terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

(Continuação 4) - Actualização em 02/04/2019 e 19/01/2021

Na zona do Carmo, o conhecido Botequim do Martinho manteve-se aberto entre fins do século XIX até 1915.


“No ângulo da Praça Parada Leitão, onde está presentemente (em 1964) a mercearia e confeitaria Flor do Carmo. Foi fundador deste botequim, Martinho José Matias, empregou-se no botequim da Porta do Olival… O botequim do Martinho, cujo proprietário era detentor de umas venerandas e bem penteadas barbas, mantinha no seu estabelecimento, pequeno mas acolhedor, uma frequência muito escolhida, de entre a qual, cumpre-nos evidenciar as figuras do grande lírico Guerra Junqueiro e do Professor Doutor Alexandre Alberto de Sousa Pinto (1880/1982), que foi ilustre Ministro da Instrução Pública e Reitor da Universidade do Porto. Em 1915 foi o Botequim do Martinho substituído pela Casa da Índia que mais tarde, cedeu o lugar à actual Flor do Carmo.”
In O Tripeiro – Série VI – Ano IV.


A Norte da Estação de S. Bento ostentando, numa das paredes, o seu desenho original, O Café Brasil existe desde 1859 até hoje. Ao tempo, tinha duas mesas exclusivas para jogar dominó.




Café Brasil



Pela então chamada Praça D. Pedro, o célebre Café Guichard existiu até 1857, quase na esquina do antigo edifício do convento dos Padres da Congregação de S. Filipe de Nery, onde esteve o Banco Nacional Ultramarino, e que hoje pertence à Caixa Geral de Depósitos.




Café Guichard na 3ª, 4ª e 5ª porta, a contar da esquina




Após ter encerrado a 5 de Fevereiro de 1857, apareceram nos anos seguintes mais três cafés no mesmo quarteirão, o Portuense, o Central e o Camanho.
Sobre o Guichard, onde Camilo parava, bem como Sousa Viterbo, Arnaldo Gama, Faustino Xavier de Novais, Alexandre Braga, Soares de Passos e outros intelectuais, escreve Firmino Pereira:


” (…) às noites, no Guichard, esses moços da Távola Redonda, escorropichavam copinhos de hortelã-pimenta, declamando Lamartine, Soares de Passos e João de Lemos. Era o botequim dos Alfredos e dos Manricos, de melena revolta e alma ardente de labaredas românticas. Aí se reuniam habitualmente os literatos, os poetas e os românticos que vinham das agitações do cerco e da Patuleia e que, entre um cálice de licor e uma fumaça de charuto, decidiam dos destinos e da arte da política. No Guichard os poetas suspiravam, mas também batiam... e levavam. Nestes tempos de balada e murro, o botequim era o centro de toda a vida portuense. À volta de uma mesa compunham-se odes, combinavam-se raptos e planeavam-se conjuras.
(…) De resto no Guichard (onde o italiano Trucco iniciara o tripeiro nas delícias do sorvete) muitas vezes sucediam-se casos trágicos de murros vingadores”.


Paredes meias com o local onde esteve o Guichard, mas posterior a ele, a meia dúzia de metros a Norte, esteve entre 1870 e 1917, O Camanho, propriedade de um cidadão de origem espanhola de nome José Camanho.
Manuel José Camanho chegou ao Porto nos meados do século XIX e aqui montou um pequeno bar, "de uma porta só", nas imediações do célebre Café Baviera, mais ou menos onde, posteriormente, abriria o Camanho, que substituiria nos baixos do prédio que ficava mesmo encostado à fachada da igreja dos Congregados, uma cervejaria que havia sido fundada por Frederico Clavel. Deste, o estabelecimento passou para um seu empregado, o espanhol Manuel José Camanho, que o ampliou e o trans­formou em café, a que deu o seu nome. 
Frederico Clavel estava bem estabelecido no ramo cervejeiro, possuindo uma fábrica de cerveja nas Escadas do Codeçal, que em 1865, transferiu para a Rua de Camões, n.º 91.
Por descrições feitas por quem conheceu bem “O Camanho”, a sua sala não era muito ampla mas era arejada e bastante iluminada (uma característica pouco comum aos cafés daquele tempo que, por regra, ocupavam salas pequenas e pouco ventiladas), e que rapidamente se transformou no centro de cavaqueira e de reunião preferido dos literatos, professores, políti­cos e negociantes do Porto desse tempo.
O estabelecimento começou por servir quase que exclusivamente bebidas, principalmente as bebidas tradicionais daqueles tempos:
“ (…) o porto, e havia-o da colheita de 1815; a genebra Fockink, nas suas tradicionais botijas de grés; o então muito apreciado gim; várias marcas de uísques escoceses; e, claro, o alucinante absinto”. 
Mas não tardou que começasse a ter um esmerado serviço de restaurante sendo especialmente apreciados os pratos de peixe, as costeletas e onde se almoçava, jantava ou ceava, lampreia à bordalesa e bifes de caçarola, por pouco mais de cinco tostões.
Lá, se reuniam Guerra Junqueiro com a sua inseparável bengala, Rodrigo Salgado Zenha, Camilo, o pintor Francisco José de Rezende e tantos outros famosos artistas, políticos, literatos e cientistas do tempo.
Guerra Junqueiro ia frequentemente e era conhecido por sair às 11 horas em ponto, quando ouvia as badaladas da torre da Lapa.
O café Camanho haveria de receber, em Novembro de 1908, o rei D. Manuel II, durante uma sua visita ao Porto. O convite, para o efeito, partiria do Dr. Júlio da Fonseca Araújo (presidente da Associação Comercial do Porto entre 1906 e 1911).
Guido Severo ( Francisco Guimarães), cronista da época, escreveu, que por lá passaram:


