sábado, 14 de setembro de 2024

25.251 Passagens do Imperador D. Pedro II do Brasil pela cidade

 
Em 1 de Março de 1872, D. Pedro II (1825-1891), imperador do Brasil, começa uma visita à cidade do Porto, acompanhado pela imperatriz, D. Teresa Cristina Maria de Bourbon.
O imperador D. Pedro II do Brasil era filho do Imperador D. Pedro I do Brasil (Rei D. Pedro IV de Portugal) e de Maria Leopoldina.
Sobe ao trono, em 1841, tendo o Brasil, durante 1831 e 1840, vivido o chamado “Período Regencial”, já que D. Pedro I, seu pai, tinha abdicado e ele ainda era menor de idade.
No Porto, a comitiva irá ficar alojada, no Hotel do Louvre, à Rua do Triunfo (Rua D. Manuel II) que, para o efeito, foi alvo de diversas remodelações por parte da sua proprietária, D. Henriqueta Alvellos.
O primeiro andar do Hotel foi destinado aos Imperadores, e o segundo para a sua comitiva.
 
 
 

D. Pedro II, em 1870, com 45 anos de idade
 
 
 
Aquela estadia ficaria para a história, entre outros factos, pela situação de embaraço criada, quando o imperador, influenciado pelo cônsul do Brasil, no Porto, achando especulativa a conta apresentada, se recusou a liquidá-la. Um escândalo!



 

Fachada do prédio, voltada para a Rua do Rosário, onde esteve o Hotel do Louvre

 
 
A dona do hotel, após decisão de um tribunal lhe ter dado razão, ao fim de 5 anos, na acção judicial que, entretanto, correu, haveria de embarcar num navio para o Brasil, tentando resgatar a conta  de mil libras em dívida.
Para obstar ao escândalo, quatro ricos portugueses, residentes no Brasil, pagariam do seu bolso a dita maquia.
A visita acontecida em 1872, à cidade do Porto, começaria a ser preparada alguns meses antes.
Assim, em 25 de Maio de 1871, D. Pedro II e a sua mulher D. Teresa Cristina de Bourbon (1822-1889) partem do Rio de Janeiro no paquete Douro.
Chegados a Lisboa a 12 de Junho, permanecem de quarentena obrigatória no Lazareto, tendo recusado a oferta de D. Luís para o fazerem na corveta portuguesa Estephanea.
Finda a quarentena, instalaram-se no Hotel Bragança até à partida no caminho-de-ferro para uma digressão pela Europa, em Junho de 1871. Visitaram Espanha, França, Inglaterra, Alemanha, Áustria, Itália e o Egipto.
No fim do dia 29 de Fevereiro de 1872, estão na fronteira espanhola e no comboio do correio dirigem-se para o Porto, tendo desembarcado na estação das Devesas, em V. N. de Gaia, pelas 7,30 horas da manhã, do dia 1 de Março, 6ª Feira, onde são recebidos pelas autoridades, seguindo-se o atravessamento do rio Douro e, finalmente, a cidade do Porto.

 
 

Ponte Pênsil sobre o rio Douro. Na chegada do Imperador, duas linhas de bandeiras tremulavam nas guardas da ponte - Foto: Calótipo de Frederick William Flower
 
 
 

Arco Triunfal, ao cimo da Rua de S. João, no percurso do Imperador D. Pedro II, após atravessar o rio Douro, vindo das Devesas e da Ribeira onde esteve montado um elegante pavilhão

 
 
 

Largo da Feira de S. Bento (com a Igreja dos Congregados, em fundo), e o pavilhão montado e devidamente preparado para receber o Imperador em 1872



 
Arco Triunfal, na Rua dos Clérigos, com o palacete das Cardosas, à esquerda

 
 
Os Imperadores do Brasil, entraram na cidade em carro descoberto, tendo as tropas apresentando armas.
Uma breve homenagem, ainda nas Devesas, foi feita ao filho do Imperador-Soldado, numa alocução redigida por João Luís de Melo e entregue a S.M., e assinada por antigos soldados que combateram com seu Pai.
Alojada a comitiva no Hotel do Louvre, depois de desfilar pelas ruas da cidade, ornamentadas com seus arcos triunfais, e terminado o almoço, seguir-se-ia a visita à cidade.
A jornada começaria pela presença numa missa na Lapa às 11h.
Depois, visitaram a Bolsa, a Igreja dos Franciscanos, a Misericórdia e, aí, apreciaram o quadro (Fons Vitae) dessa instituição, o Ateneu Portuense e a Academia Portuense de Belas-Artes, onde foram recebidos pelo subinspetor Conde de Samodães.
Durante a visita à Academia Portuense de Belas Artes, sedeada no extinto convento de S. Lázaro, D. Pedro II procurou conhecer os pintores Francisco Rezende e João Correia e as suas obras, pelo prestígio que tinham, entretanto, adquirido.
Disso, nos dá conta o texto seguinte:
 
