quarta-feira, 18 de setembro de 2019

(Conclusão) - Actualização em 31/01/2020 e 22/01/2021


Delfim Ferreira. Um capitalista com rectaguarda familiar


A actividade hoteleira era para Delfim Ferreira (Riba-d’Ave, 1888 – Porto, 1960) uma gota de água num imenso oceano e, nestas águas, vogava o sector energético que, para além da pioneira indústria têxtil, compreendia muitas outras que foi abraçando ao longo da sua vida.
Tudo começou pela iniciativa de seu pai, Narciso Ferreira, que depois de ter começado como tecelão (actividade de cariz familiar), foi abraçando outros empreendimentos menores no sector têxtil, até que, viria a constituir uma sociedade em 1894, com o empresário Manuel Joaquim Oliveira, o banqueiro José Augusto Dias, o engenheiro Ortigão Sampaio e com o proprietário José Fernandes, legalizada por escritura em 1896, denominando-se Sampaio Ferreira & Cia. Lda. (Riba-d’Ave, Famalicão), com duzentos teares mecânicos, alimentados pela energia de um açude construído no rio.
Mas, falar de indústria têxtil em Riba d'Ave, implica referir a pequena fábrica de lã do Barão da Trovisqueira, a Fábrica de Sant’Anna criada c. 1883/85, parecendo representar o primeiro aproveitamento hidráulico conhecido para o concelho, assentando a estrutura motora do maquinismo numa turbina.
José Francisco da Cruz Trovisqueira (1824-1898), natural de Gavião, tendo embarcado para o Rio de Janeiro, em 1834, regressou, mais tarde, tornando-se político (administrador do concelho; presidente da câmara municipal durante os mandatos 1868/69, 1870/71, 1872/73, 1874/75 e 1878/81; deputado em várias legislaturas), cacique do partido reformista e depois do progressista. Participou ainda em várias iniciativas industriais, obtendo concessões para linhas de americano (no Porto e em Coimbra) e para a via férrea em Arganil, representando a fábrica de lanifícios sobre o Ave a sua demonstração local como empreendedor, estabelecendo as óbvias conexões com a sua actividade política.
A concessão que obteve c. 1870, para construir uma linha férrea entre o Porto e Matosinhos, pelo sistema americano, foi por ele vendida, sem a ter executado.



Um Americano puxado por muares, na Praça da Batalha – Cortesia: STCP




“Sampaio & Ferreira”, actualmente desactivada – Fonte: jornal “O Minho”



Voltando à família Ferreira, em 1905, Narciso Ferreira (07 /07/1862 – 23/03/1933) fundaria a “Empresa Têxtil Eléctrica, Lda.” (Bairros, Famalicão), concebida desde o início para utilização da electricidade, produzida a partir de uma pequena central instalada no Ave.
O seu objecto era o de "exploração da indústria de fiação e tecelagem de algodão e de electricidade, e quaisquer outros ramos inerentes.
É, no médio Ave, na zona da confluência do rio Vizela com o rio Ave, que se regista um primeiro núcleo de centrais hidroeléctricas (centrais de Amieiro Galego, do Bairro, da Têxtil Eléctrica e de Caniços), resultando daí um maior dinamismo na relação com os cursos de água existentes. Para além de estarmos na presença de centrais ligadas às principais unidades industriais associadas ao têxtil, são também aquelas que atingem ou atingiram maior dimensão empresarial.
Outra grande fábrica (do grupo empresarial) seria montada por Narciso Ferreira, a “Oliveira Ferreira & Cia. Lda.”, criada em Riba de Ave em 1909.
Em sequência, em 1909, Narciso Ferreira electrificou as suas duas outras empresas de Riba d'Ave - a “Sampaio & Ferreira” e a “Oliveira & Ferreira”, erguendo, para isso, a Central de Amieiro Galego, no rio Ave.
Esta central começa a funcionar em 1909 e permitiu o trabalho por turnos, e electrificar a freguesia de Riba d'Ave que, por essa razão, foi uma das poucas do concelho a dispor de energia eléctrica para consumo doméstico.
O fornecimento energético ao complexo industrial (em censo de 1928 tinha no total, 1400 trabalhadores), e o consumo doméstico viria a ser reforçado, pela exploração da central do Varosa, da “Companhia Hidro-Eléctrica do Varosa”, concessionada em 1907 e construída para iluminação da Régua e de Lamego.
Esta central energética foi sendo transformada, desde 1918, pelo grupo empresarial de Narciso Ferreira, que faz chegar a energia ao Vale do Ave, proveniente do Varosa, reforçando-a com o funcionamento da Central Termoeléctrica de Caniços (Bairro) e, a partir de 1925, a energia chega ao Porto, por concessão de uma linha de abastecimento a partir da barragem do rio Varosa e da sua Central do Chocalho.


