quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

25.227 Casas com história no Jardim no Passeio Alegre

 

Rua do Passeio Alegre e as suas casas
 

 

Casa mandada construir por Domingos Oliveira Maia - Ed. MAC

 
 
Em 9 de Maio de 1855, Domingos de Oliveira Maya, natural da casa da Quinta do Paço, em Alvarelhos (Maia/Santo Tirso/Trofa), compra ao “brasileiro” Bento de Souza Villa Nova o terreno onde irá construir a casa “acastelada” ou amuralhada, na Rua do Passeio Alegre, n.º 954, com projecto do próprio comprador que, foi depois, pertença da família Pinho e onde esteve, até Setembro de 2017, o colégio Ramalhete.
Domingos de Oliveira Maia era o patriarca da Casa dos Maias (ou Ferraz) da Rua das Flores, nº 29.

 
 

À esquerda, no prédio de que só se vê o cunhal, esteve o Casino Internacional da Foz - Ed. Alberto Ferreira-Batalha-Porto
 
 
 
“A foto acima é de antes de 1910. Adiante vê-se a Rua das Motas onde esteve a Pensão Mary Castro (...). Era a mais luxuosa da Foz e era frequentada por Eça de Queirós e Ramalho Ortigão nas suas épocas de praia”.
In portoarc.blogspot
 
 
 
Ainda sobre a foto anterior, o prédio, à esquerda, mais baixo, actualmente já não existe e o seu chão passou a ser o quintal da casa adjacente, de Margarida Rosa de Pereira Machado.

 
 

Casa Margarida Rosa de Pereira Machado, com projecto de 1884

 
 
A casa acima foi projectada com dois pisos e um pequeno recuado, com portas e janelas ogivais, dando-lhe um aspecto romântico e “gótico”.
 
 
 
 

Casa Constantino Rodrigues Batalha, com projecto de 1897 – Palacete Batalha
 
 
 
“Constantino Batalha, “senhor de uma considerável fortuna e empresário de sucesso da Baixa portuense” (p. 111) que em 1896 decidiu transferir-se para um palacete defronte do Jardim do Passeio Alegre, de cuja reconstrução parcial encarregou António da Silva e a sua equipa. Com espaçosas varandas em ferro fundido, trata-se de uma das construções mais vistosas daquele lugar que Raul Brandão imortalizou com algumas páginas de livro, e na verdade também uma grande prova de capacidade técnica dos seus construtores, que imaginaram “uma hábil solução para um terreno muito difícil” (p. 111), tornando imperceptível o pesado muro de suporte existente nas traseiras da casa, junto à sobranceira Rua da Bela Vista.”
Fonte: “observador.pt” (06/03/2018) e livro de Domingos Tavares, “Transformações na Arquitectura Portuense” – Ed. Dafne Editora/F. A. U. P. (2017)
 
 
 
 
 

Casa mandada construir por Miguel Sousa Guedes, no fim do século XIX

 
 

Casa de Agostinho Sousa Guedes
 
 
 
Miguel de Sousa Guedes e Agostinho de Sousa Guedes foram dois irmãos, negociantes de vinhos que, naquela actividade, fizeram uma fortuna colossal.
Ambos acabariam por escolher a Foz do Douro para residirem.

 
 
 

O Eléctrico no Passeio Alegre - Ed. “A Nossa Foz do Douro–facebook”


 

Perspectiva actual da foto anterior - Fonte: Google Maps



Casa de veraneio que pertenceu, antes de 1930, às famílias Magalhães Forbes e Tameirão Navarro - Ed. “A Nossa Foz do Douro–facebook”


A casa acima, desde 2010, pertence à Sociedade Portuguesa de Autores, que a recebeu em doacção.
Nela, viveu o escritor portuense António Rebordão Navarro.

terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

25.226 O Jardim do Passeio Alegre, a Foz do Douro e os escritores e poetas

 
Muitos foram os escritores que tiveram a Foz como motivo ou referência, que lá nasceram, viveram, a frequentaram ou morreram.
Ramalho Ortigão foi um dos que descreveram a Foz do Douro como a viveu, e nos transmitiu essas mesmas vivências nos seus escritos.
Nascido no Porto, a 24 de Outubro de 1836, na freguesia de Santo Ildefonso, na Casa de Germalde (à Lapa),  onde foi criado pela avó, matriculou-se com a idade de catorze anos no curso de Direito da Universidade de Coimbra, que não chegou a terminar e, na sequência, começaria a leccionar francês no colégio dirigido por seu pai, o Colégio da Lapa.
Os textos seguintes de Ramalho Ortigão escritos em 1876, mas que reportavam à sua infância c. 1845, apontavam para algumas particularidades da Foz do Douro no que respeitava à hospedagem e, ainda, ao modo como os tempos de ócio eram passados.
Há quem diga que o escritor Ramalho Ortigão terá vivido na Foz do Douro, mas não existe qualquer prova do local exacto.
Aponta-se para uma casa em Carreiros, à data, ainda em território de Bouças, frente ao paredão do quebra-mar, um pequeno porto de abrigo das lanchas de pesca em dias de mau tempo. 


 

Primeiro troço do Molhe de Carreiros acabado de construir em 1869
 
 
 
 

Hospedarias na Foz do Douro c. 1845 – Fonte: Ramalho Ortigão, In “As praias de Portugal: guia do banhista e do viajante”-1876



 

Descrição de tempos de ócio passados na Foz do Douro c. 1845 – Fonte: Ramalho Ortigão, In “As praias de Portugal: guia do banhista e do viajante” – 1876

 
 
Lancemos agora um olhar para o carneiro que encima o “Chalet e que o seu fundador, o Senhor António dos Santos Carneiro, quis que ficasse bem à vista, quando o construiu em 1873.
”Chalet do Carneiro” chamou-se ele muitos anos, até que em 1906, o vendeu ao inglês Charles Frederick Chambers, vendendo este, por sua vez, após 1910, ao suíço Jácome Rasker, crismando-se definitivamente com o nome por que o conhecemos vai para mais de cem anos.
Pois o “Chalet”, ficará ligado a muitos escritores e poetas que o frequentaram e foi ao longo dos anos um centro de tertúlia e de referência desde Camilo Castelo Branco a Eça de Queirós, a Ramalho Ortigão, Arnaldo e Augusto Gama, Júlio Lourenço Pinto, Diogo de Macedo, Delfim Maia e Alberto Pimentel, Raul Brandão, Guerra Junqueiro e Araújo Correia, até aos contemporâneos Eugénio de Andrade, António Rebordão Navarro e Vasco Graça Moura, entre muitos outros escritores, jornalistas e artistas.
Bem perto do “Chalet” está o Hotel da Boa Vista e o Forte de S. João.
Pelo hotel descobriu Camilo, a querer passar por despercebida, uma D. Aldonça, que iria consolar-se com uns bifes de cebolada (“No Bom Jesus do Monte”,1864) e com uns amores um pouco fugidios…Eça de Queirós também por lá andou, e Ramalho, e outros frequentadores que abancavam no “Chalet Suiço”.
Já no que concerne ao forte, por exemplo, diz Camilo num arrebatamento lírico que nos leva até à história do Castelo de S. João da Foz, no seu “Mosaico de Curiosidades…”(1885):
“Nas salas da pacífica fortaleza da cidade do Porto, há catorze anos que fugiam as noites e alvoreciam as manhãs, esmaiando, sem poder quebrantar, a formosura das graciosas damas que dispartiam à volta delas o excedente da sua felicidade”.
Mas não foi só Camilo que se arrebatou naquelas muralhas. Já quase no nosso tempo, Florbela Espanca (1894-1930) também por ali andou. Casada, primeiro, com um Oficial da guarnição e depois, com o médico militar também ali prestando serviço, nos meses em que lá viveu, escreveu vários poemas que se assinalam na sua Obra (”Perdi meus fantásticos castelos/como névoa distante que se esfuma”, e por aí adiante…).
Por toda a Foz velha as memórias dessa gente, ligada à literatura, estão bem presentes.
Na Rua das Motas, quase em frente ao histórico Orfeão da Foz, encontramos o que foi um dos hotéis mais emblemáticos da Foz “literária”: o Hotel, depois Pensão Mary Castro, hoje uma residência particular.
Aqui não só se hospedou Camilo, mas, também, Eça, Ramalho, Guerra Junqueiro, Alberto Pimentel e mais uns quantos escritores de nomeada, que, ora ficavam aqui ou no Hotel da Boa Vista.
Bem perto, na Rua Padre Luís Cabral, no nº 901, que antes foi chamada de Rua Central, está a casa onde nasceu o Padre Luís Cabral que, exilado no Brasil, foi professor do escritor Jorge Amado.
Padre jesuíta, professor e orador, o Padre Luís Cabral nasceu a 1 de Outubro de 1866, na Foz do Douro.  


