segunda-feira, 31 de outubro de 2016

(Continuação 1) - Actualização em 24/10/2018 e 26/11/2020



«A 18 de Agosto de 1833 terminava aquele que foi um dos mais negros anos da História do Porto: o cerco militar imposto à cidade pelas tropas absolutistas de D. Miguel. Para trás ficavam quase treze meses de combates fratricidas, milhares de mortos e feridos, bombardeamentos, incêndios devastadores, fome, peste… O Porto soubera, no entanto, resistir e, sem qualquer ajuda do exterior, rompera o Cerco e assegurava a vitória de D. Pedro e da causa Liberal.
Cerca de 175 anos depois a toponímia da cidade perpetua a memória desses dias de Heroísmo, Firmeza e Alegria.
Foi um período decisivo para a História de Portugal, aquele que se viveu entre 8 de Julho de 1832 e 18 de Agosto de 1833. Caracterizado por Almeida Garrett como o momento “em que o Portugal velho acaba e o novo começa”, o Cerco do Porto marcou, com efeito, o início do fim definitivo do absolutismo no nosso país, assegurando a implantação de um regime liberal e moldando os destinos do Portugal Contemporâneo. Durante esse ano a cidade do Porto, cercada, bombardeada, imolada, foi o centro da resistência e das esperanças dos liberais, reunidos em torno da figura de D. Pedro IV.
Do lado de fora das barricadas estava o exército do seu irmão, o “usurpador” D. Miguel. Mas, o que estava em jogo, era muito mais do que um mero conflito entre irmãos. No campo de batalha digladiavam-se duas concepções completamente opostas de sociedade. Os “miguelistas” procuravam preservar o velho e conservador sistema absolutista, no qual o rei, escolhido por desígnio divino, possuía centrado em si todo o poder absoluto. Os “pedristas” defendiam, por oposição, um regime assente nos novos ideais liberais que vinham varrendo a Europa desde as Revoluções Americana e Francesa. Um regime assente na “Liberdade”, “Igualdade” e “Fraternidade” e no qual o rei era, não o detentor de um poder absoluto por escolha divina, mas sim um mediador da sociedade mandatado pelo conjunto dos cidadãos. Embora verdade estas ideias, haviam triunfado já, no nosso país, na sequência da Revolução Liberal de 1820, iniciada no Porto. Contudo, um conjunto de vicissitudes, decorrente do facto de D. Pedro IV se ter envolvido no processo da Independência brasileira e, por isso, ter abdicado da coroa portuguesa a favor da sua filha D. Maria, ainda menor, acabou por criar condições para que o seu irmão, o “absolutista” D. Miguel, a quem ficara confiada a regência do reino enquanto a rainha não atingisse a maioridade, tivesse “usurpado” a coroa».
Cortesia de Joel Cleto



Durante meses, os combates, com ganhos pontuais de território de um lado e de outro, vão sucedendo-se.


"Apesar do terror, dos incêndios, das mortes constantes, dos hospitais repletos de feridos, da falta de pão e das doenças que alastram pela cidade, o Porto resiste. Voluntários juntam-se aos soldados veteranos. E morrem ao seu lado…Entre estes voluntários destacar-se-ão os estudantes de Coimbra. Em sua homenagem o Largo do Carmo foi rebaptizado, em 1835, como Praça dos Voluntários da Rainha, designação modificada, já no século XX, para a actual Praça de Gomes Teixeira. Entre estes voluntários estudantes contam-se alguns jovens que se converterão em grandes personalidades do panorama cultural nacional de Oitocentos e, também eles, perpetuados na toponímia da cidade. Caso da Rua Alexandre Herculano, antiga Rua Nova da Batalha, ou da Praça Almeida Garrett.
Após a vitória dos liberais a cidade homenageou os que tombaram na malograda revolta de 16 de Maio de 1828 e perpetuou o seu sacrifício, atribuindo ao troço da antiga estrada para Braga, entre a Praça Carlos Alberto e a Praça da República, a designação de Rua dos Mártires da Liberdade.
Mas a cidade está repleta de artérias baptizadas com o nome de destacados liberais que tiveram papel de relevo no Cerco. Caso, entre outros, da Rua Barão de S. Cosme, que homenageia a figura de João Nepomuceno de Macedo (1793-1837); a Rua Joaquim António de Aguiar  (1792-1874), o famoso legislador anticlerical que por isso ficaria conhecido por “mata-frades”, e que pertenceu também ao exército dos “Bravos” do Mindelo; a Rua Passos Manuel, destacado tribuno que, vindo do exílio em França, se junta aos liberais em pleno Cerco; a Rua Visconde de Setúbal (antiga Viela das Espinheiras), o famoso militar alemão João Schwalbach (1774-1847); ou a Rua Duque da Terceira, dedicada a António José Severim de Noronha (1792-1860), um dos grandes chefes militares do Cerco; a Rua do Duque de Saldanha (1790-1876), nome incontornável da política portuguesa deste período, verdadeiro “Condottiere” à Portuguesa, começa absolutista e colabora na Vilafrancada, onde D. Miguel dizima as esperanças dos liberais. Em 1826, já maçónico, dirige o levantamento do Porto que obriga D. Maria II a aceitar a Carta Constitucional. Depois passa para os Liberais Radicais até 1835 quando deserta para os Moderados. Em 1846, dirige a Guerra Civil causada pela Patuleia e comanda os Cartistas, contra os Radicais (que antes apoiava) que bate com violência.
Em 1851, com a ajuda de José Passos, derruba os Cartistas e ajuda a impor a Regeneração que vem dar origem ao período da Monarquia Constitucional. Tempos depois, acusado de peculato por uns, detestado pela rainha que preferia Palmela, Saldanha tem ainda tempo para cobiçar a fortuna de Dona Antónia Ferreira (Ferreirinha).
Assim, o Duque de Saldanha, então Presidente do Conselho, pretendeu que seu filho, o Conde de Saldanha, contraísse matrimónio com a filha de tão distinta senhora.
D. Antónia recusou o convite, embora se sentisse muito honrada, alegando para o efeito a tenra idade de sua filha, que só tinha onze anos e que também gostaria que fosse ela a escolher o seu esposo. Pouco depois, em 1854, as duas fugitivas refugiam-se em Londres e, por lá permanecem, até 1856. quando aí casou, em segundas núpcias, D. Antónia, com Francisco José da Silva Torres, seu secretário.
Em 1880, ficou novamente viúva.
Voltando ao Duque de Saldanha em 1870 (com 80 anos), faz um novo golpe (a Saldanhada) que o mantém no poder até ser afastado por D. Luís. Vai então para Londres, como embaixador, onde falece em 1876 com 86 anos.
É legítimo, neste contexto, destacar também a Rua Luz Soriano (1802-1891), que perpetua a figura do historiador autor da incontornável “História do Cerco do Porto”. Mas, para lá das individualidades, era de toda a justiça destacar o esforço colectivo de toda a população da cidade. E, por isso mesmo, e tendo em conta a forma firme, “o denodo e resignação com que os portuenses valorosamente resistiram ao apertado sítio de 1832 e 1833”, a Câmara do Porto anunciará em13 de Junho de 1838 a criação da Rua da Firmeza. Já a Rua do Heroísmo evoca os episódios que se viveram no decisivo dia 25 de Julho de 1833 quando, pressionado pela abertura de novas frentes liberais, no Algarve e em Lisboa, o Marechal de D. Miguel, Luís de  Bourmont, lança contra a cidade um poderosíssimo ataque com todas as suas forças disponíveis, em várias frentes, de Campanhã à Foz. Foi dos momentos mais difíceis e cruciais do Cerco mas, após nove horas de intensos combates, os miguelistas seriam derrotados. A partir daí, e até ao dia 18 de Agosto, a iniciativa do contra-ataque passou para os liberais que, com sucessivas vitórias em Gaia, S. Mamede de Infesta (onde se localizava o principal reduto militar absolutista), Avintes e Valongo, acabam por romper o Cerco e assegurar a vitória do Porto, de D. Pedro, da Liberdade e do Liberalismo. No ano seguinte, em 1834, era aberta a Rua da Alegria, comemorando com alegria a vitória das armas constitucionais”.
Com a devida vénia a Joel Cleto





Na sequência da Guerra Civil do qual D. Pedro IV se sagrou vencedor, derrotando e condenando ao exílio o seu irmão D. Miguel (bisavô do nosso contemporâneo D. Duarte Pio), a cidade pretendendo homenagear os "gloriosos" acontecimentos, alterou a toponímia naquela que foi, presumo, a primeira mudança de toponímia significatica.
A maioria delas caíram já em desuso, mas algumas prevaleceram até à actualidade.
Mas sigamos com o que surge publicado no Periódico dos Pobres no Porto em 20 de Novembro desse ano.
“A Illm.ª Camara Municipal desta Cidade com o fim de recordar os dias, nomes, e acontecimentos notaveis da Guerra porfiosa que cubrio de Gloria esta Cidade heroica, e de guardar um como monumento desses feitos gloriosos: resolveu em Vereação de 28 de Outubro passado que as ruas, praças e campos designados na Lista seguinte houvessem d'ora ávante as denominações ahi declaradas”.








