quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

25.177 Jardins do Palácio de Cristal e seus equipamentos. Feira Popular e outras actividades lúdicas

 
“Os Jardins do Palácio de Cristal incluem o chamado Jardim Emílio David que possui belos exemplares de rododendros, camélias, araucárias, ginkgos e faias, para além de fontes e estátuas alegóricas às estações do ano.
A Avenida das Tílias constitui o eixo mais marcante deste parque e está ladeada pela Biblioteca Municipal Almeida Garrett (onde se situa a Galeria do Palácio), pela Concha Acústica e pela Capela de Carlos Alberto da Sardenha (edificada em 1849 pela princesa de Montléart). Perto situam-se um restaurante e uma esplanada com vista para o lago. Nesta avenida e noutros locais encontram-se estratégicos miradouros que proporcionam vistas panorâmicas do rio Douro e da cidade. É ao fundo desta avenida que encontramos a capela que a princesa de Montléart mandou erguer em homenagem ao seu irmão, o Rei Carlos Alberto.
Os jardins temáticos estão também representados, nomeadamente pelo Jardim das Plantas Aromáticas, o Jardim das Medicinais, o Jardim das Cidades Geminadas (inaugurado em 2009) e ainda o Jardim dos Sentimentos (inaugurado em 2007), onde se encontra a estátua “Dor” de Teixeira Lopes. Outros espaços aprazíveis são o Bosque, a Avenida dos Castanheiros-da-Índia e o Jardim do Roseiral que está enriquecido com significativos elementos do património artístico da cidade. Nas proximidades surgem sete magníficos exemplares de palmeiras da Califórnia.
Contíguos aos Jardins do Palácio de Cristal estão o Museu Romântico e o Solar do Vinho do Porto, ambos na Quinta da Macieirinha. Muito próximo encontra-se, também, a Quinta Tait, com jardins recheados de colecções de rosas, camélias, brincos-de-princesa e um majestoso Liriodendrum tulipifera que circundam a Casa Tait, onde funciona um Gabinete de Numismática”.
Fonte: pt.wikipedia.org

 
 

Fachada principal do Palácio de Cristal, c. 1910
 
 
 
 

Capela de Carlos Alberto na Avenida das Tílias - Ed. Delcampe.net

 
 

O Chalet - Ed. “O Porto e os seus Fotógrafos”, coordenação Teresa Siza, Porto 2001



A construção do chalet suíço, da foto anterior, já era anunciada pelo jornal "O Comércio do Porto" em 1864, dando-se notícia do seu arrendamento por seis anos a um negociante lisboeta, Sr. Jansen, proprietário da Fábrica de Cerveja Jansen. Esse equipamento destinava-se ao comércio de bebidas e comidas frias, sendo a oferta gastronómica completada por mais uns quantos restaurantes distribuídos pelos espaços, para além do restaurante principal. 
Para o chalet, a construção de três andares, em madeira, foi implantada sobre a denominada Gruta de Camões, por forma a servir também como mirante sobre o rio.
Muitos anos depois, naquele “chalet”, ao fundo da Avenida das Tílias, à direita, e perto da tal gruta, esteve o Real Velo-Club do Porto antes de ser transferido para as traseiras do Palácio dos Carrancas.

 
 

"Gruta Camões" sobre a qual esteve o chalet

 
 

“Chalet do Palácio de Cristal” e a “Gruta Camões” – Ed. SIPA
 
 
 
 
Durante a Exposição Industrial de 1891, os jardins do Palácio seriam beneficiados com um lago e uma gruta, com projecto de uma firma belga e cujo projectista, Florent Claes trabalhou, também, nos jardins do Palacete Braguinha, a S. Lázaro e foi autor, ainda, de alguns melhoramentos do Jardim da Cordoaria.
 
 
 

Lago e gruta do Palácio de Cristal inaugurados em 1891
 
 
A 6 de Novembro de 1891, seria nomeado para calafate da flotilha de 6 barcos a operar no lago, Miguel Pedro Correia, enquanto, em Setembro, os técnicos da empresa belga que conceberam os equipamentos já tinham partido.
No Domingo, 22 de Novembro de 1891, um dia de muita chuva, lago e gruta eram finalmente inaugurados pelo rei D. Carlos.
O poeta, escritor e historiador Sousa Viterbo, em 1907, sobre o projectista Florent Claes, deixou-nos algumas notas que estão expressas no texto abaixo.




