domingo, 13 de agosto de 2017

(Conclusão) - Actualização em 15/10/2017 e 15/09/2020

19.25 Estrada da Circunvalação, Postos Fiscais e Barreiras



“O Porto está cercado, em grande parte (excepto na parte oriental) por uma estrada dupla, a Estrada da Circunvalação (N12). Esta estrada tem uma origem e traçado militar: a placa central era originalmente um fosso, com 2 a 3 metros de profundidade, e com postos de sentinela a cada 150 metros.
Construída entre 1889 e 1896, servia como barreira alfandegária, para taxação dos bens de consumo que entravam no Porto. Existiam ao longo dela, nas estradas de acesso à cidade, 13 edifícios onde os funcionários da Coroa, do Bispado e do Município estavam instalados e cobravam as taxas. Apenas 7 existem hoje, pois todas foram vendidas ou demolidas após a extinção, em 1922, do "Real de Água", imposto real que se destinava a financiar as obras de abastecimento de água às cidades. O Real de Água é um Imposto de consumo sobre a carne, bebidas alcoólicas e fermentadas, arroz descascado, vinagre e azeite de oliveira expostos à venda. Este imposto primitivamente foi lançado exclusivamente sobre o vinho, e depois sobre a carne, vinho, etc., e, sendo este tributo de um real por cada canada, arrátel ou outra unidade, com destino ao arranjo de canos, fontes, aquedutos, para abastecimento de água das povoações, se ficou chamando real de água. Em Lisboa era também aplicado à limpeza e concerto das calçadas, com um adicional, que se denominava realete da limpeza ou simplesmente realete.
Em 1943 findou então um sistema tributário com cerca de 800 anos, progressivamente substituído por um tipo de imposto que se vai vulgarizando universalmente: o IVA. Aqueles edifícios são as testemunhas silenciosas desse período.
Este tipo de portagens, ou cobrança de imposto, faziam-se por Portugal inteiro, a que chamavam o Real de Água: esta designação foi aplicada pela primeira vez a um tributo pago pelos moradores da cidade de Elvas, para a construção da grande arcaria por onde levaram a água à cidade. Mais tarde, idêntica denominação generalizou-se ao imposto sobre a carne, peixe e o vinho, a que em ocasiões de crise se recorreu em diversas terras do País”.
In Dicionário de História de Portugal


“A Estrada da Circunvalação, surge assim por projecto submetido ao parecer da Câmara em Maio de 1889 e iniciada a sua construção vai estender-se por uma extensão de quase 17 Km, desde Campanhã até à costa Oceânica (...) e foi aberta com o fim único de servir de barreira à cidade para o efeito de fiscalização do real de água (do Estado) e cobrança dos chamados impostos indirectos municipais, que foram, afinal, os descendente directos dos antiquíssimos tributos, que sob a denominação inicial de portagem e posteriormente de sisas e imposições, se cobraram no Porto durante séculos e desde tempos anteriores à fundação da nacionalidade. (...)
Ficou portanto, a cobrança do imposto municipal, em 1897, a fazer-se as seguintes barreiras de fiscalização do Estado: Esteiro, Freixo, Campanhã, São Roque, Rebordões, Areosa, Azenha, Amial, Monte dos Burgos, Senhora da Hora, Pereiró, Vilarinha e Castelo do Queijo. No que respeita à linha marginal, havia ainda os seguintes postos: Cantareira, Ouro, Massarelos, Banhos, Ribeira, ponte inferior, ponte superior, Guindais e Pinheiro.
Em 21 de Setembro de 1922, foi extinto o velho imposto do real de água; e, assim o estado desguarnecendo as barreiras estabelecidas em 1836, tomou a Câmara, automaticamente, a posse delas, para o que substituiu e guarneceu com pessoal da casa dos postos que acabavam de ser extintos. Ficou, por consequência, o Município, a partir de 1922, a usufruir, em exclusivo, a linha de barreiras estabelecidas pelo Estado, 86 anos antes. Decorridos 21 anos, em Dezembro de 1943, surge, inesperadamente, um decreto, que suprimiu a cobrança dos impostos indirectos municipais, veio finalmente pôr termo a uma justa campanha de longos anos por parte dos organismos económicos da nossa terra e dar cabal satisfação aos desejos de todos os munícipes. Desapareceu assim, um sistema tributário com mais de oito séculos de existência; e, com ele, desapareceu também uma organização fiscal, que há cento e tantos anos cingia a cidade do Porto com uma oprimida e anacrónica cintura de barreiras”.
Horácio Marçal - Estrada da Circunvalação: antiga linha de fiscalização e cobrança do denominado imposto do «real de água».
In "O Tripeiro", Porto, 6ª série, ano 11, n.º 7 (Julho de 1971), p. 193-195


Antigo posto alfandegário junto à Rua da Vilarinha


Antigo posto alfandegário junto à Rua da Preciosa


Antigo posto alfandegário junto ao Viso


Posto Fiscal da Azenha em 1923 – Cliché Alvão, In Jornal “O Século”; Fonte: portoarc.blogspot.pt


A foto acima do Posto Fiscal da Azenha, situado entre o Posto da Areosa e o Posto do Amial, era acompanhada da notícia do despiste da viatura que se vê no cliché, após uma colisão de veículos na Estrada da Circunvalação, de que resultou o derrube dum pilar que sustentava o alpendre do prédio.
Também se dizia, que do desastre referido, resultou a morte de um dos passageiros da viatura, tendo ficado feridos outros dois e um transeunte.