Reorganização da toponímia no ano de 1860 e Reconversão dos nºs de Polícia




Em 20 de Abril de 1860, um Edital publicado na imprensa e em todos os lugares públicos da cidade, determinava uma reestruturação de parte da toponímia e, ainda, uma nova identificação dos prédios e casas, no que aos números de polícia dizia respeito.
A mudança encetada, em 1860, na reorganização da toponímia da cidade, teve lugar quando foi governador civil do Porto, José Freire de Serpa Pimentel (1814-1870), o 2º visconde de Gouveia.
Quanto à matéria em apreço, até aquela data, os números de polícia eram corridos, tendo passado, a partir de então, à fórmula que ainda hoje vigora; pares de um lado da rua e ímpares do outro lado.
O assunto estava, essencialmente regulamentado, entre o artigo 7º e 12º.
 
 
“Art. 7.º A numeração dos portais dos predios continua a ser collocada no centro das vergas respectivas, e indicada por uma unica serie de numeros para cada uma das ruas, largos, travessas e viellas.
Art. 8.º Os portaes que estiverem tapados ou que pertenção a janellas de pavimentos terreos, que poderem ser reduzidas a portas serão numerados.
Art. 9.º Para os terrenos dos predios arruinados, ou pardieiros proprios para edificação, se conservaram os numeros correspondentes, computando-se um por cada tres métros.
Art. 10.º Nos portais dos predios edificados de futuro em terrenos, para os quaes se não rezervassem numeros no sentido do artigo antecedente, será collocado o numero immediatamento anterior, acompanhado de uma letra, seguindo a ordem alphabetica, conforme a quantidade dos portais.
Art. 11.º Os numeros serão pintados com tinta branca sobre tarjas de fundo preto, tendo estas, sendo possivel,  29 centimetros de comprimento, e 18 d'altura; e os algarismos 11 centimetros de altura, conforme o padrão que estará patente nas respectivas administrações.
 Art. 12.º Em cada uma das ruas, travessas, e viellas, os numeros páres serão colocados do lado direito, os impares do esquerdo.
§ 1.º O lado direito de uma rua, travessa, ou viella (tanto aquém, como além Douro) será determinado nas que correrem perpendicular, ou obliquamento ao rio, pela direita do viandante, que marchar afastando-se do mesmo rio; - e nas que forem paralelas, pela direita do que marchar no sentido da corrente.
 § 2.º O primeiro numero da cada serie (ou seja par ou impar) começará sempre, nas primeiras, do ponto mais proximo ao Douro; nas segundas, no ponto onde começarem, no sentido da corrente; - de modo que naquellas os numeros augmentem afastando-se do rio, e nestas descendo-o.
 
 
Os artigos 14º e 15º traçavam a regulamentação para praças e largos, com a numeração a manter-se consecutiva.
 
 
“Art. 13.º Nos largos a serie de numeração será como até aqui consecutiva, sem separação de numeros pares ou impares, começando pela primeira porta á direita da rua principal, que em cada um desembocar.
 Art. 14.º Os pequenos largos contiguos a outros maiores, e que aproximadamente tenham de commum um quinto da sua circumferencia, considerão-se como parte dos maiores, ficando com igual denominação, e sob a mesma serie de numeros.
§ unico. Neste cazo porém o numero primeiro da serie começará sempre no largo maior.”
 
 
No mesmo Edital era também referenciada uma série de alterações na toponímia, de modo a remediar um número apreciável de incongruências.
Seguem-se, neste âmbito, os mapas elaborados pelo Governo Civil do Porto, com as respectivas alterações.




MAPA Nº 1

Mapa das ruas, largos, travessas e vielas, que prolongando-se com diversas denominações ficam agora reduzidas a uma só.








MAPA Nº 2


Mapa das ruas, largos, travessas e vielas, cujas denominações ficam alteradas para se distinguirem de outras que as tinham idênticas.








MAPA Nº3


Mapa das ruas, largos, travessas e vielas, cujas denominações ficam alteradas, para mais simplificação e facilidade.









sábado, 29 de outubro de 2016

4. Toponímia


“Foi a seguir à vitória do Liberalismo que, no Porto, se verificaram as mais profundas alterações na toponímia portuense, com a criação de novos arruamentos e a mudança de nomes de muitos outros, mas as alterações são de todas as épocas.
Assim, em sessão camarária de 15 de Julho de 1875 foram dados novos nomes a várias ruas da cidade.
Por exemplo ao Lugar da Póvoa, ou Póvoa de Cima, foi dado o nome de Largo de S. Jerónimo, actual Praça da Rainha D. Amélia.
Fora daquela zona procedeu-se às seguintes alterações deliberadas na mesma reunião: deu-se o nome de Travessa de Fernandes Tomás à antiga Travessa do Barbosa que também era conhecida por Viela da Tia Rosa, hoje, a Rua Comandante Rodolfo de Araújo; à Travessa da Feiticeira, na zona das Eirinhas, foi dado o nome de Travessa do Campo de 24 de Agosto; ao chamado Caminho do Padrão de Campanhã, que anteriormente se chamou somente Padrão passou a Rua do Prado e acabou em Rua do Heroísmo; a Rua das Eirinhas, por sua vez, substituiu a antiga Travessa da Prata, transversa à Rua da Prata.
A vereação de 1883 procedeu à seguinte alteração: a Rua do Barão de S. Cosme substituiu a antiga Viela da Nora.
A Praça de Liège sucedeu a partir de 1914 ao Largo do Monte da Luz e ainda nesse ano a actual Rua Jorge de Viterbo Ferreira era a Rua nova do Palácio de Cristal, etc.
Por exemplo, a Rua Alegre, na Foz, antes de 1891, chamou-se Rua Nova dos Prazeres. Não se sabe explicar a origem da antiga denominação mas também não se tem nenhuma justificação para a troca dos nomes.
A Rua de Cedofeita, que todo o portuense bem conhece, é uma artéria relativamente recente, tal como agora a conhecemos como grande centro comercial citadino e aglomerado urbano.
Em 1777 chamava-se Rua da Estrada, mas em 1781, já era Rua direita de Cedofeita.
A Rua de Cedofeita ia desde os Ferradores até à Ramada Alta. A partir de determinada altura, ao troço entre a igreja de Cedofeita e a Ramada Alta foi-lhe dado o nome Rua da Cruz.
Ao findar o século XVI, toda a área por onde hoje corre a Rua de Cedofeita era ainda um sítio ermo de características tipicamente rurais e que ficava muito longe da vetusta Porta do Olival aberta na muralha fernandina. No século XVIII andava a abrir-se por entre campos de cultivo e quintas uma estrada, para utilização dos viandantes que, saindo da Porta do Olival, pretendessem dirigir-se a Vila do Conde, Barcelos e Santiago de Compostela. Por esse motivo é que, em 1777, aparece num registo da Colegiada designada por Rua da Estrada. A artéria foi rasgada, como atrás se referiu, pelo meio de campos e quintas. Uma destas propriedades era a do Cruz e foi daí que veio a designação de Rua da Cruz.
Quando a esse troço foi dado o nome de Barão de Forrester (Joseph James Forrester) já a rua ia outra vez de Carlos Alberto à Ramada Alta.
Um outro enigma é o do antigo nome da actual Rua Bela da Fontinha, empinada a subir até ao Alto da Fontinha, espécie de miradouro arcaico de todo o bairro. Em tempos idos, isto, por aqui, estuava de vida e de movimento quando ainda laborava a Fábrica Social ainda agarrada ao sítio através da toponímia. Passavam as vendedeiras cantantes, entre o formigueiro de operários chapeleiros, das gentes das oficinas das Carvalheiras, no alarido estríduo dos pregões. Pois esta Rua Bela da Fontinha teve, nos tempos, velhos, a designação de Rua de Trás de Deus.
Na riquíssima e muito variada toponímia portuense houve ainda designações que nem sempre eram muito do agrado dos moradores locais. Atente-se nestes dois exemplos Travessa da Feiticeira ou, como por vezes também aparece escrito, Monte das Feiticeiras, foi a designação da actual Travessa do Campo de 24 de Agosto; e o Beco do Campo, que sucedeu a uma rua e já foi uma travessa, ali para as bandas de Azevedo de Campanhã, chamou-se Viela dos Ladrões. Há mudanças perfeitamente compreensíveis...
Mais três ou quatro exemplos. Houve um tempo em que os artífices de determinados ofícios procuravam estar o mais perto possível uns dos outros e, em certas circunstâncias, ter as oficinas ou bancas na mesma artéria. É o caso dos caldeireiros que estavam fixados na rua que ainda hoje tem a designação do ofício, apesar de, já por lá não haver caldeireiros; os bainheiros que viviam e trabalhavam na Rua da Bainharia (o to­pónimo Bainharia tem a ver com a fabrica­ção das bainhas para as espadas e assim, os bainheiros, tinham as suas oficinas e vi­viam nessa rua) é outra artéria medieval que chegou até aos nossos dias mas já sem as oficinas dos bainheiros e que no século XVIII se chamava Rua dos Violeiros, por razões óbvias; os homens que trabalhavam o ouro e a prata, e que ocupavam a Rua da Ourivesaria, infelizmente já desaparecida, etc. etc.
Os tintureiros possuíam as suas tinas na actual Travessa do Bonjardim que, por essa razão, se chamava Viela dos Tintureiros, perfeitamente identificada num registo paroquial da freguesia de Santo Ildefonso que a localiza "… defronte da Cancela Velha…".
Houve casos em que a designação de certas artérias tinha a ver com actividades que por ali perto se desenvolviam. Foi o caso da actual Rua de Álvaro Castelões que anteriormente teve o nome de Rua da Lealdade tirado, naturalmente, da Fábrica de Tabaco "A Lealdade" que funcionou por ali perto, na Rua de Costa Cabral.