 

Casa onde nasceu o Padre Luís Cabral

 
 
A casa da foto acima está situada na Rua Padre Luís Cabral nº 901.
 
“Educado por jesuítas desde 1882, Luís Gonzaga Cabral frequentou o Noviciado do Barro, em Torres Vedras, estudou no Colégio de S. Francisco de Setúbal, cursou Filosofia, em Uclés (Espanha), e Teologia, em Vals (França). Foi ordenado sacerdote em 1897 e, um ano depois, passou a lecionar no Colégio Lisboeta de Campolide do qual foi reitor, entre 1903 e 1908. Em 1908, foi designado Provincial da Companhia de Jesus, em Portugal, cargo que ocupou até 1912. De 1912 a 1916, foi professor de Literatura e Oratória dos estudantes exilados na Bélgica, partindo para o Brasil, em 1917. Aí leccionou Filosofia, Apologética, Língua e Literatura Portuguesa e Latina no Colégio António Vieira, na Baía, tornando-se diretor dessa instituição entre 1930 e 1933”.
Fonte: Infopédia
 
 
No nº 28 da Rua Alegre fica a casa que foi de Arnaldo Gama, autor do “Sargento-Mor de Vilar” e onde Camilo se hospedou variadíssimas vezes.


 

Casa de Arnaldo Gama completamente descaracterizada - Ed. MAC
 
 
 
 
Na Rua Raúl Brandão, nº 62, encontra-se a casa que tem sido referida como aquela em que nasceu, viveu e escreveu parte da sua obra o escritor Raúl Brandão (1867 – 1930).
Por isso, na sua fachada, está colocada uma placa alusiva a esse facto.
Todavia, no seu livro “Cantareira, 61”, o investigador Joaquim Pinto da Silva refere que, após o estudo de alguma correspondência do escritor, nomeadamente a trocada com Teixeira de Pascoaes, é especificado nela, como endereço, o de Cantareira, 61, que corresponderá, hoje, à Rua do Passeio Alegre, 254.
A casa terá sido, mesmo, propriedade de Raúl Brandão e, antes, de seu pai, José Germano Brandão.
Este, em 1883, requeria à Câmara do Porto uma licença de obra (nº 797/1883), para alteração de umas escadas (que serviriam também um prédio vizinho em Cantareira, nº 65, propriedade da sua sogra – Margarida Ferreira de Almeida).
Sabe-se que, a certidão de nascimento de Raúl Brandão refere-o como nascido na Rua da Bela Vista (actual Rua Raúl Brandão), morada que poderá ser a residência de uma sua tia, irmã de sua mãe.
Admite-se, assim, que a mãe de Raul Brandão, Laurinda Ferreira de Almeida, tenha ido ter o filho à casa da irmã, talvez por esta ter melhores condições, embora já então morasse na Cantareira.
Portanto, Raúl Brandão poderá até ter nascido por aí, no entanto, nunca será o local onde escreveu e viveu. A descrição que fez em algumas das suas obras, desse local, dizem, de facto, respeito à morada, Cantareira, 61, mormente as que visavam o chafariz da Cantareira (ainda existente) e algumas rotinas diárias dos pescadores.
Em 1909, Raul Brandão e a mulher tornaram-se mesmo proprietários desta casa da Cantareira, arrematando uma hipoteca feita por Germano Brandão, seu pai.
 
 
 

A casa que foi de Raúl Brandão e de seu pai, a meio da foto, na Rua do Passeio Alegre, nº 254 – Fonte: Google maps



 

Placa memorial colocada junto da casa da foto acima
 
 
 

Cantareira em 1891. A casa onde viveu Raúl Brandão fica bem à direita da foto – Ed. “O Progresso da Foz”; Fonte: AHMP




Casa que, até há pouco tempo, foi identificada como aquela onde nasceu e viveu Raúl Brandão - Ed. MAC
 
 
 
Muito perto do chafariz do Jardim do Passeio Alegre, virado para o rio, fica o monumento (na foto abaixo) a Raúl Brandão (1867-1930), da autoria do arquitecto Rogério Azevedo, com esculturas de Henrique Moreira, inaugurado em 12 de Março de 1967, para comemorar o centenário do seu nascimento.



