quinta-feira, 29 de setembro de 2016

1. História Breve do Porto

Em 1111, D. Teresa, mãe do futuro primeiro rei de Portugal, concedeu ao bispo D. Hugo o couto do Porto. Das armas da cidade faz parte a imagem de Nossa Senhora, daí, o facto de o Porto ser também conhecido por “cidade da Virgem”, epítetos a que se devem juntar os de Antiga, Mui Nobre, Sempre Leal e Invicta, que lhe foram sendo atribuídos ao longo dos séculos e na sequência de feitos valorosos dos seus habitantes e que foram ratificados por decreto de D. Maria II de Portugal. Desempenhou um papel fundamental na defesa dos ideais do liberalismo nas batalhas do século XIX. Aliás, a coragem com que suportou o cerco das tropas miguelistas durante a guerra civil de 1832-34 e os feitos valerosos cometidos pelos seus habitantes — o famoso Cerco do Porto — valeram-lhe mesmo a atribuição, pela rainha D. Maria II, do título — único entre as demais cidades de Portugal — de Invicta Cidade do Porto (ainda hoje presente no listel das suas armas), donde o epíteto com que é frequentemente mencionada por antonomásia - a «Invicta».
Fontes: Guia da Cidade, Wikipédia, Câmara Municipal do Porto


“Desde os fins da Idade do Bronze que o espaço hoje ocupado pela cidade do Porto tem sido quase ininterruptamente povoado. Ao longo deste tempo, e muito particularmente nos últimos mil anos, este pequeno pedaço de território e as suas gentes tiveram um papel primordial e único na história de Portugal.
Daqui Portugal foi buscar o nome. Daqui se saiu para conquistar Lisboa aos mouros. Aqui o português João e a inglesa Filipa contraíram matrimónio e nasceu o Infante, patrono dos descobrimentos. Aqui se doou a carne e se comeram as entranhas das reses, para que o império se fizesse. Daqui se exportou o generoso vinho que tornou a cidade mundialmente famosa. Por entre trincheiras e paliçadas, aqui se defendeu a liberdade do liberalismo contra a tirania miguelista, se ganhou o coração do rei-imperador e o título de Invicta. Aqui se morreu pela implantação do regime republicano, no 31 de Janeiro”.
Fonte: Wikipédia

Origens


O morro da Pena Ventosa é uma saliência granítica coroada por uma plataforma de cotas máximas na ordem dos 78 m, rodeada de vertentes de acentuado declive que descem para o rio Douro e para o pequeno rio da Vila. Estas características da topografia e da hidrografia constituíam boas condições defensivas e foram decisivas para que o alto da Pena Ventosa tivesse sido o sítio original da urbe portuense, chamada Portus de Cale, que a partir de determinada altura se associa à presença dos romanos.
Considerando Cale como uma corruptela de Gaia e, estando do outro lado do rio, uma praia com condições para que as embarcações aportassem, tal povoado só poderia ser o Porto de Cale, Portus de Cale e da associação, da denominação dos dois povoados situados em margens opostas do rio Douro, um em frente do outro, surgiria mais tarde o vocábulo “Portucalense” e o nome de “Portugal”.
Cale tinha um castelo e, na margem oposta, uma boa praia para porto de abrigo.
Esta teoria é a de Fernão Lopes, que parece ser a mais rigorosa, no que diz respeito a este assunto e na qual foi seguido por inúmeros historiadores e eruditos.
Segundo o Itinerário de Antonino, a estrada romana de Olissipo a Bracara Augusta (Via XVI) oferecia nesse passo do Douro uma estação. Não há unanimidade quanto à sua localização, na margem esquerda ou na direita. O mais provável seria a estação estar repartida nas duas margens. Os cavalos das mudas ficariam nos dois altos e os próprios mensageiros teriam de um lado e outro o seu albergue. Mas, de facto, no itinerário só é mencionada Cale (Gaia).
Assim, imperando Antonino no ano 160 d.c., concluem alguns entendidos, que o Porto ainda não existia, nem Portucale, que só veria a luz do dia pela mão dos Suevos, no início do século V.
Corroborando isso, há documentos da existência de, por exemplo, Braga (Brachara Augusta), Lisboa (Felicitas Julia), Beja (Pax Julia), Évora (Liberalitas Julia), etc,…e o Porto? Não há conhecimento…não existia.