 
“Depois de reparar no mau estado em que se acha o edifício, cuja reparação compete à camara municipal da cidade, subiu às aulas da Academia, e ahi notou os quadros dos srs. Francisco José Resende e João António Corrêa, que elogiou, perguntando pelo primeiro, o qual se não achava presente. Mais tarde foi o sr. Resende recebido no hotel do Louvre, aonde foi offerecer-lhe dois quadros, um de costumes, outro com o retrato del-rei o sr. D. Luiz.”…
In Viagem dos Imperadores do Brasil em Portugal. Imprensa da Universidade. Coimbra 1872. (pág.103)
 
 
Entretanto, no Jornal “O Primeiro de Janeiro” de 3 de Março de 1872 dizia-se a propósito daquela visita:
 
 
Hontem, pelas 7 horas da manhã foi o snr. Resende collocalos na sala de espera do hotel do Louvre, e quando procedia áquella operação, entraram na sala o snr. D. Pedro II com os snrs. Marquez de Ficalho, Andrade Corvo e seu secretario António Sampaio, os quais não só muito elogiaram os quadros como também dirigiram affectuosissimas palavras ao notável artista. Suas magestades querem que aquellas pinturas vão já na sua companhia para o Rio de Janeiro.
 
 
 

“Pescadores numa Praia” (1887), com perspectiva sobre a praia de Matosinhos - Óleo sobre tela 95 x 145 cm, de Francisco José Rezende, exposto no Palácio Nacional de Queluz
 
 
 
Os Paços do Concelho e a Igreja dos Clérigos foram os alvos seguintes da imperial comitiva.
Às 7h, houve recepção de diversas autoridades no Hotel do Louvre.
Na oportunidade, uma delegação de Estudantes Brasileiros no Porto, foram entregar e ler uma mensagem a S.M.I., D. Pedro II.
Às 9h, aconteceu um espectáculo no Teatro Bacquet. S.M. manifestou, então, desejos de falar a Camilo Castelo Branco.
Durante a noite a cidade esteve iluminada, nomeadamente, a Praça D. Pedro, o edifício da Câmara, a Rua de Santo António e as escadas da igreja de Santo Ildefonso, arco dos Lóios e o pavilhão da Feira de S. Bento.
O dia seguinte, 2 de Março, um Sábado começou cedo, tendo o imperador visitado, na companhia do marquês de Ficalho, a Foz, Leça e Matosinhos.
Antes, pelas 7 horas da manhã, já o pintor Francisco Rezende tinha deixado no Hotel Louvre as pinturas que se destinavam ao Imperador.
Na Foz, D. Pedro II visitou o Salva-Vidas e o Castelo da Foz, a que se seguiu a fortaleza da Serra do Pilar.
A Escola Politécnica, o mercado do Anjo, o Instituto Industrial, o mercado do Bolhão e a fábrica da Companhia de Fiação Portuense, ao Campo 24 de Agosto, foram também alvo da atenção de D. Pedro II.
E, era chegado o momento da visita a Camilo Castelo Branco.
Antes, D. Pedro II tinha feito, um convite ao escritor Camilo Castelo Branco para que o visitasse, no Hotel do Louvre, para o agraciar com a Ordem da Rosa.
O escritor declinou o convite, dizendo-se doente, mas o imperador toma, então, a decisão de ser ele a dirigir-se a casa do enfermo, a S. Lázaro.
 
 
 

Na primeira casa, à esquerda, a S. Lázaro, morava Camilo, quando foi visitado pelo Imperador D. Pedro II, em 1872

 
 
Só após treze anos decorridos sobre esta visita, o decreto que fez Camilo, Visconde de Correia Botelho, acabaria por ser assinado, por D. Luís, a 18 de Junho de 1885.
Antes do jantar, ainda foi visitado o Hospital de Santo António, a Escola Médico-Cirúrgica e o Museu Municipal da Rua da Restauração.
Após aquele repasto, houve recepção ao corpo consular e pelas 9 horas no Teatro S. João subiu ao palco a ópera “Poliuto”, uma tragédia lírica de Gaetano Donizetti.
Após passar dois dias completos, no Porto, a comitiva imperial, logo no dealbar da madrugada de 3 de Março, um Domingo, parte para Braga, pernoita em Barcelos e, no dia seguinte, estavam outra vez na estação das Devesas, onde foram apresentados os cumprimentos das autoridades. Seguir-se-ia a visita a Coimbra e a chegada a Lisboa com hospedagem no Hotel Bragança, depois de passagem por Leiria, Alcobaça, Caldas e Batalha.
 
