segunda-feira, 30 de abril de 2018

(Continuação 18)


Transporte de garrafas da “Gazcidla” na Rua de Fernandes Tomás em 1957

Publicidade ao Gazcidla



Anúncio de “A Segurança” em 10 de Dezembro de 1959



Representante no Porto de “Móveis Vergados da Económica” (1891-1921)


Publicidade aos electrodomésticos da marca Electrolux


Publicidade ao Toyota Corolla em 1973

quinta-feira, 26 de abril de 2018

(Continuação 17) - Actualização em 06/02/2019


23.2 Publicidade Diversa / Outras Memórias



Publicidade ao “Pomito Lencart” da farmácia Central na Rua 31 de Janeiro em 1911



Livro oficial de leitura para a 3ª classe, 1946 - Edição da Papelaria Fernandes


O Jornal do Porto em 12 Abril de 1861



Apagador de quadro de lousa de parede de sala de aula



Publicidade à agência editorial de Aug. Valente Sucr – Fonte: Revista do Orfeão U.P., Março 1966








Gelados Rajá


Farinha Amparo


Marcas diversas de cigarros


“OMO” Lava mais Branco


Publicidade exibida no semanário “Maria Rita”, a “Deus dá a Sorte” (ainda existe) em 1932


Publicidade ao “Grande Hotel do Porto” em 1895


Publicidade à “Manteigaria Invicta” na Praça Carlos Alberto em 1933



Lopes & Cia Sucª na Rua do Almada


“A Pérola do Café” na Rua de Santo Ildefonso



Padeira da “Favorita de Vilar” na Ribeira



Publicidade em 1965 ao Restaurante “Garrafão” em Leça da Palmeira



Publicidade a “Chapéus Modelo” na Rua de Cedofeita


A “Camisolândia” na Rua de Santa Catarina

sexta-feira, 20 de abril de 2018

(Continuação 16)


Quinta da Lavandeira no Poço das Patas

O Poço das Patas era, em tempos que já lá vão, a área hoje ocupada pelo Campo de 24 de Agosto e a toda a zona envolvente e vizinha de três grandes quintas: a dos Cirnes; a do Prado, propriedade do Bispo, onde está o cemitério do Prado do Repouso e a da Fraga, que se estendia pelas Fontainhas.
Era, uma zona alagadiça, cruzada pelas águas de várias nascentes, de riachos e ribeiras. Um desses cursos de água tomou o nome de ribeira de Mijavelhas ou ribeira do Poço das Patas e, as suas águas, além de serem aproveitadas para tanques públicos de lavagem de roupa, ainda faziam mover as mós de alguns moinhos, situados nas proximidades da encosta do Monte do Seminário, por onde essas águas se despenhavam até entrarem no rio Douro.
A origem do nome Poço das Patas tem a ver com a existência de patos nessa zona alagadiça.
Um tal de Braz de Abreu Guimarães possuía várias casas e quintais na Rua do Poço das Patas, casas estas, que eram próximas do Poço das Patas e do rio das Lavandeiras.
Entre o Padrão das Almas (Largo do Padrão) e o Poço das Patas (Campo de 24 de Agosto) ficava, então, uma enorme quinta propriedade de Brás de Abreu Guimarães, bem-sucedido negociante portuense, que naquela sua propriedade construiu uma importante fábrica de seda, que no século XVIII deu nome a uma rua, que sucessivamente se chamou: Rua da Seda (1764); Rua da Fábrica da Seda (1766); Rua Direita da Fábrica da Seda (1767); e ainda Rua da Fábrica da Seda de Brás de Abreu, na Rua do Padrão das Almas.

