sexta-feira, 23 de setembro de 2022

Conclusão

 
Assistência às vítimas
 
 
Nestes tempos de guerra, organizações como a Cruz Vermelha, a Sociedade Humanitária, a Comissão de Assistência Pública ou então as recém-fundadas, Cruzada das Mulheres Portuguesas, a Société Amicale Franco-Portugais e a Associação de Assistência às Vítimas da Guerra ficaram com as suas intervenções gravadas para a posteridade.
No entanto, em Março de 1916, categorizadas personalidades da sociedade portuense se juntariam para fazer nascer a "Junta Patriótica do Norte", cujo objectivo principal era a assistência-socorro às vítimas da Guerra e que se destacaria das demais.
Seria o Dr. Alberto de Aguiar a lançar aquele que, para lá de um movimento de exaltação patriótica (propondo-se glorificar e alentar os que partiam para os campos de batalha) pretendia, ao mesmo tempo, amparar os filhos dos que perdessem a vida ao serviço da Pátria.
 
 
“A Junta Patriótica do Norte surgiu de um movimento patriótico no seio da Câmara Municipal do Porto e foi aberto a todos os portuenses que nela quisessem participar e seguir os seus ideais. Apesar da Junta Patriótica do Norte não ter qualquer fi­liação partidária, vai nascer quando o Dr. Henrique Pereira de Oliveira presidia à edilidade, tornando-se vice-presidente da mesa das reuniões plenárias. O projeto inicial da sua fundação contou com vários professores da Universidade do Porto, elementos da função pública ligados à Câmara do Porto e ainda comerciais e industriais”.
Cortesia de Ana Sofia Veiga Peniche
 
 
Na sua actividade de propaganda, a Junta Patriótica do Norte promoveria reuniões e a distribuição massiva de manifestos em papéis avulsos ou afixados em placards.
Estes materiais propagandísticos foram produzidos entre 20 de Abril de 1916 e 14 de Julho de 1918, num total de quinze manifestos e nove placards, embora se desconheça o número de exemplares impressos.
Outro modo também usado para divulgar a mensagem, utilizava as sessões cinematográficas realizadas em cinemas e teatros da cidade do Porto, divulgando imagens dos palcos de guerra protagonizadas pelo exército aliado.
Os fundos necessários ao êxito deste empreendimento tinham várias origens.
 
 
“No que toca a angariações ordinárias, destacam-se: a grande subscrição, a cotização mensal, a subscrição ao Núcleo Infantil e a subscrição além fonteiras, em vários núcleos. A grande subscrição era feita por cerca de 1250 individualidades e empresas e as verbas iam dos 10 até aos 500 escudos. Desta forma se conseguiram substanciais donativos, que visavam ajudar a realização de obras de vário tipo; até 30 de setembro de 1918 renderam cerca de 28 191 escudos.
A cotização mensal era paga por 385 quotizantes, mas os seus valores mensais eram diferenciados, oscilando entre 10 centavos e 10 escudos. Até 1918, as cotas per­fizeram um montante superior a 4513 escudos. A subscrição ao Núcleo Infantil contava com 251 subscritores e a verba apurada tinha a ­finalidade de ajudar os órfãos de guerra. Esta subscrição alcançou um valor acima de 4576 escudos”.
Cortesia de Ana Sofia Veiga Peniche
 
 
Sucediam-se para angariação de capitais as vendas de caridade e os festivais, realizados no Palácio da Bolsa e na Casa dos Filhos dos Soldados Portugueses, promovidos pelas senhoras do Núcleo Feminino de Assistência Infantil, com as respectivas receitas a reverterem para a Junta Patriótica do Norte.
No Brasil e na Califórnia, algumas verbas importantes foram também recolhidas.
Muitos particulares e empresas comerciais e industriais resolveram fazer a sua contribuição em géneros.
Os selos da Junta Patriótica do Norte, inaugurados em 1917, por sugestão do membro da Junta, Aurélio Paz dos Reis, tiveram também algum impacto no montante final arrecadado.

 
 

Selos emitidos pela Junta Patriótica do Norte
 
 
 

Bilhete-Postal da Junta Patriótica do Norte com respectivo emblema da instituição



A um movimento com tão nobres e elevados propósitos, chegavam constantes adesões. E, graças a elas, em 25 de Junho de 1917, a Junta Patriótica do Norte funda a Casa dos Filhos dos Soldados, instalando-a num prédio que, para o efeito, aluga na Rua de Cedofeita, nº 458.
Cerca de uma semana antes, é realizada uma grande exposição na nave central do Palácio de Cristal, noticiado pelo semanário “O Sino” da Senhora da Hora.


 

In semanário “O Sino” de 10 de Junho de 1917




Cabeçalho do semanário “O Sino”


A Casa dos Filhos dos Soldados começará logo por albergar 50 orfãos de guerra, de ambos os sexos.
Agregado à "Junta Patriótica do Norte" começa a trabalhar um núcleo Feminino de Assistência Infantil ao qual preside D. Filomena Sequeira de Oliveira.
De acordo com as idades, as crianças vão ter uma instrução elementar primária, precedida do ensino "Jardim-Escola" e seguida de educação profissional, nomeadamente, em artes e ofícios.
 
