sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

25.173 A introdução do consumo da cerveja nos hábitos dos portuenses

 
Os primórdios
 
A produção de cerveja, em Portugal, aponta para o ano de 1689, com o aparecimento da primeira fábrica. A relutância da sociedade para o consumo de cerveja, que era considerada uma bebida de baixo preço e inimiga do vinho, estendeu-se às autoridades que proibiram a sua importação entre 1710 e 1810, o que suscitou, nesse período, a entrada de algumas quantidades por contrabando. Entre as diversas mercadorias entradas por contrabando e apreendidas pelos fiscais da Alfândega do Porto, entre 1788 e 1791, contavam-se 10 almudes de cerveja (cerca de 250 litros).
O hábito do seu consumo acelarou, porém, quando começaram, no século XIX, a abrir os primeiros botequins e cafés.
Ainda nas primeiras décadas do século XIX, o consumo de cerveja na cidade do Porto estaria circunscrito quase exclusivamente aos residentes estrangeiros, sobretudo aos ingleses.
Contudo, a partir da década de 1830, a cerveja foi conquistando um número crescente de adeptos e, nesses tempos, já se divulgavam receitas para fazer cerveja caseira.
No entanto, habituados ao consumo de vinhos, a mudança não foi fácil.
Disso nos é dado prova, pelos fazedores de opinião desses tempos – os escritores.
Assim, Júlio Dinis na sua obra “Uma Família Inglesa” descreve a posição de um típico inglês, Richard Whitestone, perante o consumo de cerveja:
 
 
A mesma indiferença, a mesma, senão absoluta impassibilidade, estabilidade de razão pelo menos, com que, uns após outros esvaziava copos de cerveja e cálices de Porto e Madeira, de rum, de conhaque, de kummel, de ginger beer, e até de absinto, libações que a qualquer pessoa menos inglesmente organizada ameaçariam, em pouco tempo, com as mais pavorosas consequências de um completo alcoolismo”.
 
 
Por sua vez, Ramalho Ortigão, nas FARPAS, faz alusão ao consumo de cerveja, após uma noitada de batota na Foz, nos seus tempos de juventude, na década de 1860, numa “espelunca” improvisada “no lindo cottage do Mallen, na Praia dos Ingleses, com um terraço sobre o mar e a entrada pela rua da Senhora da Luz”. Quando todos abandonaram a sala, já ao romper do dia, os vestígios eram indisfarçáveis:
 
 
 
 




 
Na gravura acima, publicada no livro "As Praias de Portugal, Guia do Banhista e do Viajante", editado em 1876, talvez numa das casas representadas, funcionasse o tal cottage do Mallen de que falava Ramalho Ortigão.
Camilo Castelo Branco várias vezes aludiu, nos seus romances, ao consumo de cerveja. Entre essas ocasiões, no romance “Duas Horas de Leitura” fê-lo, quando com o seu companheiro de viagem, que tinha por destino Vila Nova de Famalicão, param na estalagem da Mariquinhas, na Carriça, para darem descanso aos cavalos e matarem a sede.
 
 
 


 
 
 
 
Por outro lado, Camilo Castelo Branco, na sua obra “O Cego de Landim” (1877), criticava o uso imoderado da cerveja pelos jovens da época.
Camilo tinha as suas razões para fazê-lo, já que, o seu filho Jorge acumulava a infelicidade da demência com bebedeiras de cerveja.
Já, Eça de Queiroz nos seus “Contos” faz referência à nova bebida.
 
 
 
“Meu caro amigo! Os meses cerimoniais de luto passaram, depois outros, e José Matias não se arredou do Porto. Nesse Agosto o encontrei eu instalado fundamentalmente no Hotel Francfort, onde entretinha a melancolia dos dias abrasados fumando (porque voltara ao tabaco), lendo romances de Júlio Verne, e bebendo cerveja gelada até que a tarde refrescava e ele se vestia, se perfumava, se floria para jantar na Foz.”

 
 

Hotel Francfort, c. 1900
 
 
 
 

A meio da foto, na esquina das ruas do Laranjal (à esquerda) e de Elias Garcia (à direita), nos andares superiores esteve o Hotel Francfort. Eram tempos em que estava a decorrer as demolições para abertura da Avenida dos Aliados
 
 
 
As experiências industriais para produção de cerveja começariam em 1836, e progrediriam, em crescendo, até ao fim do século XIX. Durante esses anos a cerveja era designada por “bock”, por analogia a termos resultantes da sua importação.
Assim, um copo de cerveja equivalia a um “bock”.
 

 

