1. Casino de Vila do
Conde
Este casino, denominado “Casino da Praia de Vila do Conde”
ou “Grande Assembleia de Vila do Conde”, foi inaugurado em 7 de Agosto de 1918,
pelos empresários José Meneres, Álvaro Carvalho, Carvalho Paiva e Alberto
Ventura, associados na “Companhia Portugueza de Turismo”, na esquina da Avenida
Júlio Graça e Rua Bento de Freitas, próximo do teatro Afonso Sanches e
projectado pelo arquitecto Eduardo Alves.
Com a fachada principal voltada para um jardim público, o
seu rés-do-chão era ocupado pelo café, o restaurante e a barbearia e o seu
primeiro andar pela assembleia. O seu salão de baile tinha 216 m2.
Como era norma nestes empreendimentos de unidades ligadas ao
jogo, associado ao casino de Vila do Conde, seria inaugurado na Rua de Bento de
Freitas, em 1 de Agosto de 1920, o “Palace-Hotel” de Vila do Conde, com
projecto do arquitecto Francisco d’Oliveira Ferreira.
A autorização para a construção de um hotel já tinha sido
atribuída, em 1914, à “Sociedade Praia de Vila do Conde” que era proprietária
do Hotel Universal, à Praça da Batalha, no Porto.
Porém, dada a grandeza do empreendimento, teve que ceder a
posição à “Companhia Portugueza do Turismo” e nela se fundiu.
A “Companhia Portugueza do Turismo” tinha como elementos da
administração o Dr. Alberto Thomaz David, António Teixeira da Silva Amarante,
José da Fonseca Menéres e Luís Ferreira Alves.
Aquando da abertura do “Palace-Hotel”, era seu
administrador-delegado da Companhia Adolfo de Castro e Solla, oferecendo
alojamento a 60 hóspedes.
No entanto, as obras prosseguiram até ser atingida a meta
dos 200 hóspedes.
O “Palace-Hotel” resultou de uma profunda remodelação do
então existente “Hotel da Avenida” inaugurado em 1887, sendo propriedade do
presidente da edilidade vila-condense Joaquim Luiz de Souza, estava dotado
também com um café.
Até 1909, o Hotel Avenida e o Café da Avenida tinham sido
administrados pelo proprietário e seus familiares, mas, a partir daí, começou a
ser administrado pelo proprietário do Hotel Central, José Maria de Faria e
Sousa, que o arrendou por 10 anos.
Todavia por falecimento, em 1912, da sua esposa, que
administrava as diversas unidades hoteleiras, entrou numa série de
incumprimentos.
Assim, em 1913 a gerência estava entregue a Amaral Correia e
a Teixeira e Silva.
Após um período de decadência, em 1919, entrou na posse de
Francisco Lopes Novo e, no ano seguinte da “Sociedade da Praia de Vila do
Conde”.
Em 1929, um incêndio afectou grandemente o hotel.
A partir do encerramento do casino, o hotel atravessou uma
fase de decadência.
Em 1939, estava sob gerência de Narciso Garrido Boulhosa, de
acordo com a publicidade abaixo.
O “Palace-Hotel” encerraria em 1958.
Em 1959, na posse da companhia de seguros “A Mundial”,
sofreria obras de vulto.
Exterior e interior do “Palácio Hotel” de Vila do Conde
“Palácio Hotel” de Vila do Conde fechou, definitivamente, em
1969 e, a partir de 1975, as suas instalações foram ocupadas por retornados das
ex-colónias e esporadicamente serviu de apoio à “Feira Nacional de Artesanato”.
Em 1999, a propriedade foi vendida a uma empresa de
investimentos imobiliários “IGF Investimentos Imobiliários S.A.”, mas, desde
então, tudo se encontra ao abandono.
Quanto ao “Casino da Praia de Vila do Conde”, há muitos anos
atrás que tinha fechado portas.
Em 1934, seria inaugurado o novo “Monumental Casino da Póvoa
de Varzim”, em virtude de regulamentação surgida anos antes.
Em 1936, o “Casino da Praia de Vila do Conde” não aguentou a
concorrência e encerrou, completamente, as suas portas.
Apenas, na década de 1950, as instalações voltariam a ser
ocupadas pelo “Colégio de S. José”, até ao ano de 1988, quando foi comprado
pela câmara Municipal que aí instalou o Centro de Juventude.
2. Casinos do Estado
Novo
Durante muitos anos, após o aparecimento dos casinos, a
partir da segunda metade do século XIX, que a sua actividade se exercia na
ausência de qualquer regulamentação.
Era permitido e tolerado o funcionamento de locais de jogo
de fortuna ou azar, muitas das vezes, a troco de subsídios para obras assistenciais,
mormente nas praias e termas frequentadas pela burguesia.