Edifício da antiga fábrica de tabaco “ A Lealdade”


Acerca da Rua Chã, a explicação mais vezes usada para justificar essa designação é a de que tem este nome por ser plana. Sabemos todos os que procuramos saber um pouco mais sobre a história do Porto que também foi conhecida por Rua Chã das Eiras ou só Rua das Eiras por ser por ali que secavam os cereais do Cabido. Agora o que julgamos ser uma novidade é o que vem registado num Roteiro da Cidade do Porto, elaborado para servir de guia aos visitantes da Exposição Industrial de 1891. Na referência que lá vem à Rua Chã, diz-se que anteriormente se chamara Rua das Lyras, assim mesmo com y grego.
Quem quer que pretenda saber um pouco mais acerca da antiga toponímia do Porto dificilmente conseguirá atingir os seus objectivos se dispensar a leitura dos roteiros, insertos em velhos almanaques dos finais do século XIX, guias e elucidários, por exemplo, o “Elucidário do Viajante no Porto", publicado em 1864, que para a zona da Praça dos Poveiros e imediações nos confronta com nomes de artérias que nos trazem à memória o ambiente de ruralidade que deve ter caracterizado aqueles sítios em tempos idos: Arrabalde e Campinho, por exemplo.
Lê-se sobre esta zona uma curiosa descrição "… a estrada que da cidade do Porto conduzia, pelo lugar de Valongo, até Penafiel e Vila Real, principiava na Rua de Entre-Muros ou de Entre- Paredes, a qual ainda conserva esse nome, seguia pelo Campinho, Largo do Arrabalde, devesal do Caramujo, no ponto do Padrão, passava no Largo de Mijavelhas (actual Campo de 24 de Agosto) e indo pelo Chão dos Olivais (Rua do Bonfim) passava ao lado do monte de Godim…"
O devesal do Caramujo (lugar abundante em árvore e pastos) desapareceu quando se rasgou a Rua da Alegria. Ao certo não se sabe qual é a origem desse nome, mas o mais provável é que tenha origem no apelido de um dos dois mais importantes proprietários locais: André Gonçalves, o Caramujo, que vivia em Miragaia; e o licenciado João Alvares Caramujo. Com a designação de Caramujo houve uma rua e uma viela, que são já, coisa do passado.
A propósito do "Chão dos Olivais", nome antigo dado à actual Rua do Bonfim, era por esse "chão" que, no tempo da Quaresma, passava uma imponente Via Sacra que tinha o seu começo junto da capela de Nossa Senhora da Batalha, à entrada da Rua de Cima de Vila, e que terminava no alto do Monte de Godim, onde se construiu a igreja paroquial do Bonfim.
A actual Rua de Santo Ildefonso, antiga Rua Direita, ainda não existia como artéria, quando se deu início ao culto da Via Sacra.
A rua, que também teve o nome de 23 de Julho, em memória do combate da Ponte de Ferreira, em Valongo, travado entre liberais e absolutistas durante a guerra civil (1832/33), foi rasgada ao longo de terrenos que faziam parte do Campo dos Trapeiros, no lugar da Pocinha, e daí que a sua primeira designação tivesse sido a de Rua dos Trapeiros.
Tomando como ponto de partida a Praça da Batalha, ao tempo em que ainda lá existia a Capela de Nossa Senhora da Batalha, quem, ainda no século XVIII, se dirigisse na direcção do Norte tinha obrigatoriamente que meter por uma estreita artéria chamada Viela dos Matos, posteriormente crismada de Viela do Adro (do adro da igreja de Santo Ildefonso) que dava acesso à actual Rua de Santa Catarina.
Por aqueles tempos, os terrenos compreendidos entre as actuais ruas de 31 de Janeiro e de Santa Catarina ainda não estavam totalmente urbanizados. Faziam parte de quintas ou eram terrenos de cultivo e lavradio. A dona das mais importantes parcelas era a D. Antónia Adelaide Ferreira, a célebre Ferreirinha da Régua.
Onde foi construído o edifício do actual Grande Hotel do Porto havia a Viela das Pombas, que é hoje uma rua com o nome de António Pedro. Em tempos idos, esta artéria tinha ligação com a desaparecida Viela da Neta, que foi substituída, em parte, pela moderna Rua de Sá da Bandeira. A Viela da Neta tinha também ligação com a actual Rua Formosa, numa altura em que a esta artéria se dava a popular designação de Rua do Enforcado. Esta denominação andava ligada a um triste episódio que ocorreu por ali e teve como protagonistas um galego e a sua ama. Aquele assassinou a patroa para a roubar. Não tardou a ser preso e a forca, onde foi condenado a morrer, levantou-se em frente à casa da ama. Depois da execução, a cabeça e as mãos do galego ficaram pregadas na forca por muito tempo…”.
Nas imediações do Campo 24 de Agosto, a Rua Cidália Meireles, foi Viela do Preto e depois Rua do Castanheiro aparecendo em 1843 como Travessa do Castanheiro e dois anos depois como Viela do Castanheiro.
A leitura de um pequeno opúsculo, impresso nos finais do século XVIII, em que se relata a passagem pelo Porto de um arcebispo de Braga, dá-nos conta de alguns topónimos antigos interessantes.
O arcebispo era D. Gaspar, filho natural de D. João V, um dos "meninos da Palhavã" por conjuntamente com mais dois irmãos naturais, D. António e D. José terem habitado um palácio que ficava no sítio da Palhavã, em Lisboa.
Como é geralmente conhecido, por aquele tempo, a altas dignidades, civis ou religiosas, que se dirigissem ao Porto, ou por aqui passassem, entravam na cidade pela Porta Nova ou Nobre, como também era conhecida.
Com D. Gaspar foi isso o que aconteceu mas de uma forma diferente do habitual. O arcebispo eleito de Braga começou por atravessar o rio em frente ao antigo Largo do Terreiro do Trigo, actual Largo do Terreiro onde se recolheu na capela de Nossa Senhora da Piedade, vulgarmente conhecida por capela da Senhora do Ó, onde previamente havia sido colocado pelo Vigário Geral da Sé portucalense, "cadeira, coxim e alcatifa". Ao fim de algum tempo de repouso e oração D. Gaspar, depois de ter deixado sobre o altar da pequena ermida "uma avultada esmola à santa imagem" entrou num baixel adornado de "primorosa talha dourada" e rumou à Porta Nobre para, então aí, fazer a entrada solene na cidade.
Consta do referido opúsculo que D. Gaspar após transpor aquela porta prosseguiu pela "Tanoaria da Fonte da Rata". Trata-se de uma fonte que ficava ao fim da Rua da Arménia também conhecida por Fonte da Tanoaria por o seu tanque ser utilizado pelos tanoeiros que ali tinham as suas oficinas, para amolecerem as aduelas com que construíam as pipas. Muito perto daquela fonte havia outra chamada Fonte dos Banhos ou do Sargento dos Banhos. Este epíteto tinha origem numa figura esculpida em pedra representando um militar com aquela patente.
Passada a Fonte da Rata, o cortejo episcopal prosseguiu pelas já desaparecidas Rua dos Banhos e Rua da Ourivesaria, junto a S. Nicolau.
Esta última em 1860 daria lugar à Rua de S. Nicolau já desaparecida. Perto destas duas artérias ficava o famoso Postigo de Álvaro Gonçalves da Maia, que foi uma importante figura do seu tempo tendo desempenhado, entre outros, o importante cargo de vedor da Fazenda Real e o Postigo de João Pais. Julga-se que aquele Postigo de Álvaro Gonçalves da Maia, situado num ponto estratégico da urbe ribeirinha, onde se desenvolvia uma intensa actividade fluvial ligada ao comércio, foi o primeiro local da toponímia portuense a receber o nome de uma importante figura da cidade.
Aquela Rua dos Banhos anterior­mente teria tido a curiosa designação de Rua das Boas Mulheres dos Mesteres
Dizem as crónicas que o cortejo subiu pelas Congostas, sítio pedregoso e empinado, muito citado por Camilo nos seus romances, que ficava (próximo) onde depois se rasgou a moderna Rua de Sousa Viterbo. Havia por aqui uma famosa fonte que tomou o nome do lugar e que foi demolida entre 1882 e 1883, quando se começou a abrir a Rua de Mouzinho da Silveira.
O séquito de D. Gaspar passou, a seguir, pelos Arcos de S. Domingos, que é como quem diz, diante da frontaria do extinto mosteiro da Ordem que tinha aquele santo como padroeiro, e onde estavam os famosos arcos, e atravessou a Praça de Santa Catarina que era o actual Largo de S. Domingos.
A designação de Santa Catarina, dada ao largo em referência, era reforçada pela existência de uma imagem daquela padroeira colocada num nicho aberto na fachada de um prédio já desaparecido. A imagem ainda existe. Está no interior do estabelecimento da papelaria Araújo & Sobrinho. Recorda-se que a actual Rua das Flores começou por se chamar, por causa da veneração daquela santa, pelo bispo que então habitava a Sé, aquando da abertura daquela rua, Rua de Santa Catarina das Flores.
A descrição do itinerário do arcebispo já dentro dos muros da cidade refere outros curiosos topónimos entretanto e lamentavelmente desaparecidos.
Por exemplo: Vale de Pegas, uma zona que ficaria entre a entrada das já mencionadas Congostas, junto à Rua Nova, actual Rua do Infante D. Henrique, e a beira-rio (actual Rua de S. Nicolau); a Rua do Reguinho, actual Rua de S. Francisco (onde nasceu o escritor Júlio Dinis), perto da qual havia outra fonte famosa, a Fonte do Touro; e as Ruas da Almeia e da Munhota; a do Calca Frades e a da Revolta.
Todos estes arruamentos desapareceram quando se abriu a Rua Nova da Alfândega.
Muitos outros topómimos da cidade despertam curiosidade: Rua do Nogueira, actual Padre José Pacheco do Monte; Rua da Costibela (Martim Moniz, para as bandas da Vilarinha); Viela do Espartete que foi também Rua Nova dos Prazeres (Rua Alegre, na Foz velha); Beco do Preto junto à Alfândega; Viela da Galinha (Calçada da Boa-Viagem; Rua do Olho-Vivo (Antero de Quental), etc.
Na freguesia de Paranhos, podem observar-se algumas curiosidades toponímicas a Rua do Visconde de Setúbal teve, antigamente, a designação de Viela dos Espinheiros; a Rua do Almirante Leote do Rego era a Rua Nova do Monte Louro; Rua da Bica Velha era como se chamava a actual Rua de Nove de Abril; a Rua de Ribeiro de Sousa foi a Rua do Paiol e Viela da Palha (Viela da Palha foi também a Rua do Amparo na freguesia do Bonfim); em 1932 a Calçada do Campo Lindo passou a ter a designação de Rua do Dr. Pedro Dias; dois nomes diferentes, teve a Rua do Dr. Carlos Ramos que começou por se chamar Viela do Amial e, depois disso, foi Rua do Sport Progresso; ligada ao topónimo Currais anda a actual Rua da Diamantina que anteriormente se chamou Travessa de Currais; a conhecida Rua do Alto teve em tempos idos a curiosa designação de Rua do Alta da Rabeca e a Viela do Covelo foi a partir de 1930 a Rua do Bolama, adjacente à Quinta do Covelo.
Como topónimos mais antigos teremos: Lueda a Noeda dos nossos dias; Petras Fixilis nas Antas, na Avenida dos Combatentes; Paramos que é Paranhos; Barrosam as Barrocas, lugar de Paranhos; Petram Furatam, Pedra Furada, actual lugar do Regado.
Muitos são os casos de topónimos desaparecidos: Rua da Senhora do Ferro, na Sé; Rua da Pamparona, na Foz e Rua da Rosa, em S. Nicolau. Ainda nesta freguesia ficava a Travessa da Estrela.
E havia a Rua dos Coutos para as bandas do Campo Alegre; o Sítio do Agueto, no Amial e no Ouro ficava a Calçada do Gás. A Travessa da Donatária era em Cedofeita.
A todas estas verdadeiras delícias juntem-se, agora, os nomes de algumas vielas: Viela do Cadavais, na Sé e Viela das Panelas em S. Nicolau”.
Com a devida vénia a Germano Silva

