Entrado o século XX, os responsáveis pela exploração da
actividade turística começaram a servir a sua clientela oferecendo uma série de
divertimentos e passatempos.
Regra geral, a oferta englobava o jogo de fortuna e azar, as
sessões dançantes, a actividade tauromáquica e a natação.
Por isso, as localidades da beira-mar, mais frequentadas,
tinham à sua disposição aquela oferta completa ou parte dela.
O jogo acabou sendo regulado por lei e era atribuído por
concessão e levado à prática nos casinos, caso dos da Póvoa de Varzim e de
Espinho.
A prática da dança, por sua vez, era realizada nos próprios
casinos ou nas chamadas Assembleias, verdadeiras
associações esporádicas de banhistas que se reinventavam todos os anos.
A dança estribava-se, na maioria dos casos, na música tocada
por grupos musicais, que o faziam ao vivo.
A tauromaquia também tinha o seu lugar de destaque e, assim,
localidade com realce possuía a sua praça de touros e, apenas, há relativamente
poucos anos, esses espectáculos passaram à história.
Por fim, importa referir e destacar a importância que a
prática da natação, nas águas calmas de uma piscina, tinha para alguns
banhistas.
Entre outros casos, Leça da Palmeira, Granja, Espinho e
Póvoa de Varzim, logo que lhes foi possível, passaram a exibir a sua piscina.
Leça da Palmeira
A piscina da Praia de Leça funciona com água salgada obtida
no mar, sendo conhecida como a Piscina das Marés.
Desde de sempre, no areal da praia de Leça da Palmeira, o
povo aproveitou a retenção periódica das águas do mar, por um conjunto de
rochas, para se banhar em recato da fúria das ondas.
Observada a possibilidade de um aproveitamento, que as
condições naturais ofereciam, foi decidido construir uma piscina com outros
requisitos.
Na foto acima, importa referir o palacete da família Santos
Silva, começado a construir em 1906 e demolido em 1969.
Entrada para a praia de Leça. À esquerda o palacete da
família Santos Silva e, à direita, a Pensão-Restaurante Golfinho
Demolição do palacete da família Santos Silva, Junho de
1969, para passagem das condutas da SACOR
A Piscina das Marés começada a construir no início da década
de 1960, foi inaugurada em 1966, tendo sido projectada pelo arquitecto Álvaro
Siza Vieira.
A sua localização
era junto de uma pequena enseada rochosa que se desenvolvia na direcção
aproximada Norte-Sul, paralelamente ao suporte da denominada ‘Meia-Laranja’, da
‘Avenida dos Centenários’, que a limita por Nascente.
«A história da Piscina
das Marés, uma das obras mais emblemáticas do arquiteto portuense Álvaro Siza
Vieira, começa 20 anos antes, com uma carta da Câmara de Matosinhos, empenhada
à época em recuperar a importância da zona como estância balnear. Em março de
1960, a autarquia assume, pela pena do engenheiro civil Bernardo Ferrão, que “a
construção de uma piscina de água salgada nas imediações da praia de Leça (…)
constitui uma aspiração antiga”, e que tinha chegado a hora de a concretizar.»
Fonte: leca-palmeira.com
Em 2011, a Piscina das Marés foi classificada como Monumento
Nacional.
A Piscina das Marés envolve duas piscinas de água salgada,
sendo uma delas destinada a crianças. Inclui vestiários, balneários e um
bar/lounge.
Piscina das Marés, Praia de Leça, na década de 1960,
observando-se o palacete da família Santos Silva
Piscina dos mais pequenos, em Leça da Palmeira, em 1967
Em virtude da degradação originada pela proximidade do mar,
a Câmara Municipal de Matosinhos encomendou ao arquitecto Álvaro Siza Vieira,
em 2016, o projecto da sua reabilitação.
Granja
A praia da Granja foi, desde as últimas décadas do século
XIX, o local nas imediações da cidade do Porto, que reunia nos meses de Verão,
uma parte da burguesia de maior destaque da sociedade.
Segundo Ramalho Urtigão, a Granja tornou-se na mais
aristocrática das praias do litoral português.
Teve a sua assembleia
- Assembleia da Granja - e, a partir de 1955, a sua piscina.
A piscina localizava-se junto da costa, num arranjo
urbanístico que dava, e dá, pelo nome de “Esplanada Fernando Ermida”.