 
“A expansão do consumo da cerveja no Porto romântico, em especial a partir de meados de Oito­centos, provocou um crescente dinamismo da indústria cervejeira local, multiplicando‑se os pedidos de alvarás para a instalação de novas unidades, que contribuíram para a substituição gradual da cerveja importada (sobretudo, inglesa e alemã) por cerveja de produção nacional.
Se as primeiras experiências industriais deste sector, como a Fábrica de Cerveja Portuense, de 1836, parecem ter sido efémeras, outras unidades que se instalaram depois seriam mais duradouras.
Em 1861, existiriam já, pelo menos, treze fábricas de cerveja nos concelhos do Porto e Gaia, embora se tratasse, na maior parte dos casos, de pequenas unidades artesanais, correspondendo a consumos ainda bastante reduzidos. Como referia o deputado do Porto Faria Guimarães, em 1860:
“Estas fábricas [de cerveja] fazem entre nós poucos interesses, porque o nosso povo prefere o vinho à cerveja, e mesmo o verde, quando o há, é melhor do que ela; mas se for maduro não se estima menos. A cerveja apenas se gasta entre nós em alguns meses do verão, e nesses mesmos em pequena quantidade”.
Mas a tendência crescente de expansão dos consumos estimulou a instalação de unidades maiores e mais bem apetrechadas, como a “Fábrica de Cerveja da Baviera”, de Jansen & Cª, que se associou a Agostinho Moreira dos Santos, na Rua da Piedade, desde 1863, e que construiu, na década seguinte, uma nova fábrica na Rua do Melo, inaugurada em 1876.
Ou a modernização, desde 1884, da velha Fábrica da Piedade pelo alemão Maximiano Schreck, que dispunha também de uma afamada cervejaria na Rua do Laranjal, anunciando, além da “cerveja nacional”, “cerveja alemã branca e preta, a qual rivalizando com a estrangeira custa pouco mais do que metade do preço”.
Num mercado em expansão, a concorrência das cervejeiras portuenses através de uma rede de distribuição dominada por depositários (armazenistas), que impunham preços e condições que limitavam as margens de lucro dos industriais, conduziria, nos anos oitenta, a estratégias de carteli­zação do sector. Esse movimento de concentração dos industriais cervejeiros do Porto culminaria na criação da CUFP – Companhia União Fabril Portuense das Fábricas de Cerveja e Bebidas Refrigerantes (antepassada da actual Unicer), em 7 de Março de 1890, reunindo capacidades financeiras e técnicas para desenvolver a produção industrial e controlar o mercado portuense e nortenho. No ambiente anglófobo que se vivia então na cidade, na sequência do Ultimatum inglês de 11 de Janeiro, vale a pena destacar que a primeira marca de cerveja lançada pela nova empresa foi a “Serpa Pinto”, numa clara afirmação nacionalista e nacionalizadora da bebida que muitos continuavam a considerar anti‑nacional”.
Com a devida vénia a Gaspar Martins Pereira, Professor catedrático do Departamento de História e de Estudos Políticos e Internacionais da FLUP


Agostinho Moreira dos Santos, acima referido, foi quem inaugurou, no início da década de 1860, uma fábrica de cerveja na Rua da Piedade e terá ficado conhecido na cidade, também, por ser o gerente dos teatros Circo e Camões e neles promover, pelo Carnaval, animados bailes de máscaras.
 
 


Requerimento dirigido à CMP, por Agostinho Moreira dos Santos, para construção de prédio que viria a ser a sua fábrica de cerveja e que receberia a licença de construção, nº 208/1857 – Fonte: AHMP
 
 
 

Desenho da fachada da fábrica que Agostinho Moreira dos Santos se propunha erigir na Rua da Piedade – Fonte: AHMP
 
 
 
Ainda, no ano de 1857, Agostinho Moreira dos Santos solicita à Câmara a obtenção de licença para acrescentar um andar ao edificado já aprovado, anteriormente, para o mesmo local.

 
 

Nova fachada, constante de projecto apresentado à Câmara do Porto, da fábrica de cerveja da Rua da Piedade, que obterá Licença de obra nº 331/1857

 
 
Agostinho Moreira dos Santos falecerá, em 29 de Julho de 1882, na Rua da Piedade onde, também, residia, deixando viúva e seis filhos herdeiros.
Em 1884, já Maximiano Schreck estava à frente dos destinos da fábrica de cerveja da Rua da Piedade, a qual iria modernizar.
No Porto, em 1890, existiam seis unidades de produção (Fábrica da Piedade, Fábrica do Mello, M. Achvek & Cia., J.J. Chentrino &Cia, J.J. Persival & Cia e M. Schereck) que, a 7 de Março desse ano, foram fundidas com uma unidade de Ponte da Barca, numa única empresa, a Companhia União Fabril Portuense (CUFP), em laboração até 1977, altura em que passa a constituir a Unicer.
O edifício da unidade referida e sita em Ponte da Barca, seria vendido, em 1902, à câmara local e os equipamentos transferidos para o Porto, como forma de obtenção de fundos para a aquisição de um terreno na Rua da Piedade, onde viria a situar- se, por muitos anos, a sede e os escritórios centrais da empresa que, até aí, se localizavam na Rua do Mello.
A ligação entre as unidades fabris da Rua do Mello e da Rua da Piedade remontava a alguns anos atrás quando, em 1863, a “Fábrica de Cerveja da Baviera”, de Jansen & Cª, se associou, a Agostinho Moreira dos Santos, proprietário de uma outra unidade na Rua da Piedade e acabaram por, em 1876, inaugurar uma nova fábrica na Rua do Mello.
Por outro lado, em 1884, já o alemão Maximiano Schreck modernizava a velha fábrica da Rua da Piedade, ele que detinha uma conceituada cervejaria na Rua do Laranjal, nos baixos do prédio onde se situava o Hotel Francfort.

 
 

A cervejaria Schreck localizava-se no rés-do-chão do prédio da esquina, junto à área do gaveto (à direita), onde estava o Café do Chaves. A fachada observável do prédio, onde nos andares superiores esteve o Hotel Francfort, estava voltada para a Rua do Laranjal e, aquando da obtenção da foto, procedia-se a demolições para a abertura da Avenida dos Aliados
 
 
 
“É decidida a venda das instalações de Ponte da Barca, dos armazéns de vinho de Vila Nova de Gaia e de todo o ferro e cobre sem aplicação, como forma de obter fundos para a aquisição do terreno – por 8,5 contos de réis – junto da Fábrica da Piedade. O financiamento é obtido por hipoteca, tendo-se entrado com 6 contos em dinheiro e cinco letras de 500 mil réis pagas semestralmente, sem juros.
O negócio do vinho é extinto por não ser compensador e os produtos armazenados nas Devesas são vendidos em conjunto, permitindo um encaixe de dois contos e 800 mil réis.
Fonte: “unicer.pt”
 
 

Entretanto, outras fábricas, espalhadas pela cidade, terão encerrado. Será o caso da que, abaixo, ainda publicitava, em 1891.