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

(Conclusão) - Actualização em 24/10/2017


3.14 Antão de Almeida Garrett


Antão de Almeida Garrett nasceu no Porto em 29 de Março de 1896 e morreu em 1961. Era filho de Francisco Xavier de Almeida Garrett, funcionário da Direção-geral dos Caminhos de Ferro do Minho e do Douro e poeta, e de D. Maria Margarida Amália da Costa e Almeida de Oliveira Maia, filha do advogado e político Delfim Maia, e neto, por via paterna, de Tomás de Aquino de Almeida Garrett e de D. Luísa Antónia Patrício Botelho de Lacerda Bacelar. Entre os seus nove irmãos destacaram-se o professor e médico António de Almeida Garrett (1884-1961) e o capitão de mar e 2.º visconde de Almeida Garrett, Tomás de Aquino de Almeida Garrett (1883-1929).
Integrou o Exército durante a frequência do curso de Engenharia Civil na Faculdade Técnica da Universidade do Porto, distinguindo-se como oficial do Corpo Expedicionário Português na I Guerra Mundial (1914-1918).
De volta ao Porto, concluiu a licenciatura na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto e começou a leccionar nessa faculdade. A 19 de julho de 1930 tomou posse como assistente do 1.º grupo - Construções Civis - e a 8 de setembro de 1934 assumiu funções como professor catedrático do mesmo grupo.
A 10 de maio de 1943 doutorou-se em Engenharia na mesma Faculdade, onde desempenhou também as funções de secretário, de diretor (tomada de posse em 1946), de bibliotecário (tomada de posse em 1950), de diretor do Museu e Gabinete de Materiais e Construções Civis e do Centro de Estudos de Engenharia Civil e de delegado dos professores catedráticos ao Senado da Universidade.
O engenheiro Antão de Almeida Garrett que tinha tido um papel relevante nas relações da Câmara Municipal do Porto com os arquitectos Marcello Piacentini e Giovanni Muzio e, por isso tinha acompanhado e colaborado nos estudos então realizados por esses técnicos, é encarregado em 1945 de elaborar o Anteplano Regional do Porto. Entregue em Dezembro de 1946 é aprovado ministerialmente em Julho de 1950. Esse Anteplano irá ter continuidade no Ante Plano de Urbanização e no Plano Regulador do Porto, que Almeida Garrett irá elaborar entre 1947 e 1952. Será aprovado em 1954. Em 1954, durante a abertura solene das aulas na Universidade do Porto, proferiu a oração de sapiência intitulada “A Universidade, a urbanização e a cidade do Porto”.
Em 1955 publica também o Plano Regulador da Cidade de Coimbra.
Em 1960, associou-se às Comemorações Henriquinas da Universidade do Porto proferindo uma conferência sobre O Manuelino e os Descobrimentos.
Ficaram por concluir os estudos preliminares do Planeamento Urbanístico da Região Noroeste.







