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segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

25.79 Secção Regional Norte da Ordem dos Médicos - Actualização em 02/02/2021


Durante anos, a Secção Regional Norte da Ordem dos Médicos (SRNOM) esteve sedeada na Rua Ávares Cabral, nº 76.
Haveria de mudar-se, na década de 1980, para a Rua Delfim Maia, nº 405, na freguesia de Paranhos.


Secção Regional Norte da Ordem dos Médicos (SRNOM) na sua antiga morada, na Rua Álvares Cabral – Fonte; Google maps



“Quando começou a trabalhar na Secção Regional do Norte da Ordem dos Médicos (SRNOM) tinha apenas 14 anos. Nessa altura, em 1956, as instalações estavam ainda localizadas na Rua Álvares Cabral, mas quando começaram as mudanças para a Rua Delfim Maia, em 1984, José Maria Moreira, seguiu-as. Hoje, com 46 anos ao serviço da SRNOM e dos associados da instituição, este funcionário de 60 anos de idade é, talvez, o mais antigo de toda a Ordem dos Médicos. “Sou o trabalhador mais antigo da SRNOM e direi, quase sem receio, que sou o mais antigo de toda a Ordem dos Médicos”, afirma orgulhosamente.”
Cortesia de “nortemedico.pt” em Setembro de 2002


Dada a exiguidade das instalações de Álvares Cabral, facto que se vinha a acentuar de ano para ano, a SROM acabou em 1984, por mudar-se para uma bela propriedade, próxima do Jardim de Arca de Água e com três acessos à mesma: Rua Luz Soriano, Rua Delfim Maia e Praça 9 de Abril.
Em tempos, era mencionada por Horácio Marçal na sua obra “S. Veríssimo de Paranhos” (página 106, edição da CMP), uma Quinta do “Tique-Toque” que se estendia da Rua Carlos da Maia e Rua Carvalho Araújo, até à Rua Leonardo Coimbra, fazendo parte do Casal do Couto, e que corresponderá à área ocupada pela SRNOM.



“O bem conservado jardim da Secção Regional do Norte da Ordem dos Médicos, junto à Arca d’Água, foi projetado por Jacinto de Matos e pertenceu à família Riba d’Ave. Possui lago, gruta e miradouro decorados com os tradicionais motivos naturais em cimento armado, para além de várias esculturas modernas. A vegetação inclui um cedro-do-atlas e um tulipeiro, ambos classificados em 2011, ciprestes, magnólias, palmeiras, camélias e uma monumental araucária-do-Brasil”.
Cortesia de “100milarvores.pt”



Ordem dos Médicos, em Paranhos – Cortesia de “simedicos.pt”


A propriedade tinha sido pertença de António Manuel Ferreira Braga que, em Outubro de 1913, ainda vivia, de acordo com pedido de licenciamento de obras à Câmara Municipal do Porto, na Rua Costa Cabral, nº 323 e, para esta morada, solicitava obras de beneficiação das instalações.



Fachada do prédio da Rua de Costa Cabral, nº 323, que a partir de 1943, seria ocupada pelo Cinema Júlio Deniz


Na casa da Rua de Costa Cabral, nº 323, morreria em 12 de Setembro de 1871, o escritor Júlio Dinis, nascido em 14 de Novembro de 1849, na Rua do Reguinho, freguesia de S. Nicolau.


Casa onde faleceu o escritor Júlio Dinis


Em 1918, num outro pedido de licenciamento, à mesma entidade, António Manuel Ferreira Braga já se dava como morador na Rua Luz Soriano e, era, para aqui, que solicitava as respectivas obras e, em 1929, continuava a ser dado como o proprietário da propriedade sedeada na Rua Luz Soriano, pois solicitava para aquela morada a construção de uma garagem.
António Manuel Ferreira Braga era genro do industrial e capitalista Narciso Ferreira, casado com uma filha deste industrial, Rita de Oliveira Ferreira, nascida em 9 de Setembro de 1884, em Riba de Ave e falecida em 23 de Dezembro de 1973.
Em 1904, Rita Ferreira (irmã do capitalista Delfim Ferreira e do conde de Riba d'Ave), casou, então, com António Manuel Ferreira Braga, tendo sido ele um dos grandes colaboradores de Narciso Ferreira e um dos continuadores da sua obra.
Do casamento resultaram 5 filhos, Manuel (faleceu prematuramente), António, Luísa, Branca e Eva.
António Manuel Ferreira Braga faleceu, em 10 de Abril de 1947, no seu palacete, à Praça 9 de Abril, hoje, a sede da Ordem dos Médicos.
Uma outra irmã, mais nova, de Rita Ferreira, de seu nome Luciana Ferreira, viveria bem perto dela, na Rua do Campo Lindo, nº 234.



