segunda-feira, 1 de setembro de 2025

25.283 A prática da natação como oferta turística em estâncias balneares

 
Entrado o século XX, os responsáveis pela exploração da actividade turística começaram a servir a sua clientela oferecendo uma série de divertimentos e passatempos.
Regra geral, a oferta englobava o jogo de fortuna e azar, as sessões dançantes, a actividade tauromáquica e a natação.
Por isso, as localidades da beira-mar, mais frequentadas, tinham à sua disposição aquela oferta completa ou parte dela.
O jogo acabou sendo regulado por lei e era atribuído por concessão e levado à prática nos casinos, caso dos da Póvoa de Varzim e de Espinho.
A prática da dança, por sua vez, era realizada nos próprios casinos ou nas chamadas Assembleias, verdadeiras associações esporádicas de banhistas que se reinventavam todos os anos.
A dança estribava-se, na maioria dos casos, na música tocada por grupos musicais, que o faziam ao vivo.
A tauromaquia também tinha o seu lugar de destaque e, assim, localidade com realce possuía a sua praça de touros e, apenas, há relativamente poucos anos, esses espectáculos passaram à história.
Por fim, importa referir e destacar a importância que a prática da natação, nas águas calmas de uma piscina, tinha para alguns banhistas.
Entre outros casos, Leça da Palmeira, Granja, Espinho e Póvoa de Varzim, logo que lhes foi possível, passaram a exibir a sua piscina.
 
 
 
 
Leça da Palmeira
 
A piscina da Praia de Leça funciona com água salgada obtida no mar, sendo conhecida como a Piscina das Marés.
Desde de sempre, no areal da praia de Leça da Palmeira, o povo aproveitou a retenção periódica das águas do mar, por um conjunto de rochas, para se banhar em recato da fúria das ondas.
Observada a possibilidade de um aproveitamento, que as condições naturais ofereciam, foi decidido construir uma piscina com outros requisitos.


 

Piscina Natural, Leça da Palmeira, em 1947, antes da Piscina das Marés
 
 
 
 

Piscina Natural, Leça da Palmeira, em 1948, antes da Piscina das Marés
 
 
 

Piscina das Marés, em Leça da Palmeira, em 1950


 
Na foto acima, importa referir o palacete da família Santos Silva, começado a construir em 1906 e demolido em 1969.
 
 
 
Entrada para a praia de Leça. À esquerda o palacete da família Santos Silva e, à direita, a Pensão-Restaurante Golfinho


 
 

Pensão-Restaurante Golfinho, em 1951
 
 
 
Demolição do palacete da família Santos Silva, Junho de 1969, para passagem das condutas da SACOR
 
 
 
 
A Piscina das Marés começada a construir no início da década de 1960, foi inaugurada em 1966, tendo sido projectada pelo arquitecto Álvaro Siza Vieira.
A sua localização era junto de uma pequena enseada rochosa que se desenvolvia na direcção aproximada Norte-Sul, paralelamente ao suporte da denominada ‘Meia-Laranja’, da ‘Avenida dos Centenários’, que a limita por Nascente.
 
 
«A história da Piscina das Marés, uma das obras mais emblemáticas do arquiteto portuense Álvaro Siza Vieira, começa 20 anos antes, com uma carta da Câmara de Matosinhos, empenhada à época em recuperar a importância da zona como estância balnear. Em março de 1960, a autarquia assume, pela pena do engenheiro civil Bernardo Ferrão, que “a construção de uma piscina de água salgada nas imediações da praia de Leça (…) constitui uma aspiração antiga”, e que tinha chegado a hora de a concretizar.»
Fonte: leca-palmeira.com
 
 
 
 

Construção da Piscina das Marés, em 1965
 
 
 
Em 2011, a Piscina das Marés foi classificada como Monumento Nacional.
A Piscina das Marés envolve duas piscinas de água salgada, sendo uma delas destinada a crianças. Inclui vestiários, balneários e um bar/lounge.