 
 
 

In jornal “O Comércio do Porto” de 2 de Maio de 1891
 
 
 
 
 
Companhia União Fabril Portuense de Cerveja e Bebidas Refrigerantes, SARL/
 
 
 
“Poucas empresas podem orgulhar-se de uma tão longa história, com raízes fundas que remontam aos inícios da industrialização do sector das bebidas, na segunda metade do século XIX. As origens da Unicer remetem-nos para o movimento dos industriais cervejeiros do Porto que fundaram, em 7 de Março de 1890, a CUFP - Companhia União Fabril Portuense das Fábricas de Cerveja e Bebidas Refrigerantes, uma sociedade anónima de responsabilidade limitada, dispondo de um capital inicial de 125 contos, com o objectivo de reunir capacidades financeiras e técnicas para desenvolver o seu sector de actividade. Das sete fábricas que se uniram nesse projeto, seis do Porto e uma de Ponte da Barca, algumas tinham já várias décadas de existência. Foram essas fábricas que iniciaram o abastecimento de cerveja nacional aos cafés e cervejarias do Porto, substituindo gradualmente a cerveja importada, numa época de mudança dos hábitos de consumo, sobretudo nos meios urbanos. Num país de tradições vinícolas, a cerveja passou de «bebida estranha» a «bebida da moda». No início, a CUFP começou a laborar nas fábricas da Rua Piedade e da Rua do Melo, em condições pouco mais que artesanais. Empregava apenas 13 trabalhadores e produzia, essencialmente, cervejas, gasosas e gelo, em quantidades limitadas. Nessa altura, a produção de cerveja rondaria os 360 mil litros.
Os negócios da empresa estendiam-se ainda a outras bebidas alcoólicas, como licores, cognacs e aguardentes, vinhos e genebra. A gestão era feita diretamente por acionistas eleitos para o efeito e decorria num ambiente familiar. Desde então até à actual Unicer, mais de 120 anos de história contam uma persistente busca de renovação em todas as dimensões da atividade da empresa”. 
Site da Unicer
 
 
 
Após a data da formação da CUFP - Companhia União Fabril Portuense das Fábricas de Cerveja e Bebidas Refrigerantes, na Rua do Laranjal, nº 22, no prédio onde estava sedeado o Hotel Francfort e a cervejaria do alemão Maximiano Schreck, seriam comercializados os produtos saídos das suas fábricas de acordo com a publicidade seguinte.
Aí, a CUFP passou a ter os seus escritórios e uma cervejaria.
A produção da cerveja fazia-se na fábrica da Rua do Melo e na fábrica da Rua da Piedade.

 
 
 

Publicidade, em 1890, com referência à marca “Serpa Pinto”
 
 
 
 

Publicidade à Companhia União Fabril Portuense, na Rua do Laranjal, nº 22, em 1891
 
 
 

Publicidade, In jornal “A Voz Publica” de 1 Agosto 1891



Catorze anos depois da constituição da CUFP, seria construída uma nova fábrica na Rua da Piedade para substituição da existente.




CUFP, na Rua da Piedade
 
 
Acima está a fachada principal das instalações da fábrica da CUFP - Companhia União Fabril Portuense de Cerveja e Bebidas Refrigerantes - Sociedade Anónima de Responsabilidade Limitada, situada então na Rua da Piedade, hoje um terreno ajardinado, junto de onde se encontram actualmente os edifícios «Mota-Galiza», à Praça da Galiza e onde, presentemente, está a ser construída uma estação do Metro.
O edifício ficou concluído em Janeiro de 1904, situando-se na Rua da Piedade, nº 140, a sede da empresa e unidade fabril.
 
 
 

Cartaz de 1907, anunciando a primeira marca icónica (A Cristal) produzida na nova fábrica da Rua da Piedade
 
 
 
Até a CUFP mudar a sua fábrica para as suas instalações actuais, em Leça do Balio (1964), manteve os seus pólos de produção dispersos, nomeadamente o da Rua da Restauração, nºs 60-82, construído entre 1912 e 1913, com algumas alterações nos anos 1940, conhecida como Fábrica de Cerveja Leão, destinada a fabrico de cerveja e gelo.
Esta unidade é inaugurada a 20 de Novembro de 1914, passando a Companhia a deter duas fábricas (da Piedade e da Restauração) em regime de concorrência. Os investimentos na nova unidade foram de 250 contos. Pretendia-se colocar em Marrocos a cerveja produzida por esta nova unidade.
A conhecida internamente como “Fábrica do Leão” é encerrada em 1916, depois de por decisão governamental terem sido expulsos dois técnicos cervejeiros alemães que prestavam serviço técnico na unidade fabril.
Estava-se em plena 1ª guerra Mundial e as matérias-primas, de diversa ordem, iam escasseando, neste caso, o malte e a cevada.
Em 1929, ainda seria assinado com a Fábrica de Moagens Victória, antiga Fábrica do Corpo Santo, um contrato de venda de água de mina por 6.500$00, que corria nos terrenos da Fábrica do Leão.



Fábrica de Moagem do Corpo Santo, In jornal “A Voz Pública” de 12 Julho de 1900

 
 
Perspectiva actual da gravura anterior - Fonte: Google maps



Publicidade à Fábrica de Moagem de Trigo do Corpo Santo - Fonte: Jornal "A Voz Pública de 12 de Janeiro de 1902



Em 1941, seria montada uma malteria nas instalações da Fábrica Leão e, em 1966, as instalações seriam vendidas para albergarem outros serviços e empresas.
 