Arnaldo Gama era filho do advogado portuense Bento Dantas da Gama que o encaminhou, desde sempre, para a área do Direito.
Foi um aluno brilhante e acabaria por se formar, em Coimbra, em 1853, de acordo com a vontade do pai. Preparado para exercer a advocacia haveria, no entanto, por abraçar a actividade de escritor e jornalista.
Em 29 de Março de 1852, esteve envolvido, como outros portuenses, na tarefa de salvamento dos náufragos do vapor Porto. Pelas provas de valentia seris agraciado com a distinção de “Cavaleiro de Torre e Espada”.
Falecido precocemente, aos 41 anos, vítima da tuberculose, jaz em jazigo de família no cemitério da Lapa.





“Arnaldo de Sousa Dantas da Gama nasceu no Porto, no nº 208 da Rua de Santa Catarina, no dia 1 de Agosto de 1828. Morreu na mesma cidade em 29 de Agosto de 1869. Alguém sabe quem ele foi? Alguém se lembra dele? Há escritores e escritores. Arnaldo Gama era escritor e tem das páginas mais belas da literatura portuguesa. Ninguém se lembra dele, apesar de, em algum momento, até ter tido livros adoptados no ensino secundário em Portugal.
Lembrei-me hoje de escrever sobre Arnaldo Gama porque ele foi o pioneiro dos romances históricos no nosso País, ainda que se tenha centrado na História da cidade do Porto.
Bacharel em Direito pela Universidade de Coimbra, exerceu advocacia no Porto e foi redactor do jornal literárioA Península e dos jornais Porto e Carta, Conservador e Jornal do Norte, onde sustentou polémicas políticas.
Publicou poesias, contos e romances. Mas distinguiu-se nos romances históricos. Como Camilo Castelo Branco, recebeu de Eugénio Sue os primeiros exemplos para escrever novelas e o Génio do Mal, em quatro volumes (1856/57), foi a sua primeira obra, seguida de Poesias e Contos (1857) e Verdades e Ficções (1859).
Com profundo sentido histórico, respeitando a invocação, os costumes e as situações, tratando com cuidado toda a informação, Arnaldo Gama tornou-se num autor profundamente documentado e habilitado a escrever romances de raro rigor histórico, sobretudo no que respeita à cidade do Porto.
Um motim há cem anos (1861) que se reporta à revolta portuense ao tempo da criação por Pombal da Companhia de Vinhos do Alto Douro, ou “O Sargento-mor de Vilar (1863)”, sobre a tomada do Porto por Soult e o desastre da Ponte das Barcas, e “O Segredo do Abade (1864)”, sobre a resistência do Minho aos invasores, são exemplos desse rigor histórico.
“O filho do Baldaia (1866)”, “A Caldeira de Pero Botelho (1867) e Honra ou Loucura (1868”) são outros exemplos. Após a sua morte, foram publicados El-Rei Dinheiro e Balio de Leça, este último o único livro adoptado no ensino secundário.
Mas é em “A última Dona de S. Nicolau (1864)”, um romance de rara beleza, que traduz um grande saber de usos e costumes, descrevendo-os de tal modo que leva o leitor a «senti-los». E é uma obra em que apetece pedir: Por favor leiam-na!!!!
Pois, mas isso só seria possível se alguma editora aceitasse reeditar este escritor esquecido. É que, por uma vez, em lugar de livrecos sem qualquer interesse, que são diariamente vistos nos escaparates das livrarias, seria interessante que uma empresa olhasse para o panorama da literatura nacional e revisse os autores esquecidos que têm ainda tanto para dar.”
Com a devida vénia a Margarida Maria




Estátua de Arnaldo Gama, junto à muralha Fernandina, inaugurada em 1971, da autoria de Rogério Mendes de Azevedo






“Nasceu na Régua, em 1811, filha de um abastado proprietário e negociante de vinhos (José Bernardo Ferreira e de sua mulher Margarida Rosa Gil. Esta, por sua vez, era filha de um negociante galego estabelecido na Régua de seu nome Pedro Gil faleceu em 1859).
Em 22 de Outubro de 1834 casa, por conveniência, com o primo António Bernardo Ferreira, igualmente filho único e com grande fortuna. Em 1842 nasce Maria da Assunção, filha do casal. Entretanto o casal de primos desentende-se: ele vai para Paris e aí morre, em 1844.
Ela radica-se nas suas quintas do Douro.
Dada a grande riqueza da filha Maria de Assunção, o Duque de Saldanha que era, na altura, o chefe do Governo, quis casar o filho com ela. Esta tinha apenas 11 anos.
A Mãe opôs- se e, para se ver livre das insistências, transfere-se para Lamego.
Estávamos em 25 de Agosto de 1854. O filho do duque, apoiado no irmão de Maria da Assunção, tentam convencer D. Antónia na sua Quinta de Travassos (Régua).
Em 29 de Setembro seguinte, já com ela em Lamego, repetem a cena. E D. Antónia foge para Londres, onde permanece até 1856. Aí casa, em segundas núpcias, com Francisco Silva Torres. Finalmente a filha casa, em 1860, com o conde de Azambuja. O casal entrega se a uma vida libertina e esbanja a grande herança que havia herdado do pai. Acaba por abrigar-se junto da mãe, que a acolheu e ao marido.
Em 1861 dá se um naufrágio quando a abastada família de D. Antónia regressava da sua Quinta de Vesúvio à Régua. Morre o barão de Forrester (em 12.5.1861) nesse naufrágio.
Em 1870 o filho de D. Antónia (António Bernardo Ferreira), tal como acontecera à sua irmã, também abre falência. Nesse mesmo ano, a Maria da Assunção leva a mãe a tribunal, reclamando a totalidade da sua herança.
Em 1877 D. Antónia arremata vários talhões e baldios no Monte Meão, concelho de Foz Côa e constrói, aí, mais um grande império. Essa quinta pertence hoje a um seu trineto: Francisco Olazabal. O marido de D. Antónia morre em 24 de Junho de 1880.
Ela morre em 26 de Março de 1896 na sua Quinta das Nogueiras (Régua). Era a maior proprietária do Douro, com mais de vinte quintas, com capacidade para mais de 1500 pipas. Na época a sua fortuna estava avaliada em 5.907 contos. Era das maiores do país. Manuel Carvalho que fez o relato que nos serve de base, na revista Pública, de O Público, de 9/2/97, escreve: "no dia do seu funeral, os 4 kms de distância entre a Quinta das Nogueiras e o Cemitério da Régua estavam pejados de populares que ajoelhavam à passagem do cortejo, chorando a morte de uma "santa" e de uma "mãe dos pobres".
Em 1996 o historiador Gaspar Martins Pereira publicou um livro sobre a história desta importante família Duriense, para o que contou com a colaboração de Maria Luísa Nicolau de Almeida Olazabal que durante dez anos pesquisou em busca de uma investigação que ressuscitou uma grande Mulher: Dona Antónia Adelaide Ferreira”.
In Dicionário dos mais ilustres Trasmontanos e Alto Durienses



Durante boa parte dos seus últimos dias dedicou-se à sua obra benfeitora, ajudando a construir os hospitais de Peso da Régua, Vila Real, Moncorvo e Lamego. Mandou construir no Moledo um palácio para acolher o Rei D. Luiz, as termas, a piscina e um fabuloso parque. Ajudou a Misericórdia do Porto, ficando esta obrigada a socorrer qualquer familiar seu.
Em complemento diga-se que a filha de D. Antónia, Maria da Assunção torna-se Condessa de Azambuja ao casar em 1860 com Augusto Pedro de Mendonça Rolim de Moura Barreto, 3.º conde de Azambuja, vindo o casal ter 12 filhos, quatro rapazes e oito raparigas, a última das quais Maria Luísa vem a casar com o espanhol Ramon de Olazabal y Eulate, 2º conde de Arbelaiz y Oria. 