 

Monumento a Raúl Brandão – Ed. MAC


 
À entrada do paredão do farol de Felgueiras, pode ver-se uma escultura de José Rodrigues em homenagem ao escritor Ferreira de Castro.


 

Homenagem a Ferreira de Castro - Ed. J. Portojo

 
 
Na Rua do Passeio Alegre no nº 544 viveu e trabalhou António Rebordão Navarro que viria a falecer em 22 de Abril de 2015.
A casa foi doada à sociedade Portuguesa de autores pelo escritor que foi autor de uma vasta obra literária, da qual se destacam: "Romagem a Creta" (1964) finalista do Concurso Literário Internacional Ateneo Arenyense; "Barcelona, Um Infinito Silêncio", Europa-América (Prémio Alves Redol, 1970); "O Parque dos Lagartos", Bertrand (1981); "Mesopotâmia", Difel, 1985, (Prémio Internacional Miguel Torga 1984); "A Praça de Liège", Bertrand, (Prémio Círculo de Leitores, 1988).
 
 
 

Casa típica de veraneio - Ed. MAC


 
A casa central da foto acima pertenceu, antes de 1930, às famílias Magalhães Forbes e Tameirão Navarro.
É agora propriedade da cooperativa Sociedade Portuguesa de Autores a quem foi doada em 2010, tendo esta entidade criado um prémio literário com o nome do escritor António Rebordão Navarro (1933-2015), que nela habitou.
Na foto abaixo observa-se a casa que foi sede da Fundação Eugénio de Andrade, na esquina da Rua do Passeio Alegre com a Calçada de Serrúbia, aberta em 1995 e extinta em 2011, onde o poeta habitou os últimos anos da sua vida.

 
 

Aqui, esteve a Fundação Eugénio de Andrade
 
 
 
Em Fevereiro de 2020, a casa onde habitou Eugénio de Andrade foi cedida à União de Freguesias de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde.
O espólio presente na casa já tinha sido transferido, antes, para a sala Eugénio Andrade, na Biblioteca São Lázaro.
Em 2022, aquele espólio foi novamente transferido para a “Casa dos Livros”, inaugurada no Palacete Burmester, à Rua do Campo Alegre, em 1 de Abril de 2022.
A cedência gratuita da chamada "Casa de Serrúbia" já tinha sido feita pela autarquia portuense em 1997.
A ideia era que aí pudesse ser instalada a Fundação Eugénio de Andrade, o que aconteceu.
No entanto, seis anos depois da morte do poeta, em Setembro de 2011, a fundação foi extinta e o espaço deixou de ter utilização pública.
 
 
 

Placa evocativa da memória de Eugénio de Andrade, à sombra da oliveira


 

Placa evocativa da memória de Eugénio de Andrade
 
 
 
 
 

Casa de Antero de Figueiredo - Fonte: Google Maps


 
Na Rua de Diu, no nº 159, acima na foto, viveu e escreveu Antero de Figueiredo, consagrado com um busto no largo, à beira do Mercado da Foz, do escultor Henrique Moreira.


 

Busto de Antero de Figueiredo

 
 
Na Rua de Gondarém, no nº 500, está a casa onde viveu e morreu o que poderá considerar-se um dos maiores investigadores da História do Porto, Artur de Magalhães Basto.


 
A casa onde viveu e morreu Artur Magalhães Basto

 
 

Casa de João Pina de Morais - Ed. Francisco Mesquita Guimarães


 
Na Avenida do Brasil, nº 250, viveu João Pina de Morais nascido em Valdigem, Lamego.

 
 

Casa onde morreu António Nobre - Ed. Francisco Mesquita Guimarães


 
Na foto acima, na Avenida do Brasil, nº 531, viveu e morreu António Nobre.


 

Casa onde nasceu António Nobre - Ed. Dias dos Reis

 
Na foto acima, está a casa onde nasceu António Nobre, no nº 469, da Rua de Santa Catarina.