In revista “O Tripeiro”, Vª série, Ano VII, Junho, 1951

 
 

Outra perspectiva da gruta e do lago do Palácio de Cristal

 
 

Jardins e lago original do Palácio de Cristal, em 1903

 
 

Lago do Palácio, em 1905, com a sua frota de barcos de recreio


 

Lago do Palácio de Cristal, actualmente - Ed. “bucolico-anonimo.blogspot.com”
 
 
 
Acabada a Exposição Internacional de 1865, a Sociedade do Palácio de Cristal, que lançou o empreendimento, passou a administrá-lo.
Passado pouco tempo, decidiu entregar a rentabilização dos espaços e equipamentos à firma Burnay & Guichard que, para o efeito, promoveu diversos tipos de espectáculos.
Na realidade, a exploração empresarial do edificado foi sempre deficitária.
Entre os espectáculos, de diversa índole, destacaram-se, nas últimas décadas do século XIX e pelos primeiros anos do século seguinte, o lançamento de balões, normalmente, tendo por base de operações a Avenida das Tílias. Era espectáculo muito concorrido e apreciado.
No dia 3 de Abril de 1904, o balonista António Fernandes, conhecido como “Ferramenta”, gaiense, nascido no Candal e serralheiro de profissão, partia do Palácio de Cristal como conta a notícia.
 
 
“António Bernardes construiu o seu balão que denominou de “O Português”, com uma capacidade para 1 200 metros cúbicos, que poderia elevar-se com o peso bruto de 800 Kg e marcou a sua primeira ascensão para o dia 3 de Abril de 1904 nos jardins do palácio de Cristal.
No dia aprazado o balão foi conduzido ao Palácio, em dois carros de bois, com a filarmónica a abrir caminho. Quando se ensaiava a ascensão o governador civil, temendo o pior, proibiu a subida. No entanto o “Ferramenta” cortou as cordas e o balão depois de roçar nas tílias subiu mesmo, perante os aplausos do público. Andou quatro horas pelo ar e foi pousar num campo, em S. Cosme, no concelho de Gondomar”. 
 
 
O balonista “Ferramenta” subiria, mais algumas vezes, no Palácio de Cristal, como quando o fez em benefício da aeronauta espanhola Mercedes, que tinha partido uma perna numa ascensão, na Praça de Touros da Rua da Alegria, e que terminou na Quinta de Sacais, tendo sido socorrida pelo Dr. Alfredo de Magalhães.
O balão do “Ferramenta”, dessa vez baptizado como “Internacional”, foi pousar a Rio Tinto, no meio de um viçoso nabal, tendo o seu proprietário, na ocasião, exigido a reparação dos prejuízos causados. 

 
 

António da Costa Bernardes, “O Ferramenta”
 
 
 

Balão de ar quente, no Palácio de Cristal, junto da Concha Acústica, no início do século XX


 

Publicidade a uma subida de balão a efectuar no Palácio de Cristal, em 1907

 
 
Durante o século XIX, os portuenses começaram, também, a dedicar uma atenção especial aos festejos de Carnaval.
Os cortejos carnavalescos sempre prestigiaram com a sua presença os jardins do Palácio de Cristal durante as suas exibições.


 

Palácio de Cristal no Carnaval de 1905 – Ed. Photo Guedes


 

Corso carnavalesco na primeira década de 1900



Muitos portuenses usufruíam dos jardins do Palácio de Cristal para socializarem e passearem pelas suas avenidas, observando os espectáculos oferecidos em diversos palcos e, por vezes, fazendo visitas ao mini-zoo que exibia, em jaulas, alguns animais e se situava num pequeno bosque.



 
Entrada lateral de acesso aos jardins do Palácio de Cristal (Esquina da Rua D. Manuel II e a Rua Jorge Vitervo Ferreira) percorrendo a Avenida dos Plátanos – In revista Brasil, 16 Setembro 1903
 
 
 

Viajando no Autoped, no Palácio, em 1918




Avenida das Tílias
 
 
 
 

Antigo zoo no bosque do Palácio de Cristal


 

Jaula dos macacos, em 1910



A música e o teatro tiveram grande expressão, em alguns palcos, nos jardins do Palácio de Cristal.
No topo sul da Avenida das Tílias, ainda hoje existe uma concha acústica, que é um equipamento cénico, disposto à volta da orquestra e aberto para a plateia, que reflecte o som dos instrumentos musicais para o público, e que é um elemento icónico do jardim.
Foi inaugurada na década de 1880.


