domingo, 31 de maio de 2020

25.95 O Porto à noite (I) - Actualização em 15/12/2020



Praça da Liberdade, em 1960

 

 


Ribeira do Porto, em 1962




Estádio do Dragão

 

 


Esplanada da Praia do Molhe – Cortesia de Rosa Roleira


Barbosa e Companhia, antiga Casa Oliveira, fundada em 1885, na esquina das ruas Fernandes Tomás e Santa Catarina, em frente à Capela das Almas




Rua 31 de Janeiro, em 1962



Remise da Boavista, em 1950



Estação de S. Bento


Estação de S. Bento, em perspectiva, a partir da Rua Mouzinho da Silveira


Estação de S. Bento – Cortesia ©Like3ZA



Praça da Batalha


Garagem Ibéria, na Praça da Batalha, nº 65, c. 1965


(Continua)

domingo, 24 de maio de 2020

25.94 Duas empresas (ainda em actividade) medalhadas durante a Exposição Colonial de 1934


Companhia Industrial de Fundição – CIF

A CIF é uma empresa, cujos registos históricos têm raízes em 1895, tendo nascido da fusão de duas "firmas" situadas na proximidade das actuais instalações industriais, em Gondomar.



Cartão comercial de “Paiva, Irmão & C.ª” (antiga Fundição de Gondomar), já com instalações na Rua de S. João – Antiga Fundição de Gondomar



Publicidade da Companhia Industrial de Fundição, S.A.R.L.



Segundo o folheto publicitário acima exposto, a CIF dizia estar apta para o fabrico de material agrícola e que os pedidos de informações, deveriam ser dirigidos à Rua de S. João, 17 a 21, no Porto.
Já nos anos 30 do séc. XX, a CIF era uma das mais prestigiadas empresas da área do Grande Porto, tendo-lhe sido mesmo atribuído o "Grande Prémio" na Exposição Colonial de 1934, que teve lugar no Palácio de Cristal e onde estiveram presentes as empresas portuguesas que na época se destacavam.
Naquela exposição, a CIF ocupou um stand na “Marquise dos Expositores da Metrópole”.
Naquele mesmo ano, o Anuário Comercial identificava a empresa do seguinte modo:
Companhia Industrial de Fundição
Secção: Fundição (de Ferro)
Escritórios e Armazéns na Rua de S. João, 19
Depósito na Rua de S. João, 6 e 8
Fábrica: Esposade (Gondomar)




Posto de venda da CIF, na Rua de S. João, 17 a 21


Ocupação actual do antigo Posto Comercial da CIF, na Rua de S. João – Fonte: Google maps



Actualmente, a CIF encontra-se bem posicionada em diversos mercados, sendo os seus produtos principais:
Recuperadores de calor e Salamandras de ferro fundido, postes, candeeiros, bancos de jardim, estruturas em ferro fundido, etc.



Coreto de Vieira do Minho (1993) – Ed. SIPA


O coreto, da foto acima, teve intervenção da CIF - Companhia Industrial Fundição - SA Porto, com a colocação dos gradeamentos, colunelos e cúpula.



Duas “Devantures” (frentes de lojas), de ferro fundido, em lojas da Rua dos Clérigos (2018)



Espaço polivalente da Fundação Gramaxo, na Maia, da autoria da CIF



Memorabilia da CIF



Candeeiro da CIF, na Sé do Porto


Vista parcial do complexo fabril da CIF, na Avenida Dr. Francisco Sá Carneiro, Foz do Sousa – Fonte: Google maps



A Bisália, Lda


“A Bisália, Lda.” teve início em 13 de Junho de 1920, instituída pelo capitão António Ferreira de Sousa, em conjunto com outros accionistas. Ficou situada no centro do Porto, um pouco abaixo do Ateneu Comercial, na Rua Passos Manuel, nº 40, e com uma área de 1500 m², passando a ser uma das maiores fábricas ligadas à transformação do vidro, com o sistema mais avançado para época.



“A Bisália”, na Rua de Passos Manuel, nº 40




Ao longo dos anos, a empresa adoptou também o nome de “Bizália, Lda.”.
Em 1934, durante a Exposição Colonial que teve lugar no Palácio de Cristal, foi-lhe atribuído o diploma de “Grande Prémio”, já como “Bizália, Lda.”.



Diploma atribuído à “A Bizália, Lda.”, na 1ª Exposição Colonial de 1934



Trabalhadores da Bisália, junto de camioneta à porta da empresa, na Rua Passos Manuel, possivelmente preparados para partirem numa viagem de recreio



A camioneta, que parece ser a da foto anterior, já está com todos os passageiros a bordo e pronta para iniciar a viagem



A viagem de recreio, a que alude as fotos acima, deverá ter ocorrido na década de 1940, já que a camioneta da foto tem uma matrícula obtida após 1937 quando, neste ano, as matrículas das viaturas passaram a ser expressas por um par de letras, a que se seguiam dois pares de números (PT – 10 – 03). 
Antes, em 1911, entendeu-se necessário estabelecer um sistema de matriculação padronizado a nível nacional, para substituir os arcaicos sistemas distritais, de identificação que vigoravam, devido ao aumento de veículos automóveis a circular.
Para isso, o país foi dividido em 3 zonas de registo: Norte, Centro e Sul.
A cada zona foi atribuída uma sequência privativa constituída por uma letra identificativa, seguida pelo número de série.
As sequências estabelecidas foram N-000, C-000 e S-000, respectivamente para as Zonas Norte, Centro e Sul. As chapas de matrícula foram padronizadas em fundo preto com caracteres brancos.
O veículo, na foto, parece ser uma camioneta SAURER.
Por outro lado, ao fundo da Rua de Passos Manuel, observamos que o edifício Rialto, concluído durante o ano de 1944, ainda nem começou a ser construído.