Itinerário de Antonino entre Lisboa e Braga



Segundo, Pedro Augusto Ferreira, Abade de Miragaia, o centro e núcleo da cidade na época áurea dos romanos era Cale, na margem esquerda do rio Douro hoje Gaia e, o seu porto, era na margem direita numa praia, onde hoje é Miragaia. Situado em frente ao castelo romano existente na margem mais a sul, esta área portuária era a ideal para esse efeito.
A origem da cidade de Vila Nova de Gaia remonta, provavelmente, a um castro celta. Quando integrada no Império Romano, tomou o nome Cale (ou Gale, uma vez que no Latim Clássico não há uma distinção clara entre as letras e o som "g" e "c"). Este nome é, com grande probabilidade de origem Céltica, um desenvolvimento de "Gall", com a qual os Celtas se referiam a eles próprios (outros exemplos podem ser encontrados em "Galicia", "Gaul", "Galway"). O próprio rio Douro (Durus em latim) é igualmente Celta, construído a partir do Celta "dwr", que significa água.
Durante os tempos romanos, a grande maioria da população viveria na margem sul do Douro, situando-se a norte uma pequena comunidade em torno do porto de águas fundas, no local onde se situa agora a zona ribeirinha do Porto. O nome da cidade do Porto, posteriormente, "Portus Cale", designaria o Porto ("portus" em latim) da cidade de Gaia.
Durante muito tempo a agora cidade do Porto compreendeu, assim, a população da região das duas margens denominada Portuscale. Designação que depois se estendeu ao condado e mais tarde ao reino.
O desmembramento do Portuscale aconteceu no século V com a invasão dos bárbaros, pela qual os suevos sedeados na Galiza e a norte do Douro tinham como capital Braga e os Alanos instalados nas Beiras e Estremadura até à margem esquerda do rio Douro, tinham Coimbra como capital.
Em breve, haveriam os dois povos de se gladiarem e os suevos trataram de se fortificarem, no morro da Pena Ventosa, pois, esse local era mais aconselhável para esse efeito que o Portus de Cale (Miragaia).
Naquele morro haveria de começar a nascer o chamado “Castrum Novum”, para o distinguir do “Castrum Antiquum” ou Cale, que nunca teve bispos, e pertencia a Coimbra.
Aquelas duas designações aparecem, nas actas do primeiro Concílio de Lugo no ano de 569.
Os Suevos ainda haveriam de chamar a Castrum Novum, Festabole.
Os Suevos seriam expulsos, alguns anos depois, por Leovegildo rei dos Godos e estes pelos Mouros.
Durante as décadas de 1980 e de 1990, as investigações arqueológicas realizadas nas traseiras da Sé, nomeadamente na Casa da Rua de D. Hugo n° 5, permitiram identificar um perfil estratigráfico que ilustra a evolução do núcleo primitivo da cidade. Destes estudos concluiu-se ter havido uma ocupação quase contínua do local desde os finais da Idade do Bronze.
Estes vestígios arqueológicos documentam:
Do século VIII a.C. até 500 a.C. – a existência de contactos com o Mediterrâneo de populações que viviam no alto do morro da Pena Ventosa;
Entre 500 e 200 a.C. – a presença de um povoado castrejo de casas de planta redonda e a continuação dos contactos com povos mediterrânicos;
Do século II a.C. a meados do século I d.C. – uma fase de romanização durante a qual o povoado adquire crescente importância, que se revela na função organizativa em relação aos territórios circundantes. Foram provavelmente os romanos que aqui criaram uma primeira estrutura urbana, reorganizando o traçado das ruas, implantando casas de planta rectangular e criando instalações portuárias nas imediações do local onde mais tarde se ergueu a chamada Casa do Infante.
A arqueologia permitiu também encontrar indícios da ocupação da Pena Ventosa nos séculos I e II d.C. e vestígios de uma muralha construída no século III. Pensa-se, que o seu traçado fosse idêntico ao da Cerca Velha ou Românica que seria reconstruída no século XII.
No Século IV assiste-se a uma fase de expansão da cidade em direcção ao vizinho Morro da Cividade e à zona ribeirinha, tendo sido encontrados mosaicos romanos do século IV na Casa do Infante.
No Século V assistimos à invasão dos suevos e, em 585 e seguintes, durante o reino visigótico, verifica-se a emissão de moeda em Portucale e a presença de um bispo portucalense no III Concílio de Toledo, em 589.
Antes, em 560, para a consagração da igreja de Cedofeita, teve que vir um bispo de Braga.
A relativa importância do lugar nessa época é comprovada por diversas e significativas moedas dos reis visigodos Leovegildo (572-586), Ricaredo I (586-601), Siúva II (601-603) e Sisebuto (612-620), cunhadas com a legenda toponímica de Portucale ou Portocale.
Para o padre Agostinho Rebelo da Costa a cidade a norte do rio Douro fundada em 417 pelos Suevos, foi sucessivamente conquistada pelos Godos e pelos Muçulmanos, até que D. Afonso de cognome “O Católico” com a ajuda de seu irmão Froyolano a restaurou em 820.
Em 716, deu-se a invasão muçulmana e a destruição da cidade pelo emir Musa ibn Nosseyr (nomeado pelo califa de Damasco Al-Walid) e seu filho Abd al-Aziz, auxiliados pelo lugar- tenente de nome Tarik. Julga-se, no entanto, que a dominação muçulmana de Portucale (em árabe: Burtughal) terá sido relativamente breve, pois parece ter sido atacada, logo por volta de 750, por Afonso I das Astúrias, de que tinha sido, Pelágio das Astúrias o seu 1º rei e este, antecessor do rei Fávila.



