sexta-feira, 28 de maio de 2021

25.124 O caso Calmon e a Capela do Sagrado Coração de Jesus da Boavista

 

Anexo ao Colégio de Nossa Senhora da Boavista, um pouco a poente, existiu a Capela do Sagrado Coração de Jesus da Boavista mandada construir por Cristina de Almeida Garrett e, cuja licença de obra, teve o n.º 218/1875, de 3 de Junho.
Aquele colégio esteve instalado no edifício que foi a residência da família Almeida Garrett, que o escritor costumava visitar e já por lá estaria em 1869.
Ficou para a posteridade que numa dessas visitas, Almeida Garrett teve um acidente na Carvalhosa, tendo caído do cavalo e sido arrastado vários metros, sofrendo vários ferimentos.
O edifício em causa, sito na Rua da Boavista, nº 168, continua a ostentar na sua fachada, um brasão dos Silvas, Almeidas e Leitões e, hoje, aloja o Grande Colégio Universal.
 
 

“Grande Colégio Universal” na Rua da Boavista, nº 168 (antiga casa nº 112)
 
 
 

Publicidade ao Colégio de Nossa Senhora da Boavista, no “Jornal do Porto” de 1 de Outubro de 1876
 
 
No anúncio anterior de 1876, pode observar-se que uma capela já fazia parte da oferta do colégio e tinha, também, em funcionamento, o regime de internato.
Com o passar dos anos, a frequência à capela era muita e, por isso, a Companhia de Jesus (Jesuítas) que, entretanto, adquiriu a capela e uma casa (residência) anexa, viria a erigir no lugar daquele templo, um outro, mais amplo e moderno, mas que pouco tempo serviu.
A Companhia de Jesus, após a expulsão do território nacional decretada pelo Marquês do Pombal, tinha voltado a Portugal e recomeçado a sua actividade com a abertura, em 1858, do Colégio de Campolide, em Lisboa. Na Rua da Boavista, já por aqui andava na transicção de séculos, quando se viu envolvida no “Caso Calmon”.
Este caso, que apaixonou os portuenses e o País, teve mesmo honras de subida ao Parlamento para ser discutido.
Tudo começaria, em termos públicos, quando no fim de uma missa dominical, ocorrida no mês de Fevereiro de 1901, na igreja da Trindade, aconteceu uma cena de gritaria, e empurrões.
Durante a algazarra, contava certa imprensa, que José Calmon a exercer há uma década o cargo de cônsul do Brasil no Porto, conseguiu fazer malograr uma tentativa de rapto de sua filha, Rosa Calmon de 32 anos, à saída da missa.
Ao fundo da escadaria de acesso àquele templo estacionara um veículo para o qual Rosa se dirigiu com a conivência de algumas personalidades ligadas a importantes famílias portuenses.
Para o impedir, interveio o seu pai que, de bengala no ar, clamava que o acudissem.
Rosa, chorosa, agarrada a um gradeamento, abraçada pela mãe em lágrimas, recusava-se a acompanhar os pais.
Um jornalista do Diário da Tarde, estando ali de passagem, foi em auxílio do amigo cônsul, tentando despegar a filha das grades e encaminhá-la até à carruagem da família. Um polícia à paisana deu também protecção, acabando por acompanhar a família Calmon de regresso a casa.
 
 

Igreja da Trindade, em 1886 – Fonte: Revista “O Occidente”, nº 9, pág. 252, segundo uma fotografia de Emílio Biel
 
 
 
A situação narrada vinha, no entanto, a ter os seus antecedentes, há já aproximadamente um ano.
José Calmon, a fazer fé nos relatos da época, mantinha a filha "numa espécie de cárcere privado", para contrariar, dizia-se, as suas tendências "mórbidas".
Em Fevereiro de 1899, já Rosa Calmon tinha dirigido uma carta ao ministro brasileiro (o embaixador) em Lisboa, Júlio de Melo e Alvim, na qual expressava a sua vontade para dar seguimento à sua vocação religiosa com a disponibilidade para entrar para um convento e, expondo-lhe ainda, a sua dramática situação que, porém, o destinatário, simplesmente, ignorou.
Desesperada, e sem alguém que lhe valesse, poucos meses depois, Rosa intentou uma fuga, mas acabou por ser apanhada na estação ferroviária de Alfarelos, por agentes da polícia que a obrigaram a retornar a casa. Daí em diante, a presença policial à porta da residência do cônsul tornou-se permanente e Rosa decidiu interpelar publicamente o governador civil do Porto, instando-o a tomar providências contra a ilegalidade da situação a que estava a ser sujeita – sem sucesso.
Entretanto, o visado progenitor tentava impedir a entrada da sua filha num convento de uma ordem religiosa e, por isso, temendo que Rosa intentasse nova evasão, abriu um processo de interdição por demência da filha, que correu na 4ª Vara Cível da Comarca do Porto e que teve a assistência ao queixoso do advogado Bernardo Lucas.
Sobre o assunto, que apaixonou os meios forenses e psiquiátricos, nacionais e europeus, havia diversos pareceres, entre os quais o do prestigiado psiquiatra Júlio de Matos (director do Hospital de Alienados Conde de Ferreira) que contrariavam a entrada de Rosa Calmon para a vida religiosa, para a qual ela dizia ser a sua vocação.
Por sua vez, Joaquim Urbano da Costa (subdelegado de saúde do Porto) considerou que Rosa estava no funcionamento regular das suas faculdades mentais.
O assunto, que fez manchete, não apenas nos jornais do Porto, mas na Imprensa do país inteiro e também no Brasil, reavivou a velha questão religiosa, tendo originado manifestações públicas e protestos contra a influência e o poder das ordens religiosas então instaladas no País, mas também, em contra-partida, muitas outras de apoio.
Mas, enquanto, juízes e médicos tentavam chegar a um acordo sobre as faculdades mentais de Rosa e o cônsul brasileiro continuasse a manter a filha sob vigilância policial, embora não tenha havido qualquer deliberação judicial nesse sentido, alguns jornais católicos do Porto, como “O Norte” e “A Palavra”, levantaram-se em indignação contra a violência e arbitrariedade do cônsul e, promoveriam uma acção judicial contra José Calmon.
A lei portuguesa, à época, considerava a atitude do cônsul como ilegal, mas ele afirmava que pelo cargo que desempenhava essas directivas não se lhe aplicavam.
Curioso é, também, apresentar a leitura dos factos acontecidos à saída daquela missa, de acordo com os interesses ideológicos subjacentes dos narradores.
Assim, o “Correio Nacional”, jornal liberal conservador, relata o seguinte cenário:
 