Residência de Arnaldo Gonçalves e Luciana Ferreira, na Rua do Campo Lindo, 234. Hoje, é um Centro de Atendimento Temporário – CAT – Fonte: Google maps



Em 20 de Janeiro 1954, os jornais noticiavam o falecimento, à Rua de Campo Lindo, nº 234, de Arnaldo Gonçalves, dono da “Fábrica de Tecidos da Ponte da Pedra” e cunhado de Delfim Ferreira, que tinha sido casado com Luciana de Oliveira Ferreira (irmã de Delfim Ferreira, e do conde de Riba d’Ave) nascida em 2 de Setembro de 1898, em Riba de Ave e, entretanto, à data, já falecida em 5 de Outubro de 1949.
Em 1920, Luciana Ferreira, tinha casado com Arnaldo Gonçalves, que esteve na gerência da Fábrica de Bairro, fundada por seu pai, Narciso Ferreira, o patriarca da família Ferreira.
Arnaldo Gonçalves tinha feito parte da administração da CHENOP (o embrião da actual EDP) e, em 1936, tinha fundado a “Fábrica de Fiação e Tecidos da Ponte da Pedra”, em Leça do Balio.
Do casamento resultaram dois filhos, Maria Luciana e Arnaldo Ferreira Gonçalves.

quarta-feira, 18 de setembro de 2019

(Conclusão) - Actualização em 31/01/2020 e 22/01/2021


Delfim Ferreira. Um capitalista com rectaguarda familiar


A actividade hoteleira era para Delfim Ferreira (Riba-d’Ave, 1888 – Porto, 1960) uma gota de água num imenso oceano e, nestas águas, vogava o sector energético que, para além da pioneira indústria têxtil, compreendia muitas outras que foi abraçando ao longo da sua vida.
Tudo começou pela iniciativa de seu pai, Narciso Ferreira, que depois de ter começado como tecelão (actividade de cariz familiar), foi abraçando outros empreendimentos menores no sector têxtil, até que, viria a constituir uma sociedade em 1894, com o empresário Manuel Joaquim Oliveira, o banqueiro José Augusto Dias, o engenheiro Ortigão Sampaio e com o proprietário José Fernandes, legalizada por escritura em 1896, denominando-se Sampaio Ferreira & Cia. Lda. (Riba-d’Ave, Famalicão), com duzentos teares mecânicos, alimentados pela energia de um açude construído no rio.
Mas, falar de indústria têxtil em Riba d'Ave, implica referir a pequena fábrica de lã do Barão da Trovisqueira, a Fábrica de Sant’Anna criada c. 1883/85, parecendo representar o primeiro aproveitamento hidráulico conhecido para o concelho, assentando a estrutura motora do maquinismo numa turbina.
José Francisco da Cruz Trovisqueira (1824-1898), natural de Gavião, tendo embarcado para o Rio de Janeiro, em 1834, regressou, mais tarde, tornando-se político (administrador do concelho; presidente da câmara municipal durante os mandatos 1868/69, 1870/71, 1872/73, 1874/75 e 1878/81; deputado em várias legislaturas), cacique do partido reformista e depois do progressista. Participou ainda em várias iniciativas industriais, obtendo concessões para linhas de americano (no Porto e em Coimbra) e para a via férrea em Arganil, representando a fábrica de lanifícios sobre o Ave a sua demonstração local como empreendedor, estabelecendo as óbvias conexões com a sua actividade política.
A concessão que obteve c. 1870, para construir uma linha férrea entre o Porto e Matosinhos, pelo sistema americano, foi por ele vendida, sem a ter executado.



