terça-feira, 16 de novembro de 2021

25.140 VILAR - Fábrica Nacional de Bicicletas

 
Esta unidade fabril estava situada na Rua do Bonjardim, 826-828, próximo, da Rua Heliodoro Salgado (Rua Dr. João das Regras).
A empresa “A Vilar - Vilarinho e Moura Lda.” foi fundada, em 1922, passando depois a fabricar sob a sigla FNB (Fábrica Nacional de Bicicletas), tendo sido o primeiro fabricante Português de bicicletas e motocicletas.
Foram seus fundadores António Pinto de Moura e Ilídio Horácio Rodrigues Vilarinho.

 
“Em 1930 recebeu a Patente de Introducão de Nova Indústria - que a converteu no fornecedor oficial da administração pública. Em 1938, inauguram com 280 operários as instalações da Rua do Bonjardim, Porto, projectadas pelos Arq. Alvaro da Fonseca e Alberto Bessa. Depois da II Guerra Mundial mudam-se para S. Mamede de Infesta.
Em 1950, seriam 450 os seus colaboradores. Produziram várias marcas com diversas motorizações e cilindradas, sendo as mais conhecidas a Vilar e a Perfecta, com motores Pachancho, JAP, Casal, Villiers, Cucciolo, HMW, Sachs, Demm, etc”.
Fonte: “motosdeportugal.com”
 
 
 
“A Vilar ficou famosa em Portugal pelas bicicletas que produziu, construídas desde 1922, com o precioso alvará obtido pela Vilarinho e Moura, Lda., sediada no Porto, na Rua do Bonjardim, 826.
A ideia de produzir bicicletas em série nasceu em 1921, graças ao mentor Ilídio Horácio Vilarinho, que aproveitou os bons contactos que tinha no Ministério da Indústria, para investigar a possibilidade de obter um alvará de construção de bicicletas em série, no Porto. Convenceu o seu cunhado, António Pinto de Moura, a criarem uma sociedade e é então que partem em viagem para França e Inglaterra, com o objetivo de visitarem as principais fábricas de bicicletas em tournée, que lhes deu uma visão absolutamente distinta do que se construía de forma artesanal no nosso país.
Durante a viagem, conseguiram encomendar a maquinaria necessária e acessórios e, no regresso, trazem consigo mil ideias para a fábrica. Logo que chegam ao Porto, põem mãos à obra: contratam desenhadores, operários, serralheiros, pintores, torneiros e mecânicos.
Obtêm a atribuição do desejado alvará e criam o emblema da Vilar, que irá marcar todas as bicicletas desde então: uma águia no seu esplendor, segurando uma roda dentada, com a cruz de Cristo no interior, contornada por um círculo azul, com as letras que formam a palavra VILAR, em cima, e PORTUGAL, em baixo.
Em 1922, lançam as bicicletas e o sucesso e imediato da fábrica não pára. Quando, em 1949, surgem os primeiros micromotores Pachancho, construídos em Braga por António Peixoto, a Vilar começa a idealizar um velocípede a motor.
Paralelamente, em Lisboa, Simão Chaskeslemann obtém a representação para Portugal dos motores Cucciolo, de 48cc a quatro tempos (Ducati), e cria a Micromotor no Largo do Mastro, 29. Para iniciar a revenda destes motores pelas casas de bicicletas contrata Jorge Pais Lobo, que será também o chefe de fila dos pilotos da equipa de corridas da Micromotor.
Chaskeslemann, que sonha ainda mais alto, vai ao Porto negociar com Ilídio Vilarinho. Ambos acreditam que unidos têm em mãos um valente negócio e decidem fazer uma parceria com o objetivo de colocar no mercado os melhores velomotores nacionais.
É acordado que Vilarinho fica com a distribuição de toda a zona norte acima de Aveiro e a micromotor desde Aveiro até Faro. Passado poucas semanas, fabricam os primeiros protótipos com roda 26 na nova fábrica nacional de bicicletas e motocicletas, no lugar da Ermida, em São Mamede de Infesta, os quais, depois de aperfeiçoadas e decorados, serão um sucesso.”
Cortesia de “migueloliveirafanclub.pt/”; Texto extraído de “As motos da nossa vida: uma viagem sentimental à memória das motorizadas portuguesas” de Pedro Pinto – Ed. Bertrand Livreiros
 
 
 