Construção do edifício Rialto na Praça D. João I




A cena referente a uma viagem de recreio dos trabalhadores da Bisália, situar-se-á, portanto, entre 1940 e 1942.
Entretanto, “A Bizália, Lda”, até aos anos 80, passaria por diversas fases de gestão e, a partir de 1981, daria lugar à “Vidraria Passos Manuel, Lda”, fundada por 4 sócios, situação que se manteria até ao ano de 1983.
Nesse tempo, foram realizados poucos investimentos, o que se traduziu numa dificuldade de a empresa competir no mercado interno nos sectores da construção civil e do mobiliário.
Perante este cenário, houve cedência de quota a um dos sócios dos restantes três, tendo apenas permanecido ao leme da empresa, Fernando Neves, que teve a iniciativa de rejuvenescer a “Vidraria Passos Manuel”, investindo em equipamentos sofisticados para fazer face às exigências mercado e permitindo, assim, uma grande expansão.
Em 1990, a “Vidraria Passos Manuel” mudou de instalações, para Perafita (Matosinhos), com uma área de 300 m².
Em 1993, volta a mudar de nome e de instalações, passando a situar-se, desde então, na Zona Industrial da Varziela (Vila do Conde), tendo uma área de 1200 m² e voltando ao nome de origem, “Bizália, Lda”, continuando hoje a ser uma referência no sector de actividade que abraçou há um século.

sábado, 16 de maio de 2020

25.93 A Banca na cidade do Porto


Os primórdios da emissão de moeda


“As primeiras moedas portuguesas terão sido produzidas ainda no reinado de D. Afonso Henriques, certamente depois de, em 1179, ter sido reconhecido pelo Papa como rei. São pequenos espécimes feitos de bolhão, uma liga de cobre e de prata: o dinheiro e a mealha, esta valendo metade de um dinheiro.
(…) No tempo de D. Afonso Henriques continuavam a circular moedas romanas, denários e áureos, assim como moedas leonesas e muçulmanas, estas últimas principalmente de prata e ouro, os dirheme e o dinar.
(…) Os morabitinos são uma resposta à moeda de ouro muçulmana, o dinar…O morabitino continuou a fabricar-se nos reinados de D. Afonso II e D. Sancho II tendo reduzido o seu formato e terminado as emissões naquele reinado.
(…) Também D. Dinis…Criou uma moeda de prata, o tornez decorado no anverso com uma cruz feita com cinco escudetes e no reverso pela cruz dos Templários, que neste reinado foram integrados na Ordem de Cristo, nascida por iniciativa de D. Dinis. Nos reinados seguintes continuam a fabricar-se dinheiros de bolhão, o que mostra a carência de metais nobres em Portugal. No tempo de D. Afonso IV, o dinheiro passou a ser conhecido por alfonsim.
(…) Chama-se barbuda ou celada ao elmo com viseira caída. Foi no reinado de D Fernando que pela primeira vez foram vistos em Portugal cavaleiros com o rosto coberto de ferro.
Dentro da série de barbudas aparecem submúltiplos, as meias barbudas e os quartos de barbuda. Para recordar os escudeiros que vinham com os cavaleiros barbudos, o Rei cunhou o pilarte. Para distinguir os porta-bandeiras fez bater o grave, no anverso do qual imprimiu um F significado Fernando e, no reverso, as armas do rei.
(…) A D. Fernando deve-se o forte de prata, que valia cento e vinte dinheiros e tinha as dimensões da barbuda. Neste reinado aparece também o real de prata que valia cento e vinte dinheiros. Porém, o mais interessante na série fernandina são as cunhagens de ouro, a dobra-gentil, em que o Soberano aparece sentado no trono em atitude majestática e a outra moeda, a dobra-pé-terra, onde se vê D. Fernando em atitude bélica, levando a mão direita erguido o gládio. Rara é uma dobra-gentil emitida no Porto.
(…) D. João, Mestre de Avis, filho ilegítimo de D. Pedro I…Mandou bater moedas de prata, de bolhão e de cobre. Os reais pretos foram a primeira moeda portuguesa de cobre. Mandou cunhar os quartos de real de dez soldos em bolhão e outras moedas em liga como o rela branco, o que expressa a desvalorização da moeda. Vencida a crise e estabilizado o reino forma emitidas moedas de prata, o real de dez soldos e o real de dez reais brancos. O real preto aparecido em 1415, altura da conquista de Ceuta tinha escrito Adjutorium nostra, significando Senhor, sê nosso auxilio.
O início da expansão ultramarina portuguesa, em 1415, foi memorizado com a criação de uma nova moeda, o ceitil (Ceuta).”
Cortesia de “imperionumismatico.blogs.sapo.pt/”



O bolhão, referido no texto anterior, era uma liga de cobre ou bronze com pequena percentagem de prata, abaixo de 200 partes em 1000.



In História do Porto – Luís Oliveira Dias




Para além das moedas referidas no texto anterior, muitas outras correram de mão em mão no nosso País. É o caso do maravedil, ou maravedim, ou marabitino, ou morabitino, do cruzado e do dobrão.
No final da década de 1360, já há notícias sobre a abertura de outras casas da moeda em Portugal, para além da de Lisboa, nomeadamente as casas da moeda do Porto e de Miranda do Douro, bem como outras casas da moeda, por seu turno provisórias, possivelmente itinerantes, em territórios além-fronteiras, como a de Tui, a da Corunha, Quiroga, Valência de Alcântara ou a de Zamora, todas elas abertas, mas também encerradas, no contexto da Primeira Guerra Fernandina.
Destas casas da moeda, dentro e fora de fronteiras, apenas a de Lisboa, a do Porto e a de Miranda do Douro sobreviveram à Paz de Alcoutim, em 1371, e, em 1372, encerra a de Miranda do Douro.
A Casa da Moeda do Porto laboraria, ainda que interruptamente, até 1721, por Decreto de 12 de Setembro de 1721.
Em 25 de Dezembro de 1489, D. João II ordena que se lavre no Porto moeda: cruzados de ouro e reais e meios-reais de prata.
O papel-moeda surgirá com as apólices em finais do Séc. XVIII.
O Banco de Lisboa emitiu notas e ordens em reis, no Séc. XIX.
Foram, porém, os Bancos do Norte que apresentaram maior variedade de notas, a partir de 1836, quando obtêm esse privilégio: Banco Comercial do Porto, Banco Mercantil do Porto, Banco União do Porto, Banco do Minho.
Como se irá ver, em 1891, os bancos do Norte do País perdem a capacidade de emitir moeda.