 
 
 
Edifício onde funcionou a Fábrica de Cerveja Leão, na Rua da Restauração
 
 
 
A partir da década de 1930, as instalações fabris da Rua da Piedade são alvo de uma ampliação.
 
 
 

Edifícios da CUFP, na Praça da Galiza e Rua da Piedade, após ampliação das instalações primitivas que lhe eram contíguas - Ed. Jornal de Notícias
 
 
 
Na foto anterior, já é possível apreciar, para além do edifício mais antigo de 1904, um outro mais recente, o da esquina, dos anos 30, projectado por Arménio Losa.
Em 1918, já se tinha concretizado, também, a aquisição de um edifício e terreno na Rua da Boavista, pertencentes à antiga Fábrica de Panificação.
Em 1921, foram compradas mais quatro casas contíguas à Fábrica da Piedade, onde seria erguido o tal novo edifício.
 
 
 

Frota de camiões da CUFP, na Rua de Júlio Dinis, junto da fábrica
 
 
 

Instalações da CUFP, em 1957, quando foi inaugurada, a 1 de Maio, a cervejaria, no topo sul (oposto ao visionado) para promover as suas marcas e a fábrica já tinha tomado o local (à direita) onde esteve a primitiva fábrica
 
 
 
Todo a área de implantação dos edifícios fabris da CUFP, hoje uma área que está a ser preparada para que aí surja uma estação de Metro seria, mais tarde, permutado por um outro na Rua Diogo Botelho, frente à Universidade Católica.
Os edifícios «Mota-Galiza» foram por sua vez construídos, no terreno da Fábrica do Jacinto, na Rua da Piedade, mais a poente, o que pode ser apreciado na vista abaixo.


 

Perspectiva do local da foto anterior, que podia ser visionada há poucos anos, quando a área se tinha tornado um amplo relvado – Fonte: Google maps
 
 
 
Um dos ex-libris da CUFP seria lançado em 1927.
 
 
"No dia 9 de Novembro de 1927 foi registado o nome da marca Super Bock, marcando assim início a história de uma das mais emblemáticas marcas portuguesas.
A ideia que culminou no surgimento da marca Super Bock partiu de um dos administradores da CUFP (Companhia União Fabril Portuense das Fábricas de Cerveja e Bebidas Refrigerantes), empresa que acabou por originar em 1977 a empresa que actualmente detém a Super Bock e várias outras marcas, a Unicer.
Esta cerveja é da variedade bock, inserida no tipo Lager, a cerveja mais consumida no mundo, caracterizada por fermentar a temperaturas mais baixas, tendo um teor alcoólico de 5,2%.
A história da Super Bock é inseparável da história da CUFP, sendo que, tal como o nome indica, a produção e consumo da cerveja se situou principalmente no Norte do país durante os seus primeiros anos, facto pelo qual demorou algum tempo a estender-se em massa para o sul do país. Esta expansão deveu-se em muito à inauguração da unidade fabril de Leça do Balio na década de sessenta, unidade que estava preparada para produzir cerca de 25 milhões de litros de cerveja por ano, para responder ao aumento da procura e de consumo que se verificou nesses anos. Assim, com o aumento da produção e com a aposta no reforço da distribuição, a Super Bock chegava a Lisboa no ano de 1972.
A Super Bock recebe a sua primeira distinção internacional, ao ganhar a medalha de ouro no concurso Monde Selection de La Qualité, evento realizado no Luxemburgo, que premeia as cervejas com maior qualidade. O número de medalhas ganhas pela Super Bock neste concurso atinge já as 35, sendo a única marca no nosso mercado que atingiu este feito. A expansão internacional também é notória, estando actualmente a Super Bock presente em cerca de 40 países nos 5 continentes”.
 “aminhagestao.blogspot.com/”
 
 
 
 
A partir de 1927 e anos seguintes, surgem duas novas marcas de cerveja: a Super Bock e a Zirta, logo seguidas pelo aparecimento da Nevália, uma cerveja que existiu, apenas, durante os anos da 2ª Grande Guerra e que serviu para preservar as outras marcas, face à deficiente qualidade das matérias-primas. Em 1941, surge também a Vitória, marca da qual se venderam grandes quantidades para apoiar os soldados aliados que se encontravam em Gibraltar. Para além da aposta no mercado nacional, a CUFP também participa no capital social da CUCA, empresa de cervejas de Angola. O crescimento da empresa era constante e, em meados da década de 1950, a CUFP produzia mais de três milhões de litros e as receitas atingiam o valor recorde de 28 milhões de escudos. Por esta altura, a CUFP produzia as marcas Cristal, Super Bock, Invicta Negra, Invicta Cola, Além-Mar e Zirta.
Com o objectivo de divulgar as marcas da CUFP - Cristal, Super Bock, Invicta Negra, Invicta Cola, Além-Mar e Zirta - é inaugurada, em 1957, uma cervejaria situada num edifício da Rua de Júlio Dinis, contíguo às instalações fabris que rapidamente se tornou num sucesso comercial, depois de em 1960 ser concluída a construção de uma esplanada na parte ajardinada da cervejaria.
 
 
 

À esquerda da foto ficava a esplanada da cervejaria – Fonte: Google maps



À entrada da cervejaria, anexa à unidade industrial que se desenvolvia até à Praça da Galiza, ficava a sua ampla esplanada. 
Ela situava-se junto do cotovelo que faz a Rua de Júlio Dinis no seu traçado para o Palácio.
A conceituada e renomada marca “Super Bock” apareceria em 1927.
 