 

Concha Acústica - Fonte: gisaweb.cm-porto
 
 
 
“A concha acústica é uma construção de pedra provavelmente edificada na década de oitenta do séc. XIX, exibindo na sua base a inscrição de uma conceituada fundição do Porto: Massarellos. A concha ostenta uma requintada decoração em ferro e a ladear a sua abertura encontram-se duas esculturas (provenientes do Val d’Osne) de mulheres, uma representando uma negra e a outra, uma egípcia”.
Fonte: Paula Torres Peixoto
 
 
Em Julho de 1886, passaria a funcionar como teatro um novo espaço nos jardins do Palácio de Cristal, junto da Avenida das Tílias.
Tal actividade aconteceria no Palco-Coreto, em alvenaria e ferro, de concepção do arquitecto Tomás Augusto Soller.
O arquitecto Tomás Soller (1848-1883) faleceu muito novo, com 35 anos.
Nessa ocasião, os seus colegas de profissão terão promovido uma recolha de fundos para prover a sua viúva.
Assim, a construção do palco-coreto, com projecto de Tomás Soller, ocorreria cerca de três anos após a morte do arquitecto.
 
 
"Inaugura-se amanhã o novo teatro-coreto recentemente construído nos jardins do Palácio de Cristal, segundo o plano delineado pelo falecido arquitecto Soller.
o cenário foi pintado por Guilherme de Lima e o pano de boca apresenta o Terreiro do Paço, em Lisboa."
Jornal "O Primeiro de Janeiro", de 10 de Julho de 1886 – Sábado
 
Passados dois dias, dizia o mesmo jornal a propósito do palco-coreto:
 
"É de alvenaria e ferro e, como se sabe, extremamente elegante. A cobertura metálica saiu das oficinas da Fundição de Massarelos."

 
 

Primeiro palco-coreto implantado nos jardins do Palácio de Cristal, à esquerda e, em frente, a meio, o Palácio dos Terenas e a sua torre – Gravura, madeira, por F. Pastor, in “Universo Ilustrado”- 2º vol. – Lisboa, Abril 1878

 
 
Atendendo à data de publicação da gravura anterior, o palco-coreto nela representado teria sido substituído pelo da concepção de Tomás Soller. Aliás, como se pode observar na notícia abaixo, era referido  em 1882, que tinha existido junto da "grande avenida" um coreto.

 
 
Jornal "O Comércio do Porto", de 2 de Julho de 1882

 
 
Na notícia acima, podemos observar que um dos concorrentes ao certame foi a viúva de Zeferino Matos, e que este horticultor, que teve um modesto horto na Rua da Boavista, à data, já tinha falecido.
Sabe-se que, em 1875, Zeferino Matos é vendedor de uma parcela de terreno, que se juntava a algumas outras, anteriormente adquiridas, destinadas à edificação do futuro hospital militar D. Pedro V.
Seria o seu filho, Jacinto de Matos, que na mesma actividade ficou célebre, a dar continuidade ao negócio.
Sobre o coreto e a concha acústica se apresenta o texto que segue:
 
 
“Em volta do palácio, o espaço era igualmente muito acolhedor e rapidamente se tornou num autêntico local de desfile da fina flor da sociedade portuense. No coreto (desaparecido) da conhecida avenida das Tílias, todos os domingos e feriados havia música por conta de bandas regimentais.
Mais à frente, a concha (ainda existente), apresentava peças de teatro e recitais. Ao fundo da avenida, à direita, havia um chalé alpino, de onde se apreciavam desafogadas vistas sobre a foz do rio e o mar. Nas proximidades estavam as coleções zoológicas, a aldeia dos macacos e a gaiola das águias. À volta, o compacto arvoredo convidava ao passeio e à tranquilidade”. 
Com a devida vénia a Manuel de Sousa
 
 
 
 

O Comércio do Porto, em 5 Julho de 1917



Barraca de tiro ao alvo, nos jardins do Palácio de Cristal, no início do séc. XX – Fonte: CMP, Arquivo Histórico Municipal






Comboio de passeio, nos jardins do Palácio de Cristal, inaugurado em 1934



Feira Popular
 
 
A partir de 1950, nos jardins do Palácio de Cristal, instalou-se uma feira popular que fazia a delícia de todos, miúdos e graúdos.
 