 
 
O regresso à cidade do Porto
 
 
O imperador D. Pedro II e a imperatriz D. Teresa Cristina Maria de Bourbon haveriam de retornar à cidade do Porto, alguns anos mais tarde, embora em situação nada festiva.
Em 1889, aqui chegavam para se exilarem, em consequência da implantação da República no Brasil.
Seria no Grande Hotel do Porto, na Rua de Santa Catarina, que se hospedaram e, num dos seus quartos, que a imperatriz morreu, no começo da tarde do dia 28 de Dezembro de 1889, quando D. Pedro II realizava uma visita de cortesia à Escola Portuense de Belas Artes, a S. Lázaro.
Nos tempos que se seguiram, o imperador exilado irá ser alvo de diversos actos de grande amizade, cujo protagonista foi o conde de Alves Machado, nomeadamente, custeando as despesas de funeral da imperatriz e auxiliando, pontualmente, o imperador na sua estadia em Paris.
O conde Alves Machado foi a personagem que se destacou, para sempre, por ter vivido cerca de quarenta anos no Hotel Francfort, sendo dono de um magnífico palacete na Praça da República, que ainda hoje existe, mas em completa ruína.
 
 
 
Antecâmara da visita de D. Pedro II a Camilo Castelo Branco
 
 
Alguns dias antes da visita de D. Pedro II à sua casa em S. Lázaro, por uma questão de deferência para com o imperador, tinha Camilo Castelo Branco dado ordens à sua editora para parar com a impressão do seu romance “A Infanta Capelista” que tinha por tema central o tráfico negreiro efectuado pelos portugueses, no Brasil.
A Casa de Bragança era também criticada.


 
 

Um dos 50 exemplares (Edição fac-similada) mandado reproduzir, em 1952, no Porto, pela Livraria Moreira da Costa, filha – Cortesia do Real Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro

 
 
Em meados do século XX, tendo conseguido reconstituir um exemplar completo, a Livraria Moreira da Silva-Filha vai publicar uma edição fac-similada de 50 exemplares da “Infanta Capellista” sendo, por isso, processada por Flora Augusta Castelo Branco Vilaça, neta de Camilo Castelo Branco, que vem a ganhar o processo e é indemnizada em 18.500 escudos, em sentença proferida em 12 de Janeiro de 1959.
No processo judicial se narrava o modo como a Livraria Moreira da Costa tinha feito a reconstituição da obra literária:
 
 
“raríssimos exemplares escaparam à destruição ordenada, nomeadamente, as folhas impressas, dadas por Camilo, como papel velho, a um barbeiro, tendo-se conseguido pelo menos reconstituir um exemplar completo e depois, com a reconstituição imprimiu alguns exemplares.”
 
 
Ainda no ano de 1872, a Livraria Ernesto Chardron vai publicar, poucos meses após a destruição de “A Infanta Capelista”, a obra “O Carrasco de Vítor Hugo José Alves”, romance cujos personagens e história seguiam o rumo de “A Infanta Capelista”, com as poucas alterações que o escritor decidiu introduzir.
Eram, entre outros, seus alvos, os brasileiros de torna-viagem e antigos negreiros, Manoel Pinto da Fonseca e Joaquim Pinto da Fonseca.
Em 1916, a Livraria Lello publica, em reedição, “O Carrasco de Vítor Hugo José Alves”.

sábado, 7 de setembro de 2024

25.250 Filantropos que começaram por ser negreiros

 
Por norma, estas personagens que, em tempos, se tinham dedicado e feito fortuna com a exploração de outras pessoas e povos, tentavam ao ver aproximar-se a hora de prestar contas ao Criador, fazer as pazes com a humanidade, praticando o bem-fazer.
No término da existência, os destinatários de parte ou da totalidade dos bens legados eram as Ordens Religiosas Terceiras, que exploravam cemitérios privados ou que, a partir da institucionalização dos cemitérios públicos, neles tinham as suas áreas privativas.
 
 
 
 
Joaquim Ferreira dos Santos (Conde de Ferreira)
 
 
Joaquim Ferreira dos Santos (1782-1866), nascido a 4 de Outubro de 1782, no lugar de Vila Meã, na freguesia de Campanhã, era o quinto filho de uma família pobre de lavradores, tendo chegado a estudar no seminário, não mostrando, no entanto, qualquer vocação nem entusiasmo.
Cedo, embarca para o Brasil para junto de um familiar, dedicando-se ao comércio e acabando por tornar-se traficante de escravos.
 
 
 
“Depois de um curto período como caixeiro no Porto, contrariando os pais, emigrou para o Brasil em 1800, levando consigo carta de recomendação dirigida a um parente que se encontrava estabelecido como comerciante no Rio de Janeiro. No Brasil, ajudado e protegido pelo seu parente, foi prosperando no negócio, dedicando-se ao comércio por consignação de produtos enviados do Porto.
Depois de ter estabelecido relações comerciais entre a sua casa e a praça de Buenos Aires, dirigiu as suas atenções para África, com o intuito de alargar as suas relações com essa parte do mundo, foi três vezes a Molumbo, Angola, onde criou várias feitorias e montou um lucrativo negócio negreiro, importando cerca de 10 mil escravos para o Brasil”.
Cortesia de Rui Cunha


 
No Rio de Janeiro, Joaquim Ferreira dos Santos casou com D. Severa Lastra, uma senhora argentina, natural de Buenos Aires, detentora de uma enorme fortuna. O único filho que tiveram morreu em criança e, quando Joaquim Ferreira dos Santos enviuvou, tornou-se herdeiro de todos os bens de sua mulher.
 
