terça-feira, 30 de maio de 2023

25.192 Nas margens da foz do rio Leça

 
1. Matosinhos
 
Padrão do Senhor da Areia
 
A Vila de Matosinhos, situada junto da foz do rio Leça, na sua margem esquerda, foi criada em 1853. Antes, foi uma povoação sucessivamente chamada de  Matesinus e Matusiny.
 
 
“No ano de 900 já existia uma pequena povoação com o nome de Matesinus que em 1258 se chamaria Matusiny, um lugar da freguesia de Sendim. D. Manuel I concedeu-lhe foral em 30 de setembro de 1514 e passou a pertencer ao concelho de Bouças em 1833, tendo como sede a vila de Bouças, até 1836 designada Senhora da Hora. Até ao liberalismo constituía o Julgado de Bouças.
Em 1853 foi criada a vila de Matosinhos, constituída pela freguesia do mesmo nome e pela freguesia de Leça da Palmeira, que passou a sede do concelho em substituição de Bouças. Em 1867 é finalmente criado o concelho de Matosinhos, mas que acaba por desaparecer vinte dias depois voltando a ter sede em Bouças. Dado que Matosinhos já se figurava como um lugar mais importante em 6 de Maio de 1909 é criado o concelho de Matosinhos que existe nos nossos dias. Foi elevada a cidade a 28 de Junho de 1984 com Narciso Miranda como Presidente da Câmara e Fernando Miranda como seu vice”.
Fonte: pt.wikipedia.org/
 
 
 
Até ser construído o porto de abrigo de Leixões, entre 1884 e 1895, e alguns anos após, a vila de Matosinhos ocupando a margem esquerda do rio Leça, junto da sua foz, ia desde o rio até à Rua do Godinho.
Daqui, até à fronteira com o concelho do Porto existia uma vasta área de terreno, plano, constituindo o chamado Prado de Matosinhos ou Campo da Junqueira.
Aqui, vinham dar duas ribeiras com nascentes distintas, no Sítio das Sete Bicas, na Senhora da Hora, a do Riguinha e a de Carcavelos que, após se juntarem, seguiam numa única linha de água em direcção ao mar.
No século XIX, a extensa planície junto do mar foi local de instalação de um hipódromo do Jockey Club Portuense, e o seu solo, para além das provas de hipismo, foi aproveitado pela elite portuense para os primeiros pontapés na bola, num jogo chamado futebol.
O Futebol Clube do Porto tem, aqui, as suas origens mais remotas.

 
 
Prado de Matosinhos - Ed. Câmara Municipal de Matosinhos
 
 
Na foto acima, c. 1910, pode ver-se o Prado de Matosinhos e o ribeiro que o atravessava e onde as mulheres iam lavar a roupa, observando-se, à esquerda, o monumento ao Senhor do Padrão. De notar que as ruas de Serpa Pinto e Heróis de França ainda não existiam.
Os terrenos desse prado pertenciam ao Conde de Leça, José Leite Nogueira Pinto, e ao seu irmão Ernesto, tendo começado naquela data, a ser vendido em talhões.
Nestes tempos a vila de Matosinhos terminava na actual Rua do Godinho.


 

Ribeiro do Prado – Ed. Emílio Biel, nº 85; Fonte: “matosinhosantigo.blogspot.pt”

 
 
“(…) prado de Matosinhos, que ladeava a estrada que vinha da Foz por Carreiros (por esta altura a Foz ainda pertencia ao concelho de Bouças), vemos nesta imagem várias mulheres, acompanhadas de duas crianças, presumivelmente suas filhas, a lavar roupa no ribeiro do prado. Tem esta imagem de curioso o verem-se as ovelhas a pastar e uma mulher com a gamela de madeira á cabeça, tal como se usava na época”.
Cortesia de Américo de Castro Freitas
 
 
Na borda do mar, na Praia do Espinheiro, no local onde a tradição diz que deu à costa a imagem de Cristo (segundo a lenda local, no dia 3 de Maio do ano 124) foi levantado um imponente zimbório, denominado Senhor do Padrão, ou Senhor do Espinheiro, ou Senhor da Areia.
Segundo a maioria das opiniões a sua construção terá ocorrido em 1758.
Em 1733, tendo brotado no local, por artes miraculosas, uma nascente de água potável, já teria sido edificada, na ocasião, uma pequena construção que permaneceu junto do zimbório.