Local onde funcionou, até 1937, a fábrica de bicicletas da marca “Vilar” e onde, a partir de 1937, a fábrica passaria a contar com novas instalações depois das intervenções efectuadas – Fonte: AHMP



 
Desenho de projecto de ampliação de instalações da Fábrica Nacional de Bicicletas, em 1937, na Rua do Bonjardim. À esquerda, a Rua Heliodoro Salgado – Fonte: AHMP
 
 
 
No fim da década de 1930, após a ampliação das suas primitivas instalações da Rua do Bonjardim que tinham também saída para a Travessa das Musas, 71-77 (actualmente, a Rua de Raúl Dória), a Vilar que tinha começado pelo fabrico de bicicletas completas e acessórios de substituição, nomeadamente, cubos, aros e raios, já com cerca de dez anos de experiência e muito implementada no mercado, começou a fornecer acessórios e até quadros a outras marcas que iam surgindo, contribuindo para o rápido sucesso e crescimento da marca.

 
 

A Fábrica Nacional de Bicicletas, após as obras a que foi sujeita no fim da década de 1930, esteve por aqui, junto da casa onde nasceu em 11 de Fevereiro de 1863, o pintor do “Realismo”, Artur Loureiro - Fonte: Google maps

 
 
Placa de homenagem ao pintor Artur Loureiro, na fachada da casa onde nasceu - Fonte: Google maps
 
 
 
Bicicleta da marca Vilar – Cortesia de Fernando Carrilho
 
 
 
Em 1930, “A Vilar” conseguiu obter licenças de produção para a construção de motos.
Nesta altura, ainda não havia fabricantes de motos ou motores em Portugal o que levou a marca a virar-se para o mercado estrangeiro com o fim de obter motores fiáveis e quadros para equipar as suas motos. Procurava-se construir motos fiáveis a preços acessíveis, construindo riqueza para o país e criando emprego.
Com o lançamento das motas e ciclomotores, a fábrica começa a intitular-se como FNBM (fábrica nacional de bicicletas e motocicletas) e as motorizadas começam a sair da fábrica, entretanto já transferida para o Lugar da Ermida-S. Mamede de Infesta.
 
 
«O mercado de motocicletas encontrava-se em forte expansão em Portugal, através de importação muito forte de marcas com muita qualidade, como a BMW, DKW, Norton, Triumph Motorcycles, BSA, AJS, Coventry Eagle, Matchless, Ariel entre outras.
Devido a estes fatos, a Vilar tinha que ser muito rápida a lançar as suas motos, é então que Ílidio Vilarinho parte para Inglaterra na busca de um motor fiável e de fácil adaptação aos seus quadros, ou eventualmente quadros completos, tendo conhecido diversas marcas inglesas equipadas com o famoso motor Villiers.
Só em 1949 a Vilar fabricou seu primeiro modelo, a famosa Vilar 125cc. Segundo se consta só terão sido fabricadas 4 motos do 1º modelo, com motor Villiers de dois escapes com 122cm³, com a suspensão da frente em aço estampado com uma única mola central e traseira rígida.
A Vilar a partir deste ano, lançou muitos modelos de sucesso em Portugal até o fechamento da empresa em 1980.»
Fonte: “pt.wikipedia.org/”

 
 
Publicidade aos velocípedes da marca Vilar - Cortesia de "História-das-Motas-Vilar"
 
 
 
 
Texto de apresentação da Vilarinho & Moura, Lda., na Feira das Indústrias Portuguesas (FIP), em 1949, em Lisboa - - Cortesia de "História-das-Motas-Vilar"

 
 
A Feira das Indústrias Portuguesas, em 1949, foi organizada com a colaboração da Associação Industrial Portuense, decorrendo de 26 de Novembro a 18 de Dezembro, na Praça do Império, em Belém-Lisboa, com a presença de 250 expositores.