Um Americano puxado por muares, na Praça da Batalha – Cortesia: STCP




“Sampaio & Ferreira”, actualmente desactivada – Fonte: jornal “O Minho”



Voltando à família Ferreira, em 1905, Narciso Ferreira (07 /07/1862 – 23/03/1933) fundaria a “Empresa Têxtil Eléctrica, Lda.” (Bairros, Famalicão), concebida desde o início para utilização da electricidade, produzida a partir de uma pequena central instalada no Ave.
O seu objecto era o de "exploração da indústria de fiação e tecelagem de algodão e de electricidade, e quaisquer outros ramos inerentes.
É, no médio Ave, na zona da confluência do rio Vizela com o rio Ave, que se regista um primeiro núcleo de centrais hidroeléctricas (centrais de Amieiro Galego, do Bairro, da Têxtil Eléctrica e de Caniços), resultando daí um maior dinamismo na relação com os cursos de água existentes. Para além de estarmos na presença de centrais ligadas às principais unidades industriais associadas ao têxtil, são também aquelas que atingem ou atingiram maior dimensão empresarial.
Outra grande fábrica (do grupo empresarial) seria montada por Narciso Ferreira, a “Oliveira Ferreira & Cia. Lda.”, criada em Riba de Ave em 1909.
Em sequência, em 1909, Narciso Ferreira electrificou as suas duas outras empresas de Riba d'Ave - a “Sampaio & Ferreira” e a “Oliveira & Ferreira”, erguendo, para isso, a Central de Amieiro Galego, no rio Ave.
Esta central começa a funcionar em 1909 e permitiu o trabalho por turnos, e electrificar a freguesia de Riba d'Ave que, por essa razão, foi uma das poucas do concelho a dispor de energia eléctrica para consumo doméstico.
O fornecimento energético ao complexo industrial (em censo de 1928 tinha no total, 1400 trabalhadores), e o consumo doméstico viria a ser reforçado, pela exploração da central do Varosa, da “Companhia Hidro-Eléctrica do Varosa”, concessionada em 1907 e construída para iluminação da Régua e de Lamego.
Esta central energética foi sendo transformada, desde 1918, pelo grupo empresarial de Narciso Ferreira, que faz chegar a energia ao Vale do Ave, proveniente do Varosa, reforçando-a com o funcionamento da Central Termoeléctrica de Caniços (Bairro) e, a partir de 1925, a energia chega ao Porto, por concessão de uma linha de abastecimento a partir da barragem do rio Varosa e da sua Central do Chocalho.


Central de Caniços da Empresa Têxtil Eléctrica, Lda., em Bairro - Fonte: Câmara Municipal de Famalicão



Note-se que, a Barragem do Lindoso, determinante para a região Norte, apesar de concessionada em 1907, só começaria a funcionar em 1922, fornecendo energia para Porto, Gaia e Braga.



Barragem de Varosa, em Lamego – Cortesia de Vítor Oliveira


Narciso Ferreira também montou e organizou, já com a ajuda dos seus filhos, a “Fábrica de Fiação e Tecidos (Ferreira & Irmão, 1924)” de Vila de Conde e a “Empresa Têxtil Algodoeira de Arcozelo”,  em V. N. de Gaia.
Porém, entre os seus filhos, na condução dos negócios, a herança do comando de Narciso Ferreira (falecido em 1933), vai para o filho Delfim Ferreira que, face ao eclipsar natural de Narciso Ferreira, vai lançar outros projectos, em diferentes áreas.
Assim, Delfim Ferreira terá um papel fundamental no fabrico de seda artificial, em Portugal, com a criação, em 1930, da “Empresa Nacional de Sedas” (sedeada em V. N. de Gaia, Arcozelo, Aguda) e, em 1951, funda a “Sociedade Industrial do Mindelo”, em Vila do Conde.
A grande capacidade de inovação industrial revelada por Delfim Ferreira foi reconhecida, a nível nacional, tendo o Governo convidado o industrial a aproveitar as águas do rio Ave, nascendo então a Companhia Hidro-Eléctrica de Portugal”, apoiada na Barragem do Ermal (funcionando por gravidade) e na sua Central de Guilhofrei, com funcionamento a partir de 1938.