Antigo posto alfandegário na Areosa no términos da Rua de Costa Cabral – Fonte: Google maps


Antigo posto alfandegário junto à Rua de Vila Cova – Fonte: Google maps




Antigo posto alfandegário de S. Roque da Lameira, hoje, a “Pincelaria Pardal” – Fonte: Google maps




A estrada da Circunvalação foi projectada dupla, em que o caminho interior tem 12 metros de largo e era asfaltada e, o exterior, os mesmos 12 metros, mas com o piso em macadame.
Entre os dois caminhos existia um fosso.
Assim, em 3 de Novembro de 1898, é lançado um concurso público para a construção de treze postos para a Guarda-Fiscal, nove de vigilância e quatro de despacho, ao longo da nova Estrada da Circunvalação.
Em 17 de Maio de 1901, é organizada uma companhia a partir do Batalhão nº 3 da Guarda-Fiscal, a qual, sob o comando do capitão Castro, de infantaria 18, e com o efectivo de 334 homens, vai ser distribuída pelos postos fiscais da Circunvalação.
 
 
 

Frente marítima da via do Castelo do Queijo, c. 1930

 
 
Na foto acima podemos observar as obras de construção de um muro de suporte na estrada entre a Praça de Gonçalves Zarco e a Praça da Cidade do Salvador. A meio, ao longe, é possível observar a “Vila Prado” que seria a morada do industrial Manuel Pinto de Azevedo.
Em 1958, como se vê na foto abaixo, ainda a via da faixa exterior, na aproximação à Praça da Cidade do Salvador (actual Praça da Anémona), estava por asfaltar. 

 
 
 
 
Stirling Moss no Grande Prémio de Fórmula 1 – Fonte: PortoDesaparecido
 
 
 

A estrada da Circunvalação em 1916 com a igreja de Campanhã ao fundo – Cliché de António Magalhães; In: Ilustração Portuguesa
 
 
 
Circunvalação, em 1964, na confluência com a nova Avenida Fernão de Magalhães - Ed. CMP, Arquivo Histórico Municipal



Na foto acima, ainda é visível, à direita, a fachada da casa em ruínas que, nos anos sessenta, estava pintada de branco, à entrada da Rua Diamantina.


Mesma perspectiva da foto anterior, c. 2015 - Fonte: Google Maps
 
 


No local da casa pintada de branco, presente na penúltima foto, está, actualmente, um hipermercado “Lidl” – Fonte: Google maps



Curiosamente, no terreno do hipermercado, não se situa o fim da Rua Diamantina vinda da antiga aldeia de Currais.
A rua atravessa a Avenida Fernão de Magalhães, e só termina na Rua de Costa Cabral, seguindo paralela à Circunvalação, tendo de permeio, apenas, um passeio.

 
 

Circunvalação e as casas à direita estão na Rua Diamantina – Fonte: Google maps

 
Como via importante que foi e continua a ser, os lugares junto dela tiveram honra de referência em marcos quilométricos, alguns ainda implantados no terreno.
É o caso da foto abaixo.
 
 
 

No canto inferior direito é possível observar um antigo marco quilométrico, situado junto ao quartel da Escola Prática de Transmissões, que referencia a aproximação ao Monte dos Burgos – Fonte: Google maps



Em resumo:
 
Horácio Marçal, In revista “O Tripeiro”, 6ª Série, Ano XI, Julho de 1971, Página193 e seguintes

 

 

Cobrança de impostos


A Ponte Luiz I estava, também, dotada dos seus postos de controlo alfandegário.
 
Em 30 de Maio de 1901, os direitos da portagem da Ponte D. Luís, por 3 anos, são arrematados por 87.000$000 réis, pelo conhecido comerciante Miguel Alves de Sá Reis.
 
 
 

Ladeando a entrada no tabuleiro superior da Ponte Luiz I, do lado do Porto, veem-se as barracas de controlo alfandegário



Talão de portagem da Ponte Luiz I
 
 
Entretanto, em 30 de Junho de 1913, seria decretada a extinção do imposto da passagem para peões na Ponte D. Luís I, a partir do dia seguinte. A Inspecção das Finanças notifica oficialmente o adjudicatário do referido imposto, Miguel Alves de Sá Reis.
Este conhecido comerciante era o dono da famosa Cervejaria Sá Reis, sita na Praça D. Pedro (Praça da Liberdade), nº 55 e, por aí esteve, até há meia dúzia de anos.
No entanto, até 1 de Janeiro de 1944, outros atravessamentos continuaram a ser cobrados:
 
Gado vacum, suíno e caprino: 1 centavo por cabeça
Veículos de duas rodas e cavalos: 2 centavos
Automóveis: 15 centavos

 
 

Demolição do último posto alfandegário na Ponte Luís I (no lado do Porto)
 
 
 
