terça-feira, 10 de junho de 2025

25.279 Iluminação Pública e Companhia do Gás

 
"Em 1891, o Porto dispõe já de mais de 2 500 candeeiros, instalando-se nesse ano mais 107 em toda a cidade e mais 42 de luz intensiva entre a Batalha e os Clérigos, cabendo 40 destes candeeiros à Rua de Santo António, Praça de D. Pedro e Rua dos Clérigos. Dez anos depois, há já mais de 3 800 candeeiros colocados, registando-se um aumento significativo do consumo particular."
Cortesia de Ana Cardoso Matos - O Porto e a Electricidade, Museu da Electricidade, EDP Lisboa 2003
 
 
 
 
Fábrica do Gás e Central Eléctrica do Ouro
 
 
“A primeira referência à iluminação pública no Porto data de 1771. A Rua Nova, mais tarde Rua dos Ingleses, foi palco da instalação dos primeiros “lampiões” da cidade. Um requerimento, assinado pelos moradores, deu origem a um documento oficial da autarquia que mandava que “se coloquem lampiões na dita rua, sendo a conservação e costeio por conta dos moradores”. No início de 1772 procedeu-se à sua instalação. 
Um artigo do «Jornal de Notícias» do início do século XX transcreveu assim o teor do documento feito pelos moradores da época:
“A grande utilidade que têm os moradores das cidades onde de noute estão as ruas iluminadas, como se pratica nas melhores da Europa, é mais considerável do que se imagina, pois, não somente dá gosto e livra de quedas e maus encontros a quem por elas anda, mas evita os roubos tanto às pessoas como nas casas”. 
Foi particularmente na segunda metade do século XIX que se começou a aproveitar as inovações técnicas e científicas impulsionadas pela Revolução Industrial europeia. 
Em 1851 «quando veio ao Porto a Rainha D. Maria II» viu-se, pela primeira vez, «o gás hydrogénio em arco triunphal armado ao cimo da rua de São João» (in O Tripeiro, 1908), sendo a primeira experiência de iluminação a gás na cidade. 
Em 1855 o gás chegava já à Rua das Hortas (troço inicial da Rua do Almada) à qual se seguiram as ruas de Santo António e Clérigos. Em 1892 a cidade contava já com 2607 candeeiros espalhados por várias zonas, incluindo a Batalha. A entidade encarregue do fornecimento de iluminação à cidade era a Companhia do Gás da qual os moradores se queixavam que deixava as ruas em estado lastimável após a colocação dos candeeiros. Esta argumentava com o facto de não reparar os pavimentos porque teria de os abrir novamente para instalação do gás para utilização dos particulares (em 1893 havia já cerca de mil e oitocentas candidaturas de moradores). 
Os cerca de três mil candeeiros espalhados pelo centro da cidade do Porto, em 1893, por serem novidade foram protagonistas de algumas histórias curiosas. Num artigo de «O Comércio» desse mesmo ano, podia-se ler o seguinte aviso: «Previne-se um sujeito que todas as noutes apaga um dos lampeões de gaz que se abstenha de continuar com esta gracinha, se não quizer passar pelo desgosto de que seja entregue ao domínio público o seu nome”.
Pensa-se que terá sido em 1895, com o advento da electricidade, que se substituiu os candeeiros a gás nas ruas portuenses, já que foi nesta data que começaram a circular os primeiros carros eléctricos (o Porto foi a primeira cidade do país a ter estes veículos que só terão iniciado a marcha na capital em 1901).
Texto de Marta Almeida Carvalho, em Porto Pioneiro
 


Concurso para iluminação a gás no Porto – Caderno de Encargos (Fevereiro de 1853)
 
 
"1ª  O Empresário ou Companhia de iluminação a gás é obrigado a estabelecer o aparelho de destilação, condensadores, depuradores e gasómetros fora de barreiras, em lugar não povoado, e só lhe será permitido o colocar dentro da cidade gasómetros para depósito de gás, precedendo, para isso, autorização da Câmara, e ouvindo o Delegado de Saúde.
2ª A Câmara oferece gratuitamente para este efeito o terreno, que for demarcado da denominada Quinta do Prado do Bispo, próximo do cemitério público, na margem direita do rio Douro, podendo o Empresário ou Companhia utilizar-se dele durante o tempo do seu contrato, findo o qual ficará outra vez pertencendo ao município.
3ª Outro qualquer terreno, que nos termos do artigo 1º melhor possa convir ao Empresário ou Companhia, será por ele obtido e pago à sua custa, precedendo aprovação da Câmara e ouvido o Delegado de Saúde.
4ª O número dos candeeiros a gás não será inferior ao da actual iluminação a azeite…
Seguiam-se as restantes alíneas até à 29ª, antes de 2 condições transitórias e assinava o Escrivão da Câmara, Domingos José Alves de Sousa"
Fonte: “aportanobre.blogspot”
 
