove litros e quarenta centilitros de trigo, igual porção de
centeio, sessenta e cinco litros, seiscentos e vinte e cinco decimililitros de
milho, dezesete litros e trinta e cinco centilitros de cevada, meio carro de
palha triga, quatro gallinhas e o laudemio de quarenta-um".
No ano seguinte ao
daquela transacção, a Câmara Municipal do Porto autorizou o novo proprietário,
Gustavo Adolfo Burmester, a construir uma casa de habitação dentro do perímetro
da quinta, conforme o projecto aprovado a 22 de Fevereiro e "com tanto que
o fundo da fossa seja arredondado em arco de circulo com a flecha de 1/10 do
seu comprimento e todos os ângulos interiores da mesma forma na ligação das
paredes com o fundo tambem arredondadas em arco de circulo de 0,25 m de raio, e
ficando sujeito ao disposto nas respectivas posturas e mais deliberações
municipaes. Porto, Paços do Concelho, 5 de Março de 1897. (…)".
Nessa mesma data,
Gustavo Burmester assumiu, ainda, o seguinte compromisso com a edilidade
portuense: a casa a construir seria em granito duro e cal hidráulica, as
paredes exteriores do rés-do-chão teriam a espessura de 0,70 m, isto é, mais 10
cm do que as do primeiro pavimento e mais 15 cm do que as a edificar por cima
destas. As paredes interiores teriam 0,30 m de espessura. Assim como se
comprometeu a observar os restantes requisitos apresentados pela Câmara e que
eram os seguintes:
"A armação bem
como o travejamento será de pinho de riga, tendo a armação as dimensões de 0,10
x 0,15 para as peças principaes; 0,08 x
0,12 para as secundarias e 0,06 x 0,08 para barrotes. Nos travejamentos a
secção será de 0,10 x 0,25 e a distância de eixo a eixo de 0,55. As condicções
d’esgoto dentro do edifício serão de chumbo de 0,10m de diâmetro, e as exteriores
até a fossa de tubos de grez de 0,20m de diâmetro. A fossa será construída de
pedra, e revestida de argamassa de cimento e areia.".
Pouco tempo depois
chegou à Câmara Municipal do Porto novo requerimento de Gustavo Burmester, que
pretendia obter autorização para vedar a sua propriedade da Rua do Campo Alegre
"tanto pelo lado d’esta rua como pelo lado Poente, por onde confronta com
o caminho tortuoso que da dita rua segue para o Alto d’Arrabida". Para
fazer face às despesas que a Câmara teria de suportar, Gustavo Burmester doou
ao município, como contrapartida, a porção de terreno necessária para alinhar o
arruamento, cuja largura seria de cinco metros, tal como constava da planta que
o requerente apresentou ao mesmo tempo. A escritura de cedência do terreno foi
lavrada em 14 de Agosto de 1897. Este alinhamento implicou a anuência de João
Henrique Andresen, proprietário da casa vizinha do lado poente, a qual também
acabaria na posse da U. Porto, na segunda metade do século XX.
Entretanto, prosseguiram
as melhorias introduzidas na habitação. Na viragem do século, com a montagem de
um motor a gás (sistema "OTTO, de 1,5 cavalos"). Mais tarde, com a
construção de um portão na Travessa de Entre-Campos (lado poente) e com a
exploração de uma instalação eléctrica destinada a iluminar a residência. Em
1922, com a assinatura de um contrato com a Companhia das Águas do Porto para
fornecimento diário de 73 litros de água.
Do lado nascente, a
Quinta Burmester confrontava com um prédio pertencente a Primo Monteiro
Madeira, sito no número 877 da Rua do Campo Alegre. Necessitando de reparar
umas construções exteriores a esse prédio, Primo Madeira enviou uma carta a
Maria Henriqueta Leite Guedes Burmester, viúva de Gustavo Adolfo Burmester, em
Dezembro de 1943, pedindo-lhe autorização para encostar os telhados daqueles
imóveis ao muro que separava os terrenos de que ambos eram proprietários.
Em 1957, a Quinta e
Casa Burmester foram entregues pelo Estado à Faculdade de Ciências, em
compensação dos cortes infligidos na área pertencente ao Jardim Botânico, na
sequência da construção dos acessos à Ponte da Arrábida. Alguns anos mais
tarde, quando se revelaram insuficientes as instalações da Faculdade de Letras,
o Jardim Botânico prescindiu de parte da propriedade em favor desta Faculdade.
Luís de Pina, director da Faculdade de Letras criada em 1961, supervisionou e
acompanhou de muito perto as obras de beneficiação que foi necessário levar a
cabo para que o Palacete Burmester acolhesse professores e alunos».
Fonte: “sigarra.up.pt”
A Travessa de Entre-Campos, referida no texto anterior, era, à data, a Viela do Monteiro.
Casa Burmester, fachada Norte
Fachada Norte, outra perspectiva – Ed. “sigarra.up.pt”
Fachada Sul – Ed. “sigarra.up.pt”
2ª habitação – Ed. “sigarra.up.pt”
Portão de entrada para o jardim, pela Rua do Campo Alegre -
Ed. “sigarra.up.pt”
No fim da década de 1960, pela situação vivida pela
Faculdade de Letras da Universidade da UP, de exiguidade das suas instalações,
alguns dos seminários dos seus cursos instalaram-se no Palacete Burmester,
entretanto, já na posse da Universidade do Porto.
A partir de 1977, em novas instalações erguidas, em terrenos
das traseiras do palacete e que faziam parte da primitiva quinta, que se
destinavam, inicialmente, ao Instituto Botânico, cujo Jardim Botânico se
situava em área contígua, na denominada Casa Andresen, se instalou a Faculdade
de Letras da UP.
Assim, nessas instalações, que foram chamadas de “Complexo
Pedagógico”, se concentraram, em 1977, todas as secções da Faculdade de Letras
da UP, que se encontravam dispersas por vários edifícios da cidade.
Complexo Pedagógico, actual “Departamento de Ciência de
Computadores da Faculdade de Ciências da UP”
Em 1 de Abril de 2022, foi inaugurada no Palacete Burmester,
à Rua do Campo Alegre, a “Casa dos Livros”, da responsabilidade da Faculdade de
Letras.
Aqui, passou a estar o acervo de Eugénio de Andrade, que se
juntou a outros, nomeadamente, de Vasco Graça Moura, do poeta Albano Martins ou
acervos digitais como os de Heriberto Helder e Manuel António Pina.
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