quarta-feira, 31 de maio de 2023

(Conclusão)

 
2. Leça da Palmeira
 

Sala de Visitas e Hotel Estefânia em Leça da Palmeira
 

Situada na foz do rio Leça, na sua margem direita, teria sido uma vila romana denominada de Letia.
Hoje, é uma das freguesias de Matosinhos.
 
 
“A primeira referência histórica a esta localidade remonta a 1081 como Villa Fosse de Leza e sabe-se que, no início do século XIII, existia já, na sua paróquia, uma importante igreja cujo padroeiro era S. Miguel - daí algumas derivações do nome, como, por exemplo, S. Miguel de Leça da Palmeira, S. Miguel da Palmeira, S. Miguel de Bouças, entre outros”.
Fonte: Infopédia

 
 

Ao longe, a Ponte do Comboio, no centro do postal colorido e, à direita, no areal, o castelinho de Leça (estrutura tronco-cónica), no início do século XX

 
 
Muito próximo do local em que está o castelinho de Leça (mais tarde transferido para a praia de Leça) foi instalada o Posto Semafórico.


 

Leça da Palmeira, 1965 - Estação Semafórica, Correios e Radar


 
 

Torre de posto semafórico, na actualidade - Ed. JPortojo
 
 
 
Na foto acima vê-se, à esquerda, o famoso Restaurante Leixões, fundado em 1903 por Francisco Ariz, bem perto do local onde, hoje, está o restaurante “Bem-Arranjadinho” e, bem à direita, na outra margem, a praia de Matosinhos.
O Eléctrico preparava-se para entrar, seguindo em direcção à ponte do comboio, na “Sala de Visitas” e, assim, a poucos metros da curva, iria passar em frente ao Hotel Estefânia, situado na Rua Vareiro, depois de já ter passado, também, pelo Hotel Central, situado no Largo Fonte Seca.
De facto, a via, para lá da curva, era chamada de “Sala de Visitas”.
 
 
 

Entrada na “Sala de Visitas” - Ed. Alberto Ferreira – Praça da Batalha-Porto
 
 
 

Largo da Fonte Seca, c. 1950 – Ed.
 
 
Sobre a “Sala de Visitas”, Augusto Nobre, irmão do poeta António Nobre, na sua obra “Leça da Palmeira – Recordações e estudos de há sessenta anos” (1946), deixou-nos uma curiosa narrativa.

 
 
 



 
Foto e respectiva ampliação, junto das estações terminais dos percursos dos comboios e eléctricos para Leça – Fonte: Os Velhos Elétricos do Porto; In “portoarc.blogspot.pt”

 
 
Como se pode observar, acima, os eléctricos e os comboios cruzavam-se neste local, terminando os respectivos percursos junto do Castelo de Leça.


 
 

Estação do caminho-de-ferro de Leça da Palmeira

 
 
Na gravura anterior a estação do caminho-de-ferro está à esquerda, tendo ao lado o Hotel Leixões. A linha férrea começou a fazer o transporte de passageiros, a partir de 1893.

 
 
 

Castelo de Leça em 1900
 
 
 
 
Augusto Nobre, na sua obra “Leça da Palmeira – Recordações e estudos de há sessenta anos”, faz uma breve referência ao Forte de Nossa Senhora das Neves ou Castelo de Leça da Palmeira.

 
 


 
 
 
O Forte de Nossa Senhora das Neves teria sido antecedido, em local próximo, de um outro mais modesto que, em 5 de Novembro de 1834, seria vendido ou o que dele restava e respectivos anexos, a João Teixeira de Melo. No seu lugar foi construído o Hotel Estefânia.
Segundo Guilherme Felgueiras, “Monografia de Matosinhos”, página 77/78, o chafariz central referido na escritura de venda, está hoje no jardim da Casa do Ribeirinho.
O fortim de Santa Catarina, assim se chamava o baluarte, tinha sido levantado sob a Dinastia Filipina, em 1638 ou 1639.
Por alvará de 1648, foi a fortificação dotada com uma guarnição de seis soldados pagos, porém, desde sempre se ambicionou, para a foz do rio Leça, outra fortaleza mais imponente, o que viria a acontecer.
O fortim iria coexistir com o Forte de Nossa Senhora das Neves (foto abaixo), começado a construir em 1651 e, cuja construção se arrastaria, ao longo das décadas seguintes.
 