 
 

Piscina de Leça da Palmeira (vista aérea)





Piscina das Marés, Praia de Leça, na década de 1960, observando-se o palacete da família Santos Silva
 
 
 
 

Piscina das Marés, Praia de Leça, na segunda metade da década de 1960




Piscina dos mais pequenos, em Leça da Palmeira, em 1967
 
 
 
Em virtude da degradação originada pela proximidade do mar, a Câmara Municipal de Matosinhos encomendou ao arquitecto Álvaro Siza Vieira, em 2016, o projecto da sua reabilitação.

 
 
 

Piscina das Marés, em 2016
 
 
 
 
Granja
 
 
A praia da Granja foi, desde as últimas décadas do século XIX, o local nas imediações da cidade do Porto, que reunia nos meses de Verão, uma parte da burguesia de maior destaque da sociedade.
Segundo Ramalho Urtigão, a Granja tornou-se na mais aristocrática das praias do litoral português.
Teve a sua assembleia - Assembleia da Granja - e, a partir de 1955, a sua piscina.
 
 
 

Edifício da Assembleia da Granja, em 1906 e, actualmente – Cortesia de “Gaia à la Carte”
 
 
 
 
A piscina localizava-se junto da costa, num arranjo urbanístico que dava, e dá, pelo nome de “Esplanada Fernando Ermida”.


 
 

Esplanada Fernando Ermida, em 1955, vislumbrando-se, ao fundo, a Piscina da Granja
 
 
 
Naquela época, aquelas intervenções urbanísticas tomavam o nome de esplanadas.
Na cidade do Porto, na Foz do Douro, anos antes (década de 1930), também tinha começado a ser edificada uma esplanada que, neste caso, tomou como denominação o de “Esplanada 28 de Maio”, uma data muito querida ao Estado Novo.
Hoje, é a Esplanada da Praia do Molhe” e compreende a famosa “pérgula”, obra de 1931 de António Enes Baganha, falecido em 1934.
 
 
 

Na Foz do Douro, a "Esplanada 28 de Maio" depois, Esplanada da Praia do Molhe
 
 
 
Com projecto de 1938, a Piscina da Granja tinha um tanque, com 33,33 m (1/3 de 100 metros, dimensão olímpica) por 12 metros em planta e com profundidade de água variando entre 1,20 m e 2 m, excepto sob a prancha dos saltos onde a altura de água atingia 3,20 m.
Ao lado desta piscina, foi construída outra destinada às crianças com 12 m por 7 m, e profundidade variando de 0,30 m a 0,80 m.
O abastecimento de água era feito através de água do mar, mas a piscina estava a uma cota mais elevada.
O tanque tinha uma capacidade de cerca de 750 metros cúbicos de água e a sua renovação era entre 8 a 10 horas.
A captação da água do mar seria feita num poço encimado por uma tampa, situado na praia, com a mesma técnica que tinha servido um antigo estabelecimento termal de banhos quentes, com água do mar, explorado pela Assembleia da Granja.
O conjunto de bombeamento seria encerrado, então, numa barraca montada sobre um maciço de alvenaria.


 
 

Piscina da Granja (vista aérea)

 
 
 
Formada uma “Comissão pró-Piscina” com cerca de 80 contos de capital para investir, faltava-lhe mais uns 40 contos para se poder abalançar á obra.
A Junta de Turismo, verificando que a construção de uma piscina, alimentada com água do mar, beneficiaria extraordinariamente a Granja, resolveu concorrer com os restantes 40 contos.
A piscina seria instalada num terreno adquirido pela Junta de Turismo, para esse fim e, portanto, sua pertença.
Ficará, assim, propriedade da Junta de Turismo da Granja a piscina e as suas instalações.
Para a exploração a Junta de Turismo arrendá-las-ia, a longo prazo, a uma sociedade a constituir e composta pelos doadores do restante capital de 80 contos.