 
 

Conde de Ferreira – Fonte: revista “O Ocidente”, em 21 Abril de 1883
 
 
 
 
Joaquim Ferreira dos Santos é um dos muitos casos de personagens que enriqueceram no Brasil com negócios ligados ao tráfico de escravos e que, de volta a Portugal, continua com as suas actividades comerciais e bancárias e se torna, ainda, um apoiante de D. Maria II, que o nomeia barão, visconde e conde.
Tendo abraçado a corrente política em ascensão do Liberalismo, foi membro do Conselho de Sua Majestade, comendador da Ordem Militar de Cristo e da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, e recebeu, em Espanha, a Grã-Cruz da Ordem de Isabel, a Católica.
Morre em 1866, sendo sepultado no cemitério de Agramonte.
Não tendo descendentes directos o Conde de Ferreira, deixa a sua fortuna a uns poucos amigos, uns sobrinhos, à Santa Casa da Misericórdia, à Ordem Terceira da Trindade, Ordem Terceira do Terço, Ordem Terceira de S. Francisco e Ordem Terceira do Carmo.
Uma verba considerável, 144 contos de réis, destina-a ao ensino primário, para que o estado construa 120 escolas primárias, para ambos os sexos, em vilas sede de concelho, obedecendo a um mesmo projecto e dotadas, ainda, de residências para os professores.
 
 
 
 

Escola do Conde de Ferreira, em Setúbal



Antes da sua morte, em 1866, o conde de Ferreira nomeara seu testa­menteiro um tal José Gaspar da Graça, que de­via dar cumprimento ao seu desejo de que, com o remanescente da herança, que era 600 contos de réis, se procedesse à constru­ção de um hospital de alienados.
 
 
 

Passagem do testamento do Conde de Ferreira – Fonte: revista “O Ocidente”, em 21 Abril de 1883
 
 
 
Para cumprir o destino do remanescente da herança, foi adquirido, a 26 de Novembro de 1867, um terreno cuja escritura de venda mencionava uma quinta situada na Cruz das Regateiras (Rua de Costa Cabral) vendida por José Ferreira Pinto Basto, filho do fundador da Vista Alegre, com o mesmo nome do seu pai.
Em 25 de Julho de 1869, realizou-se no Porto uma manifestação exigindo o cumprimento do legado, pois, passados três anos sobre a morte do conde, o hospi­tal continuava sem ver a luz do dia.
Por fim, o hospital seria inaugurado em 24 de Março de 1883 e entre­gue à Santa Casa da Misericórdia do Porto, que ainda hoje o administra, depois de uma passagem (26 anos) pelas mãos do Estado.
O projecto do hospital é entregue inicialmente ao professor de arquitectura da Escola de Belas Artes do Porto, Manuel d’ Almeida Ribeiro, arquitecto e professor na Academia Portuguesa de Belas Artes, mas devido ao seu falecimento, durante a construção, o projecto acabará por ser entregue a Faustino Vitória, Director Geral de Obras Públicas do Norte.





Hospital do Conde de Ferreira – Ed. Arquivo Histórico Municipal
 
 
 
 
De acordo com o testemunho de Domingos de Almeida Ribeiro, escriturário do testamento, o novo hospital a implantar na cidade do Porto fora inspirado por D. Pedro V de Portugal e correspondia a um outro (Hospício Pedro II), localizado no Brasil. Seria, então, um hospital para alienados.
Assim, diz-se que, a arquitectura do Hospital do Conde de Ferreira foi inspirada no Hospício Pedro II, ou Hospital da Praia Vermelha, inaugurado no Rio de Janeiro em 1852 e que foi o primeiro hospital psiquiátrico do Brasil e o segundo da América Latina.

 
 

Vista aérea do Hospício Pedro II - Fonte: Wikipédia
 
 
 
Entretanto, em 21 de Setembro de 1877, já após a morte do conde de Ferreira, o escultor Soares dos Reis (1847-1889) entrega uma estátua do falecido e referido conde, sendo-lhe pago, no dia seguinte, 600 mil réis, após aprovação da estátua pela Academia Portuguesa de Belas-Artes, de acordo com o contrato da empreitada assinado em 2 de Setembro de 1875.
Essa estátua, em mármore, acabará por ser transferida do mausoléu do cemitério de Agramonte (Secção da Ordem da Trindade) para o Museu Soares dos Reis, ficando no seu lugar uma outra réplica em bronze.

 
 

Conde de Ferreira – Obra de Soares dos Reis




Uma outra estátua do conde, em mármore de Carrára, da autoria de José Joaquim Teixeira Lopes (pai) foi colocada no frontão da fachada principal do Hospital do Conde de Ferreira, tendo sido transferida, c. 1900, para um plinto nos jardins do hospital.