Naquela época, aquelas intervenções urbanísticas tomavam o
nome de esplanadas.
Na cidade do Porto, na Foz do Douro, anos antes (década de
1930), também tinha começado a ser edificada uma esplanada que, neste caso,
tomou como denominação o de “Esplanada 28 de Maio”, uma data muito querida ao
Estado Novo.
Hoje, é a Esplanada da Praia do Molhe” e compreende a famosa
“pérgula”, obra de 1931 de António
Enes Baganha, falecido em 1934.
Com projecto de 1938, a Piscina da Granja tinha um tanque,
com 33,33 m (1/3 de 100 metros, dimensão olímpica) por 12 metros em planta e
com profundidade de água variando entre 1,20 m e 2 m, excepto sob a prancha dos
saltos onde a altura de água atingia 3,20 m.
Ao lado desta piscina, foi construída outra destinada às
crianças com 12 m por 7 m, e profundidade variando de 0,30 m a 0,80 m.
O abastecimento de água era feito através de água do mar,
mas a piscina estava a uma cota mais elevada.
O tanque tinha uma capacidade de cerca de 750 metros cúbicos
de água e a sua renovação era entre 8 a 10 horas.
A captação da água do mar seria feita num poço encimado por
uma tampa, situado na praia, com a mesma técnica que tinha servido um antigo
estabelecimento termal de banhos quentes, com água do mar, explorado pela
Assembleia da Granja.
O conjunto de bombeamento seria encerrado, então, numa
barraca montada sobre um maciço de alvenaria.
Formada uma “Comissão pró-Piscina” com cerca de 80 contos de
capital para investir, faltava-lhe mais uns 40 contos para se poder abalançar á
obra.
A Junta de Turismo, verificando que a construção de uma
piscina, alimentada com água do mar, beneficiaria extraordinariamente a Granja,
resolveu concorrer com os restantes 40 contos.
A piscina seria instalada num terreno adquirido pela Junta
de Turismo, para esse fim e, portanto, sua pertença.
Ficará, assim, propriedade da Junta de Turismo da Granja a
piscina e as suas instalações.
Para a exploração a Junta de Turismo arrendá-las-ia, a longo
prazo, a uma sociedade a constituir e composta pelos doadores do restante
capital de 80 contos.
Em 2000 e 2021, a piscina da Granja foi alvo de intervenções
de vulto e, hoje, destaca-se por o complexo de piscinas comportar uma outra
semi-coberta aquecida e tratada.
Espinho
A piscina de água salgada denominada “Piscina Solário
Atlântico”, implantada em Espinho, cujo projecto é dos arquitectos portuenses Eduardo
da Silva Martins e Manuel Passos, foi inaugurada em 10 de Julho de 1943.
Em 1940, a Câmara Municipal tinha resolvido abrir concurso
para a construção de uma piscina-solário.
“Com o decreto da
regulamentação da lei do jogo de fortuna e azar de 3 de Dezembro de 1927, as
sociedades concessionárias dos novos casinos, em consonância com os municípios,
foram obrigadas à construção de um conjunto de infra-estruturas de cariz cultural
e de lazer. Em Espinho, a reestruturação de velhos espaços e a criação de novos
edifícios com a intenção de modernizar e tornar a estância balnear mais
apelativa surgiu na década de 30 do século XX e, em especial, com o decorrer da
década de 40. O Casino, o Palácio-Hotel, os actuais Paços do Concelho, a
Piscina e o Cine-Teatro S. Pedro, exemplificam bem essa época de mudança. O
papel desempenhado por várias sociedades de melhoramentos que se foram formando
e que tiveram por missão impulsionar o desenvolvimento da terra, também se fez
sentir no processo de construção da piscina pública. A história da sua
edificação começou em 16 de Março de 1938, data em que foi presente à Câmara
Municipal um requerimento assinado pelos irmãos Agostinho e Alberto Calheiros Lobo
e José de Almeida Francez, no qual manifestavam o desejo de instalar no norte
de Portugal uma piscina onde se pudessem praticar “todos os desportos de
natação, [e] cujo melhor local para a sua instalação seria no terreno que
confronta[va] do norte com a rua 13, do sul com a rua 17, do nascente com a rua
4 e do poente com a esplanada à beira-mar.”