Informação do Casino da Praia de Vila do Conde, em 8 de
Agosto de 1920, dando conta da sua faceta de âmbito social
Então, no Ministério do Coronel Vicente de Freitas, foi promulgada
legislação para regulamentar a exploração do jogo, pelo Decreto n.º 14643, de 3
de Setembro de 1927.
Foram, em sequência, criadas seis zonas de jogo: Estoril e
Funchal, como zonas permanentes e quatro zonas temporárias, respectivamente, na
Praia da Rocha (concelho de Portimão), Figueira da Foz, Espinho e Viana do
Castelo.
Entretanto, nesta última localidade, foi impossível criar
uma sociedade que concorresse à instalação aí de um casino.
Foi, quando, um conjunto de vontades poveiras se abalançou a
tomar a seu cargo a possibilidade de que a Póvoa de Varzim substituísse Viana
do Castelo.
2.1 Casino da Póvoa
de Varzim
Este casino foi inaugurado em 1934, na sequência de
legislação aprovada em 1927 e fruto da impossibilidade de Viana do Castelo de exercer
esse direito que alienou.
Depois de alguma luta, esse desiderato foi conseguido pelo
Despacho n.º 212 de 14 de Setembro de 1928, publicado no DR e com a adjudicação
à Comissão Administrativa da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim, por um
período de 30 anos. Uma autorização especial do Ministério do Interior vai
possibilitar que a Câmara passe a fazer para o efeito parte da Empresa de
Turismo Praia da Póvoa de Varzim, SARL (ETPPV).
Até essa altura, o jogo tinha lugar no Hotel
Luso-Brasileiro, Café Suisso, Café David e Café Universal,
A primeira assembleia geral da Empresa de Turismo Praia da
Póvoa de Varzim (ETPPV) ocorreria em 13 de Junho de 1929 e elegeria os
primeiros corpos sociais.
A ETPPV, por questões de cariz operacional, resolveu
sub-adjudicar, por 10 anos, os direitos de exploração, a uma outra empresa
constituída por Joaquim Correia Leal e Artur Teixeira Bessa.
Entretanto, enquanto não era erguido o edifício do novo
casino, o jogo funcionou, em 1928, na antiga Assembleia Povoense, depois, sede
do Clube Desportivo da Póvoa e, entre 1929 e 1933, nos salões do antigo Café
Chinês, no Largo Dr. David Alves, onde foi erguido o Póvoa-Cine.
Este estabelecimento tinha sido fundado por Carlos Evaristo
Félix da Costa (1828-1906).
Este empresário, antigo negociante de escravos no Brasil, nasceu
no Porto e decidiu, retornado de terras sul-americanas, investir em duas zonas
balneares emergentes: na Póvoa de Varzim, onde passaria a residir, a partir da
década de 1880, inaugurando em 1886, o Café
Chinês quando, em 1861, já tinha inaugurado outro Café Chinês, em Espinho.
Juntamente com os filhos, Alberto Evaristo Félix da Costa (
1858-1911 ) e Carlos Evaristo Félix da Costa Júnior, Carlos Evaristo Félix da
Costa explorou, também, o comércio de importação de artigos orientais.
Alberto Evaristo, a par deste negócio estabeleceu-se em 1894
como fotógrafo na Póvoa, criando em 1895 a “Photografia Evaristo”, no Largo do
Café Chinês (hoje Largo Dr. David Alves), na esquina com a Rua do Norte (hoje
Rua da Alegria).
Interior do Café Chinês, na Póvoa de Varzim
O lucro para a ETPPV, começou por ser no primeiro ano de 100
contos e no fim dos 10 anos de sub-adjudicação um total de 1.600 contos que
cobriu a construção do novo casino.
No contrato com o Estado foi imposto à ETPPV a construção de
um casino e de um hotel de 1.ª categoria com 100 quartos.
O projecto do Monumental
Casino foi, inicialmente, da responsabilidade do arquitecto lisboeta, José
Coelho, coadjuvado pelo engenheiro municipal Alberto Vilaça.
Quando, em finais de 1931, o engenheiro Vilaça deixou a
Póvoa de Varzim por ter sido colocado a direcção Técnica da Junta Autónoma dos
Portos do Norte , em Viana do Castelo, o arquitecto José Coelho também se
retirou, sendo substituído pelo arquitecto portuense, Rogério de Azevedo responsável,
também, do projecto do hotel.
Rogério de Azevedo, conhecido como autor de uma arquitectura
vanguardista, neste caso, apresentaria uma solução estética mais tradicional, à
maneira da Escola de Raúl Lino, em voga nos anos 30.
