terça-feira, 13 de novembro de 2018

(Conclusão) - Actualização em 12/03/2019 e 18/02/2021

 
Evolução da Real Companhia Velha
 
 
Até às lutas ocorridas para estabelecer o liberalismo, de que ressalta como fundamental o Cerco do Porto, a Companhia foi cumprindo as funções para a qual foi destinada.
O rio Douro era sulcado por rabelos que traziam para os cais de V. N. de Gaia, e para os que a Companhia tinha também no Porto, os vinhos para a respectiva comercialização.
 
“O barco rabelo é uma embarcação portuguesa, típica do Rio Douro que tradicionalmente transportava as pipas de Vinho do Porto do Alto Douro, onde as vinhas se localizam, até Vila Nova de Gaia - Porto, onde o vinho era armazenado e, posteriormente, comercializado.
Sendo um barco de rio de montanha, o rabelo não tem quilha e é de fundo chato, com um comprimento entre os 19 e 23 metros e 4,5 metros de boca. A sua construção, de tábuas sobrepostas, tábua trincada, é nórdica, em comparação com a do Mediterrâneo.
Com uma vela quadrada, o rabelo era manejado normalmente por seis ou sete homens. Quanto aos mastros, os primeiros só usavam um, enquanto que os segundos usavam também um mastro à proa. Para governo, utiliza um remo longo à popa – a espadela. Quando necessário, os barcos eram puxados a partir de caminhos de sirga por homens ou por juntas de bois.
O barco rabelo passou a ter a sua identidade bem definida, a partir de 1792, quando a Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, publicou os alvarás e mais documentos que se relacionavam com a notável instituição pombalina. Nessa publicação, conhecida vulgarmente por "Leis da Companhia", encontram-se preciosas informações referentes tanto ao barco como aos seus tripulantes, como ainda ao tráfego a que se destinavam”.
Fonte: “pt.wikipedia.org”


 

Barco rabelo na Régua

 
 
Em 16/8/1833, durante o cerco do Porto, a Companhia viu arder cerca de 16.000 pipas, algumas com vinho antiquíssimo, cujo prejuízo foi de 2.002.378$000, uma avultadíssima verba.
Durante aquele conflito tinha-se formado uma Comissão Administrativa da Companhia, sob a tutela das autoridades liberais, no Porto, que pouco depois deu lugar a uma Junta eleita. Passaria a existir, então, até 1834, um órgão de administração da Companhia, liberal, no Porto, e outro órgão de administração da mesma, miguelista, na Régua, que tinha como provedor Francisco de Sousa Cirne de Madureira.



 

Embarque de vinho na Régua
 
 
 
Em 30/5/1834, saiu o decreto que abolia toda a legislação que lhe atribuía prerrogativas e atribuições, e a extinguia.
Publicou os seus novos estatutos em 4/11/1834 e renovou-os em 7/4/1838.
Com efeito, entre 1834-1838, adoptou a denominação de Companhia dos Vinhos do Porto.
Com dívidas ao Estado e a particulares de vários milhares de contos de reis, dada sua robusta constituição financeira conseguiu sobreviver.
Conseguiu adiar e reestruturar algumas das suas maiores dívidas e receber do estado vários créditos.
Conseguiu, após muitas dificuldades, acabar por pagar a todos os seus credores. 
António Barreto, na sua obra, “Douro”, irá concluir que "extinta" em 1834, "literalmente reorganizada em 1843, a Companhia será definitivamente dissolvida em 1863".
Outros afirmam que a Companhia "passa a desempenhar exclusivamente as funções próprias de qualquer firma comercial".
O certo é que a Companhia, "inoperante e desacreditada, atacada por forças poderosas, como a Associação Comercial do Porto, acabará por ser extinta definitivamente em 1865".
 A antiga Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro passa, então, a utilizar o nome de Companhia Velha e resolveu continuar os seus negócios.
Precisando: dado que a Companhia sempre foi uma sociedade por acções ela funcionou sempre até aos nossos dias. Só podemos falar de extinção, renovação, reforço ou redução quanto aos privilégios e poderes concedidos ou delegados pelo Estado a esta Empresa.