 
 

Publicidade à laranjada Invicta lançada em 1933
 



Esta marca  de refrigerante «Invicta» surgiu em 1956 e foi comercializada nas variedades de Laranjada, Cidra e Lima – Fonte: “portoarc.blogspot.pt”
 
 
 
Em 1940, ocorreria a comemoração das bodas de ouro da empresa.






 
Dada a necessidade de aumentar a sua produção, seria construída uma nova fábrica, em Leça do Balio, inaugurada em 1964.
A CUFP passaria, a partir dos anos 70, do século passado, por várias fases: após o 25 de Abril, foi nacionalizada em 30/8/1975; reestruturada em 1977 com a fusão da CUFP, União Cervejeira de Portugal e Copeja e reprivatizada em 1990.
Após o ano 2000, diversificou os seus produtos comprando interesses em empresas produtoras de águas, vinho, café e turismo e a empresa adquire o Grupo Vidago, Melgaço e Pedras Salgadas (VMPS) e ainda a totalidade do capital da Caféeira SA, a mais antiga marca de café em Portugal.


 

Instalações em Leça do Balio

sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

25.172 Um capitalista nacional com origens portuenses

  
Em 1819, nascia Francisco de Oliveira Chamiço (Porto, São Nicolau, 24 de Fevereiro de 1819 - Lisboa, Mártires, 21 de Março de 1888).
Era filho de Fortunato de Oliveira Chamiço, um negociante da praça do Porto, e de sua mulher Cândida Margarida Cândida Martins Pacheco, neto paterno de Brás de Oliveira Chamiço, Capitão-de-Mar-e-Guerra, de origem Alemã.
Era irmão de duas personagens que se destacariam pelo relevo alcançado na sua actividade económica, Fortunato Oliveira Chamiço Júnior e de Eduardo Oliveira Chamiço.
Aos 10 anos de idade, Francisco Chamiço foi estudar para Inglaterra, onde a firma do pai, “Chamisso & Companhia” tinha boas relações, regressando com vinte anos.
Começaria, então, a trabalhar na firma do pai, tendo casado com Claudina Freitas Guimarães (1821 – 1913), irmã de Ana Freitas Guimarães casada com Fortunato de Oliveira Chamiço Júnior, irmão do Francisco. O outro irmão, já referido, de seu nome Eduardo Oliveira Chamiço, acabaria por ficar solteiro.
Nos anos seguintes, Francisco Chamiço desempenhou vários cargos de relevo no âmbito da actividade económica, tendo sido Secretário da Associação Comercial Portuense, a cuja Direcção esteve ligado por espaço de 23 anos, durante os quais foi encarregado por aquela Associação e pelo Estado, de numerosas Comissões em proveito do serviço público.
Assim, em 1852, Francisco Chamiço é nomeado pelo Ministro Rodrigo da Fonseca Magalhães, para a comissão de inquérito da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro.
Nesse ano, aparece ligado a uma elite portuense, quando juntamente com António Bernardo de Brito e Cunha, Ricardo de Clamouse Brown, José Pedro Barros Lima e mais uns quantos, vão coadjuvar as senhoras, Marquesa de Terena, Condessa de Terena, Viscondessa de Alpendurada, Viscondessa de Balsemão, Viscondessa de Castro Silva, Baronesa de Ancêde, Baronesa do Bolhão, Maria Ermelinda Woodhouse e muitas outras, que organizavam um baile, na Quinta das Águas Férreas, que ficaria célebre, por não se ter realizado.
O baile estava previsto ser em honra da rainha D. Maria II, que visitava a cidade e o norte do País, em Maio de 1852, mas o S. Pedro não esteve pelos ajustes e despejou água, sobre a cidade, até fartar.
Entretanto, anos antes, Francisco Chamiço já tinha fundado, juntamente com o seu irmão Fortunato e com Carlos Silva, a firma que se destacaria no comércio dos vinhos do Porto, “F. Chamiço Filho & Silva”, que teve a sua sede na Rua dos Ingleses, nº 87 – 1º (actual Rua do Infante).

 
 

Rua dos Ingleses, c. 1860

 
 

Garrafa de vinho do Porto Chamisso


 
A “F. Chamiço Filho & Silva” que exerceria também na área exportadora funções de consignatários (correspondente aos actuais agentes de navegação) haveria de ver, também, o seu nome ligado a um naufrágio célebre, em 1864, do vapor Corinthian.

 
 

Anúncio do jornal “O Comércio do Porto” em 1 de Julho de 1864

 
 
“Vapor “Corinthian”
Um telegrama chegado ontem de Viana informa estarem destruídas todas as esperanças, dadas pela notícia anterior relativamente ao vapor inglês “Corinthian”, que tendo saído ante-ontem a barra do rio Douro, encalhou às 6 horas da tarde do mesmo dia num banco de areia a 5 milhas ao Sul de Viana, abrindo logo água.
Às 3 horas da madrugada de ontem, a tripulação vendo que o navio ia submergir-se abandonou-o e desembarcou a salvo em Viana.
Com os socorros prestados pelas repartições competentes daquela cidade pôde ser salvo do vapor naufragado parte do gado que ia no convés.
O “Corinthian” está totalmente perdido. Bateu e submergiu-se em sítio tão fundo, que ontem às 3 horas da tarde, segundo uma carta de Viana, apenas se viam os mastros fora da água. Os tripulantes tinham-no abandonado pouco antes da submersão.
O vapor levava perto de 300 bois, dos quais ainda foram salvos 60 e tantos, que iam no convés. Mergulhadores empregados para a salvação da carga, ainda não tinham conseguido salvar nada até às 3 horas da tarde de ontem”.
In jornal “Comércio do Porto”, terça, 5 de Julho de 1864
 