Banco Industrial do Porto (Nota fac-similada de vinte mil reis)



Banco Industrial do Porto (Nota fac-similada de cem mil reis)




Casa da Moeda no Porto


Durante o reinado de Dom Fernando I, pela primeira vez, a cidade do Porto emitiu moeda: graves meias, meias barbudas, barbudas e tortezes, identificados pela letra P no campo do anverso.
Em 1370, D. Fernando concede ao Alcaide, moedeiros e oficiais da Casa da Moeda do Porto, Carta de Privilégio e isenção de várias taxas e tributos.
Esta carta é depois confirmada pelo rei D. João I, em 1385, e revela o estatuto privilegiado que, de facto, gozavam os oficiais e moedeiros que até formaram uma corporação à parte e viviam no seu próprio quarteirão.


“17 de Abril de 1486 – Pero Anes é nomeado contra-ensaiador da moeda do Porto”.
Sousa Viterbo, In “O Tripeiro”, Set. 1951, p. 108; Cit. “Porto Desaparecido”
 
 
Seria na “Casa do Infante”, à Ribeira, que se albergaria a Casa da Moeda, a qual se manteve em actividade até 1587 (ocupação filipina), sendo em consequência, extinta, finalmente, por alvará de 1607 e reactivada em 1688, nesse local, onde se manteve até 1721.
Daqui em diante, não haveria mais moeda portuense cunhada no complexo régio da Ribeira, junto à Alfândega.





Entrada da Casa da Moeda do Porto, na Rua do Infante D. Henrique, local provável da Casa da Balança. À esquerda, vemos o brasão da porta do século XIV e, à direita, a porta e o brasão de 1688 – Fonte: AHMP


 
 
A chamada Casa da Balança, seria o local de contagem e de administração por onde os metais entravam e saíam, depois, já amoedados.
Teria uma entrada para o público, que acedia a um balcão e estaria localizada num espaço exterior às oficinas, possivelmente no mesmo edifício da Rua Nova que ainda hoje preserva as portas brasonadas, que se observam na foto anterior.
 
“Alguns dos célebres Mestres da Balança nas casas da moeda de Porto e Lisboa foram, respectivamente, Pêro Vaz de Caminha e Gil Vicente. As suas funções eram sobretudo as de controlo técnico e aferição dos pesos dos metais entrados e das moedas cunhadas”.
Cortesia de Mário Bruno Pastor (CITAR / Escola das Artes – UCP); II Congresso Internacional sobre Património Industrial, 22-24 Maio de 2014
 
 
Apenas, esporadicamente, na primeira metade do século XIX, no contexto das guerras civis pré-Regeneração, mais concretamente durante o Cerco de 1833 e a Patuleia, em 1847, se cunharam alguns bronzes no Porto, no Convento dos Lóios e no Convento de Monchique, respectivamente.
Assim, entre 1832 e 1833, em pleno Cerco do Porto, cunhou-se moeda em nome da rainha, no Convento dos Lóios.
Em 1847, em plena guerra da Patuleia, foi aberta uma oficina monetária provisória no Convento de Monchique, onde foram cunhados exemplares de 40 réis (patacos).
De notar que, entre 1642 e 1644, já tinha funcionado provisoriamente a Casa da Moeda, no Porto, no edifício dos Paços do Concelho, na Torre dos Vinte e Quatro.




Pataco carimbado de 1847




Banca Comercial


Banco Comercial do Porto e a abertura da Rua Ferreira Borges


Para abrir a Rua de Ferreira Borges, foi necessário efectuar um plano urbanístico, no qual se degladiaram duas concepções.
Acabou por sair vencedora a tese de Joaquim Costa Lima Sampaio (?-1837), um arquitecto da cidade entre 1822 e 1837, em alternativa à do Brigadeiro Paullet, o que iria ficar expresso na planta apresentada abaixo.
Segundo esta hipótese (que não vingaria), o arruamento proposto para ligar o Largo de S. Domingos ao Palácio da Bolsa atravessaria o chão da antiga capela gótica dos dominicanos e chegado à área que tinha sido a cerca do convento, inflectia em direcção ao edifício da Bolsa.
Diga-se que, aquela capela, há muito que tinha sido abandonada, pois em 24 de Abril de 1778, fora alvo de um incêndio, o que levou os frades a tomarem, por cedência, como sua a capela dos Terceiros, o que envolveria a própria rainha.
Segundo Nuno V. Cruz, um estudioso da problemática ligada àquele convento dos dominicanos, existem boas provas de que o incêndio referido teria sido, se não obra dos próprios frades, pelo menos, não teria provocado, assim, tantos estragos que justificassem o seu abandono.



Planta que, em 1835, Joaquim Costa Lima Sampaio usou para apresentar a sua sugestão, para a ligação do Largo de S. Domingos ao Palácio da Bolsa, desvalorizando a do Brigadeiro Paullet



Na planta acima, num quadrilátero a azul, observa-se a especificação da propriedade da família Vanzeller e, com a letra P (azul), um pouco mais acima, a localização da “Casa do Patim”, daquela mesma família.
A “Casa do Patim” ligava ao Largo de S. Domingos, por uma estreita viela, que seguia ao longo da fachada lateral da igreja dos Terceiros Dominicanos, começada a demolir em 1 de Junho de 1835.
À direita, a meio, sublinhado também a azul, a referência para o traçado proposto pelo Brigadeiro Paullet.
O traçado proposto por Joaquim Costa Lima Sampaio para a Rua Ferreira Borges é completamente recto.



