quarta-feira, 19 de setembro de 2018

25.7 Ponte D. Maria II ou Ponte Pênsil


Acabada por ser levantada a montante da Ponte das Barcas, que veio substituir, teve a sua construção iniciada em Maio de 1841 e, a sua inauguração, aconteceria em Fevereiro de 1843.


Ribeira e Ponte D. Maria II – Fonte: “aportanobre.blogs.sapo.pt”




Na foto acima, o términos da Ponte Pênsil, na Ribeira do Porto.
Em 1837, o Estado português contratou à empresa francesa Claranges Lucotte & Cie. a construção da estrada Lisboa-Porto, incluindo uma ponte sobre o Douro.
Em 2 de maio de 1841, foi lançada a primeira pedra da ponte pênsil, oficialmente chamada de D. Maria II.



Foi na praia de Miragaia que montaram a ponte Pênsil


“Todos nós temos presente, na memória, claro, as belíssimas imagens da elegante ponte Pênsil que, depois de 1843, substituiu, na ligação da cidade com Vila Nova de Gaia, a velhinha ponte das Barcas - de tão triste memória para os portuenses.
O que muito pouca gente deve saber é que, inicialmente, a "ponte suspensa", como então era designado o projecto, fora prevista para ser, digamos assim, um prolongamento da Rua de S. João, na sua ligação com a margem esquerda do rio Douro; e que a montagem de toda a estrutura da nova ponte, quando já se havia decidido que seria construída na parte mais estreita do Douro, foi montada no areal que, ao tempo, havia em frente ao bairro piscatório de Miragaia. É uma curiosa história, esta, a da construção da ponte Pênsil.
Foi há precisamente cento e setenta anos, em dia de S. João, (24 de Junho de 1837) que foi apresentada à Câmara do Porto uma proposta para a construção "de uma nova ponte suspensa" sobre o rio Douro. A ideia teve óptimo acolhimento por parte da Vereação que a apreciou e a proposta chegou a colher o aval do Governo. A ponte seria construída no enfiamento da Rua de S. João, aberta havia pouco mais de setenta anos.
Com efeito, em reunião camarária de 1 de Julho de 1837, "a que assistiu o arquitecto da cidade", os presentes foram informados sobre "a conveniência de (a nova ponte) ser collocada defronte da Rua de S. João", na expressa condição de que "as cazas que hão- -de servir de prisão aos tirantes" não causem qualquer embaraço ao trânsito público para os dois lados da Praça da Ribeira.
Os protestos, porém, não tardaram. Vieram dos moradores mas também, e sobretudo, dos negociantes daquela zona ribeirinha. Alegavam que as torres de grandes dimensões que teriam de ser construídas para a suspensão dos cabos de aço iriam estorvar e prejudicar o muito trânsito que diariamente por ali passava.
Consta de uma notícia da época que "tão acertadas e justificadas pareceram as razões expostas" que a Companhia da Ponte Pênsil, entretanto constituída, começou de imediato a estudar, com o patrocínio do Município, um outro local. Mas não havia maneira de o projecto avançar.
Foi então que o Governo mandou ao Porto o inspector-geral dos Trabalhos Públicos que, depois de vários estudos e conferências sugeriu, que a ponte devia ser construída para montante da ponte das barcas, ainda em funcionamento, no local mais estreito do rio. O sítio onde, efectivamente, veio a ser construída. Os trabalhos de construção começaram no dia 2 de Maio de 1841, dia do aniversário do coroamento de D. Maria II. Daí que, depois de construída a ponte, lhe tivesse sido dado o nome daquela soberana.
O novo projecto previa a construção de uma ponte suspensa de um só tramo com 170,74 metros de vão, cujos cabos eram suportados por quatro obeliscos colocados dois em cada margem tendo cada um 18 metros de altura. Dois desses obeliscos ainda existem do lado do Porto.
Uma obra desta envergadura ia precisar, obrigatoriamente, de estaleiros à altura da empreitada.