 
 
“Por vezes o meu pai levava-nos, a mim e meus irmãos, ao Palácio para nos deliciarmos com as suas surpresas. Lembro-me bem da roda dos cavalinhos, dos baloiços, dos balancés, das caixas de areia, dos escorregões, do anel rolante preso ao poste… 
Saudades do lindíssimo lago com a sua ponte e gruta, onde mais tarde andava de barco ou gaivota. Dos animais, em especial do leão, da aldeia dos macacos, dos pavões e galinhas da Índia, dos papagaios…
Andei de bicicleta e triciclo naqueles grandes salões laterais e nos jardins, fiz corridas de sacos e, com os olhos tapados, tentei acertar num cântaro com água ou areia… Ainda assisti a uma inesquecível exposição de rosas que pela sua grandeza me espantou.
Pagava-se de entrada 1$50, a partir dos 6 anos. O aluguer das bicicletas pequenas custava 2$50 e dos triciclos 1$50 por hora. 
Vi uma exibição de ginástica do Sport Clube do Porto, e delirava quando meu pai me levava a ver a luta livre. Por vezes a exaltação do público era tal que eu me encostava a meu pai cheio de medo. 
Mais tarde íamos à Feira Popular onde nos divertíamos nos carroceis, carrinhos de choque, cadeiras voadoras, etc. 
Nunca deixávamos à Feira Popular sem ir ao stand da Regina “furar” a nossa sorte nos seus deliciosos chocolates”
Com a devida vénia a Rui Cunha
 
 
Em 22 de Junho de 1938, já tinha ocorrido a inauguração festiva do novo parque infantil do Palácio de Cristal que passaria, então, a ser um alvo das crianças quando, com os seus pais, visitavam a Feira Popular.
 
 
 

Vista nocturna da entrada principal da Feira Popular

 
 

Palácio de Cristal em noite de S. João de 1940
 
 
Na foto acima vemos, em primeiro plano, a fonte do Jardim de Emílio David situada mais a poente, e as iluminações do gradeamento de entrada, na noite de S. João de 1940.

 
 

Feira Popular na década de 1960


 

A Feira Popular do Palácio de Cristal, em 1958 (O algodão-doce e a roda gigante) – Fonte: “frame” do filme “A Costureirinha da Sé”




A Avenida das Tílias e a Feira Popular do Palácio de Cristal, em 1958 – Fonte: “frame” do filme “A Costureirinha da Sé”




A Feira Popular do Palácio de Cristal, a Avenida das Tílias e o “Stand” da Regina, em 1958 – Fonte: “frame” do filme “A Costureirinha da Sé”
 
 
 

Os chocolates eram aqui “furados” (sorteados)

 
 

A Feira Popular do Palácio de Cristal, a Avenida das Tílias e o “Stand” da OLIVA, em 1958  – Fonte: “frame” do filme “A Costureirinha da Sé”
 
 
 

O Pavilhão de Exposição da firma Agostinho Ricon Peres, de Máquinas e Ferramentas, que integrou a Feira Popular, durante anos
 
 
 

O novo comboio, na Feira Popular do Palácio de Cristal, em 1958 – Fonte: “frame” do filme “A Costureirinha da Sé”
 
 
 
Para a minha geração, Palácio de Cristal, ou simplesmente Palácio, será sempre sinónimo de Feira Popular. Entrando pela Rua D. Manuel II, percorrida a pequena recta ladeada de árvores, estávamos perante dois clássicos de sempre, o martelo para testar as forças e um homem muito velho com um carrinho de ferro. O carrinho tinha uma pega, devia-se empurrar com a máxima força por um emaranhado de curvas e contra curvas. Se chegasse ao cimo, batesse na porta, saltava um cabeçudo a fazer um manguito. Um prémio estranho para os dias de hoje, mas que nos enchia da satisfação do dever cumprido.
Havia aviões de sobe-e-desce, barracas de tiro, carrinhos de choque, umas cadeiras que andavam em círculo presas por cadeados numa espécie de desafio radical, barracas de chocolates em que se fazia um furo. Conforme a cor da bola que nos calhasse em sorte, um chocolate diferente.
Tínhamos as esplanadas da avenida das Tílias, onde lanchávamos tostas mistas e leite chocolatado UCAL, o lago, onde consoante a bolsa, se podia andar de barco a remos ou a motor.
Mais abaixo o «zoológico» com o chimpanzé Chico, o leão Sofala, pavões,
aves exóticas e galinhas de Angola a cacarejar «Tou fraca». Restaurantes onde se comia sardinha e frango assado, azeitonas e broa, coisas simples, num tempo simples.
Planeei ir à Feira do Livro, apoio a revitalização deste espaço da cidade, mas Palácio será sempre a alegria infantil de uma Feira Popular”. 
Com a devida vénia a Fernando Lopes



Carrinhos de choque
 
 
Na foto acima, pode ver-se que os carrinhos de choque, em uso nas décadas de 40, 50 e sessenta do século passado, têm os para-choques metálicos, sendo sobre eles, que em saltos bem medidos, de carro para carro, se movimentava o cobrador das moedas, recebendo o dinheiro da “viagem” e fazendo os trocos. O movimento dos veículos era feito em volta de uma placa central, no sentido contrário aos ponteiros do relógio.