Rua Ferreira Borges, junto às traseiras da igreja de S. Francisco



Com as traseiras da igreja de S. Francisco, em primeiro plano, observam-se os trabalhos da abertura da Rua Ferreira Borges, cujo começo reportam ao ano de 1835 e, até à respectiva conclusão, se estenderiam por vários anos.
A “Casa do Patim” estará no aglomerado, à esquerda, à cota mais baixa.



Em 1908, o prédio situado no gaveto das ruas Ferreira Borges e do Belomonte, onde hoje está o “Hotel da Bolsa”


A primeira sede do Banco Comercial do Porto viria a instalar-se num edifício construído de raiz, na Rua Ferreira Borges (recentemente traçada) e em terrenos pertencentes, anteriormente, à família Vanzeller.



Banco Comercial do Porto instalado na Rua Ferreira Borges (ainda em fase de construção), em prédio cuja edificação é de 1843



Na foto acima, observa-se a primeira sede do Banco Comercial do Porto, sendo que, o terreno no qual foi implantada e aquele que lhe estava a montante, até à Rua de Ferraria de Baixo (Rua do Comércio do Porto), pertencia, anteriormente, à família Vanzeller que, na esquina desta rua, tinha uma residência conhecida como a “Casa do Patim”.
Tal denominação referir-se-ia, talvez, à existência de um terraço ou varanda, com aquela forma característica.




Igreja dos Terceiros Dominicanos – Gravura de J. Vilanova, de 1833



Na gravura acima, à direita da igreja dos Terceiros Dominicanos, observa-se um estreito arruamento que, ladeando aquele templo, levava à “Casa do Patim”.
Em estilo neoclássico, o edifício da sede que foi do Banco Comercial do Porto, seria adquirido em 1933, pelo Instituto dos Vinhos do Douro e Porto.



“O primeiro banco do Porto é fundado em 1835, por dois comerciantes locais, Francisco Joaquim Maia e João Ferreira dos Santos Silva Júnior e que se chamava Banco Comercial do Porto, com capacidade de emissão de moeda, privilégio, até então, do Banco de Lisboa, criado dez anos antes.
(…) Duas décadas depois da criação do Banco Comercial do Porto (que viria a ser extinto noventa anos depois da sua constituição), nasce o Banco Mercantil Portuense, que desapareceu em 1894.
Muito impulsionada pelo fluxo de capitais vindos do Brasil, segue-se a criação do Banco União, do Aliança e da Nova Companhia de Utilidade Pública, todos com capacidade de emitir moeda.
Entre 1873-1875, há uma expansão descontrolada de bancos no país, incluindo no Porto, em parte por não ser necessária autorização governativa. Em três anos criaram-se seis bancos, quatro estabelecimentos de crédito e numerosas agências e filiais de outros bancos. À euforia e especulação segue-se as crises de 1876, que obrigou ao encerramento de vários deles. 
A partir de 1881, um conjunto importante de bancos do Porto cria o Sindicato Portuense, para assegurar a construção e exploração da Linha Férrea de Barca de Alva a Salamanca, um projecto que não cumpriu as expectativas e ficou conhecido por "Salamancada".
É na sequência da Salamancada, e da profunda crise financeira das maiores instituições da cidade, que os bancos do Porto perdem, em 1891, o direito de função fiduciária. 
Em 1894, o número de bancos do Porto reduziu-se apenas a dois.
"A partir de então, o Porto deixou de ter qualquer capacidade de diálogo ou de réplica a Lisboa, a uma capital que se transformou em definitivo no único centro de decisão nacional (…)”.
Cortesia de Rosa Soares, 11 de Maio de 2009, Jornal Público





O Banco Comercial do Porto vai consolidar-se e expandir-se, fruto da intervenção da Associação Comercial do Porto que, como sócia, permite a realização do capital inicial da instituição bancária no valor de 2.000 contos de réis. Este capital encontrava-se dividido em 10.000 ações, de 200$000 réis, cada.
Foi também no edifício da Associação Comercial, em instalações adaptadas, no antigo convento de S. Francisco, que a instituição se instalou provisoriamente. Pouco depois, passa para a Rua dos Ingleses e, em 1847, já tinha instalações próprias adequadas à actividade, na Rua Ferreira Borges.
O Banco Comercial do Porto foi ultrapassando, com maior ou menor dificuldade, as diversas convulsões políticas que foram atingindo o país, casos do “Setembrismo” (1836), e as revoltas da Maria da Fonte e da Patuleia, 1846/1847. Ultrapassaria, também, a crise de 1858, que viu falir mais de cem empresas no Porto. 
Desde 1836 até 1891, este banco teve a prerrogativa de emissão de notas.



Nota de 10$000 (dez mil) réis do Banco Comercial do Porto



Nota (fac-similada) de cinquenta mil reis do Banco Comercial do Porto – Fonte: AHMP



Com a fusão do Banco de Lisboa com a Companhia Confiança Nacional é criado o Banco de Portugal, instituição à qual é concedido em 1887, o direito da emissão de notas, em Portugal Continental, função que partilha com outros bancos até que, por um decreto de 9 de Julho 1891, é estabelecida a cessão da faculdade de emissão de notas pelos bancos do Norte do País, que tinham tido aquele privilégio e passa, a partir daí, a deter o exclusivo.