 
 
 

Cartaz do Certame de Arte Nacional realizado no Palácio de Cristal, em 1917



A 13 de Julho de 1919, o Tratado de Paz é comemorado pela Junta Patriótica do Norte com um grande cortejo cívico, uma festa infantil no Palácio de Cristal, uma conferência sobre a guerra no Teatro Gil Vicente pelo capitão Augusto Casimiro e uma festa popular na Cordoaria.
Pela assinatura do Tratado de Paz é organizado, ainda, pelo Triângulo Vermelho um festival aos soldados-expedicionários e levada a cabo uma Marcha Luminosa, por iniciativa dos Bombeiros portuenses.

 
 
 

Crianças das escolas primárias do Porto rumo à festa infantil promovida pela Junta Patriótica do Norte, no Palácio de Cristal – Fonte: Ilustração Portuguesa, n° 702, 4 de Agosto de 1919
 
 
 
 

Anverso e reverso da medalha comemorativa dos 50 anos sobre a fundação da Junta Patriótica do Norte
 
 
 
 
Acabada a guerra, a maioria dos seus membros não julgou chegado o momento de dissolver a Junta Patriótica do Norte.

 
 
 

Ofício assinado pelo então presidente da Junta Patriótica do Norte e enviado, em 1932, quando a Casa dos Filhos dos Soldados ainda estava na Rua de Cedofeita, 458
 
 
 
 
“A necessidade de ampliar a sua instalação e sobretudo de a tornar independente pela aquisição de Edifício próprio (este edifício que a boa sorte da Junta conseguiu encontrar, é a Quinta Amarela, à Rua de Oliveira Monteiro, n° 887, comprada, com isenção de sisa, por 250 contos, em 20 de Julho de 1934 e que com uma extensão de 12.000 metros quadrados tem cerca de 1.200 metros quadrados para habitação, entre o edifício central em três pavimentos, e suas dependências), forçou a adaptar o compromisso de 1916 ás exigências legais, porque actualmente se regem todas as instituições de benemerência”.
Fonte: “ep.up.pt/docentes”

 
 

Edifício primitivo da Quinta Amarela onde, de 1921 a 1927, funcionou a Faculdade de Letras da U. P.
 
 
 
A Junta Patriótica do Norte teve a sua sede social nos Paços do Concelho do Porto (Câmara Municipal) e a sua Secretaria e Instalações e a Casa dos Filhos dos Soldados, provisoriamente, na Rua da Cedofeita n°s. 458/460 - Porto; posteriormente, foram as mesmas transferidas para a Quinta Amarela - que a Junta comprou em 20 de Julho de 1934 -, sita na Rua Oliveira Monteiro, n° 887 - Porto.
A Junta Patriótica do Norte foi extinta em 1938, tendo o seu património sido transferido para a Liga dos Combatentes da Grande Guerra, que presentemente o continua a usufruir e a gerir.
Por isso, em 24 de Janeiro de 1938, a Liga dos Combatentes assina a escritura que lhe confere a posse da Casa dos Filhos dos Soldados, na Quinta Amarela, ao Carvalhido.
A Liga dos Combatentes criada em 1921, com a denominação de Liga dos Combatentes da Grande Guerra tinha como principal objectivo reunir numa associação os militares e ex-militares portugueses que tinham combatido na 1.ª Guerra Mundial, mas só em 1929, seria a instituição oficializada com a eleição dos dirigentes e publicação dos estatutos.
Entretanto, muitas outras organizações da sociedade civil se instalaram no terreno, entre o começo e o fim da guerra e, nalguns casos, para além dela.
 
 
“Menos de duas semanas após a declaração de guerra a Portugal, o laicismo expressou-se em forma de "cruzada" – a Cruzada das Mulheres Portuguesas – herdeira do movimento Pró Pátria. Não confundir com a "Assistência das Portuguesas às Vítimas da Guerra", uma associação também inteiramente feminina, mas ligada à aristocracia monárquica e ao catolicismo”.
Fonte: RTP
 
 
 
Em 20 de Março de 1916, seria criada a “Cruzada das Mulheres Portuguesas”, presidida por Elzira Dantas Machado, mulher do presidente Bernardino Machado, contando também com suas filhas e outras familiares de políticos e militares notáveis. A “Cruzada das Mulheres Portuguesas” aglutinaria quase uma centena de mulheres da elite republicana.
Ana de Castro Osório ocupou-se da comissão de propaganda e organização do trabalho.
A “Cruzada das Mulheres Portuguesas” criou dezenas de subcomissões locais, de norte a sul do país, e internacionais.
Os seus Estatutos foram aprovados por Alvará do Governo Civil de Lisboa a 19 de Agosto de 1916 e existiu até ao início do Estado Novo, tendo sido sua última Presidente, Ana de Castro Osório.
Para além de iniciativas como a 1ª “Festa da Flor”, que ocorreu na primavera de 1917, em várias cidades e vilas do país, onde a “Cruzada das Mulheres Portuguesas” tinha os seus núcleos organizou, em 1917, cursos de enfermagem destinados a formar enfermeiras para servirem nos hospitais militares do País e nos corpos expedicionários.
Durante a “Festa da Flor”, que teve o patrocínio do jornal “O Século”, foram angariadas verbas importantes quando, em troca duma flor colocada ao peito de cada homem, as voluntárias da “Cruzada das Mulheres Portuguesas” recebiam um donativo.