 
 
 

Estátua do conde de Ferreira coroando o frontão do edifício


 
 

Estátua do Conde de Ferreira, da autoria de Teixeira Lopes (pai), já nos jardins do hospital





Teixeira Lopes (pai) e filho

 




Joaquim Pinto da Fonseca e Manoel Pinto da Fonseca
 
 
 
 
Manoel Pinto da Fonseca nasceu em 10 de Outubro de 1804, em Divino Salvador de Moure, Felgueiras.
Era o filho primogénito de Francisco Pinto Lemos e Violante Ribeiro da Fonseca e irmão de Joaquim Pinto da Fonseca (1816-1897) e António Pinto da Fonseca (nascido em 04 de Maio de 1814).
Manoel Pinto da Fonseca tendo chegado ao Brasil, em 1825, vai como funcionário caixeiro de um estabelecimento no Rio de Janeiro, a partir de 1835, assumir os negócios dessa firma, começando a ter o seu nome ventilado nas páginas de anúncios dos jornais, relacionando-o com a importação de produtos vários.
É quando se associa a esse negócio, o de tráfico de escravos, com a participação conhecida e bem documentada do seu irmão Joaquim.
Do outro irmão, António, não se conhece qualquer ligação àquele tráfico.
Manoel Pinto da Fonseca morre em 20 de Agosto de 1855, em Paris, onde estava à procura de uma cura para uma doença que o atormentava.
Sabe-se que, em 1872, Camilo Castelo Branco mandou inutilizar toda a edição de um romance que então tinha a imprimir: - "A Infanta Capelista"; e que, nesse mesmo ano, alguns meses passados, fazia publicar, editado pela editora de Ernesto Chardron, um outro romance, "O Carrasco de Vítor Hugo José Alves", cuja acção e personagens são em tudo semelhantes aos do livro inutilizado.
Nesse romance são referidos os grandes negreiros Fonsecas, Manuel e Joaquim.
O primeiro, Manoel Pinto da Fonseca, foi porventura o único grande negreiro invocado, até então, pelo nome próprio, na ficção portuguesa e assim classificado, na década de 1840, no Rio de Janeiro, pelos comissários ingleses, ali destacados para fiscalizarem o tráfico de escravos, como o maior de todos os negreiros.
Manuel Pinto da Fonseca, proprietário de várias feitorias na costa ocidental africana e no Brasil, foi benemérito de várias ordens religiosas, entre as quais a do Bom Jesus de Braga. 
Após o regresso de Manoel Pinto da Fonseca a Portugal, em 1851, Camilo Castelo Branco faz-lhe referência na obra atrás referida, bem como ao seu cognome de “o Conde de Monte Cristo”, pela ligação que ele tinha tido ao tráfico de escravos no Brasil, onde fez uma fortuna colossal e por, na realidade, ter atingido o título nobiliárquico de conde.





Manoel Pinto da Fonseca (busto de mármore branco, assinado por G. DUPRE-F. 1852)
 
 
 
 
"Manoel Pinto da Fonseca", na sua acção de benemérito ficou com o seu nome ligado ao "Asilo D. Luís I" e ao "Convento de Marvila".
 
 
 
“O «Mosteiro de Marvila» foi suprimido por decreto de 11 de Abril de 1872. Depois da carta de lei de 10 de Abril de 1874, o Governo ofereceu as instalações para o "Asilo D. Luís I", fundado em 1861, com um legado testado pelo comendador "Manuel Pinto da Fonseca".
Depois da implantação da República, logo em 1911, o nome do ASILO, foi substituído por "Asilo Manuel Pinto da Fonseca". E, em 1928, vagando esta casa, por o Asilo se ter transferido para o "Porto Brandão", nela foi instalado o "Asilo dos Velhos de Campolide", com secção para cegos de ambos os sexos. O edifício tem capacidade para albergar cerca de 500 internos. Actualmente, no portão do corpo central do pátio de entrada, vê-se a legenda de «Asilo de Velhos de Marvila»”
Fonte: Blogue “Ruas de Lisboa com Alguma História”
 
 
O texto seguinte faz referência aos dois irmãos de Manoel Pinto da Fonseca, Joaquim Pinto da Fonseca e António Pinto da Fonseca.
 
 
“Sobre os Irmãos Fonseca corriam as coisas mais fantasiosas, reveladoras da sua espetacular fortuna: um deles, dizia-se, comia em baixelas de prata renascentista, bebia em taças de oiro e fazia-se conduzir em caleches reais; outro, instalara-se com pompa e circunstância, no Palácio Palmela, ao Calhariz, tendo, pouco depois, comprado, em Sintra, a Quinta do Relógio, além do Palácio da Mitra, à Junqueira, tudo edifícios sumptuosíssimos.”
Cortesia de Maria Filomena Mónica
 
 
 
