Conhecida actualmente como Praça do Marquês do Pombal, topónimo
atribuído, em 1882, em homenagem a Sebastião José de Carvalho e Melo, Marquês
de Pombal foi, durante muitos anos, o Largo da Aguardente fazendo parte do percurso
que ligava a cidade do Porto a Guimarães.
Porém, não foi fácil aos portuenses largarem a utilização do antigo
topónimo.
Nesta praça desembocava a Rua da Aguardente, último troço da actual Rua
do Bonjardim.
Como se pode ver, por notícia publicada pelo “Jornal do Porto” em 25 de
Janeiro de 1867, a Câmara Municipal chegou a deliberar, que o Largo da
Aguardente passasse a chamar-se “Praça da Constituição”.
Este topónimo não vingou.
Desde o início do século XIX, foi este espaço alvo de vários estudos,
alguns deles sem qualquer tradução prática, que conduziram ao aspecto actual da
praça.
Como se pode observar, no desenho acima, a praça tinha uma configuração
triangular e estudava-se a hipótese de a tornar rectangular.
Na planta acima
vê-se que, inicialmente, a praça continuava a ter o formato triangular.
Nela se pode
apreciar, em baixo, à esquerda, a Rua
Bela da Princesa que tinha este nome desde 1809 e, mais acima, vindo da
esquerda, a Rua da Aguardente
desembocando na praça.
Pela direita, a
saída da praça fazia-se pela Rua do Lindo Vale, pois ainda não estava aberta a
Rua Costa Cabral.
A partir da segunda
metade do século XIX, os estudos efectuados começam a conduzir a praça para o
traçado que tem nos nossos dias.
Na planta acima, mostra-se o novo projecto de alinhamento do lado
Nascente do Largo da Aguardente e da nova transversal projectada
para fazer a ligação do Largo da Aguardente com a Rua da Alegria, no que viria
a ser a Rua do Príncipe Real, depois, Latino Coelho.
Como se pode observar, também, a Rua de Costa Cabral já tinha sido
aberta desde 1851, bem como a Rua 27 de Janeiro que, depois,
viria a chamar-se Rua da Constituição.
Nos terrenos em que hoje confluem as ruas do Bonjardim e
João Pedro Ribeiro existiu, em tempos idos, uma grande quinta, dentro da qual
havia uma bela casa senhorial que pertencia a Manuel José do Covelo que, quando
morreu, em 1830, a deixou a um seu caixeiro, por testamento.
Esta personagem, acabaria por vender a propriedade a António
Bernardo Ferreira, conhecido pelo Ferreirinha da Régua que, pretendendo aí
construir um palacete, nunca o chegou a fazer.
Nesses terrenos acabou por ser aberta a Rua João Pedro
Ribeiro e construída uma moradia que ostenta o brasão do visconde Pereira
Machado e que foi mandada construir pelo 1º visconde de Pereira
Machado, de seu nome, Guilherme Augusto de Pereira Machado.
Em 1919, aí se haveria de instalar o Asilo do Terço.
Em 1870, foi por aqui edificada (a Nascente), uma praça de
touros.
No ano de 1877, algumas pessoas devotas de Santo António
ergueram na área da actual Praça do Marquês, uma capela denominada capela de
Santo António da Aguardente.
Pela observação da planta, anterior, de Telles Ferreira, em
1892, a Rua João Pedro Ribeiro ainda não tinha sido aberta.
Nela se pode observar a localização do palacete do visconde
Pereira Machado, da capela de Santo António da Aguardente (secularizada em
1885), do Mercado e de outras casas de abastados capitalistas.
A nascente, no Palacete Freitas Lima, haveria de viver Júlia
Lopes Martins, esposa do arquitecto Marques da Silva, e no terreno contíguo
esteve a Casa-atelier daquele arquitecto e, hoje, está a Fundação Marques da
Silva.
Limitando a praça, a norte, não visível na planta, desde a
década de 1860, está o prédio mandado construir por Francisco Ferreira Zimbres,
um brasileiro de torna-viagem.
Sobre as instalações da capela de Santo António da
Aguardente diga-se que, depois de terem funcionado como escola, voltaram a
albergar um outro templo, a partir de 1901 – a capela de São Joaquim - até à
sua demolição na década de 1950.