 

Da casa onde morreu António Nobre, já nada resta (2019) – Ed. MAC
 
 
Desaparecida a casa onde faleceu António Nobre, a cidade parecia querer apagar as memórias do poeta com o desaparecimento, também, do busto que estava, há anos, no Jardim da Cordoaria.

 
 

Pedestal do busto de António Nobre no Jardim da Cordoaria – Ed. Graça Correia
 
 
 
A inauguração do monumento a António Nobre, no Jardim da Cordoaria, em mármore róseo, da autoria do arquitecto Correia da Silva, ocorreria em 26 de Março de 1927.

 
 

Em 2019, uma miniatura do busto do poeta, voltaria ao pedestal - Ed. Graça Correia

 
 
António Nobre
 
 
António Pereira Nobre nasceu a 17 de Agosto de 1867, no Porto, sendo filho de José Pereira Nobre, da Lixa, e de Ana de Sousa, natural do Seixo, freguesia de São Mamede de Recezinhos, Penafiel.
Nascido, portanto, no Porto, na Rua Santa Catarina, numa manhã de Agosto de 1867, foi registado na Igreja de Santo Ildefonso com o nome de António Pereira Nobre.
Em 1888, matriculou-se na Universidade de Coimbra, mas reprovou por duas vezes e abandonou o curso.
No ano seguinte parte para Paris, onde durante os cinco anos seguintes tira a licenciatura em Ciências Políticas e conhece Eça de Queiroz.
Vítima da tuberculose, tenta a cura em sanatórios da Suiça e Nova Yorque e na calmaria de seixo, em Penafiel.
Viria a morrer em 18 de Março de 1900, na Foz do Douro, onde vivia e com, apenas, 33 anos de idade.
 
 
“A infância e a adolescência de António Nobre foram passadas entre Leça da Palmeira, onde o pai, antigo emigrado no Brasil, possuía uma quinta e a Foz do Douro. A praia de Leça era, nessa altura, frequentada pela fina-flor da colónia inglesa radicada no Porto. Foi aqui que, muito provavelmente, conheceu os seus primeiros amores e viveu os seus romances, mas enamorou-se por Leça e, por isso, presta-lhe homenagem na sua obra.
(…) Hoje, Leça da Palmeira presta-lhe homenagem através do conjunto escultórico situado na zona envolvente do Farol da Boa Nova. As esculturas, representando o poeta e as suas musas inspiradoras, são de 1974, da autoria do escultor Barata Feyo.
Fonte: “leca-palmeira.com/”
 
 
Com vinte anos, um ano antes de partir para Coimbra, António Nobre estava profundamente apaixonado e escreve um poema de amor dedicado a Ana Maria Antónia Holstein que, em 1889, casaria com Joaquim Augusto de Pinho Mendonça.
A visada era filha da fundadora do Colégio Luso-Italiano, da Rua do Bonjardim, Rachel de Sousa Holstein.

 
 
Poema de amor de António Nobre



 
Casa de António Nobre, em Leça da Palmeira, na antiga Rua do Sinal – Fonte: Google maps
 
 
 
Segundo Guilherme Felgueiras na sua “Monografia de Matosinhos”, 1958, pág. 488-489, a 22 de Junho de 1932, a Câmara de Matosinhos resolve dar o nome de Rua de António Nobre à antiga Rua do Sinal, em Leça da Palmeira.



 

Placa de mármore com parte de um soneto de António Nobre, na Boa-Nova – Ed. JPortojo

 
 
Transcrição da placa
 
Na praia lá da Boa Nova, um dia,
Edifiquei (foi esse o grande mal)
Alto Castelo, o que é a fantasia,
Todo de lápis-lazulli e coral!


 

Estátua de António Nobre junto ao farol de Leça da Palmeira, em S. Clemente das Penhas – Fonte: “leca-palmeira.com/”

 
 
Entretanto, as largas temporadas que passou no Seixo, terra de sua mãe, estão referenciadas na sua poesia, como por exemplo na sua obra “Só”, onde vários poemas como “António”, “Certa Velhinha” falam dessas vivências, bem como posteriormente as passagens relativas à estalagem de Casais das senhoras Andrades (actualmente conhecida por residencial Bolinhos de Amor), em que costumava passar muito do seu tempo.
Aliás, esta demanda, prendia-se com a sua doença, a tuberculose, da qual viria a falecer a 18 de Março de 1900, na Foz, deixando um precioso espólio literário.
Em Casais Novos escreveu os seguintes poemas publicados nos “Primeiros Versos”: “O Amor”, “Inglesinha”, “Inglesa”, “Quando eu Morrer”, “As Algas”, “Quando chegar a Hora”.