Outras actividades da Real Companhia Velha



A Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro não teve só intervenção na área do vinho, fez, também, grandes empréstimos ao governo para obras importantes.
De 1789 a 1792, demoliu o Cachão da Valeira.
Interveio na reconstrução de Amarante muito destruída nas invasões francesas.




Amarante c. 1900



Procedeu à construção da estrada Porto-Mesão Frio-Régua e à construção/beneficiação de outras estradas no Alto Douro, nomeadamente Régua--Santa Marta-Cumieira-Vila Real e Pinhão-Provesende.
Teve, ainda, intervenção decisiva na construção dos cais que contiveram o rio Douro, desde da Ribeira até à Foz.
Para isso, cederam dos seus cofres, inicialmente, 400 000 cruzados referentes a acções da Companhia de que se perdera o rasto dos titulares, e recolhendo e aplicando o imposto dos 100 réis por tonelada, aplicado sobre as embarcações de comércio que entrassem na foz do Douro (1790-1834).
Com pedra na sua maior parte extraída da pedreira da Arrábida foram levantados os cais, das Padeiras, de Massarelos e a sua marginal, do Ouro e da Cantareira até ao Molhe de Felgueiras.
Foi ainda devido à sua iniciativa que se fundou, em 1803, a Academia Real da Marinha e Comércio da Cidade do Porto (onde hoje está a Reitoria, nos Leões).
Este estabelecimento bem como os que o antecederam nesse local (Aula de Náutica em 1762 e aula de Debuxo e Desenho em 1779) funcionaram debaixo da sua inspecção e administração económica, cabendo-lhe mesmo nomear os funcionários, com excepção dos lentes, professores e substitutos, que propunha sob consulta ao rei.



A Companhia e o ensino na cidade do Porto – Fonte: Museu/Enoteca da Real Companhia




Em 1831 construiu a Real Casa do Asilo dos Náufragos, na Foz por ordem de D. Miguel I.


Real Casa do Asilo dos Náufragos no Passeio Alegre



A Companhia arrecadava ainda uma série de impostos, tarefa para a qual estava devidamente mandatada pelo Estado.


“Para se fazer uma ideia dos montantes arrecadados pela Companhia em nome do Estado, basta dizer que os rendimentos a cargo da Junta, em 1825, de acordo com os balanços da receita e despesa do Tesouro Público, atingiram 114 032$679 réis, mas, no ano seguinte, tal receita atingiu os 536 432$193 réis, a maior receita do Tesouro Público a seguir às receitas das alfândegas, décima e contribuição de defesa, e contrato do tabaco”.
Com o devido crédito de Fernando de Sousa - Professor Catedrático da Universidade do Porto

Nos textos seguintes, dá-se conta do que duas personalidades (que narraram um pouco da vida da cidade do Porto) disseram sobre a Companhia, em épocas distintas.







Companhia Geral de Agricultura das Vinhas do Alto Douro – Cronologia



1756 – É instituída por decisão régia a Companhia Geral de Agricultura das Vinhas do Alto Douro, portadora de uma série de privilégios que lhe são concedidos;

1758 – Início da demarcação da zona vinhateira;

1808 – Alargamento da área denominada por demarcação mariana ou subsidiária, passando a região demarcada a comportar 87 paróquias;

1821 – As cortes vintintas, pós revolução de 1820 retiram os primeiros privilégios à Companhia. Instituem a Feira da Régua e os bilhetes de qualificação; fixam os preços para os vinhos exportados e libertam a destilação da aguardente nas 3 províncias do Norte, até então, privilégio da Companhia;

1834 – São extintos os privilégios da Companhia. Decreto da instituição da Companhia dos Vinhos do Porto por 12 anos;


Lista dos Provedores da companhia entre 1756 e 1834 – Fonte: Museu/Enoteca da Real Companhia