Central de Caniços da Empresa Têxtil Eléctrica, Lda., em Bairro - Fonte: Câmara Municipal de Famalicão



Note-se que, a Barragem do Lindoso, determinante para a região Norte, apesar de concessionada em 1907, só começaria a funcionar em 1922, fornecendo energia para Porto, Gaia e Braga.



Barragem de Varosa, em Lamego – Cortesia de Vítor Oliveira


Narciso Ferreira também montou e organizou, já com a ajuda dos seus filhos, a “Fábrica de Fiação e Tecidos (Ferreira & Irmão, 1924)” de Vila de Conde e a “Empresa Têxtil Algodoeira de Arcozelo”,  em V. N. de Gaia.
Porém, entre os seus filhos, na condução dos negócios, a herança do comando de Narciso Ferreira (falecido em 1933), vai para o filho Delfim Ferreira que, face ao eclipsar natural de Narciso Ferreira, vai lançar outros projectos, em diferentes áreas.
Assim, Delfim Ferreira terá um papel fundamental no fabrico de seda artificial, em Portugal, com a criação, em 1930, da “Empresa Nacional de Sedas” (sedeada em V. N. de Gaia, Arcozelo, Aguda) e, em 1951, funda a “Sociedade Industrial do Mindelo”, em Vila do Conde.
A grande capacidade de inovação industrial revelada por Delfim Ferreira foi reconhecida, a nível nacional, tendo o Governo convidado o industrial a aproveitar as águas do rio Ave, nascendo então a Companhia Hidro-Eléctrica de Portugal”, apoiada na Barragem do Ermal (funcionando por gravidade) e na sua Central de Guilhofrei, com funcionamento a partir de 1938.



Barragem do Ermal e albufeira – Fonte: “portugalfotografiaaerea.blogspot.com”


Pela associação em 1943 da “Companhia Hidro-Eléctrica de Portugal” e da “Companhia Hidro-Eléctrica do Varosa” (que tinha associado as centrais eléctricas de Chocalho e do Caniço) resultaria o aparecimento da “CHENOP” – “Companhia Hidro-Eléctrica do Norte de Portugal que, tendo sido nacionalizada em 1975, ficou sob a alçada da EDP.
Em 1953, e novamente a convite do Governo, Delfim Ferreira explorou as águas do rio Douro, dando origem à “Hidroeléctrica do Douro”.
Delfim Ferreira, noutras áreas de negócio, foi ainda o responsável pela construção de grandes edifícios na Avenida António Augusto Aguiar e Sidónio Pais (em Lisboa) e na Rua Sá da Bandeira (Porto).
Entre todos eles, destaca-se o Palácio do Comércio (na parte nova da Rua Sá da Bandeira) projectado em 1944, pelos arquitectos David Moreira da Silva e Maria José Marques da Silva Martins (respectivamente genro e filha do arquitecto Marques da Silva).
A escultura “O Triunfo da Indústria”, que assenta na sua platibanda, é da autoria de Henrique Moreira.



Palácio do Comércio – Fonte: Fundação Marques da Silva (“arquivoatom.up.pt/”)


Outra área que Delfim Ferreira explorou, foi a da produção vinícola, nomeadamente a ligada ao vinho do Porto, tendo criado, nas suas explorações vinhateiras, no Douro, novos métodos de produção vinícola e de arroteamento, nomeadamente nas suas propriedades de “Quinta dos Frades” (Armamar) e “Quinta do Castelo” (Santa Marta de Penaguião).

“A Quinta dos Frades, primitivamente designada de Quinta da Folgosa, como é referida nos documentos mais antigos, localiza-se na freguesia da Folgosa, concelho de Armamar. As suas origens remontam ao século XIII, tendo sido doada aos monges do Mosteiro de Santa Maria de Salzedas em 1256, como comprovam os dois Brasões da Congregação Autónoma dos Cistercienses de São Bernardo de Alcobaça que a quinta possui. Foi uma das mais ricas e produtivas quintas deste Mosteiro.
(…) Com a extinção das Ordens religiosas e dos seus mosteiros em 1834, como foi o caso do Mosteiro de Santa Maria de Salzedas, ao qual pertencia a Quinta dos Frades, os bens destes mosteiros foram inventariados e colocados à venda em hasta pública. A Quinta dos Frades, acabaria por ser arrematada a 6 de Novembro de 1841 pelo 1º barão da Folgosa, Jerónimo de Almeida Brandão e Souza, mantendo-se na posse dos seus herdeiros, sua filha e marido (Conde da Folgosa) até 1941.
Em 1941, o Comendador Delfim Ferreira, um importante industrial e impulsionador da economia portuguesa, adquire a Quinta dos Frades, levando a cabo um projecto de reabilitação da mesma, da autoria do arquitecto Rogério de Azevedo, também responsável pelo projecto do emblemático Hotel Infante Sagres, mandado construir por Delfim Ferreira. A quinta passava agora a estar dotada de infraestruturas modernas de produção e de lazer e Delfim Ferreira introduziu também o método de plantação das vinhas em declive livre.
Já nos anos 70 do século XX a Quinta dos Frades, vê a sua área reduzida pela construção da Barragem de Bagaúste e pelas obras de desvio da E.N. 222, tendo sido expropriada uma grande área incluindo os terrenos abaixo do solar onde estavam implantadas as vinhas mais antigas. Actualmente a quinta possui cerca de 200 hectares de área.
Após décadas a produzir para outras casas exportadoras de vinho e de um período de reestruturação, finalmente em 2008 os bisnetos de Delfim Ferreira, aproveitando as potencialidades das vinhas da quinta, iniciam um projecto de produção do primeiro vinho de mesa com a marca “Quinta dos Frades”, contando presentemente com mais marcas e uma edição especial dedicada ao Comendador Delfim Ferreira”.
Fonte: “quintadosfrades.pt”