“À saída da Igreja da Trindade, a senhora Rosa Calmon comunicou à sua mãe que não regressaria mais à casa e que tencionava aceitar o alojamento de uma senhora amiga, D. Maria Almeida Garrett, para, de seguida, cumprir a sua vontade de entrar para um convento. Ao aperceber-se da declaração da filha, o cônsul brasileiro entrou em descompensação irada, fazendo um grande alvoroço e ameaçando a filha a bengaladas e de morte quem se aproximasse desta, ao mesmo tempo em que a puxava para junto de si.”
 
Por sua vez, o mesmo episódio contado por “O Século”, jornal republicano moderado, dizia:
 
“À saída da Igreja da Trindade, um grupo de elementos reaccionários tentou raptar a filha do cônsul do Brasil para enclausurá-la num convento. O pai cresceu em defesa da filha, defrontando-se com um bando de clericais que lhe erguiam os punhos enquanto ele os afastava de bengala em riste, ao mesmo tempo em que clamava pela ajuda do povo contra os ladrões que lhe raptavam a menina. Nisso, um policial à paisana tentou tomar o controle da situação e criar uma clareira para proteger a família Calmon dos presumíveis raptores, deixando que o jornalista do Diário da Tarde se aproximasse de Rosa, "brandamente" lhe desprendesse as mãos do gradeamento onde ela se tinha agarrado e, rompendo "com serena energia" o grupo que a rodeava, a encaminhasse, de braço dado, até à carruagem dos pais”.
 
 
Um único ponto em comum das duas visões do problema radicava no facto de que, Rosa Calmon, de maior idade, há muito vivia contrariada na casa de seus pais, que a impediam de seguir a sua vocação religiosa.
Importa alertar que, a referência acima feita e exarada na notícia do Jornal “Correio Nacional”, identificava como cúmplice de Rosa, um membro da família Almeida Garrett, que teria por certo bons contactos no destino que Rosa pretendia atingir, pois aquela família tinha vendido a capela anexa a um palacete onde moraram, à Companhia de Jesus.
À época, a capela anexa ao palacete bem como uma casa próxima que funcionava como residência da Companhia de Jesus, já estavam na posse dos Jesuítas, há algum tempo.
A entrada de Rosa Calmon na vida religiosa passaria, numa primeira fase, pela Rua da Boavista, tudo levando a crer que, posteriormente, transitaria para a sede daquela congregação para Campolide, em Lisboa.
O episódio que teve lugar na escadaria da igreja da Trindade, naquela manhã de Fevereiro, desencadeou uma verdadeira fúria anticlerical que, iniciando-se logo de imediato, na cidade do Porto, rapidamente se estendeu a Lisboa e a outros pontos do país.
No dia seguinte àquele em que houve a tentativa de rapto de Rosa Calmon, grupos de populares apedrejaram, após manifestações de violenta hostilidade, a casa e a capela dos Pestanas à Rua do Almada.
Esta família do Porto era acusada de ter influenciado o rapto.
As manifestações ocorreram também e de forma violenta junto da redacção do jornal católico "A Palavra", que ficava, nessa altura, nas imediações da Sé.
 
