Pelas seis horas da tarde do dia 11 de Maio de 1932, encalha
na restinga do Cabedelo o vapor alemão “Gauss”.
Acorreram, em socorro, os salva-vidas “Porto” e “Carvalho
Araújo” e naufragam.
O salva-vidas “Porto” tinha entrado ao serviço em 1922 e era
movimentado por remadores.
Por sua vez, o salva-vidas motorizado “Carvalho Araújo”,
tinha chegado a 17 de Setembro de 1931, a Leixões, vindo de Lisboa, para prestar
serviço, não só no porto de Leixões, como na barra do Douro.
A viagem até Leixões foi realizada pelos seus próprios
meios, desde a estação de socorros a náufragos de Paço de Arcos, Lisboa, para
onde havia sido transportado a bordo do vapor Alemão APOLLO.
Durante as manobras de salvamento do “Gauss”, o salva-vidas
“Porto” volta-se, o que provocou que 6 tripulantes, remadores, falecessem por
afogamento na barra do rio Douro. Foram eles o Patrão José Pinheiro Brandão e
os remadores Serafim Pereira da Silva, António Martins Vinagre, Mário da Silva
Rebelo e os irmãos Inocêncio e Matias Baptista da Silva.
O salva-vidas motorizado “Carvalho Araújo” também naufraga,
na tentativa de resgatar a equipagem do salva-vidas a remos “Porto”, que se
havia voltado junto ao navio naufragado na restinga do Cabedelo.
O vapor alemão “Gauss” após o encalhe no Cabedelo, em 11 de
Maio de 1932, com a presença do rebocador “Mars II” – Fonte: revista “O
Tripeiro”, Série Nova, Ano I, Nº 6, Maio de 1982
Sobre a foto acima, Rui Amaro, aquele que foi uma autoridade
e uma fonte inesgotável de conhecimentos, no que concerne ao sector marítimo e
à actividade respectiva em Leixões e na barra do rio Douro, cuja memória
singelamente homenageamos, escrevia:
“Depois de grande
maresia o mar acalmou, o navio permaneceu em seco durante 22 dias, findos os
quais depois de reparado voltou ao canal de navegação e continuou o serviço
comercial. Teria sido mais um acidente sem consequências, não fora o
salva-vidas que se encontra entre o navio e o rebocador ter-se virado e morrido
todos os seus ocupantes. Faz parte dos momentos mais tristes e fatídicos do
Instituto de Socorros a Náufragos, pelo único motivo de estarem lá, para tentar
salvar umas quantas vidas. O infortúnio colocou-os na história e a imagem quase
conta o resto”.
Fonte: Rui Amaro, administrador do blogue “Navios à Vista”
Então, no dia 3 de Junho de 1932, dois salvadegos
estrangeiros, Valkyrien, dinamarquês, e Seefalke, alemão, desencalham da
restinga do Cabedelo o “Gauss”, que segue para Leixões pelos seus próprios meios,
regressando mais tarde ao serviço normal.
Em 20 de Dezembro de 1932, na Associação Comercial do Porto,
ao Palácio da Bolsa, decorre uma sessão solene de homenagem aos participantes
no salvamento do vapor “Gauss”.
À sessão solene presidiu António de Oliveira Calém,
presidente daquela Associação, que tinha à sua direita W. H. Stuve, cônsul da
Alemanha no Porto; Dr. Sousa Rosa, presidente da edilidade Portuense; Cte
Almeida Teixeira, representante do chefe do Departamento Marítimo do Norte e à
esquerda os representantes do comandante da Região Militar do Norte, Governo
Civil do Porto e Associação dos Armadores Marítimos, respectivamente.
Na oportunidade, o cônsul da Alemanha prestou justiça à
benemérita corporação dos Bombeiros Voluntários do Porto.
“Depois foram chamados
o patrão do salva-vidas PORTO, José Maria Caetano Nora e os tripulantes António
de Oliveira, Gabriel Sousa Araújo, Herculano Moreira dos Santos, António Cunha
Rolha, Luís da Silva Mendonça, António Rodrigues Crista e António da Silva
Saragoça.
Seguidamente foi a vez
do patrão do salva-vidas CARVALHO ARAÚJO, José Rabumba (O Aveiro) e os seus
camaradas Manuel Rabumba, José Fernandes Caseira e Joaquim Rodrigues Crista.
Um a um, o cônsul da
Alemanha foi distribuindo os respectivos diplomas”.