A área de implantação do casino, após algumas hipóteses alvo
de estudo, recaiu sobre um terreno pertencente ao património municipal, onde
estava um Parque de Ténis, que era a paixão do capitão do porto, comandante
Alberto Jacques.
No caso do Grande
Hotel Palácio, a implantação escolhida recaiu no chão ocupado pelo Hotel
Luso-Brasileiro, com frente para o topo sul da alameda do Passeio Alegre e pela
sua aquisição aos herdeiros de José Martins de Oliveira e de mais dois prédios,
com frente para a Rua Tenente Valadim, pertencentes ao visconde de Lindoso.
Em 1930, a ETPPV acrescentaria ao seu património o Stadium
Gomes de Amorim, localizado no Alto de Martim Vaz, que seria vendido pela
quantia de 250 contos, pelo empresário agrícola Manuel Gomes de Amorim (1857-1918),
nascido em A-Ver-o-Mar, sobrinho do poeta Francisco Gomes de Amorim
(1827-1891).
“No início do século
XX, criam-se estruturas de apoio à cidade no Alto de Martim Vaz. Primeiro com o
Velódromo, em 1925 transformado no Estádio Gomes de Amorim, casa do Sporting
Club da Póvoa, criado em 1916 e que irá subsistir até meados da década de 1940,
até então jogava no Velódromo. O Estádio era propriedade da empresa
Póvoa-Praia. A Avenida dos Banhos tinha sido prolongada e criada a Avenida
Vasco da Gama. O Estádio do Varzim Sport Club é inaugurado a 13 de Setembro de
1932, o clube tinha sido criado em 1915 e, na altura, jogava num campo junto à
Basílica Coração de Jesus. O estádio do Varzim localizava-se em frente ao
Estádio Gomes de Amorim que será demolido e, no local, criadas as Piscinas
Municipais e Court de Tenis da Póvoa de Varzim”.
Cortesia de “anossapovoa.blogspot.com”
O Alto de Martim Vaz ficava localizado no centro da Póvoa de
Varzim. Era um afloramento de pedregulhos e areia onde se encontraram restos de
uma antiga vila lusitano-romana e, depois, funcionou um velódromo.
Em 1 de Junho de 1934, o casino abre portas, para
funcionamento das salas de jogo e de acordo com calendário pré-definido
referente à concessão, mas a inauguração oficial do novo Casino da Póvoa de
Varzim só ocorreria no dia 10 de Junho de 1934, pelo Major Luís Alberto de Oliveira,
Ministro da Guerra, em representação do governo.
A obra inaugurada, ao estilo da Escola Francesa, de Garnier
(criador da Ópera de Paris e do Casino de Monte-Carlo), previa a criação de
duas alas laterais em amplos terraços, que não se concretizou.
O Monumental Casino, antes e depois
Em 3 de Dezembro de 1975, a concessão do jogo é entregue à
“Sopete, S.A.” que ficará obrigada a uma série de beneficiações das instalações
quando, antes, em 1970, já tinha adquirido o Grande Hotel.
A partir de 18 de Agosto de 1981, legislação publicada para
o efeito, vai determinar que a concessão de jogo da Póvoa de Varzim de zona temporária
passe a permanente.
Actualmente, a concessão está atribuída à empresa
“Varzim-Sol - Turismo, Jogo e Animação S.A.” e como acionista maioritário a
“Sociedade Estoril-Sol, SGPS”.
2.2 Casino de Espinho
Não fugindo à regra, a vila de Espinho, em finais do século
XIX e início do século XX, oferecia aos veraneantes a praia e uma série de
momentos de lazer, mormente, espectáculos tauromáquicos, sessões dançantes e
jogos de fortuna e azar.
Em Espinho, na segunda metade do século XIX, a jogatana era praticada
em cafés e, entre todos, destacava-se o Café Chinês, na Avenida Serpa Pinto
(actual Av. 8), cujo dono iria abrir outro Café Chinês, na Póvoa de Varzim.
Ramalho Ortigão, que de visita a Espinho, em 1876, se
alojou, por certo no Hotel Bragança, ao Café Chinês de Espinho fazia referência,
na sua obra “As Farpas”, vol. 1, p. 274 a 278, chamando-o de “Celeste Império”.
“Resumindo as
impressões que deixou no meu espirito o exemplar instituto do Celeste Imperio em Espinho, eu faço
votos fervorosos para que o paiz em todo o seu conjuncto possa um dia hombrear
com a jogatina espinhense.
