segunda-feira, 13 de abril de 2020

25.88 “Os Sinos d’Alpendurada”


“Os Sinos d’Alpendurada”, um folhetim de Alberto Pimentel, publicado no “Jornal do Porto”, em 12 de Março de 1870, narra uma estória passada durante a reconquista cristã da península ibérica com os ingredientes comuns a muitas outras, afectas a outras regiões, das quais, uma das mais conhecidas tem que ver com o topónimo e lugar de Montezelo, do concelho de Gondomar, ligada a uma batalha ocorrida junto ao rio Tinto e outra, conta a lenda de Gaia, que Almeida Garrett imortalizou.
Aquelas narrativas são, geralmente, lendas, que muitas das vezes são transmitidas oralmente, de geração para geração, e constituem uma versão popular de factos históricos.
A sinopse daquelas estórias contempla, regra geral, uma paixão, correspondida ou não, entre uma cristã e um mouro, contrariada por alguém com ascendente sobre um dos membros do casal, e que acaba sempre por um desenlace trágico e mortal, provocado por um dos intervenientes ou, normalmente, em consequência de um mal-entendido.
Foram tempos, em que o território era ocupado alternadamente por cristãos e mouros, em surtidas e escaramuças constantes, quando o rio Douro era uma verdadeira fronteira natural e em que o Porto era uma sentinela importante, nesse contexto.
A narrativa de Alberto Pimentel reportava-se ao acontecido em meados do século XI, em Alpendurada, concelho de Marco de Canavezes, e ter-lhe-ia sido transmitida pela “tia Agueda”.
Alpendurada dizem, por se encontrar “pendurada” nas rochas do Monte Arados, entre as margens esquerda do rio Tâmega e a direita do rio Douro.
O mosteiro de Alpendurada tem origem num oratório a São João Baptista, em meados do século XI, servindo a Ordem Beneditina e mantendo ainda, hoje, as celas dos monges a austeridade de outros tempos.
Em 1065, já é um pequeno ermitério (local isolado de meditação, oração e contemplação e de residência de um eremita) evoluindo, nos anos seguintes, para um pequeno mosteiro.



“Convento Beneditino, situa-se na freguesia de Alpendurada e Matos, no concelho de Marco de Canaveses, entre os rios Tâmega e Douro. Anterior à fundação da nacionalidade, data da primeira metade do século XI. Foi um convento importante na época de D. Afonso Henriques que lhe concedeu coutos e honras. Um dos locais mais importantes na época era a biblioteca, onde se guardavam documentos importantes do reino”.
Fonte: “infopedia.pt/”



O mosteiro sofreu trabalhos importantes de ampliação e de restauro nos séculos XVII e XVIII, contudo, ainda mantém muitos dos seus traços Românicos, como na cozinha medieval, onde hoje se organizam, para turistas, ceias medievais.




Fachada lateral do mosteiro de Alpendurada, com igreja ao fundo – Ed. SIPA



Fachada do mosteiro de Alpendurada – Ed. SIPA



A importância desta região, e a sua conexão com o Porto, tem que ver com a expulsão dos muçulmanos c. de 1035, durante o processo de reconquista cristã, que irá conduzir à refundação da antiga cidade de Cale ou Gaia, com o nome de Vila Nova e, em sequência, ao renascimento do burgo do Porto.
Assim, em Alpendurada, entre 1054 e 1059, ocorre a fundação do Mosteiro pelo abade Velino, em torno de um oratório dedicado a São João Baptista; em 1059, D. Sisnando Viegas (1049-1085?) consagra a igreja; em 1065, Velino oferece o pequeno ermitério a Exemeno (monge eremita), entrando na esfera do monaquismo visigótico; em 1072, o padroado do mosteiro pertence a Mónio Viegas (não confundir com Moninho Viegas), que introduz melhoramentos, amplia a igreja e manda fazer uma imagem de São João Baptista, em prata; em 1073, após o falecimento de Gavino Froilaz, os seus bens são deixados ao mosteiro.
Diga-se que D. Moninho Viegas, algumas décadas antes, em 990, tinha fundado, bem perto, o Mosteiro de Santa Maria de Vila Boa do Bispo.
Este mosteiro está implantado, tal como o mosteiro de Alpendurada, na margem esquerda do Tâmega, distando dele, 7 Km.



Mosteiro de Santa Maria de Vila Boa do Bispo – Fonte: “rotadoromanico.com/”




Os Sinos d'Alpendurada









2 comentários:

  1. Se é da Ordem de São Bento, uma Ordem monástica, é um Mosteiro e não um Convento.

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    1. Como sabe, a diferenciação entre convento e mosteiro é feita, muitas das vezes, atendendo à sua localização, fora ou dentro de povoados. Não há uma norma taxativa. No entanto, não deixando de lhe dar razão, irei fazer a reformulação do texto segundo a sua opinião, excepto ao que é da autoria da Infopédia que está, por isso, em itálico. Sinceramente lhe agradeço o reparo e espero continuara a usufruir das suas visitas a este singelo blogue, que construo com muito ânimo.
      Os meus Cumprimentos

      Américo Conceição

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