sábado, 7 de junho de 2025

25.278 As minas de S. Pedro da Cova e o carvão

 
“As Minas de São Pedro da Cova (São Pedro da Cova, Gondomar) datam a sua descoberta de 1795, no lugar da Ervedosa, tendo sido reconhecida a existência da bacia carbonífera em 1804/05. Eram minas de carvão, do tipo antracite (de origem mineral), em geral de boa qualidade”.
In: portoarc.blogspot.pt

 
 
A descoberta do carvão de pedra (antracite) na Vila de S. Pedro da Cova acontece em 1795, mas só nas primeiras décadas de 1900, é que a exploração das minas atingiria o pico, com uma extracção de cerca de 330 mil toneladas por ano.
O carvão extraído no couto mineiro de S. Pedro da Cova teve como destino as aplicações tradicionais, mas, a partir de certos momentos, abasteceu, principalmente, a central de energia da Companhia Carris de Ferro, em Massarelos e a Central Térmica da Tapada do Outeiro, em Gondomar.
 
 
 
“Com a criação da Intendência Geral das minas e metais do Reino em 1801 passou a existir um órgão que administrava directamente as minas e a sua exploração, tendo sido nomeado para o cargo de Intendente Geral José Bonifácio de Andrade e Silva que passou a ser, em simultâneo, administrador das minas de Buarcos e de S. Pedro da Cova. Esta última foi aberta em 1802 e, a partir daí, a exploração directa foi prosseguindo através da abertura de novos poços. Por esta altura sabe-se que houve necessidade de contratar mestres estrangeiros para esse efeito, e em S. Pedro da Cova, algumas das minas foram abertas sob a direcção de mestres Alemães. Com a saída para o Brasil de José Bonifácio, a Intendência Geral terá passado por alguma indefinição, assim como se verificou uma crise na exploração mineira com muitos dos poços a serem encerrados, embora as minas de S. Pedro da Cova não fossem tão abaladas quanto tantas outras, porque continuaram a funcionar”.
Cortesia de Cátia Alexandra Nunes Rocha (relatório de mestrado, 2016)
 
 
Em 1825, as minas foram arrendadas, por 20 anos, a uma companhia privada de Lisboa formada por Silvério Tabner e o Conde de Farrobo, dois negociantes da capital.
A administração das minas de S. Pedro da Cova, por decreto de 1841, seria feita através do seu arrendamento a uma companhia privada de Lisboa, que viria os seus estatutos serem aprovados pelo Estado, em Fevereiro de 1847, passando a designar-se por Companhia das Minas de Carvão de Pedra do Reino, de S. Pedro da Cova.
Em 14 de Janeiro de 1849, a concessão da mina de S. Pedro da Cova é atribuída, temporariamente, ao Conde de Farrobo.
Em 1854, é-lhe concedida definitivamente.
O capitalista e filantropo Joaquim Pedro Quintela (Lisboa, 11 de Dezembro de 1801 — Lisboa, 24 de Setembro de 1869), foi o 1º detentor daquele título nobiliárquico.
Devido ao fausto das suas festas, saraus e demais peripécias, que foram muito comentadas em Lisboa, na época que se seguiu a Joaquim Pedro ter sido feito Conde do Farrobo, começou a usar-se como sinónimo de pandega o epíteto de Farrobodó, derivado de Farrobo.
Anexo ao palácio onde vivia, em Lisboa, construiu o teatro Thália, onde actuavam artistas de renome internacional.
O Palácio Condes de Farrobo, mais conhecido por palácio das Laranjeiras, está edificado na Quinta com o mesmo nome onde, em 1905, se instalou o Jardim Zoológico. É uma construção seiscentista, restaurada e transformada na primeira metade do século XIX.
Voltando ao tema da posse das minas, por alvará de 29 de Setembro de 1885, a concessão passa a ser detida por Cândida Líbia Pimenta e Manuel Joaquim Pimenta.
Nos tempos áureos, davam trabalho a gente do Douro Litoral, Minho e até do Alentejo. Chegaram a empregar mais de 1800 pessoas, entre homens, mulheres, rapazes e raparigas.
Já no séc. XX, seria criada a Companhia das Minas de S. Pedro da Cova, a qual explorará este sítio até ao encerramento de toda a actividade.
No início do século XX, as minas vão ser propriedade de Afonso Henrique Sobral Mendes, um brasileiro de torna-viagem que, mais tarde, vai estar ligado a uma empresa do sector dos petróleos - a SACOR.
Seria, então, criada a Companhia das Minas de S. Pedro da Cova, a qual explorará este sítio até ao encerramento de toda a sua actividade.
Em 2 de Dezembro de 1950, falece João Henrique Andresen Júnior (1891-1950), pai de Sofia Andresen, até aí, o administrador das minas.
Em 5 de Junho de 1918, o Arcebispo de Mitilene tinha unido pelo matrimónio, na capela do Palácio da Junqueira, em Lisboa, João Henrique Andresen e Maria Amélia Burnay de Melo Breiner, paraninfando a Rainha D. Amélia, representada pela Condessa de Sabugosa, e Condessa de Burnay, madrinha de baptismo e avó da noiva e Severiano José da Silva e Irineu Pais, padrasto e padrinho de baptismo do noivo.
A baixa dos preços do petróleo conduz ao fecho das minas, a 25 de Março de 1970.
 