Barragem do Ermal e albufeira – Fonte: “portugalfotografiaaerea.blogspot.com”


Pela associação em 1943 da “Companhia Hidro-Eléctrica de Portugal” e da “Companhia Hidro-Eléctrica do Varosa” (que tinha associado as centrais eléctricas de Chocalho e do Caniço) resultaria o aparecimento da “CHENOP” – “Companhia Hidro-Eléctrica do Norte de Portugal que, tendo sido nacionalizada em 1975, ficou sob a alçada da EDP.
Em 1953, e novamente a convite do Governo, Delfim Ferreira explorou as águas do rio Douro, dando origem à “Hidroeléctrica do Douro”.
Delfim Ferreira, noutras áreas de negócio, foi ainda o responsável pela construção de grandes edifícios na Avenida António Augusto Aguiar e Sidónio Pais (em Lisboa) e na Rua Sá da Bandeira (Porto).
Entre todos eles, destaca-se o Palácio do Comércio (na parte nova da Rua Sá da Bandeira) projectado em 1944, pelos arquitectos David Moreira da Silva e Maria José Marques da Silva Martins (respectivamente genro e filha do arquitecto Marques da Silva).
A escultura “O Triunfo da Indústria”, que assenta na sua platibanda, é da autoria de Henrique Moreira.



Palácio do Comércio – Fonte: Fundação Marques da Silva (“arquivoatom.up.pt/”)


Outra área que Delfim Ferreira explorou, foi a da produção vinícola, nomeadamente a ligada ao vinho do Porto, tendo criado, nas suas explorações vinhateiras, no Douro, novos métodos de produção vinícola e de arroteamento, nomeadamente nas suas propriedades de “Quinta dos Frades” (Armamar) e “Quinta do Castelo” (Santa Marta de Penaguião).

“A Quinta dos Frades, primitivamente designada de Quinta da Folgosa, como é referida nos documentos mais antigos, localiza-se na freguesia da Folgosa, concelho de Armamar. As suas origens remontam ao século XIII, tendo sido doada aos monges do Mosteiro de Santa Maria de Salzedas em 1256, como comprovam os dois Brasões da Congregação Autónoma dos Cistercienses de São Bernardo de Alcobaça que a quinta possui. Foi uma das mais ricas e produtivas quintas deste Mosteiro.
(…) Com a extinção das Ordens religiosas e dos seus mosteiros em 1834, como foi o caso do Mosteiro de Santa Maria de Salzedas, ao qual pertencia a Quinta dos Frades, os bens destes mosteiros foram inventariados e colocados à venda em hasta pública. A Quinta dos Frades, acabaria por ser arrematada a 6 de Novembro de 1841 pelo 1º barão da Folgosa, Jerónimo de Almeida Brandão e Souza, mantendo-se na posse dos seus herdeiros, sua filha e marido (Conde da Folgosa) até 1941.
Em 1941, o Comendador Delfim Ferreira, um importante industrial e impulsionador da economia portuguesa, adquire a Quinta dos Frades, levando a cabo um projecto de reabilitação da mesma, da autoria do arquitecto Rogério de Azevedo, também responsável pelo projecto do emblemático Hotel Infante Sagres, mandado construir por Delfim Ferreira. A quinta passava agora a estar dotada de infraestruturas modernas de produção e de lazer e Delfim Ferreira introduziu também o método de plantação das vinhas em declive livre.
Já nos anos 70 do século XX a Quinta dos Frades, vê a sua área reduzida pela construção da Barragem de Bagaúste e pelas obras de desvio da E.N. 222, tendo sido expropriada uma grande área incluindo os terrenos abaixo do solar onde estavam implantadas as vinhas mais antigas. Actualmente a quinta possui cerca de 200 hectares de área.
Após décadas a produzir para outras casas exportadoras de vinho e de um período de reestruturação, finalmente em 2008 os bisnetos de Delfim Ferreira, aproveitando as potencialidades das vinhas da quinta, iniciam um projecto de produção do primeiro vinho de mesa com a marca “Quinta dos Frades”, contando presentemente com mais marcas e uma edição especial dedicada ao Comendador Delfim Ferreira”.
Fonte: “quintadosfrades.pt”


Marco Pombalino da Quinta dos Frades



Quinta dos Frades, na Folgosa, Armamar


Delfim Ferreira morreu em 1960, na sua casa na Quinta de Serralves, que tinha adquirido nos anos 50 ao conde de Vizela.