“Este Padrão das Almas era um cruzeiro a que o povo dava o nome de Senhor do Amor Divino e Almas. Estava erguido no pequeno logradouro a que ainda hoje se dá o nome de Largo do Padrão. A cruz, que o arqueólogo Pedro Vitorino classificou como sendo do século XVI, "do tipo arcaizante, cabelo a jeito de corda, mãos espalmadas e pés separados", na opinião, ainda, daquele historiador, foi removida do local onde estava, em 1869, e levada para o Cemitério do Bonfim, onde ainda se encontra e pode ser visitado”.
Com o devido crédito de Germano Silva


O cruzeiro atrás citado, que estava situado no meio do Largo do Padrão das Almas, era a 8ª estação de uma via-sacra que saía da Batalha e se dirigia para o alto do Godim (Monte do Bonfim), pelo Chão dos Olivais (Rua do Bonfim).
A Rua do Poço das Patas que tinha sido Rua de Mijavelhas seguia o actual traçado da Rua Coelho Neto.
Não sabemos como Braz de Abreu Guimarães adquiriu todos aqueles bens ou se os herdou, sabemos que algumas propriedades foram por ele penhoradas, devido a dívidas que os anteriores proprietários tinham com ele.
Por consulta do Arquivo Municipal de Penafiel, sabemos, contudo, que Dona Joana Felizarda Delfina de Abreu Aranha e Araújo, filha de Brás de Abreu Guimarães e de Dona Joana do Nascimento de Araújo Aranha, “viveu na casa de seus pais, na Rua Chã, no Porto, e mais tarde na Quinta da Lavandeira”, junto ao Poço das Patas.
Daquele casamento resultaram ainda mais três rapazes: Bento de Abreu Aranha, João de Abreu Aranha Araújo e Brás de Abreu Aranha e Araújo.
Para o casamento, D. Joana levou um dote avultado e rico, essencialmente em enxoval, móveis e peças de ourivesaria.
As casas da Rua do Poço das Patas, e a quinta cercada de muro, sita ao pé da Fonte das Lavandeiras, no Poço das Patas, foram para o património dos senhores da Aveleda por seu dote.
Aquelas propriedades eram foreiras à Câmara do Porto, bem como mais vinte e uma moradas.
Sabemos que D. Joana em 1765 já se encontrava casada com Manuel de Meireles Guedes de Carvalho, 4º morgado de Aveleda.
Joana deve ter falecido de complicações derivadas do parto de sua única filha, pois esta nasceu a 16 de Fevereiro de 1774 e o inventário feito pelo seu falecimento é de 21 de Março de 1774.
O termo lavandeira significa o mesmo que lavadeira. De facto, o local assim referido, era frequentado por inúmeras lavadeiras que lavavam a roupa nuns tanques adjacentes à chamada Fonte do Poço das Patas, e que deve ser aquela que, em certos textos, é referenciada por Fonte das Lavandeiras.
O local em causa, de Poço das Patas é hoje, como se sabe, o Campo 24 de Agosto e já se chamou, também, em tempos muito mais recuados, Mijavelhas.
O que resta daquela fonte está hoje em exposição na estação do metro do Campo 24 de Agosto.


Reconstituição da Fonte de Mijavelhas ou do Poço das Patas na estação de Metro

quarta-feira, 18 de abril de 2018

(Continuação 15)


Casinha dos Vinhos ou Casa do Despacho dos Vinhos e almotacéis do Porto


A Casinha dos Vinhos situava-se junto do Muro da Ribeira.


Muro da Ribeira no Porto em 1809 – Fonte: Revista Ilustração Portuguesa


“Em 25 de maio de 1632, Álvaro Pires de Távora comprou ao Senado da Câmara do Porto, 80 mil réis de juro assentes na Casinha dos Vinhos, os quais vinculou ao seu morgado. Estes juros, assentes na Casinha dos Vinhos, foram vendidos com autorização real para ajuda de socorro aos Estados da Índia e Brasil.
Em 15 de março de 1672, a abadessa do Convento de Santa Clara, Dona Brites Baptista comprou 40 mil réis de juros, assentes na Casinha dos Vinhos, à filha de Álvaro Pires de Távora que, entretanto, os tinha desvinculado do morgado por troca com outros, podendo, a partir dessa altura, as religiosas cobrarem o dito juro.
As freiras da Santa Clara aplicaram os 40 mil réis na festa da Nossa Senhora das Neves, em missas de sua confraria e obras pias, bem como na festa do Espírito Santo e Senhora dos Paços, no Santíssimo Sacramento e para azeite de sua capela.
Como esta propriedade vai parar às mãos do Morgado da Aveleda, não conseguimos, através do documentos, entender, pensamos que teria vindo junto com a herança de Brás de Abreu Aranha e Araújo, uma vez que este possuía vários bens no Porto.
Cf. ARQUIVO MUNICIPAL DE PENAFIEL – Inventário do acervo documental do Morgado da Aveleda. Penafiel: Câmara Municipal de Penafiel, 2011, p.766; Fonte: “amigosarquivopenafiel.blogspot.pt”


Brás de Abreu Aranha e Araújo era um dos filhos de Brás de Abreu Guimarães que, entre muitos outros cargos que desempenhou, foi deputado da Junta da Companhia Geral do Alto Douro, bem como procurador de El-Rei para administrar e arrecadar as rendas da cidade do Porto, em 1768.
Foi também comerciante, tendo emprestado muito dinheiro a juros.
Julga-se que, Brás de Abreu Aranha e Araújo deve ter sido o filho que teria sucedido a seu pai nos negócios e, é também sabido, que a irmã dele, Joana Felizarda Delfina de Abreu Aranha e Araújo foi casada com o 4º Morgado de Aveleda.
O certo é que os senhores de Aveleda, seja fruto de um negócio, por herança, ou outra forma, acabaram por ficar com a propriedade da Casinha do Despacho dos Vinhos.

segunda-feira, 16 de abril de 2018

(Continuação 14)


Vila de Gaia e Vila Nova e a ribeira das Azenhas



No século XI, após a expulsão dos muçulmanos do Norte do território, a ocupação na margem esquerda do rio Douro era feita em torno de um castelo que tinha sido recuperado e em que à povoação era dado o nome de Gaia – Vila de Gaia. Esta hipótese é corroborada por muitos historiadores, se bem que outros afirmem que a designação de Gaia já viria dos tempos da ocupação romana.
Esse povoado desenvolver-se-ia na margem esquerda de um ribeiro, mais tarde chamado das Azenhas.
Em época anterior àquela, o referido aglomerado populacional era denominado como “Cale” e tinha a sua existência intimamente ligada a um outro que na margem direita (mesmo em frente a ele) possuía uma praia que funcionava como porto das embarcações que faziam o atravessamento do rio. Este povoado era chamado de “Portus” e situava-se na depois chamada Praia de Miragaia.
Foi assim que o aglomerado populacional com uma ligação forte entre os dois, fosse designado a partir de determinada altura por “Portus Cale”. Portus na margem direita do rio Douro e Cale na margem esquerda do mesmo rio.
A unidade administrativa e territorial que sucederia a “Portuscale” seria sucessivamente o condado Portucalense e depois Portugal.
Por outro lado, na margem direita daquela ribeira das Azenhas, um outro povoado se desenvolveria e, por ser mais recente que o outro, viria a ser chamado de Vila Nova.
A Vila de Gaia viria a receber mais tarde o foral de D. Afonso III, em 1255, enquanto Vila Nova o recebe de D. Dinis, em 1288, estando ambas separadas, então, pela fronteira natural da ribeira das Azenhas ou ribeiro de Santo Antão, que nos nossos dias está praticamente encanado.




