Para o lado sul da Ramada Alta apresenta-se a Rua Barão de
Forrester.
Esta rua deve o seu topónimo ao Barão de Forrester que, por
lá, teve a sua residência, na primeira metade do século XIX.
Dizem que, à época, a casa do Barão de Forrester, era uma
residência magnífica.
Em 1854, segundo o testemunho do próprio barão, já era
habitada pelo visconde da Trindade.
“Quando habitei a casa na Ramada Alta
actualmente ocupada pelo patriótico e filantropo (termo de que me sirvo-em
lugar de ill.mo e exc.mo) visconde da Trindade, tinha um relógio de mesa muito
lindo, de três e meio palmos de altura, sendo o assunto um preto segurando um cavalo bravo
e fogoso. Quando saía da minha casa pela manhã, e voltava à noite, costumava
sempre conferir o meu relógio de algibeira com aquele; mas aconteceu-me um dia,
que, voltando a casa, dei pela falta do relógio, manga de vidro, preto, e
cavalo branco, e até a própria chave. Em vão, pergunto a minha mulher, filhos e
criados, pela falta; mas ninguem me podia esclarecer o negócio; porém tendo
motivos de suspeitar de algumas pessoas, relacionadas com os criados, paguei, a
cada um deles, um mês adiantado, e mostrei-lhes a porta. Foi justamente, Sr.
Redactor, nesta ocasião que alguem me falou na bela organização do corpo dos
ladrões na cidade do Porto, debaixo da autoridade do ladrão-mór a que acima me
referi”.
Excerto da carta
dirigida ao redactor do jornal Commercio pelo Barão de Forrester em 1854
O visconde da
Trindade, que à data do texto anterior, exercia o cargo de Presidente da Câmara
do Porto, era um brasileiro de torna-viagem, de seu nome José António de Sousa
Basto, nascido em Cabeceiras de Basto em 1805, que andou por terras da América
do Sul, durante cerca de três décadas, onde fez fortuna, tendo regressado a
Portugal em 1850.
“Em 23 de Agosto retirou-se para o Porto, que
avaliando os seus altos merecimentos cívicos, morais e trabalhadores, o elegeu
vereador, sendo eleito presidente para o primeiro biénio de 1852 a 1853,
reeleito para o biénio de 1854 a 1855, não aceitando a reeleição para o biénio
seguinte, depois de ter demonstrado à cidade invicta quanto valia o seu nobre
carácter e a força do seu ânimo, em proveito daqueles que o tinham elevado, e
que jamais podem esquecer quanto lhe devem. Em Julho de 1859 voltou ao Rio de
Janeiro a fim de liquidar os seus negócios, o que conseguiu com rara
actividade, no curto espaço de dois meses, promovendo ali entre os seus amigos
uma subscrição que atingiu a avultada soma de vinte contos de réis, destinada a
constituir o fundo do Liceu da SS. Trindade, regressando de novo à pátria em 13
de Novembro de 1859”.
Fonte: epl.di.uminho.pt/
A casa que se observa na foto acima, dizem, teria sido a que
foi habitada pelo barão de Forrester.
Em 1830, pertencia a António José Gonçalves Braga que
diligenciou, naquele ano, à Câmara do Porto, uma reformulação da sua fachada.
Na sua casa da Ramada Alta, Forrester promovia alguns
jantares, aos quais se apresentavam os seus melhores amigos.
Na sua obra (1884) “Vinho do Porto”, Camilo Castelo Branco
dá conta de alguns daqueles convivas.
Na foto, abaixo, vemos a entrada da Quinta da Boa Vista que
pertenceu ao Barão de Forrester, onde também viveu, a alguns quilómetros da
Galafura.
O seu contributo para o desenvolvimento do Douro vinhateiro
foi preponderante, nomeadamente na cartografia (autor do primeiro mapa sobre a
Região Demarcada do Douro) e no desenvolvimento da própria actividade
vitivinícola. Em grande parte, como resultado das inovações que introduziu, o
Douro assumiu, durante o séc. XIX, uma grande importância no comércio
internacional de vinhos.
