segunda-feira, 1 de setembro de 2025

25.283 A prática da natação como oferta turística em estâncias balneares

 
Entrado o século XX, os responsáveis pela exploração da actividade turística começaram a servir a sua clientela oferecendo uma série de divertimentos e passatempos.
Regra geral, a oferta englobava o jogo de fortuna e azar, as sessões dançantes, a actividade tauromáquica e a natação.
Por isso, as localidades da beira-mar, mais frequentadas, tinham à sua disposição aquela oferta completa ou parte dela.
O jogo acabou sendo regulado por lei e era atribuído por concessão e levado à prática nos casinos, caso dos da Póvoa de Varzim e de Espinho.
A prática da dança, por sua vez, era realizada nos próprios casinos ou nas chamadas Assembleias, verdadeiras associações esporádicas de banhistas que se reinventavam todos os anos.
A dança estribava-se, na maioria dos casos, na música tocada por grupos musicais, que o faziam ao vivo.
A tauromaquia também tinha o seu lugar de destaque e, assim, localidade com realce possuía a sua praça de touros e, apenas, há relativamente poucos anos, esses espectáculos passaram à história.
Por fim, importa referir e destacar a importância que a prática da natação, nas águas calmas de uma piscina, tinha para alguns banhistas.
Entre outros casos, Leça da Palmeira, Granja, Espinho e Póvoa de Varzim, logo que lhes foi possível, passaram a exibir a sua piscina.
 
 
 
 
Leça da Palmeira
 
A piscina da Praia de Leça funciona com água salgada obtida no mar, sendo conhecida como a Piscina das Marés.
Desde de sempre, no areal da praia de Leça da Palmeira, o povo aproveitou a retenção periódica das águas do mar, por um conjunto de rochas, para se banhar em recato da fúria das ondas.
Observada a possibilidade de um aproveitamento, que as condições naturais ofereciam, foi decidido construir uma piscina com outros requisitos.


 

Piscina Natural, Leça da Palmeira, em 1947, antes da Piscina das Marés
 
 
 
 

Piscina Natural, Leça da Palmeira, em 1948, antes da Piscina das Marés
 
 
 

Piscina das Marés, em Leça da Palmeira, em 1950


 
Na foto acima, importa referir o palacete da família Santos Silva, começado a construir em 1906 e demolido em 1969.
 
 
 
Entrada para a praia de Leça. À esquerda o palacete da família Santos Silva e, à direita, a Pensão-Restaurante Golfinho


 
 

Pensão-Restaurante Golfinho, em 1951
 
 
 
Demolição do palacete da família Santos Silva, Junho de 1969, para passagem das condutas da SACOR
 
 
 
 
A Piscina das Marés começada a construir no início da década de 1960, foi inaugurada em 1966, tendo sido projectada pelo arquitecto Álvaro Siza Vieira.
A sua localização era junto de uma pequena enseada rochosa que se desenvolvia na direcção aproximada Norte-Sul, paralelamente ao suporte da denominada ‘Meia-Laranja’, da ‘Avenida dos Centenários’, que a limita por Nascente.
 
 
«A história da Piscina das Marés, uma das obras mais emblemáticas do arquiteto portuense Álvaro Siza Vieira, começa 20 anos antes, com uma carta da Câmara de Matosinhos, empenhada à época em recuperar a importância da zona como estância balnear. Em março de 1960, a autarquia assume, pela pena do engenheiro civil Bernardo Ferrão, que “a construção de uma piscina de água salgada nas imediações da praia de Leça (…) constitui uma aspiração antiga”, e que tinha chegado a hora de a concretizar.»
Fonte: leca-palmeira.com
 
 
 
 

Construção da Piscina das Marés, em 1965
 
 
 
Em 2011, a Piscina das Marés foi classificada como Monumento Nacional.
A Piscina das Marés envolve duas piscinas de água salgada, sendo uma delas destinada a crianças. Inclui vestiários, balneários e um bar/lounge.

 
 

Piscina de Leça da Palmeira (vista aérea)





Piscina das Marés, Praia de Leça, na década de 1960, observando-se o palacete da família Santos Silva
 
 
 
 

Piscina das Marés, Praia de Leça, na segunda metade da década de 1960




Piscina dos mais pequenos, em Leça da Palmeira, em 1967
 
 
 
Em virtude da degradação originada pela proximidade do mar, a Câmara Municipal de Matosinhos encomendou ao arquitecto Álvaro Siza Vieira, em 2016, o projecto da sua reabilitação.

 
 
 

Piscina das Marés, em 2016
 
 
 
 
Granja
 
 
A praia da Granja foi, desde as últimas décadas do século XIX, o local nas imediações da cidade do Porto, que reunia nos meses de Verão, uma parte da burguesia de maior destaque da sociedade.
Segundo Ramalho Urtigão, a Granja tornou-se na mais aristocrática das praias do litoral português.
Teve a sua assembleia - Assembleia da Granja - e, a partir de 1955, a sua piscina.
 
 
 

Edifício da Assembleia da Granja, em 1906 e, actualmente – Cortesia de “Gaia à la Carte”
 
 
 
 
A piscina localizava-se junto da costa, num arranjo urbanístico que dava, e dá, pelo nome de “Esplanada Fernando Ermida”.


 
 

Esplanada Fernando Ermida, em 1955, vislumbrando-se, ao fundo, a Piscina da Granja
 
 
 
Naquela época, aquelas intervenções urbanísticas tomavam o nome de esplanadas.
Na cidade do Porto, na Foz do Douro, anos antes (década de 1930), também tinha começado a ser edificada uma esplanada que, neste caso, tomou como denominação o de “Esplanada 28 de Maio”, uma data muito querida ao Estado Novo.
Hoje, é a Esplanada da Praia do Molhe” e compreende a famosa “pérgula”, obra de 1931 de António Enes Baganha, falecido em 1934.
 
 
 

Na Foz do Douro, a "Esplanada 28 de Maio" depois, Esplanada da Praia do Molhe
 
 
 
Com projecto de 1938, a Piscina da Granja tinha um tanque, com 33,33 m (1/3 de 100 metros, dimensão olímpica) por 12 metros em planta e com profundidade de água variando entre 1,20 m e 2 m, excepto sob a prancha dos saltos onde a altura de água atingia 3,20 m.
Ao lado desta piscina, foi construída outra destinada às crianças com 12 m por 7 m, e profundidade variando de 0,30 m a 0,80 m.
O abastecimento de água era feito através de água do mar, mas a piscina estava a uma cota mais elevada.
O tanque tinha uma capacidade de cerca de 750 metros cúbicos de água e a sua renovação era entre 8 a 10 horas.
A captação da água do mar seria feita num poço encimado por uma tampa, situado na praia, com a mesma técnica que tinha servido um antigo estabelecimento termal de banhos quentes, com água do mar, explorado pela Assembleia da Granja.
O conjunto de bombeamento seria encerrado, então, numa barraca montada sobre um maciço de alvenaria.


 
 

Piscina da Granja (vista aérea)

 
 
 
Formada uma “Comissão pró-Piscina” com cerca de 80 contos de capital para investir, faltava-lhe mais uns 40 contos para se poder abalançar á obra.
A Junta de Turismo, verificando que a construção de uma piscina, alimentada com água do mar, beneficiaria extraordinariamente a Granja, resolveu concorrer com os restantes 40 contos.
A piscina seria instalada num terreno adquirido pela Junta de Turismo, para esse fim e, portanto, sua pertença.
Ficará, assim, propriedade da Junta de Turismo da Granja a piscina e as suas instalações.
Para a exploração a Junta de Turismo arrendá-las-ia, a longo prazo, a uma sociedade a constituir e composta pelos doadores do restante capital de 80 contos.




Piscina da Granja, em 1965
 
 
 

Piscina da Granja, década de 1960 e, actualmente - Cortesia de “Gaia à la Carte”
 
 
 

Piscina da Granja, em 1973
 
 
 
Em 2000 e 2021, a piscina da Granja foi alvo de intervenções de vulto e, hoje, destaca-se por o complexo de piscinas comportar uma outra semi-coberta aquecida e tratada.

 
 

Piscina descoberta da Praia da Granja, actualmente
 
 
 

Piscina coberta da Praia da Granja
 
 

 
Espinho
 
 
A piscina de água salgada denominada “Piscina Solário Atlântico”, implantada em Espinho, cujo projecto é dos arquitectos portuenses Eduardo da Silva Martins e Manuel Passos, foi inaugurada em 10 de Julho de 1943.
Em 1940, a Câmara Municipal tinha resolvido abrir concurso para a construção de uma piscina-solário.
 
 
 

Alçado do edifício do complexo de piscinas de Espinho
 
 
 
“Com o decreto da regulamentação da lei do jogo de fortuna e azar de 3 de Dezembro de 1927, as sociedades concessionárias dos novos casinos, em consonância com os municípios, foram obrigadas à construção de um conjunto de infra-estruturas de cariz cultural e de lazer. Em Espinho, a reestruturação de velhos espaços e a criação de novos edifícios com a intenção de modernizar e tornar a estância balnear mais apelativa surgiu na década de 30 do século XX e, em especial, com o decorrer da década de 40. O Casino, o Palácio-Hotel, os actuais Paços do Concelho, a Piscina e o Cine-Teatro S. Pedro, exemplificam bem essa época de mudança. O papel desempenhado por várias sociedades de melhoramentos que se foram formando e que tiveram por missão impulsionar o desenvolvimento da terra, também se fez sentir no processo de construção da piscina pública. A história da sua edificação começou em 16 de Março de 1938, data em que foi presente à Câmara Municipal um requerimento assinado pelos irmãos Agostinho e Alberto Calheiros Lobo e José de Almeida Francez, no qual manifestavam o desejo de instalar no norte de Portugal uma piscina onde se pudessem praticar “todos os desportos de natação, [e] cujo melhor local para a sua instalação seria no terreno que confronta[va] do norte com a rua 13, do sul com a rua 17, do nascente com a rua 4 e do poente com a esplanada à beira-mar.”
Fonte: Museu Municipal de Espinho
 
 
 