Esplanada, com vista sobre o Douro, de um restaurante presente na Feira Popular
 
 
 

Aspecto da Feira do Palácio. Ao centro a roda de “looping”- Ed. António Tavares, In “Porto Desaparecido”
 
 
 

Feira Popular do Palácio de Cristal (1970)

 
 

Feira Popular do Palácio de Cristal, c. 1970
 
 
 
 
A Feira Popular que tinha para além do divertimento algumas funções de assistência social, foi obra na qual se empenhou o então Director do Palácio de Cristal, de seu nome António Pinto Machado.
 
 
 


Bilhete de acesso à Feira Popular, em 1958, organizada pelo Governo Civil do Porto. Inclui publicidade a sorteio de uma habitação, na Rua da Ilha Verde, 60, organizado por “O Lar do Comércio”




Lápide, de António Pinto Machado, exibida nos jardins do Palácio de Cristal
 
 
 
António Pinto Machado, natural de Vila Real, nasceu em 1895 e faleceu em 1965, na cidade do Porto.
Jornalista, escritor, poeta e Oficial do Exército, foi, ainda, Director do Palácio de Cristal desde 1935 até 1965. 
Viveu num prédio da Rua Alberto Aires de Gouveia identificado, como tal, pela Câmara Municipal do Porto.


 
Casa de António Pinto Machado, na Rua Alberto Aires de Gouveia, nº 59
 
 
 
 
António Pinto Machado viveu, também, na casa do roseiral, que reformou.
Na qualidade de jornalista, foi colaborador do “Jornal de Notícias”, Jornal “A Voz”, “Diário do Minho” e “Correio do Minho”, Jornal “O Debate”, “Diário do Norte”, Jornal “A Ordem” e revista “Os Bairristas do Palácio”. Foi Director e Editor do Jornal “A Palavra”, o qual refundou.
Célebres são os seus diálogos entre o João D`Além (seu heterónimo) e a personagem que criou – Manuel Agrónomo - inspirada no seu caseiro Manuel da Silveira, seu grande amigo.
Segundo uma sua neta, Suzana D’Eça, António Pinto Machado era um monárquico convicto.
 
 
 

Casa do Roseiral no Palácio de Cristal
 
 

Escultura no jardim da Casa do Roseiral que esteve, antes, na Fonte do Mercado Ferreira Borges
 
 

Entre os dois lanços de escada de acesso ao Mercado Ferreira Borges na Praça do Infante observa-se uma espécie de gruta onde esteve a fonte da foto acima e, cujo espaço, foi aproveitado para um posto da EDP – Fonte: AMP 1950

 
 
Ainda no século passado, a Feira Popular encerraria no Palácio de Cristal e seria transferida para o Parque da Cidade (ocidental), para a área que o chamado Queimódromo costuma agora ocupar, onde se manteve alguns anos, até que encerrou em definitivo.