Há quem afirme que o Barão de Forrester teria vivido,
também, no edifício do antigo Restaurante Comercial, situado na Rua do Infante
D. Henrique., que utilizava como escritório e local de trabalho.
O Barão de Forrester (1809-1861) foi José James Forrester,
de seu nome, nascido em Hull, escritor, artista e viticultor, que tanto se
notabilizou na expansão e propaganda do Douro e dos seus vinhos e que, com
quase 52 anos, morreu afogado no rio Douro, em Maio de 1861, no lugar do Cachão
da Valeira.
“Nascido em 1809 em
Inglaterra e falecido em 1861 num acidente de barco no fatídico Cachão da
Valeira, em pleno Alto Douro, foi uma figura de destaque em todos os
assuntos do vinho. Enquanto comerciante consagrou a reputação internacional dos
vinhos da firma Offley Forrester, que ele próprio se encarregava de
seleccionar criteriosamente na região demarcada. Como enófilo lutou pela
preservação do carácter genuíno dos vinhos do Douro contra as adulterações
tidas, à época, como inevitáveis e até desejáveis – combateu ferozmente as
práticas de adicionar baga de Sabugueiro, como artifício para intensificar
a cor, e (espante-se!) a aguardentação dos mostos, por considerar uma
deturpação das naturais qualidades do vinho. À cartografia nacional legou o
primeiro mapa da Região Demarcada do Douro. Como pintor, fotógrafo e
aguarelista, deixou-nos imagens vibrantes da intensa vida burguesa do
Porto de oitocentos”.
In blogue: webook
“Em 1831 Joseph
juntou-se à empresa vinícola de um tio seu no Porto, e iniciou uma reforma no
comércio de vinhos. Na sua obra de 1844, Uma palavra ou duas sobre o vinho do
Porto, declarou guerra aos que adulteravam o vinho. Também estudou o oídio da
vinha causado pelo Oidium tuckeri, desenhou notáveis mapas do vale do Douro
(Mapa do Rio Douro). Por este trabalho, foi-lhe concedido o título de Barão,
por D. Fernando II, em 1855, regente durante a menoridade de D. Pedro V.
Pintou várias
aguarelas, e foi autor de O Douro Português e País Adjacente (1848) e de Prize
Essay on Portugal and its Capabilities (1859), pela qual recebeu uma medalha de
ouro”.
Fonte: pt.wikipedia.org/
Muito jovem, com vinte e dois anos, James Forrester desembarcara
no Porto em 1831, para trabalhar numa empresa exportadora de vinho do Porto que
pertencia a um tio: a Offley, Forrester & Webber.
Entre 1843 e 1860, James Forrester publicou vários
trabalhos, escrevendo-os e ilustrando-os com excelentes desenhos, sobre o
cultivo e a produção dos vinhos durienses. Os seus trabalhos “A crise comercial
explica-se” e “A verdadeira causa da crise comercial do Porto” contribuíram
grandemente para debelar o pânico e estimular as energias das gentes do Douro
seriamente abaladas com o flagelo que devastou grande parte dos vinhedos, em
1859.
Ficaram famosos os seus mapas e notas, em “O país vinhateiro
do Alto-Douro”, publicado em Português e Inglês e, mais tarde, reeditado pela
Câmara dos Comuns, em Londres.
A gravura acima, uma vista do rio a partir das Fontainhas,
resulta de uma impressão de uma ilustração do Barão de Forrester, executada
antes de 1843, pois parece que se vislumbra, ainda, a Ponte das Barcas.
Estava chegado o fatídico dia.
Depois de dois dias de intensa chuva, o Domingo amanhecera
agradável e, com o passar das horas, ganhara força a proposta que surgira no
grupo de um jantar na Régua. E, por isso, ali se encontravam todos, dezassete,
a bordo do barco rabelo que ia descendo o rio. A uma velocidade crescentemente
ameaçadora… a julgar pela apreensiva expressão que se vai desenhando no rosto
de Joseph James Forrester.