“De seu nome completo, Augusto Soares de Azevedo Barbosa de Pinho Leal, atravessou a vida, de forma aventurosa e envolto nalgum mistério. Desde logo, o local do seu nascimento está envolto nalguma bruma... Penamacor, Romariz, no concelho de Sta. Maria da Feira (onde casou) e Belém em Lisboa surgem como candidatos... Mas foi em Lisboa que realmente nasceu em 1816 e o seu nome fica para a posteridade sobretudo como um perseverante investigador e estudioso da realidade do Portugal de oitocentos, da sua história, as lendas, os mitos, os usos e costumes das populações, as instituições, os monumentos, a onomástica e a toponímia e muitas outras realidades, compiladas em 18 volumes sob o título, extenso e poético, “Portugal antigo e moderno, diccionário geográphico, estatístico, chorographico, heraldico, archeologico, historico, biographico e etymologico de todas as cidades, villas e freguesias de Portugal e grande número de aldeias”, publicados a partir de 1873. Miguelista convicto e aventureiro impenitente logo após o nascimento foi levado para Penamacor, onde residiam seus pais e onde foi baptizado. Ora, e aqui fica esclarecida uma parte do mistério que envolve o local do nascimento, segundo o direito canónico era necessária uma autorização do Bispo para alguém ser baptizado numa paróquia diferente da da residência dos pais. Daí a omissão do local de nascimento que tanta confusão gerou... Quanto à data, é natural que seja 16 de Outubro, como o próprio Pinho Leal afirma. Convém ter presente que o Direito Canónico exigia ser o baptizado realizado até 8 dias após o nascimento, sob pena de sanção. Como o baptizado foi a 30 de Novembro, o pároco deve ter retardado a data para mais ou menos 8 dias antes do baptizado, ou seja, para 21 de Novembro, com o intuito de evitar sanções. Em Penamacor passou os primeiros anos da infância. Aos 6 anos seguiu com os pais para o Brasil. Voltando a Portugal, que correu de Norte a Sul, “aos dez anos já tinha percorrido 2 500 léguas”.
Assentou praça em Caçadores 4, em Castro Marim e em 1826 foi para Ayamonte, Espanha. Aos 12 anos emigrou para Arnedo, Espanha, voltando pouco depois a Lisboa, onde se matriculou no Colégio dos Nobres, que frequentou durante um ano.
“Transferindo-se para o Porto, cursou Matemáticas na Academia da Marinha e Comércio. Aos 18 anos participou, como Alferes, na Batalha da Asseiceira, onde foi ferido por uma bala e feito prisioneiro pelos constitucionalistas. Em consequência da Convenção de Évora-Monte, foi libertado, em Junho, do Castelo de S. Jorge, onde se encontrava preso. Várias destas andanças foram relatadas por carta a Camilo Castelo Branco, seu amigo, que as publicou nos seus romances “A Brasileira de Prazins” e “A Viúva do Enforcado”. Desanimados com a evolução dos acontecimentos políticos, pois os absolutistas haviam perdido a guerra civil, Pinho Leal e seu pai, agora tenente quartel-mestre, renunciam à carreira militar e retiram-se para Paradela e mais tarde para Louredinho, Vale, Santa Maria da Feira, onde seu pai foi apunhalado por um liberal como represália política, ficando paralizado e vindo a falecer em 24 de Dezembro de 1838.
Orfão e na miséria, Pinho Leal passa horas de cruel angústia em Louredinho, até porque tinha a mãe doente.
A 26 de Setembro de 1839 casa com Maria Rosa de Almeida da casa do Castro do Carvalhal, em Romariz, Santa Maria da Feira, dedicando-se à pintura e ao restauro de imagens antigas. Em 1840, ao pintar a Igreja de Stª Eulália, em Arouca, encontrou na livraria do pároco o "Diálogo de Vária História" de Pedro Muniz, que devorou, surgindo-lhe daqui a ideia de escrever aquela que viria a ser a sua grande obra subordinada ao tema da história. O momento não podia ser mais oportuno, uma vez que em 1846 estalava a revolta da Maria da Fonte, logo seguida da Patuleia. Como tinha sido promovido a Capitão a 1 de Dezembro de 1846, parte então para o Norte nessa qualidade, sendo feito prisioneiro em Trás-os-Montes, pelos cartistas.
Ao seguir para o Porto, sob prisão, na travessia do Douro, na zona da Régua, os barqueiros desarmam os guardas, mesmo no meio do rio, e dão fuga aos prisioneiros, voltando Pinho Leal para a sua casa, no Carvalhal. Por esta altura é nomeado sub-delegado do procurador régio no julgado de Fermedo, onde era juiz o Dr. José Joaquim de Oliveira Valente, tal como ele Miguelista, mas com o qual se incompatibilizou.” 
Ainda não tinha desistido de escrever um dicionário. O que não tinha era dinheiro. A oportunidade apenas surgiu bastante mais tarde...
Em 1860, graças ao valimento de um amigo e aos seus dotes de calígrafo que lhe permitiam imitar facilmente escritas e assinaturas alheias, consegue a administração da Casa do Covo, em Oliveira de Azeméis. O Conde do Covo tinha prazos em quase todas as províncias de Portugal. Isto permitirá ao nosso herói percorrer todo o país, recebendo foros e renovando contratos. Nas horas vagas, visita arquivos e recolhe elementos para a obra que projectara. Numa dessas viagens, Pinho Leal, que como poucos conhecia geologicamente o país e muito se dedicava ao estudo de minas, descobriu os jazigos de Carvão de Castelo de Paiva. Por essa descoberta, sustentou, durante anos, duro pleito judicial em Lisboa. Ganhou a questão e vendeu por quatro contos de réis os seus direitos de descobridor, instalando-se em Lisboa (1865). Ao fim de 6 anos regressa ao Carvalhal com um volumoso dossier, e durante os 7 anos seguintes mais não faz do que pôr em ordem os seus apontamentos e escrever cartas a toda a gente, conhecida e desconhecida, pedindo informações, a partir do Carvalhal em Romariz.
 Em 1873, parte de novo para Lisboa para acompanhar a publicação da sua obra mais de perto, o que só foi possível graças à influência de Camilo Castelo Branco e à boa vontade do seu editor e amigo Mattos Moreira. 
Aquando da publicação do X volume do seu dicionário de história, adoece gravemente, retirando-se para o Porto, onde veio a falecer em 2 de Janeiro de 1884, na Rua de Serralves nº 771, sendo sepultado no cemitério Ocidental – Agramonte.
Os últimos volumes da obra foram já coligidos pelo seu amigo Pe Pedro Augusto Ferreira, abade de Miragaia, em 1890. Além do « Portugal Antigo e Moderno » e de colaboração na imprensa periódica do seu tempo, Pinho Leal publicou o “Manual Jurídico do Mineiro” e, sob o pseudónimo de Patrício Lusitano e de parceria com Pedro Augusto Ferreira, abade de Miragaia, “Maria Coroada ou o Cisma da Granja do Tedo e que foi publicado em 1879.””. 
Fonte: valedejaneiro.blogspot; pt.wikipedia.org