 
Em 3 de Outubro de 1855, o jornal “O Porto e a Carta”, na  pág. 2, noticiava que desde o dia anterior, tinha passado a existir iluminação a gás em toda a Rua das Hortas e parte da Rua Nova do Almada.
A 5 de Dezembro de 1855, o jornal “O Porto e a Carta” noticiava que “a iluminação a gás é boa na Rua de Santa Catarina, mas há que reduzir a distância a que se encontram os candeeiros”.
Em 1855, a fábrica do gás estava estabelecida na Arrábida, em local que ficava longe da cidade, para o que deve ter contribuído o baixo valor dos terrenos e factores de segurança.
A aventada possibilidade de ocupar terrenos da Quinta do Prado não se concretizou.
Um dos edifícios deste conjunto, porventura o mais antigo, foi instalado ao lado do já existente gasómetro, e teve a sua planta aprovada na Câmara em Agosto de 1856 (é o que vemos abaixo).




Projecto da fachada do novo edifício da Fábrica de Gás – Fonte: “aportanobre.blogspot”

 
 
 
O projecto do edifício foi entregue ao engenheiro electrotécnico parisiense Lucien Neu, proprietário da empresa Vieillard & Touzet, tendo-lhe sido também incumbida a direcção da obra. Atendendo à distância a que se encontrava a sede, localizada em Lisboa, para operacionalizar algumas obras foram subcontratadas com empresas da cidade do Porto: os trabalhos de alvenaria foram realizados por Manuel Ferreira da Silva Janeira, mestre-de-obras da Foz do Douro, a elaboração do plano de cobertura e a realização de toda a parte metálica da construção foi entregue à Companhia Aliança de Massarelos e executada, sob a direcção de Henrique Carvalho da Assunção.
Com a devida vénia a  Ana Cardoso de Matos (A Companhia do Gás e a  Sociedade Energia Eléctrica do Porto (1889- 1920) Universidade de Évora

 
 
A História do Porto, coordenada por Luís A. Oliveira Ramos, afirma que o gás “começa a cobrir a cidade a partir de 1855”.
Assim, em 3 de Janeiro de 1855, é autorizada a instituição da “Companhia Portuense de Iluminação a Gás”.
Em Abril de 1856, várias ruas da cidade recebem a iluminação a gás.
É o caso da Praça Carlos Alberto que, em 1 de Abril de 1856, passaria a ser servida pela iluminação a gás.
“Em 1862, há 1157 candeeiros públicos, e no ano seguinte 1373”. 
Em 1 de Novembro de 1869, o jornal “Comércio do Porto” noticiava que o inspector da iluminação contava 1394 lampiões na cidade, 94 na Foz e em Lordelo.
Em 1 de Setembro de 1889, a “Companhia de Gaz do Porto”, constituída em 25 de Junho de 1889, toma conta da fábrica antiga.
Em 1890, eram mais de 2500 lampiões e, em 1900, mais de 3500. Entretanto, começou o fornecimento de gás a particulares.

 
 
 
Publicidade ao “Bico Auer”, com representação no Porto na rua Rainha D. Amélia (actual Rua de Cândido dos Reis)

 
 
