quarta-feira, 10 de março de 2021

25.115 “José Rosas & C.ª” e o negócio do ouro, na Rua das Flores

 
Durante mais de um século, a partir de meados do século XIX, que a Rua das Flores, na sua ala setentrional, foi ocupada por ourivesarias, porta sim, porta sim.
Em 1955, ainda eram dezanove os estabelecimentos daquele ramo de actividade.
Entre eles, um dos mais antigos, veio a tornar-se a firma “José Rosas & C.ª”, na Rua das Flores, nº 245.

 
 
“José Rosas”, na Rua das Flores, em meados do século XX
 


A ala meridional dessa rua era ocupada pelas lojas dos mercadores, especialmente do ramo têxtil.
No século XIX, era moda, sobre a Rua das Flores, ser entoada a canção com o seguinte estribilho:
 
Adeus, cidade do Porto
Adeus, Rua das Flores
De um lado tens só ourives
Do outro tens mercadores
 
 
“José Rosas & C.ª” teve a sua origem na primitiva firma “Couto & Moura”, fundada em 1851, pelos sócios, Manuel Dias Couto e Vicente Manuel de Moura (1815-1908).
Este último, natural de Montalegre, tendo iniciado a sua aprendizagem, em ourivesaria, com cerca de 16 anos, na oficina do mestre Manuel Dias do Couto, tornar-se-ia sócio do seu professor e, a partir de 1865, exerceu o importante cargo de Contraste Ensaiador do Ouro no Porto.
Esta sua actividade, por razões desconhecidas, acabaria por suscitar animosidade no poderoso meio corporativo portuense dos artesãos do ouro, demitindo-se no ano de 1881. Prosseguiria, no entanto, com esse ofício na Caixa Filial do Banco de Portugal, no Porto, tendo falecido no ano de 1908.
Por morte de Manuel Dias do Couto, ocorrida em 1865, Vicente Moura ficou à frente do negócio até 1876, ano em que trespassou a loja ao genro José Aires da Silva Rosas, que já exercia a actividade de ourives, surgindo, assim, “José Rosas – Ourivesaria”.
José Rosas vai remodelar todo o funcionamento da ourivesaria e fazer-se acompanhar, na vertente da concepção das peças, da colaboração do escultor José Joaquim Teixeira Lopes.




José Ayres da Silva Rosas e Maria da Glória Moura com o seu filho José Rosas Junior 

 
 
 
Cartão Comercial de “José Rosas- Ourivesaria”

 
 
Catálogo de “José Rosas”, em 1903

 
 
Cartaz publicitário de “José Rosas – Ourives Joalheiro”, em 1905
 
 
 
Em 23 de Julho de 1909, entram para sócios da firma, seu filho José Rosas Júnior (1885-1958) e João Teixeira Duarte.
Com o falecimento de José Rosas (pai) em 7 de Setembro de 1923, na sua casa da Rua das Flores, e de João Teixeira Duarte, em 21 de Junho de 1944, a sociedade seria renovada.
Assim, em 1944, entra para a firma, Manuel Rosas, filho de José Rosas Júnior e de Maria Antónia de Castro Ramos Pinto Rosas, os quais passam a constituir a sociedade com denominação social de “José Rosas & C.ª”.

 
 
Logotipo de “José Rosas & C.ª”
 
 

De referenciar como marcos importantes para a sociedade, durante o século XX, o facto de José Rosas Júnior ter feito estudos em Londres e Paris e o seu filho Manuel Rosas ter tirado o curso de Gemólogo FGA, em Londres.
Sobre os trabalhos executados ao longo dos anos ficaram para a posteridade, entre outros, a “Espada de Honra de Mouzinho de Albuquerque”, que lhe foi oferecida pela Associação Comercial do Porto, em 1898, o “Cofre D. Manuel II”, oferecido pelas senhoras do Porto a este monarca por ocasião do seu casamento, em 1913, o “Cofre século XII”, oferecido pela Câmara do Porto ao Presidente da República, Marechal Carmona, em 1944, a “Cruz-Relicário S. João de Brito”, oferecida pelo governo Português ao Papa Pio XII, em 1947, a “Miniatura da Capela do Senhor do Padrão”, oferecida pela Casa dos Pescadores de Matosinhos ao Presidente do Conselho, Oliveira Salazar e o restauro das joias da coroa Portuguesa.
A aplicação de filigranas em peças de cristal e cerâmica e a edição, em 1903, do 1º catálogo de encomendas de joias por correio foram, também, marcos importantes na vivência da firma, durante o século passado.


 
“Cofre D. Manuel II” – Ed. Emílio Biel
 
 
 
 
“José Rosas & C.ª”, esteve presente em diversos eventos internacionais em representação de Portugal e nos quais foram obtidos assinaláveis prémios atribuídos às Secções Portuguesas de Ourivesaria, tendo concorrido e estado presente em exposições nacionais de que são prova, entre outras, as realizadas no Porto, em 1894, Lisboa ( 1905-1910-1923) e Lourenço Marques (actual Maputo) em 1948.


Publicidade a José Rosas & C.ª, em 1934


Em 1951, decorridos 100 anos sobre as primitivas origens da firma, o Dr. Artur Magalhães Basto acabou por escrever um livro comemorativo daquele centenário.


 
 
Obra comemorativa do centenário de “José Rosas & C.ª”

 
 


“José Rosas & C.ª”, na Rua das Flores, nº 245, no prédio à esquerda




“José Rosas & C.ª” localiza-se, actualmente, na Rua Eugénio de Castro, nº 280, ao Foco

 
 
“…a casa continuou com seu filho, Dr. Manuel Ramos Pinto Rosas, nascido em Nevogilde em 21 de Julho de 1921, biólogo de formação, mas com um curso de Gemologia em Londres. Nos anos 70 as instalações comerciais migraram para a zona da Boavista, na Rua Eugénio de Castro, onde se mantém até hoje”.
Fonte: “comerciocomhistoria.gov.pt/”

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