 

Na Sé, o mesmo local, sendo que na foto mais antiga, à esquerda, se pode observar que o jornal “A Palavra” ocupou, até ao seu encerramento em 1911, o prédio de rés-do-chão e 1º andar
 
 
 
Os protestos estender-se-iam, ainda, à Rua da Boavista, às instalações ocupadas pelos Jesuítas.
Aqui, os apedrejamentos tiveram como alvos uma capela e uma casa que servia de residência, sob jurisdição dos Jesuítas, onde agora está o edifício em que funcionou uma repartição de fardamento do Exército e estava à altura dos acontecimentos a sede da Companhia de Jesus (Jesuítas) com a sua capela dedicada ao Coração de Jesus, adquirida à família Almeida Garrett, que teve bem próximo a sua morada.
Para culminar, a multidão dirigiu-se para casa do cônsul, prestando-lhe o apoio e, ao mesmo tempo, manifestando publicamente o seu ódio que, naqueles tempos, nutriam pelas ordens religiosas e que germinava desde as lutas do Cerco do Porto e que iriam desaguar, em cachão, na implantação da República.
Nos últimos dias de Fevereiro e início de Março, o assunto subiu ao Parlamento.
O Partido Progressista não perdeu a oportunidade para denunciar a prepotência e o despotismo das autoridades na resposta às perturbações da ordem pública.
Mas, sobretudo, a oposição conseguiu fazer do caso uma arma política eficaz para confrontar o governo com um dos pontos mais melindrosos da questão religiosa nacional e que se prendia à situação de ilegalidade em que se encontravam as corporações religiosas, oficialmente proibidas por lei desde 1834.
Em princípios de Março, o governo brasileiro face à sucessão de acontecimentos achou por bem acabar com o alvo da polémica, ordenando ao cônsul do Brasil a sua transferência para outro posto.
Não obstante a contrariedade, o cônsul brasileiro abandonou o país levando consigo toda a família, incluindo, naturalmente, Rosa.
Os ressentimentos ainda pairaram na sociedade portuense durante algum tempo.
Assim, no dia 14 de Maio de 1901, na Rua de Santa Catarina, no Porto, ao cruzarem-se dois prestigiados jornalistas da cidade: João de Meneses, do jornal republicano "O Norte" e Manuel Frutuoso da Fonseca, do diário católico "A Palavra"…digladiaram-se argumentos e o resultado foi uma cena de pancadaria à antiga portuguesa.
O caso Calmon acabaria por esmorecer, mas aquando da implantação da República, alguns anos depois, a sanha dos portuenses contra os Jesuítas havia de renascer.
Com a chegada da República, em Outubro de 1910, e a expulsão dos Jesuítas, o Estado tomou posse das propriedades deixadas para trás.
À capela mandada construir por Cristina Almeida Garrett e comprada pelos Jesuítas havia de suceder uma outra mais imponente que, à data da implantação da República, ainda não estava terminada.
 
 
 
 
Desenho da fachada da nova Capela do Sagrado Coração de Jesus, integrante do projecto submetido à Câmara Municipal do Porto e que obteve a licença de obra nº 617, de 12 de Maio de 1910 – Fonte: GISA – CMP


 

Pedido de licenciamento de construção de capela Sagrado Coração de Jesus, no qual o requerente era um conhecido mestre-de-obras da cidade – Fonte: GISA - CMP
 
 
 
 

Por aqui, já estiveram, em sucessão, duas capelas consagradas ao Sagrado Coração de Jesus – Fonte: Google maps
 
 

À esquerda, aquela que foi, na Rua da Boavista, a residência dos Jesuítas - Fonte: Google maps
 
 
 
Em Outubro de 1910, os Jesuítas, no Porto, iriam passar um mau bocado.
Era Superior da residência dos Jesuítas do Porto, o padre José Joaquim de Magalhães.
Na noite de 5 para 6, a populaça juntou-se em grande algazarra e com os gritos costumados, diante da residência, tendo sido disparados alguns tiros.
Pela manhã, o padre Magalhães celebrou missa à porta fechada, à qual assistiram os irmãos.
À noite, houve novo assalto, mais audacioso que o primeiro.
Os populares pelas 10 horas, penetraram em casa, valendo-se duma escada das obras.
Os padres Magalhães e Joaquim dos Santos Abranches assistiam com os irmãos Coadjutores a tais atentados, escondidos no prédio contíguo de Ferreira Ramalho, tesoureiro da capela.
A seguir se exibe o texto da carta emitida pelo Governador-Civil do Porto, Paulo Falcão, e dirigida ao juiz Diogo Tavares de Mello Leotte.
 
 
 
 

In Jornal “A Palavra” de 12 de Outubro de 1910
 
 
 
No dia 11, o destinatário do ofício transcrito fez a aposição dos selos nas portas da residência, assistindo o comissário da polícia.
Entretanto, no Jornal de Notícias do dia 15, era dado conta de novos desenvolvimentos sobre o caso, devendo notar-se que as escolas “Jesus Maria José”, na realidade, não eram administradas por Jesuítas, como estava explicitado na notícia, abaixo.
 