 
Até à Revolução Liberal de 24 de Agosto de 1820, a cobrança de impostos na cidade do Porto fazia-se junto das portas de entrada do burgo.
Assim, aquelas cobranças começaram por acontecer, nas portas de Vandoma, S. Sebastião, Sant’Ana e Verdades.
Com a expansão da cidade, não raras vezes, surgiram conflitos entre os fiscais da Coroa ou do Bispo e, por vezes, dos próprios funcionários do Concelho, dado o aumento exponencial dos mercadores e atendendo às dificuldades crescentes na fiscalização destes.
Para solucionar o problema, contribuiria decisivamente a entrada em vigor do foral de 17 de Junho de 1517, instituído por D. Manuel I, ao regular e definir os direitos fiscais da Coroa e da Igreja Portucalense e, em sequência, ao implementar uma “Casa de Portagem”, na qual trabalhariam, em conjunto, funcionários das três entidades: Coroa, Bispado e Concelho.
Mais tarde, o sistema descrito de uma só casa, mostrou-se insuficiente, pelo que seriam montadas sete casas de portagem: Ribeira, Porta do Sol, Batalha, Carros, Olival, Virtudes e Miragaia.
Em 1821, com a cidade já expandida muito para além da muralha fernandina, e apenas para fiscalização e cobrança do imposto do “real de água”, pertencente ao Estado, foram estabelecidas quatro barreiras fora dos limites das muralhas, nas principais entradas da cidade, a saber: Alto da Calçada de V. N. de Gaia, no Senhor do Bonfim (junto da capela de Santo Antoninho da Estrada), no Sítio da Aguardente e na Prelada.
Em 11 de Junho de 1822, seriam finalmente extintos os impostos cobrados pelo Bispo e Cabido da cidade do Porto, denominados “Portagem da Terra” na sequência da revolução de 1820 e das reclamações apresentadas pelos comerciantes da praça do Porto, que protestaram contra os "pesados vexames" que desde há muito os submergiam. Na realidade, de acordo com as disposições até então vigentes, era obrigatório o pagamento, a favor do Bispo e do Cabido, de um por cento do valor de todas as mercadorias que saíssem da cidade, mesmo que já tivessem sido oneradas com um imposto do mesmo tipo e valor aquando da sua entrada.
A propósito da história do “real d’Água”, cuja cobrança se estenderia a todo o reino em 1635, narra-se a Revolta do Manuelinho que ocorreu no domínio filipino.
 
 
“A Revolta do Manuelinho, ou Revolta do Manelinho (original), também referida como as Alterações de Évora, foi um movimento de cunho popular ocorrido no Alentejo, no contexto da Dinastia Filipina. Questionava o aumento de impostos e as difíceis condições de vida da população provocadas pela governação Filipina.
As revoltas contra o domínio castelhano tiveram como antecedentes, entre outros, o Motim das Maçarocas, que eclodiu no Porto em 1628 (Segundo a História da Cidade do Porto, coordenada pelo Prof. Damião Peres e publicada pela Portucalense Editora, ter-se-á dado o caso, no ano de 1629) contra o imposto do linho fiado, pelo qual Filipe III (IV de Espanha), pretendia arrecadar grossas quantias de dinheiro para o negócio do socorro da Índia, ou seja, defender as possessões portuguesas.
Foi, no entanto, a Revolta do Manuelinho o antecedente mais importante do golpe de estado, que levou à Restauração da Independência.
O movimento iniciou-se na cidade de Évora, a 21 de agosto de 1637, quando o povo se amotinou contra o aumento de impostos decretado pelo governo em Lisboa. A elevação do imposto do real de água e a sua generalização a todo o Reino de Portugal, bem como o aumento das antigas sisas, fez aumentar a indignação geral, explodindo em protestos e violências. O povo de Évora deixou de obedecer aos fidalgos e desrespeitou o Arcebispo.
Os principais responsáveis pela revolta terão sido o Procurador e o Escrivão do povo. No entanto, as ordens para o movimento apareceram assinadas pelo "Manuelinho", um pobre tolo daquela cidade alentejana. Esta era uma forma de manter o anonimato dos impulsionadores.
Durante o movimento foram queimados os livros dos assentos das contribuições reais e acometidas algumas casas. Nem os nobres, nem os adeptos de Castela, se dispuseram a enfrentar a multidão enfurecida.
O movimento rapidamente se alastrou a outras partes do reino, com a intenção de depôr a Dinastia Filipina e entronizar novamente uma Dinastia portuguesa. Desse modo eclodiram insurreições e motins em localidades como Portel, Sousel, Campo de Ourique, Vila Viçosa, Faro, Loulé, Tavira, Albufeira, Coruche, Montargil, Abrantes, Sardoal, Setúbal, Porto, Vila Real e Viana do Castelo.
O movimento insurreccional não conseguiu destituir o Governo em Lisboa, sucumbindo ao reforço de tropas castelhanas que vieram em seu auxílio para reprimir a revolução.
Ainda assim, o rastilho aqui aceso foi o início daquilo que se tornou a Revolta dos Conjurados e que culminou com a aclamação de João IV de Portugal em 1 de Dezembro de 1640”.
Fonte: ruasdoporto.blogspot.pt
 