Casa onde morreu Pinho Leal - Ed. Francisco Mesquita Guimarães




3.18 Joaquim Cardoso Vitória Villanova



“Joaquim Cardoso Vitória Vilanova nasceu no Porto na última década do século XVIII. No assento de óbito lê-se como datas prováveis para o seu nascimento os anos de 1792 ou 1793. Faleceu em 1850.
Foi Litógrafo e Professor.
Em 1836 foi nomeado substituto de Desenho da Academia Real de Marinha e Comércio da Cidade do Porto. Dois anos mais tarde, em 1838, era lente da Academia Politécnica do Porto, instituição onde assumiu as mesmas funções.
Desenvolveu uma carreira artística em paralelo com a docência. Foi produtor de pintura, gravura e desenho e, sobretudo, de litografia, sendo considerado um dos pioneiros desta técnica na cidade do Porto depois de João Baptista Ribeiro.
Conhece-se uma obra de pintura da sua autoria e sabe-se que criou cerca de uma dezena de gravuras entre 1819 e 1839 - registos de santos, mapas, ilustrações de livros e alegorias, destacando-se o registo de Nossa Senhora da Boa Nova Protectora dos Comerciantes (estampada em 1819).
Joaquim Vilanova é autor dos 102 desenhos a tinta-da-china e aguada sobre papel que compõem o álbum Edifícios do Porto em 1833 (editado pela Biblioteca Pública Municipal do Porto em 1987), destinados a ilustrar uma obra sobre a cidade, de José Nogueira Gandra. Estes desenhos representam 80 monumentos de diferentes épocas e estilos, alguns dos quais ainda se encontram inacabados. São exemplo o edifício da Academia Politécnica do Porto e o Hospital da Santa Casa Misericórdia do Porto. Foram elaborados através de observação direta e concluídos em oficina.
Em 1835, Joaquim Vilanova realizou e gravou desenhos para a Tipografia Comercial Portuense. Foram publicados no Tratado Elementar de Geografia Astronómica, Física e Histórica Antiga e Moderna da autoria de D. Jozé de Urcullu. Gravou o retrato de Voltaire que surge nos Romances de Voltaire e um mapa de Portugal, reproduzido no Quadro Geral de História Portugueza segundo as épocas de suas revoluções nacionais (1840).
Há notícias da sua atividade como litógrafo nas coleções da Biblioteca Pública Municipal do Porto. Há, também, referências de Pedro Vitorino e Henrique Campos Ferreira Lima acerca da existência de várias dezenas de obras executadas entre 1835 e 1850, a partir de originais seus ou da autoria de pintores como José Alves Ferreira Lima ou José de Sousa Bandeira. Trata-se de retratos de personagem liberais como D. Pedro IV ou José Nogueira Gandra; litografias de monumentos, vistas da cidade do Porto, ilustrações para livros, cópias de quadros e litografias para publicações periódicas.
Em 1847 Joaquim Vilanova surgiu como declarante no livro dos proprietários das Typographias e Lytographias, embora o seu estabelecimento, sito na já desaparecida rua do Campo Pequeno, fosse certamente anterior a essa data.
Em 1843 foi agraciado com a comenda da Ordem de Cristo”.
Fonte, Site: sigarra.up.pt




Praça da Ribeira e as ruas de S. João e dos Mercadores em 1833 – Ed. J. Villanova 






3.19 Joaquim Vitorino Ribeiro

Em 24 de Julho de 1928 morre, na sua casa das Cavadas, o pintor Joaquim Vitorino Ribeiro. O seu nome foi dado à antiga Travessa das Cavadas e segundo Eugénio Andrea da Cunha e Freitas, “Toponímia Portuense”, p. 124, “as suas colecções de arte estão no Museu Soares dos Reis e outros, e a sua rica biblioteca, cheia de periódicos raros, está dividida, mas, a parte da Biblioteca Pública, cheia de periódicos raros, tem a cota começada por VR-, a sigla de Vitorino Ribeiro”.



“Joaquim Vitorino Ribeiro, filho de António Vitorino Ribeiro e de Joaquina Rosa de Jesus, nasceu no Porto em 1849.
Frequentou a Academia Portuense de Belas Artes onde estudou Desenho e Pintura e foi discípulo de João Correia.
No final de 1873 prosseguiu os estudos em Paris, na Escola Nacional de Belas Artes, primeiro com subsídio particular, depois como pensionista do Estado. Nesses tempos, foi aluno de Alexandre Cabanel (1823-1889), alcançou medalhas e menções honrosas e foi elogiado pelos mestres Adolphe Yvon (1817-1893), Jean Leóne Gerôme (1824-1904) e Gustava Boulanger (1824-1888). Fez amizade com Armand Dayof (1851-1934), crítico de arte e inspetor de Belas Artes, e teve por companheiros outros artistas conterrâneos, como Soares dos Reis, Silva Porto, Marques de Oliveira, Henrique Pousão e Artur Loureiro.
Durante os dez anos que passou em França, o seu mestre tê-lo-á solicitado a naturalizar-se francês, proposta que declinou.
Expôs em vários certames, nomeadamente no Salon. Estreou-se neste evento em 1879, com o quadro "Cristo no túmulo", que recebeu boas críticas. Em 1880 expôs "O Mártir Cristão", obra de 1879 referida no jornal "Le Figaro" e que denota influências simbolistas, e "Camões e o Jau", ambas reproduzidas em "l’ Illustration" e "L’ Universe Illustration".
De regresso ao Porto, em 1889, foi nomeado, após concurso público, Conservador da Galeria de Arte da Santa Casa da Misericórdia do Porto, ficando responsável pela instalação de um espaço museológico na galeria desta instituição. Este espaço fora planeado para o pátio interior da Misericórdia pelo Engenheiro António Maria Kopke de Carvalho e destinava-se à exposição de 300 pinturas da Misericórdia. Vitorino Ribeiro ficou também incumbido de zelar pela manutenção e conservação do museu, assim como de produzir novas pinturas, particularmente quadros dos benfeitores da Misericórdia do Porto. Para este propósito, concebeu mais de duas dezenas de retratos, entre os quais o de D. Manuel II (1908).
A sua obra pictórica, fora da Misericórdia, fez-se de composições históricas e religiosas, entre as quais o "Claustro da Sé do Porto", a "Chegada de Vasco da Gama à Índia", o "Portal de Paço de Sousa", a "Igreja de S. Francisco", "Almeida Garrett de sentinela à porta do Convento dos Grilos", trabalhos originais nos temas abordados e na estética.
Vitorino Ribeiro foi também um grande colecionador, reunindo em casa um vasto conjunto de estampas, desenhos, gravuras, louças raras e outros objetos de arte, para além de peças e documentos militares (armas, bandeiras, condecorações, uniformes, etc.), testemunhos das Invasões Francesas e das Lutas Liberais.
Esta última coleção constituiu o grosso da mostra que marcou no Porto as comemorações do I centenário da Revolução de 1820, inaugurada a 24 de Agosto de 1920 no Teatro de S. João e cujo sucesso fundamentou a aspiração de se instituir na cidade um museu histórico e militar.
Morreu no Porto em 1928.
Nove anos depois do seu falecimento, os seus descendentes, dececionados com a não concretização do museu militar portuense, ofereceram o espólio de história bélica do pai ao Museu Militar de Lisboa. Porém, no final dos anos 50 foi retomado o projeto de criação, no Porto, daquele espaço museológico, que avançou nos anos 70. O Museu abriu no pós 25 de Abril de 1974, na sede da extinta PIDE-DGS sita na rua do Heroísmo. Em 1981, o Museu recebeu a coleção Vitorino Ribeiro.
A restante parte do seu espólio foi incorporada no Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa, na Biblioteca Pública Municipal do Porto e no Museu Nacional de Soares dos Reis, no Porto”.
Fonte: “sigarra.up.pt”




Almeida Garrett de sentinela à porta do convento dos “Grilos” em óleo do pintor Vitorino Ribeiro – Fonte: “gisaweb.cm-porto.pt”





Na Rua das Cavadas c. de 1910 - Fonte:facebook.com/PortoDesaparecido




Na foto acima está o pintor Joaquim Vitorino Ribeiro, encostado às escadas exteriores de sua casa, com seu filho Pedro Vitorino. Ao cimo das escadas estão a sua mulher, sua nora e seu filho, o arquitecto Emanuel Ribeiro.




Rua Joaquim Vitorino Ribeiro e a casa do pintor – Fonte: Google maps




Joaquim Vitorino Ribeiro na sua casa da Rua das Cavadas, em 1887 – Fonte: Architectours Porto - Urban Geography

 
 
Na foto acima, Joaquim Vitorino Ribeiro está acompanhado de sua mulher (sentada), sua mãe (de pé) e os seus dois filhos.