Construção da Piscina Solário Atlântico, em Espinho
 
 
 

Piscina de Espinho, c. 1950
 
 
 
 
O tanque principal do complexo, denominado “Atlântico”, tinha as dimensões de 50x22m, com profundidade de 1,20 a 5m e, um outro, para crianças, denominado “Espuma do Mar”, apresentava 20x10m, com a profundidade de 0,80 cm. Para além dos tanques, o complexo possuía balneários diversos e para banhos de imersão, cabines individuais e colectivas, solários e ginásio.
A inicialmente prevista construção dum campo de ténis e de um mini-golfe não foi concretizada e, em sua substituição, o projecto inicial acabaria por ser ampliado com mais trinta metros, sendo construído um parque infantil, denominado “Paraíso das Crianças”, que ocupava o quarteirão situado entre a piscina e o rinque de patinagem. O parque infantil dispunha de uma pista para bicicletas e triciclos, rampas, balancés, pontes e outros divertimentos.



 

Piscina Solário Atlântico junto da costa espinhense
 
 
 
 
Tudo era complementado com um bar e um restaurante e havia, ainda, a possibilidade de montagem de bancadas amovíveis (com capacidade para 600 pessoas) por cima do solário principal.
O restaurante e bar de apoio, assim como o salão nobre, inaugurado em Julho de 1944, animavam com os seus jantares-concerto, bailes e festas, as noites espinhenses.
 
 
“Espinho passou a oferecer diariamente aos seus veraneantes uma piscina de água salgada: com três instrutores de natação – o “Duque da Ribeira” para as primeiras braçadas, Álvaro Coelho, antigo nadador do F.C.P. para aperfeiçoamento e Humberto Costa, antigo campeão nacional, para os saltos; com 2 trampolins, uma prancha de saltos (3, 6 e 10 metros), 2 escorregões e uma piscina infantil; uma sala de chá na Piscina, com um conjunto musical de Lisboa (o melhor de Portugal) a tocar das 17 às 19h; um salão de dança, também na Piscina (Salão Nobre) com uma orquestra portuguesa, outra argentina e variedades, aberto das 22 às 2h”.
António Alberto Calheiros Lobo
 
 
 
Devido à conhecida fúria das marés, nas costas da praia de Espinho, era raro o ano em que o muro da Piscina Solário Atlântico, virado a poente, não fosse destruído na época das chuvas.
Foi o caso do Inverno de 1946/47, particularmente agressivo, que derrubou o muro de protecção e o ginásio situado na parte norte/poente.
Várias intervenções, então, se sucederam para tudo estar em ordem durante a estação estival.
 
 
 


Piscina Solário Atlântico de Espinho
 
 
 
A partir de 1960, a gestão privada do complexo, sob a competência da “Empresa de Melhoramentos de Espinho – Sociedade Anónima de Responsabilidade Limitada”, formada por escritura notarial em 15 de Novembro de 1941, passou para a Câmara Municipal de Espinho.

 
 
 

Piscina Solário Atlântico de Espinho

 
 

As icónicas três pranchas de saltos da Piscina Solário Atlântico de Espinho
 
 
 
 

Vista aérea, em 1975, do complexo de piscinas de Espinho

 
 
Com projecto de Isabel Aires e José Cid, Arquitectos, Lda., a piscina principal foi remodelada em 1997, com redução da profundidade e desactivação (por razões de segurança) da plataforma de saltos, apenas mantida como elemento escultórico, sendo, ainda, o complexo ampliado com a construção de uma piscina coberta.
 
 
 
 

Piscina de Espinho e, ao fundo, o edifício onde se aloja a Piscina coberta
 
 
 
 
 
Póvoa de Varzim
 
 
A Piscina Municipal da Póvoa de Varzim, foi construída na década de 1960, num local junto da costa, conhecido, desde há muito, por Estádio Gomes de Amorim.
Por aqui, num velódromo se praticou o ciclismo e, também, o hipismo, o que deu origem ao nome da praia atrás das actuais piscinas: Praia do Cavalo.

 
 
Piscina da Póvoa de Varzim, no Estádio Gomes de Amorim, na década de 1960

 
 
 
Antigas piscinas do Estádio Gomes de Amorim
 

 
Na década de 1980, as piscinas da Póvoa de Varzim passaram para a gestão da Sopete.
 
 
 
Piscinas da Póvoa de Varzim, em 1982, aquando da gestão da Sopete
 
 
 
O complexo remodelado, mais recente, de Piscinas Municipais da Póvoa de Varzim, para além da piscina exterior, inclui uma outra piscina olímpica coberta, tendo sido inaugurado em Junho de 1999 e aberto ao público, em Janeiro de 2000, tem a sua gestão, hoje, da responsabilidade da empresa municipal “Varzim Lazer”.
 
 
“No caso das Piscinas Municipais, este espaço divide-se em duas zonas: Zona húmida – Piscina Olímpica com 50m, Piscina de Aprendizagem com 16m, Piscina Exterior (aberta entre 9 de julho e 15 de setembro) e Zona Seca onde poderá encontrar o Estúdio e a Sala de Musculação”.
Fonte: Varzim-Lazer

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