A meio da foto a foz da ribeira das Azenhas junto do pequeno estaleiro naval existente no Cais de Gaia – Fonte: Google maps



O estaleiro naval, à direita, na foto acima, é o único existente em Portugal que ainda constrói os barcos rabelos.
Aquele castelo de Gaia, diz-se, sofreu a ira das gentes do Porto em 1385, após a vitória de D. João I sobre os castelhanos. Há quem afirme que a outra margem teria apoiado os derrotados e, por isso, a ideia era não deixar pedra sobre pedra do tal castelo.
Como consequência do não apoio ao Mestre de Aviz, a Vila de Gaia e Vila Nova, entre 1385 e 1834, foram ambas integradas no julgado do Porto, perdendo a sua autonomia.
Outros dizem que aquela medida destinou-se a pagar as despesas militares da expulsão dos castelhanos, feitas pelos cidadãos do Porto e a moeda de troca foram os dois povoados.
No final das guerras liberais, a Vila de Gaia e Vila Nova foram, finalmente, agraciadas com autonomia política e, ao fundirem-se, nasceu o actual concelho de Vila Nova de Gaia, a 20 de Junho de 1834.
Nas guerras liberais o castelo de Gaia parece ter dado o último suspiro, como narra o pequeno trecho a seguir:

“Tendo as forças de Miguel I de Portugal se fortificado no local, montando aí uma bateria, dela fizeram fogo sobre o Palácio dos Carrancas onde D. Pedro tinha estabelecido o seu quartel-general. D. Pedro, bombardeado no seu próprio quarto, mudou-se para Cedofeita, e no dia seguinte, em sua visita de rotina às linhas, dirigiu-se à chamada Bateria das Virtudes (onde hoje se encontra o SAOM) com cujo fogo desfez o reduto do Castelo de Gaia. O que restava do antigo castelo desapareceu na ocasião (c. 1833), tendo sido o seu terreno vendido pelo Estado”.
In Fortalezas.org


Local do Castelo de Gaia – Ed. “cavalinhoselvagem.blogspot.pt”



Local do Castelo de Gaia em 1966 – Ed. SIPA


Alguns achados arqueológicos na colina do Castelo de Gaia e, também, próximos da Serra do Pilar, confirmam uma ocupação pré-histórica na actual freguesia de Santa Marinha, e apontam para a existência de povoações, nesta parte do território, desde a época do “Bronze Final” até ao Baixo-império. As características dos achados encontrados reforçam a tese de uma vocação marítima e comercial dos povos aí fixados. O período medievo veio confirmar a importância daqueles povoados ribeirinhos.

quinta-feira, 12 de abril de 2018

(Continuação 13)


Polícia Sinaleiro

Nos anos 20 do século passado, devido ao aumento da circulação automóvel nas cidades de Lisboa e Porto, assistiu-se ao aparecimento, na senda do que já era feito em algumas outras cidades estrangeiras, de agentes reguladores de trânsito – os sinaleiros.
O polícia sinaleiro, que inicialmente se apresentava apeado e depois num pedestal orientava a circulação viária situado em pontos estratégicos, sendo conhecidos popularmente, pelos "cabeças de giz”, devido ao capacete branco, característico.
A farda compreendia luvas e cassetetes brancos, e uma braçadeira vermelha com um "T” inserido, que mais tarde passou a ser o distintivo das brigadas de trânsito. A esta paramenta, juntou-se pouco tempo depois os punhos, cinturão e talabarte brancos.

Polícia sinaleiro na Praça da Batalha em capa de disco de Tristão da Silva

Como mera curiosidade, diga-se que em 1962 um sinaleiro ganhava 20$00 por dia, em Janeiro de 1974 auferia 50$00, e, logo após o 25 de Abril de 1974, passou a auferir 110$00 diários.

Polícia sinaleiro junto à Sé

Polícia sinaleiro na Praça D. João I

Com o alargamento da semaforização, a gestão do tráfego passou a ser feita à distância, em salas onde estes sistemas são controlados e em 1992 o trabalho daqueles agentes reguladores do trânsito chegava ao fim.
Durante os anos em que estiveram ao serviço, até serem completamente substituídos pelo processo de semaforização, os sinaleiros foram sempre muito bem aceites e acarinhados pela população.
Assim, durante muitos anos, pelo Natal, e com o patrocínio do Automóvel Clube de Portugal (ACP), assistia-se ao “Natal do Sinaleiro” em algumas cidades do País.

Natal do sinaleiro


O Natal do Polícia Sinaleiro surgiu em 1932. Na altura, havia 120 agentes em Lisboa e 57 no Porto.
Era então possível ver junto ao local de trabalho, em plena rua, os montes de ofertas de diversos artigos que junto deles eram deixados.
Depois de várias décadas desaparecidos, e face ao aumento da actividade turística na cidade do Porto pelo Natal de 2014 os sinaleiros voltaram.
Dois agentes foram colocados a comandar o trânsito à entrada da Ponte Luis I. Segundo um comunicado da altura da PSP pretendia-se com a medida:
“Reforçar a componente humana em paralelismo com a sinalização vertical e/ou luminosa existente, dando-lhe um cariz mais dinâmico, objectivo e gestionário que visa facilitar a vida de todos os que circulam nas artérias sinalizadas, nos momentos de maior intensidade de tráfego".

Polícia sinaleiro recentemente, junto à Ponte Luís I

Hélder Pacheco lembra os tempos do sinaleiro:
“No tempo da minha infância não existiam sinaleiros nos cruzamentos, em cima de um estrado. Em certos locais, estavam postados no passeio accionando os comandos de um aparelho parecido com os dos carros-eléctricos manipulados pelos guarda-freios. Dali, faziam mudar as luzes de semáforos colocados sobre a rua. No meu bairro dos Clérigos, havia um dispositivo regulando o trânsito no cruzamento com os Lóios e Rua do Almada.
Ficava no passeio, em frente à Casa Daniel Barbosa, de que um dos membros, com o mesmo nome, seria Ministro da Economia. E, como só apregoava melhorias (no pós-guerra, de fome e miséria era quase provocação), a gente «do contra» começou a chamar-lhe o Daniel das Farturas.
Voltando aos sinaleiros: naquela época de polícia pouco cívica, nada amigável e ainda menos simpática, eram os únicos bem aceites e respeitados. Transmitiam a sensação de utilidade e segurança, e as pessoas gostavam. Embora alguns dessem grandes reprimendas a certos automobilistas, até isso humanizava a relação com a autoridade. (A uma amiga minha, muito azelha, um sinaleiro disse-lhe: «A senhora é tão incompetente que nem a quero ver mais à minha frente!») E a cidade, pelo Natal, rodeava-os de prendas e presentes para lhes agradecer os serviços prestados.
Se querem que lhes diga, em certos locais da cidade tenho a convicção de que um bom sinaleiro despachava melhor o trânsito do que os semáforos. É que, contrariamente a ele, o computador que regula a vida urbana não tem alma, percepção e inteligência activa para reagir interactivamente. É cego, surdo, mudo e estúpido. Por tudo isto, não posso deixar de saudar a decisão da PSP de voltar a colocar um sinaleiro na entrada da Ponte de Baixo, local pior do que mil diabos, onde, a certas horas, ninguém se entendia. Muito bem”.

Polícia sinaleiro ao fundo da Rua dos Clérigos

terça-feira, 10 de abril de 2018

(Continuação 12)

Desastre ferroviário na Senhora da Hora


 
Desastre ferroviário na Senhora da Hora, em 19 de Setembro de 1910 – Fonte: Ilustração Portuguesa, 10 de Outubro de 1910
 
 
 
Sobre o acidente da foto acima a revista Ilustração Portuguesa publicava o texto seguinte:

 
 
In Ilustração Portugueza


quarta-feira, 4 de abril de 2018

(Continuação 11)

Novas unidades de medida
 
 
Em meados do século XIX, as autoridades, a exemplo do que já era feito no estrangeiro, decidiram uniformizar as unidades de medida que, até aí, subsistiam sem muito rigor e introduzir o sistema métrico decimal.
Existia, por exemplo, para as medidas lineares as varas e os côvados, passando o metro padrão a ser a nova referência.
O mesmo se passaria com as unidades de peso, e o arrátel de 16 onças (antes de 12,5 e, depois, de 14) ou o quintal de 128 arráteis, deram origem ao grama.
 