Piscina da Granja, em 1965
 
 
 

Piscina da Granja, década de 1960 e, actualmente - Cortesia de “Gaia à la Carte”
 
 
 

Piscina da Granja, em 1973
 
 
 
Em 2000 e 2021, a piscina da Granja foi alvo de intervenções de vulto e, hoje, destaca-se por o complexo de piscinas comportar uma outra semi-coberta aquecida e tratada.

 
 

Piscina descoberta da Praia da Granja, actualmente
 
 
 

Piscina coberta da Praia da Granja
 
 

 
Espinho
 
 
A piscina de água salgada denominada “Piscina Solário Atlântico”, implantada em Espinho, cujo projecto é dos arquitectos portuenses Eduardo da Silva Martins e Manuel Passos, foi inaugurada em 10 de Julho de 1943.
Em 1940, a Câmara Municipal tinha resolvido abrir concurso para a construção de uma piscina-solário.
 
 
 

Alçado do edifício do complexo de piscinas de Espinho
 
 
 
“Com o decreto da regulamentação da lei do jogo de fortuna e azar de 3 de Dezembro de 1927, as sociedades concessionárias dos novos casinos, em consonância com os municípios, foram obrigadas à construção de um conjunto de infra-estruturas de cariz cultural e de lazer. Em Espinho, a reestruturação de velhos espaços e a criação de novos edifícios com a intenção de modernizar e tornar a estância balnear mais apelativa surgiu na década de 30 do século XX e, em especial, com o decorrer da década de 40. O Casino, o Palácio-Hotel, os actuais Paços do Concelho, a Piscina e o Cine-Teatro S. Pedro, exemplificam bem essa época de mudança. O papel desempenhado por várias sociedades de melhoramentos que se foram formando e que tiveram por missão impulsionar o desenvolvimento da terra, também se fez sentir no processo de construção da piscina pública. A história da sua edificação começou em 16 de Março de 1938, data em que foi presente à Câmara Municipal um requerimento assinado pelos irmãos Agostinho e Alberto Calheiros Lobo e José de Almeida Francez, no qual manifestavam o desejo de instalar no norte de Portugal uma piscina onde se pudessem praticar “todos os desportos de natação, [e] cujo melhor local para a sua instalação seria no terreno que confronta[va] do norte com a rua 13, do sul com a rua 17, do nascente com a rua 4 e do poente com a esplanada à beira-mar.”
Fonte: Museu Municipal de Espinho
 
 
 

Construção da Piscina Solário Atlântico, em Espinho
 
 
 

Piscina de Espinho, c. 1950
 
 
 
 
O tanque principal do complexo, denominado “Atlântico”, tinha as dimensões de 50x22m, com profundidade de 1,20 a 5m e, um outro, para crianças, denominado “Espuma do Mar”, apresentava 20x10m, com a profundidade de 0,80 cm. Para além dos tanques, o complexo possuía balneários diversos e para banhos de imersão, cabines individuais e colectivas, solários e ginásio.
A inicialmente prevista construção dum campo de ténis e de um mini-golfe não foi concretizada e, em sua substituição, o projecto inicial acabaria por ser ampliado com mais trinta metros, sendo construído um parque infantil, denominado “Paraíso das Crianças”, que ocupava o quarteirão situado entre a piscina e o rinque de patinagem. O parque infantil dispunha de uma pista para bicicletas e triciclos, rampas, balancés, pontes e outros divertimentos.



 

Piscina Solário Atlântico junto da costa espinhense
 
 
 
 
Tudo era complementado com um bar e um restaurante e havia, ainda, a possibilidade de montagem de bancadas amovíveis (com capacidade para 600 pessoas) por cima do solário principal.
O restaurante e bar de apoio, assim como o salão nobre, inaugurado em Julho de 1944, animavam com os seus jantares-concerto, bailes e festas, as noites espinhenses.
 
 
“Espinho passou a oferecer diariamente aos seus veraneantes uma piscina de água salgada: com três instrutores de natação – o “Duque da Ribeira” para as primeiras braçadas, Álvaro Coelho, antigo nadador do F.C.P. para aperfeiçoamento e Humberto Costa, antigo campeão nacional, para os saltos; com 2 trampolins, uma prancha de saltos (3, 6 e 10 metros), 2 escorregões e uma piscina infantil; uma sala de chá na Piscina, com um conjunto musical de Lisboa (o melhor de Portugal) a tocar das 17 às 19h; um salão de dança, também na Piscina (Salão Nobre) com uma orquestra portuguesa, outra argentina e variedades, aberto das 22 às 2h”.
António Alberto Calheiros Lobo
 
 
 
Devido à conhecida fúria das marés, nas costas da praia de Espinho, era raro o ano em que o muro da Piscina Solário Atlântico, virado a poente, não fosse destruído na época das chuvas.
Foi o caso do Inverno de 1946/47, particularmente agressivo, que derrubou o muro de protecção e o ginásio situado na parte norte/poente.
Várias intervenções, então, se sucederam para tudo estar em ordem durante a estação estival.
 
 
 


Piscina Solário Atlântico de Espinho
 
 
 
A partir de 1960, a gestão privada do complexo, sob a competência da “Empresa de Melhoramentos de Espinho – Sociedade Anónima de Responsabilidade Limitada”, formada por escritura notarial em 15 de Novembro de 1941, passou para a Câmara Municipal de Espinho.

 
 
 

Piscina Solário Atlântico de Espinho

 
 

As icónicas três pranchas de saltos da Piscina Solário Atlântico de Espinho
 
 
 
 

Vista aérea, em 1975, do complexo de piscinas de Espinho

 
 
Com projecto de Isabel Aires e José Cid, Arquitectos, Lda., a piscina principal foi remodelada em 1997, com redução da profundidade e desactivação (por razões de segurança) da plataforma de saltos, apenas mantida como elemento escultórico, sendo, ainda, o complexo ampliado com a construção de uma piscina coberta.
 
 
 
 

Piscina de Espinho e, ao fundo, o edifício onde se aloja a Piscina coberta
 
 
 
 
 
Póvoa de Varzim
 
 
A Piscina Municipal da Póvoa de Varzim, foi construída na década de 1960, num local junto da costa, conhecido, desde há muito, por Estádio Gomes de Amorim.
Por aqui, num velódromo se praticou o ciclismo e, também, o hipismo, o que deu origem ao nome da praia atrás das actuais piscinas: Praia do Cavalo.

 
 
Piscina da Póvoa de Varzim, no Estádio Gomes de Amorim, na década de 1960

 
 
 
Antigas piscinas do Estádio Gomes de Amorim
 

 
Na década de 1980, as piscinas da Póvoa de Varzim passaram para a gestão da Sopete.
 
 
 
Piscinas da Póvoa de Varzim, em 1982, aquando da gestão da Sopete
 
 
 
O complexo remodelado, mais recente, de Piscinas Municipais da Póvoa de Varzim, para além da piscina exterior, inclui uma outra piscina olímpica coberta, tendo sido inaugurado em Junho de 1999 e aberto ao público, em Janeiro de 2000, tem a sua gestão, hoje, da responsabilidade da empresa municipal “Varzim Lazer”.
 
 
“No caso das Piscinas Municipais, este espaço divide-se em duas zonas: Zona húmida – Piscina Olímpica com 50m, Piscina de Aprendizagem com 16m, Piscina Exterior (aberta entre 9 de julho e 15 de setembro) e Zona Seca onde poderá encontrar o Estúdio e a Sala de Musculação”.
Fonte: Varzim-Lazer

domingo, 22 de junho de 2025

25.282 Pesquisa das moradas de Ana Plácido na Rua do Almada

 
Rua das Hortas e Rua do Almada
 
 
Segundo Horácio Marçal, a Rua das Hortas ia da Calçada dos Clérigos até à Rua de Santo António dos Lavadouros depois, Rua dos Lavadouros (actual Rua Elísio de Melo), como é explicitado, abaixo, na porção de um texto daquele historiador.