Casa de Serralves




Conde de Riba d’Ave
 
 
Um outro filho de Narciso Ferreira, Raúl Ferreira (1895-1974) dedicou-se também ao negócio afecto à indústria têxtil.
Assim, foi sócio das empresas da família e fundador de outras, como a Raúl Ferreira, Lda. e a Fábrica de Fiação e Tecidos de Braga, Lda.
Fez a sua formação escolar no Colégio de Santa Maria, no Porto e, em 1915, casou com Maria da Glória Gomes Ribeiro.
Era irmão de Delfim Ferreira, Alfredo Ferreira, José Ferreira, Joaquim Ferreira, Manuel Carlos Ferreira, Maria Luciana Ferreira e Maria Rita Braga.
Revelou-se sempre como grande benemérito de Riba de Ave, tendo estado na fundação do Hospital de Riba de Ave, com seu pai e, depois, na construção da Igreja Paroquial e noutras obras dirigidas pela Fundação Narciso Ferreira, conjuntamente com seus irmãos. Um verdadeiro filantropo que em sequência vai ser agraciado pelo Papa Pio XII, como conde de Riba d’Ave, a 15 de Agosto de 1947, 15 de Agosto de 1947, acto posteriormente autorizado pelo Governo de Portugal que, em 30 de Junho de 1950, lhe confere o Grande Oficialato da Ordem de Benemerência.

 
 

Casa do conde de Riba d’Ave, situada em São Mateus (Oliveira) / Vila Nova de Famalicão, em 7 de Fevereiro de 2019 – Cortesia de Paulo Pereira
 
 
 
A construção da casa da foto anterior iniciou-se em 1917 e foi concluída, apenas, em 1938.
O projecto de arquitectura paisagística será da autoria do arquitecto francês Jacques Gréber, que também foi o autor dos jardins da Casa de Serralves.
Toda a obra de madeiras foi executada pela oficina “Carvalho & Cunhado, Lda”, com sede na Rua de Cedofeita, n.º 414, no Porto.


 
 
Escadaria da casa do conde de Riba d’Ave, obra em madeira de “Carvalho & Cunhado, Lda”



A firma “Carvalho & Cunhado, Lda” haveria de se transformar, na mesma morada, na "Antiqualha do Porto".







2. Hotel Aliados


O Hotel dos Aliados, que já foi Pensão dos Aliados, é o único de 3 estrelas existente na Avenida dos Aliados.


“Numa zona onde existiam outrora duas ruas muito movimentadas e um conjunto de ruas curtas e vielas a que chamavam “os lavadouros”, a demolição em 1916 do palacete barroco da Praça da Liberdade — que desde 1816 alojara a Câmara do Porto — representou o primeiro passo para a edificação do que viria a ser a Avenida dos Aliados, que deriva de Avenida das Nações Aliadas com que foi baptizada aquando da sua inauguração em homenagem à vitória aliada na 1ª Guerra Mundial (1914-1918).
Desde meados do século XIX, a Praça da Liberdade era já o “ponto predilecto de reunião dos homens graves da política e do jornalismo, da alta mercancia tripeira e dos brasileiros”. Projectada pelo arquitecto inglês Barry Parker, a Avenida dos Aliados veio estabelecer a ligação entre esta praça e a da Trindade, convertendo-se prontamente numa espécie de “sala de visitas da cidade”.
A avenida está rodeada de edifícios monumentais e coroada na sua parte superior pelo edifício da Câmara Municipal, constituindo um conjunto harmonioso com fachadas decoradas de forma a criar um ambiente monumental e luxuoso, entre as quais se encontra o edifício que alberga desde 1932 o Hotel Aliados..
É neste contexto efervescente que Fernando Guimarães inaugura, em 28 de Maio de 1932, a Pensão dos Aliados. O seu filho, Manuel Guimarães, viria a ser um nome de marca da relevância no cinema português, sobretudo enquanto realizador, (Costureirinha da Sé) mas também enquanto assistente de realização, operador ou repórter cinematográfico. O seu potencial artístico ver-se-ia no entanto ferozmente travado pela censura e pela falta de financiamento.
Visitada por gente ilustre, frequentemente ligada à arte e à cultura, a Pensão dos Aliados viu também crescer o filho de Manuel Guimarães, Dórdio. Poeta, cineasta, ficcionista e jornalista, Dórdio Guimarães celebraria em 1990 um casamento de conveniência com a sua colaboradora e amiga, a célebre intelectual, poeta e activista social Natália Correia, que contava por essa altura 67 anos de idade”.
Fonte: “hotelaliados.com”