 
 
Em 1853, com 33 anos, Francisco Chamiço foi dos fundadores da Companhia de Seguros Garantia, praticando seguros marítimos e terrestres e que rapidamente se expandiu pelo estrangeiro: Brasil, Inglaterra, Espanha.
Em 1854, foi pela primeira vez deputado eleito pela cidade do Porto, ocupando, sucessivamente, o seu lugar na Câmara dos Senadores, até 1864, data em que renunciou à candidatura por divergências com o Ministério presidido pelo 1.° Duque de Loulé.
Com a publicação da Constituição de 1838, sendo esta um compromisso entre a Constituição de 1822 e a Carta Constitucional de 1826, manteve-se o sistema bicameral. Esta Câmara dos Senadores é, no entanto, electiva e temporária. O número de Senadores era igual à metade dos deputados.
A função de deputado levou-o, assim, a passar parte da sua vida na capital, onde haveria de se radicar e onde iria adquirir contactos cruciais para o singrar da sua actividade profissional.
A amizade que fez com o escritor, jornalista, diplomata e político, José da Silva Mendes Leal (Lisboa, 18 de Outubro de 1820 — Sintra, 22 de Agosto de 1886), foi fundamental.
O casal Fortunato Chamiço Júnior e Ana Freitas Guimarães teve uma filha, Amélia Freitas Guimarães Chamiço (1843 – 1900), que casou, em 22 de Novembro de 1870, com Frederico Biester (1833 – 1899), irmão de Rosa Biester Mendes Leal, esposa de José da Silva Mendes Leal, que viria a ser ministro da Marinha e do Ultramar.
Francisco Chamiço vai valer-se do seu relacionamento com José da Silva Mendes Leal, em 1862, quando consegue desbloquear o arranque da construção do Palácio de Cristal pela denominada Sociedade do Palácio de Cristal eleita numa reunião em 1861.

 
 

Primeiros corpos gerentes da Direcção da Sociedade do Palácio de Cristal, em 1861

 
 
Como se pode observar, Francisco Chamiço fará parte da 1ª Direcção da sociedade do Palácio de Cristal, mas será a assinatura do seu irmão, Eduardo Chamiço, como substituto, que irá aparecer em muita documentação atinente ao exercício da actividade daquela sociedade, pois, por estes anos, já Francisco Chamiço passava longas temporadas em Lisboa, devido à sua actividade política.
 
 
 
“Em Julho 1861 Alfredo Allen, Francisco de Oliveira Chamiço e Francisco Pinto Bessa promoveram a fundação da Sociedade do Palácio Agrícola, Industrial e Artístico, depois denominada do Palácio de Cristal Portuense S.A.R.L., com o objetivo de construir um palácio destinado a exposições agrícolas, industriais e artísticas.
De início parecia que tudo se encaminhava bem mas, contra o esperado, a recusa da colónia portuguesa no Brasil em participar no capital da sociedade, trouxe dificuldades que pareciam inultrapassáveis, até que Francisco de Oliveira Chamiço, sendo deputado e sendo ministro José da Silva Mendes Leal, em Julho de 1862, parente da família de sua sobrinha Amélia, conseguiu um lei que isentava a sociedade de impostos e concedia importação livre de direitos de todos os materiais destinados à construção do Palácio.
Com esta ajuda e com a de outros beneméritos que ofereceram os seus haveres pessoais, como foi o caso do Dr. António Ferreira Braga, lá se concluiu o Palácio de Cristal do Porto, que, segundo parece, nunca teve uma exploração sem desequilíbrios financeiros e não permitiu reembolsar os seus credores, falecendo o referido Dr. Braga, distinto professor da escola médico-cirúrgica, em 1870, em penosa pobreza”.
Fonte: banconacionalultramarino.blogspot.com/
 
 
Naquele mesmo ano de 1861, em Setembro, Francisco Chamiço era eleito para o Conselho Fiscal da Companhia de Viação Portuense com sede ao Jardim de S. Lázaro.
 
 
 

Palácio de Cristal inaugurado em 1865 - Gravura do Archivo Pittoresco
 
 
 
 
 
É ainda, José da Silva Mendes Leal que, como Ministro da Marinha e Ultramar, vai proporcionar a Francisco Chamiço que seja o fundador de um banco.
Assim, expõe pessoalmente o projecto do Banco à Câmara de Deputados do Reino, em 7 de Abril de 1864 e, logo em 10 de Maio, seguinte, é aprovado o decreto que autoriza o novo banco.
Seis dias depois, 16 de Maio de 1864, o rei, D. Luís, assina a Carta de Lei que ractifica o decreto, nascendo assim, oficialmente, o Banco Nacional Ultramarino (BNU).
O BNU foi emissor de Papel-Moeda para as colónias. Em 1865, a emissão contemplou Angola seguindo-se todas as outras. Até 1926, o BNU exerceu aquela actividade para Angola.
Em 1876, a banca em Portugal sofreria uma grave crise, à qual o BNU não fugiria.
Em 18 de Agosto de 1876, a maioria dos bancos, em Lisboa, suspenderia os pagamentos.
Nesse dia, o governador do BNU, Francisco de Oliveira Chamiço, fez afixar à porta do Banco o seguinte aviso: 
 