 
 

Jovens da “Cruzada das Mulheres Portuguesas” no contacto com a população do Porto, junto do Restaurante Europa, na Praça da Liberdade, em Março de 1917, durante a 1ª “Festa da Flor”
 
 
 
Logística de apoio alimentar aos mais carenciados
 
 
 
Como é óbvio, uma crise alimentar haveria de se instalar na cidade fruto da guerra.
Na edilidade como resultado das eleições municipais de 30 de Novembro de 1913, as primeiras realizadas segundo os preceitos da Constituição de 1911, Henrique Pereira de Oliveira foi eleito Presidente do Senado e, Eduardo Santos Silva, Presidente da Comissão Executiva.
O organismo da Câmara Municipal que tinha a seu cargo a questão de combater a escassez de géneros alimentares, que acabava por afectar com maior severidade as classes mais desfavorecidas, era a Comissão de Subsistências, dirigida por Manuel Pinto de Azevedo, vereador da Câmara, que procurou levar a cabo uma política de regulação dos preços, não querendo competir com os particulares no mercado.
Em Janeiro de 1917, aquele vereador ofereceu à Câmara, pelo período em que decorresse a guerra, uma padaria com todo o seu conteúdo, para que pudesse ela própria começar a panificar.
A Comissão de Subsistências acabou por comprar e vender alimentos diretamente à população, tais como açúcar, arroz, azeite, bacalhau, além de outros géneros.
Para obstar às carências alimentares que atingiram uma grande parte da população, foi montado no Porto em instalações cedidas à “Comissão de Subsistências”, pelo industrial Joaquim Afonso Fernandes Pereira, da fábrica têxtil de calandrar “A Vencedora”, um armazém para a distribuição do apoio alimentar de que a população carecia.
Naquelas instalações, na Rua do Bonfim, nº 105, passaria a funcionar a sede daquela comissão que dirigia toda a campanha de socorro alimentar aos portuenses.
O industrial Joaquim Afonso Fernandes Pereira teria o seu nome ligado, também, na primeira metade do século XX, à conhecida fábrica de acabamentos de tecidos e tinturaria a “Calandra do Bonfim”, na Rua do Bonfim, 266, que tinha existência desde 1859.
 
 
 
 

Fábrica de calandrar “A Vencedora” sede e oficinas de empacotamento da Comissão de Subsistências

 
 




As fotos anteriores mostram o exterior e o interior de um moinho situado num riacho de uma zona rural do Porto, onde a Comissão de Subsistências moinha o seu cereal.

 
 

Posto de venda de pão, gerido pela Comissão de Subsistências, na Rua de Montebelo, ao Campo 24 de Agosto

 
 
Posto de venda de pão na Junta da Paróquia do Bonfim

 
 

Posto de venda de pão na Junta da Paróquia de Santo Ildefonso
 
 

Veículo trabalhando para a Comissão de Subsistências

 
 

Entrada para a antiga fábrica “A Vencedora”, sede e armazém de empacotamento da Comissão de Subsistências, na Rua do Bonfim, nº 105
 
 
 
A acção da Comissão de Subsistências desenvolvia-se em torno dos bens essenciais e numa acção de regulação dos mercados.
Assim, no que dizia respeito ao azeite, a Câmara Municipal do Porto alugou um armazém em Vila Nova de Gaia, para funcionar como depósito, sendo o respectivo engarrafamento realizado num dos armazéns do Matadouro da Corujeira. Aqui, também funcionava um armazém de acondicionamento das farinhas.

 
 

Engarrafamento de azeite num armazém do matadouro da Corujeira
 
 
 
Municipalização dos Serviços de Energia
 
 
O sector de produção de energia aparecia, por estes dias, também envolvido em grossa polémica.
Assim, no que ao fornecimento de energia dizia respeito, a Companhia do Gás do Porto era a principal fornecedora de energia à cidade, quer destinada à iluminação, quer ao uso industrial.
A Central Térmica do Ouro tinha sido construída entre Abril de 1907 e Julho de 1908, junto dos gasómetros da Companhia Portuense de Iluminação a Gás (CPIG), em Lordelo do Ouro, por uma empresa sua subsidiária - a Sociedade Energia Eléctrica do Porto (SEEP) -, a fim de produzir e distribuir electricidade.
Em Outubro de 1906, a Câmara Municipal do Porto tinha autorizado a CPIG - uma empresa que veio a integrar as Companhias Reunidas de Gás e Electricidade (CRGE), de Lisboa, por sua vez, dependentes, a partir de 1913, do grupo franco-belga Société Financière des Transports et d'Entreprises Industrielles (SOFINA) - a transferir a concessão para a produção e distribuição de energia eléctrica para uma sociedade anónima a criar, a já referida SEEP, com o objectivo de explorar a referida concessão. O projecto arquitectónico das instalações da Central Térmica do Ouro foi da responsabilidade de Fernand Touzet, um engenheiro especializado na construção de edifícios industriais, particularmente na região de Lisboa, e que veio a construir também a primeira Central Tejo, concluída nos finais de 1911.