3.20 Pedro Vitorino




“Joaquim Pedro Vitorino Ribeiro nasceu no n.º 204 da Rua do Bonfim, a 20 de Janeiro de 1882. Era o mais velho dos três filhos do pintor e colecionador Joaquim Vitorino Ribeiro e de D. Lucinda Lucrécia de Freitas Ribeiro.
Entre 1895 e 1902 estudou no Liceu Central do Porto, onde fez todos os exames, com exceção do exame de Alemão, que foi realizado no Liceu Central de Braga (1904). Passou, ainda, pelo Instituto Industrial do Porto (1901-1902).
Logo de seguida, frequentou a Academia Politécnica do Porto (1902-1905), tendo acompanhado a "Estudantina Académica do Porto" numa digressão à Galiza, em 1902.
Deste estabelecimento de ensino transitou para a Escola Médico-Cirúrgica do Porto, onde, em 1910, concluiu o curso de Medicina com a defesa da tese "Socorros de urgência - Breves Notas". De seguida, partiu para Paris, onde se especializou em Radiologia.
Em 1919, foi nomeado clínico auxiliar da Santa Casa da Misericórdia e chefe do Laboratório de Radiologia e Fotografia da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, onde, desde 1913, exercia as funções de chefe do Gabinete de Fotografia e Eletroterapia.
Em paralelo com a formação académica e a carreira médica, desenvolveu muitas outras atividades humanitárias e culturais. Foi militar (voluntário de Infantaria em 1901, alferes em 1911, tenente-médico em 1915 e capitão em 1918), tendo chegado a participar na I Guerra Mundial, pois integrou como capitão-médico miliciano o Corpo Expedicionário Português que partiu para Paris em Abril de 1918.
Trabalhou no Museu Municipal do Porto (1922-1938), onde desempenhou as funções de conservador e Vice-diretor, mas abandonou esta instituição em 1938 para assumir o cargo de chefe dos Serviços de Radiologia da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.
Enquanto estudioso e divulgador da História, da Pintura e da Arqueologia do Porto, Pedro Vitorino produziu um extenso conjunto de livros e artigos editados em diversas publicações periódicas. Foi autor, entre outras obras, de José Teixeira Barreto, Artista Portuense (1925), Cerâmica Portuense (1930), Os Museu de Arte do Porto (1930), Iconografia Histórico-Portuense (1932), Notas de Arqueologia Portuense (1937) e Invasões Francesas (1945).
Colaborou com as publicações "O Lusitano" e o "Estudante" e na revista "Pétalas" (com o pseudónimo Victor Nerêo, que usou em alguns dos primeiros trabalhos), com revistas e jornais como "O Arqueólogo Português", "O Tripeiro", a "Águia", a "Revista de Estudos Históricos" da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, a "Revista de Guimarães", o "Arquivo Nacional de Ex-libris", a "Ilustração Moderna", o "Museu", o "Boletim Cultural da Câmara Municipal do Porto", o "Boletim do Salão Silva Porto", a "Feira da Ladra", o "Boletim do Douro-litoral", o "Jornal do Médico", os "Arquivos de História da Medicina Portuguesa".
Foi bombeiro da Associação dos Bombeiros Voluntários do Porto, Irmão e Mesário da Santa Casa da Misericórdia do Porto. Integrou a Comissão Provincial de Etnografia e História da Junta de Província do Douro-litoral e pertenceu ao núcleo organizador do Museu de Etnografia e História dessa Junta. Foi oficial da Ordem de Cristo, sócio correspondente da Academia Nacional de Belas-Artes, membro do Instituto de Coimbra, do Instituto de Arqueologia, História e Etnografia da Associação dos Arqueólogos Portugueses; foi, também, membro da Sociedade de Antropologia e de Etnologia do "Comité Internationale d’Histoire des Sciences".
Esta personagem multifacetada, culta e discreta, que se costumava apresentar de chapéu preto redondo, com abas voltadas para cima, bigode curto e gravata preta, faleceu numa trágica colisão entre o automóvel do seu condiscípulo e amigo, Dr. Ferreira Alves (fundador do sanatório de Francelos e da clínica Heliantia), onde ambos viajavam, e um comboio de mercadorias, na passagem de nível de Francelos, Vila Nova de Gaia, na noite de 10 de Novembro de 1944”.
Fonte - Site: “sigarra.up.pt”



O Museu de Etnografia e História que funcionaria a partir de 1945 no Palacete de S. João Novo, do Costa Lima, haveria de ser organizado com material recolhido pelo Dr. Pedro Vitorino, antes do seu falecimento.
Possuidor de um vasto património iconográfico e de uma extensa biblioteca, a qual se encontra conservada, em parte, pela Biblioteca Pública Municipal do Porto, Pedro Vitorino viveu com o irmão, em Contumil, na casa que pertencera ao pai e que acabou por se converter na Casa-Museu Vitorino Ribeiro.





3.21 Nicolau Nasoni

 
Nicolau Nasoni (San Giovanni Valdarno, Toscana, 2 de Junho de 1691 – Santo Ildefonso, Porto, 30 de Agosto de 1773) foi um artista, decorador e arquitecto italiano que desenvolveu grande parte da sua obra em Portugal, sendo considerado um dos mais significativos arquitectos da cidade do Porto.
Com actividade em Siena e Roma, passou também por Malta onde teria contactado com diversos fidalgos portugueses e importantes personagens ligadas à Igreja Católica, entre eles, Roque Távora e Noronha, irmão do então deão da Sé do Porto D. Jerónimo Távora e Noronha. Foi certamente pela recomendação do seu irmão que o deão da Sé terá convidado Nicolau Nasoni a deixar a ilha de Malta e partir rumo à cidade do Porto.
Em Novembro de 1725, já estaria no Porto, iniciando um trabalho de pinturas na Sé do Porto.
No ano de 1736, para a Sé do Porto, a norte, projecta uma nova galilé e, ainda, uma pequena fonte adossada à Casa do Despacho da Sé, o Chafariz de São Miguel.
De acordo com um artigo da autoria do Conde de Campo Belo (D. Henrique) intitulado “Uma nótula nasónica”, publicado no “Boletim Cultural” da C.M.P., vol. 6, fasc. 3/4 (set./dez.1943), p. 355-360, Nicolau Nasoni teria casado em 31 de Julho de 1729, com Isabel Castrioto, que “não sabia ler nem escrever”, moradora na Rua de S. Domingos. A escritura do casamento enumerava minuciosamente as peças de vestuário e adorno que os pais da noiva lhe ofereceram.
A informação consta dos livros de notas do Arquivo Distrital do Porto, lançadas pelo tabelião João de Sousa, com data de 28 de Agosto daquele ano.
Em 1731, Nasoni voltaria a casar-se, desta feita com uma portuguesa, Antónia Mascarenhas Malafaia, com quem teria cinco filhos, de nomes Margarida, Ana, António, Jerónimo e Francisco.
 
 
 
“A 31 de Julho de 1729 casou-se nesta cidade com uma fidalga napolitana, D. Isabel Castriotto Riccardi, que viria a falecer um ano mais tarde (1730), muito provavelmente na sequência de complicações no parto do seu único filho, de nome José, nascido alguns dias antes, a 8 de Junho. O padrinho de José, um fidalgo portuense, empregou Nasoni na obra da casa e jardim da Quinta da Prelada. Sob influência deste mesmo fidalgo, em 1731 foi-lhe pedido um projecto para a Igreja dos Clérigos, que o ocupou durante mais de 30 anos, embora o tenha feito gratuitamente, e o imortalizou”.
Fonte: “pt.wikipedia.org/”
 
 
Pela mão do fidalgo da Prelada, Nicolau Nasoni deu o seu contributo num retábulo na Igreja de Santo Ildefonso e na construção da Igreja de São João Novo. 
 
 
“À Igreja e Torre dos Clérigos, juntou-se a Igreja do Senhor Bom Jesus, em Matosinhos, composta por três naves e por duas torres sineiras, e que brinda ouro no seu interior, com diversos e côncavos retábulos de talha dourada, especialidade de Nasoni na decoração da madeira. Por sua vez, o Palácio do Freixo foi, novamente, potenciado a partir da inclinação existente, e beneficia da sua presença ribeirinha para ser ornado por vários detalhes aquáticos, caraterística do barroco; para além de mais uma plenitude de fachadas.
(…) A estes, juntou-se a fachada da Igreja da Misericórdia, o chafariz e a escadaria do Santuário de Nossa Senhora dos Remédios, em Lamego, a reconstrução da Igreja Matriz de Santa Marinha, em Vila Nova de Gaia, e a parte central do Palácio de Mateus, em Vila Real, edifício rodeado de espaços verdes, e complementado por uma diversidade de torres, para além de um corpo requintado por uma série de pormenores embelezadores. Isto para além, também, da Capela da Quinta da Conceição, em Leça da Palmeira; e o palácio na Quinta da Bonjóia, na própria cidade do Porto, entre várias outras obras. Outros projetos incluíram a planificação da Casa do Despacho da Venerável Ordem Terceira de São Francisco, e da elaboração de duas plantas para a reformulação da Cadeia e Tribunal da Relação; para além do desenho de lavatórios de sacristia, e de outros pequenos trabalhos dentro das igrejas onde intervinha”.
Cortesia de “comunidadeculturaearte.com/”

 
 
Nicolau Nasoni morreria na pobreza, a 30 de Agosto de 1773.
A documentação referente às exéquias dizem que o funeral de Nicolau Nasoni foi na Igreja dos Clérigos e o assento de óbito refere que, também, foi aí sepultado. Até hoje, foi impossível referenciar o local do sepultamento.