Feira Popular no Parque da Cidade, em 1994



Equipamentos existentes no Palácio de Cristal
 
 
Jardim Émile David. O seu desenho deve-se ao arquitecto paisagista alemão Émile David. Aqui se encontra um conjunto de esculturas em ferro fundido na Fonderie Val d’Osne:
Cabeça com diadema, Carrancas, Donzela e cavalo, Egípcia (tocheira), Etíope (tocheira), Inverno, Menina, Menino, Menino de Repucho com pato, Ninfa e Eros, Ninfas na Fonte, Outono, Pelicano, Primavera, Sereia Bicaudina, Verão.
Rododendros, Áceres do Japão (Acer japonicum), Magnólias brancas (magnolia grandiflora), Araucárias, Gingko-Biloba (conhecida no Brasil como ‘árvore dos 40 escudos’) e Faias (Fagus sylvatica) delimitam este espaço.
Biblioteca Almeida Garrett. Construída segundo risco do arquitecto José Manuel Soares e inaugurada em 2001.
Possui Galeria de Arte e Auditório. Encontra-se equipada com mobiliário desenhado por Alvar Aalto.
Cedros-do- Líbano (Cedrus libani ), junto à Biblioteca Municipal.
Mancha de carvalhos (Quercus robur) e bosque das camélias.
Concha acústica, recentemente recuperada. A sua construção remonta ao final do séc. XIX. Possui boas condições de sonoridade para a actuação de pequenos conjuntos instrumentais.
Avenida dos Castanheiros da Índia
Cascatas e bosque
Fonte de S. Jerónimo, que esteve na Rua de S Jerónimo, actual Rua de Santos Pousada.
Miradouro da Torre
Escultura ‘Ternura’, de Sousa Caldas (1965).
Capela de Carlos Alberto, inaugurada em 1861, neoclássica, mandada construir pela irmã do Rei da Sardenha que esteve exilado no Porto a residir na Quinta da Macieirinha e onde faleceu em 1849. No seu interior destaca-se a imagem de S. Carlos Borromeu, ‘obra de belo e expressivo modelado’, na opinião de Carlos Passos. Segundo Sant’anna Dionísio, no sítio ocupado pela capela teria estado implantada a Torre da Marca, demolida em 1854.
Cruzeiro de Pontevedra, oferecido pelo município galego ao Porto.
Lago, rodeado de Cedros-do-Himalaia (Cedrus deodara).
Miradouro das Palmeiras, sobre o Rio Douro e Gaia.
Palmeiras da Califórnia (Washingtonia robusta).
Metrosidro (Metrosideros), árvore centenária.
Jardim do Roseiral, onde se podem admirar várias espécies.
Casa do Roseiral, que serviu de residência a António Pinto Machado, director do Palácio de Cristal.
Fonte antiga do Mercado Ferreira Borges (em frente à Casa do Roseiral).
Fonte do Pelicano, que esteve num pátio interior dos antigos Paços do Concelho, na Praça Nova.
Fonte do Menino e do golfinho (antiga Fonte da Praça de S. Roque)
Brasão antigo da Cidade do Porto, que fez parte do espaldar da Fonte da Natividade (antiga Fonte da Arca) na Praça Nova.
Jardim dos Sentimentos, um espaço dedicado às plantas, às quais se têm associado certos significados e estados de espírito. Exemplos: palmeira (vitória), oliveira (paz), jacinto (sabedoria), zambujeiro (humildade), hera (ambição), alecrim (ciúme), videira (alegria), azinheira (tristeza).
Escultura ‘A Dor’, de Teixeira Lopes (1898).
Chafariz do Mitra (séc. XVIII), que veio da Quinta do Mitra ou Quinta de Vila Meã, em Campanhã.
Carranca da antiga Fonte da Arca ou da Natividade (séc. XVII).
Varandas da antiga Câmara Municipal que se situava no topo norte da Praça de D. Pedro.
Pavilhão Rosa Mota (ou Palácio dos Desportos), concebido pelo Arq. José Carlos Loureiro e inaugurado em 1956. Apresenta a forma de calote semi-esférica. A altura máxima da nave é de 30 metros e possui capacidade para alojar cerca de 6.000 espectadores.
Avenida dos Plátanos, que segue em linha recta desde a entrada no recinto situada mais próxima da Rua Dr. Jorge Viterbo Ferreira.
Fonte: Jorge Carneiro de Melo, In A.C.E.R.
 
 
E ainda:
 
Pérgula, que pode ser observada num canto do jardim do Roseiral executada com umas colunas que estiveram no convento de Santa Clara (Largo 1º de Dezembro) e que, possivelmente, pertenceram a um pequeno claustro.
 
 

Pérgula (colunas do convento de Santa Clara) – Ed. Manuela Campos
 
 
 
Em 1941, chegou a ser feito um estudo por Francisco da Mota Coelho, para a reconstituição do arco cruzeiro da Capela de Santo António do Penedo (Estilo Bizantino, séc. XVII), com base nos fragmentos de colunas recolhidos nos jardins Palácio de Cristal, o que não se concretizou.
Outros equipamentos existiram naquela área e dos quais só resta a memória. São os casos do mini-zoo, do Palco-coreto e, como é óbvio, do Palácio de Cristal propriamente dito.
 
 
 
Os Jardins e outros equipamentos
 
 
Normalmente, o ingresso na área vedada do Palácio de Cristal, para passear nos seus jardins, implicava que fosse adquirido um bilhete.
 
 

Frente de bilhete de ingresso no Palácio, em 1906


 

Verso do bilhete da imagem anterior
 
 
Tempos houve em que nos jardins do Palácio proliferavam os vendedores ambulantes com as suas barracas. Desses tempos são alusivas as gravuras seguintes.
 
 

Cabeçalho do Jornal humorístico “O Pirolito” na Cancela Velha, nº 39, em 1 Agosto de 1931


 

Capa do jornal humorístico «Pirolito», 1 Agosto de 1931, representando a expulsão pelo "pirolito" dos vendedores ambulantes do Palácio de Cristal – Desenho de António Cruz Caldas

 
 
Os jardins criados na década de 60, do século XIX, por iniciativa de Alfredo Allen, foram projectados pelo paisagista alemão Emílio David e, por isso, o jardim de entrada tem o nome de Jardim Emílio David.
As variadas esculturas e as fontes que, ainda hoje, embelezam estes espaços, têm as marcas de consagradas fundições artísticas francesas, da época.
O jornal O Comércio do Porto, referindo-se aos jardins do Palácio de Cristal, anunciava em Julho de 1865, a chegada das esculturas em ferro que vinham para ornamentar e abrilhantar aqueles espaços:
“…devem chegar brevemente as estatuas de ferro bronzeado que tem de ser collocadas nas differentes taças, que se acham construídas em vários sítios dos referidos jardins. São todas de excellente gosto e devem contribuir consideravelmente para o embellezamento d’aquelle local.”
 