 
 
Por aqui, em Belém, decorreu em 1949, a 1ª FIP e, no ano seguinte, a 2ª FIP - Cortesia "Restos de Colecção"


 
Cartaz de promoção à FIP realizada em 1949 - Cortesia "Restos de Colecção"
 
 
 
Publicidade à FIP realizada em 1949 - Cortesia "Restos de Colecção"

 
 
Vilar Seta Pop, modelo de 1952, equipada com motor HMW 50 N3 – Cortesia de Alberto Santos Almeida
 
 


Exposição realizada no IST (Instituto Superior Técnico), em Lisboa, em 1953, com a participação da Vilar

 
 
A partir de 1957, e durante alguns anos, com o patrocínio da Vilar, passou a realizar-se pelas estradas do País uma prova de ciclismo denominada de “Grande Prémio Vilar”, que funcionava como uma preparação dos ciclistas para a “Volta a Portugal”.
Estando a fábrica de S. Mamede de Infesta a atravessar sérias dificuldades financeiras, quando tinha já nove sócios, entre os quais se contava o Dr. António (Cândido Miranda) Macedo, destacado dirigente do Partido Socialista, a 25 de Janeiro de 1989, seria adquirida pelo ex-corredor de bicicleta Joaquim Leite, proprietário, à data, da “Bicimotor”, uma empresa fundada em 1983, com loja na Rua de Sá da Bandeira e que era uma das filiais da Fábrica Vilar.

segunda-feira, 1 de novembro de 2021

25.139 Os Armazéns do Anjo

Tudo começou quando, em 1890, um caixeiro-viajante de uma fábrica da Covilhã, João M. Fonseca de Castro propõe a Manuel dos Santos, um sócio da Camisaria Aliança, a constituição de uma sociedade para tomarem de passagem aquele estabelecimento.
A sociedade acaba por se concretizar com a participação de um terceiro sócio, A. Henrique Simões.
A firma Simões Santos & Castro reduz-se, no ano seguinte, a Simões & Castro, por óbito do sócio Santos e, nessa altura, surge o registo como Armazéns do Anjo, dado o estabelecimento estar situado na zona da Praça do Anjo.
 
 

À direita da foto, c. 1900, é possível observar os “Armazéns do Anjo”, de Simões & Castro, com estabelecimento voltado para Praça dos Voluntários da Rainha
 
 
Passado pouco tempo, a sociedade atrás referida, desfaz-se e fica Fonseca de Castro como único proprietário, em instalações ao cimo da Rua das Carmelitas, na esquina com a Praça dos Voluntários da Rainha.
 
 

Armazéns do Anjo nas suas instalações primitivas, na Rua das Carmelitas
 
 
“Aos Banhistas: fatos de banho, para senhoras, a 3$500 réis; gravatas de foulard. Armazéns do Anjo, rua das Carmelitas 1-6, antiga Casa Agostinho”.
In, jornal “A Voz Pública”, de 7 de Agosto de 1901, pág. 3
 
 
Entretanto, dado o processo de urbanização do Bairro das Carmelitas, Fonseca de Castro está perante a necessidade de ter de abandonar as instalações que ocupava.
Perante esta situação, decide convencer o capitalista José António Lopes Coelho a adquirir o prédio que até aí ocupava, construir um outro de acordo com as directivas camarárias para o novo bairro e a arrendar, posteriormente, o espaço de lojas do novo edifício.
Assim, em 1905, o capitalista José António Lopes Coelho solicita, em 17 de Abril de 1905, à Câmara do Porto, a respectiva licença de construção de um prédio, em terreno que possuía na Rua das Carmelitas, cujo projecto tinha a particularidade de possuir duas lojas, à face da rua.
Aquela personalidade tinha sido em 1892, presidente da Associação Comercial do Porto.

 
 

Requerimento de licença que obteve o nº 61/1905 - Fonte: AHMP
 
 
De acordo com o plano inicial, concluído o novo edifício, José António Lopes Coelho arrenda-o a J. M. Fonseca de Castro, que vai desenvolver numa das lojas, um negócio de tecidos finos virada para a burguesia e, na outra, um negócio de feição mais popularucha.
Enquanto decorreram os trabalhos, a firma atende os seus clientes instalada nas traseiras da Praça do Anjo, num barracão construído para o efeito.
Inauguradas as novas instalações em 1908, acontece a entrada, nesta data, para servir a firma, do marçano Arnaldo José Rodrigues, natural de Castro Vicente, Concelho de Mogadouro, que impõe ao negócio uma feição popular.