 
“Entretanto, os impostos cobrados pelo Bispo e Cabido da Cidade só foram extintos em 11 de Junho de 1822, após a implantação do Liberalismo, por D. João VI, no âmbito do espírito da época que pretendia abolir tributos e imposições que remontavam ao período senhorial, e no seguimento das reclamações apresentadas pelos comerciantes da praça do Porto, que protestaram contra os "pesados vexames" que desde há muito os submergiam.
Na realidade, de acordo com as disposições até então vigentes, era obrigatório o pagamento, a favor do Bispo e do Cabido, de um por cento do valor de todas as mercadorias que saíssem da cidade, mesmo que já tivessem sido oneradas com um imposto do mesmo tipo e valor aquando da sua entrada.”
Cortesia de Lopes Cordeiro (4 de Junho, 2000)
 
 
Um decreto de Passos Manuel do final de 1836, mas que só entraria em vigor em 2 de Janeiro de 1837, de modo a cercar a cidade mais convenientemente, viria a implementar para a cobrança do “real de água”, 38 postos fiscais, sendo 13 do lado de V. N. de Gaia, a Sul e 25 do lado do Porto, a norte, reformulando ainda o serviço dos guarda-barreiras, na cidade do Porto, ao estipular:
 
«Os guarda-barreiras trajariam uma ««jaqueta de saragoça; gola roxa; e canhão preto; calça também de saragoça com lista roxa, tendo na gola, em latão, o número da sua praça na Companhia; e usarão de bonet da mesma cor, com lista roxa.». Ficariam igualmente «armados de espingarda e baioneta, e fornecer-se-lhe-á a competente munição.»
Cortesia de Nuno Cruz
 
 
A sul, existiam os seguintes postos:
Barreira de Quebrantões (seis guardas e quatro barqueiros, barreira de Registo), do Arco dos Frades (três guardas, barreira de vigia), do Arco do Padre António (três guardas, barreira de entrada), da Bateria do Pereireta (dois guardas, de vigia), da Bandeira (quatro guardas, de entrada), da Fonte Santa (dois guardas, de vigia), da Barrosa (quatro guardas, de entrada), do Marco (dois, de vigia), de Alminhas (dois, de vigia), do Escuro (oito, de entrada), da Regada (dois, de vigia), do Torrão (dois, de vigia), do Vale da Piedade (quatro guardas e quatro barcos de vigia): havia ainda um ajudante e 6 guardas para ronda.
E a norte, os seguintes:
Barreira de Massarelos (dois, de vigia), da Pena (dois, de vigia), de Vilar (dois guardas, de entrada), do Bom Sucesso (dois guardas, de vigia), das Valas (dois, de vigia), da Estrada Nova (dois, de vigia), do Carvalhido (dois, de entrada), da Ramada Alta (dois, de vigia), das Águas Férreas (quatro, de vigia), das Salgueiras (dois, de vigia); do Sério (quatro, de entrada), dos Campos do Gancho (dois, de vigia), de Aguardente (quatro, de entrada), das Doze Casas (dois, de vigia), dos Congregados (quatro, de vigia), de S. Jerónimo (três, de vigia), do Campo Grande (dois, de vigia), do Bonfim (quatro, de entrada), de Campanhã (quatro, de entrada), do Seminário (dois, de vigia), da Corticeira (dois, de vigia): para ronda um ajudante e seis guardas.
Na casinha da Ribeira estaria um fiscal e dois escriturários, e três guardas.
Na China, quatro guardas, na Lingueta de ambas as margens, quatro guardas, na ponte, dois guardas.
Apesar de aquela linha de barreiras se destinar à colecta do “real de água”, o certo é que, pouco a pouco, também o pessoal camarário se foi utilizando das instalações.
Os novos tempos que se viviam com normas mais liberais nas transacções económicas imporiam que os antigos costumes fossem alterados e os impostos também, ficando de pé apenas o sistema de sisas aplicadas nas vendas ou troca de bens de raiz.
A partir de 1861, foi a Câmara autorizada pelo Governo a cobrar “Contribuições municipais indirectas sobre todos os géneros que dessem entrada na cidade”.
Aquelas contribuições eram antes os antiquíssimos tributos, que sob a denominação inicial de portagem e posteriormente de sisas e imposições, se cobraram no Porto durante séculos e desde tempos anteriores à fundação da nacionalidade e seriam abolidas em Dezembro de 1943.
Em 1887, por uma lei de 23 de Junho, foi instituído para restruturação do sistema de cobranças adoptado até então, melhorá-lo, demarcando toda a área da cidade com uma vala contínua e uma linha de fiscalização em volta da cidade.
Iria, assim, surgir a Estrada da Circunvalação.
Em 1896, já com a Estrada da Circunvalação entram em funcionamento os novos postos.
Estes conhecidos como “As Barreiras” passam a formar uma linha imaginária em volta da cidade com perto de 30 km, que funcionariam até ao fim do ano de 1943.