1838- Fim do período começado em 1834, de transicção e mudanças, com o aparecimento de novos estatutos;

1843 – Costa Cabral concede à Companhia um subsídio de 150 contos de réis, para compra de 20.000 pipas de vinho do Douro;


Presidentes da Companhia entre 1834 e 1843 – Fonte: Museu/Enoteca da Real Companhia



Presidentes da Companhia entre 1843 e 1960 – Fonte: Museu/Enoteca da Real Companhia




1858 – O Estado deixa, a partir daqui, de intervir na Companhia;


1878 – A Companhia passa a sociedade anónima e é estatutariamente prorrogada por 99 anos;


1888 – Instituiu-se a “Real Companhia Vinícola do Norte de Portugal”, sedeada no Porto, com funções de agente intermediário entre a produção e o comércio e de comerciante por conta própria, e que será integrada na Companhia em 1963.
Entretanto, a “Real Companhia Vinícola do Norte de Portugal” irá absorver, em 1922, a Companhia Vínicola Portuguesa, fundada por Clemente Meneres e com sede em Matosinhos;

 
 
 
Fonte: “realcompanhiavelha.pt/”



1937 – A Companhia acerta contas com o Estado, terminando o contencioso que durava desde 1834, relativo à indemnizações dos prejuízos ocorridos no incêndio de 1833, em que milhares de pipas foram deliberadamente incendiadas após os confrontos do Cerco Do Porto e como vingança das tropas derrotadas de D. Miguel;


1953 – Neste ano, Manuel da Silva Reis adquire a empresa de Vinhos do Porto, Miguel de Sousa Guedes & Irmão, Lda., passando a ser o proprietário da Quinta das Carvalhas.
Em 1851, Constantino do Vale Cabral tinha adquirido na qualidade de credor do Barão do Seixo, um lote grande de vinhos e vai fundar para a sua comercialização, a firma “Miguel de Sousa Guedes” que irá ser a proprietária da Quinta das Carvalhas, no Douro.
É esta firma, que quase passado que foi um século, já com a denominação de “Miguel de Sousa Guedes & Irmão, Lda.”, vai acabar nas mãos de Manuel da Silva Reis;


1960 - A Real Companhia Velha é adquirida, com o apoio do banqueiro Pinto de Magalhães, por Manuel da Silva Reis, que assume sua direcção e, até 1973, vai comprar doze empresas de vinho do Porto;



1961 – A Companhia abandona definitivamente as instalações da Rua das Flores que ocupava no Palacete dos Figueiroa, transferindo-se para a Rua da Carvalhosa, em V. N. de Gaia;



1963 – A Companhia adquire a Real Companhia Vinícola do Norte de Portugal e a Nicolau de Almeida & CIA. Consegue ainda autorização para o transporte por estrada, em camiões cisterna, dos vinhos do Douro;



Fonte: “realcompanhiavelha.pt/”


1972 – A Companhia Geral das Vinhas do Alto Douro e a Companhia Real Vinícola do Norte de Portugal constituem-se numa única empresa comercial (Vinicolândia).

 

 
Fonte: “realcompanhiavelha.pt/”



1973 - A Empresa Miguel de Sousa Guedes & Irmão, Lda., transfere para a Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, SARL todos os bens do seu activo, completando a integração naquela Companhia;

 

1974 - O Estado português interveio na Real Companhia Velha, lá permanecendo até 1978, quando Manuel da Siva Reis retoma as rédeas da empresa.