António Pinto da Fonseca e Joaquim Pinto da Fonseca, em 1860, vão ser sócios da casa bancária lisboeta, “Fonseca, Santos & Viana”, juntamente com Carlos dos Santos Silva e de Francisco Isidoro Viana, o seu fundador.
Desde há anos, com ligação à actividade bancária, Joaquim Pinto da Fonseca, falecido em 1897, à data, morador na Rua Formosa, 203, vai ter como última morada e por sua vontade, o cemitério de Agramonte, mas vai ainda assistir à fundação, no Porto, em 1896, da Casa bancária “Pinto da Fonseca & Irmão”, pela mão dos seus filhos, Manuel e Joaquim que, em 1933, haveria de abrir falência.
Joaquim Pinto da Fonseca viveu durante anos na morada da Rua Formosa, nº 203, onde faleceu e que tinha pertencido ao juiz de Direito Criminal substituto João Pereira Baptista Vieira Soares e, depois, aos seus herdeiros e cujo nome aparecia nos Autos de Querela do julgamento no qual Camilo Castelo Branco foi réu.
Em 1857, já Joaquim Pinto da Fonseca era proprietário do prédio aí situado, pois solicitava à Câmara do Porto, nesse ano, autorização para lhe acrescentar um andar.
Mais a montante da Rua Formosa, entre aquela morada e o palacete do visconde Pereira Machado, no nº 163, se entrava pela porta-cocheira do prédio para um caramanchão, e na área que encontrávamos pela frente, em anos da segunda metade do século XIX, funcionou um Tivoli, cujos terrenos pertenceriam à família Pinto da Fonseca e tinham feito parte da Quinta do Adro que se estendia até às imediações da igreja de Santo Ildefonso.
Mais tarde, nesses terrenos, se instalaria o Jardim Passos Manuel e, posteriormente, o Coliseu do Porto.
 
 
 
“A fundação da casa bancária Pinto da Fonseca & Irmão data de 30 de dezembro de 1896. Constituída sociedade comercial em nome coletivo, com responsabilidade ilimitada, estabeleceu a sede social na Praça da Liberdade, no Porto. Foram sócios fundadores Joaquim Pinto da Fonseca e Manuel Pinto da Fonseca”.
Fonte: Banco de Portugal (Arquivo Histórico)

 
 
 
Casa Bancária “Pinto da Fonseca & Irmão”, em 1897 e o local na actualidade
 
 
 
Manuel Pinto da Fonseca irá viver num palacete situado na esquina da Rua dos Belos Ares e da Avenida da Boavista, mandado por si construir, e o seu irmão Joaquim Pinto da Fonseca passará a viver num palacete da Praça da República (onde esteve alojado durante alguns anos o Instituto Francês), cuja propriedade era do conde Alves Machado, que vivia no Hotel Francfort.
O palacete de Manuel Pinto da Fonseca, na Avenida da Boavista, seria pasto das chamas num incêndio ocorrido em 14 de Outubro de 1926, quando já era propriedade do capitalista Manuel Joaquim de Oliveira.
 
 
 

Palacete de Manuel Pinto da Fonseca, na Avenida da Boavista


 
 

Cartaz de homenagem aos seis bombeiros que pereceram no combate ao incêndio do palacete de Manuel Pinto da Fonseca, no qual é visível um esboço do edifício

 
 
 
Joaquim Pinto da Fonseca (1846-1920), o filho, assegurará a continuidade da actividade bancária de “Pinto da Fonseca & Irmão”, juntamente com o seu irmão Manuel Pinto da Fonseca até que, antes do seu falecimento, em 1920, associou à firma, os seus filhos Joaquim Pinto da Fonseca Júnior e Carlos Pinto da Fonseca.
O prédio de primeira instalação da Casa Bancária Pinto da Fonseca & Irmão passaria a ser ocupado pelo Banco Nacional Ultramarino e, assim, nos seus últimos anos de actividade, esteve alojada numa loja do Palacete das Cardosas, na Praça da Liberdade.
 
 
 
 

Obras para instalação, no Palacete das Cardosas, da Casa Bancária Pinto da Fonseca & Irmão

 
 
Sobre a foto anterior, em 1920, pode ver-se a loja entaipada, situada no palacete das Cardosas, onde não tardaria a funcionar a casa bancária Pinto da Fonseca & Irmão, até 1932, e onde, posteriormente, abriria até aos nossos dias a Farmácia Vitália.

domingo, 1 de setembro de 2024

25.249 Ricardo Jorge - Um médico em conflito com os portuenses

 
Médico, Professor Universitário e Escritor, natural do Porto, Ricardo Jorge (1858/1939)  frequentou com brilhantismo a Escola Médico-Cirúrgica do Porto de 1874 a 1879, tendo concluído, aos 21 anos de idade, a licenciatura em Medicina com a dissertação, “Um Ensaio sobre o Nervosismo”.