 

Posto Fiscal do Cais da Estiva, na Ribeira, construído ainda, em 1939



Obras Pública e o “real de água”
 
 
A imposição do real de água para as Obras Públicas da cidade do Porto foi criada a 12 de Março de 1763 por um período de dez anos. Este imposto temporário foi sendo renovado até 1833, altura em que foi extinto. Esta consignação não foi criada de raiz mas surgiu da transferência da imposição extraordinária do subsídio militar após o fim da guerra Fantástica (24 de Novembro de 1762).
A imposição para as obras públicas era, inicialmente, de um real por quartilho de vinho e por arrátel de carne consumido no território da cidade e seu partido e de dezasseis reis por cada alqueire de sal que entrasse na barra e não fosse reexportado.
Com a renovação em 1773, a consignação recaiu apenas sobre o consumo de vinho e foi também fixado um novo território, o da área demarcada do distrito do Porto com exclusivo da Companhia do Alto Douro. A arrecadação do real de água para as obras públicas da cidade foi assim transferida da Junta do Subsídio Militar para a Junta da Administração da Companhia do Alto Douro.









Esta artéria foi aberta em 1922 e começou por se chamar Avenida Epitácio Pessoa (presidente da República do Brasil entre 1919 e 1922), desde a Avenida da Boavista até ao chamado Largo de Pereiró, hoje a Praça Afrânio Peixoto.
Esse arruamento foi rasgado através da Quinta do Raimundo, assim chamada por ter pertencido a um alquilador com aquele nome e com loja na Rua Formosa. Ao tempo da sua abertura ela já pertencia por compra a Manuel Tavares Valente de alcunha “O Viramontes”.
A futura avenida ainda cortaria a Quinta da Telheira, junto da Rua do Revilão, acabando por, o que sobrou dela, ficar a chamar-se Quinta da Pardeja.
Acabou a avenida por receber o nome do médico João Antunes Guimarães (1877 - S. Salvador de Briteiros / Guimarães; 1951) uma personagem que foi ministro do Estado Novo tendo ficado até aos nossos dias a ser conhecida por Avenida Dr. Antunes Guimarães.

sábado, 12 de agosto de 2017

(Continuação 33) - Actualização em 19/04/2019

19.24 Avenida de Rodrigues de Freitas, Rua do Heroísmo e imediações


Em tempos, saindo da cidade pela porta da Batalha, rumando ao Arrabalde (S. Lázaro), podíamos tomar uma de duas estradas.
Uma seguia pelo Monte do Bonfim em direcção a Valongo e Trás-os-Montes e, a outra, conduzia a Gondomar, passando por Campanhã.
Neste último trajecto, após o Arrabalde, passaríamos no Sítio do Reguinho onde, na berma da estrada, estava o Cruzeiro do Reguinho, também conhecido como o Senhor dos Aflitos do Reimão, seguindo-se o Largo do Prado (cemitério do Prado do Repouso) em direcção ao Padrão de Campanhã, no Sítio do Padrão.
Aqui, esse Padrão funcionava, para além de local de devoção, como um marco que servia para assinalar onde terminava a freguesia de Santo Ildefonso e começava a de Campanhã. Isto, claro, antes da existência da freguesia do Bonfim.
O Sítio do Padrão é referido por Júlio Dinis na obra “ Uma Família Inglesa”, ao descrever um passeio da personagem Manuel Quintino, pela margem direita do rio Douro.
Este caminho que ia de S. Lázaro para Campanhã, chamou-se, antes, Caminho do Padrão de Campanhã, ou somente Padrão e Rua do Padrão.
 
 

Cruzeiro do Reguinho ou Padrão do Senhor dos Aflitos do Reimão recolhido no cemitério da Igreja do Bonfim


 

 

 
Entre o Largo do Prado e o Sítio do Padrão encontraríamos, a meio-caminho, o Cruzeiro da Aldeia da Formiga, do qual se diz que já tinha existência em 1724 e que, à beira da estrada, estava colocado sob um telheiro. Esse local, hoje, será o chão da estação de Metro da Rua do Heroísmo.
Primitivamente, terá estado no Largo do Prado (Largo Soares dos Reis).
Segundo Andrea da Cunha Freitas, o cruzeiro seria retirado do local onde era venerado, em meados do século XIX, e transferido para o interior de uma capela da invocação da Senhora da Saúde, que existiu nas imediações do actual Campo de 24 de Agosto, em frente, mais ou menos, à Rua do Duque de Terceira.

 
 