“Na grave crise de 1876, o banco para evitar uma situação de rutura, deliberou pagar somente dois terços dos depósitos à vista que fossem levantados. Passados os piores anos, em 1880 a prosperidade regressou e o banco aderiu à iniciativa da Associação Comercial de auxiliar economicamente na ligação ferroviária entre Salamanca e a linha do Douro, por Barca d’Alva, e na linha da Beira Alta”.
A diminuição da concorrência, criada pela crise de 1876, reforçou as entidades resistentes.
Fonte: “bportugal.pt/”



Em 1881, é, então, constituído o Sindicato Portuense, uma união de bancos que têm por fim assegurar o financiamento da construção de linha férrea entre Barca d’Alva e Salamanca.
O objectivo era concretizar a ligação ferroviária do Porto a Salamanca, através de Barca D´Alva.



Distribuição do capital do Sindicato Portuense – Cortesia do Professor Fernando de Sousa


O projecto previa que a obra fosse concluída em 1884.
Só o seria, de facto, em 1886, envolvida em vasta polémica. Durante a execução, tinham ocorrido actos de corrupção diversa, envolvendo várias personagens.
As falhas de construção e as vigarices, entre estas a entrega de sub-empreitadas a amigos, com lucros para além do aceitável, sucederam-se, levando a que, por outro lado, alguns troços, de largos quilómetros, tivessem que ser refeitos. O nepotismo esteve ao seu mais alto nível.
Em 1887, a linha entrou finalmente ao serviço, mas os proveitos anuais, não davam qualquer retorno, antes pelo contrário.



Anúncio da inauguração do caminho-de-ferro de Barca d’Alva a Salamanca – In jornal “O Comércio do Porto” de 3 de Dezembro de 1887



Em 1888, o Governo começa a ser solicitado para intervir e dar uma ajuda na salvação do ruinoso negócio.
O governo acudiu aos bancos e entregou a exploração comercial do Porto de Leixões e dos caminhos de ferro da circunscrição, a uma empresa que o Sindicato Portuense viesse a criar.
A companhia chamou-se “Companhia das Docas do Porto e Caminhos de Ferro Peninsulares”.
No entanto, as acções desta companhia estavam nas mãos dos bancos, apesar de não terem nenhuma cotação.
Entretanto, dá-se uma crise em Maio de 1891 e os bancos já debilitados pelos investimentos colossais, correndo o risco de entrar em bancarrota, são salvos através de uma lei de Julho de 1891, mas com um preço bem alto. Deixam de poder emitir moeda.
Em 1894, o Sindicato Portuense formado para assegurar a construção e exploração da Linha Férrea de Barca de Alva a Salamanca, face à falência do projecto subjacente, desfez-se, do que resultou na fusão dos sete bancos que o constituíam. No fim deste processo, restam dos integrantes do Sindicato Portuense o Banco Comercial do Porto e o Banco Aliança.
Numa primeira fase, que durará 11 meses, o Banco União e o Banco Português chegaram a unir-se, formando o Banco Portuense que acabará, no entanto, por se fundir no Banco Comercial do Porto.
No fim de todo o processo desaparecerão, para sempre, o Banco Mercantil, fundado em 1856, o Banco União, criado também em 1856, a Nova Companhia de Utilidade Pública, fundada em 1864, o Banco Português, fundado em 1875 e o Banco de Comércio e Indústria, criado em 1876.
Numa conjuntura favorável e expansionista, em 1909, o pacto social do Banco Comercial do Porto é alterado e o capital elevado a 3.000 contos de Réis.
Em 1920, chegam a ser distribuídos dividendos de 14% ou 4$00 por acção.
Contudo, nada fazia prever a crise cambial que, em 1921, provocou grandes dificuldades, ocasionada pela desvalorização da moeda e pela instabilidade dos câmbios. Perante esta adversidade, em 1924, o pacto social é novamente reformado.
Em 1925, o banco é forçado a suspender pagamentos a 14 de Agosto. Por Portaria de 20 de Agosto de 1925 é nomeado um comissário do governo.
A actividade do Banco Comercial do Porto é retomada em 07 de Maio de 1928, ano em que o pacto social é reformado e aprovados novos estatutos, mantendo-se o capital social nos 3.000 contos.
A conjuntura externa desfavorável no princípio da década de 30, com a incapacidade de fazer face à corrida aos depósitos na sequência da Grande Depressão de 1929, bem como a crise económica e financeira interna, não contribuíram para a melhoria da actividade do banco. Em sequência deste estado de coisas, o sistema bancário foi reorganizado por Salazar, tornando mais exigente a constituição de novas entidades.
Em 1935, a direcção do banco considerou que a melhor solução passava pela fusão com uma entidade mais sólida, o que viria a ocorrer em 19 de Dezembro de 1938, quando numa assembleia geral extraordinária, foi votada a fusão da instituição com o Banco Ferreira Alves.
Por sua vez este banco, posteriormente, vai-se fundir com o Banco Joaquim Pinto Leite & Filhos que, por sua vez, anos depois, vai ser incorporado no Banco Nacional Ultramarino e que, já nos nossos dias, foi integrado na Caixa Geral de Depósitos.
Quanto à ligação ferroviária entre Barca d’Alva e Salamanca (ou melhor, entre Porto e Salamanca), ela encerraria naquele troço, em 1985.
Em 1988, foi encerrado, em território nacional, o troço entre o Pocinho e Barca d’Alva, tendo a Linha do Douro deixado, por isso, de visitar a Estação de Barca d’Alva que, a partir daí, ficou ao abandono.



Estação de Barca d’Alva, em 2009 – Cortesia de Antero Pires (Fonte: “pt.wikipedia.org/wiki/”




Banco Aliança


O Banco Aliança é fundado, em 1863, na cidade do Porto.
Para a designação de “Banco Aliança” contribuíram a fusão de três projectos que não chegaram a concretizar-se, até essa data: o Banco Industrial, o Banco Comércio e Indústria e o Banco Agrícola.
Daí a sua designação de “Aliança”. Um dos grandes impulsionadores para a sua criação foi Francisco José da Silva Torres, o segundo marido de D. Antónia Ferreira.