 
 
Complexo industrial mineiro de S. Pedro da Cova

 
 
“Situada a 10 km da cidade do Porto e a 4 km da sede do concelho, a Vila de S. Pedro da Cova tem uma área de 14,42 km2 e 17 324 habitantes (Censos 2001). Confronta a Norte com Alfena e Valongo (Valongo); a Sul com as freguesias de Jovim e Foz do Sousa (Gondomar); a Oeste com a Vila de Fânzeres e a cidade de Gondomar (S. Cosme) e a Este com as freguesias de Aguiar do Sousa (Paredes) e Campo (Valongo). As referências históricas sobre S. Pedro da Cova remontam aos princípios da fundação de Portugal: em 1138, o Couto de S. Pedro da Cova foi doado por D. Afonso Henriques a D. Pedro Rebaldis, sucessor de D. Hugo, Bispo do Porto. Em 1379, D. Afonso III confirmou a doação do Bispo do Porto do Couto de S. Pedro da Cova, no julgado de Gondomar. Com a extinção dos coutos em 1820, a freguesia de S. Pedro da Cova adquiriu a designação de concelho, que foi extinto em 1836, (…) passando a pertencer definitivamente ao concelho de Gondomar.
Em 1989, a freguesia foi elevada a Vila. Sem ter perdido o cariz agro-pecuário, a partir de 1802, S. Pedro da Cova tornou-se um importante pólo industrial na sequência da descoberta de jazidas de carvão (e também manganês e volfrâmio), materiais imprescindíveis ao arranque e desenvolvimento da industrialização oitocentista. 
Durante muitas gerações, foram as minas de S. Pedro da Cova um dos grandes alicerces da economia do país e da Região Norte. A sua dinâmica tornava-se visível a quem percorresse a região do Grande Porto, confrontando-se com o vaivém incessante de cestas metálicas, movimentando-se ao ritmo febril da actividade do complexo mineiro, percorrendo cabos paralelos que se sobrepunham aos povoados, vias de locomoção e a todo o género de acidentes orográficos do concelho (Câmara Municipal de Gondomar, 1999). Nos anos 30 do séc. XX, a exploração mineira intensificou-se em grande escala, então na posse da Companhia das Minas de Carvão e S. Pedro da Cova e transformou-se num pólo importante de migração, localidade que passaria a ser conhecida por "terra mineira", por excelência, até que a década de 1970, trouxe o encerramento da mina”.
Fonte: portoarc.blogspot.pt


 
Zorra do carvão nas minas


 
Vagonetas de carvão


 
É visível na foto acima, ao fundo, o “Cavalete do Poço de S. Vicente” de entrada do elevador que levava à mina, que começou por ser em madeira.
O da foto seria erguido em 1934.

 
 
Cestas de transporte aéreo do carvão – Ed. J. Portojo

 
 
Na foto anterior vê-se que o carvão era transportado para a cidade por “cestinhas” aéreas, desde 1914, quando foi instalado um cabo aéreo com a extensão de 9 quilómetros que fazia o seu transporte até ao Monte Aventino, no Porto, no Lugar das Antas e também para a Estação dos Comboios de Rio Tinto.
O monte Aventino era, assim, um parque de armazenamento de carvão com 42000 m2, que depois era distribuído para o consumo da cidade, por zorras, carros de bois e camionetes.
 
 
“O carvão era transportado para o Monte Aventino (zona das Antas), no Porto, nas “cestinhas do carvão” suspensas de um cabo aéreo, com nove quilómetros de extensão. Daí se fazia a distribuição para toda a cidade, que o utilizava nas cozinhas (fogões, lareiras e aquecimento). No regresso, as vagonetas paravam na estação de comboios de Rio Tinto, para carregar a madeira que servia para escorar as paredes subterrâneas. Na segunda metade do século XX, a chegada do petróleo põe fim à história do carvão. Quase 40 anos depois, S. Pedro da Cova é hoje um dormitório da Área Metropolitana do Porto, freguesia praticamente estagnada, com poucas aspirações e muitos dependentes do Rendimento Social de Inserção”. 
Texto de Rui Bica

 
 
Cestas de transporte de carvão, c. 1930, passando em Rio Tinto, junto à estação ferroviária
 
 
 
Cestas de transporte de carvão, em 1938, passando por cima da Rua Nau Vitória
 

 
A linha aérea de transporte de carvão, com as suas cestas, sobrevoava a bancada poente do Estádio das Antas

 
 
Movimentação do carvão no parque do Monte Aventino – Fonte: Cinemateca Portuguesa


 
Uma zorra esperando a carga de carvão no Monte Aventino – Fonte: Cinemateca Portuguesa

 
 
À esquerda, os carros de bois que faziam a distribuição do carvão no Monte Aventino – Fonte: Cinemateca Portuguesa
 
 
 
Actualmente, toda a área do parque de carvão do Monte Aventino foi transformada num complexo desportivo e de lazer.
 



Vista do complexo desportivo do Monte Aventino – Fonte: Google maps

 
 
Antes de ser montada a linha aérea para transporte de carvão, este chegava à cidade, com a mesma proveniência, em carroções puxados por bois, como Dorothy Wordsworth contou, em 1845, na sua obra “Diário de uma Viagem a Portugal e ao Sul de Espanha”.

 
 


 
 

 

 

 

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