 
 

Estalagem de Casais Novos em S. Martinho de Recesinhos

 
 

Casa no Seixo

 
 
O poeta era irmão do zoólogo Augusto Nobre que deu o nome ao chamado Aquário da Foz e que tinha casa na Avenida Brasil onde o poeta viria a morrer.
Sobre a abertura do Aquário Augusto Nobre é a notícia que se segue.

 
“Vai dentro de alguns dias, ser franqueada ao público a Estação Marítima de Zoologia e Aquário da Foz, anexo da Faculdade de Sciencias do Porto, o qual faz parte do Instituto de Zoologia da Universidade do Porto, criado por decreto de 30 de Março de 1921. (…) Este estabelecimento scientifico honra a Sciencia do nosso tempo e a Universidade a que pertence. Nelle encontrarão os professores e os alumnos, os estudiosos e investigadores e até os simples amigos e curiosos das coisas da natureza, excellentes installações e material abundante para diversíssimos trabalhos”.
In Jornal  “O Comércio do Porto”, 28 de Julho de 1927

 
 

Vista geral do Aquário da Foz, em 1927

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

25.225 Rua D. João IV

 
O traçado da actual Rua de D. João IV foi executado em vários momentos.
Assim, a ligação entre o Largo do Padrão das Almas (Largo do Padrão) e o convento dos Capuchos (Biblioteca Municipal) correspondia à Viela dos Capuchos, que desapareceria quando, em 1843, começou a ser aberta a Rua D. João IV em direcção ao Monte de Santa Catarina, onde se encontraria com a Rua da Alegria e a Calçada do Luciano (Rua da Escola Normal).
No fim da década de 1880, a rua ficaria concluída.
Seria, até aos nossos dias, a Rua de D. João IV identificada por outros topónimos, tendo começado por se chamar Rua da Duquesa de Bragança, em honra de D. Amélia de Beaucharnais, da Baviera, que foi a segunda mulher de D. Pedro, primeiro imperador do Brasil, o nosso D. Pedro IV, duque de Bragança.
Em 16 de Julho de 1912, já na Repú­blica, a comissão municipal republicana sugeriu à Câmara do Porto que à Rua da Duquesa de Bragança se desse o nome de D. Rodrigo Soriano, deputado espanhol que os nossos republicanos consideravam como "um dos maiores amigos de Portu­gal". O pedido não foi aceite. E, em Setem­bro do mesmo ano, foi feita nova suges­tão: pedia-se à Câmara que mudasse o nome de Duquesa de Bragança para Rua dos Heróis de Chaves.
Queria-se com esta mudança lembrar o combate que naque­la cidade transmontana se travou, em 1912, durante as denominadas "Incursões do Norte". Desta vez a sugestão foi aceite. Só muito mais tarde a denominação da rua voltou a mudar. Desta vez deram-lhe o nome do rei restaurador, D. João IV.  
 
 
 