 
 

In revista “O Tripeiro”, Vª Série, Ano IX, Março de 1954, pág. 339
 

 
A partir dali, para norte, começou a ser aberto em 1761, o arruamento que começou por chamar-se Rua Nova do Almada e que, mais tarde, passaria a ser a Rua do Almada
Naquela data, a Rua das Hortas já existia há alguns anos.
Em 29 de Julho de 1760, D. José I tinha autorizado a construção da Rua do Almada. As obras de abertura e calcetamento começaram em 1761 e duraram até 1785.
 
 
 

Planta de 1761 de Francisco Xavier do Rego, sargento-mor de Infantaria, com o exercício de engenheiro, técnico escolhido por João Almada para abertura da Rua do Almada
 
 
Legenda da planta acima:
 
- A Rua de Santo António dos Lavadouros (1) seguiria, para poente, pela antiga Rua da Picaria (2), que era no lado Norte da actual Praça de Filipa de Lencastre. A actual Rua da Picaria era a antiga Travessa da Picaria (3), que termina na Praça da Conceição.
- Na parte nascente do Monte da Douda (4) foi construída, mais tarde, a igreja da Trindade.
- A Rua das Hortas (5) estendia-se para lá da Rua da Fábrica (6)
 
 
 
 
Atribuição de n.ºs de polícia
 
 
Para fazer a identificação de algumas moradas, na cidade do Porto, é necessário ter como referência a data de Abril de 1860.
Acontece que, antes daquela data, as moradas eram identificadas por um n.º de polícia, cuja atribuição ocorreu gradualmente, ao longo do tempo, com o objectivo de organizar e facilitar a localização de edifícios, principalmente, para distribuição do correio e que era atribuído da seguinte forma:
Começava-se numa origem e a rua ou praça, em causa, era percorrida no sentido dos ponteiros do relógio.
Como se depreende da aplicação daquele método, os n.ºs de polícia eram corridos.
As identificações eram afixadas às habitações pela distância de portas e janelas ao ponto de origem.
Aquela distância era executada em metros ou varas (1,10 metros) de acordo com os técnicos que procediam à tarefa.
A obrigatoriedade da aplicação do sistema métrico, só se verificaria no início do século XX, pelo Código de Posturas do Município do Porto de 1905, nomeadamente, no seu n.º 3, do art.º 186.
Da aplicação prática daquela determinação resultaram alterações óbvias, com algumas excepções, pois algumas moradas mantiveram-se.
A partir de 1860, o visconde de Gouveia, Governador Civil do Porto faz publicar um edital com um conjunto de regras que subsiste até hoje.
Assim, o método de determinação dos n.ºs de polícia continuaram a ser corridos, apenas para os largos e praças.
No caso das ruas, um lado passa a ter números pares (direita) e o lado oposto ímpares (esquerda), de acordo com a orientação a partir de uma origem, na qual o observador tomava o rio Douro, nas suas costas, como referência.
No caso das ruas paralelas ao rio Douro o sentido de orientação era o do seu fluxo para a foz.
Segue texto de parte do edital atrás referido.
 