Fonte: Museu Municipal de Espinho
O tanque principal do complexo, denominado “Atlântico”,
tinha as dimensões de 50x22m, com profundidade de 1,20 a 5m e, um outro, para
crianças, denominado “Espuma do Mar”, apresentava 20x10m, com a profundidade de
0,80 cm. Para além dos tanques, o complexo possuía balneários diversos e para
banhos de imersão, cabines individuais e colectivas, solários e ginásio.
A inicialmente prevista construção dum campo de ténis e de
um mini-golfe não foi concretizada e, em sua substituição, o projecto inicial acabaria
por ser ampliado com mais trinta metros, sendo construído um parque infantil,
denominado “Paraíso das Crianças”, que ocupava o quarteirão situado entre a
piscina e o rinque de patinagem. O parque infantil dispunha de uma pista para
bicicletas e triciclos, rampas, balancés, pontes e outros divertimentos.
Tudo era complementado com um bar e um restaurante e havia,
ainda, a possibilidade de montagem de bancadas amovíveis (com capacidade para
600 pessoas) por cima do solário principal.
O restaurante e bar de apoio, assim como o salão nobre,
inaugurado em Julho de 1944, animavam com os seus jantares-concerto, bailes e
festas, as noites espinhenses.
“Espinho passou a
oferecer diariamente aos seus veraneantes uma piscina de água salgada: com três
instrutores de natação – o “Duque da Ribeira” para as primeiras braçadas,
Álvaro Coelho, antigo nadador do F.C.P. para aperfeiçoamento e Humberto Costa,
antigo campeão nacional, para os saltos; com 2 trampolins, uma prancha de
saltos (3, 6 e 10 metros), 2 escorregões e uma piscina infantil; uma sala de
chá na Piscina, com um conjunto musical de Lisboa (o melhor de Portugal) a
tocar das 17 às 19h; um salão de dança, também na Piscina (Salão Nobre) com uma
orquestra portuguesa, outra argentina e variedades, aberto das 22 às 2h”.
António Alberto Calheiros Lobo
Devido à conhecida fúria das marés, nas costas da praia de
Espinho, era raro o ano em que o muro da Piscina Solário Atlântico, virado a
poente, não fosse destruído na época das chuvas.
Foi o caso do Inverno de 1946/47, particularmente agressivo,
que derrubou o muro de protecção e o ginásio situado na parte norte/poente.
Várias intervenções, então, se sucederam para tudo estar em
ordem durante a estação estival.
A partir de 1960, a gestão privada do complexo, sob a
competência da “Empresa de Melhoramentos de Espinho – Sociedade Anónima de
Responsabilidade Limitada”, formada por escritura notarial em 15 de Novembro de
1941, passou para a Câmara Municipal de Espinho.
Com projecto de Isabel Aires e José Cid, Arquitectos, Lda.,
a piscina principal foi remodelada em 1997, com redução da profundidade e desactivação
(por razões de segurança) da plataforma de saltos, apenas mantida como elemento
escultórico, sendo, ainda, o complexo ampliado com a construção de uma piscina
coberta.
Póvoa de Varzim
A Piscina Municipal da Póvoa de Varzim, foi construída na
década de 1960, num local junto da costa, conhecido, desde há muito, por Estádio
Gomes de Amorim.
Por aqui, num velódromo se praticou o ciclismo e, também, o
hipismo, o que deu origem ao nome da praia atrás das actuais piscinas: Praia do
Cavalo.
Antigas piscinas do Estádio Gomes de Amorim
Na década de 1980, as piscinas da Póvoa de Varzim passaram
para a gestão da Sopete.
Piscinas da Póvoa de Varzim, em 1982, aquando da gestão da
Sopete
O complexo remodelado, mais recente, de Piscinas Municipais
da Póvoa de Varzim, para além da piscina exterior, inclui uma outra piscina
olímpica coberta, tendo sido inaugurado em Junho de 1999 e aberto ao público,
em Janeiro de 2000, tem a sua gestão, hoje, da responsabilidade da empresa municipal
“Varzim Lazer”.
“No caso das Piscinas
Municipais, este espaço divide-se em duas zonas: Zona húmida – Piscina
Olímpica com 50m, Piscina de Aprendizagem com 16m, Piscina Exterior (aberta
entre 9 de julho e 15 de setembro) e Zona Seca onde poderá encontrar o Estúdio
e a Sala de Musculação”.
Fonte: Varzim-Lazer
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