“A Rua de D. João IV tem menos de duzentos anos. Pois, mas neste espaço de tempo, relativamente curto, já mudou de nome três vezes. Não figura ainda, por exemplo, na chama­da planta de Costa Lima, elaborada em 1839. Mas, cinco anos depois, numa outra planta topográfica, a de Perry Vidal (1844) já aparece, embora apenas em esboço, seguindo o traçado de um antigo e tortuoso caminho rústico que já lá existia desde tempos muito antigos. O projeto inicial desta nova artéria previa que ela fosse de S. Lázaro à Cruz das Regateiras, na Rua de Costa Cabral, junto ao hospital do Conde de Ferreira. Tem, efetivamente, o seu início junto ao jardim de S. Lázaro, mas acaba na Rua da Alegria, junto ao monumental edifício da Cooperativa dos Pedreiros. Logo no início, ou seja, junto ao jardim de S. Lázaro, as obras só começaram depois da expropriação dos pardieiros da antiquíssima viela dos Capuchos e do alargamento desta (…).
Quando a nova rua começou a ser cons­truída, do lado nascente havia campos de cul­tivo; quintas muradas "com suas vinhas e po­mares"; e extensos terrenos alagadiços, de que nos ficou na memória a travessa do Poço das Patas (alusão a zonas alagadas onde predomi­navam aquelas aves). 
Do lado poente começava a nascer, por essa altura, uma cidade nova. Atente-se, por exemplo, no traçado assimétrico das ruas des­te bairro, em flagrante contraste com as rue­las tortuosas do Porto medieval. Era a cidade do liberalismo que despontava e que viria a ser procurada, especialmente, por brasileiros "de torna-viagem" para aí construírem as suas residências apalaçadas muitas das quais per­sistem na Rua de D. João IV. 
A rua só ficou concluída em 1875. 
Com a devida vénia a Germano Silva
 
 
 
Antes e depois, um troço da Rua D. João IV junto à Rua das Oliveirinhas, à direita
 
 
 
A Rua das Oliveirinhas da foto anterior está inserida num quarteirão habitacio­nal dos mais curiosos e tí­picos desta zona da cidade. Todos estes arruamentos ao redor foram rasgados em terrenos que outrora pertenceram a uma enorme quinta de que era proprie­tário um tal Brás de Abreu Guimarães, rico negociante portuense que nestes sítios montou uma fábrica de seda que chegou a dar nome a uma das ruas des­te bairro que hoje não é possível identificar e que nos fins do século XVIII ainda tinha existência: Rua da Seda; Rua da Fábrica da Seda; Rua Direita da Fábrica da Seda, Rua da Fábrica da Seda de Brás de Abreu; Rua da Fábrica das Almas.
 
 
 

Planta de Perry Vidal
 
 
 
O tortuoso caminho a amarelo no seu início, coincidia com o traçado da futura Rua Duquesa de Bragança, a azul. O restante traçado a amarelo daria origem à Rua Dr. Alves da Veiga que antes se chamou de Malmerendas.
 
 
 
 

O local actual, na Rua D. João IV, nº 369, que foi ocupado pela "Auto-Motora"
 
 
 
No local da foto acima esteve, desde 1907, a “Auto-Motora” que no dia da sua inauguração teve milhares de visitantes a apreciar as novidades auto.
A Rua D. João IV termina, praticamente, próximo do cume do antigamente conhecido como Monte de Santa Catarina, onde se junta à Rua da Alegria que, vinda da Praça dos Poveiros, continua até encontrar a Rua de Costa Cabral, constituindo o acesso ao cabeço pela vertente sul.
O acesso pela vertente a poente é proporcionado pelas ruas Firmeza (conectando com a Rua da Alegria) e Rampa da Escola Normal (antiga Calçada do Luciano).
O alto do Monte de Santa Catarina, Monte dos Congregados ou Monte do Tadeu é o ponto mais alto, geograficamente, da cidade do Porto.
Em 1680, uns frades, da ordem de S. Filipe Nery, construíram na cidade a sua casa, no local onde hoje está a Igreja dos Congregados, em frente à Estação de S. Bento.
Em 1715, obtiveram para seu recreio um vasto espaço com casa que também servia de hospital no Monte de Santa Catarina.
Este topónimo radica numa capela de Santa Catarina situada na base do monte, em Fradelos, na margem esquerda da ribeira de Fradelos, e que viria a dar origem à Capela das Almas.
Em 1834, com a vitória dos liberais, como epílogo do Cerco do Porto, foram dadas como extintas as ordens religiosas.
Um tal de Moreira, que ainda hoje tem nome de rua nas imediações, licitou a antiga propriedade dos frades. Mais tarde, é adquirida por uma tal Tadeu (daí o topónimo).
Por lá, funcionou uma pedreira, mas no início do século XX, no cume do monte foram instalados os depósitos que iriam abastecer de água a cidade com a sua distribuição ao domicílio.

 
 

À direita, os depósitos de água que abastecem a cidade e, à esquerda, o alto edifício da Cooperativa dos Pedreiros
 
 
 

Depósito primitivo de água – Ed. Jportojo
 


 
In revista “O Tripeiro”, Série VI, Ano XI