 
 

Senhor do Padrão, em finais do século XIX
 
 
 
 
 

Senhor do Padrão, c. 1917

 
 

Estaleiro da construção dos molhes de Leixões, junto do Senhor do Padrão

 
 
O Senhor do Padrão foi, também, uma estação da via ferroviária chamada Ramal de Leixões.
 
 
“A Ermida do Senhor do Padrão que nos recorda o lugar onde apareceu a imagem do Nosso Senhor Bom Jesus de Bouças.
Deverá ser anterior a 1733, mas não há nada que indique a sua construção. 
Mas junto ao monumento, encontra-se uma construção em pedra que encerra uma fonte, resposta divina à súplica de uma crente ao Senhor do Padrão para o seu mal de pele. Banhando-se na água obteve a cura. Esta fonte terá surgido em 1726, levando a crer que o Monumento é anterior”.
In portojofotos.blogspot
 
 
Junto do Senhor do Padrão, esteve localizada a primeira praça de touros de Matosinhos.
 
 
 

Praça de Touros em Matosinhos – Ed. Estrela Vermelha

 
 
“Já em 1888 se realizavam espectáculos taurinos neste laborioso centro de pesca; em 28 de Julho de 1901, por iniciativa do conde de Bettencourt, de Raúl Pinto de Sousa e de Afonso Faria era inaugurado novo redondel, este construído não longe da Praia de Banhos “D. Carlos I”, por detrás da Memória do Senhor do Padrão, porém a sua exploração não chegou a atingir uma década. Mais tarde, nova praça foi erguida no antigo Campo de Sant’Ana, tendo uma duração ainda mais efémera”.
Fonte - Guilherme Felgueiras, In: Monografia de Matosinhos, 1958
 
 
 
 
 
Mercado de Matosinhos
 
 
O concurso público para execução do projecto para a construção do Mercado de Matosinhos é datado de 1936, tendo o gabinete de arquitectura, ARS-Arquitectos apresentado o respectivo ante-projecto, que se destacou dos restantes e, por essa razão, seria incumbido da execução do projecto final, sujeito aos reparos técnicos e estilísticos apontados pela Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais razão, pela qual, tiveram que adaptar as primeiras soluções apresentadas.
Decorrido o concurso público para a construção do mercado de acordo com o projecto vencedor, em 1939, no momento da assinatura do respectivo contrato de construção, o vencedor desistiu sendo, por isso, a obra atribuída ao segundo classificado – Luís José Oliveira.
Em virtude da quantidade de expropriações e demolições (casas das ruas de Santo Amaro, dos Camachos, do Burgal, de São Roque, do Cardeal D. Américo e de parte da R. de Brito Capelo e, ainda, 2 largos existentes, o de 13 de Fevereiro e o do Areal) que tiveram de ser feitas para a implantação do edifício, a sua construção só teria início em 8 de Fevereiro de 1944.
A abertura do mercado ao público aconteceu a 01/08/1952, embora tenha sido inaugurado oficialmente em 27 de Maio de 1952, com a presença do Presidente da República, o general Craveiro Lopes, durante uma visita às regiões do Porto e de Braga, que decorreu entre 27 e 29 de Maio daquele ano.
Chegado a 27 de Maio, à cidade do Porto, utilizando o transporte ferroviário, o Chefe do Estado inauguraria, naquele dia e no seguinte, antes de rumar a Braga, o Bairro de Pescadores da Afurada, a ponte sobre a foz do rio Sousa, o mercado de Matosinhos, o mercado do Bom Sucesso, o Estádio das Antas e, oficialmente, o Túnel da Ribeira, que tinha entrado ao serviço algumas semanas antes.
 
 
 
 
 

Novo Mercado de Matosinhos
 
 
 
O novo mercado abre sobre uma grande praça axial à principal artéria de Matosinhos. O eixo do edifício foi colocado de modo perpendicular ao bordo da doca de Leixões, frente à qual se levanta a fachada principal do mercado. O edifício foi disposto em dois pisos, aproveitando o declive do terreno: o pavimento inferior destinado ao mercado de peixe e o piso superior destinado aos restantes produtos.
No sub-solo ficaram reservadas as arrecadações.
A fachada norte está decorada com painéis cerâmicos da autoria de Américo Soares Braga.
 