 
 
Fábrica do Gás e Central Elétrica (à direita), em 1908, no Ouro. À esquerda, observa-se o prédio de Joaquina Margarida Cardoso (proprietária do Palacete das Cardosas, na Praça da Liberdade)
 
 
 
Desde Fevereiro de 1916, se estabeleceu uma série de peripécias entre esta companhia e a Câmara.
Obrigada a reduzir a iluminação pública, a partir de certas horas, naquelas que eram as partes mais iluminadas da cidade e, consequentemente, a pedir auxílio à Câmara, para aquisição de coque, a Companhia do Gás não cumpriria o que contratou.
Depois de acontecidos vários conflitos, toda a relação só podia ter tido um epílogo, que foi o da municipalização da Companhia do Gás em 19 de Novembro de 1917. A partir desta data, o fornecimento de gás passou a estar assegurado pela Comissão Municipal Administrativa da Exploração dos Serviços do Gás, presidida por Marques Guedes.
 
 
 
Assistência hospitalar
 
 
A assistência hospitalar aos militares feridos, em campanha, ficaria a cargo de equipas de enfermagem da Cruzada das Mulheres Portuguesas.
D. Manuel II, no exílio, cederia o Palácio dos Carrancas para servir como Hospital de Guerra e os postos de socorros a Náufragos do Passeio Alegre e da Comissão do Salva-Vidas da Foz do Douro seriam usados para hospital e enfermaria de convalescença.
Um projecto inédito não materializado foi a proposta do Dr. Santos Silva, aprovada pela vereação, de se criar no Porto uma Escola de Reeducação para os soldados mutilados.
 
 
 
 
O fim do conflito
 
Porém, toda a atenção dos portuenses face às contingências da guerra iria sofrer um desvio, no final do ano de 1917, quando acontece a revolta protagonizada por Sidónio Pais, que irá abalar as estruturas políticas.
 
 
 
“O triunfo da revolta do major Sidónio Pais e depois a sua ditatorial «República Nova» (11 de dezembro de 1917 a 14 de dezembro de 1918) confi­rmaram esta inclinação anti intervencionista, mesmo aquiescendo numa quinta campanha colonial, a alteração das ordens de serviço no C.E.P. e a suspensão do esforço de guerra levaram a um certo desprestígio internacional.
Pela atitude da Câmara Municipal do Porto ao conhecer a notícia da vitória do golpe revolucionário, a sua direção tinha compreendido precocemente esse prognóstico, a recusa de saudação ao novo Chefe de Estado foi transmutada para os soldados portugueses nos campos de batalha. O novo regime acabaria por substituir todos os membros dos organismos políticos, policiais e militares portuenses pelos partidários do seu movimento, mas a instabilidade política continuaria com diversas conspirações e intentonas dos opositores e um peso acentuado da União Operária Nacional neste meio citadino, resultando em várias cenas de prisões, cargas policiais e perseguições aos seus elementos e dirigentes. Entre os mais queixosos encontravam-se os ferroviários e os pescadores, cujas traineiras arriscavam cada vez menos as pescarias em alto mar pela maior frequência dos submarinos alemães piratas, juntando-se assim a falta do peixe às recorrentes dos cereais, da carne e do carvão”.
Cortesia de Francisco Miguel Araújo (Faculdade de Letras da Universidade do Porto
 
 
Os tempos, que se sucederam à revolta de Sidónio Pais, foram de descrença e o apoio da população aos mais desfavorecidos e às organizações que lhes prestavam o seu auxílio esmoreceu.
A situação teria um volte face perante as notícias chegadas da frente da batalha, em La Lys, e das enormes perdas sofridas pelo exército português quando a solidariedade dos portuenses renasceu.
A Junta Patriótica do Norte, como ficou dito, exerceu a sua actividade para além do fim da guerra.
Uma referência de destaque, neste âmbito, merece ser atribuída ao jornal “O Comércio do Porto” que, dirigido por Bento Carqueja, um dos fundadores da Junta, diariamente publicava todos os passos, decisões, iniciativas, fracassos e sucessos da Junta, e ao publicitar o balancete das suas contas, todos os que haviam contribuído conseguiam perceber o destino das suas doações.
Constituiu também um apoio importante para as famílias dos soldados, pois publicava notícias sobre os combatentes na frente e explicava como elas poderiam obter os seus direitos, fundamentalmente, os relativos a subsídios.