Reino das Astúrias


O reino da Astúrias foi, portanto, a primeira entidade política cristã estabelecida na península depois da capitulação do Reino Visigótico, na sequência da morte de Rodrigo, último rei visigodo, na batalha de Guadalete. A designação de Reino das Astúrias foi inicialmente ostentada por Pelágio das Astúrias.
Aliás, aquele reino seria o embrião da reconquista cristã.
Durante um século, a região teria jazido ao abandono e quase desabitada.
Entretanto, neste período histórico, os Árabes combatiam entre si e enfraqueciam-se.
Em Damasco os Abássidas tinham corrido do governo do califado com os Omíadas e, um neto do califa deposto, de nome Abdu-r-rahman Ibn Muawyiah vagueava a procurar apoios pelo norte de África, vindo a tornar-se com o apoio de uma tribo bérbere, dos “zenetas”, da qual era originária a sua, senhor da península ibérica, corria o ano de 760.
O califado de Damasco era então transferido para Bagdad e providenciava-se o modo de correr com o usurpador da península, o que não conseguiriam, no campo de batalha. Foi então ensaiado um plano com base na traição, com o apoio de Carlos Magno, que depois de algumas batalhas ganhas por este, resultou numa retirada pacífica, que haveria de resultar no País Basco, na tragédia de Roncesvalles.
Importa referir que após a morte do profeta Maomé (ou Mohammed), o fundador do Islamismo e autor do Alcorão, houve um processo de disputa para decidir quem deveria sucedê-lo, já que o Islão não consistia apenas em uma religião desconectada do poder político.
Um grupo de adeptos, maioritário ainda hoje, surge, constituindo cerca de 90% da população islâmica. Ficaram conhecidos como sunitas e divergiam da concepção sucessória dos xiitas, por atualizarem suas interpretações do livro sagrado do Alcorão e da Lei Islâmica, levando em consideração as transformações pelas quais o mundo passou e valendo-se de outra fonte além das citadas, a Suna. Este é o livro onde estão compilados os grandes feitos e exemplos do profeta Maomé. Daí deriva o nome sunita.
Por outro lado, os seus oponentes defendiam a sucessão do califado pela hereditariedade, isto é, pelos descendentes da família de Maomé e que ficaram conhecidos como xiitas.
Assim de acordo com os sunitas, o califa deve, idealmente, ser um membro da tribo dos quraysh, eleito pelos muçulmanos ou por seus representantes; já para os xiitas, ele deve ser um imã que descenda diretamente da Ahl al-Bayt, a família do profeta Maomé.
Desde o advento do islão até 1924, diversas dinastias alternaram-se sucessivamente no califado, incluindo os omíadas, que foram expulsos de Damasco para Córdoba, no al-Ândalus (Ibéria muçulmana), os abássidas, que governaram a partir de Bagdad, os fatímidas, que governaram a partir de Cairo, no Egito, e, finalmente, os otomanos.
O Califado é a única forma de governo que tem a total aprovação na teologia islâmica tradicional, e "é o conceito político central do islamismo sunita, por consenso da maioria muçulmana nos primeiros séculos."