Edital
 
Jozé Freyre de Serpa Pimentel de Mansilha e Silva Donnas Botto de Mesquita Sequeira e Vasconcellos, 2.º visconde de Gouveia, par e grande do reino, moço fidalgo com exercicio no paço, socio do real conservatorio de Lisboa, e do instituto de Coimbra, juiz no quadro da magistratura judicial, e governador civil do districto do Porto. 
Convindo ao bom regimen policial, economico, e administrativo, e ao interesse particular dos cidadãos, que as ruas, praças, largos, e mais logares publicos desta cidade, Villa Nova de Gaia, e seus suburbios, sejão conhecidos por denominações claras, simples, e distinctas; e que a numeração dos predios siga uma ordem regular e methodica; considerando que as inscripções de muitas ruas e logares publicos se acham apagadas ou deterioradas pelo tempo, e não são em numero sufficiente carecendo-se portante d'uma renovação geral, - sendo esta a melhor occazião d'emendar os defeitos de muitas denominações, já por haver ruas que se prolongão mudando de nome, já porque outras tem denominações repetidas, vagas, ou confuzas; - attendendo a que differentes reprezentações me teem sido inderessadas, pedindo providencias sobre a numeração dos predios, em razão das muitas irregularidades, a que dão logar não só as multiplicadas edificações e reformas, mas também a má ordem da antiga numeração em partes interpolada, em partes apagada; - tendo colhido as convenientes informações dos respectivos administradores dos bairros, e concelhos, e da camara municipal; - ouvindo o conselho do districto, que conveio na oportunidade das medidas; - e visto o codigo administrativo, os artigos 224 e 227; e as portarias de 27 de setembro de 1843, e 9 de julho de 1859, determino o seguinte:  (…) 
O lado direito de uma rua, travessa, ou viella (tanto aquém, como além Douro) será determinado nas que correrem perpendicular, ou obliquamento ao rio, pela direita do viandante, que marchar afastando-se do mesmo rio; - e nas que forem paralelas, pela direita do que marchar no sentido da corrente. 
Porto 20 d'Abril de 1860. - O governador civil, Visconde de Gouvêa
 
 
 
O edital atrás transcrito concluía com a publicação de uma reorganização toponímica que, entre outras alterações, provocou que a rua, até aí conhecida como Rua das Hortas, passaria a fazer parte da Rua do Almada.

 

Casa onde nasceu Ana Plácido
 
 
 
Ana Augusta Vieira Plácido era filha de António José Plácido Braga (1795-1852) e de Ana Augusta Vieira (1799-1855), tendo nascido em 27 de Setembro de 1831, na Travessa da Praça D. Pedro, nºs 5 a 9.
Hoje, o perfil correspondente à tal travessa coincide com a Rua do Dr. Artur Magalhães Basto, pelo que, a casa onde teria nascido Ana Plácido, não existe mais, como se verá.
Na igreja de Santo Ildefonso, no registo do seu baptismo, é dada uma morada da Praça Nova.
Os pais de Ana Plácido construíram uma família numerosa e, para além dela, conceberam Antónia Cândida Plácido Braga, Eduardo Augusto Plácido, Alberto Augusto Plácido, Emília Antónia Plácido e 10 outros.
Assim, impunha-se que os cómodos para alojar tamanha prole tivessem de ser de uma certa envergadura.
Acontece que, em 14 de Julho de 1838, António José Plácido Braga fez um pedido de licenciamento, para executar obras num prédio, de que se dizia proprietário, sito na Travessa D. Pedro, nºs 3 a 9, com frente para a Rua das Hortas, nºs 149 a 151.
Pelas regras de atribuição de números de polícia e para o caso concreto anterior, se pode concluir que, no caso da Rua das Hortas, a numeração tinha a sua origem na sua confluência com a Calçada dos Clérigos e continuava pelo lado poente da rua passando, depois, para o lado nascente, seguindo o sentido dos ponteiros do relógio.
 
 
 
 

Pedido de licenciamento de 14 de Julho de 1838, que originou a licença nº 169/1838 – Fonte: AHMP


 
Assim, se pode concluir, que o prédio onde teria nascido Ana Plácido fazia esquina com a Rua das Hortas. Falta saber se seria a esquina a norte ou a sul.
Um requerimento dirigido por José António Silva Braga, à Câmara do Porto, três anos após a morte de António José Plácido Braga, para execução de obras num prédio e que obteve a licença nº 434/1855, parece resolver a dúvida.
O requerente, junto dos serviços camarários, apresenta-se como proprietário do prédio em causa e solicita o lançamento nele de mais um andar.

