“As Minas de São
Pedro da Cova (São Pedro da Cova, Gondomar) datam a sua descoberta de 1795, no
lugar da Ervedosa, tendo sido reconhecida a existência da bacia carbonífera em
1804/05. Eram minas de carvão, do tipo antracite (de origem mineral), em geral
de boa qualidade”.
In: portoarc.blogspot.pt
A descoberta do carvão de pedra (antracite) na Vila de S.
Pedro da Cova acontece em 1795, mas só nas primeiras décadas de 1900, é que a
exploração das minas atingiria o pico, com uma extracção de cerca de 330 mil
toneladas por ano.
O carvão extraído no couto mineiro de S. Pedro da Cova teve como destino as aplicações tradicionais, mas, a partir de certos momentos, abasteceu, principalmente, a central de energia da Companhia Carris de Ferro, em Massarelos e a Central Térmica da Tapada do Outeiro, em Gondomar.
“Com a criação da
Intendência Geral das minas e metais do Reino em 1801 passou a existir um órgão
que administrava directamente as minas e a sua exploração, tendo sido nomeado
para o cargo de Intendente Geral José Bonifácio de Andrade e Silva que passou a
ser, em simultâneo, administrador das minas de Buarcos e de S. Pedro da Cova.
Esta última foi aberta em 1802 e, a partir daí, a exploração directa foi
prosseguindo através da abertura de novos poços. Por esta altura sabe-se que
houve necessidade de contratar mestres estrangeiros para esse efeito, e em S.
Pedro da Cova, algumas das minas foram abertas sob a direcção de mestres Alemães.
Com a saída para o Brasil de José Bonifácio, a Intendência Geral terá passado
por alguma indefinição, assim como se verificou uma crise na exploração mineira
com muitos dos poços a serem encerrados, embora as minas de S. Pedro da Cova
não fossem tão abaladas quanto tantas outras, porque continuaram a funcionar”.
Cortesia de Cátia Alexandra Nunes Rocha (relatório de
mestrado, 2016)
Em 1825, as minas foram arrendadas, por 20 anos, a uma
companhia privada de Lisboa formada por Silvério Tabner e o Conde de Farrobo,
dois negociantes da capital.
A administração das minas de S. Pedro da Cova, por decreto
de 1841, seria feita através do seu arrendamento a uma companhia privada de
Lisboa, que viria os seus estatutos serem aprovados pelo Estado, em Fevereiro de
1847, passando a designar-se por Companhia das Minas de Carvão de Pedra do
Reino, de S. Pedro da Cova.
Em 14 de Janeiro de 1849, a concessão da mina de S. Pedro da
Cova é atribuída, temporariamente, ao Conde de Farrobo.
Em 1854, é-lhe concedida definitivamente.
O capitalista e filantropo Joaquim Pedro Quintela (Lisboa,
11 de Dezembro de 1801 — Lisboa, 24 de Setembro de 1869), foi o 1º detentor
daquele título nobiliárquico.
Devido ao fausto
das suas festas, saraus e demais peripécias, que foram muito comentadas em
Lisboa, na época que se seguiu a Joaquim Pedro ter sido feito Conde do Farrobo,
começou a usar-se como sinónimo de pandega o epíteto de Farrobodó, derivado
de Farrobo.
Anexo ao palácio
onde vivia, em Lisboa, construiu o teatro Thália, onde actuavam artistas de
renome internacional.
O Palácio Condes de Farrobo, mais conhecido por palácio das
Laranjeiras, está edificado na Quinta com o mesmo nome onde, em 1905, se
instalou o Jardim Zoológico. É uma construção seiscentista, restaurada e
transformada na primeira metade do século XIX.
Voltando ao tema da posse das minas, por alvará de 29 de
Setembro de 1885, a concessão passa a ser detida por Cândida Líbia Pimenta e
Manuel Joaquim Pimenta.
Nos tempos áureos, davam trabalho a gente do Douro Litoral,
Minho e até do Alentejo. Chegaram a empregar mais de 1800 pessoas, entre
homens, mulheres, rapazes e raparigas.
Já no séc. XX, seria criada a Companhia das Minas de S.
Pedro da Cova, a qual explorará este sítio até ao encerramento de toda a
actividade.
No início do século XX, as minas vão ser propriedade de
Afonso Henrique Sobral Mendes, um brasileiro de torna-viagem que, mais tarde,
vai estar ligado a uma empresa do sector dos petróleos - a SACOR.
Seria, então, criada a Companhia das Minas de S. Pedro da Cova,
a qual explorará este sítio até ao encerramento de toda a sua actividade.
Em 2 de Dezembro de 1950, falece João Henrique Andresen
Júnior (1891-1950), pai de Sofia Andresen, até aí, o administrador das minas.
Em 5 de Junho de 1918, o Arcebispo de Mitilene tinha unido
pelo matrimónio, na capela do Palácio da Junqueira, em Lisboa, João Henrique
Andresen e Maria Amélia Burnay de Melo Breiner, paraninfando a Rainha D.
Amélia, representada pela Condessa de Sabugosa, e Condessa de Burnay, madrinha
de baptismo e avó da noiva e Severiano José da Silva e Irineu Pais, padrasto e
padrinho de baptismo do noivo.