 
 


 
 
No dia 15 de Outubro, o padre Magalhães e o padre Sebastião Sequeira seriam presos, numa quinta do Douro, para onde tinham fugido e chegado na véspera.
As instalações na Rua da Boavista, antes ocupadas pelos Jesuítas, passariam para a posse do Estado e a nova capela desafectada do culto e nela instalada a sucursal do Depósito de Fardamentos, vulgo Casão Militar, que funcionou durante décadas do século passado, e cujas instalações estão hoje ao abandono.
A capela e a residência dos Jesuítas seriam avaliadas em 15 contos e uma biblioteca, aí existente, em 900,000 reis.

sexta-feira, 21 de maio de 2021

25.123 O Porto de 1901

 
Em 16 de Janeiro de 1898, Mouzinho de Albuquerque chegava à gare da Estação do Pinheiro de Campanhã e era recebido com todas as honras pela cidade do Porto, na sequência de convite que lhe tinha sido endereçado pelo Centro Comercial do Porto.
 
 
Porto, c. 1900 – Ed. Leopoldo Wagner; Fonte: AHMP
 
 
Passados pouco mais de três anos, em 1 de Outubro de 1901, uma 3ª Feira, Mouzinho de Albuquerque voltava ao Porto, mas, agora, na companhia do príncipe Luís Filipe, herdeiro do trono, que acabava de fazer 14 anos.
 
 
“Aos 13 anos, El-Rei D. Carlos entrega a educação do herdeiro da coroa ao herói das campanhas de África, Mouzinho de Albuquerque, o que faz com que a sua instrução seja essencialmente de teor militar. Começa a realizar, sob supervisão do seu aio, viagens pelo Reino e visita terras como o Porto, Penafiel, Braga, Viana do Castelo e quase toda a região norte de Portugal. Mouzinho de Albuquerque suicida-se em 1902 e o coronel Francisco da Costa é o novo aio do príncipe Real”.
Fonte: “pt.wikipedia.org/”
 
 
 

Gare da Estação Ferroviária de Campanhã (sépia), em 1900 – Ed. Blasins Bergamin
 
 

Praça D. Pedro, em 1900

 

Praça (nascente) D. Pedro observando-se o “Grande Café Central” (mais tarde, “Café Imperial” e, à esquerda, a Farmácia Birra (ainda em actividade) e, ainda, o “Café Suisso” (na esquina da Rua de Sá da Bandeira, mais tarde, Sampaio Bruno), em 1900
 
 
 
Tendo-se hospedado no Palácio dos Carrancas, Luís Filipe em visita de caracter extra-oficial seria, no entanto, alvo de todas as honras das autoridades civis, militares e religiosas.
 
 

Palácio dos Carrancas, em 1900 – Ed. Alberto Ferreira; Fonte: AHMP
 
 
Após o almoço, nesse dia, Luís Filipe visitou o quartel de Santo Ovídeo, onde assentaria praça, seguindo depois para a vizinha igreja da Lapa, tendo rezado junto à urna que guarda o coração de D. Pedro IV.
 
 

Quartel de Santo Ovídio, em 1900 - Ed. Leopoldo Wagner; Fonte: AHMP
 
 
 

Igreja da Lapa e Largo da Lapa, c. 1900 – Ed. Photo Guedes; Fonte: AHMP
 
 
O príncipe herdeiro visitaria, ainda, o Palácio de Cristal, o Castelo da Foz e o monumento ao Infante D. Henrique, que tinha sido inaugurado pelos seus pais, no ano anterior.
 
 
 

Palácio de Cristal, em 1900 - Ed. Leopoldo Wagner; Fonte: AHMP
 
 
 

Estátua do Infante D. Henrique, em 1900, o ano da inauguração – Ed. A. D. Canedo; Fonte: AHMP
 
 
No dia seguinte, a visita foi à Foz do Douro, tomando depois o rumo do porto de Leixões, cuja distância venceu, pedalando uma bicicleta.

 
 

Porto de Leixões, em 1900 – Ed. Emílio Biel; Fonte: AHMP
 
 
A manhã terminaria com uma volta por Leça da Palmeira e por Matosinhos.
 
 
 
Panorâmica de Leça, Matosinhos e o Porto de Leixões, em 1900 - Ed. Leopoldo Wagner; Fonte: AHMP

 
Após o almoço, o herdeiro do trono foi visto a visitar, a igreja de S. Francisco, o Palácio da Bolsa, as Fontainhas, o Seminário Velho e a Feira de S. Miguel, ainda na Praça da Boavista, cujo dia grande era, como habitualmente, a 29 de Setembro, nesse ano, um Domingo.
 
 
 

Praça da Boavista, c. 1900, quando o eléctrico atravessava ainda a praça, com Rua da Boavista pela direita e Rua das Valas (Rua Nª Sª de Fátima) pela esquerda
 
 
Na foto acima, ainda não eram visíveis quaisquer vestígios do monumento aos Heróis da Guerra Peninsular, cuja primeira pedra só seria lançada oito anos depois, pelo irmão de Luís Filipe, o rei D. Manuel II.
No dia 4 de Outubro, Luís Filipe monta a cavalo, continuando as suas visitas, na companhia de Mouzinho e de um criado, dirigindo-se a Grijó, para visitar o histórico monumento.