 

Publicidade, em 1908, aos Armazéns do Anjo, em novas instalações

 
 

Armazéns do Anjo, à esquerda, junto da Livraria Lello & Irmão, em 1910 – Fonte: Guia do Porto Illustrado, Carlos de Magalhães


Armazéns do Anjo durante um desfile pela Rua das Carmelitas



Em 1916, face ao dinamismo de Arnaldo, acaba por acontecer a formação de nova sociedade sob a firma Castro & Arnaldo Rodrigues.
Por esta altura, já Arnaldo casara com Aurélia Mariani, da conhecida família de industriais de V. N. de Gaia, filha de Aníbal Mariani Pinto que passaria a ser o continuador do negócio começado pelo seu pai, em 1880.
A “Fábrica de Fiação e Tecidos de José Mariani & Filhos” conhecida, também, por Companhia das Devesas, foi fundada em 1880, na Rua do Barão Corvo, «à beira da estrada de Coimbrões, um pouco ao sul da estação do caminho-de-ferro».
Em 1881, tinha 76 operários e, em 1911, 80 funcionários.

 
 

Fábrica de Fiação e Tecidos de José Mariani & Filhos, em gravura de 1918

Voltando à narrativa sobre os Armazéns do Anjo, o seu negócio seria apanhado numa conjuntura de guerra, acabando por enveredar por uma vertente mais popular. Assim, são arrematados lotes de tecidos a bons preços, provenientes da liquidação dos Armazéns Hermínios e os Armazéns do Anjo, numa tentativa de sobreviver à crise.
É, então, aberta uma sucursal na Rua dos Clérigos e outra em Fernandes Tomás.
 

 

Armazéns do Anjo instalados nas lojas exteriores do mercado do Bolhão, na Rua de Fernandes Tomás, c. 1930

 
 

Publicidade aos Armazéns do Anjo, em 1934
 
 
 

Os Armazéns do Anjo estiveram nesta esquina na Rua Alexandre Braga – Fonte: Google maps
 
 
Em 1923, Arnaldo Rodrigues fica com todo o activo e passivo da firma, até aí existente, que é dissolvida.
Fonseca de Castro passa a dedicar-se à indústria como sócio da Fábrica de Tecidos de Vilarinho, em Vizela.
Em 1925, ultrapassada, em parte, a crise, é aberta uma loja na esquina das ruas Formosa e Alexandre Braga, dirigida a uma clientela mais seleccionada.
Em 1926, os Armazéns do Anjo passam a sociedade anónima, na qual Arnaldo Rodrigues é o accionista principal e dá-se, então, a entrada de novos capitais.

 

Publicidade aos Armazéns do Anjo
 
 
Em 8 de Julho de 1928, Arnaldo Rodrigues que, entretanto, face a uma abastada situação económica, se tinha tornado um entusiasta dos automóveis de alta cilindrada, numa viagem de volta da Foz, pelas 23 horas, acompanhado por um amigo e do seu criado de nome Ambrósio, sofre um acidente, no Bicalho, em Massarelos, devido à velocidade excessiva do seu Packard…e cai ao rio. Salva-se o empregado, mas ele não resiste aos ferimentos e morre. O amigo sucumbirá no dia seguinte.
 
 
 

Arnaldo Rodrigues ao volante do seu automóvel



Após o falecimento de Arnaldo Rodrigues, com o decorrer dos anos, as diversas sucursais dos Armazéns do Anjo autonomizaram-se e passaram a ser administradas por vários dos seus descendentes, continuando a ser, porém, uma referência no comércio da cidade.
Devido à estruturação da firma na forma de sociedade anónima foi possível subsistir por acção da gerência de José Júlio Mariani e por um familiar por afinidade, Fernando Agrelos.
As sucursais dos Armazéns do Anjo, com os processos de divisão familiar acontecidos ao longo do tempo acabaram por se autonomizar e sobreviveram, com excepção da casa das lãs da Rua dos Clérigos.
Segundo as informações do professor da Faculdade de Letras-U.P., Jorge Fernandes Alves, na revista “O Tripeiro” (7ª série, Nov 1995), em 1995, a casa mãe da Rua das Carmelitas já tinha sido alienada, continuando na mão de descendentes de Arnaldo Rodrigues, a de Fernandes Tomás, que passou pela gestão de duas netas de Arnaldo e a da Rua Formosa, de uma das suas filhas, de seu nome Maria José Mariani Rodrigues, neta de Aníbal Mariani Pinto e bisneta do patriarca da família Mariani, José Mariani que, oriundo de Itália, adoptou o José em vez de Giuseppe.
Aníbal Mariani foi proprietário da Villa Alice, morada de Fanny Owen.

 
 
 
O patriarca da família Mariani com os seus filhos



Maria José Mariani Rodrigues - foto cedida por cortesia de Paulo Almeida Amaral



 Hoje, os Armazéns do Anjo são só memória.