quinta-feira, 22 de setembro de 2022

25.164 O Porto e a 1ª Grande Guerra

 Homenagens
 
Apesar das conhecidas participações dos Portugueses, em território europeu, durante a 1ª Grande Guerra, a grande envolvência dos nossos soldados aconteceu em território africano.
É na colocação da hipótese de que acabado o conflito e no consequente e habitual parte e reparte dos territórios dos vencidos, que Portugal decide entrar nele, para não ser colocado, findo o mesmo, de fora das grandes decisões.
Aliás, essa posição de Portugal de disponibilidade para a participação como contendor, desagradava ao nosso velho aliado, a Inglaterra, que não queria que nele tomássemos parte, por continuar a cobiçar os nossos territórios ultramarinos.
Assim, a Inglaterra opôs-se sempre à nossa participação, mas Portugal não irá perder a oportunidade de entrar no conflito, ao obrigar a Alemanha a declarar-nos guerra, em 1916, quando viram apresados os seus barcos estacionados nos portos portugueses.
Na barra do Porto, somente estava presente o navio mercante germânico, o «Vesta» que seria apreendido pelas autoridades locais, mau grado a sua tripulação tudo ter feito para o tornar inoperacional pela destruição das máquinas e equipamentos náuticos.
Assim, a 9 de Março de 1916, a Alemanha declarou guerra a Portugal.
A cidade do Porto tem no monumento, da autoria do escultor Henrique Moreira, inaugurado e dedicado ao “Soldado Desconhecido”, exposto na Praça Carlos Alberto, a sua mais icónica homenagem a todos aqueles que morreram ao serviço de Portugal durante a Guerra de 1914-18.
 
 

“Monumento aos Mortos da Grande Guerra” ou “Monumento ao Soldado Desconhecido” da autoria de Henrique Moreira
 
 
 
Antes desta obra, de Henrique Moreira, inaugurada em 1928, uma outra esteve naquele local, entre 1924 e 1925, da autoria de José de Oliveira Ferreira que seria, no entanto, apeada, devido à contestação expressa pelos portuenses, que não concordaram com a estética da escultura.

 
 

Escultura da autoria de José de Oliveira Ferreira resultante da iniciativa da Junta Patriótica do Norte
 
 
São muitas as alusões à memória desta guerra que podemos encontrar espalhadas pela cidade do Porto.
Assim, a cidade do Porto não deixa de num dos seus maiores ex-libris, a Avenida dos Aliados, de fazer alusão à 1ª Grande Guerra Mundial.
Aquela avenida, começada a abrir a partir de 1916, em plena guerra, pela demolição do anterior edifício da Câmara Municipal instalada, então, no conhecido Palacete Monteiro Moreira, viu ser-lhe atribuído o topónimo que continua a ostentar, como uma referência ao grupo de Países do qual éramos parte  – os Aliados.


 

A Avenida dos Aliados começava a ser rasgada
 
 
 
 
Aliás, a avenida começou por chamar-se Avenida das Nações Aliadas, tendo derivado, depois, para Avenida dos Aliados. Ainda em projecto era referida como a Avenida da Cidade.
A Junta de Freguesia do Bonfim recorda, também, a morte dos seus mancebos, na 1ª Guerra Mundial, numa placa afixada na entrada principal do edifício da Junta, ao Campo 24 de Agosto, onde estão gravados os nomes dos que pareceram durante o conflito.

 
 

Ao centro, a placa em mármore com a inscrição dos jovens da Freguesia do Bonfim mortos na 1ª Guerra Mundial – Fonte: Google maps
 
 
 
Junto do cemitério Inglês, no Largo da Maternidade, a comunidade Britânica presta também homenagem aos seus mortos naquele conflito.
 
 
 

Pedestal, em mármore, onde estão inscritos os nomes dos jovens Britânicos, oriundos da cidade do Porto, parecidos nas duas Grandes Guerras Mundiais
 
 
 
Igualmente, a Universidade do Porto assinala a morte de cerca de uma dezena dos seus estudantes, na Guerra de 1914-18, com um monumento inaugurado nas suas instalações, à Praça Gomes Teixeira, em 1948 e, mais recentemente, em 2018, com o descerramento de uma placa junto daquele monumento, assinalando o centenário do conflito.
Já antes, em 1920, a Universidade do Porto tinha descerrado duas placas de mármore, no patamar da escadaria nobre do edifício da então Faculdade de Ciências (actual edifício da Reitoria), com a listagem, incompleta, dos universitários mortos na I Guerra Mundial.
 
 
 
 

Escultura, da autoria de João da Silva, de homenagem da U. P. aos seus alunos mortos na 1ª Grande Guerra Mundial
 
 
 
Depois de várias localizações, a estátua da foto acima encontra-se, hoje, junto à escadaria do Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto.
A escultura referida ficou conhecida como “A Santa” ou “A Sabedoria”.
O escultor João da Silva, acima referenciado, era o autor, também, do monumento inaugurado em 1926, homenageando o escritor Júlio Dinis, ao Largo do Professor Abel Salazar.