Primeira sede do Banco Aliança, na Rua de Belomonte



“Autorizada a constituição do banco por Carta de Lei de 13 de julho de 1863, os primeiros estatutos foram aprovados por Decreto de 16 de novembro desse mesmo ano. Após um período de instalação e organização, a instituição só começa a funcionar em 1864, na Rua de Belo Monte, da cidade invicta, no palacete que, em 1913, viria a ser ocupado pela Companhia dos Caminhos de Ferro através de África.
(…) O negócio do banco, para além do ramo financeiro, foi estendido à participação na indústria nacional, tendo apoiado financeiramente algumas indústrias de papel, tecidos e vinhos.
Sobrevivendo à crise financeira de 1876, o que não se pode dizer de outras entidades congéneres surgidas na mesma altura do Banco Aliança, e após um período de penetração no mercado e expansão do negócio ao Brasil, o banco foi progredindo lentamente nos seus negócios, com lucros razoáveis até aos períodos difíceis vividos no final do século XIX e princípio do século XX. Neste período, a desconfiança da população frente aos bancos era grande, devido à queda de alguns, e à prerrogativa da emissão de notas, em exclusivo, para o Banco de Portugal (1891). A situação ia sendo amenizada pelos negócios que o banco detinha no Brasil, onde abrira representações, no Rio de Janeiro (em 1906, é autorizado a abrir uma filial pelo prazo de 20 anos) e Santos, e com o estabelecimento de um contrato com o governo provincial de Minas Gerais. Em Lisboa, o negócio estava representado pela casa Burnay & Companhia. Em 1890 o banco abre uma caixa filial, nesta cidade.”
Fonte: “bportugal.pt/”




Em 1881, o Banco Aliança vai fazer parte do Sindicato Portuense, uma união de bancos que têm por fim assegurar o financiamento da construção de linha férrea entre Barca d’Alva e Salamanca.
No desastre financeiro em que culminou este projecto para alguns dos accionistas, salva-se o Aliança.
Em 1884, a nova sede do Banco Aliança vai começar a ser construída de raiz, na Rua Mouzinho da Silveira, numa rua recentemente aberta, para onde a instituição se muda após a sua conclusão.



Banco Aliança, na Rua Mouzinho da Silveira, 228



Em Agosto de 1934, a sede social foi deslocada para um lugar mais central e moderno da cidade: a Avenida dos Aliados, passando as antigas instalações a funcionar como filial, até serem ocupadas pela Associação Industrial portuense, quatro anos depois.



Banco Aliança na Avenida dos Aliados – Revista Ilustração de 1 de Dezembro de 1934



Publicidade ao Banco Aliança, In Comércio do Porto 30 de Outubro de 1938



Banco Aliança, na Avenida dos Aliados




Em 1961, a fusão com o Banco José Henriques Totta, de Lisboa, de cuja fusão nasceu o Banco Totta-Aliança que, anos mais tarde, vai dar origem ao Banco Totta & Açores, uma das maiores instituições bancárias do País.








Banco Borges & Irmão (BBI)


A Sociedade dos Vinhos Borges foi fundada em 1884 por António Nunes Borges e seu irmão Francisco, desde cedo se tendo afirmado como um dos principais produtores e exportadores de vinhos portugueses. Na mesma ocasião os mesmos protagonistas fundaram uma casa de câmbios que viria, mais tarde, a transformar-se num banco.
 
 
 

Borges & Irmão, como Casa de Câmbios e Lotarias
 
 
 
 
“Em 1884 iniciou-se a Casa Bancária António Nunes Borges & Irmão na esquina da Rua de Sampaio Bruno (então Rua de Sá da Bandeira) e Bonjardim. Nos pisos superiores estava instalado o Hotel Aliança. Anteriormente, tinha estado no rés-do-chão um luveiro e nos andares superiores o Hotel Mary Castro, que se havia mudado para a Rua das Motas, no Passeio Alegre. Foi muito conhecido pelo seu esmerado serviço e por lá terem estado hospedadas diversas personalidades tais como Ramalho Ortigão, que sobre ele escreveu.
Neste edifício esteve, já em meados do séc. XX, a secção de câmbios e de lotaria do banco”.
Cortesia de Rui Cunha



Publicidade à firma “Borges & Irmão”, In jornal “A Voz Pública” em 31 de Março de 1907

 
 
A casa de câmbios dos irmãos Borges, na esquina das ruas do Bonjardim e de Sá da Bandeira, em 1910, torna-se numa casa bancária, com sede no Porto e agência em Lisboa.
Em 1912, é aberta uma filial no Rio de Janeiro.
Para além da actividade bancária, os irmãos continuam a manter um negócio de vinhos que, em 1918, se autonomiza com fundação da Sociedade dos Vinhos Borges.
Assim, em 3 de Setembro de 1918, por escritura desta data nas notas do Dr. Ponce de Leão, constituiu-se a “Sociedade dos Vinhos Borges & Irmão, Lda.”, nova empresa, com sede na Rua do Bonjardim, 73-77, sendo fundadores António Nunes Borges, Francisco Borges e Alberto Guimarães Lelo, com o capital de 120 contos.
Em 1919, o pacto social da casa bancária é alterado com a entrada para a sociedade de Manuel Pires Fernandes e José Nunes Fonseca.
Em 1926, a casa bancária muda a sua sede para a Rua de Sá da Bandeira e, fruto da expansão dos negócios, em 1937, passa a “Banco Borges & Irmão (BBI).
Nas décadas seguintes, assiste-se à abertura sucessiva de dependências e agências em diversos pontos do país, nas colónias e nos principais países de destino da emigração portuguesa.
Nas décadas de 1970 e 1980, apesar da nacionalização da banca, a actividade do BBI continua a alargar-se.
Enquanto entidade autónoma, o BBI deixa de existir em 1998, quando se dá a sua fusão com o Banco Fonsecas & Burnay e o Banco de Fomento Exterior, dando origem a uma nova instituição: o BPI - Banco Português de Investimentos.
 