 
 

Casa onde nasceu Ricardo Jorge, na Rua Mártires da Liberdade, próximo da Rua dos Bragas
 
 
 
Após umas viagens de estudo ao estrangeiro, regressou a Portugal e deu início a um curso de Anatomia dos Centros Nervosos e criou o pioneiro Laboratório de Microscopia e Fisiologia do Porto. Dedicou-se à Saúde Pública e também à Hidroterapia, tendo publicado vários estudos e, especialmente, os que dedicou às Caldas do Gerês.
A 7 de Dezembro de 1888, o governo adjudicou por contrato provisório, as águas medicinais do Gerês a uma empresa formada pelo Dr. Ricardo de Almeida Jorge e Dr. Paulo Marcelino Dias Freitas, distintos médicos e professores pelo prazo de 50 anos. O contrato definitivo é de 25 de Julho de 1889, mas, em Março de 1890, por escritura, a concessão foi vendida a uma sociedade anónima, “A Companhia das Caldas do Gerês”, de que eram sócios o Dr. Ricardo Jorge e o capitalista bracarense Manuel Joaquim Gomes, já que o Dr. Paulo Marcelino se afastou.
Esta sociedade abriria falência em 1893 e, no tempo que existiu, limitou-se praticamente a encanar as águas da Fonte, para o hotel Universal.
A concessão iria, então, ser entregue à “Empresa das Águas do Gerês”, que, em 1899, abriu os novos balneários.

 
 

Publicidade às Caldas do Gerês em 1890

 
 

Bica e Poços das termas do Gerês demolidos em 1897

 
 
Por convite da Câmara Municipal do Porto, em 1892, com quem já tinha colaborado sobre questões de Higiene Pública, Ricardo Jorge dirigiu os Serviços Municipais de Saúde e Higiene da Cidade do Porto e chefiou o Laboratório Municipal de Bacteriologia. No âmbito destas actividades publicou a série do respectivo Anuário e um Boletim Mensal de Estatística Sanitária do Porto, que fizeram dele o introdutor da moderna estatística demográfica em Portugal.
 

 

Dr. Ricardo Jorge
 
 
 
Abandonou a Cidade do Porto em 1899, aquando da Peste Bubónica, descontente com a população, violenta e instigada por forças políticas contra a sua orientação pelas medidas profiláticas que tentou implementar.

 
 
“O Porto do final do século XIX era uma cidade de contrastes. Gabava-se de ser pioneira da iluminação a gás, da fotografia e do cinema e de ter introduzido na Península Ibérica o carro elétrico, mas as condições de vida da segunda cidade portuguesa eram deploráveis para as classes desfavorecidas. O sistema sanitário era rudimentar. Anos depois, em 1905, apenas 30 por cento dos arruamentos tinham esgotos. Perto de um terço da população vivia em “ilhas” de condições higiénicas lamentáveis. A cidade detinha uma das piores taxas de mortalidade das cidades europeias, com realce para a mortalidade infantil.
A crise deu a conhecer um homem de qualidades invulgares: o médico municipal Ricardo Jorge. Em julho de 1899, era o responsável dos Serviços de Saúde e Higiene da cidade e professor da cadeira de Higiene e Medicina Legal da Escola Médico-Cirúrgica do Porto. Acabaria quase crucificado na turbulência popular, jornalística e política desencadeada pelas medidas tomadas pelo governo central para combater a progressão da doença.
Houve autoridades médicas que sugeriram que a peste não era recente. Tratar-se-ia de uma exacerbação da endemia existente na cidade há mais de um ano, sem que o alarme fosse desencadeado ou fossem tomadas previdências adequadas. Esta questão foi usada como argumento contra a adequação do cerco sanitário”.
Cortesia do blogue “Historinhasdamedicina”
 
 
 
 
Alguns órgãos da comunicação social foram os que mais reclamaram das medidas que foram sendo tomadas face ao avançar da epidemia.
Durante a instauração do cordão sanitário ao Porto, durante a crise provocada pela peste bubónica em 1899, os jornais  “O Comércio do Porto”, “Jornal de Notícias (JN)” e “Voz Pública” instigavam os portuenses a resistir ao cerco sanitário que tinha sido montado em volta da cidade e alimentavam a polémica em artigos jornalísticos de vitimização face à capital.
O governo de Lisboa considerou “urgente” a necessidade de repressão daqueles “desmandos”. Aos processos juntou-se a suspensão.
Para ultrapassar a suspensão que foi então ordenada, o JN mudou de nome duas vezes, para Notícias, primeiro, e Diário da Manhã, depois e a sua tiragem passaria dos 16000 para 22000 exemplares, no fim de 1899.
 
 
 