No fim do século XIX, começaria a ser usado na iluminação o “Bico de Auer”, com uma eficiência superior, às tradicionais formas de queima do gás.
Por este novo processo, a combustão gasosa de uma mistura de gás e oxigénio do ar levava à incandescência, não do carbono em suspensão, mas de uma matéria sólida que emitia mais luz que o carvão.
Aquela combustão gasosa originava uma chama muito quente, mas sem brilho que, no entanto, tornava incandescente uma “camisa” constituída por sais terrosos de certas terras raras, como o óxido de tório.
Em 26 de Março de 1897, começavam a ser colocados os candeeiros de iluminação a gás, nas ruas de Santa Catarina, Formosa e Santo Ildefonso.
Em 31 de Janeiro de 1898, começava a ser montada a canalização para a iluminação a gás na Rua da Madeira e a 3 de Outubro daquele ano era inaugurada, com 36 candeeiros, a iluminação da parte ajardinada da Praça Mouzinho de Albuquerque.
Entrado o século XX, continuava a expansão da iluminação pública, a gás.
Em 29 de Outubro de 1901, é inaugurada com animadas festas populares, a iluminação a gás na Praça Coronel Pacheco.
 
 
 
 
Iluminação a gás, na Praça da Batalha – Postal


 
 
Iluminação a gás, na Rua dos Ingleses (Rua do Infante), em 1893 – Gravura de T. M. Johnson
 
 
 
 
A iluminação a gás, na Rua de Santo António, no final do século XIX
 
 
 
Candeeiro a gás (mais tarde, electrificado) localizado na Sé 


 
Mais recentemente, praticamente, em frente a Massarelos, no chamado Cais do Cavaco, esteve uma outra empresa ligada também ao fornecimento de gás e não só – “A Mobil”.


 
Vista parcial das instalações da Mobil, no Cais do Cavaco, em V. N. de Gaia – Fonte: Biblioteca da Câmara Municipal de V. N. de Gaia

 
 
 
Produção e distribuição de energia eléctrica
 
 
 
Em 1886, foi introduzida a luz eléctrica no Porto, com uma pequena central da Companhia Luz Eléctrica, que se situava no pátio das traseiras do edifício do Ateneu Comercial do Porto, na Rua Passos Manuel e fornecia uma restrita zona da baixa da cidade correspondente às ruas de Santo António, Clérigos, Praça da Liberdade e Santa Catarina.
Depois da central eléctrica da Companhia Eléctrica ter sido alvo de um incêndio em 1898, transitou para a Companhia do Gás do Porto que, em condições muito precárias, continuou a assegurar, o fornecimento de electricidade a esta rede.
Tendo sido fundada em 1907, com o fim de assumir todos os direitos e obrigações vigentes entre a Câmara do Porto e a Companhia do Gás, no que dizia respeito à concessão da luz eléctrica necessária à iluminação pública e ao consumo doméstico, a Sociedade de Energia Eléctrica do Porto construiu a Central do Ouro, junto à Fábrica do Gás.
No que diz respeito aos transportes públicos, já em 1911, decorriam as obras da Central Termoeléctrica de Massarelos tendo, em 1915, encerrado a antiga Central da Arrábida, que teria uma parte dos seus equipamentos absorvidos pela nova unidade, permitindo iniciar uma nova fase de alimentação da rede urbana de carros eléctricos.
O edifício de Massarelos foi sendo, ao longo dos anos, estruturalmente melhorado. Entre 1921 e 1924, a Central de Massarelos sofreu as primeiras obras de ampliação. Dando lugar às novas caldeiras e chaminé. 
 
 
 
“Luz elétrica na rua de Santo António: começou ontem a ser instalada. Vai ser o rendez-vous da nossa sociedade. Para isso, devem desaparecer os casebres demolidos do início da rua.”
In “Jornal do Porto”, 3 Setembro de 1890, p. 2
 
 
 
Só, em 1908, se construiu a Central Eléctrica do Ouro, que foi substituindo a iluminação a gás por eléctrica.
Junto ao cais do Ouro, encontrava-se já a Fábrica do Gás, quando a esta se juntou a Central de Electricidade em 1908, e que veio substituir a Central da Rua Passos Manuel, pertencente à Sociedade de Energia Eléctrica do Porto, criada em 1907.
 