A baixa dos preços do petróleo conduz ao fecho das minas, a
25 de Março de 1970.
Complexo industrial mineiro de S. Pedro da Cova
“Situada a 10 km
da cidade do Porto e a 4 km da sede do concelho, a Vila de S. Pedro da Cova tem
uma área de 14,42 km2 e 17 324 habitantes (Censos 2001). Confronta a Norte com
Alfena e Valongo (Valongo); a Sul com as freguesias de Jovim e Foz do Sousa (Gondomar);
a Oeste com a Vila de Fânzeres e a cidade de Gondomar (S. Cosme) e a Este com
as freguesias de Aguiar do Sousa (Paredes) e Campo (Valongo). As referências
históricas sobre S. Pedro da Cova remontam aos princípios da fundação de
Portugal: em 1138, o Couto de S. Pedro da Cova foi doado por D. Afonso
Henriques a D. Pedro Rebaldis, sucessor de D. Hugo, Bispo do Porto. Em 1379, D.
Afonso III confirmou a doação do Bispo do Porto do Couto de S. Pedro da Cova,
no julgado de Gondomar. Com a extinção dos coutos em 1820, a freguesia de S.
Pedro da Cova adquiriu a designação de concelho, que foi extinto em 1836, (…) passando
a pertencer definitivamente ao concelho de Gondomar.
Em 1989, a
freguesia foi elevada a Vila. Sem ter perdido o cariz agro-pecuário, a partir
de 1802, S. Pedro da Cova tornou-se um importante pólo industrial na sequência
da descoberta de jazidas de carvão (e também manganês e volfrâmio), materiais
imprescindíveis ao arranque e desenvolvimento da industrialização
oitocentista.
Durante muitas gerações,
foram as minas de S. Pedro da Cova um dos grandes alicerces da economia do país
e da Região Norte. A sua dinâmica tornava-se visível a quem percorresse a
região do Grande Porto, confrontando-se com o vaivém incessante de
cestas metálicas, movimentando-se ao ritmo febril da actividade do complexo
mineiro, percorrendo cabos paralelos que se sobrepunham aos povoados, vias de
locomoção e a todo o género de acidentes orográficos do concelho (Câmara
Municipal de Gondomar, 1999). Nos anos 30 do séc. XX, a exploração mineira
intensificou-se em grande escala, então na posse da Companhia das Minas de
Carvão e S. Pedro da Cova e transformou-se num pólo importante de migração,
localidade que passaria a ser conhecida por "terra mineira", por
excelência, até que a década de 1970, trouxe o encerramento da mina”.
Fonte:
portoarc.blogspot.pt
Zorra do carvão nas
minas
Vagonetas de carvão
É visível na foto
acima, ao fundo, o “Cavalete do Poço de S. Vicente” de entrada do elevador que
levava à mina, que começou por ser em madeira.
O da foto seria
erguido em 1934.
Cestas de transporte aéreo do carvão – Ed. J. Portojo
Na foto anterior vê-se que o carvão era transportado para a
cidade por “cestinhas” aéreas, desde 1914, quando foi instalado um cabo aéreo
com a extensão de 9 quilómetros que fazia o seu transporte até ao Monte
Aventino, no Porto, no Lugar das Antas e também para a Estação dos
Comboios de Rio Tinto.
O monte Aventino era, assim, um parque de armazenamento de
carvão com 42000 m2, que depois era distribuído para o consumo da cidade, por
zorras, carros de bois e camionetes.
“O carvão era
transportado para o Monte Aventino (zona das Antas), no Porto, nas “cestinhas
do carvão” suspensas de um cabo aéreo, com nove quilómetros de extensão. Daí se
fazia a distribuição para toda a cidade, que o utilizava nas cozinhas (fogões,
lareiras e aquecimento). No regresso, as vagonetas paravam na estação de
comboios de Rio Tinto, para carregar a madeira que servia para escorar as
paredes subterrâneas. Na segunda metade do século XX, a chegada do petróleo põe
fim à história do carvão. Quase 40 anos depois, S. Pedro da Cova é hoje um
dormitório da Área Metropolitana do Porto, freguesia praticamente estagnada,
com poucas aspirações e muitos dependentes do Rendimento Social de
Inserção”.
Texto de Rui Bica
Cestas de transporte de carvão, c. 1930, passando em Rio Tinto, junto à
estação ferroviária
Cestas de transporte de carvão, em 1938, passando por cima da Rua Nau
Vitória
A linha aérea de transporte de carvão, com as suas cestas, sobrevoava a
bancada poente do Estádio das Antas
Uma zorra esperando
a carga de carvão no Monte Aventino – Fonte: Cinemateca Portuguesa
À esquerda, os carros
de bois que faziam a distribuição do carvão no Monte Aventino – Fonte:
Cinemateca Portuguesa
Actualmente, toda a
área do parque de carvão do Monte Aventino foi transformada num complexo
desportivo e de lazer.
Vista do complexo
desportivo do Monte Aventino – Fonte: Google maps
Antes de ser montada
a linha aérea para transporte de carvão, este chegava à cidade, com a mesma
proveniência, em carroções puxados por bois, como Dorothy Wordsworth contou, em
1845, na sua obra “Diário de uma Viagem a Portugal e ao Sul de Espanha”.
Sem comentários:
Enviar um comentário