" (…) as melhores rodas do Porto" e especificou: "jornalistas e poetas; mundanos e "noceurs"; comerciantes, industriais, professores, banqueiros, enfim, tudo o que tinha um nome na política, na ciência, na literatura, na arte, na esfera dos negócios e no âmbito das ideias, ou mesmo qualquer pessoa que começasse a afirmar-se em radiosas esperanças, dentro do minúsculo mas curioso caleidoscópio da vida portuense daquele tempo, não desdenhava de abancar, de forma transitória ou diariamente, ao redor das mesas de mármore branco do Camanho". 


O sítio da sala mais ruidoso, onde as conversas decorriam num tom mais acalorado era aquele em que se juntavam os jornalistas. Quase todos, os daquele tempo, por lá passavam. Citamos apenas os mais conhecidos: João Grave que dirigia o "Diário da Tarde"; Pai Ramos, de "O Primeiro de Janeiro"; Marcos Guedes, correspondente no Porto de "O Século"; Guedes de Oliveira; e o caricaturista Manuel Monterroso.


Sobre os meados do século XIX Luís Ramos escreve:

“Era esta a cidade dos janotas que, na Praça de D. Pedro, esperavam as meninas, eventuais herdeiras de dotes de 80 contos em apólices, que saíam da missa dos Congregados. Desfeiteados, podiam ir namorar as pensionistas temporárias do Convento de Ave-Maria, punindo-se por pecados sociais, atendidas pelas criadas, rodeadas de baús de roupa, de joias, licores e pastéis de ovos. Enquanto os chefes de família jogavam dominó nos cafés, bebendo copinhos de cana e comendo figos secos – ou tomando chá à inglesa –, a família, se dispunha de 2 mil réis ou mesmo 4 mil, podia ir até à Praça, ou à Rua do Almada, tirar o retrato daguerreotipado, em tom de ouro e azul, ao gosto inglês.”

Em 1917, a Avenida dos Aliados já andava a ser aberta a bom ritmo.
Nesse ano, o Banco Nacional Ultramarino comprou, na Praça da Liberdade, o edifício onde funcionava a casa bancária Pinto Fonseca & Ir­mão. Ficava mesmo pegado àquele em que funcionava o Camanho, que também foi adquirido. E assim acabou um dos míticos locais de reunião da intelectualidade portuense, na transição do século XIX para o século XX.
Depois da compra daqueles edifícios pelo Banco Nacional Ultramarino, o filho do fundador do Camanho, Carlos, mudou, só com a secção de restaurante, para a Rua de Sá da Bandeira nº 39, onde ainda se conservava em 1936, quando, nesse mesmo local, abre o Café Cabo Verde.
Por cima do balcão na foto abaixo, vê-se uma escada de acesso às prateleiras cheias do Camanho, das mais variadas bebidas.



Café Camanho



Na foto acima está o velho Manuel José Camanho ladeado pelo moço da copa e pelos criados Pedro e Tomás.
Para se fazer uma ideia de como no Porto daquele tempo se apreciava a boa mesa, para além do Camanho, ficaram célebres muitos outros restaurantes: Porto Clube, com serviço de gabinetes; Café Suisso, com serviço de restaurante no primeiro andar, com salas e gabinetes; Café Central que daria lugar, anos mais tarde, em 1933, ao Café Imperial (hoje McDonald´s), tendo sido fundado no local onde depois se levantou o Café Embaixador dos nossos dias.



No 2º prédio a contar da esquerda é o Camanho, na Praça D. Pedro



Publicidade ao Camanho, já na Rua Sá da Bandeira em 1923



Cafés importantes instalados a partir da 2ª metade do século XIX foram entretanto desaparecendo da actual Praça da Liberdade, de que são exemplo O Lusitano, mais tarde passou a O Portuense e depois a O Suisso, O Camanho, O Ventura, O Central que cederia mais tarde o espaço ao Imperial e situado na Rua do Bonjardim O Lisbonense.
Em 1860, o café da moda era O Portuense que ocupava o mesmo espaço inicialmente ocupado pela Hospedaria Resende e, desde 1853, pelo Café Lusitano.
O Café Lusitano abriu as suas portas ao público em 17 de Abril de 1853 e funcionou, algum tempo, na esquina da Praça D. Pedro e a Rua de Sá da Bandeira, hoje Sampaio Bruno, sendo que, o seu proprietário foi obrigado a fazer profundas obras de remodelação, para adequar o espaço à actividade, de café, pretendida. Em 1854, é concedido alvará de licença a António José Ribeiro, para que o seu café tivesse jogo de bilhar.