Abderraman II, rei de Córdoba, veio entretanto reconquistar o burgo do Porto em 824, mas foi derrotado pelo conde Hermenegildo que D. Afonso tinha antes, feito conde desta cidade e cuja batalha aconteceu em Campanhã junto ao Rio Tinto, que assim diz a lenda, por ter ficado tingido com o sangue dos mouros. No entanto, parece que sempre teve esse nome, derivado aos sedimentos das margens que lhe dão uma tonalidade característica.
Portucale, por aqueles tempos, assume grande protagonismo político e militar, com a criação do respectivo condado, já que, o governo político na hierarquia dos Godos era confiado a um Conde. Nesta época, o nome Portucale já tem um sentido acentuadamente lato.
Durante um século, a região teria jazido ao abandono e quase desabitada até à presúria (terra conquistada aos mouros) de Portucale pelo conde Vímara Peres em 868, quando se dá início a uma fase de repovoamento e de renovação urbana sendo o território alargado em área pelos seus descendentes – embora nem sempre segundo uma linhagem perfeita – até à morte do último conde, D. Nuno Mendes, na batalha de Pedroso, que ocorreu a 18 de Janeiro de 1071, perto da freguesia de Pedroso, junto a Tibães (Braga), quando tentava conseguir maior autonomia face a Garcia II da Galiza, que governava o Reino da Galiza e Portucale de seu pai, Fernando I, o Magno, conde de Castela a partir de 1035 e rei de Leão, a partir de 1037.
Com Vímara Peres ganha vida o condado Portucalense que, a partir do século X, passará a ser gerido por um Duque.
Entretanto, é, também, no reinado de Afonso III, que Coimbra, Lamego e Viseu passam, temporariamente, para mãos cristãs.
 
 
“Vímara Peres (Corunha, Galiza, c. 820 – Guimarães, 873) foi um senhor da guerra cristão da segunda metade do século IX do Noroeste da Península Ibérica. Nascido na Galiza, vassalo de Afonso III foi enviado a reclamar o vale do Douro, em tempos remotos integrado na província romana da Galécia.
Foi um dos responsáveis pela repovoação da linha entre o Minho e Douro e, auxiliado por cavaleiros da região, pela acção de presúria do burgo de Portucale (Porto), que foi assim definitivamente conquistado aos muçulmanos no ano de 868.
Nesse mesmo ano, tornou-se o primeiro conde de Portucale.
Vímara Peres foi também o fundador de um pequeno burgo fortificado nas proximidades de Braga, Vimaranis (derivado do seu próprio nome), que com o correr dos tempos, por evolução fonética, se tornou na moderna Guimarães, tendo sido o principal centro governativo do Condado Portucalense quando da chegada do conde D. Henrique.
Faleceu em Guimarães, em 873. O seu filho, Lucídio Vimaranes (etimologicamente, «filho de Vímara»), sucedeu-lhe à frente dos destinos do condado, instituindo-se assim uma dinastia condal que governaria a região até 1071”.
Fonte: portoarc.blogspot
 
 
É nesta época que a região do Vale do Douro vai ser alvo de uma reorganização do território, tendo em conta razões de segurança e de repovoamento, dando origem a circunscrições de matiz românico-góticas chamadas civitates ou territoria.
Uma daquelas circunscrições passou a ser conhecida por Anégia, a cabeça de um território, escolhida em função da sua localização estratégica, ao nível do domínio visual da linha do horizonte e por ser uma passagem de uma via vinda do sul, passando por Arouca e que ia entroncar numa outra com percurso por Marco-Guimarães-Braga.