 
As fontes do Jardim Emílio David, conhecidas por “Fontes d'Art”, são encimadas por taças com a representação de Vénus a tomar banho.

 
 

Taça coroada com Vénus no banho
 
 
 

Fonte simbolizando o oceano, com sereias e tritões, situada a nascente do Jardim Emílio David – Fonte: Google maps
 
 
 

Pormenor da fonte com as suas sereias – Ed. Paula Torres Peixoto
 
 
 

Fonte situada a poente do Jardim Emílio David – Fonte: Google maps
 
 
 
Na fonte acima, são bem visíveis os estragos sofridos na taça central, que se apresenta incompleta e que, seria, bem como todo o conjunto escultórico do jardim Emílio David, alvo de uma intervenção de manutenção, começada em 2016.
 
 
“A Câmara do Porto concluiu esta semana a primeira fase do restauro das fontes do Jardim Emil David, inserido nos Jardins do Palácio de Cristal.
A última intervenção tinha ocorrido em julho de 1994. Na altura, os trabalhos tinham-se resumido à limpeza, remoção da pintura existente, aplicação de várias camadas de primário de zinco e pintura final de proteção. 
Com mais de 151 anos de exposição ao ar livre, as fontes importadas de fundições francesas apresentavam já evidentes sinais de degradação.
 Após a queda de uma Araucaria (Araucaria Heterophyilla) em 2001, a fonte localizada a poente sofreu várias fraturas, com visíveis danos na taça de maior dimensão, motivo que terá acelerado o processo de corrosão do ferro. 
Conhecidas pela designação de Fontes d'Art, por terem nascido do casamento da indústria com a arte, as fontes do Jardim Emil David, inaugurado a 18 de setembro de 1865, foram obtidas a partir da repetição em série de modelos originais, concebidos por alguns dos mais conceituados escultores franceses, entre os quais se celebrizaram Mathurin Moreau, a quem se atribui as esculturas das quatro estações colocadas no mesmo jardim. 
O reconhecido valor histórico e patrimonial destas fontes tornou ainda complexo e sensível este trabalho de conservação e restauro, concretizado em parceria pelos pelouros do Ambiente e da Cultura da autarquia”.
Fonte: “porto.pt”, 27 Jan 2017
 
 
 

Fonte situada a poente, já com a taça central reparada – Ed. MAC
 
 
 
 
“Os jardins albergam ainda esculturas representando as estações do ano. A temática das Quatro Estações, que inspirou uma das peças mais populares da música barroca, do celebrado compositor A.Vivaldi foi, também, motivo inspirador para fundidores que emprestaram às esculturas a sua visão e sensibilidade. Vamos encontrá-las no jardim central que antecede a entrada principal do palácio.”.
Com o devido crédito a Paula Torres Peixoto

 
 

Estatueta (poente) feminina, simbolizando o Verão, sem identificação. Aventa-se a hipótese de ser da fundição Durenne – Ed. Paula Torres Peixoto

 
 

Estatueta (poente) feminina, simbolizando a Primavera, produzida pela Barbezat & C.ie, Val d’Osne – Ed. Paula Torres Peixoto

 
 

Estatueta (nascente) feminina, simbolizando o Inverno, saída das Fonderies de Sommevoire, Haute Marne – Ed. Paula Torres Peixoto


 

Estatueta (nascente) masculina, simbolizando o Outono,  produzida pela Barbezat & C.ie, Val d’Osne – Ed. Paula Torres Peixoto
 
 
 
Referente à estatueta acima, Paula Torres Peixoto é de opinião que ela representa, de facto, o Verão, pois, era essa a representação no catálogo da firma “Val d’Osne”, donde as estatuetas são originárias.
Nessa estatueta, o jovem está recostado a um feixe de espigas, atributo associado à escultura que simboliza o Verão.
Com efeito, no catálogo da fundição artística do Val d’Osne, o Verão surge representado desta forma. O Outono, por sua vez, é simbolizado neste catálogo por um jovem recostado a um tronco com folhas de videira e cachos de uvas.
Portanto as “Quatro Estações” de Vivaldi são, neste caso, de facto, três e uma repetida.