 
 

Requerimento apresentado à Câmara por José António da Silva Braga, solicitando o acrescento de um andar num prédio, que obteve o nº 434/1855
 


 

Desenho das fachadas do prédio integrante de projecto apresentado à Câmara do Porto, que obteve o nº 434/1855, para solicitar o acrescento de mais uma andar
 
 
 
No desenho anterior, a fachada, ao centro, é indicada como sendo a da Travessa da Praça D. Pedro, a da direita, como a voltada para a Rua das Hortas e, a da esquerda, a voltada para a Praça D. Pedro (antes, Praça Nova).
Acrescenta-se que, no mesmo desenho, está representada, à esquerda, uma fachada identificada como voltada para a Praça, o que está de acordo com o registo de baptismo de Ana Plácido, existente na igreja de Santo Ildefonso, que a dá como nascida, algures, na Praça Nova.
Pode, então, concluir-se, que o prédio onde nasceu Ana Plácido é o da esquina a sul que, hoje, é chão da delegação do Banco de Portugal, no Porto. 
O requerente, anteriormente mencionado, José António da Silva Braga, passados cerca de oito anos, encontrava-se comerciando, naquele local, de acordo com o anúncio seguinte.
 
 
 
 

In jornal “O Comércio do Porto” de 30 de Abril de 1863
 
 
 
 
Antes da edificação da actual delegação do Banco de Portugal, no prédio do gaveto formado pela Praça D. Pedro (Praça da Liberdade), Travessa da Praça D. Pedro (Rua Dr. Magalhães Basto) e Rua do Almada (nesse local, antes, a Rua das Hortas), aí estava, a firma de materiais de construção e aparelhos sanitários "Arnaldo Lima" e a empresa de transportes L'Éclair.


 
 

No início do século XX, o prédio, mais à direita, do qual se observa uma nesga e, ao qual, ao longo dos anos, foram acrescentados mais andares, é aquele onde nasceu Ana Plácido
 
 
 
 

Esquina da Travessa da Praça D. Pedro e Rua do Almada, antes da construção do Banco de Portugal




Casa onde morou, em jovem, Ana Plácido
 
 
 
Tudo aponta que Ana Plácido viria a mudar-se, ainda muito jovem, para a Rua do Almada, nºs 27 a 30, acompanhando a família e aqui viveu até se casar.
De facto, em Fevereiro de 1839, António José Plácido Braga solicita à Câmara do Porto a realização de obras em duas moradas de casas que possuía na Rua Nova do Almada, nºs 27  e 30, que obtém a Licença de obra n.º 221/1839, dizendo-se, então, morador na Travessa da Praça D. Pedro, nºs 5 a 9 (morada atribuída para o nascimento de Ana Plácido).
Durante muitos anos a Rua do Almada era denominada Rua Nova do Almada e, a Rua das Hortas, por Rua Nova das Hortas.
De acordo com o anúncio abaixo, aquelas duas moradas de casas, de dois andares, tinham ligações à Picaria e, por isso, situar-se-iam, na Rua do Almada, no sentido ascendente, à esquerda.
De notar, que aquele n.º de polícia é anterior a 1860.
 
 
 
In jornal "O Comércio do Porto" de 27 de Outubro de 1859
 
 
 
 
A arrematação anunciada, acima, realizava-se após decorridos, cerca de sete anos, sobre o naufrágio do vapor Porto, no qual morreu o pai de Ana Plácido e decorreria de um processo de partilhas.


 

Porto, na Planta de George Balck, em 1811
 
 
Legenda da planta acima:
 
1. Rua das Hortas
2. Rua dos Lavadouros
3. Travessa da Picaria
4. Rua do Almada
 
 



Planta de Perry Vidal de 1844
 
 
Legenda da planta acima:
 
1. Rua das Hortas
2. Rua do Almada
3. Rua dos Lavadouros
 
 
 
De acordo com a atribuição dos n.ºs de polícia, antes de 1860, a morada da Rua do Almada, 27 a 30, distaria entre 27 a 30 varas ou metros da confluência das ruas das Hortas e dos Lavadouros, á esquerda, sentido ascendente.
 