Há já uma semana que o britânico se encontrava, a convite de
Dona Antónia Adelaide Ferreira, a “Ferreirinha”, e do seu marido, o milionário
Silva Torres, no Vesúvio – a fabulosa quinta que estes possuíam no Douro.
A tragédia aproximava-se e seria descrita assim,
magistralmente, por Camilo Castelo Branco:
'' A morte
desastrosa do barão de Forrester, em 12 de Maio de 1861, é uma das mais
notáveis vinganças que o rio Douro tem exercido sobre os detractores dos seus
vinhos. A família Ferreirinha da Régua, composta de dona Antónia Adelaide, de
seu marido Silva Torres, o milionário, digno de o ser pela bizarria das suas
generosidades, de sua filha e genro, condes da Azambuja, tinham ido, rio acima,
à sua celebrada quinta do Vesúvio, e convidaram o barão de Forrester a passar
uma semana em sua companhia. No dia 12, um alegre domingo, saíram todos do
Vesúvio, na intenção de jantarem na Régua. O Douro tinha engrossado com a chuva
de dois dias, e a rapidez da corrente era caudalosa. Aproando ao ponto do
Cachão, formidável sorvedouro em que a onda referve e redemoinha
vertiginosamente, o barco fez um corcovo, estalou, abriu de golpe e mergulhou
no declive da catadupa.
O barão sofrera a
pancada do mastro quando se lançava à corrente, nadando. Ainda fez algum
esforço por apegar à margem; mas, fatigado de bracejar no teso da corrente ou
aturdido pelo golpe, estrebuchou alguns segundos de agonia e desapareceu.
Salvaram-se os outros, não todos, com a protecção de uns barcos que aí estavam
para recolher o despojo de outro naufrágio de um transporte de cereais.
Livrou-se Torres, o futuro par do reino, agarrado a um barril de azeite, até
que o recolheram a um dos barcos. Dona Antónia e o conde de Azambuja
aferraram-se às dragas do barco. A condessa foi salva por um marinheiro. Um
juiz de direito, Aragão Mascarenhas, agarrou-se à vara do barco rijamente, qual
o temos sempre visto filado à vara da Justiça, em naufrágio de trapaças. Mas
nem todos saíram com vida. Um criado de Torres foi logo tragado pela cachoeira;
e, abraçada com a vela, já quando se lhe estendia um braço redentor, afogou-se
uma criatura a quem os noticiaristas não deram a mínima importância. Pois foi
uma perda insubstituível. Era a Gertrudes, um tesouro de jóias culinárias
que a voragem engoliu...''.
Este desastre, pelas circunstâncias em que se deu (Dona
Antónia Ferreirinha, que viajava com ele, e mais outras senhoras, salvaram-se
graças ao fole das suas saias) e ainda, pelo facto de ter vitimado o Barão de
Forrester, foi durante muito tempo motivo de estranhas e singulares versões,
tanto mais que o seu cadáver nunca apareceu (dizia-se, na altura, que era usual
o Barão carregar muitas moedas de ouro no forro de cabedal do seu largo cinto).
Admitiram-se ou criaram-se lendas e fantasias à volta do sinistro Cachão do
Douro e, no caso, chegou-se a conjecturar um crime. De tudo, porém, nada se
averiguou e nada se provou...
James Forrester exercia, também, uma actividade comercial associado
a familiares, com sede em V. N. de Gaia, na Quinta da Boavista.
Após a morte de James Forrester a sociedade teria sido
dissolvida.
Excelente Américo, ouço histórias do Barão desde miúdo. Naquele género, minha Avó contava que o Avô dela.... Fantástica vida dele em apenas 52 anos...
ResponderEliminarÉ um gosto saber que continuas a apreciar as estórias de Porto de Antanho. Cumprimentos.
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