Trabalhos arqueológicos desenvolvidos em 2002, no Jardim do
Marquês de Pombal, no âmbito da construção do Sistema de Metro Ligeiro da Área
Metropolitana do Porto, obra da responsabilidade da Sociedade Metro do Porto,
S.A., permitiram a identificação das fundações do Mercado da Aguardente
(conjunto de estruturas em alvenaria de granito argamassado, que se
desenvolviam segundo uma planta rectangular com 28 x 13,80 m de extensão).
Começado a construir em 1883 e adjudicado à “Empresa
Industrial Portuguesa”, custou a quantia de 21:000$00 réis, associado com a
montagem de um outro mercado no Campo 24 de Agosto.
O mercado do Largo da Aguardente localizava-se no meio da
praça, tendo sido inaugurado em 1884 e demolido em 1897.
Como noticiava “O Comércio do Porto” (ver abaixo) a
inauguração oficial do mercado iria ocorrer a 1 de Novembro de 1884, um Sábado.
“Ao mercado da praça do Marquês afluiu bastante
concorrência de consumidores.
Os indivíduos, que não puderam apresentar-se ontem,
tencionam reservar-se para o próximo sábado, inaugurando, por essa ocasião, o
mercado com embandeiramento e música.”
Em sessão camarária de 17 de Julho de 1895, seria proposto a
demolição do mercado.
"O sr. Ferreira Bahia referiu-se aos mercados do
Campo 24 de Agosto e do Largo da Aguardente, declarando que a despesa com eles
é bastante grande e o rendimento pequeno. Pede, portanto, a sua
supressão."
Do jornal "A Palavra", de 18 de Julho de 1895 - 5ª
Feira
A decisão da demolição daqueles dois mercados seria
resultante de sessão camarária de 4 de Março de 1897.
Diga-se, que, o do Campo 24 de Agosto, estava centrado na
área mais a Sul, adjacente à Rua do Bonfim.
Os materiais resultantes da demolição do mercado da
Aguardente tiveram, como destino, o levantamento de um outro mercado, em
Aveiro, inaugurado em 1898 e demolido em 1919, do qual nos dá conta o texto
seguinte.
“O Mercado Manuel Firmino surgiu no final de Oitocentos,
em "arquitetura do ferro" e comprada em 2ª mão no Porto, tendo sido
instalado na zona ocupada pelos Armazéns de Aveiro até ao Grémio Comercial,
vindo a ser demolido com a abertura da Avenida Drº Lourenço Peixinho. Em sua
substituição, constrói-se um mercado, popularmente conhecido por praça.”
Fonte: “rotadabairrada.pt”
Em 1898, o espaço foi ajardinado e construído um coreto.
Jardim do Marquês de Pombal em perspectiva de Sul para Norte, c. 1900 -
Ed. Alberto Ferreira - Praça da Batalha
O coreto que foi fabricado numa pequena fundição da cidade,
a Fundição da Trindade, foi inaugurado em 2 de Abril de 1899, com o concurso
das bandas do Regimento de Infantaria 6 e dos Voluntários de Gaia.
A Igreja de Nossa
Senhora da Conceição resulta de um projecto do arquitecto monge beneditino Dom
Paul Bellot, tendo sido inaugurada em 8 de Dezembro de 1947, quando o Padre
Matos Soares era o pároco. Está decorada com frescos de Dórdio Gomes.
A fonte da foto acima veio, para aqui, transferida da Praça
D. João I.
O quiosque observado na foto anterior foi construído em 1931 e chegou a apoiar também um posto de abastecimento de
combustíveis a viaturas que posteriormente se deslocou para poente para junto
da biblioteca Pedro Ivo.
No canto inferior direito da foto seguinte é possível observar as bombas de gasolina da estação de serviço.
“O Jardim do Marquês,
no Porto, teve, durante pouco mais de 50 anos, uma biblioteca. Chamava-se
Biblioteca Infantil Pedro Ivo (BIPI) e foi uma das primeiras bibliotecas de
bairro do país, inaugurada em 1948. Por ela passaram umas quantas gerações de
crianças (ao que parece, uma delas até é hoje um autor desta casa e não estou a
falar de mim). Quando começaram as obras do metro, a biblioteca foi encerrada,
todo o jardim esteve em risco (se bem me lembro, correram petições pela
salvação dos plátanos centenários), e a biblioteca nunca mais reabriu…”
Fonte: Carla
Romualdo, In “aventar.eu”
A biblioteca, cujo
traço é do arquitecto Bernardino Basto Fabião, passou a Bar com esplanada e
hoje, está ao abandono.