“Na esquina da Praça de D. Pedro e Sá da Bandeira (actualmente Sampaio Bruno), O Lusitano abriu em 17/4/1853, ocupando 2 portas para a praça e 5 para Sá da Bandeira. Um tal Ribeiro, que tinha tido um botequim em cima do muro, fez obras muito avultosas, gastando mais de dois contos de reis, para transformar uma alquilaria e um forno de pão num dos mais requintados botequins do Porto. Segundo José Fernandes Ribeiro pois "precisava de muitos preparos a fim de servir para o que agora serve: soalhos, estuque, pinturas, guarnições, douraduras, escadas, cozinha interior, etc. etc."
Fonte: portoarc.blogspot



“O então proprietário do café não conseguiu aguentar, as despesas da remodelação, tendo sido obrigado, em 15 de janeiro de 1860 a ceder o estabelecimento ao velho Chaves, que passou a ser o seu proprietário, tendo-lhe alterado o nome para Café Portuense”.
Horácio Marçal- Os Antigos Botequins do Porto



Muito luxuoso, dos mais notáveis da época, com muitos espelhos e candelabros, o café Portuense, “Possuía uma sala especial para as senhoras tomarem os sorvetes que ali eram servidos com apurado requinte. Para se avaliar do luxo desta casa de bebidas basta saber-se que as cadeiras – coisa inobservável no tempo presente se mostravam estofadas a veludo cor de carmesim. Este concorrido botequim, que durante o dia mantinha as mesas sempre ocupadas com os jogos do dominó, do Bóston e do voltarete e á noite era muito frequentado por comerciantes.”


Anos mais tarde, na década de 1880, abriu o Café Suisso, de Pozzi Cª, que sucedeu ao Café Portuense.
Tinha pastelaria no rés–do-chão e restaurante e bilhares no 1º Andar.
Foi primeiro café concerto do Porto, proporcionando à sua clientela boa música executada por um terceto de piano, violoncelo e contrabaixo, muito apreciado no Porto.
Em 1887, junto ao Café Suisso abriria o Café-Restaurante Áurea, como se pode ler no anúncio seguinte:


“Café Áurea-Restaurante: abre hoje o Café Áurea, sito na praça de D. Pedro, junto ao Café Suíço. É uma nova instalação elegante, propriedade do Sr. Nogueira.
Pintura e decoração do Sr. Marques”
In jornal “O Primeiro de Janeiro”, de 1 Fevereiro de 1887; Cortesia de Guido de Monterey (“O Porto 2”)


Entretanto, um outro Café Portuense abriria na esquina da Rua do Bonjardim com a Rua Sá da Bandeira no edifício onde esteve no seu cunhal, uma fonte.



Publicidade ao Café Portuense (na esquina da Rua de Sá da Bandeira e Rua do Bonjardim)



Praça D. Pedro junto à Câmara



Em frente, à direita, o Café Suisso em 1900



Na foto acima, à direita, vemos o Café Suisso na esquina do que é agora a Rua Sampaio Bruno e a Praça da Liberdade, e com os antigos Paços do Concelho, ainda de pé, à esquerda.
O Café Suisso teve grande notoriedade no espaço urbano da cidade portuense.
Nos finais do século XIX, foi considerado o melhor da cidade, atendendo ao luxo da sua decoração interior, recheada de espelhos e candelabros, após uma grande remodelação que sofreu, passando, inclusivamente, a ser frequentado por grandes personalidades da literatura e da política da cidade.

 
 

Publicidade ao Café Suisso – In jornal “A Voz Pública” de 1 Fevereiro de 1902


 
Inauguração das instalações remodeladas do Café Suisso - In jornal “A Voz Pública” de 1 Fevereiro de 1902
 
 

Em 6 de Fevereiro de 1902, o Jornal “O Primeiro de Janeiro” anunciava que nessa noite se iria realizar um primeiro concerto no café Suisso.
Aquando da remodelação da Praça da Liberdade, após a mudança dos Paços do Concelho ocupou, no mesmo local, um outro edifício completamente novo.
O café Suiço vindo do século XIX, como Suisso, atravessou mais de metade do século XX, tendo encerrado as suas portas em 1958.
Foi ainda uma referência para os portuenses que gostavam de bilhar, pois viram no seu salão mostrar as suas capacidades, aquele que viria a ser um vice-campeão mundial de Bilhar às 3 Tabelas, o portuense Egídio Vieira que, por vezes, também actuava no vizinho café Imperial.