 
 
 
Sede da fundação do Banco Borges & Irmão
 
 

Sede do Banco Borges & Irmão, a partir de 1937, na esquina das ruas de Sá da Bandeira e Santo António

 

 

 

 

 Banco Mutuário



As origens do Banco Mutuário remontam a 21 de Junho de 1884 quando, no 2º Cartório Notarial do Porto, de Aureliano Ferreira Moutinho, foi lavrada a escritura de constituição da Companhia Mutuária.
Na génese da sua constituição está o negociante portuense António Albino Costa Correia.
Com a sede estabelecida no Porto, à Rua de D. Pedro, em Santo Ildefonso, a principal missão da Mutuária era a realização de empréstimos sobre penhores e a constituição de depósitos à ordem e a prazo.
Em 22 de Novembro de 1888, em Assembleia Geral, são aprovados os novos estatutos, aprovada a compra do activo e passivo da Crédito e Auxílio Portuense e a emissão de acções para financiar a operação, que prometia grandes vantagens de negócio. Com esta aquisição, as quatro filiais existentes em 1888, passaram a ser 16, em 1889, 20 e, em 1891, 21.
A maior parte das filiais/agentes estavam situados no Porto, onde residia a maioria da clientela. Fora do Porto, em Leça do Balio, Matosinhos, Vila do Conde, Vila Flor e São Mamede.
Em 20 de Setembro de 1895, uma reforma estatutária altera a designação da firma, que deixa de ser Mutuária, para passar a designar-se Banco Mutuário.
Em 1915, o banco irá mudar as suas instalações para a Rua de Passos Manuel e, em 1921, o Banco Mutuário passa a ter participações sociais na Urbana Portuguesa, no Banco do Douro, no Banco Comercial do Porto e na Companhia Fiação de Crestuma.
Em 1929, o banco deixa de registar lucros, pese também o facto de ter assumido o passivo da sociedade Vieira & Silva, Sucessores e a exploração da sociedade Adriano Sampaio Batista, Sucessor & Comandita e os prejuízos da sua exploração.
Entrando o banco em francas dificuldades, a partir de 22 de Abril de 1931, é cancelada a licença para o banco exercer a actividade bancária.
Face à incapacidade de recebimento dos créditos mais significativos, sobretudo o do principal devedor – Empresa Portuense Cinematográfica, Lda, com a exploração do Teatro Carlos Alberto, que se encontrava fechado, o Banco Mutuário acabaria, finalmente, em 5 de Agosto de 1939, por ser liquidado com a aprovação da extinção da sua Comissão Liquidatária.




Crises Financeiras em Portugal no século XIX


O sistema bancário que começava a instalar-se na segunda metade do século XIX, tornava-se vulnerável em conjunturas de quebra de confiança do público, como o acontecido em 1876.
Assim, sendo entre 1854 e 1891, o valor-padrão no mercado português o ouro, em relação ao qual eram referidos os valores dos outros bens e dos serviços, a emissão de moeda fiduciária e os empréstimos, excedendo em muito as reservas em caixa, impediam os bancos de fazerem a conversão em ouro das notas e o reembolso dos depositantes, em caso de uma «corrida» aos depósitos.
Aquela paridade era interrompida quando os particulares fossem obrigados, pelo curso forçado, a aceitar pagamentos internamente em moeda de valor fictício, o primeiro recurso a que os governos deitavam mão.
As quebras de confiança, num sistema com tendências inflacionistas, estavam ligadas à desaceleração do crescimento do valor do ouro em circulação e a quebras da actividade económica.



“Portugal assistiu em 1876 à primeira crise financeira que afetou o setor bancário. Os primeiros meses de 1876 foram marcados por uma crise nos mercados financeiros no Norte do país, que rapidamente se estendeu a todo o território atribuindo-se a conjuntura, à especulação que se produzia em Espanha sobre os títulos da dívida pública. Os portugueses, na segunda metade do século XIX, manifestaram interesse nos títulos de dívida pública espanhola, o que contribuiu para o estabelecimento de inúmeras companhias de seguros de vida (Tutelar, A Porvir das Famílias, o Monte Pio Universal e La Nacional) e posteriormente, o estabelecimento de agências nos bancos portugueses para o pagamento de juros daquela dívida, (esta função era assumida nos finais de 1870 em exclusividade pelo BNU). Uma grave crise económica em Espanha levou à depreciação dos títulos de dívida, originando no mercado nacional uma desconfiança generalizada que levou a uma corrida aos bancos, e consequentemente, a uma falta de liquidez dos mesmos.
A saída da crise esteve na solução encontrada por Fontes Pereira de Melo em obter junto de Londres um empréstimo para compensar a falta de numerário que afetara o Tesouro Público, ao mesmo tempo que decretara uma moratória. O empréstimo contraído junto a Londres permitiu ao então Ministro da Fazenda, António Serpa Pimentel, distribuir pelas instituições em crise uma importante quantia em numerário, pagando aos bancos as quantias que estes haviam desembolsado por conta do pagamento das classes inativas.
A crise de 1876 teve como consequência a concentração do mercado bancário através de um conjunto de fusões e tornou o Estado mais regulador neste setor de atividade. É igualmente neste contexto que é fundada a CGD, tendo como objetivo «receber e a administrar todos os depósitos em dinheiro efetivo ou em títulos da dívida pública que, nos termos das leis e regulamentos, podem ser ordenados, requeridos ou autorizados por qualquer tribunal ou repartição do Estado”.
Cortesia de Mónica Ferreirinha; Fonte: “cgd.pt/”



Entre 1880 e 1890, a economia portuguesa atravessou momentos difíceis.
No período da “Regeneração” o governo adoptou o “livre-cambismo” que conduziu à entrada de produtos estrangeiros, oriundos de países com os quais os nossos produtos eram incapazes de concorrer. A balança comercial começa a ter deficites constantes.
Os grandes investimentos em obras públicas, por outro lado, conduziram a um endividamento estrangeiro de vulto.
A situação era atenuada, porém, com a chegada de capitais provenientes do Brasil, nos bolsos dos brasileiros de torna-viagem.