 
 

Escultura de Júlio Dinis da autoria de João da Silva
 
 
 
 
A memória da 1ª Grande Guerra Mundial encontra-se também documentada, no antigo Palacete do visconde Pereira Machado, na Rua Formosa, na sede do “Núcleo do Porto da Liga dos Combatentes”, no seu museu, na chamada “Sala da Grande Guerra”.
A “Liga dos Combatentes da Grande Guerra” foi fundada em 21 Janeiro de 1924 e o actual “Núcleo do Porto da Liga dos Combatentes” tem origem, oficialmente, a 25 de Fevereiro de 1925, como “Agência do Porto da Liga dos Combatentes da Grande Guerra”.
Em 1975, a “Agência do Porto da Liga dos Combatentes da Grande Guerra” assume a designação que ainda se mantém de “Núcleo do Porto da Liga dos Combatentes”.
Seria o Dr. Alfredo Barata da Rocha (1891 - 1956), médico e poeta, o primeiro presidente da direcção da “Agência do Porto da Liga dos Combatentes da Grande Guerra”.
 
“Em 1929, a agência do Porto tinha 2238 sócios combatentes, 177 sócios extraordinários e dois sócios beneméritos, ou seja, 11% do total de associados da Liga que registava então 241720. Em 1937, o número não era signi­ficativamente diferente relativamente aos sócios combatentes e extraordinários – 2996 e 310, respetivamente. O aumento veri­ficou-se, sobretudo, nos sócios honorários que, neste ano, se contabilizavam já em 12821. No ano referido, o total de 3447 associados da agência do Porto corresponde a 10,5% da soma nacional, posicionando-se, depois da agência de Lisboa, com 11 152 associados, como o segundo maior núcleo da Liga”.
Cortesia de Isilda Braga da Costa Monteiro (ESEPF) e Maria da Conceição Meireles Pereira (FLUP)
 
 
 
 

Palacete do visconde Pereira Machado – Fonte Google maps
 
 
 
 

Galeria dos Presidentes do Núcleo do Porto da Liga dos Combatentes –  Cortesia de Rui Farinha (Núcleo do Porto da Liga dos Combatentes)
 
 
 
Na foto acima, no topo, está a imagem do Presidente Fundador da Liga dos Combatentes.
Nas duas linhas seguintes, estão todos os presidentes da Agência do Porto, mais tarde designada de Núcleo do Porto, faltando apenas o actual Presidente, Coronel Jocelino Rodrigues
 
 
 

Sala da Grande Guerra – Cortesia Núcleo do Porto da Liga dos Combatentes
 
 
 
 

ALTAR DE CAMPANHA (Corpo Expedicionário Português) usado pelo Capelão militar Joaquim Baptista de Aguiar, no serviço de assistência religiosa das tropas portuguesas na Flandres – Cortesia Núcleo do Porto da Liga dos Combatentes

 
 
Participação na guerra
 
 
 
Um regimento sedeado no Porto, o Regimento de Infantaria 31, teve a sua existência ligada à 1ª Grande Guerra, nomeadamente no seu desempenho em África, mais propriamente no Norte de Moçambique, na região de Mocimboa.
Com a participação a ser decidida em Setembro de 1916, a 4ª Força Expedicionária de Moçambique comandada pelo Coronel Sousa Rosa era formada por três batalhões de infantaria, respectivamente: Regimento de Infantaria 29 de Braga, Regimento de Infantaria 30 de Bragança e Regimento de Infantaria 31 do Porto.
Aquele comandante, sem atender às condições sanitárias da região, levaria ao limite de deixar aniquilar, pela doença, grande parte do batalhão do Regimento de Infantaria 31 do Porto.
Este regimento retornaria ao Porto para se tornar, em 1919, protagonista na defesa do regime republicano, ao opor-se à instauração do golpe monárquico intitulado de “Monarquia do Norte”.
Um outro acontecimento ocorrido no âmbito do conflito e ligado à cidade do Porto, foi protagonizado por um oficial da marinha portuguesa, nascido em 18 de Maio de 1881, no Bairro da Lada-Barredo.
De seu nome, Carvalho Araújo, comandando o barco caça-minas, NRP — Navio da República Portuguesa, “Augusto de Castilho”, em Outubro de 1918, enfrentou com a sua embarcação um submarino alemão, salvando de ser afundado o paquete San Miguel, que escoltava e que se dirigia da Madeira para os Açores, ao possibilitar a sua fuga.
 
 
 
 
NRP Augusto de Castilho (1915) – Fonte: pt.wikipedia.org




O combate ocorrido em alto mar é descrito a seguir:
 
“Após duas horas de combate, com vítimas fatais no convés, a artilharia danificada, a munição quase esgotada e tendo perdido a telegrafia e as máquinas, o Comandante do navio deu ordem para que se hasteasse a bandeira branca para que deixassem sair os civis. Após a sua saída, a bandeira branca foi arreada e o combate prosseguiu. Um último tiro do submarino, entretanto, vitimou fatalmente o comandante Carvalho Araújo.
Dada a ordem de abandonar o navio pelo imediato, o guarda-marinha Armando Ferraz, os sobreviventes conseguiram lançar ao mar um salva-vidas onde se comprimiram trinta e seis homens. Doze outros sobreviventes, em uma jangada improvisada, conseguiram autorização dos alemães para retornar a bordo e pegar uma baleeira. O caça-minas foi então afundado pelos alemães, com o corpo do comandante coberto pela bandeira de Portugal e os dos demais auxiliares mortos em combate”.
Fonte: pt.wikipedia.org