“Por falecimento dos pais — Fernando Guimarães e D. Bibelinda Pinheiro de Guimarães — respectivamente a 25 de Março de 1946 e a 27 de Maio de 1945, sucede-lhes a 16 de Agosto de 1946, Álvaro Pinheiro de Guimarães, que já exercia a gerência da pensão desde 15 de Novembro de 1934.
Quando, a 15 de Setembro de 1971, falece Álvaro Pinheiro de Guimarães, a gerência passa para o Sr. Acácio Martins. A Pensão dos Aliados seria adquirida a 28 de Janeiro de 1987 por Agostinho Barrias, tendo actualmente como sócio-gerente e director o Sr. Fernando Barrias, e viria a ser finalmente restaurada em 2012, convertendo-se no Hotel Aliados ao abrigo da nova lei da Direcção Geral de Turismo.
A família Barrias é também responsável por locais de referências como os cafés Guarany e Majestic, o Hotel Internacional, o Hotel Vera Cruz, e o Hotel Pão de Açúcar”.
Fonte: “portonosso.pt”


Pensão Aliados - Fonte: “hotelaliados.com”



Natália Correia numa varanda da “Pensão dos Aliados” – Fonte: “hotelaliados.com”


“Hotel Aliados” e, no rés-do-chão, o “Café Guarany”

terça-feira, 17 de setembro de 2019

25.63 Um hotel de luxo e uma pensão histórica, que hoje é hotel


1. Hotel Infante de Sagres

O “Hotel Infante de Sagres” está instalado num edifício histórico, datado dos anos 50, mandado construir pelo comendador Delfim Ferreira, com projecto do arquitecto Rogério de Azevedo, podendo ser considerado, no Porto, como um exemplo da fase de transição para o modernismo.
O hotel foi inaugurado em 21 de Junho de 1951, na Praça D. Filipa de Lencastre e foi o primeiro hotel de luxo da cidade do Porto.
O local em que foi levantado tinha sido anteriormente a morada dos Souto e Freitas, que nas últimas décadas do século XVIII, aí tinham mandado construir a chamada “Casa da Fábrica”, nome que ganhou por ser vizinha duma importante fábrica de tabaco, da cidade, que haveria de dar também nome à rua – a Rua da Fábrica.
Mandada então construir, a “Casa da Fábrica”, por Luís António do Souto e Freitas, por sua morte, em 1770, ela passaria sucessivamente para a posse dos seus herdeiros e das famílias respectivas, que se constituíram a partir daquele patriarca, até meados do século XX.
Nessa ocasião, venderam o edifício ao capitalista Delfim Ferreira, que aí mandaria construir o “Hotel Infante de Sagres”.


Casa da Fábrica (perspectiva obtida a partir da Rua da Fábrica) – Ed. Foto Beleza


Até à esquina (em primeiro plano) da foto acima, viriam a estender-se, as traseiras do “Hotel Infante de Sagres”.



Traseiras do “Hotel Infante de Sagres”, em perspectiva semelhante à de foto anterior – Fonte: Google maps



O projecto deste hotel é de 1943 e a sua construção foi iniciada em 1945, parecendo que, inicialmente, teria sido pensado para aí instalar uma estalagem.
A decoração do hotel esteve a cargo de Artur Barbosa, e os ornatos e decorações dos tectos e paredes, da firma “Baganha & Irmão”.
Na noite de inauguração tocaram duas orquestras no “Salão Luís XVI”.
Tinha 67 quartos, entre eles, 37 tinham quarto de banho privativo e os restantes, bidé e lavatório.
Na cave, localizava-se a cozinha, pastelaria, casas das máquinas, vestiários do pessoal, despensas e rouparia.