 
“Em tempos muito recuados houve por aqui uma vasta propriedade chamada do Vale Formoso de que foram proprietários Pedro Anes de Santa Cruz e seu filho Gonçalo Reimão tendo, anos mais tarde, o sítio tomado o nome deste.
Por herança acabaria mais tarde por passar aos Cirnes e chamou-se, por isso, Campo do Cirne.
Em fins do século XIX, às “Hortas do Reimão”, a meio da actual Avenida Rodrigues de Freitas, iam as famílias merendar aos domingos, no local que era também conhecido pelo Reguinho, talvez por lá existir um qualquer rego de água.
Era neste sítio do Reguinho, à beira da estrada para Gondomar, que ficava o conhecido cruzeiro do Senhor dos Aflitos, actualmente no cemitério paroquial do Bonfim, tendo sido para aqui removido no último quartel do século XIX.
Mas, mesmo já neste seu refúgio nunca deixou de ser venerado, agora, mais especificamente, pelos seus antigos vizinhos. Foi o caso, por exemplo, de um ferreiro chamado Manuel Ribeiro que vivia na antiga Rua da Palma. Tinha pelo Senhor dos Aflitos tão profunda devoção que mesmo quando a cruz foi levada do sítio onde ele a conhecera não deixou de lhe dedicar a sua afeição mandando celebrar, por sua conta, uma festa na Igreja do Bonfim e custeando os enfeites com que, durante a festividade, mandou ornar o cruzeiro que já estava no cemitério.
O cruzeiro do Senhor dos Aflitos ficava, como acima se refere, na margem da antiga estrada real, numa espécie de encruzilhada onde confluíam a antiga Travessa da Nora e a também já desaparecida Rua da Palma.
Este padrão era diferente da maioria dos outros que estavam espalhados pela cidade. A figura de Cristo não era esculpida na pedra mas sim pintada. Nem por isso deixava de ser objecto de grande veneração, não apenas por parte dos vizinhos, mas também pelos lavradores das redondezas, nomeadamente dos de Campanhã, Valbom e S. Cosme que diariamente por ele passavam quando vinham vender produtos das suas terras aos mercados da cidade e, depois, no regresso a suas casas. De entre os devotos da vizinhança havia uma que se destacava especialmente a proprietária do célebre Restaurante do Maneta que a si mesma se obrigara a alimentar de azeite a lamparina que, de dia e de noite, mantinha acesa a chama votiva”.
Texto In JN de Germano Silva
 
 
 
Em 1808, começa a ser pensado fazer o alinhamento do caminho entre o que é, hoje, o cemitério do Prado do Repouso e o sítio do Padrão de Campanhã, actualmente, a Rua do Heroísmo.

 
 

Planta (1802) de Luís Inácio de Barros Lima, mandada fazer por Pedro de Melo Breiner, com o traçado do novo alinhamento para a rua entre o sítio do Padrão e as casas de Nicolau e António José Cativo



 
Legenda da planta acima:
1 – Casa de Nicolau Captivo
2 – Casa de António José Captivo
3 – Cruzeiro da Aldeia da Formiga
4 – Padrão de Campanhã


 
Como se pode observar na planta (1802) acima, está identificado o Padrão de Campanhã, mas, não, a capela da Senhora da Saúde, que só seria construída em 1810, data que ostenta na fachada voltada a Norte.
Também se observa que o alinhamento da via obrigou à retirada do Padrão, que seria substituído pela referida capela.
Começou por ser a Capela do Padrão de Campanhã e, hoje, é a Capela da Senhora da Saúde.
Estes templos eram construídos, em regra, com esmolas dos fiéis para nelas se celebrarem missas e outros ofícios a que assistiam as populações que viviam longe das igrejas paroquiais.
 
 
 
 

Capela da Senhora da Saúde, na Rua do Heroísmo
 
 
 
Cerca de cinquenta anos após a sua edificação, os administradores da capela pretenderam trazer à memória o Padrão que, por aquele sítio, tinha existido.
Para isso, apresentaram em sessão camarária de 14 de Outubro de 1869 um requerimento, em que solicitaram a cedência do cruzeiro do “Senhor da Piedade”, que estava num “Passo” ou “Oratório” da Rua do Loureiro.

 
“Requerimento de alguns moradores da rua do Heroísmo, como administradores da capela do Padrão, pedindo o cruzeiro que está na rua do Loureiro. Deferido.”
In jornal “O Comércio do Porto”, 15 de Outubro de 1869 – 6ª Feira

 
No ano seguinte a imagem que estava na Rua do Loureiro já se encontrava exposta no interior da capela de acordo com a notícia abaixo.
 
 
“Na capela do Padrão de Campanhã também houve arraial na quarta-feira, por se festejar ali a imagem da Senhora da Saúde.
Dentro do templo via-se exposta a imagem de Cristo, que estivera em um nicho da rua do Loureiro, hoje demolido.
A capela foi dotada com alguns melhoramentos. Restauração interna do templo e no acrescento de uma sacristia nova, sendo o terreno, em que ela foi edificada, dado por outro devoto.”
In jornal “O Comércio do Porto”, de 1 de Julho de 1870 - 6ª Feira

 
 

Imagem do Senhor do Padrão (vinda da Rua do Loureiro) no interior da Capela da Senhora da Saúde
 
 
 
Dois anos depois foi benzida e passeada uma nova imagem da Senhora da Saúde, oferecida por um devoto.

 
 

In “Jornal do Porto” de 28 de Junho de 1872, pág. 2



Ao longo dos anos a capela seria alvo de obras em 1891, 1899, 1907 e outras mais recentes.
Em 1899 arrancariam as obras para edificar uma nova torre a que alude o jornal “A Província”.
 