 
“Por difficuldades na cobrança de valores vincendos de hoje, e pela suspensão feita por outros estabelecimentos bancários no pagamento de cheques de que este Banco era portador, encontra-se elle a necessidade de suspender o pagamento de cheques a seu cargo, até que realise cobranças que o habilitem, ficando também suspenso o recebimento de quantias para depósito e, podendo assegurar aos srs. Depositantes que dentro de breves dias lhe serão pagos integralmente os seus depósitos.
In Diário Ilustrado nº 1314
 
 
A saída da crise esteve na solução encontrada por Fontes Pereira de Melo em obter junto de Londres um empréstimo para compensar a falta de numerário.
Nesses tempos, em que para o sector bancário se aproximavam situações conturbadas, consta que Francisco Chamiço visitava, em Viana do Castelo, frequentemente, Mateus Barbosa da Silva - uma personalidade muito conceituada na região, que ficaria conhecido por ter sido o presidente desde 1853 a 1873 da Associação Empresarial de Viana do Castelo, e Vice-cônsul da França em Viana do Castelo.
Francisco Chamiço teria, então, convencido os Barbosa e Silva e outros burgueses e aristocratas de Viana a investir confiadamente importantes somas no Banco Nacional Ultramarino e, “ao dar-se seguidamente o mais famoso descalabro daquele banco foi como se ocorresse um terremoto em Viana”, causando enorme prejuízo àquela família. Diz-se, ainda, que o Francisco Chamiço veio a ser “inculpado” no processo subsequente.
Entretanto, Mateus Barbosa não assistiria a este descalabro bancário, pois já tinha falecido em 1873.
Em 1881, o banco reformou os estatutos, aumentando o capital para reforçar as operações de crédito agrícola, móvel e comercial. Internamente, reformulou o seu Conselho de Administração que passou a ser constituído por um governador e dois vice-governadores.
No desenvolvimento da sua actividade nas colónias africanas, o BNU acabou por se envolver directamente em actividades comerciais de importação e exportação e de exploração de actividades agrícolas, adquirindo várias propriedades agrícolas.
Assim, Francisco Chamiço ter-se-á oposto à abolição da escravatura, pois pretendia que os proprietários dos escravos fossem indemnizados no cumprimento da lei que a impunha.
Tal tomada de posição decorria do facto de que o BNU ao fazer a exploração de várias fazendas em S. Tomé, necessitava de mão-de-obra escrava.
Em 1875, o BNU contrata directamente da Libéria, 600 homens e mulheres para as suas propriedades de S. Tomé e até ao final de 1876, tinha já “importado” da Libéria, cerca de 3000 trabalhadores.
A importação de mão-de-obra da Libéria foi a solução que o Francisco Chamiço encontrou como ideal para evitar a caça aos navios de escravos que era feita pelos navios de guerra ingleses sobretudo nas costas de Angola.
Aliás, em 1877, o navio à vela “Ovarense”, ao serviço do BNU, foi arrestado pelos ingleses e confiscada toda a sua carga, sob pretexto de que fazia comércio de escravos.
Em 1877, o jornal “O Progresso” de Lisboa refere que em Luanda se encontram 240 escravos comprados pelo BNU com destino a S. Tomé, estando mais 1000 escravos em Novo Redondo, prontos para partir para a “Água Izé”, propriedade do BNU em Timor.
Francisco Chamiço seria, ainda, proprietário de minas de estanho da Mostardeira (Alentejo) e de Trás-os-Montes, que vieram a ser financiadas pelo BNU.
Em 1876, a rainha D. Maria Pia, por ocasião das inundações de inverno, organizou uma comissão para angariar donativos, da qual faziam parte as personalidades mais importantes da sociedade portuguesa, como o cardeal patriarca, e que incluía, também, Francisco de Oliveira Chamiço.

 
 

Francisco de Oliveira Chamiço


 
Francisco Chamiço fez ainda parte da Administração da Companhia de Caminhos de Ferro Portugueses e presidiu ao comité executivo da exposição colonial portuguesa na exposição universal de Antuérpia, de 1885.
Francisco Chamiço faleceu em Lisboa no dia 21 de Março de 1888, com 68 anos.
Depois da nacionalização em 1974, em 2001, o BNU desapareceria, sendo englobado na Caixa Geral de Depósitos.
 
 
 
 
 
Outros factos relacionados indirectamente com Francisco Chamiço
 

Primeira sucursal do Banco Nacional Ultramarino no Porto
 
 
O Banco Nacional Ultramarino logo, em 1865, abriria a sucursal de Luanda e uma agência na cidade da Praia, em Cabo Verde. Em 1868, criaram-se agências em S. Tomé, Moçâmedes, Benguela e Goa e, em 1876, o banco estendeu-se a Lourenço Marques. Em 1902, criaram-se agências em Macau e Bolama e, em 1912, a de Díli. Em 1913, expandiu-se a pontos-chave no Brasil, nomeadamente, São Paulo, Salvador da Baia, Belém, Recife e Manaus.
Mas, apenas em 1917, foi aberta uma agência no Porto e, no ano seguinte, em Faro.
No Porto, aquela agência situou-se na Praça da Liberdade, junto da igreja dos Congregados.
 
 
 

Vista da Praça da Liberdade, em pleno século XIX, junto da igreja dos Congregados
 
 
 
Na foto acima, no local do prédio de esquina, adossado à igreja dos Congregados, se instalaria a agência do BNU.
Toda a frente do edificado, a nascente da praça, foi o chão do convento dos padres congregados.
Com a extinção das ordens religiosas, o mosteiro foi vendido, em 23 de Abril de 1834, a um brasileiro de torna viagem, Ma­nuel Duarte Guimarães, de alcunha "O Cheira", enquanto a igreja era cedida à confraria de Santo António.
Em 1843 e 1844, as antigas instalações do mosteiro seriam alvo de obras sob a licença nº 98/1843 e licença nº 156/1844, respectivamente.
No prédio referido esteve, em meados do século XIX, o famoso café Guichard.
 