Fonte: Rui Amaro
Os sobreviventes das companhas dos dois salva-vidas naufragados,
durante o desencalhe do “Gauss”, ladeando José Rabumba (O Aveiro), patrão do salva-vidas
Carvalho Araújo – Fonte: imagem da imprensa diária
“O salva-vidas “Carvalho Araújo” completamente reparado,
fundeou, ontem, na bacia de Leixões
O salva-vidas “Carvalho Araújo”, do Instituto de Socorros a Náufragos, adstrito à Capitania de Leixões, fôra a grande vítima. Mortos muitos daqueles que, então, o tripulavam, sobre a sua carcaça frágil se encarniçaram as vagas, quase a reduzindo a destroços.
Finda a tragédia, amainada a fúria dos elementos, o “Carvalho Araújo” recolheu ao seu posto, impossibilitado de cumprir, naquele estado, doravante, a missão admirável para que fôra construído.
Justiça, porém, se lhe fez. A casa alemã que o construíra, informada de que a ele se devia, em enorme parte, o salvamento do “Gauss” e da sua gente, prontificou-se a repará-lo, o que era, afinal, de elementar justiça.
O “Carvalho Araújo” foi, então, para a Alemanha. Lá esteve, nos estaleiros da casa construtora, em porfiada reparação. Foi, de alto a baixo remodelado, renovado. Ficou – dizem – mais sólido, melhor, mais capaz, para a sua missão de salvar, do que, antes, era.
E, ante-ontem, a bordo dum vapor alemão, o “Carvalho Araújo” aportou a Lisboa.
Dali, partiu, por mar, também, navegando, pelas 5 horas da manhã de ontem. E, às 4 horas da tarde, menos poucos minutos, o salva-vidas chegava, bandeira verde e vermelha drapejando no tope do mastro, nas águas mansas da baía de Leixões.
O simpático patrão do “Carvalho Araújo”, Sr. António Rodrigues Crista, confirmou a hora de saída de Lisboa, adiantou que a viagem correu bem e mais não disse.
Quando deixamos o futuro grande porto comercial, cujas obras vão num crescendo animador, as bandeiras do “Carvalho Araújo” brilhavam, sobre o ancoradouro, ao Sol frio da tarde...”
In jornal “O Comércio do Porto” de 4 de Novembro de 1933
fundeou, ontem, na bacia de Leixões
O salva-vidas “Carvalho Araújo”, do Instituto de Socorros a Náufragos, adstrito à Capitania de Leixões, fôra a grande vítima. Mortos muitos daqueles que, então, o tripulavam, sobre a sua carcaça frágil se encarniçaram as vagas, quase a reduzindo a destroços.
Finda a tragédia, amainada a fúria dos elementos, o “Carvalho Araújo” recolheu ao seu posto, impossibilitado de cumprir, naquele estado, doravante, a missão admirável para que fôra construído.
Justiça, porém, se lhe fez. A casa alemã que o construíra, informada de que a ele se devia, em enorme parte, o salvamento do “Gauss” e da sua gente, prontificou-se a repará-lo, o que era, afinal, de elementar justiça.
O “Carvalho Araújo” foi, então, para a Alemanha. Lá esteve, nos estaleiros da casa construtora, em porfiada reparação. Foi, de alto a baixo remodelado, renovado. Ficou – dizem – mais sólido, melhor, mais capaz, para a sua missão de salvar, do que, antes, era.
E, ante-ontem, a bordo dum vapor alemão, o “Carvalho Araújo” aportou a Lisboa.
Dali, partiu, por mar, também, navegando, pelas 5 horas da manhã de ontem. E, às 4 horas da tarde, menos poucos minutos, o salva-vidas chegava, bandeira verde e vermelha drapejando no tope do mastro, nas águas mansas da baía de Leixões.
O simpático patrão do “Carvalho Araújo”, Sr. António Rodrigues Crista, confirmou a hora de saída de Lisboa, adiantou que a viagem correu bem e mais não disse.
Quando deixamos o futuro grande porto comercial, cujas obras vão num crescendo animador, as bandeiras do “Carvalho Araújo” brilhavam, sobre o ancoradouro, ao Sol frio da tarde...”
In jornal “O Comércio do Porto” de 4 de Novembro de 1933
O salva-vidas “Carvalho Araújo” na década de 1960, junto do
Farolim do Esporão, à entrada do Porto de Leixões
Em 1979, o salva-vidas “Carvalho Araújo” foi substituído
pelo moderno e sofisticado salva-vidas “Patrão Joaquim Casaca (UAM-673)”,
construído no estaleiro do Alfeite da classe Americana “Waverney”.






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