Alameda dos Plátanos - Ed. “bucolico-anonimo.blogspot.com”

 
 

Avenida das Tílias - Ed. “bucolico-anonimo.blogspot.com”



Fonte dos Cavalinhos na Avenida das Tílias, a Sul


 

Biblioteca Almeida Garrett na Avenida das Tílias, a Norte



A área de jardins anexa à Casa do Roseiral, apresenta alguns equipamentos retirados da cidade, sobretudo, fontes e alguns jardins temáticos.
 
 
 

Fonte do Pelicano, actualmente – Ed. Manuela Campos

 
 

Fonte do pátio da antiga Câmara do Porto, também conhecida por fonte do Pelicano, implantada no seu lugar original – Ed. J. Bahia Junior (1909)


 

Espaldar da Fonte da Natividade (antiga Fonte da Arca) – Ed. Manuela Campos



Na foto anterior pode observar-se o espaldar da Fonte da Natividade do qual algumas pedras foram aproveitadas para embelezar o frontão do palacete Monteiro Moreira, onde estava sedeada a Câmara. 



“Quando D. Pedro IV entrou no Porto à frente do exército libertador, em 9 de Julho de 1832 dirigiu-se imediatamente à Câmara que funcionava no edifício da então chamada Praça Nova e logo ali tomou uma resolução, mandar destruir a Fonte da Natividade para possibilitar o alargamento da Praça. Assim aconteceu. O brasão da cidade e as grinaldas que emolduravam o frontispício da fonte foram embelezar a fachada do palacete da praça onde funcionava a Câmara. Esse belíssimo conjunto, uma excelente obra de granito trabalhado, está hoje no espaço conhecido por Roseiral no Palácio de Cristal”.
Cortesia de Germano Silva


 
 

“Menino montado em golfinho” (antiga fonte que esteve na Praça de S. Roque, junto à capela do mesmo nome) – Fonte: “bucolico-anonimo.blogspot.com”



Janelas e respectivas varandas, que fizeram parte do edifício da Câmara, na Praça da Liberdade, até 1916, com vistas para o Jardim do Roseiral



O edifício da Câmara Municipal, em 1916, pronto para ser demolido


 
 
 

Chafariz do Mitra que veio da Quinta do Mitra, situada em Vila Meã, Campanhã - Ed. “bucolico-anonimo.blogspot.com”
 
 
 
 

Jardim dos Sentimentos - Ed. “bucolico-anonimo.blogspot.com”



"A Dor", do escultor Teixeira Lopes (filho), no Jardim dos Sentimentos



 
 

Fonte de S. Jerónimo ou Chafariz de S. Crispim, que esteve ao cimo da Rua de Santos Pousada - Ed. “bucolico-anonimo.blogspot.com”
 
 
 
 

Escultura “A Ternura” de Sousa Caldas, 1965 - Ed. “bucolico-anonimo.blogspot.com”
 
 
 
Na vertente onde se observa uma torre-miradouro, voltada para o Largo de Massarelos, existe um bosque adjacente com diversas fontes e linhas de água.
Nessa área estava situado o mini-zoo e as barracas de comes e bebes da Feira Popular.
 
 
 

Miradouro da Torre ou Castelo – 1904
 
 

Vista do Miradouro-Torre sobre a Alfândega, em 1902

 
 

Vista desde o miradouro do Palácio de Cristal sobre área, em V. N. de Gaia, onde esteve o convento de Vale da Piedade – Ed. Nuno Cruz
 



Fonte do Palácio de Cristal, a caminho do bosque


 
Situação actual
 
 
 
Palácio de Cristal nos finais dos anos 50
 
 
 
Gorada a ideia de uma Feira Internacional no Parque da Cidade (o que chegou a ser proposto), as Feiras Internacionais promovidas pela Associação Empresarial, realizaram-se no Pavilhão dos Desportos, entre 1968 e 1986.
Recentemente, no Pavilhão Rosa Mota decorreram, desde do fim de 2017, obras de remodelação, na sequência de um contrato de concessão por 20 anos, tendo sido a nova nave inaugurada em 28 de Outubro de 2019. 
Para isso, o interior da estrutura foi totalmente remodelado, passando  a ter bancadas amovíveis e um conjunto de novos equipamentos que permitirão, por exemplo, ajustar a incidência de luz natural dentro do espaço.
No total, o Palácio de Cristal terá uma lotação máxima para congressos de 4727 pessoas. Quando receber eventos desportivos poderá albergar até 5580 pessoas, e 8860 quando se tratar de outros espectáculos.