 
“Começaram já as obras para a construção da nova torre na capela do Padrão, na Rua do Heroísmo, melhoramento que, como os outros que há pouco foram concluídos, se deve à iniciativa do actual secretário da mesa da confraria, sr. Maximino Gomes da Fonseca, que tem sido incansável no granjeio de donativos para o engrandecimento daquele templo.”
In jornal “A Província”, de 12 de Julho de 1899 – 4ª Feira

 
 
Segundo o Jornal do Porto (8 de Julho 1891, pág.1), em 4 de Julho de 1891, foi decidido fazer a festa ao Senhor da Piedade e à Senhora das Dores, cujas imagens eram veneradas na Capela do Padrão, na Rua do Heroísmo.
Assim, iriam ser colocados adornos desde o Prado do Repouso até ao palacete onde residia o Barão do Valado, na Rua do Freixo.
O 3º Barão do Valado, Augusto Correia Pinto Tameirão (1842-1920), atrás referido, vivia na Rua do Freixo, nº 1680, perto da capela da Senhora da Saúde.
Em 1878, parece que o 3º Barão do Valado já estava pronto a deixar a sua antiga habitação na Praça Carlos Alberto (o Palacete Balsemão) e instalar-se nestas paragens.
Para o efeito, naquele ano, solicitava uma ligação ao aqueduto da fonte do Padrão de Campanhã.
A antiga residência viria a ser arrendada, em 1888, ao Centro Comercial do Porto.


 
 

Local de implantação da casa do 3º Barão do Valado, na Rua do Freixo
 




Em destaque, a azul, os limites da propriedade do Barão do Valado, em Campanhã – Planta de Telles Ferreira de 1892


 
 

Localização da antiga casa do 3º Barão do Valado – Fonte: Google maps

 
 
Em 1903, a capela do Senhor do Padrão recebeu uma imagem de Santa Luzia.
 
“O Sr. Barão do Valado acaba de oferecer à capela da Senhora da Saúde, na rua do Heroísmo, uma imagem de Santa Luzia.
Quase de tamanho natural, é um trabalho primoroso da oficina da rua da Fábrica, donde saiu.”
In jornal “O Primeiro de Janeiro” de 8 de Dezembro de 1903 – 3ª Feira



Capela de Nossa Senhora da Saúde, em 1910



Capela da Senhora da Saúde em 1913 - Ed. ”Ilustração Catholica”



Em 1835 no troço entre o actual Largo Soares dos Reis e a Rua do Freixo, ao Caminho do Padrão de Campanhã, foi-lhe dado o nome de Rua de 29 de Setembro, e já tinha sido Rua do Prado, por se situar nas proximidades da Quinta do Prado.
Durante as lutas liberais, no Cerco do Porto, em 29 de Setembro de 1832, as tropas miguelistas vinham derrotando as defesas liberais desde São Cosme até à Rua do Prado, tendo o coronel João Nepomuceno de Macedo, oposto com uma pequena força de 23 homens, colocados no Largo do Bonfim impedindo, assim, a queda da cidade.
Feito barão de São Cosme, em 1835, deu nome a uma rua perto da Biblioteca Municipal – a Rua Barão de S. Cosme.
Aquele feito heroico deu nome à Rua 29 de Setembro (c.1839).
Em 1877 o nome de Rua 29 de Setembro, no troço entre o Freixo e a entrada do cemitério do Prado do Repouso, foi substituído pelo de Rua do Heroísmo, que evoca, também, a valentia com que os liberais se bateram no recontro que eclodiu naquele sítio, exactamente a 29 de Setembro.
Entretanto, entre o Largo Soares dos Reis e S. Lázaro o Caminho do Padrão de Campanhã chamou-se Rua do Reimão (c. 1853) e, posteriormente, Rua de S. Lázaro e, aquele largo, chamar-se-ia naqueles tempos Largo do Reimão.
Por aqui, existiu em tempos o famoso “Restaurante Reimão” e o apreciado restaurante “Maneta do Reimão”.
O Restaurante do Reimão, frequentado e elogiado por Camilo Castelo Branco, sobretudo, pelos pratos de lampreia, situava-se na esquina da Rua do barão de S. Cosme com a Avenida de Rodrigues de Freitas, à data, a Rua do Reimão.
 

 

Cruzamento da Rua de S. Cosme com a Avenida Rodrigues de Freitas. O Hotel do Reimão (antes um restaurante numa outra casa) situava-se na esquina à direita da foto – Fonte: Google maps

 
 
Do prédio situado na esquina, à esquerda da foto, é a foto seguinte, na qual se pode apreciar um dos característicos quiosques que estavam implantados pela cidade.


 
 

 
 



Toda a área respeitante à Avenida Rodrigues de Freitas e terrenos adjacentes têm expressão na carta militar de 1833 que se segue.