 
 
 

Planta de Joaquim Costa Lima de 1839

 
 
Considerações sobre a planta anterior:
 

- Todas as moradas englobadas na elipse preta já existiam desde o lançamento da Rua do Almada, em 1761, pelo que, à data de 1839, faziam e fizeram parte da Rua das Hortas;
- A elipse amarela aparentemente numa área não construída era o local de implantação daquela que ficou conhecida como a Primeira Fonte da Rua do Almada e que tinha existência desde 1795.
- O prédio, mais a poente, na esquina da Rua da Picaria, dentro da elipse azul, tinha existência desde há mais de um século quando, em 1865, viu ser-lhe acrescentado mais um andar.
Pertencia, à data, ao visconde da Penna (título nobiliárquico atribuído pela corte espanhola).
 
 
 
 

Primeira Fonte da Rua do Almada, em 1909
 
 
 

À esquerda, o aglomerado de pessoas encontra-se junto da Primeira Fonte da Rua do Almada
 
 
 
A atribuição de números de polícia, na Rua do Almada, antes de 1860, tinha a sua origem, no seu lado poente, após a fonte da foto e passaria, depois, para o lado nascente, seguindo o sentido dos ponteiros do relógio.
 
 
 

Local actual onde se encontrava a Primeira Fonte da Rua do Almada
 
 
 
 
Morada de Ana Plácido, após casamento
 
 
 
Em 28 de Setembro de 1850, no dia seguinte ao seu 19º aniversário natalício, Ana Augusta Vieira Plácido iria casar e passaria a ser Ana Augusta Plácido Pinheiro Alves, passando a viver, ao que se sabe, na casa alugada onde vivia na Rua do Almada o seu marido, Manuel Pinheiro Alves (1807-1863).
Àcerca deste casamento, Camilo Castelo Branco ironizava:
 
"E no Porto? Isso então, rapariga bonita, às duas por três, está num papo dum brasileiro que tenha 50 contos, tanto faz que ele seja velho, com zarolho, como raquítico".
 
O romance de "A Paixão de Camilo (Ana Plácido)" de Rocha Martins, Lisboa, 1900, sobre o afortunado noivo, narrava:
 
 
“Tinha quarenta e tres anos e era do logarejo de Souto, visinho de S. Miguel de Seide, um povoado triste, à beira de Famalicão onde se chegava por atalhos e quinteiros, saltando barrocos, à sombra das uveiras; os seus labutavam na chã e ele, depois de talhar a estrada do ganho, comprar a casa de portão na aldeia, acomodara-a, tomara servos e deixando os parentes a lidar partira para o Porto, abrira escritório de corretagem de barcos, instalara-se num andar espaçoso no 378 da rua do Almada donde espreitava a noiva que ia completar o seu sonho de “brasileiro” opulento.
Puzera-se a auxiliar o futuro sogro e talvez fosse esta ajuda o motivo primaz daquela união. Os cônjuges diferiam tanto em edades que não se poderia levar á conta de reciproca simpatia o acto que se ia realizar”.
 
 
 
Sobre a imposição deste casamento a Ana Plácido, por parte da família, ela acabaria por descrever o acto como a busca da felicidade pela abastança.
Sendo a obra acima citada uma das mais conceituadas sobre a vida de Camilo Castelo Branco, começou a aceitar-se, desde a sua publicação, que a morada do primeiro casamento de Ana Plácido fosse a da Rua do Almada, n.º 378.
Naquela obra, era apresentada uma foto do prédio, em causa, exibida a seguir.


 


 
 


Actualmente, em primeiro plano, o prédio da Rua do Almada, n.º 378, onde está o Restaurante Camilo que é o mesmo da foto anterior


 
 
Desconhece-se como Rocha Martins resolveu a conversão do n.º de polícia anterior a 1860 para o actual.
Para complicar a situação, no romance, o seu autor legenda a foto, colocando o prédio exibido, na Rua do Almada, n.º 385, como se mostra, na foto abaixo, em destaque.

 
 
 


 
 
 
Acreditando, que esta última morada é anterior a 1860, podemos concluir que nela viveu Ana Plácido até a 28 de Janeiro de 1859, quando foi expulsa de casa, com o seu filho pequenito, Manuel Plácido.
Então, Rocha Martins teve acesso a documentos que não divulgou.