Interior do Café Suisso em meados do século XX




Café Suisso, em 1932. em novo edifício




O Café Lisbonense no 3º quartel do séc. XIX ficava na Rua do Bonjardim, onde mais tarde foi a sede do Banco Borges.
Este café apresentava uma orquestra de Inverno (quarteto dirigido pelo violoncelista Júlio Caggiardi).
O Café Ventura foi inaugurado em frente ao Café Suisso, em 1891, na Rua Sampaio Bruno, que se chamou outrora, Rua de Sá da Bandeira, no local em que esteve o Café Embaixador.
Proporcionava concertos musicais com assiduidade.
O Grande Café Central, preferido dos estudantes, situou-se onde está o actual Imperial vindo, em 1897, do local onde esteve o Café Embaixador, dos nossos dias.
O denominado “Grande Café Central” tinha ocupado este espaço desde 15 de Novembro de 1885, onde, anteriormente, estava a chamada “Antiga casa do Florindo”.

“Inaugura-se amanhã o Grande Café Central, estabelecido na esquina das ruas de D. Pedro e Sá da Bandeira, defronte do café Suisso.”
In jornal “Primeiro de Janeiro”, de 14 de Novembro de 1885 – Sábado


“Ruas de D. Pedro e Sá da Bandeira. Antiga casa do Florindo. Abertura amanhã, Domingo, 15 de Novembro.
A vastidão do estabelecimento, a sua excelente situação e a forma por que se acha decorado, fazem supor que merecerá na concorrência do público. Bilhares magníficos.”
In jornal “O Primeiro de Janeiro”, 14 de Novembro de 1885 – Sábado


Onze anos depois, sobre o Grande Café Central dizia o jornal “O Primeiro de Janeiro” em 8 de Outubro de 1896:

“Nesta excelente casa há todas as noites concertos.”

E em 16 de Dezembro de 1897, dizia o mesmo jornal, sobre o Grande Café Central:

“Mudou para a praça D. Pedro, 127, visto ter passado as anteriores instalações para o Credit Franco Portugais.
Reabrirá na Praça D. Pedro a 1 de Janeiro de 1898.”


Após as obras de fundo a que foi sujeito, em 30 de Dezembro de 1900, seria feita a reabertura do Grande Café Central em instalações totalmente remodeladas.
Com firma de “Basílio de Sá Carneiro & Sobrinho”, a fachada do Grande Café Central destacava-se pelo cristal e ferro bronzeado, tinha ao serviço 10 mesas de bilhar e a decoração, ao estilo Luís XV, da autoria de José da Silva Carvalho.
Neste capítulo, sobressaíam os espelhos da Saint Gobain, tendo uma grande diversidade dos equipamentos sido fornecidos pela “Aurifícia”. Como dizia o jornal “A Voz Pública” em 30 de Dezembro de 1900, o “Water Closet” (Sanitários ou Lavabos) era completamente inodoro e a iluminação em bico de gás, o denominado “Bico Moderno”, apresentava candeeiros da Casa Navarro.
Por outro lado, a gerência foi entregue ao sócio, o jovem Augusto da Costa Carneiro.

 

 

 

 

Publicidade ao “Grande Café Central”, in Jornal “A Voz Pública”, em 30 de Dezembro de 1900




Café Imperial, antigo Café Central

Café Imperial - Cortesia Manuel Ermengol


Interior do Café Imperial - Cortesia Carlos Romão




O Café Central (1897/ 1933) depois Café Imperial, à direita da foto


segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

(Continuação 3) - Actualização em 11/12/2018, 17/07/2019 e 07/02/2020


“Os primeiros botequins chegam a Portugal em pleno século XVIII. No entanto, antes de 1755 o hábito português de frequentar estes estabelecimentos ainda não se encontrava muito enraizado, verificando-se uma afluência mais generalizada entre os negociantes estrangeiros, que desenvolviam os seus negócios na cidade de Lisboa. A capital portuguesa será, portanto, o berço da tradição dos cafés em Portugal, que se irá, ulteriormente, expandir pela cidade do Porto e depois, por todo o país. Na cidade de Lisboa notabilizaram-se, neste período de finais da primeira metade do século XVIII, e como verdadeiros pioneiros do café como estabelecimento de comércio em Portugal, o Botequim do Rosa na Rua Nova dos Mercadores e o Botequim de Madame Spencer, ambos fundados por volta de 1740. Mas será com o violento terramoto de 1755 e a ulterior reorganização urbana da cidade lisboeta, levada a cabo pelo Marquês de Pombal, que os botequins passarão a ter um valor relevante na Baixa Pombalina”.
Fonte - Nuno Fernando Ferreira Mendes; In: Dissertação de Mestrado em História da Arte Portuguesa


Por sua vez, os cafés portuenses dos séculos XIX e XX foram, verdadeiros locais de intervenção social, cultural, económica, política e até religiosa. Encarados como espaços sociais que se enquadram na sua época e mentalidade, conferindo pertinência à reconstituição das suas clientelas mais fiéis, os cafés do Porto do Século XIX, foram frequentados por clientes, que se enquadravam em classes sociais ou estatutos profissionais diferenciados, levando a que estes estabelecimentos se ajustassem as estas condicionantes, compreendendo-se, assim, “a existência de cafés de elite económica, de contestação, do operariado, de pequenos comerciantes, de marítimos ou de professores”.
Na sua grande maioria, concentravam-se nos espaços de maior acessibilidade, como por exemplo, a Praça de D. Pedro (antiga Praça Nova e actual Praça da Liberdade), mas em muitos casos a sua vocação era em larga medida decorrente da proximidade dos focos de origem da clientela (o Pepino e o Amaro eram frequentados por marítimos, enquanto o Âncora d’Ouro era o pouso dos estudantes).