“A 4-7-1899 recebia eu um bilhete d'um negociante da rua de S. João, chamando a minha attenção para uns obitos que se tinham dado na rua da Fonte Taurina.
Mandei examinar á regedoria as certidões d'obito respectivas, que só tarde me costumam ser communicadas para o effeito estatistico; resavam ellas de molestias banaes. Apesar d'esta nocencia nosographica, mandei tomar informações no lugar por um empregado que voltou dizendo-me que tinham morrido pessoas e outras estavam doentes d'uma especie de febre com nascidas debaixo dos braços. Não se tratava pois da banalidade prevista, o que me resolveu a fazer uma visita pessoal á Fonte Taurina, onde com as informações colhidas e os doentes ainda presentes me convenci logo estar em frente d'um fóco epidemico de moléstia singular e nova. Caso anormal e grave, dei immediatamente conta do succedido ao snr. commissario geral de policia, como auctoridade sanitaria, ao snr. vereador do pelouro, como representante da administração municipal, e ao snr. director clinico do hospital para o internamento imediato e isolamento dos epidemiados.
Os serviços dependentes ou ligados á repartição de hygiene, como o da desinfecção e limpeza viaria, entraram sem demora em acção; e no dia seguinte acompanhava ao local o snr. inspector de policia Feijó e o sub-delegado de saude Joaquim de Mattos, sendo intimados os proprietarios e inquilinos ás beneficiações e limpezas das suas descuradas e imundas habitações, operações a que, diga-se de passagem, só procederam depois d'instancias repetidas.
A´ volta do fóco brotavam pouco e pouco casos suspeitissimos que me mantinham receioso, e não tardou o convencimento de que a peste avançava a passos lentos e espaçados, como é de seu uso e costume á primeira arremettida.
A 31-7 faziamos colheita fecunda, e dentro d'oito dias adquiria por mim a irrefragavel certeza de que tinha nos tubos de cultura isolado o puro e legitimo bacillo de Yersin. E d'essa convicção dei parte superiormente a 8-8. Submetti o achado ao meu companheiro e amigo Camara Pestana; devia-o á sua competencia magistral e á sua situação official á frente dos serviços bacteriologicos do paiz, A sua confirmação foi immediata.
As missões estrangeiras confirmaram totalmente, integralmente, tudo o que em materia de diagnostico e prognostico fora aventado pelo seu descobridor”.
Ricardo Jorge em 20 de Setembro de 1899

 
 
Por outro lado, o governo central nomearia Câmara Pestana, um higienista e professor universitário, que exercia a sua profissão em Lisboa, que se destacava como um dos pioneiros da bacteriologia, em comissão de serviço público para estudar com o director do posto de saúde municipal portuense e com alguns médicos estrangeiros, o valor dos soros contra a peste.
Durante a sua estadia, no Porto, Câmara Pestana contrairia a doença que investigava, tendo, sem saber que estava contaminado, partido para Lisboa. Acabaria por falecer no dia 15 de Novembro de 1899, no Hospital de Arroios, onde tinha sido isolado.
O nome de Câmara Pestana haveria de ser atribuído à rua que dá acesso ao Hospital Joaquim Urbano, em sua homenagem póstuma.
A cidade do Porto acabaria por ser alvo de um cerco sanitário.
 
 
 
“Pressionado pelos governos espanhol e francês, o ministério de José Luciano, apoiando-se no conselho da Junta Consultiva de Saúde Pública, decretou o cerco sanitário à segunda maior cidade portuguesa. Note-se que Portugal havia adotado essa medida, cinco anos antes, quando a cólera grassara em Espanha.
Cerca de 2.500 soldados de infantaria e cavalaria montaram o cordão. Dificilmente poderiam impedir a passagem de ratos e pulgas.
O governo anunciou o cerco, mas levou dez dias a concretizá-lo.
Muitos dos portuenses que o podiam fazer abandonaram a cidade antes do bloqueio ser instaurado. Deslocaram-se por estrada, ou tomaram o comboio em estações não fiscalizadas. Não receavam apenas a peste: temiam a falta de alimentos e a agitação popular. Os jornais falaram em 20 e até em 40 mil habitantes saídos, mas esses números parecem exagerados.
Os jornais da cidade consideraram o cordão sanitário desproporcionado e ineficaz. Acusaram a capital de usar a peste como pretexto para combater a economia do Porto. Era a diabolização de Lisboa. A capital do ócio e do vício oprimia a capital do trabalho e da modéstia. Chegou a pedir-se a autonomia a norte do Mondego.
Tratava-se duma agudização do complexo de segunda cidade do país. Edimburgo e Barcelona não teriam feito melhor. Os portuenses teriam, contudo, razão ao considerarem que as medidas governamentais procuravam mais conter a peste dentro da cidade do que extingui-la.
Os estabelecimentos comerciais do Porto encerraram, em sinal de luto. Muitas indústrias interromperam o funcionamento e despediram pessoal. A seguir à peste, veio a fome.
O cordão sanitário acabaria por se manter quase até ao Natal, mas a peste persistiu no Porto, de forma endémica, até 1915”. 
Cortesia do blogue “Historinhasdamedicina”
 
 
 
É, então, montado um processo de desinfecção tendo por alvo as “ilhas” da cidade.
 
 
 
 
Brigada de desinfecção preparando-se para entrar em acção – Ed. Aurélio da Paz dos Reis; Fonte:CPF

 
 

Croquis do cordão sanitário montado para isolamento do Porto – Fonte: jornal “O Comércio do Porto” de 26 de Agosto de 1899
 
 
 
 
Por sua vez, Ricardo Jorge, em Lisboa, haveria de desenvolver intensa actividade criando organismos de estudo, presidindo a instituições e representando Portugal em conferências no estrangeiro, sendo nomeado Inspector-Geral de Saúde e, depois, professor de Higiene da Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa.
Em 1903, foi incumbido de organizar e dirigir o Instituto Central de Higiene, que passaria a ter o seu nome a partir de 1929 e, hoje, é o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge.