2. Leça da Palmeira
Sala de Visitas e Hotel Estefânia em Leça da Palmeira
Situada na foz do
rio Leça, na sua margem direita, teria sido uma vila romana denominada de
Letia.
Hoje, é uma das
freguesias de Matosinhos.
“A primeira referência histórica a esta
localidade remonta a 1081 como Villa Fosse de Leza e sabe-se que, no início do
século XIII, existia já, na sua paróquia, uma importante igreja cujo padroeiro
era S. Miguel - daí algumas derivações do nome, como, por exemplo, S. Miguel de
Leça da Palmeira, S. Miguel da Palmeira, S. Miguel de Bouças, entre outros”.
Fonte: Infopédia
Muito próximo do local em que está o castelinho de Leça (mais tarde
transferido para a praia de Leça) foi instalada o Posto Semafórico.
Na foto acima vê-se, à esquerda, o famoso Restaurante Leixões, fundado
em 1903 por Francisco Ariz, bem perto do local onde, hoje, está o restaurante
“Bem-Arranjadinho” e, bem à direita, na outra margem, a praia de Matosinhos.
O Eléctrico preparava-se para entrar, seguindo em direcção à ponte do
comboio, na “Sala de Visitas” e, assim, a poucos metros da curva, iria passar
em frente ao Hotel Estefânia, situado na Rua Vareiro, depois de já ter passado,
também, pelo Hotel Central, situado no Largo Fonte Seca.
De facto, a via, para lá da curva, era chamada de “Sala de Visitas”.
Sobre a “Sala de Visitas”, Augusto Nobre, irmão do poeta António Nobre, na sua obra “Leça da
Palmeira – Recordações e estudos de há sessenta anos” (1946), deixou-nos
uma curiosa narrativa.
Foto e respectiva ampliação, junto das estações terminais dos percursos
dos comboios e eléctricos para Leça – Fonte: Os Velhos Elétricos do Porto; In
“portoarc.blogspot.pt”
Como se pode observar, acima, os eléctricos e os comboios cruzavam-se
neste local, terminando os respectivos percursos junto do Castelo de Leça.
Na gravura anterior a estação do caminho-de-ferro está à esquerda,
tendo ao lado o Hotel Leixões. A linha férrea começou a fazer o transporte de
passageiros, a partir de 1893.
Augusto Nobre, na sua obra “Leça da Palmeira – Recordações e
estudos de há sessenta anos”, faz uma breve referência ao Forte de Nossa
Senhora das Neves ou Castelo de Leça da Palmeira.
O Forte de Nossa Senhora das Neves teria sido antecedido, em local
próximo, de um outro mais modesto que, em 5 de Novembro de 1834, seria vendido
ou o que dele restava e respectivos anexos, a João Teixeira de Melo. No seu
lugar foi construído o Hotel Estefânia.
Segundo Guilherme Felgueiras, “Monografia de Matosinhos”, página 77/78,
o chafariz central referido na escritura de venda, está hoje no jardim da Casa
do Ribeirinho.
O fortim de Santa Catarina, assim se chamava o baluarte, tinha sido
levantado sob a Dinastia Filipina, em 1638 ou 1639.
Por alvará de 1648, foi a fortificação dotada com uma guarnição de seis
soldados pagos, porém, desde sempre se ambicionou, para a foz do rio Leça,
outra fortaleza mais imponente, o que viria a acontecer.
O fortim iria
coexistir com o Forte de Nossa Senhora das Neves (foto abaixo), começado a
construir em 1651 e, cuja construção se arrastaria, ao longo das décadas
seguintes.
Assim, um relatório
de 1701 dá conta de que a fortificação ainda se encontrava incompleta, embora
artilhada com quatro peças e guarnecida por oito soldados sob o comando de um
tenente. Acredita-se que o forte tenha sido concluído em 1720.
Perdida a sua função
militar aí se instalou, em 1844, a Alfândega do Porto e, em 1899, a secretaria
do Porto de Leixões.
Hoje é a sede da
capitania daquele porto.
“No século XX, as
suas instalações foram entregues à Capitania do Porto de Leixões que nelas se
instalou, fazendo erguer em seu terrapleno alguns edifícios para alojamento de
pessoal, que descaracterizaram o conjunto”.
Fonte:
“pt.wikipedia.org”
O “Hotel Estefânea” aberto em meados do século XIX, em Leça da
Palmeira, onde esteve antes um antigo fortim, na Rua do Vareiro, era em 1867, propriedade
do galego Raimundo Villaverde, tendo-o administrado, mais tarde, ao lado do seu
filho Inácio.
«A 31/05/1867, o
proprietário do Hotel Estephania era o espanhol da Galiza, Raymundo Villa Verde
que vivia na R. do Vareiro com a sua mulher Roza dos Santos Villa Verde
(natural de Valadares no concelho de Villa Nova de Gaia) com a qual tinha casado
na Igreja parochial de Sam Nicolao no Porto.
Nesse dia, foi o
batismo da sua filha Albertina Roza na Egreja Parochial de Sam Miguel de Leça
da Palmeira; os seus padrinhos foram João Eduardo de Brito e Cunha, solteiro e
morador na R. do Sol em Mathozinhos, e Roza de la Rocque Teixeira de Mello
moradora com seu marido na R. de Santo Amaro também em Mathozinhos.
O hotel tinha,
ainda, segundo o irmão do poeta António Nobre, Augusto Nobre, “uma sala de
jantar espaçosa” e era frequentado “pela colónia inglesa e por banhistas
portugueses”, estando integrado num parque arborizado.
Era propriedade
de Wenceslau de Lima que ali viveu, e também passou pelas mãos de Joaquim
Pacheco».
Cortesia de José Rodrigues
Na foto acima, pode ver-se que as paredes exteriores do edifício, em
contacto com o solo, têm um ângulo de 45 graus, como resultado de terem sido
levantadas sobre os alicerces duma fortaleza do século XVII, que se chamava
fortim de Santa Catarina.
O “Hotel Estefânea”, após abandonar estas instalações, chegaria a abrir
portas noutro sítio, alvitrando-se um local, mais próximo da barra do rio Leça.
Na sua obra “Leça da Palmeira – Recordações e estudos de há
sessenta anos”, Augusto Nobre fornece-nos mais alguns pormenores interessantes
sobre o Hotel Estefânia.
Wenceslau de Sousa Pereira de Lima (Porto, 15 de Novembro de 1858 — Lisboa,
24 de Dezembro de 1919) referenciado no texto acima, foi um geólogo,
investigador da paleontologia e político português, que, entre outras funções,
foi deputado, ministro e presidente do Conselho de Ministros.
Casado desde 1879 com D. Antónia Adelaide Ferreira, filha de António
Bernardo Ferreira (III) e neta da sua homónima D. Antónia Adelaide Ferreira (1811-1896),
a famosa "D. Antónia" ou simplesmente "Ferreirinha", Wenceslau
de Lima, um monárquico convicto, viveu os últimos anos de vida no exílio, na
cidade de Pau, em França, e morreu em Lisboa a 24 de Dezembro de 1919. Está
sepultado no Porto, no Cemitério da Lapa.
Na foto acima pode
ver-se que as edificações estão numa cota superior à da rua.