Sobre Pedro Ivo,
nascido no Porto, Rua do Bonjardim, em 1842, no prédio que, na década de 1920, tinha o nº 184, e falecido em 1906, na
então, Avenida de Carreiros, nº 41, filho de Carlos Lopes, comerciante,
vereador na Câmara Municipal do Porto, do pelouro dos Expostos, de 1858 a 1862,
e muito conhecido por ser dono de uma livraria e com fama de excelente
bibliófilo.
Sobre Pedro Ivo, diz-nos a Infopédia:
“Escritor português, de nome verdadeiro
Carlos Lopes, nascido a 15 de janeiro de 1842, no Porto, e falecido a 4 de
outubro de 1906, na mesma cidade. Oriundo de uma família abastada, viveu na
Inglaterra e na Alemanha, onde foi educado, traduzindo poesias de Schiller,
Goethe, Uhland, Heine e Hoffman, entre outros. Depois de uma estada de dois
anos no Brasil, de regresso a Portugal, dedicou-se ao comércio e à atividade
bancária, chegando a presidente da Real Companhia dos Caminhos de Ferro de
África. Estreou-se na atividade literária com a publicação de Contos (1874),
obra elogiada pela crítica, a que se seguiram o romance O selo da roda (1876),
igualmente aplaudido, e nova coletânea de contos, Serões de inverno (1880).
(…) Em 1909, Bento Carqueja organizou a
antologia póstuma Pedro Ivo, Prosador e Poeta, onde incluiu algumas peças
inéditas: contos, traduções de poetas alemães e poesias originais.
Em 1926, foi a vez de Fernando Macedo Lopes,
o filho do escritor, organizar a edição de alguns contos inéditos em O Limbo de
Pedro Ivo, precedidos de um longo estudo biográfico que inclui fragmentos da
correspondência mantida com escritores como Alexandre Herculano, Camilo Castelo
Branco e Oliveira Martins, entre outros”.
Pedro Ivo frequentou, antes de rumar ao estrangeiro, as aulas do professor Alexandre Grant, à Bandeirinha.
Para além das
actividades atrás descritas, Pedro Ivo foi guarda-livros, secretário do clube
de Agramonte, presidente da Associação Comercial do Porto, Director fundador do
Banco Aliança, Vogal da Comissão Reguladora dos Vinhos do Alto Douro, Director
da Equidade, Presidente da Assembleia Geral da Associação Comercial de
Beneficência, Conselheiro da Misericórdia, Director da Nova Companhia de
Utilidade Pública.
Pedro Ivo, como
pseudónimo, baseia-se num capitão brasileiro que chefiou a revolução
republicana de Pernambuco, de 1848-1849.
No dia 12 de
Dezembro de 1918, o Ateneu Comercial do Porto para comemorar o 49º aniversário
da sua Biblioteca levou a cabo uma sessão solene de homenagem à memória de
Pedro Ivo, acto a que presidiu o Dr. António Simões Pina e em que foram
oradores os Drs. Alfredo Coelho de Magalhães e António Coelho Martins de
Almeida e para agradecer a homenagem ao seu pai, o Dr. Fernando Macedo Lopes
descerrou um retrato do escritor.
Placa toponímica da
Rua de Pedro Ivo
Desde 17 de Dezembro
de 1936, que a Câmara Municipal do Porto, para homenagear o escritor,
determinou, por proposta do Dr. Espregueira Mendes, chamar à ligação da Rua de
Antero Quental à Rua do Covelo, de Rua de Pedro Ivo.
Desde Abril de 2021,
a Câmara do Porto resgatou a "Biblioteca Popular Pedro Ivo", após
recuperação das instalações, adaptando o funcionamento do espaço para fins
culturais e, a partir de 2022, a programação do mesmo será entregue à
comunidade de acordo com um concurso de ideias a ser levado à prática.
A praça, hoje, inclui o jardim romântico, duas taças com
jogos de água e um coreto. Densamente arborizada, é muito procurada nos dias de
calor e também pelos reformados que disputam aqui as suas partidas de sueca e
de dominó.
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