 
 
 

À esquerda, não visível na foto (meados da década de 1960), situar-se-á o novo Mercado de Matosinhos, em perspectiva obtida a partir da Doca nº 1. É possível visionar a entrada da Rua Brito Capelo e a Fábrica de Conservas Alva
 
 
 
 
O novo mercado viria para substituir, um outro, bem próximo dele, construído pelo município de Bouças em 1884, e alvo de obras em 1928.
Este velho mercado situava-se numa área de planta triangular, com um dos lados num troço já desaparecido da Rua de S. Roque, um outro lado sensivelmente no prolongamento da Rua França Júnior e, um último, na continuação da Rua do Conde de S. Salvador. 
 
 
 
 

Antigo Mercado de Matosinhos

 
 

Antigo Mercado de Matosinhos, em 1920

 
 

Localização, em planta, do antigo mercado de Matosinhos - Cortesia de Vítor Monteiro

 

 

Sobreposição de plantas para localização de antigo mercado de Matosinhos - Cortesia de Vítor Monteiro
 
 
 
 
 
Capela de Santo Amaro
 
 
A capela da foto, abaixo, construída no final do século XVII e, entretanto, demolida aquando da construção do mercado de Matosinhos (inaugurado em 1952) e, posteriormente, da doca nº 2 do porto de Leixões (com início em 1956), estava situada ao fundo da Rua Brito Capelo, num troço dessa rua já desaparecido, confrontando lateralmente com a Rua de Santo Amaro (visível à direita), também ela desaparecida.
Esta capela localizava-se primitivamente, sensivelmente, onde hoje se situa a estação do metro, em frente à fachada principal do Mercado Municipal.


 

Capela de Santo Amaro
 
 
 
“A Capela de Santo Amaro era de construção moderna e é provável que, primitivamente fosse mais pequena, talvez de dimensões semelhantes às outras capelas de Matosinhos, umas ainda existentes, outras já demolidas.
Depois, foi consideravelmente aumentada, enriquecendo-se com vários altares e imagens, pertencentes às capelas desaparecidas. Assim, quando desapareceu a Capela de Santa Luzia, que existia no fim da actual Rua Cardeal D. Américo, veio para Santo Amaro um altar e uma imagem de Santa Luzia, quando se destruiu a Capela de Santa Ana, para aformoseamento do lugar onde hoje passa a Avenida Afonso Henriques, antiga Avenida Vitória, veio outro altar e a imagem de Santa Ana, quando se abateu a Capela de Nossa Senhora de Porto Salvo, que ficava defronte da Fonte dos Dois Amigos, veio a imagem de Santa Rita, e, enfim, quando foi sacrificada a Capela do Livramento, em Leça da Palmeira, para embelezamento da entrada da Ponte de Pedra, veio a imagem de Nossa Senhora do Livramento, com a qual continuava a haver grande devoção.”
Texto extraído do blogue Monumentos Desaparecidos
 
 
 
Localização da capela, assinalada por um círculo e pela seta amarela


 
 

Localização da Capela de Santo Amaro, em planta editada, na zona do antigo mercado de Matosinhos
 
 
Legenda
 
1. Rua de Santo Amaro
2. Rua de Álvares Castelões
3. Rua de França Jrº
4. Rua Conde de S. Salvador
5. Rua Brito Capelo
6. Rua do Paço
7. Rua de S. Roque
M. Antigo mercado de Matosinhos
C. Capela de Santo Amaro
 
 
 
 
 

Capela de Santo Amaro (a meio da foto), c. 1915
 
 
 

Capela de Santo Amaro e, pela direita, a Rua de Santo Amaro – Col. de Vítor Monteiro


 
 

Interior da capela de Santo Amaro – Col. de Vítor Monteiro



 

Retábulo da capela de Santo Amaro
 
 
 
 
Capela de Santo Amaro, antes da demolição
 
 
 

Fachada da capela de Santo Amaro, actualmente, junto ao mercado de Matosinhos
 
 
 
(Continua)

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