 
 
 
Placa colocada, em 12 de Outubro de 1954, em memória de Carvalho de Araújo, na casa onde nasceu na Ribeira – Fonte: JPortojo


 
 

À esquerda da capela da Lada, na Ribeira, a casa de azulejos, onde nasceu Carvalho de Araújo – Fonte: Google maps



Mas, em 3 de Junho de 1945, com a guerra já terminada, os arredores do Porto, mais propriamente, o Lugar de Angeiras, iria ser noticia, quando um submarino alemão U-Boat 1277 afundou ao largo daquela vila piscatória, como é narrado no texto seguinte:


“No dia 3 de Junho de 1945 os tripulantes do submarino alemão U1277 chegavam a terra na praia das Angeiras, em Matosinhos, depois de terem afundado o seu navio ao largo da costa. A guerra já tinha terminado há quase um mês…
Os 47 tripulantes tinham saído da Alemanha em finais de Abril com o objetivo de prosseguir a guerra na zona do Canal da Mancha, mas duas semanas depois recebiam a mensagem da rendição incondicional do seu país e ordens para se dirigirem ao porto aliado mais próximo.
Apesar destas ordens o comandante tomou a decisão de afundar o navio junto a um país neutral e assim evitar que este ficasse em mãos inimigas. Depois de abrirem as válvulas, que permitiram a entrada de água no interior da unidade naval, os homens conseguiram chegar a terra com a ajuda de pescadores locais.
De Portugal foram enviados para Inglaterra onde permaneceram como prisioneiros durante 3 anos”.
Fonte: ensina.rtp.pt 


Por outro lado, algumas personalidades radicadas na cidade do Porto, oriundas da Alemanha, seriam também atingidas pelas vicissitudes da 1ª Grande Guerra.
Com a declaração de guerra da Alemanha a Portugal, em 1916, a colónia alemã foi forçada a abandonar o país, em cinco dias, tendo visto os seus bens serem alvo de confisco.
Assim, a casa “E. Biel & C.ª”, de Emílio Biel que, à data, ocupava o Palácio do Bolhão, teria os seus bens confiscados e, posteriormente, vendidos em hasta pública.
Tendo falecido a 14 de Setembro de 1915, Emílio Biel (Annaberg, Saxónia, 18 de Setembro de 1838 – Porto, 14 de Setembro de 1915), negociante, editor e fotógrafo alemão foi pessoalmente poupado a este desastre, que viria, todavia, a originar a perda irremediável de grande parte do seu espólio fotográfico (milhares de chapas de vidro, fototipias e documentos em papel) e a dispersão do restante por diversos coleccionadores e arquivos.
 
 
 

Palácio do Bolhão, na Rua Formosa, em 1917
 
 
 

Emílio Biel
 
 
 
Também a firma “Claus & Schweder, Sucessores”, produtora de sabonetes e perfumes, fundada em 1887, instalada na Rua Júlio Dinis e, a partir do início do século XX, na Rua de Serpa Pinto, seria afectada na sequência do conflito entre Alemanha e Portugal, já que um dos seus fundadores, Ferdinand Claus e o seu sócio Willy Thessen, também director da empresa, entrado em 1905, são obrigados a recolher à Alemanha.

 
 

Fundadores e operários da ““Claus & Schweder”, c. 1887
 
 
 
Acontece que um dos primitivos fundadores, de seu nome Georg Phillip Shweder, já se tinha afastado da empresa por razões de saúde, em 1903.
Assim, esta empresa com o eclodir da 1ª Guerra Mundial, em 1917, foi nacionalizada, mas findo o conflito, Willy Thessen voltaria à empresa, como sócio e director técnico, por convite de Aquiles de Brito.
Esta personalidade tinha chegado à empresa em 1903, desempenhando o cargo de contabilista.

 
 


 
 
 
Como consequência das vicissitudes sofridas pela “Claus & Schweder, Sucessores”, Aquiles de Brito haveria, em 1918, de fundar uma empresa do mesmo ramo de actividade que ainda hoje sobrevive – a “Ach-Brito”.
Pelo meio, em 31 de Dezembro de 1924, Aquiles de Brito comprava à CIN, a detentora, à data, do espólio da “Claus & Schweder, Sucessores”, a antiga fábrica da Rua Serpa Pinto.


 

A “Ach-Brito” na, ainda por abrir, Rua D. António Barroso
 
 
 


 
Outros membros da comunidade alemã, casos de Eduardo Katzeinstein e Adolfo Hofle, seguiriam os passos de Ferdinand Claus e retornariam à Alemanha.