Marco Pombalino da Quinta dos Frades



Quinta dos Frades, na Folgosa, Armamar


Delfim Ferreira morreu em 1960, na sua casa na Quinta de Serralves, que tinha adquirido nos anos 50 ao conde de Vizela.


Casa de Serralves





2. Hotel Aliados


O Hotel dos Aliados, que já foi Pensão dos Aliados, é o único de 3 estrelas existente na Avenida dos Aliados.


“Numa zona onde existiam outrora duas ruas muito movimentadas e um conjunto de ruas curtas e vielas a que chamavam “os lavadouros”, a demolição em 1916 do palacete barroco da Praça da Liberdade — que desde 1816 alojara a Câmara do Porto — representou o primeiro passo para a edificação do que viria a ser a Avenida dos Aliados, que deriva de Avenida das Nações Aliadas com que foi baptizada aquando da sua inauguração em homenagem à vitória aliada na 1ª Guerra Mundial (1914-1918).
Desde meados do século XIX, a Praça da Liberdade era já o “ponto predilecto de reunião dos homens graves da política e do jornalismo, da alta mercancia tripeira e dos brasileiros”. Projectada pelo arquitecto inglês Barry Parker, a Avenida dos Aliados veio estabelecer a ligação entre esta praça e a da Trindade, convertendo-se prontamente numa espécie de “sala de visitas da cidade”.
A avenida está rodeada de edifícios monumentais e coroada na sua parte superior pelo edifício da Câmara Municipal, constituindo um conjunto harmonioso com fachadas decoradas de forma a criar um ambiente monumental e luxuoso, entre as quais se encontra o edifício que alberga desde 1932 o Hotel Aliados..
É neste contexto efervescente que Fernando Guimarães inaugura, em 28 de Maio de 1932, a Pensão dos Aliados. O seu filho, Manuel Guimarães, viria a ser um nome de marca da relevância no cinema português, sobretudo enquanto realizador, (Costureirinha da Sé) mas também enquanto assistente de realização, operador ou repórter cinematográfico. O seu potencial artístico ver-se-ia no entanto ferozmente travado pela censura e pela falta de financiamento.
Visitada por gente ilustre, frequentemente ligada à arte e à cultura, a Pensão dos Aliados viu também crescer o filho de Manuel Guimarães, Dórdio. Poeta, cineasta, ficcionista e jornalista, Dórdio Guimarães celebraria em 1990 um casamento de conveniência com a sua colaboradora e amiga, a célebre intelectual, poeta e activista social Natália Correia, que contava por essa altura 67 anos de idade”.
Fonte: “hotelaliados.com”


“Por falecimento dos pais — Fernando Guimarães e D. Bibelinda Pinheiro de Guimarães — respectivamente a 25 de Março de 1946 e a 27 de Maio de 1945, sucede-lhes a 16 de Agosto de 1946, Álvaro Pinheiro de Guimarães, que já exercia a gerência da pensão desde 15 de Novembro de 1934.
Quando, a 15 de Setembro de 1971, falece Álvaro Pinheiro de Guimarães, a gerência passa para o Sr. Acácio Martins. A Pensão dos Aliados seria adquirida a 28 de Janeiro de 1987 por Agostinho Barrias, tendo actualmente como sócio-gerente e director o Sr. Fernando Barrias, e viria a ser finalmente restaurada em 2012, convertendo-se no Hotel Aliados ao abrigo da nova lei da Direcção Geral de Turismo.
A família Barrias é também responsável por locais de referências como os cafés Guarany e Majestic, o Hotel Internacional, o Hotel Vera Cruz, e o Hotel Pão de Açúcar”.
Fonte: “portonosso.pt”


Pensão Aliados - Fonte: “hotelaliados.com”



Natália Correia numa varanda da “Pensão dos Aliados” – Fonte: “hotelaliados.com”


“Hotel Aliados” e, no rés-do-chão, o “Café Guarany”

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