 
 
“Na altura da formação de Portugal (1128), o padrão de peso utilizado era o arrátel, do árabe al-ratl, que era um padrão moldado em ferro fundido ou em granito. Este padrão variou de acordo com os interesses, assim como todos os outros, pesando desde 353 até 459 gramas.
No ano de 1352, alguns povoados “portucalenses” queixaram-se à corte de Lisboa por se sentirem lesadas quer no pagamento dos direitos reais, quer nas rendas que pagavam a fidalgos e clérigos. A confusão nos padrões era tamanha que D. Pedro I (1357–1367) tentou impor um padrão único para todo o território português, decretando que os pesos sólidos tivessem como base as medidas de Santarém, e os líquidos as utilizadas em Lisboa.
Posteriormente, D. Afonso V (1438–1481), impôs os padrões de três cidades: Lisboa, Porto e Santarém. Embora houvesse diminuído, a confusão ainda imperava e no reinado de D. João II (1481–1495), devido a intensificação do comércio com o resto da Europa, adotou-se um novo padrão de peso – o marco de Colônia – um padrão que deveria ser feito em ferro forjado e serviria para pesar ouro e prata”.
Fonte: “blogbentes.blogspot.com/”
 
 
 
 
 
Medidas Lineares

Fonte: pt.wikipedia.org/




Medidas de Peso

Fonte: pt.wikipedia.org/
 
 
 
 
Assim, há mais de 150 anos, em 1859, a 20 de Junho é assinado o decreto nº 152, publicado a 1 de Julho de 1959.
Esse Decreto de 20 de Junho de 1859 estabeleceu como obrigatório o uso exclusivo do sistema métrico decimal, passando então a vigorar o uso da medida métrica linear, a partir da data de 1 de Janeiro de 1860, ficando abolidas e ilegais as varas e os côvados e quaisquer outras medidas lineares.
Este decreto entrou em vigor para as medidas lineares, em Lisboa a 1 de Janeiro de 1860 e nas restantes localidades a 1 de Março do mesmo ano.
A obrigatoriedade da utilização das restantes medidas entrou em vigor, em todo o território nacional, em 1 de Janeiro de 1862.
Por isso, em 1861, através de publicidade, em jornais, era feito um apelo para que os cidadãos cumprissem o que estava determinado na lei no respeitante às novas unidades de medida.

 
 
 

In “Jornal do Porto”, 28 de Fevereiro de 1861, p. 3
 
 
 
 
Nos anos seguintes, à introdução das novas unidades de medida, os novos conceitos eram ensinados nas escolas de instrução primária, como atesta a publicidade que se segue.

 
 
 

In “Jornal do Porto”, 6 de Fevereiro de 1872, p. 3
 
 
 
As unidades de medida de superfície e as de capacidade, toque de prata e toque de ouro sofreriam, também, as respectivas alterações para o sistema métrico. 


segunda-feira, 2 de abril de 2018

(Continuação 10)


A estória que se segue representa uma faceta do portuense, ligada à superstição e própria de uma época em que as respectivas narrativas aconteciam, em grupo, normalmente, à noite.
 
 
De meter medo ao susto
 
 
“O campo de repouso eterno do Bonfim foi palco de um caso curioso que assisti e me juntei ao poviléu, em frente ao portão, no ano 1948, quando algo de bizarro e insólito se aventava ter acontecido na noite anterior por via de uma notícia publicado no Jornal de Notícias.
Para os lados de Miragaia havia a conhecida sala de baile de “Monchique” e, um moço tripeiro resolveu ir, ali, passar umas horas e dar uns passos de dança. Na sala encontrou uma moça, solitária e lindamente vestida de tecido de crepe.
 