 

Limites do território correspondente à Anégia
 
 
 
Hoje, a cabeça da Anégia estaria localizada na freguesia de Santa Maria da Eja, concelho de Penafiel, sobranceira ao rio Douro e à foz do rio Tâmega, no chão da actual modesta Capela de Nossa Senhora da Cividade, então, inexistente.

 
 

Capela de Nossa Senhora da Cividade

 
 
A uma cota um pouco superior à daquela capela, no local popularmente conhecido como Coto, se tem de ciência certa, que terá existido um muito mais antigo castro, que colheria os benefícios inerentes à sua quase inexpugnabilidade.
No reinado de Fernando Magno (1016 — 27 de Dezembro de 1065), ocorreria uma nova reorganização territorial e a Anégia seria incorporada em várias terras-tenências como sejam as de Benviver, Penafiel de Canas, Aguiar de Sousa, Castelo de Paiva e outras parcelas em terras de Arouca e Baião.
A Anégia terá durado, então, menos de dois séculos.
Já, em plena época medieval, Santa Maria da Eja veria a sua importância traduzir-se na edificação de uma igreja de estilo românico-gótica, hoje, integrada na Rota do Românico – Igreja de S. Miguel da Eja ou Igreja de S. Miguel de Entre-os-Rios.

 
 
 

Igreja de S. Miguel da Eja, com entrada por escadaria lateral e patamar, no início do século XX
 
 
 

Igreja de S. Miguel da Eja, com entrada por escadaria frontal





Estátua (1968) de Vímara Peres da autoria de Barata Feyo implantada na Sé



Desde as invasões mouras do século VII D.C., até por volta do ano 1000, a fronteira "de facto" entre o estado Árabe e Cristão acabou por se estabelecer por um longo período de tempo no rio Douro.
Com os constantes ataques e contra-ataques, a cidade de Cale, ou Gaia, perdeu a sua população, que se refugiou na margem norte do Rio Douro.
Logo no início do século X o reino de Leão foi constituído, mais precisamente em 910, com a divisão do Reino das Astúrias pelos filhos do Rei Afonso III, o Grande. Garcia ficou com o Reino de Leão, Ordonho com a Galiza e Fruela com as Astúrias. Eventualmente a Galiza e as Astúrias acabaram por se tornar partes integrantes do reino de Leão, dada a morte sem descendentes dos seus soberanos, tendo o rei Fruela passado a controlar toda a vasta área do Noroeste Peninsular Cristão.




Reino de Leão




Em Córdova instala-se então em 929, um califado, que foi a forma de governo islâmico que dominou a maior parte da Península Ibérica e do Norte de África. O Califado sucedeu ao Emirado Independente instaurado por Abderramão I em 756. O título de califa foi reclamado por Abderramão III a 16 de Janeiro de 929, que já era reconhecido como emir de Córdova. Todos os califas de Córdova foram membros da dinastia omíada, a mesma que detinha o título de emir de Córdova e governava praticamente o mesmo território desde 756.
O Califado perdurou oficialmente até 1031, ano em que foi abolido, após um período de revoltas, fragmentando-se em múltiplos reinos conhecidos como Taifas.
Em 939 dá-se a Batalha de Simancas que foi um confronto bélico entre as tropas de uma coligação cristã encabeçada pelo rei de Leão, Ramiro II, e as do califa Abderramão III, junto aos muros da cidade de Simancas, na qual se decidiu o domínio sobre as terras do Douro pelos reinos Cristãos do norte e, como consequência da batalha, a linha de repovoação do reino de Leão avançou até ao rio Tormes, transbordando o limite do rio Douro.
Na última década do século X, a terra portucalense viu-se atravessada de lés-a-lés pela invasão de Almançor, que significava “O Vitorioso”, que era primeiro-ministro do califa Hixam, que herdou o trono aos 10 anos. Alicerçando o seu poderio numa legião de berberes, que comandava, Almançor transpôs o rio Douro por uma ponte de barcas expressamente construída, concentrou as suas forças em Portucale, onde se lhes juntaram mais tropas vindas por mar e daí seguiu para Santiago de Compostela, que reduziu a escombros, bem como as cidades de Leão, Astorga foram arrasadas. Em 987, seria riscada do mapa Coimbra.
Em 997 Almançor com o auxílio de alguns condes Cristãos que conspiravam contra o rei Bermudo II de Leão, invade por terra e também por mar a Galiza de então que englobava também o Entre-Douro e Minho e arrasava tudo desde Compostela até à Corunha.