Publicidade com indicação dos preços praticados, em 1951, no “Hotel Infante de Sagres”


Hotel Infante de Sagres, em 1953 – Fonte: Fundação Instituto Arquitecto José Marques da Silva


A decoração apontava para o estilo “Luís XV”, exceptuando o salão de baile e a suite de luxo do 1º andar, que eram ao estilo “Luís XVI”.
As esculturas eram de,


“Barata Feyo, as telas de Abel Moura e Artur da Fonseca, e vitrais de mestre Leone.
(…) A gerência do “Hotel infante de Sagres”, ficou entregue a Alexandre Soleiro, sócio da sociedade arrendatária e proprietária da “Ferreira & Filhos, Lda.”.
Após a morte de Delfim Ferreira, seu filho, o Dr. Alexandre Ferreira deu-lhe continuidade”.
Cortesia de José Leite (“restosdecoleccao.blogspot.com”)


Hall de entrada do “Hotel Infante de Sagres”


Hall da Recepção do “Hotel Infante de Sagres”


Sala de Jantar do “Hotel Infante de Sagres”


Salão de Baile do “Hotel Infante de Sagres”



Quarto do “Hotel Infante de Sagres”


Quarto-de-banho do “Hotel Infante de Sagres”


O Hotel Infante de Sagres contribuiu, em muito, para o reconhecimento da hotelaria Portuguesa, visto já ter hospedado várias personalidades reconhecidas internacionalmente, como o Dalai Lama, os Reis da Noruega, a Rainha Beatriz da Holanda, Bob Dylan, Catherine Deneuve, o Príncipe Eduardo de Inglaterra, John Malkovich e, mais recentemente, em 2010, os U2.
Era o preferido do Dr. Mário Soares.


Praça D. Filipa de Lencastre e “Hotel Infante de Sagres”


Na foto acima, o aspecto da praça, quando nos prédios fronteiros ao hotel, se localizavam os escritórios de várias empresas de camionagem.
Em Janeiro de 2008, o “Hotel Infante de Sagres”, foi comprado pelo grupo “Lágrimas - Hotels & Resorts”, do advogado José Miguel Júdice.
Em 2016, foi adquirido pela empresa “The Fladgate Partnership”.
“The Fladgate Partnership” é proprietária das casas de vinho do Porto Taylor's, Fonseca, Croft e Krohn e dos hotéis “The Yeatman” e  “The Vintage House”.
Entre Novembro de 2017 e Abril de 2018, o hotel esteve encerrado para obras. Após os trabalhos, ganhou uma piscina no terraço, mais 15 quartos e um Vogue Café. Foram investidos 7,5 milhões de euros e teve como autor do projecto o arquitecto portuense António Teixeira Lopes, de 85 anos, discípulo do mestre Rogério Azevedo, autor do projecto original.
Após as intervenções e remodelações a que foi sujeito, tendo mudado um pouco de visual (reabriria com 21 suítes e 64 quartos), viu o seu nome passar de “Hotel Infante de Sagres” a “Hotel Infante Sagres” e passado, ainda, a fazer parte da cadeia de hotéis “Small Luxary Hotels of the world”.
Em termos de classificação, o hotel trocou as suas cinco estrelas pela insígnia “Tradition & Luxury Hotel”.


Aspecto actual do Hall de entrada do “Hotel Infante Sagres”


Aspecto actual de um Quarto do “Hotel Infante Sagres”


Sala de Jantar, actualmente, do “Hotel Infante Sagres”


(Continua)



sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

(Continuação 49) - Actualização em 19/06/2019


Moradia no gaveto da Rua D. João IV e Rua Fernandes Tomás


“Esta moradia, procurando imitar alguns dos modelos existentes, mas ainda assim original em vários aspectos, foi erguida segundo vontade do proprietário Joaquim Soares da Silva Moreira, comerciante de torna-viagem original de Moreira da Maia, que não só foi vereador da Câmara Municipal do Porto e comendador da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, como se destacou enquanto administrador do Banco Aliança e como accionista da Companhia Aurifícia. Marques da Silva projectou-a em 1904 para o seu cliente, mantendo alguma fidelidade para com a arquitectura portuense da época, mas ainda assim conjugando-a com as linhas das Beaux-Arts de Paris, tendo escolhido os melhores materiais através de uma notória ausência de restrinções orçamentais.
Mais tarde a moradia sofrerá novas alterações. Em 1914 é acrescentada uma varanda virada para o jardim e em 1925 uma garagem no quintal, dispondo de arrecadações no piso superior. Ainda hoje se distingue pelo seu jardim, que cobre uma área situada num estreito entre a Rua D. João IV e a Rua Comandante Rodolfo de Araújo, ambas com ligação à Rua de Fernandes Tomás. Os gradeamentos de linhas sinuosas e os jarrões em granito que ladeiam os portões são um exemplo de outros detalhes interessantes”.
In Blog Porto Sombrio 