Ora, na zona da Ribeira, onde a ponte ia ser construída, não havia espaço suficientemente amplo para que aí se desenrolassem todos os trabalhos.
Foi necessário, no entanto, arranjar, na Ribeira, uma área com a capacidade suficiente para nela os canteiros aparelharem as pedras com que iriam ser construídos os obeliscos.
Para a confecção dos cabos de aço e para a montagem do tabuleiro foi preciso procurar um espaço maior que viria a ser encontrado no amplo areal de Miragaia.
O terreno, contudo, apresentava alguns inconvenientes era bastante irregular; ficava, por vezes, submerso pelas águas do rio, especialmente nos períodos de marés vivas; e, no caso de haver cheias, a inundação era inevitável.
Mas era o que estava mais perto do local onde se pretendia construir a ponte e havia que arriscar. Como aconteceu.
O terreno, depois de terraplenado, foi inteiramente vedada por uma alta paliçada. No seu interior trabalhavam os operários que se ocupavam com a construção dos cabos e do tabuleiro. As forjas e as ferramentas eram guardadas, à noite, nos armazéns que ficavam debaixo dos cobertos. As peças do tabuleiro e os cabos, à medida que iam ficando prontos, eram levados em grandes barcaças para o sítio exacto onde se ia construir a ponte.
Nos finais de 1842, começaram a ser feitos os primeiros testes de resistência. Alguns meses depois (Janeiro de 1843) ainda não estavam feitas as guaritas para a cobrança da portagem e, do lado de Gaia, ainda se andava a expropriar um armazém para a construção de uma rampa de acesso. Em 17 de Fevereiro de 1843 a ponte foi finalmente, aberta ao trânsito de peões e de veículos.
Quando a ponte Pênsil começou a ser construída, a cidade do Porto atravessava uma das suas fases mais prósperas. Curiosamente, estava também em construção, por essa altura, a sede da Associação Comercial do Porto. O Palácio da Bolsa, ainda hoje o símbolo do nosso cariz mercantil e emblema do liberalismo tripeiro, porque foram os liberais que o começaram a construir embora a maioria não o tivesse visto concluído. Há muito que haviam ficado para trás tempos conturbados como das invasões francesas, da guerra civil e da Patuleia. Guardada a espingarda com que vitoriosamente se batera no Cerco do Porto, o mercador tripeiro arregaçou as mangas e atirou-se ao trabalho, prosperando. A construção da ponte Pênsil responde, em certa medida, à urgente necessidade que se sentia de criar novos e mais cómodos meios de comunicação com os arredores. Na vizinha Vila Nova de Gaia estavam os armazéns das mais importantes companhias que se dedicavam ao comércio do vinho do Porto e a ligação com aquela margem através da ponte das Barcas, além de incómoda, era perigosa”.
Texto de Germano Silva publicado no Jornal de Notícias



Ponte D. Maria II


Acessos à Ponte Pênsil ou de D. Maria II – Fonte: “aportanobre.blogs.sapo.pt”




Na gravura acima, é possível observar-se que existia à saída da ponte uma rampa de acesso pedonal a Cima do Muro e às Escadas do Codeçal, bem como, outro acesso à ponte, a partir do cais.
Esta ponte, foi adjudicada à empresa de João Francisco Maria Armand Declaranges Lucotte, responsável pela construção da estrada Lisboa-Porto.
O contrato foi firmado em 1837 e permitiu, àquela empresa, a fruição da portagem respectiva, o que aconteceria até 1876. A partir daí, essa tarefa passou a pertencer ao Estado.
A ponte Luís I foi inaugurada com o seu tabuleiro superior em 1886 e o inferior em 1888.

 
 

Ponte Luiz I, em construção, e Ponte Pênsil, c. 1882

 
 
Até 1887, as duas pontes coexistiram, sendo que, a ponte D. Maria II, foi desmantelada nesta data, tarefa da qual se encarregou a Câmara Municipal do Porto.
Hoje, dela restam, apenas, os pilares do lado do Porto.




Pilares da Ponte Pênsil, do lado do Porto, c. 1958 – Ed. SIPA




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