"O viajante experimentado e fino chega a qualquer lugar, entra no café, observa-o, examina-o, estuda-o, e tem conhecido o país em que está. O seu Governo, as suas Leis, os seus Costumes, a sua Religião. Levem-me de olhos tapados onde quiserem. Não me desvendem senão no Café e prometo-lhes que em menos de 10 minutos, lhes digo a terra em que estou, se for país sublunar”.  
Almeida Garrett


O Botequim do Pepino de António Pereira Porto ficava no Muro dos Bacalhoeiros na Ribeira. 
António Porto faleceu aproximadamente em 1850, mas a viúva conservou o célebre botequim (mas já muito decadente) até 1871, data da demolição daquela rua e das ruas adjacentes.
Em 18 de Outubro de 1845 o “Periódico dos Pobres no Porto “ dava conta de que, António Porto tinha casado em 16 de Outubro:
"Anteontem de tarde atravessava a todo o trote a Praça de S. Lázaro um cabriolé a quatro, carregado de pessoas do sexo feminino em grande luxo, e acompanhado de cavaleiros. Era o botequineiro Pepino de Cima do Muro que tinha ido casar, e que se recolhia a casa em grande estado”.



Um leitor de “ O Tripeiro” escrevia também, no mesmo jornal:


"O Botequim do Pepino, em Cima do Muro, era muito concorrido da marinhagem estrangeira e de mulheres de má nota do Forno Velho e immediações. As desordens alli eram frequentes. O predio, juntamente com os demais do mesmo lanço do muro, foi demolido, quando se construiu a rua que segue da dos Inglezes para a Alfandega. O botequim transferiu-se para o Forno Velho. Não sei se ainda lá existe ou algum seu descendente. O Rodrigues Sampaio, o Sampaio da Revolução, era accusado pela imprensa adversaria por ter sido freguez do mesmo cafe, quando era guarda da Alfandega ou coisa que o valha. Cito este facto de memória mas creio não estar em erro”.
Um tripeiro da gêmma, baptisado em S. Nicolau



Arnaldo Gama, no seu livro O Génio do Mal, escreve: 
“O Botequim do Pepino tinha as traseiras imundíssimas voltadas para um pequeno largo, que por uma travessa sempre suja comunica com o  Cima do Muro".


Segundo Pinho Leal (vol. VI - p. 62 - do seu Portugal Antigo e Moderno), o Botequim do Pepino situava-se a poente do Postigo dos Banhos.



Postigo dos Banhos. O Botequim do Pepino ficaria num dos prédios do canto inferior esquerdo





Por sua vez, o Botequim do Amaro existiu, assim, por cima do Muro da Ribeira no qual foi fundado, em 4/11/1876, o Clube Fluvial Portuense.
Sobre o Botequim do Amaro, é o texto seguinte:


“Não se sabe a data da sua fundação, todavia este botequim terá existido até muito depois de 1876 (data em que aí se constitui o Fluvial).
Situava-se na Rua de Cima do Muro da Ribeira, logo ao alto da sinuosa escada que, vinda do fundo da Rua de S. João, dá acesso a este muro.
Teve igualmente como designações a de Botequim ou Café Rio Douro (parece que por esta altura com outro/s proprietário/s) e a de Café de Cima do Muro, devido à sua localização.
Este botequim pertencia a José Pereira de Santo Amaro, que veio a ser o 2.º presidente da direcção do Real Clube Fluvial Portuense.
Numa dependência deste botequim fundou-se o Real Clube Fluvial Por­tuense (em 4/11/1876) – que por aí estanciou durante dois anos - pelos adeptos de remo David José de Pinho e pelo próprio Amaro. Passou depois, este clube, para a Travessa de S. João n.º 13, no 2.º andar”.
Cortesia de Rui Manuel da Costa Perdigão da Silva Fiadeiro Duarte (de Cifantes e Leão)