 

Entrada da alameda de acesso à igreja (ao fundo) do mosteiro de Grijó
 
 
 
A pequena comitiva seguiu, depois, para a Granja, onde após uma visita à quinta, propriedade de Constantino Pais e jogar uma partida de ténis, foi prestada uma homenagem ao notável visitante, na Assembleia da Granja (nascida em 1869), onde seria saudado pelo conselheiro João Eduardo de Brito e Cunha (1841-1910), neto do herói e mártir, António Bernardo de Brito e Cunha, supliciado em plena Praça Nova, em 1829, pelos algozes miguelistas.
 
 
 
 

Edifício da Assembleia da Granja (estatutos aprovados desde 1869)
 
 
Pelo edifício icónico da Assembleia da Granja, visível na foto acima, construído em 1892, implantado na famosa instância balnear da Granja, em V. N. de Gaia, passaram importantes figuras da sociedade portuense e não só, tendo aqui vivido algumas boas horas de lazer o Rei D. Carlos e a Rainha D. Amélia, o Príncipe Luís Filipe, escritores como Eça de Queirós, Camilo Castelo Branco, Ramalho Ortigão e Sophia de Mello Breyner e a conhecida violoncelista Guilhermina Suggia, entre muitos outros.
V. N. de Gaia começou a despontar, após a extinção do Termo do Porto, pelas cortes de 1821, e depois de ter readquirido a sua plena autonomia em 1834, passando, desde então, a gerir directamente o seu desenvolvimento.
O mesmo aconteceria com toda a área que passou a administrar. Foi o caso da Granja, que na época balnear começou a ser uma referência da aristocracia portuguesa.
Já entrado o século XX, os clubes continuaram a cumprir a sua função de locais de convívio dos veraneantes.
Assim, bem perto da Assembleia da Granja, entre a Granja e Miramar, seria fundado em 1930, o Clube da Gândara, oficialmente designado como Sport Clube Alberto Sousa, visando a prática do ténis.
Seria Inácio de Sousa o seu grande impulsionador, ao ceder os terrenos onde o clube iria ter existência, e como homenagem ao seu filho Alberto Sousa, que tinha perdido precocemente, atribui ao clube o seu nome.
Algum tempo depois, o clube mudar-se-ia para o espaço que ocupa actualmente, conhecido como o Parque da Gândara, na Rua Moreira Lobo, nº 272.
 
 

Clube da Gândara


 

Mural com o retrato dos fundadores do Clube da Gândara
 
 
 
 

Interior do Clube da Gândara
 
 
 
A partir de meados do século XX, as instalações do clube da Gândara passaram a ser palco de inúmeras reuniões dançantes, onde a juventude da época podia ter contacto com muitos dos seus ídolos da música pop e rock.

 
 

Parque da Gândara em meados do século XX
 
 
No fim do dia, o retorno de Luís Filipe ao Porto envolveu a companhia de um numeroso grupo de cavaleiros.
Na manhã do dia seguinte, D. Luís Filipe e Mouzinho, vão fazer-se fotografar às Fotografias União e Biel & Companhia e, de tarde, visitaram, em V. N. de Gaia, os armazéns da Casa Ferreirinha e da Companhia Vinícola, onde lhes foram ofertadas algumas garrafas de vinhos de diversas colheitas.
 
 

Estúdio fotográfico de Emílio Biel & Cia, na Rua Formosa, 342 (Palácio do Bolhão), em 1901 – Cartão Comercial
 
 
 

Praça Santa Teresa (actual Praça Guilherme Gomes Fernandes), c. 1900
 
 
 
Na foto acima, naquela que ficou também conhecida pela Praça do Pão, no prédio que ostenta um mastro de bandeira, em frente, à esquerda, e denominado palacete do Barroso Pereira (há muito demolido), esteve a “Fotografia União, de Fonseca & Cia” e que, quando recebeu aqueles importantes visitantes, era gerida por Raúl Caldevilla, um jovem de 24 anos que iria singrar na actividade de publicitário e cineasta.
No dia 7, Luís Filipe parte para uma visita ao Minho, tendo retornado ao Porto passados cinco dias, aproveitando para visitar a oficina do escultor Teixeira Lopes 1866-1942) e apreciado as maquetes das estátuas de Soares dos Reis, Eça de Queiroz e Marques Loureiro.
 
 
 

Teixeira Lopes na sua casa de V. N. de Gaia, em 1903
 
 
No dia 13 de Outubro, um Domingo, o herdeiro da coroa retira-se, definitivamente, para Lisboa.

sábado, 8 de maio de 2021

25.122 Foz do rio Douro - dos Alviçareiros à Telegrafia

 