Campanhas militares de Almançor e datas respectivas



Toda a terra devastada, assim fica, até que na viragem do primeiro milénio para o segundo, uma armada de guerreiros Gascões entra pelo rio Douro e expulsa os mouros.
Para tal muito contribuiu a nomeação por Almançor, antes de morrer, do seu filho Abd al-Malik al-Muzaffar como sucessor, o que gerou uma guerra interna entre os sucessores de Hisham II e os de Almançor, que se agudizaria depois da morte do filho do Vitorioso.
Eram chefes daquela armada D. Moninho Viegas que foi um nobre do condado de Coimbra e seu irmão Sesnando, que depois foi bispo da cidade e ainda Nónego que tinha abdicado de ser bispo de Vandoma em França.
D. Moninho Viegas em 990, em cumprimento de um voto feito durante a batalha de Valboa, na qual conquistou aos mouros o castelo de Monte de Arados, haveria de fundar o Convento de Santa Maria de Vila Boa do Bispo, importante mosteiro de Cónegos Regrantes de Santo Agostinho. A sua igreja foi sagrada por D. Nonego, bispo do Porto, e o seu primeiro abade foi D. Rosardo, natural de França. D. Sesnando, sucessor de D. Nonego e irmão de Moninho, depois de ter combatido os mouros durante longos anos, resignou a mitra do Porto e recolheu-se a este mosteiro, onde professou (1030-1035). A sua importância foi tal, que foi vila por ter recebido a visita de D. Afonso Henriques e, chegou a receber carta de couto desse monarca em 1141.