Também pela Ribeira, ficava a Taberna Vidraças”.
A 13 de Outubro de 1833 abria na Rua Nova dos Ingleses o Café do Comércio na casa onde mais tarde se instalaria a sede da Companhia de Seguros Garantia. Este café, anos depois, viria a mudar-se para a Praça da Batalha com o nome de Café Águia Douro.
Em meados do século XIX, a Praça D. Pedro no Porto era já o "ponto predileto de reunião dos homens da política e do jornalismo, do comércio e dos brasileiros".
Aqui predominavam os botequins Porto Clube, Europa, Antiga Cascata, Internacional, entre outros, progressivamente desaparecidos.
Na área onde se situava a antiga Porta de Carros, desapareceram o Botequim da Porta de Carros também conhecido pelo Botequim do Senhor Frutuoso.
Por aquele local havia também o Café Brasil, que ainda hoje, se encontra de portas abertas.
Por outros locais da cidade estavam espalhados os cafés e botequins.
O Botequim das Hortas (esteve na esquina da Rua do Almada com a Rua da Fábrica), o Guichard (situado na Praça Nova), o Botequim da Porta do Olival (no Olival), o Botequim de S. Lázaro (próximo do jardim e que depois, foi Café América), estes dois últimos os preferidos pela juventude e intelectuais, o Botequim do Martinho (situava-se no que é hoje, a actual Praça Parada Leitão) e o Botequim da Rua de Santo António.
O Botequim da Rua de Santo António, inaugurado em 1851, tinha a sua entrada naquela rua, pela porta de acesso ao Teatro Circo, depois Príncipe Real, do lado esquerdo quem sobe. Aquela porta daria também acesso mais tarde, ao Teatro de Sá da Bandeira, e manteve-se durante muitos anos.
Era um café luxuoso e o preferido dos libertinos da época e, 13 anos depois, em 1864, passou a chamar-se Café da Neve, quando começou a servir sorvetes.
Este café, que também era conhecido por Café Circo, uma vez que se encontrava no acesso àquele reconhecido e emble­mático Teatro Circo, era dotado de salão de bilhares e por ele transitaram muitos dos actores que declamavam nos vizinhos Teatro Circo e Baquet. Desconhece-se a data do seu encerramento. 
Sobre o Botequim da Rua de Santo António o Dr. Artur de Magalhães Basto diz-nos, no “O Tripeiro”, Série VI, Ano IV:    

                     

”Era a inveja dos lisboetas pelo seu gosto e luxo e um viveiro de “libertinos”; quem ali entrasse a tomar capilé e demorasse dez minutos saía cínico. Havia quem fosse lá para jogar “candidamente”, o quino e o bilhar, mas, em geral, quem se sentava àquelas mesas marmórias espostejava “a sã moral”… como cadáver combalido em teatro anatómico”.



“Abriu-se um café na rua de Santo Antonio, da cidade do Porto, que dizem os jornaes e correspondências ser uma coisa que á vista do Marrare de Lisboa é o mesmo que comparar o Salitre a S. Carlos! A architectura, a mobília e o serviço são de um luxo e gosto de primor. Lá chamam-lhe o Marrare por ironia. Quando teremos nós disto em Lisboa? // Devia ser o café contiguo ao portão do Circo. Que ingénuos tempos lá vão! Os portuenses, afeitos à pirangaria do ‘Guichard’, acharam sumptuoso o novo botequim da rua de Santo Antonio; e os lisboetas invejavam-no com uma pontinha de ironia mansa”.
Fonte: Alberto Pimentel, In “A Praça Nova”. Porto: ‘Renascença Portuguesa’, 1916, p. 174


“O botequim da rua de Santo António era um cardume de libertinos: quem ali entrasse a tomar um capilé, e se demorasse dez minutos, saía cínico. E Innocencio, começando a frequentar aquella caverna com o cândido intento de jogar o quino, passou depois ao bilhar, e d’aqui ás mezas marmóreas onde a sã moral era espostejada como cadáver combalido em amfi­theatro anatómico”.
Cortesia de Rui Manuel da Costa Perdigão da Silva Fiadeiro Duarte (de Cifantes e Leão); Fonte: Camilo Castelo Branco, In “O sangue”. 3.ª Ed. Lisboa: Parceria António Maria Pereira, 1907, pp. 99-100




O Café da Neve, propriedade de Francisco Corrêa que também o era do Teatro Circo (Teatro Sá da Bandeira), c. 1865, já apresentava sinais de alguma vetustez, passando a ser frequentado por gente modesta: empregados do comércio, pequenos negociantes, artistas e luveiros, para além dos actores e actrizes dos Teatros Baquet e Circo.
Ao nível do piso térreo, o café apresentava um espaço com mesas marmóreas para tomar café e, ao fundo, um outro para a prática do bilhar e do quino. 
O nome deste café teve origem nos sorvetes que vendia, segundo alguns jornais da época uns dos melhores sorvetes da cidade. Tinha uma sala privada para “as senhoras e famílias particulares tomarem neve”.  Ficou, inclusivamente, para a história como uma das raras excepções de cafés portuenses que possuíam sala privada para as mulheres.
Quanto ao Botequim de S. Lázaro, ele já existia em 1851, entre o Largo da Ramadinha e o Largo de Santo André (Praça dos Poveiros). 
Pelo menos entre 1884 e 1901, foi seu proprietário José de Lima Lobo e, em 1904, já tinha mudado para Café América, mantendo-se aberto, segundo Horácio Marçal, seu habitual frequentador, até meados do XX.
Era um local conhecido por nele se jogar o dominó e as cartas e Alberto Pimentel referia, também, o “Trinta e um”.
Aquele botequim era frequentado por José Maria da Graça Strech, uma figura típica do Porto, da época, conhecido pelo “Desgraça”.
Na Praça de D. Pedro como se vê em anúncio abaixo, em 1859, existia o Café dos Dous Amigos.