No Monte da Senhora da Luz, na Foz do Douro, estiveram instaladas a Ermida da Senhora da Luz, o Farol da Senhora da Luz e diversas Estações Telegráficas.
A Ermida da Senhora da Luz, à qual começaram por se dirigir os romeiros para reclamar a benção daquela padroeira, era de construção muito antiga e muito anterior a todas as outras estruturas levantadas naquele local.
Um farol primitivo já existiria no dealbar do século XVII, mantido pela confraria da Senhora da Luz que administrava a referida ermida.
Em 1 de Fevereiro de 1758, por alvará do Marquês de Pombal, é ordenada a construção de um farol, devido às dificuldades da entrada da Barra do Douro. Em 1761, estava já construído e dotado de estruturas para ser considerado um farol. 
No que à transmissão de mensagens à distância diz respeito, naquele monte, com observação ampla e privilegiada, começou por existir uma estação semafórica de persianas que, desde sempre, assim como o farol aí existente, tinha um funcionamento resultante de uma colaboração entre os mercadores do Porto e a confraria aí estabelecida.
Por algumas, poucas, gravuras existentes da primeira metade do século XIX, a estação telegráfica seria do tipo óptico e, possivelmente, de concepção baseada nos projectos de Francisco António Ciera (1763-1814), pioneiro da telegrafia portuguesa e grande impulsionador da cartografia do território nacional.
O seu modelo, de 1809, ficou conhecido por “telégrafo de 3 postigos” ou “telégrafo de 3 persianas” e, ainda, por “telégrafo de palhetas” ou “telégrafo de Ciera”
A par da estação telegráfica do Monte da Luz, uma outra do mesmo tipo existiu no Monte da Lapa, parecendo ter desempenhado um importante papel durante as invasões francesas e, também, durante o cerco do Porto.




Estação Telégráfica (torre cilíndrica). Antigo moinho de vento, no Monte da Lapa

 
 
As mesmas instalações da foto anterior – Desenho de Gouvêa Portuense
 
 
 
Maquete de “Telégrafo de Ciera” ou “Telégrafo de Palhetas”



A estação telegráfica do Monte da Lapa teria encerrado em Março de 1859, passando as comunicações telegráficas a ser praticadas pelo sistema eléctrico.
Nos anos que se seguiram este sistema foi gradualmente estendido a todo o território.
 
 

 
In “Jornal do Porto”, 14 de Maio de 1861, p. 3



Em 1865, funcionava uma estação telegráfica nas antigas instalações do convento das Carmelitas - In jornal "O Comércio do Porto", em 21 de Setembro de 1865


No caso das que ligavam a Chaves, passaram a ter origem na Casa Pia, à Praça da Batalha e, daí, para Valongo, continuando pelos "cabos aéreos".
A comunicação entre as embarcações que ao Porto vinham comercializar e que sulcavam o rio Douro, e algumas estações situadas nas margens, tinha exemplificação, desde o século XVIII, na Rua da Bandeirinha que, assim se chamava, por ostentar, por vezes, num mastro colocado junto do chamado Palácio das Sereias, uma bandeira – a Bandeirinha da Saúde.



No cimo do pináculo era içada a banderinha da saúde - Ed. Manuela Campos


Assim, quando um barco entrava no rio Douro e via, no tal mastro, ser içada uma bandeira, teria que estacionar no meio do rio, em frente a esse local, e esperar a visita efectuada pelos guardas-mores da saúde, para fazerem uma inspecção sanitária – eram tempos de peste.
Antes, em pleno século XVII, os guardas-mores estacionavam na Casa de Degredo de Vale de Amores, sob a égide dos frades capuchos do convento de Santo António de Vale da Piedade e, posteriormente, no Lazareto, situado mais a poente, no local que hoje fica, entre a igreja nova da Afurada e a Casa dos Pescadores.
Naqueles tempos, era também de primordial importância a comunicação entre terra e os barcos, para o rápido conhecimento pelos negociantes, cujas casas comerciais se localizavam na Rua dos Ingleses (actual Rua do Infante D. Henrique) e nas suas imediações, da chegada das embarcações que lhes eram destinadas.
Assim, a Associação Comercial do Porto, com existência desde 1834, em Assembleia Geral de 14 de Janeiro de 1835, decide instalar um telégrafo óptico, utilizando bandeiras e com recurso também, a monóculos.
Até aí, a informação chegava por intermédio dos “alviçareiros”, que calcorreando ruas e ruelas, levavam as informações aos seus destinatários.
O telégrafo óptico foi instalado em Março, daquele ano, no Castelo da Foz, sendo, depois, transferido em 1836, para o Monte da Luz, para junto do farol, aí existente, quase há dois séculos.
 
 
 
Castelo da Foz com a sua Ermida de São João da Foz (visível a cúpula) e, em primeiro plano, o Farol-capela de S. Miguel-o-Anjo – Fonte: Gravura (1790), a água-forte, de Manoel Marques de Aguilar
 
 
 