“A partir de 1889, a crise política no Brasil e a queda das exportações de vinhos conduziram a uma diminuição do afluxo de capital fresco (ouro) aos bancos e aos títulos da dívida pública. Logo então o crédito retraiu-se: notas em circulação e depósitos bancários registam quedas de 1889 para 1890. O Banco de Portugal, já então tesoureiro do Estado, deveria obter na praça papel cambial suficiente para atender ao pagamento dos juros da dívida consolidada, o que não conseguiu: faltava o ouro dos investidores nacionais e residentes no Brasil para acorrer aos novos empréstimos que, dentro e fora do país, o governo tentara realizar”.
Cortesia de Luís Aguiar Santos


Em 1890, aconteceu a falência do banco, a quem o estado português recorria, o Baring Brothers, em Londres que, consequentemente, provocou a falência da banca do Porto e de Lisboa, originando uma grave crise e depressão na economia portuguesa.
A chamada crise de 1891 foi, de facto, uma crise financeira, pois as finanças do Estado e o sistema bancário entraram completamente em colapso. Depois, esta crise financeira tornou-se imediatamente uma crise económica, porque provocou uma estagnação do crescimento da riqueza.
Naquele ano, em virtude do desfecho da operação financeira que ficou conhecida por “Salamancada”, aos bancos do Porto foram-lhes retirados o privilégio de emitir moeda.
Em 1892, Portugal está em bancarrota, devido ao défice comercial e à dívida pública, colossais.
É com José Dias Ferreira, como Primeiro-Ministro e com Oliveira Martins como ministro da Fazenda (Finanças), que face ao estado de bancarrota pela suspensão do pagamento da dívida, que irão ser procuradas as primeiras soluções. Surgem as medidas de austeridade e o descontentamento e a luta política tomam o terreno.
A partir daqui, Portugal instituiu uma nova pauta alfandegária e volta ao proteccionismo.
O mercado colonial foi valorizado, a indústria reformada e dá-se a concentração empresarial.
Desce a importação e os pedidos de capitais ao estrangeiro.
Entretanto, o Estado posicionava-se, ao conceder o monopólio da emissão de moeda fiduciária a uma entidade, o Banco de Portugal (o seu principal credor interno), para passar a estar em condições privilegiadas de acesso ao inflacionado stock monetário e ao respectivo «crédito barato».
Acresceria a vantagem aparente para o Estado de disciplinar as tendências inflacionistas das entidades emissoras em situação de concorrência.



Sistema Financeiro, na cidade do Porto, no século XIX



BANCOS e ano de fundação

Banco Comercial do Porto – 1835

Banco Mercantil Portuense – 1856

Banco União do Porto – 1856

Banco Aliança – 1863

Nova Companhia de Utilidade Pública – 1864

Banco Industrial do Porto – 1874

Banco Português - 1875

Banco de Comércio e Indústria - 1876

Banco Mutuário (antiga Mutuária) – 1895


Os bancos Português e União do Porto fundiram-se durante 11 meses, dando origem ao Banco Portuense e, em 1894, foram absorvidos no Banco Comercial do Porto.
Nesta data, o mesmo aconteceu aos bancos Mercantil Portuense, Nova Companhia de Utilidade Pública e Comércio e Indústria.



Bancos e Agências Bancárias existentes, no Porto, em 1876








CASAS BANCÁRIAS EM 1894

Cardoso Lopes & Cª
Carlos José da silva & Cª
Casais & Filhos
Eduardo da Costa Correia Leite
Joaquim Pinto Leite & Cª
Pinto da Fonseca & Irmão
Pires Soares & Cª Lda.
Coimbra & Filhos


AGÊNCIAS BANCÁRIAS NO PORTO 1888- 1910

Banco do Alentejo
Banco de Bragança
Banco de Chaves
Banco Comercial de Coimbra
Banco Comercial de Guimarães
Banco Comercial de Lisboa
Banco Cooperativo e Comercial
Banco da Covilhã
Banco do Douro
Banco Eborense
Banco de Guimarães
Banco Lisboa & Açores
Banco Lusitano
Banco Mercantil de Braga
Banco Mercantil de Viana
Banco do Minho
Banco Nacional Ultramarino
Banco de Portugal
Banco da Régua
Banco de Viana
Banco de Vila Real
London & Brazillian Bank Ltd
Banco Português e Brasileiro (após 1894)
Banco Economia Portuguesa (após 1910)
Crédit Franco Portugais


CASAS DE CÂMBIO, ENTRE 1884 - 1910

António Francisco de Castro
António Inácio da Fonseca
Aparício Augusto da Cunha Sampaio
Bacelar & Carregosa
António Nunes Borges & Irmão
Cândido Dias Ltd.
Castro Barbosa & Cª
Domingos José de Antas
J. dos Santos
Jerónimo Pereira de Sousa
José Júlio da Costa
José Pereira de Sousa Júnior
Lourenço Marques de Almeida
Luís Ferreira Alves
Manuel José de Macedo
Ricardo Soares Duarte
Santos Oliveira & Cª
João Machado Lobo
José Maria Durão
Lourenço Joaquim Carregosa (L. J. Carregosa)
A.J. Fernandes Magalhães
Bernardino F.A. Campos
Chaves & Freitas
Dias & Dias
Francisco Oliveira Moutinho
Joaquim Alves Oliveira
Luís Alves da Silva Rios
Sá & Cunha Lda.
Sebastião José Machado Guimarães
Úrsula Maria Ramos
Viúva Cunha & Filhos
J.W. Burmester
Francisco José de Faria
José Augusto Dias & Filho