 
 

Forte de Nossa Senhora das Neves ou Castelo de Leça - Fonte: “Wikipédia”
 
 
 
Assim, um relatório de 1701 dá conta de que a fortificação ainda se encontrava incompleta, embora artilhada com quatro peças e guarnecida por oito soldados sob o comando de um tenente. Acredita-se que o forte tenha sido concluído em 1720.
Perdida a sua função militar aí se instalou, em 1844, a Alfândega do Porto e, em 1899, a secretaria do Porto de Leixões. 
Hoje é a sede da capitania daquele porto.
 
 
“No século XX, as suas instalações foram entregues à Capitania do Porto de Leixões que nelas se instalou, fazendo erguer em seu terrapleno alguns edifícios para alojamento de pessoal, que descaracterizaram o conjunto”.
Fonte: “pt.wikipedia.org”
 
 
 

Neste local, de cota mais elevada que a área circundante, esteve o fortim de Santa Catarina e, depois, o Hotel Estefânia

 
 
O “Hotel Estefânea” aberto em meados do século XIX, em Leça da Palmeira, onde esteve antes um antigo fortim, na Rua do Vareiro, era em 1867, propriedade do galego Raimundo Villaverde, tendo-o administrado, mais tarde, ao lado do seu filho Inácio.

 
 

Jornal "O Comércio do Porto" de 18 de Setembro de 1858


 
 

Publicidade ao Hotel Estefânia, em 11 de Julho de 1861 - Jornal "O Comércio do Porto"
 
 
 
«A 31/05/1867, o proprietário do Hotel Estephania era o espanhol da Galiza, Raymundo Villa Verde que vivia na R. do Vareiro com a sua mulher Roza dos Santos Villa Verde (natural de Valadares no concelho de Villa Nova de Gaia) com a qual tinha casado na Igreja parochial de Sam Nicolao no Porto.
Nesse dia, foi o batismo da sua filha Albertina Roza na Egreja Parochial de Sam Miguel de Leça da Palmeira; os seus padrinhos foram João Eduardo de Brito e Cunha, solteiro e morador na R. do Sol em Mathozinhos, e Roza de la Rocque Teixeira de Mello moradora com seu marido na R. de Santo Amaro também em Mathozinhos.
O hotel tinha, ainda, segundo o irmão do poeta António Nobre, Augusto Nobre, “uma sala de jantar espaçosa” e era frequentado “pela colónia inglesa e por banhistas portugueses”, estando integrado num parque arborizado.
Era propriedade de Wenceslau de Lima que ali viveu, e também passou pelas mãos de Joaquim Pacheco».
Cortesia de José Rodrigues
 
 
 

Fachada do Hotel Estefânia, em 1895



 

Hotel Estefânia no fim do século XIX

 
 
Na foto acima, pode ver-se que as paredes exteriores do edifício, em contacto com o solo, têm um ângulo de 45 graus, como resultado de terem sido levantadas sobre os alicerces duma fortaleza do século XVII, que se chamava fortim de Santa Catarina.


 
 

O “Hotel Estefânea”, à esquerda, com um cavaleiro numa charrette, junto do muro de vedação da propriedade
 
 
 

Hotel Estefânia, início do século XX  - Cliché do Dr. José M. Braga



O “Hotel Estefânea”, após abandonar estas instalações, chegaria a abrir portas noutro sítio, alvitrando-se um local, mais próximo da barra do rio Leça.
 
 
 

Em 1905, uma parte do edifício do “Hotel Estefânea” em ruínas
 
 
 
Na sua obra “Leça da Palmeira – Recordações e estudos de há sessenta anos”, Augusto Nobre fornece-nos mais alguns pormenores interessantes sobre o Hotel Estefânia.



 





Wenceslau de Sousa Pereira de Lima (Porto, 15 de Novembro de 1858 — Lisboa, 24 de Dezembro de 1919) referenciado no texto acima, foi um geólogo, investigador da paleontologia e político português, que, entre outras funções, foi deputado, ministro e presidente do Conselho de Ministros.
Casado desde 1879 com D. Antónia Adelaide Ferreira, filha de António Bernardo Ferreira (III) e neta da sua homónima D. Antónia Adelaide Ferreira (1811-1896), a famosa "D. Antónia" ou simplesmente "Ferreirinha", Wenceslau de Lima, um monárquico convicto, viveu os últimos anos de vida no exílio, na cidade de Pau, em França, e morreu em Lisboa a 24 de Dezembro de 1919. Está sepultado no Porto, no Cemitério da Lapa.
 
 
 
 

O anúncio da morte de Raimundo Villaverde, no jornal “O Badalo”, em 15 de Maio de 1910
 
 
 
 

O local na Avenida Antunes Guimarães onde teria estado o “Hotel Estefânia” - Fonte: “Google Maps”
 
 
Na foto acima pode ver-se que as edificações estão numa cota superior à da rua.

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