 
Durante o processo de instalação do telégrafo óptico, no Monte da Luz, a obra seria embargada pela Câmara Municipal da Foz (S. João da Foz teve uma efémera passagem a concelho entre 1834 e 1837) em virtude de, a mesma, poder vir a colidir com a reconstrução futura, da antiga ermida que se encontrava em ruínas, muito por acção dos bombardeamentos do exército miguelista, durante o cerco de 1833.
Na verdade, este ponto estratégico, durante o conflito, foi um ponto importante de apoio ao exército liberal, pelo controlo que a partir dele podia ser exercido sobre a baía natural que se formava, a poucos metros dali, na chamada praia de Carreiros que, hoje, tem uma existência artificial, após a construção do molhe de Carreiros.
Resolvido o diferendo, a instalação do telégrafo avançou. No entanto, a ermida nunca mais veria a luz do dia, sendo completamente demolida.
O serviço telegráfico, em si, era baseado num código de sinais envolvendo umas bandeiras colocadas estrategicamente num poste, no Monte da Luz. Por sua vez, os armadores fundeados ao largo da costa, esperando as ordens vindas de terra, correspondiam-se com a Estação do Monte da Luz através de bandeiras içadas em locais específicos, dos respectivos mastros, obedecendo aos códigos em uso naquelas épocas.
A retransmissão era assegurada e tinha continuidade num mastro colocado numa torre da Catedral da Sé, a que se seguia o reencaminhamento da comunicação da informação para a sede da Associação Comercial do Porto, junto da Rua dos Ingleses.
Note-se que, em 1835, ainda não existia o Palácio da Bolsa, sede da Associação Comercial do Porto que, provisoriamente, ocupava umas instalações precárias, nas ruínas do convento, anexas à Igreja de S. Francisco, onde viria a ser construído o Palácio da Bolsa ou Praça do Comércio.
 
 
 
Farol do Monte da Luz e, junto, a habitação dos faroleiros, em 1833 – Ed. J. Villanova
 
 
Na gravura acima, de J. Villanova, observa-se um telégrafo óptico de persianas, cuja posição relativa delas determinava, com base num código pré-estabelecido, o teor da mensagem a enviar e, na prova fotográfica, abaixo, observa-se o mesmo telégrafo, coexistindo com aquele que passou a estar sob a alçada da Associação Comercial do Porto, em mastro, à direita.
Neste, as bandeiras colocadas em posições estratégicas determinavam a mensagem.
 
 
 
Monte da Senhora da Luz, observando-se em 1858, à esquerda, uma estação semafórica de persianas e, à direita, aquela que era afecta à Associação Comercial do Porto – Prova em papel salgado a partir de um calótipo de Frederick William Flower
 
 
 
Sobre o primitivo telegrafo óptico existente no Monte da Luz, presente nas duas gravuras (de épocas diferentes) anteriores, se deve ter referido Ramalho Ortigão, no texto seguinte, identificando-o por “aparelho de taboinhas”.
 
 
“Tinham [os banhistas] os seus passeios favoritos: ao farol da Senhora da Luz, onde o faroleiro deixava olhar pelo oculo para os velhos telegraphos, cujo apparelho de taboinhas, armado no viso dos montes, parecia espreguiçar-se e bocejar as noticias no azul do espaço.”
Ramalho Ortigão - In “As praias de Portugal: guia do banhista e do viajante”, 1876, p. 24
 
 
 
“Em 1839, devido à oposição do Cabido da Sé, o mastro instalado na Catedral seria transferido para o local do antigo castelo de Gaia, por este ser «o ponto mais culminante entre a Luz e o Edifício d’esta Associação», segundo o relatório de 1839.
Em 1852, inicia-se a construção de um novo posto semafórico, na Cantareira, adossado à capela de S. Miguel-o-Anjo, e é adquirido um telescópio para a estação da Luz”.
Cortesia de Carolina Furtado, mestre em História da Arte pela FLUP
 
 
 
Gravura (1849) do Morro do Castelo de Gaia ou Morro do Candal, em 1849 – Gravura de  Cesário Augusto Pinto (1825-1896),  In “As margens do Douro” (collecção de doze vistas)
 
 
Em V. N. de Gaia, na Afurada de Cima, a partir de 1845, viria a ser instalada uma outra estação semafórica, na margem esquerda do rio Douro.
 
 
“A Associação Comercial do Porto adquiriu em Outubro de 1845 por 700$000 (setecentos mil reis) um terreno na Afurada de Cima para construir em Gaia um edifício com torre, uma moderna e prestável Estação Semafórica.
O Padre Manuel Romero Vila, que dedicou muita atenção ao estudo desta Estação, cujo edifício ainda existe, por se ter conseguido evitar o seu desaparecimento por ocasião das obras de urbanização e rodoviárias relacionadas e próximas da ponte da Arrábida. A construção é constituída por uma habitação onde vivia a família, cujo chefe desempenhava as funções de vigia e sinaleiro. Anexo à casa encontra-se uma torre oitavada, em cujo topo o sinaleiro expunha os sinais transmitidos da estação da Foz do Douro, com as cores da bandeira da nacionalidade dos navios que chegavam à vista de terra.
As cores eram dispostas como gomos de laranja em disco de ferro colocado no topo da torre. Pessoas colocadas no largo da Sé, cais dos Banhos ou muro da Reboleira conseguiam ver com o auxílio de óculo a imagem e apressavam-se a informar os negociantes das cargas e os agentes consignatários dos navios, que acabavam de chegar à barra.
O padre Romero recordava a forma incorrecta como o povo local se referia ao Telégrafo. Popularmente designado por “Taléfe”.”
Fonte: Rui Amaro (“naviosavista.blogspot.com/”)

 
 
Estação semafórica do Alto da Afurada, em 2000 – Ed. F. Cabral, In “naviosavista.blogspot.com/”


Posto semafórico e telegráfico na Afurada, actualmente, após intervenção urbanística importante ocorrida na zona do Arrábida Shopping

 
 
 
Estação Semafórica e Telegráfica (torre) da Cantareira, com 3 pisos, em 1900, cuja construção começou em 1852, no chamado Cais do Marégrafo
 
 
No postal acima, observa-se a Estação Semafórica e Telegráfica da Cantareira (torre) e adossada a esta, a Estação de Pilotos e Casa da Alfândega começada a construir em 1847 e, ainda, a Ermida/farol de S. Miguel-o-Anjo (abóbada branca), cuja construção é de 1527. À esquerda do edificado vê-se um obelisco branco.
A abóbada da ermida e o obelisco serviam de marcas do enfiamento da barra do Douro.