In “O Jornal do Porto”, 21 junho 1859


O Botequim “O Pátria” ficava na Porta do Olival e era frequentado pelos lentes da Academia Politécnica e da Escola Médica.
Nas proximidades da Escola Politécnica existiu também o Botequim do Adães que se pensa ter existido no mesmo local do Botequim da Porta do Olival, ainda hoje existente.
O jornalista e historiador Fir­mino Pereira acerca do Botequim do Adães, dizia que nele era frequente encontrarem-se, "encostados ao botequim de Adães os galegos em mangas de camisa, que espe­ravam os fretes dos armadores do bairro". 
Na Cordoaria havia ainda, em tempos, o Botequim da Graça e bem perto, em frente à Igreja dos Carmelitas, o Botequim da Pomba vizinho da célebre “Estalagem A Lisbonense”.



“Era um botequim de antiga fundação e que pelo ano de 1854 ainda se encontrava no mesmo local.
Ficava no Carmo, perto da Estalagem Lisbonense, fronteiro à Igreja e Convento dos frades da Ordem dos Irmãos Descalços de Nossa Senhora do Monte Carmo (Carmelitas). Tirando o local deste botequim quase todos os baixos dos prédios, entre a Travessa do Carmo e a Praça de Parada Leitão, pertenciam ao alquilador Lopes, que aqui e na antiga Viela do Assis, onde vivia, tinha as estrebarias, as cocheiras, as oficinas de ferrador…”
Cortesia de Rui Manuel da Costa Perdigão da Silva Fiadeiro Duarte (de Cifantes e Leão); Fonte: Horácio Marçal  – “Os antigos botequins do Porto”, in O Tripeiro. 6.ª Série, Ano IV, n.º 3. Porto: Março 1964, p. 70



Pela Rua do Bonjardim esteve, segundo Alberto Pimentel, o Botequim dos Macacos.


“Aqui, que me conste, não se tirava a vida a ninguém, mas a bengala e o lenço de assoar tirava-se a toda a gente. Do relógio não falo porque os frequentadores habituais não o tinham, a não ser que tivesse perten­cido aos outros. Esta crónica revela que este espaço era um botequim à ‘moda antiga’, aqui aplicado no dúbio sentido; uma vez que, tal como nal­guns primevos botequins, era um lugar de pouca reputação, por vezes coio de zaragateiros e meliantes de toda a espécie.
Parece que era a este botequim que se referia Firmino Pereira dizendo que aqui, neste antro, na Rua do Bonjardim à entrada da Viela da Neta, escuro e fumacento continuava-se a tradição arruaceira e temerária do Botequim do Pepino”.
Cortesia de Rui Manuel da Costa Perdigão da Silva Fiadeiro Duarte (de Cifantes e Leão)



O Café da Porta de Carros ou Botequim do Senhor Frutuoso localizava-se no Largo da Porta de Carros, “nos baixos de um prédio de primeiro andar, que se achava (no meio de mais dois) encostado à demolida muralha Fernandina”, mesmo em frente à Igreja dos Congregados.
Horácio Marçal informa-nos que, em 1852, aquele estabelecimento já era considerado muito antigo.
Este café pertencia ao senhor Frutuoso, de seu nome completo, Fructuoso José da Silva Ayres ​(1804-1881), casado com Maria Máxima de Gouveia Osório Braga. É este capitalista que funda a Praia da Granja, tal como a conhecemos, como estância balnear, depois de adquirir em hasta pública a propriedade que os crúzios do mosteiro de Grijó possuíam nas praias de V. N. de Gaia.
O citado casal foram os progenitores do distinto arcebispo de Calcedónia que foi também ministro da justiça em 1892 e dos Negócios Estrangeiros, D. António Frutuoso Ayres de Gouveia Osório (1828-1916) e de José Frutuoso Ayres de Gouveia Osório (1827-1887), médico e lente da Escola Médica e político e Presidente da Câmara Municipal do Porto em 1886-1887.
Foi ainda redactor das revistas “Gazeta Médica”, da “Saúde Pública” e da “Revista da Sociedade de Instrução do Porto” (1881-1884), sociedade da qual tinha sido fundador.
Este professor da Escola Médica casou (em 16 de julho de 1866) com Virgínia de Brito e Cunha (nascida a 2 de Novembro de 1836 na casa do Ribeirinho, em Matosinhos e falecida a 16 de Agosto de 1905 na praia da Granja) e, desse casamento, tiveram uma filha, Maria Benedita de Brito e Cunha Aires de Gouveia Osório.