Fachada de prédio integrante de projecto para licenciamento de construção nº 13/1904, pelo requerente Joaquim Soares da Silva Moreira – Fonte: AHMP




Joaquim Soares da Silva Moreira tinha 11 filhos, só do seu 2º casamento. Era um capitalista de grandes posses e um brasileiro de torna-viagem.
A moradia que mandou construir na Rua de D. João IV, com projecto (1903) do arquitecto Marques da Silva, estaria concluída em 1904.
A moradia é, em termos práticos, um edifício de duas moradas.


Moradia de Joaquim Soares da Silva Moreira


Joaquim Soares da Silva Moreira, nascido na Maia, em 1843, foi novo para o Brasil ter com o seu tio António da Silva Moreira por quem foi educado.
Aos 25 anos enviuvou e já residia na freguesia da Sé, quando voltou a casar com a sua prima direita Alexandrina Soares da Silva Moreira, na igreja de Santo Ildefonso (05 Abr. 1869). O casal parte então para o Brasil e estabelecem-se em S. Luís do Maranhão, onde Joaquim Moreira faz uma fortuna colossal.
A ligação de Joaquim Soares da Silva Moreira à Companhia Aurifícia, resultaria do facto de, José Dias de Almeida, o fundador daquela empresa, sita na Rua dos Bragas, ser o sogro de sua filha Amélia, o que teria conduzido a que o característico pórtico de entrada, de 1906, daquela empresa, da autoria de Marques da Silva, se ficasse a dever à sua relação com ambos.
Entretanto, Delfim Ferreira, que virá a comprar a Quinta de Serralves, em 1957, acabará por adquirir também esta moradia, em finais dos anos 40, para a sua filha Alice Ferreira.
Delfim Ferreira, um dos homens mais ricos de Portugal, tinha residência, bem perto, na Rua D. João IV, nº 239. Era um palacete que apresentava, até à década de 60 do século XX, construções adjacentes para uso dos criados, que iam até à Rua de Fernandes Tomás e que seriam demolidas, para levantamento duma área ajardinada, que ainda hoje se observa.



Palacete de Delfim Ferreira na Rua de D. João IV – Ed. MAC



“Detentor da maior fortuna do País, dava-se com Salazar e era íntimo dos ministros do Governo. Era uma espécie de visionário que pretendera construir um megacentro comercial no Porto na década de 40, quando a palavra shopping center ainda não tinha entrado no léxico comum dos portugueses.
Pessoalmente era tão fechado como uma ostra. Tímido, pouco expansivo e tão exigente com os outros como consigo próprio, passava a imagem de homem implacável que não admitia um deslize tão simples como a falta de pontualidade para um encontro. Exercia o paternalismo típico da época, mas era também um benfeitor. Construiu escolas, hospitais, creches. Deixou um legado que está vivo até hoje.
(…) A sua fama não se confinava ao Norte e foi convidado a juntar-se a Ricardo Espírito Santo e Manuel Queirós Pereira, entre outros, como promotor do Hotel Sheraton de Lisboa. Não aceitou a honra e fez sozinho o Hotel Infante de Sagres, no Porto. Pouco tempo depois, adquiriu a Casa de Serralves a Carlos Alberto Cabral, segundo conde de Vizela, que estava falido na época. O negócio tinha, num entanto, uma ressalva: a quinta não podia ser objecto de qualquer transformação. Quando Delfim Ferreira morreu, em 1960, de cancro, Serralves estava intacta tal como a tinha adquirido.”
Cortesia de Rita Roby Gonçalves (17 Mai 2009), In Diário de Notícias 


Voltando a Joaquim Soares da Silva Moreira, diga-se, que, em 1907, ele encomenda para a Rua de Gondarém, duas moradias geminadas, ao mesmo arquitecto - Marques da Silva.


Alçado principal das moradias geminadas na Rua de Gondarém – Fonte: “arquivoatom.up.pt”


Moradias geminadas de Joaquim Soares da Silva Moreira, na Rua de Gondarém, nº 680 – Fonte: Google maps