Mesma perspectiva do postal anterior, em 1950


 

 
Cais do Marégrafo, actualmente, sendo visível, em primeiro plano, o farolim da Cantareira (desactivado) e que prestou serviço, a partir de 1915
 
 
Em 1856, seria decidido abandonar o telégrafo óptico e a Associação Comercial do Porto passaria a usar o telégrafo eléctrico com o sistema Breguet, ligando a sua sede com os postos da Senhora da Luz e da Cantareira.
 
 
 
Telégrafo Eléctrico (sistema Breguet)
 
 
Ficavam, assim, ultrapassadas as dificuldades de comunicação após o pôr-do-sol, e em situações de nevoeiro ou neblina.
A partir da década de 1870, passariam a coexistir dois telégrafos eléctricos, no Monte da Luz: um, pertencente à Associação Comercial do Porto e, outro, propriedade do Estado.
Em 1880, a Associação Comercial do Porto abandona o sistema Breguet e substitui-o pelo sistema Morse, já então em vigor no país e adoptado internacionalmente.
O sistema Morse que teria como sucessor, em 1885, o sistema telefónico, manteve-se, contudo, em funcionamento, até ao início da década de 1960, na dependência da Associação Comercial do Porto (edifício da Bolsa).
 
 
Telégrafo Morse
 
 
 
No processo de conhecimento antecipado da informação de chegada dos navios aos cais do rio Douro e do interesse em generalizar a dita informação, nos dá conta o texto seguinte:
 
 
“Não havia mercador do Porto que não tivesse negócios com a Inglaterra. O vapor da Mala Real Inglesa, que trazia as encomendas e as letras de câmbio para pagamentos de anteriores fornecimentos, vinha ao Douro uma vez por mês. A fim de estarem preparados para receber atempadamente as letras e despacharem novas encomendas, os comerciantes arranjaram maneira de saber, de véspera, da chegada do barco. Pelo telégrafo, ainda do alto mar, os do vapor comunicavam à Associação Comercial o dia previsto para a entrada na barra. A Associação fazia chegar a mensagem à Irmandade dos Clérigos que mandava içar na torre uma vara com duas bandeiras nas pontas. Era o sinal da aproximação do barco. Tempo de tratar dos negócios”.
Cortesia de Germano Silva
 
 
 
Em 1887, começa um processo de renovação das instalações no Monte da Luz, para o qual foi reclamada a colaboração do Estado, na cedência de parte das suas instalações, mormente, do mastro de comunicações que lhe era afecto.
Aliás, desde há mais de 10 anos, que o Estado pretendia apoderar-se do telégrafo da Associação Comercial do Porto e, assim, das respectivas instalações, o que não viria a conseguir.
 
 
 
“De planta quadrangular e três pisos, o edifício apresenta algumas caraterísticas da habitação portuense oitocentista, nomeadamente quanto à organização da fachada principal. Esta possui três vãos por piso, com molduras simples em cantaria.
O edifício termina num terraço, que tinha a função de observatório da costa.
Em 1891, a rede telegráfica da Associação Comercial do Porto é prolongada até Leixões, cujo porto artificial, em construção desde 1884, era já frequentado por um número elevado de embarcações.
Também aqui a Associação irá construir um posto semafórico para comunicar com os navios, à semelhança do que, há largos anos, era prática no Monte da Luz.”
Cortesia de Carolina Furtado, mestre em História da Arte pela FLUP
 
 

À direita, parcialmente visível, o edifício construído em 1887, pela Associação Comercial do Porto para instalação do telégrafo – Ed. JPortojo
 
 
 
Posto semafórico (1908), construído em 1891, em Leça da Palmeira, pela Associação Comercial do Porto
 
 
As estações atrás referidas comunicavam, então, a chegada dos navios às autoridades marítimo-portuárias, particularmente aos pilotos da barra, aos agentes de navegação, à Associação Comercial do Porto, etc.
Em 22 de Abril de 1862, o edifício do Palácio da Bolsa da Associação Comercial seria sujeito a obras para instalação da Estação Telegráfica (“Jornal do Porto”, p. 3).
 
 
 
Telégrafo do Palácio da Bolsa, em exposição
 
 
 
Durante grande parte do século XX, a Estação do Monte da Luz continuou a ser usada para perscrutar o horizonte, apesar de todas das novas tecnologias que iam surgindo, colaborando com outros postos de vigia existentes.


 
Torre de vigia da Estação Telegráfica do Monte da Luz – Ed. JPortojo