 
 
 
“A partir de 1888 a Companhia Luz Eléctrica, que possuía uma central eléctrica na rua Passos Manuel, passou a fornecer energia eléctrica aos particulares num perímetro compreendido entre a estrada de Bonjardim, passando pela rua de Santo António, até a entrada da rua de Santa Catarina.
Apesar de se tratar de uma zona restrita da cidade não deixa de ser importante o vanguardismo desta iniciativa.
Em 1898, após ser afectada por um incêndio, a central eléctrica da Companhia Eléctrica transitou para a Companhia do Gás do Porto, que continuou a assegurar, ainda que em condições cada vez menos satisfatórias, o fornecimento de electricidade a esta rede.
Em 1907 foi fundada a Sociedade de Energia Eléctrica do Porto com o fim de assumir todos os direitos e obrigações vigentes entre a Câmara do Porto e a Companhia do Gás no que dizia respeito à concessão da luz eléctrica.
Para garantir a produção de electricidade necessária à iluminação pública e ao consumo doméstico, esta Sociedade construiu a Central do Ouro.
Cortesia de Ana Cardoso Matos - O Porto e a Electricidade, Museu da Electricidade, EDP Lisboa 2003
 
 
A Fábrica do Gás e a nova Central Térmica do Ouro (destinada à produção de electricidade) eram abastecidas de carvão desembarcado no cais do Ouro, como se observa na foto abaixo.
Aquela Central Térmica do Ouro foi equipada com quatro caldeiras fornecidas pela casa "Biétrix", e na sala das máquinas foram instalados três grupos geradores (dois de 750 KW e outro de 250 KW), e posteriormente uma turbina de 1 500 KW.
 
 
 
“A Central Térmica do Ouro foi construída entre Abril de 1907 e Julho de 1908, junto dos gasómetros da Companhia Portuense de Iluminação a Gás (CPIG), em Lordelo do Ouro, por uma empresa sua subsidiária - a Sociedade Energia Eléctrica do Porto (SEEP) -, a fim de produzir e distribuir electricidade. Em Outubro de 1906, a Câmara Municipal do Porto tinha autorizado a CPIG - uma empresa que veio a integrar as Companhias Reunidas de Gás e Electricidade (CRGE), de Lisboa, por sua vez, dependentes, a partir de 1913, do grupo franco-belga Société Financière des Transports et d'Entreprises Industrielles (SOFINA) - a transferir a concessão para a produção e distribuição de energia eléctrica para uma sociedade anónima a criar, a já referida SEEP, com o objectivo de explorar a referida concessão. O projecto arquitectónico das instalações da Central Térmica do Ouro foi da responsabilidade de Fernand Touzet, um engenheiro especializado na construção de edifícios industriais, particularmente na região de Lisboa, e que veio a construir também a primeira Central Tejo, concluída nos finais de 1911. Não obstante as dificuldades decorrentes do terreno disponível terem imposto alguns constrangimentos, nomeadamente a colocação do edifício com uma orientação oblíqua em relação à via pública, como apontou António Santos num recente artigo sobre a "Arquitectura da Electricidade em Portugal", não permitindo um "tratamento uniforme e valorizador do conjunto a partir do único alçado susceptível de qualificar a sua arquitectura", o edifício da Central apresenta uma harmonia de linhas e proporções que lhe conferem uma identidade particular”.
Cortesia de José Manuel Lopes Cordeiro; Jornal “Público” de 29 de Abril de 2001
 
 
 
 
 
A Central Eléctrica e a Fábrica de Gás, no cais do Ouro

 
 
 
Central Eléctrica, anexa à Fábrica do Gás, em primeiro plano



Na foto acima, a cerca de 100 metros da Ponte da Arrábida, o que restou das instalações da Central Eléctrica do Ouro (em primeiro plano) e das referentes à Fábrica do Gás, tendo já sido demolidas todas as estruturas em volta da pequena construção (central), que ainda se mantem de pé.
 
 
 
 
“De facto, com o decorrer dos tempos, as dificuldades de abastecimento de coque, agravadas durante a I Guerra Mundial, e a crescente incapacidade das caldeiras cuja potência não satisfazia o crescente aumento da procura, ditaram a municipalização da SEEP, em 17 de Maio de 1918 - tanto mais que a concessão tinha terminado em 1917 -, dando origem aos Serviços Municipais de Gás e Electricidade. No entanto, e apesar de ter existido um plano para a sua recuperação e ampliação, a Central do Ouro só continuou a produzir até 1923, em virtude da autarquia ter entrado em negociações com a União Eléctrica Portuguesa para o abastecimento de energia eléctrica à cidade, com base na produção da central do Lindoso, o que veio a suceder a partir de Novembro daquele ano”.
Cortesia de José Manuel Lopes Cordeiro; Jornal “Público” de 29 de Abril de 2001

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