 
 

Café Guichard na 3ª, 4ª e 5ª porta, a contar da esquina
 
 
 

Igreja dos Congregados e mosteiro – Gravura de Joaquim Villanova, em 1833

 
 
No local em causa, em novo prédio, haveria de se instalar a casa bancária Pinto da Fonseca & Irmão.
 
 
“A fundação da casa bancária Pinto da Fonseca & Irmão data de 30 de dezembro de 1896. Constituída sociedade comercial em nome coletivo, com responsabilidade ilimitada, estabeleceu a sede social na Praça da Liberdade, no Porto. Foram sócios fundadores Joaquim Pinto da Fonseca e Manuel Pinto da Fonseca. O objeto social da Pinto da Fonseca & Irmão era o exercício do comércio bancário”.
Fonte: bportugal.pt/arquivo/
 
 
 
 
Em Julho de 1894, tinha sido autorizado pela licença nº 217/1894, um novo edifício para o local em apreço.
Seria definitivamente aprovado em Agosto de 1895.

 
 

Desenho de fachada voltada para o Largo da Feira de S. Bento, integrante de projecto de construção que obteve a licença nº 217/1894


 
 

Edifício, em 1897, correspondente à licença nº 217/1894

 
 
Em 1901, a casa bancária de Pinto da Fonseca & Irmão abandona as instalações do 1º andar do prédio e passa a ocupar o rés-do-chão do mesmo.
 
 
“7 de Dezembro de 1901 – Inauguram-se as novas e modernas instalações da casa bancária de Pinto da Fonseca & Irmão, no rés-do-chão do prédio da esquina das praças dos Congregados e D. Pedro, onde anteriormente se encontrava a tabacaria Arnaldo Soares. Este reabre também, no prédio contíguo, o seu novo e elegante estabelecimento comercial.
In revista “O Tripeiro”, Vª Série, Ano VII, Dezembro de 1951
 
 
 
 
Edifício onde esteve o Banco Pinto da Fonseca & Irmão, vendido ao Banco Nacional Ultramarino
 
 
 
Em finais de 1916, a casa bancária de Pinto da Fonseca & Irmão acabará por abandonar as instalações que vinha ocupando e cede o espaço ao Banco Nacional Ultramarino.

 
“Em 12 de dezembro de 1916 a firma registou uma alteração estratégica. Trespassou o estabelecimento da Praça da Liberdade ao Banco Nacional Ultramarino, tendo os sócios assumido o compromisso de não negociarem no ramo bancário, na cidade do Porto, durante o prazo de 20 anos. Assim, o objeto da firma ficou limitado ao comércio de compra e venda de mercadorias, por conta própria ou à consignação e comissão, tendo mudado as suas instalações para a Rua dos Clérigos.
Este acordo ficou entretanto anulado, por escritura de 11 de maio de 1920, quando a firma alterou o pacto social, retomando o exercício do comércio bancário”.
Fonte: bportugal.pt/arquivo/
 
 
 
 
Em 1917, o Banco Nacional Ultramarino chega à cidade do Porto, adquirindo o prédio da foto anterior ao Banco Pinto da Fonseca & Irmão que, por sua vez, se deslocaria para uma loja no Palacete das Cardosas, em local que, hoje, seria contíguo ao da Farmácia Vitália, que ainda existe.
O Banco Nacional Ultramarino irá fazer remodelações de vulto no prédio adquirido, que receberia obras, em 1920, sendo dotado de mais um piso e uma mansarda e duplicado o alçado voltado para a Praça da Liberdade, pelo ganho de área de edifícios contíguos.

 
 

Construção das novas instalações da sucursal do Porto do Banco Nacional Ultramarino, observando-se os tapumes que protegem os trabalhos e exibem cartazes das “Propagandas Caldevilla” – Fonte: AHMP



 

Ao centro, os dois edifícios que permitiram a expansão das instalações daquele que passaria a albergar o Banco Nacional Ultramarino. A meio da foto, o restaurante Camanho que daqui saiu em 1917
 
 
 

Edifício resultante da intervenção para instalação definitiva da sucursal do Banco Nacional Ultramarino no Porto
 
 
 
Chalet Biester, em Sintra
 
 
Do casamento atrás referido de Amélia Freitas Guimarães Chamiço e de Frederico Biester, nasceria uma única filha que morreu muito jovem vítima de tuberculose óssea.
O casal haveria de habitar, por poucos anos, o chamado Chalet Biester, situado na estrada da Pena, na antiga propriedade da Quinta Velha, encomendado por Frederico Biester, para uma parcela de terreno adquirido, na Serra de Sintra, de cerca de 6 hectares e no qual intervieram artistas de renome europeu.
O Chalet foi projectado pelo arquitecto português José Luiz Monteiro, começado a construir em 1886, e decorado pelos melhores artistas da época, nomeadamente, Luigi Manini, nas pinturas de tectos e Leandro de Souza Braga, em todo o trabalho sumptuoso de marcenaria.
Os estuques ficaram a cargo de Domingos Meira, de Afife, a quem se deve, também, os trabalhos no vizinho Palácio da Pena.
 
 
 

Palácio Biester, em Sintra -  Fonte: @vleandro
 
 
Por morte de Amélia de Freitas Chamiço, por ausência de herdeiros directos, a sua tia, Claudina Ermelinda de Freitas Guimarães Chamiço, viúva de Francisco Chamiço, viria a ser a herdeira do Chalet Biester e de todos os demais bens daquele ramo da família, passando a ser a mulher mais rica do País.