 
 
 
Eduard Katzenstein (25.11.1817 - 4.2.1894), empresário e Cônsul do Império Alemão e Anne Sophie Henriette Ehlers, (Örsdorf 10.4.1820 - Porto 18.8.1859), sogros de Emílio Biel e pais de Edith Katzenstein
 
 
 
 
Protestos das populações
 
 
Em termos de ordem pública, a situação vivida entre 1914 e 1918, na cidade do Porto, foi-se agravando com o passar dos anos.
Tomando o leme nas suas mãos, a Câmara do Porto tudo fez para minorar os efeitos da crise que se estabeleceu.
 
 
 
“No caso da vereação da Câmara Municipal do Porto, as normas do poder central foram integralmente respeitadas, procurando-se proteger os sectores económicos vitais e acalmar alguns tumultos sociais, particularmente junto das camadas operárias e populares que protestavam contra o encarecimento do custo de vida. Os restantes estoicamente foram aceitando as imposições práticas para canalizar fundos e matérias- -primas para o sorvedor orçamento militar: supressão de alguns horários das linhas ferroviárias, redução da iluminação pública, postos de venda nas esquadras policiais dos produtos de primeira necessidade geridos pela Comissão Municipal de Subsistências, agravamento da crise alimentar, etc. Nas eleições municipais de novembro de 1917, uma vez mais o Partido Democrático reuniu a maioria dos votos, sendo reeleito presidente Henrique Pereira de Oliveira e reconduzidos vários dos edis. Porém, de imediato, a grande sangria que o burgo portuense sofreu foi ao nível da sua comunidade de súbditos alemães, colocados no limbo legal de passarem a ser considerados inimigos do país e o consequente congelamento dos seus bens. Enquanto alguns elementos das famílias como os Burmester, Stube, Rothes, Roseler, Gerstlacher, Lehmann, Van der Niepport, Wandschneider, etc., optaram por se retirar para Espanha; outras personalidades requereram permissão para manter a sua residência ou abdicaram da nacionalidade alemã, principalmente entre o segmento feminino, como os ilustres D. Carolina Michaëlis de Vasconcelos ou os herdeiros de Emílio Biel. Unicamente uma holandesa acabaria acusada de espionagem para a Alemanha e com ordem de expulsão do país: a professora Christina Haussmann”.
Cortesia de Francisco Miguel Araújo (Faculdade de Letras da Universidade do Porto
 
 
Como em todas as situações do género, o açambarcamento e o “mercado negro” retiraram do mercado muitos bens essenciais, o que permitiu a especulação, tendo a alta de preços e a escassez de alimentos sido particularmente notadas nas zonas urbanas, como foi o caso do Porto.
 
 
“Assim, considerava a Câmara, a única maneira de acabar com o açambarcamento e a especulação era a de importar diretamente do estrangeiro os géneros necessários para alimentar a população, podendo desse modo controlar os preços. Para fazer essa importação, como já vimos, precisava que o Governo lhe desse preferência na adjudicação da exploração dos vapores alemães apresados, algo que não aconteceu”.
Cortesia de Alexandre Lima Ferreira - Universidade do Porto
 
 
Ainda antes da entrada de Portugal nesta guerra, já se sucediam as manifestações de protesto dos portuenses.
 
 
“Em 18 de setembro de 1914, o primeiro dos grandes motins populares com assaltos a armazéns de víveres e lojas comerciais e forte repressão policial, segundo as autoridades instigado pelos líderes dos movimentos operários locais, contra o aumento do desemprego e a carestia de vida. O escândalo, passado pouco mais de um mês, de falsi­ficação e contrafação de moeda e as muitas greves por aumento dos salários e revisão dos regulamentos de trabalho, ao longo de todo o ano de 1915, dos mineiros de S. Pedro da Cova que abastecia a cidade de carvão vindo de Gondomar, das costureiras, dos tipógrafos e dos ourives contra as entidades patronais. Em fevereiro de 1916, os motins populares em todo o distrito encontraram o seu alvo no arrolamento do milho, encarecendo a venda do essencial pão e broa no regime alimentar das classes mais pobres, com assaltos a casa de lavradores e a padarias um pouco por todas as localidades dos concelhos vizinhos”.
Cortesia de Francisco Miguel Araújo (Faculdade de Letras da Universidade do Porto
 
 
“Em fevereiro de 1916, nos arredores do Porto, populares impediram a saída de comboios que transportavam cereais, e em Vila Nova de Gaia foram pilhadas algumas lojas. A entrada de Portugal na guerra agravou o clima de confronto, tendo o ano de 1917 sido nesse aspeto verdadeiramente funesto, com tumultos no Porto que duraram vários dias durante o mês de janeiro, e assaltos a padarias e lugares de venda de hortaliça. Em abril, Dias da Silva informou os restantes vereadores que a escassez de pão que se verificava na cidade já tinha originado tumultos populares. Isto correspondia à realidade, tendo os assaltos a padarias e os confrontos continuado, levando à intervenção da Guarda Nacional, que resultou em ferimentos e prisões. Estas intervenções policiais não resolveram o problema de fundo, que era o do açambarcamento dos bens alimentares e a dificuldade em adquiri-los no mercado internacional”.
Cortesia de Alexandre Lima Ferreira - Universidade do Porto


(Continua)