Túmulo de D. Sesnando na Vila do Bispo - Ed. MAC



Após a reconquista e pacificação dos territórios a sul do Douro, por volta de 1035, com o êxodo e expulsão das populações Muçulmanas, deixando terras férteis abandonadas, os colonos estabeleceram-se novamente em Gaia, em troca por melhores contratos feudais, com os novos senhores das terras conquistadas. Esta nova população refundou a antiga cidade de Cale ou Gaia, com o nome de Vila Nova.
O renascido burgo do Porto, viveu então uma existência difícil entre incursões de normandos e de sarracenos. Estas últimas, só deixam de se fazer com a fixação do condado de Coimbra.
Eram frequentes também as incursões dos Vikings, que ainda se mantêm nos princípios do século XI. Um dos assaltos dos nórdicos deu-se em 1014, nos arredores do Porto, no próprio coração das Terras da Maia, em Vermoim. Ao sul do Douro estendia-se então uma importante comarca guerreira portucalense, a chamada Terra de Santa Maria. O castelo da Feira já existente era o principal núcleo de defesa dessa, então, região estremenha.
O nome das duas cidades de Porto e Gaia era frequentemente referida em documentos contemporâneos como "villa de Portucale" e, o condado do Reino de Leão em torno da cidade, denominado de Portucalense. Este condado esteve na origem do posterior reino de Portugal.
Em 1064 para uns e 1058 para outros, Coimbra deixa para todo o sempre o jugo muçulmano, por acção de D. Fernando I, o Magno, rei de Leão e Castela. Com a morte de Fernando I foi deixada por este em herança a seus filhos porções do território por ele conseguido.
D. Sancho herdou a Castela com o título de rei. Afonso (que mais tarde seria o Afonso VI) o reino de Leão e Astúrias, Garcia II a Galiza como reino independente; Urraca ficou soberana em Zamora e Elvira em Toro e com muitos outros bens nos domínios dos irmãos e com o senhorio de todos aqueles mosteiros cujo padroado pertencia à coroa.
Sancho começa aliado a Garcia, atentam contra Afonso. Afonso perde e acolhe-se sob o manto de um governador mouro. Sancho é morto, à traição quando sitiava Zamora para desalojar a sua irmã. Afonso volta do exílio e é aclamado como Afonso VI.
Em 1096 dá-se a concessão do governo de Portucale por Afonso VI, ao conde D. Henrique de Borgonha pelos serviços prestados nas lutas contra os mouros e ainda, a sua filha bastarda da união com uma dama nobre de Castela, Ximena Muniones.
Entretanto a Galiza iria parar às mãos do primo de Henrique que pelos mesmos motivos recebeu ainda em casamento a filha de Afonso VI D. Urraca.
O condado Portucalense passa então a ter uma segunda vida.
A capital do condado portucalense desloca-se então para o interior e Braga passará, a partir daqui, a ter pela sua posição e pela sua tradicional primazia eclesiástica, um certo ascendente político sobre o burgo portucalense. Nela se sepultará mais tarde o conde, pai do primeiro rei português, trazido, em cortejo fúnebre, da cidade de Astorga onde falecera.
D. Raimundo que tinha um plano secreto com D. Henrique para suceder a Afonso VI, contra a intenção deste que queria ver seu único filho (de uma princesa moura, Zaida) como seu sucessor, morre em 1107 a que se segue numa batalha Sancho e, em 1108, após doença, morre também Afonso VI.
D. Urraca irá ocupar o trono vago de Leão e Castela.
Com este cenário se desenrolarão as contendas que conduzirão à formação do reino de Portugal independente.





terça-feira, 27 de setembro de 2016

Introdução

Os lançamentos que aqui serão feitos no futuro, visam, sem quaisquer preconceitos, dar uma visão do nascimento e desenvolvimento da cidade do Porto e, entusiasmar alguns leitores, para uma tomada de conhecimento de alguns aspectos de uma urbe, que, para os apaixonados do tema, é única.
A satisfação que sentimos ao deslizar sobre diversos aspectos da vida da cidade é tão grande, que, não podíamos guardá-la só para nós.
Sem qualquer grau académico relacionado com as matérias abordadas, buscamos chegar e auxiliar, modestamente, um público que venha a tornar-se autodidacta, como nós.
Socorrer-nos-emos, para o efeito, do excelente trabalho de quem começou há alguns anos, em blogues e sites, a dedicar-se à divulgação das suas pesquisas, bem como, recorrendo à leitura de obras de algumas personalidades e, sumidades conceituadas e, bem conhecidas, que sobre a vida da cidade escreveram, divulgando aqui, algumas passagens delas.
Todas as contribuições serão sempre que possível nomeadas e identificadas e procurar-se-à, quando tal for aconselhável, a troca de argumentos, na caixa de comentários que será disponibilizada.

Nota Prévia

Segundo o Código dos Direitos de Autor e dos Direitos Conexos, no seu capítulo IV e artigo 31º, o direito de autor caduca, na falta de disposição especial, 70 anos após a morte do criador intelectual, mesmo que a obra só tenha sido, publicada ou divulgada postumamente.
Defensores acérrimos da importância da propriedade intelectual, avançamos para este projeto, sem fins lucrativos, que tem por objectivo único e exclusivo fazer a divulgação da história da cidade do Porto procurando, acima de tudo, não violar nenhum direito autoral.
Este modo de perspectivar este assunto não nos inibiu, porém, para tornar esse desiderato possível, de fazer, sempre que for do nosso conhecimento, a referência devida às fontes.
Todavia e caso seja ferido alguma vez os direitos do autor, solicitamos que nos seja feito o respectivo aviso, a fim de que seja devidamente suprimido e, feita pela mesma via, a respectiva reparação.
Os autores comunicam segundo o antigo acordo ortográfico, mas não deixarão de respeitar, sempre, o modo de escrita de origem das suas fontes.