Carta militar de 1833


Legenda

1. Largo das Fontainhas
2. Rua do Prado
3. Quinta do Seminário
4. Quinta da China
5. Quinta da Revolta
6. Pinheiro de Campanhã
7. Bonfim
8. Lomba
9. Quinta do Rangel
10. Quinta do Freixo
11. Quinta do Simões
12. Esteiro de Avintes
13. Poço das Patas
14. Pedra Salgada
15. Chão dos Olivais
16. Quinta das Oliveiras
17. Reimão (após 1853)
18. Rua 23 de Julho
19 Rua de Montebelo


Esquina da Avenida Rodrigues de Freitas e da Rua de S. Vítor, em 1907




Esquina da Avenida Rodrigues de Freitas e da Rua de S. Vítor, em 1910


Avenida Rodrigues de Freitas (antiga Rua do Reimão), próximo a S. Lázaro – Fonte: “doportoenaoso.blogspot.pt”




Nesta zona da cidade, era frequente o uso antigamente do topónimo de “Sacais” que, no entanto, desapareceu da toponímia portuense.
Eugénio Andrêa da Cunha e Freitas, na sua "Toponímia Portuense" diz que nuns registos paroquiais de 1781, que compulsou, encontrou referências a uma Viela de Sacais da Rua do Reimão e a uma Rua da Boavista de Sacais,  junto ao Padrão do Reimão. 
É provável que estas designações à volta de Sacais correspondam a uma serventia ou a mais do que uma e uma delas deve corresponder à actual Rua Ferreira Cardoso.
Aquela Viela de Sacais, existente já no século XVII, corresponderá à actual Travessa do Bom Retiro, muito desfigurada com a construção da estação do metro do Heroísmo. Não é despiciendo considerar que a actual Rua Ferreira Cardoso possa em parte do seu trajecto ter tido a ver, também, com algum daqueles topónimos.



“A Travessa do Bom Retiro, mau grado ter hoje casas, apenas do lado poente, ainda começa na Rua do Heroísmo, antiga Rua de 29 de Setembro que sucedeu à Rua do Prado e termina na actual Rua de António Carneiro, antiga Rua de Barros Lima (figura do liberalismo e comerciante).
Muito perto do sítio onde ainda agora confluem a referida travessa com a Rua do Heroísmo ficava um antigo cruzeiro, igual a muitos mais que a fé dos passantes fazia erigir ao longo de ruas, estradas ou simples caminhos.
Fazendo fé no que sobre o assunto escreveu Andrêa da Cunha e Freitas, esse cruzeiro, a que já se referem documentos de 1724, era conhecido como sendo o Padrão da Aldeia da Formiga, nome que lhe veio, naturalmente de alguma propriedade que por ali existiu com aquela designação. A cruz erguia-se do lado norte da rua e estava resguardado de intempérie por um modesto alpendre. De notar que nos dias de hoje existe ainda nas proximidades, uma Rua da Formiga e uma Travessa com o mesmo nome.
Com base ainda em informações colhidas pelo já citado historiador, o cruzeiro, por meados do século XIX foi levado do sítio onde o povo o venerava para o interior de uma Capela da Senhora da Saúde que existiu nas imediações do actual Campo de 24 de Agosto, em frente, mais ou menos, à Rua do Duque de Terceira.
Uma outra capela existiu junto à residência dos Cirnes, era redonda e foi comprada por um brasileiro de torna-viagem, Domingos José Francisco Júnior, sendo nela que os condenados, antes de subir ao patíbulo em Mijavelhas, iam rezar e ouvir missa, antes da execução.
Era conhecida por Capela do Poço das Patas.”
Com a devida vénia a Germano Silva




A capela do Poço das Patas existiu, pelo menos até 1714, que foi o ano de abandono de Mijavelhas como local de execução.



Por sua vez a Rua de Barros Lima,
«… foi aberta à roda de 1845, e recebeu o nome de, Francisco José de Barros Lima, (1763-1843), rico negociante portuense, e um dos homens de Sinédrio de 1820. Destinava-se a ligar as estradas de Valongo e de Campanhã, servindo ao mesmo tempo a vasta quinta que Barros Lima aí possuía.»
"Toponímia Portuense" de Eugénio Andrea da Cunha e Freitas



«... Barros Lima, que deu o nome à rua, chamava-se Francisco José de Barros Lima e era bisavô materno do Senhor D. Henrique Leite Pereira de Paiva Távora e Cernache, 4º conde de Campo Belo.
Barros Lima foi um dos heróis do Movimento Vintista que eclodiu em 1820, no Porto, e se traduziu na revolta contra a presença dos interesses britânicos em Portugal e contra consequências nefastas sobre o comércio portuense do Tratado de 1810 que abrira as portas do Brasil à navegação do comércio mundial. Esse movimento pretendia o regresso de D. João VI a Portugal e sonhava ainda trazer de volta o Brasil, em vias de separar-se por completo, da sua antiga condição de colónia e retomar a preponderância comercial portuguesa. Barros Lima distinguiu-se nessa luta e no movimento liberal consequente, de que em 1834 saiu vitorioso, inaugurando a monarquia constitucional e o liberalismo político...»
In Escola Secundária Alexandre Herculano


Francisco José de Barros Lima era natural da freguesia de Santa Maria de Rebordões, em Ponte de Lima, tendo vindo muito novo para o Porto, onde casou com Raquel Maria Pinto.
Após a revolução liberal saiu representante do sector do comércio, tendo sido ainda deputado às Côrtes e, mais tarde, um dos Contratadores Gerais do Tabaco.
Morreu com oitenta anos, em 1843, já viúvo e com as suas duas filhas, Rosa Margarida e Margarida Rosa, já falecidas, mas rodeado dos seus seis netos.
Proprietário da quinta na freguesia do Bonfim, na Rua do Heroísmo, Barros Lima vivia, habitualmente, na sua casa na Rua de S. João.