Á camara dos
deputados, ao lyceu nacional de Lisboa, á galeria portuense de bellas artes,
aos futuros museus escholares, commerciaes e industriaes, ao futuro theatro de
opera popular, ás futuras salas de concertos e de conferencias scientificas e
litterarias, desejo deveras uma installaçáo tão decorosa, tão elegante, tão bem
accommodada aos seus fins como a d’este convidativo e confortavel
estabelecimento. Aos debates parlamentares desejo vivamente a mesma compostura,
a mesma gravidade, a mesma decencia, a mesma propriedade de expressões e a
mesma nobreza de gestos, que caracterisam esta assembléa; e aos clubs
politicos, aos centros artisticos e litterarios, ás companhias anonymas de
responsabilidade limitada, ás juntas geraes de districto e ás juntas de
parochia, aos bancos, ás associações commerciaes, aos cabidos, ás confrarias,
ás collegiadas, e em geral a todos os corpos collectivos – de caracter
politico, de caracter commercial, de caracter scientifico, de caracter
religioso – eu desejo emfim, acima de tudo, o conjuncto e a cooperação de
cavalheiros tão distinctos, tão illustres, tão idoneos e tão venerandos, como
os que ora vejo presentes, em torno do panno verde, no ambito d’esta
espelunca!”
Em primeiro plano, o Café Chinês e, ao lado, a “Assembleia
Recreativa”
O rés-do-chão da Assembleia Recreativa acabaria por ser
ocupado pelo Casino Peninsular.
A concessão do jogo, nesta vila, foi entregue à empresa
“Casino Peninsular, SARL”, mas, em 1928, já tinha passado para a “Sociedade
Espinho-Praia, SARL” que, sob a administração de Mário de Freitas Ribeiro, tratou
de ampliar as instalações do antigo Casino Peninsular.
Aquele empresário era também o proprietário, em Lisboa, do
Bristrol Club”.
Este casino teve origem no Decreto n.º 14643, de 3 de
Setembro de 1927, com funcionamento sazonal, entre 1 de Maio e 30 de Outubro, o
que decorria da legislação. A partir de 1934 até 1976, aquele horário passou a
ser de 1 de Junho a 30 de Novembro.
Como noutras localidades anexo ao casino, por aqui, também
existiria o apoio de um hotel.
Começou pelo aproveitamento do então existente Hotel
Bragança, mas, desde sempre, esteve no horizonte o levantamento do “Palácio Hotel”.
A profunda remodelação começaria em 1930.
Só, em 22 de Julho de 1939, depois de anos de espera, foi
possível inaugurar o “Palácio Hotel”.
Entretanto, em 1940, as obras de reconversão do edifício do
antigo Casino Peninsular também prosseguiam, sob a orientação do arquitecto
Carlos Chambers Ramos (1897-1969), no mesmo estilo art-deco exibido no Palácio
Hotel.
O novo casino, ainda com obras a decorrer nos andares
superiores, foi inaugurado em 1 de Junho de 1943.
Em 30 de Julho de 1943, seria inaugurado o salão nobre, no
andar supeior.
Em 6 de Agosto de 1951, seria inaugurado, no chão em que
tinha estado o Café Chinês, anexo ao casino, o “Cine-Teatro do Casino de Espinho”, dotado de 358 lugares na
plateia e 176 no balcão.
Em 30 de Junho de 1958, chegava ao fim a concessão à
“Sociedade Espinho-Praia”, passando a ser detentora da mesma, até 1968, a
“Sociedade Turismo de Espinho” constituída, em Junho de 1958, por José Dias
Vieira de Magalhães e José Gonçalves Pinto Roma.
Na foto anterior é exibido o “Picadeiro” de Espinho, o local
onde os veraneantes (famílias inteiras) vindos, principalmente, do distrito de
Aveiro, alguns de Viseu ou do Porto se mostravam e exibiam e onde cumpriam o
ritual de confirmarem reciprocamente a sua existência.
A Póvoa de Varzim e a Figueira da Foz também tinham o seu
“Picadeiro”.
Em 1974, o governo de Marcelo Caetano entrega a concessão do
“Casino de Espinho”, por 15 anos, à “Solverde”.
Foi, então, contractualmente a Solverde obrigada, entre
outras obrigações, à construção de um novo casino.
No lugar do Palácio Hotel iria, assim, em dois quarteirões a
sul, surgir um centro comercial, um apart-hotel com 13 pisos e, no quarteirão,
a norte, um centro comercial de dois pisos, com parque de estacionamento
sub-terrâneo que reverteria na extinção da concessão para a autarquia.
Em 14 de Agosto de 1979, seria inaugurado o novo casino.
Construído em duas fases, ocupou, em parte, o chão da
“Pensão Demêtrio” que tinha sido adquirida, em 1972, pela Solverde.
Em 1980, começariam os trabalhos de demolição do antigo
casino.
Em 25 de Setembro de 1982, foi inaugurado o novo Casino de Espinho.
Sem comentários:
Enviar um comentário