Assim, em resumo, no século XX:

 
“1921 – 1939 - A Companhia conhece uma época muito favorável, com um elevado movimento de compras e vendas. O desenvolvimento do comércio mundial, a depreciação da moeda e a guerra de 1914-1918 foram os factores que influenciaram positivamente a exportação nesta época.
1960 - Em 1960, Manuel da Silva Reis adquire, com o apoio do banqueiro Pinto de Magalhães, a maioria do capital - assumindo assim a direcção da Real Companhia Velha.
1961 – 1974 - A Real Companhia Velha conhece um dos seus períodos de maior expansão, o qual se traduziu por profundas transformações: mudança das instalações da sede; aumento do capital; renovação de equipamentos e modernização tecnológica da vinificação; preparação, tratamento e conservação dos vinhos; e alargamento dos seus negócios.
1979 - Após períodos conturbados, a Companhia efectuou uma operação comercial envolvendo vinho generoso de várias colheitas, no valor total de 1 000 000 de contos - o que constitui a maior operação financeira jamais realizada na região do Douro. A Empresa volta, assim, a ocupar um lugar de relevo entre os exportadores do Vinho do Porto.
1986 - As vendas no País e estrangeiro atingem um volume considerável - 5 450 000 contos, o que constituiu um autêntico recorde, traduzido por uma quota de mercado de 18%”.
Cortesia de Rui Cunha
 

A Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro na Régua




Actualidade


Nos nossos dias, destaca-se a abertura, em Agosto de 2018, de um Museu/Enoteca, em parte das instalações que foram, durante décadas ocupadas pela Companhia, na marginal de V. N. de Gaia e que ocupavam praticamente um quarteirão.


Marca de delimitação exposta no Museu da Real Companhia Velha (com entradas pela Rua de Serpa Pinto e avenida Ramos Pinto)


As caves primitivas da Companhia sempre se mantiveram na Rua Azevedo Magalhães, em V. N. de Gaia, onde a Companhia continua a exercer a sua actividade, porém, com um novo enquadramento, no que diz respeito à gestão do negócio.
Um outro potentado do sector do vinho do Porto, a Fladgate Partnership, detentora da Taylor's, comprou, em 2011, a Real Vinícola que detinha os activos imobiliários da Companhia Velha e concentrou a actividade do grupo na Quinta dos Barões (à face da Avenida D. João II, em V. N. de Gaia).
Aqui, passou a fazer todo o engarrafamento dos seus vinhos e concentrou, desde então, também, toda a actividade do grupo.


 

Entrada da Quinta dos Barões, na Avenida D. João II, em V. N. de Gaia – Fonte: Google maps
 
 
Assim, a Companhia Velha, a quase tri-centenária empresa, continua a sua actividade, mas, agora, em instalações arrendadas.



“A Fladgate Partnership, detentora da Taylor's, entre outras, é a nova dona da Real Vinícola. A empresa, proprietária dos activos imobiliários da centenária companhia criada sob os auspícios do Marquês de Pombal, foi comprada por 21 milhões de euros.
O negócio foi confirmado ao JN/Dinheiro Vivo pelo director geral da Taylor's, Adrian Bridge. "Comprámos todas as instalações da Real Vinícola em Vila Nova de Gaia. O negócio pressupôs a compra da empresa sem pessoal, sem débitos e sem negócio", explicou.
A Real Vinícola (criada em 1889) passou, assim, a integrar, desde o fim de Setembro, o portfólio da Quinta and Vineyard Bottlers - Land Holdings. Segundo Adrian Bridge, a Real Companhia Velha (fundada em 1756 por alvará régio de D. José I e detentora do negócio vitivinícola, designadamente as quintas no Douro) continuará a operar no mesmo espaço em Vila Nova de Gaia, que lhe será, agora, arrendado.”
Cortesia Ilídia Pinto, In “Jornal de Notícias”, 23/10/2011



Entrada das instalações primitivas da Companhia Real Vinícola do Norte, na Rua Azevedo Magalhães, em V. N. de Gaia – Fonte: Google maps



Armazéns e caves da Real Companhia Vinícola do Norte, na Rua Azevedo Magalhães, em meados do século XX – Fonte: Museu/Enoteca da Real Companhia



Entrada de uma das caves da Real Companhia Velha, em antigas instalações da Real Vinícola – Ed. Graça Correia


Vista de uma pequena parte das caves da Real Companhia Velha, em antigas instalações da Real Vinícola – Ed. Graça Correia

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