 
 

À direta, a Calçada de Monchique – Fonte: Google maps

 
 
Estava só. Depois de alguma hesitação afoitou-se e convidou-a para dançar ao que a donzela aceitou.
Durante a dança o rapaz estranhava que as mãos da rapariga estivessem frias e, a qualquer palavrinha sedutora e delicada do moço, à bonita mocinha, ela não lhes respondia. Pensou, então, o amoroso: “mãos frias coração quente e mudinha, certamente, por causa da sua timidez...”
Alta madrugada o baile fechou as portas. Saiu o par para a rua. Condoído o rapaz, da menina, por não ter um casaco para lhe cobrir, os crepes leves e a abrigar do nevoeiro da manhã colocou-lhe, delicadamente, a sua gabardina por cima dos ombros.
Caminharam pela rua Nova da Alfandega, subiram as ruas Mouzinho da Silveira, a 31 de Janeiro (Stº António), entraram na Praça da Batalha e seguiram a Stº Ildefonso e estão na rua do Bonfim. O par, sempre, de mãos dadas (e as da rapariga, continuavam gélidas) e sem balbuciar palavra.
Ao chegarem ao largo da igreja do Bonfim a rapariga dirigiu-se para o portão do cemitério, largou a mão do acompanhante; retirou a gabardina dos ombros e pisgou-se a correr para dentro do campo, sagrado, de repouso.
O tripeiro, aterrorizado, deitou a correr, batendo com os calcanhares no traseiro, pela Bonfim abaixo com os bofes a saírem-lhe pela boca. Parou na Avenida dos Aliados e entrou na redacção do Jornal de Notícias para contar o infausto acontecimento que acabara de ter.


 

Sede do Jornal de Notícias (Entrada dupla, em arco, a meio da foto), na Avenida dos Aliados, em 1948
 
 
 
O Jornal de Notícias era o diário mais popular no Porto da minha infância, depois havia o Comércio do Porto, para os comerciantes e o Primeiro de Janeiro para as elites conservadoras e literárias.
O JN continuava a ser o diário do povo, da procura e oferta de emprego e muito desenvolvido nos casos do dia que quotidianamente se passavam. Inclusivamente o desenvolvimento dos julgamentos do Tribunal de Polícia pelo juiz, humanista, António Quintela que sentenciava os arguidos, caso por caso, conforme as condições de vida de cada um. Normalmente acusações que recaiam sobre um vendedor de rua ou uma varina que fez banca na via pública.
Pela manhã e dado à notícia do caso do rapaz e da morta viva inflamou de curiosidade os tripeiros e, em romaria encaminham-se para o cemitério do Bonfim. As opiniões, entre o povo, dividiam-se mas perfeitamente crédulo daquilo que tinha acontecido.
Uma velhota mexida e de pronúncia “esganiçada” caminhava entre a boa centena de pessoas em frente ao portão e ia dizendo: a campa da rapariga é pegada ao jazigo da Santinha Bernardina!
 
 
 

Entrada do cemitério da Igreja do Bonfim – Fonte: Google maps
 
 
O povo vai entrando e basculha sepultura por sepultura e nenhuma se encontrava violada. As vizinhas da Santa Bernardina estavam intactas. Nos meus verdes anos olhava toda aquela cena patética que de forma alguma a encaixava no meu cérebro. A gente dentro do cemitério aventava hipóteses de credibilidade que tomavam o caso como sendo real.
Mas entre todo aquele paganismo, caricato e profano levanta-se a voz de uma “tripeira” de pelos nas ventas e em termos de discurso político, em praça pública, em altos berros: “ vocês não veem? Vocês são, mas é uns “morcões” e umas “morconas” o que eles pretendem é acabar com o “Baile de Monchique”!
Anónimo