Aqui, foi a Porta de Carros



Na foto acima pode observar-se, à direita colado à muralha, o local onde esteve o Café do Senhor Frutuoso. Ao centro vê-se o local do antigo e actual Café Brasil. À esquerda, em frente, a Rua de Santo António.
O Café das Hortas encontrava-se sedeado na Rua Nova das Hortas (actual Rua do Almada), na esquina com a Rua da Fábrica.
Horácio Marçal indica-nos que este café “pertencia a Domingos José Rodrigues e foi fundado no ano de 1820, com secção de bilhares no primeiro andar”.
Além de uma ampla sala de bilhares no primeiro andar, tinha três grandes salões: um para a burguesia, outro para os artistas e o ter­ceiro para a plebe. Um dos mais assíduos fre­quentadores do segundo salão era Camilo Castelo Branco, que aparecia sempre com o seu inseparável cão terra-nova.
Ramalho Ortigão escreve a propósito deste botequim:

“O velho botequim das Hortas em que à noite se jogava o Loto, a vintém o cartão, e que, ao abrir-se uma das suas portas envidraçadas, guarnecidas da cortininha de cassa branca, enchia de um picante perfume de calda de capilé e de café torrado a rua toda”.

Um dos mais assíduos fre­quentadores do Café das Hortas era um tal José Fer­reira, natural do Carvalhido, mas que o Porto conhe­cia, popularmente, pela al­cunha de "O cartolas ", por causa do tipo de chapéu que nunca deixava de usar. Era um notável poeta improvisador.
Segundo um dos seus biógrafos nasceu plebeu, e é bem possível que fre­quentasse o salão, que no referido café, era destinado a esta classe. O "Cartolas" acabou os seus dias como guarda da Fonte das Águas Férreas, muito frequentada pelas meninas dos meados do século XIX, porque as suas águas, dizia-se, provocavam o tom anémico muito em voga naqueles recuados tempos. 
A partir de 1850, no piso superior do café, passou a fun­cionar a Filarmónica Portuense
Em 1 de Março de 1859 o jornal “O Braz Tisana” anunciava que o Café das Hortas, “(…) abriu-se novamente depois de reparados os estragos que sofreu por causa do incêndio que, ultimamente, ali teve lugar”.
O Café das Hortas durou 60 anos.
A partir da década de 80 do século XIX, passou o estabelecimento por várias transformações, inclusive com mudança de donos.

“Este estabelecimento, que jazia nostálgico por incúria dos seus proprietários, reaparece agora, devido a um novo dono, cheio de atraentes e convidativas distracções para deliciar os apetites dos seus frequentadores.
Tem, além do bom e escrupuloso serviço, os agradáveis passatempos que a todos oferece.
O sr. Teixeira Lopes, a quem actualmente pertence o café das Hortas, tem sido incansável em tornar o seu estabelecimento digno de mencionar-se entre os de primeira ordem.
Além do pianista, que todas as noites mimoseia os fregueses daquela casa, tem contractados concertistas e cantores.”
In jornal “O Correio do Porto”, de 20 de Setembro de 1886 – 2ª Feira



Mais tarde, o Café das Hortas foi transformado em restaurante, denominado Restaurante do Porto e os pisos superiores deram lugar ao Hotel Internacional, que ainda hoje subsiste, tendo começado por se chamar Hotel Real.



Local onde existiu o Botequim das Hortas


Pela Praça da Batalha, desde 1857, existiu um café que era o local de encontro de liberais, republicanos e socialistas, denominado Café da Comuna.
Por razões de ordem política, era, aquele, um local de forte vigilância policial, o que levou ao seu encerramento em 1889, após fuga dos seus proprietários às autoridades.
Nesse mesmo ano abriria um outro no seu lugar, mas, obviamente, teve que mudar o nome para Café Leão D’Ouro.
Muitos destes cafés funcionavam também como restaurantes, contando com uma certa clientela fiel que se deslocava da periferia para vir ao Porto, às compras, em especial nos dias de feira: às Terças e Sábados. Os outros, a maior parte, viviam da clientela da noite.
As Terças, como dia de feira, era tão importante que a Companhia de Caminhos de Ferro Portugueses facultou, até aos anos vinte do século XX, um desconto especial a quem se deslocava ao Porto, nesse dia.
Alguns dos cafés portuenses foram também palco de manifestações musicais, quer devidamente programadas, quer a cargo de espontâneos que ao visitavam pontualmente.
Sobre estes últimos espectáculos a revista humorística “O Sorvete” de 1 de Setembro de 1878, N.º 13, 1.º Ano, 2.ª Série, na sua página 104, reproduzia uma banda desenhada alusiva aos mesmos. Findo o espectáculo, quando o artista ia solicitar uma recompensa monetária pela sua, até aí muito cativante actuação, se dava a fuga das assistências.