sábado, 19 de outubro de 2024

25.256 “Casa Forte” e “Lã Maria”

 
O antigo e denominado "quarteirão da Casa Forte" situava-se próximo do Mercado do Bolhão, sendo delimitado pelas ruas de Sá da Bandeira, Formosa e Bonjardim e Travessa do Bonjardim, e atravessado pela Travessa da Rua Formosa, compreendendo uma área com 28.500 metros quadrados, tendo sido previsto para ele um parque habitacional para 100 famílias e, ainda, a criação de áreas comerciais, com lojas nos pisos térreos, construção de um parque de estacionamento e de um hotel, num investimento de 27 milhões de euros.
O projecto em execução, durante alguns anos, está praticamente concluído.
Todo o conjunto edificado manteve o traço das fachadas voltadas para a Rua de Sá da Bandeira.
 
 
 

Fachada do novo edificado que fez parte da antiga Casa Forte – Fonte: Google maps
 
 
 
 

Jardim interior do novo quarteirão da antiga Casa Forte – Cortesia de Maria Manuela Gomes
 
 
 
Naquele quarteirão, na Rua de Sá da Bandeira, 261-281, ficava a Casa Forte, praticamente, fronteiro aos bazares Paris e Londres (agora uma loja de telemóveis).
 
 
 
 

Confluência da Rua de Sá da Bandeira e Rua Formosa, junto do Mercado do Bolhão, observando-se a primitiva Casa Forte
 
 
 
 
A Casa Forte haveria de expandir a sua primitiva loja e a sua actividade para outros espaços contíguos, a montante e a jusante da Rua de Sá da Bandeira.

 
 

Casa Forte observando-se, a meio da foto, a entrada (por um arco) pela Rua de Sá da Bandeira para a Travessa da Rua Formosa

 
 
 

Publicidade à “Casa Forte”, In semanário “Maria Rita” em 30/04/1932

 
 
 
Pelo anúncio anterior, podemos observar que a “Casa Forte” tinha, à data, uma filial na Rua de Santa Catarina.
A velha Casa Forte fechou em 2004. É uma memória de um Porto de outros tempos mais, propriamente, desde a década de 20 do século XX, dedicando-se ao comércio de confecções e vestuário, e de malas e carteiras.
A Casa Forte, "forte nos sortidos, fraca nos preços" (era o slogan), chegou a abrir uma outra loja, mas de artigos de desporto e campismo, na Travessa da Rua Formosa (ligava a Rua de Sá da Bandeira à Rua Formosa), próxima da loja mãe, praticamente nas suas traseiras, que era o único troço restante da antiga Viela da Neta.


 
 

Casa Forte e, na esquina, a Ourivesaria do Bolhão, em 2004
 
 
 
Um outro estabelecimento, de nome “Lã Maria”, era uma espécie de “tem tudo para o lar” e, ainda, apresentava um grande sortido de lãs, numa altura em que os centros comerciais e as grandes superfícies eram uma miragem. Acabaria por ficar no imaginário de muitos portuenses, tendo pertencido a uma família conhecida da cidade – Os Aires Pereira.
Antes, no local onde esteve a “Lã Maria”, tinha estado o alugador de trens ou alquilador Raimundo dos Santos Natividade.
De comum, tanto a Casa Forte como a “Lã Maria”, tinham traseiras para a Travessa da Rua Formosa, como foi dito, já extinta.
 
 
 

“Casa Forte” - secção de campismo, à esquerda na Travessa da Rua Formosa – Ed. “carlaeangelo.blogspot.pt/”

 
 
 

Travessa da Rua Formosa com a sua entrada pela Rua de Sá da Bandeira, já entaipada – Ed. J Portojo

 
 
Na foto acima, observa-se a entrada da Travessa da Rua Formosa, já entaipada e, à direita, já encerradas, as instalações da Casa Forte que iam, para montante, até à Ourivesaria do Bolhão situada na esquina das ruas de Sá da Bandeira e Formosa.


 

Na esquina era a Ourivesaria do Bolhão, a que se seguiam, no sentido descendente, as diversas lojas da “Casa Forte”, na Rua de Sá da Bandeira - Ed. “portosombrio.blogspot.pt”
 
 
 
 

Fachada do prédio, onde esteve a “Lã Maria”, voltada para a Rua Formosa
 
 
 
 

À esquerda, a entrada na Travessa da Rua Formosa pela Rua Formosa, junto da Lã Maria - Fonte Google Maps
 
 
 
 
À direita, na área delimitada pelo taipal, era o prédio da “Lã Maria”



A fachada, voltada para a Rua Formosa, do prédio dos Armazéns Lã Maria abandonado desde do fim da década de 70 do século XX,  seria alvo de uma derrocada, em 5 de Outubro de 2009, pelas 23 horas.

 
 

Derrocada do prédio, à direita, que tinha albergado a “Lã Maria” – Ed. Álvaro Vieira; Jornal Público
 
 
 
“Ali mesmo, junto a Sá da Bandeira, em frente ao palacete do Conde do Bolhão, o que resta há uns largos meses do que já foi uma das lojas que atraía muita gente à rua Formosa.
No primeiro andar existiam, nos anos sessenta consultórios médicos, entre os quais o do Doutor Celestino Maia. 
Ah! o nome diz-vos qualquer coisa, bem me parecia. Talvez o nunca tenham visto mas era o autor do livro de Geologia que se usava no ensino liceal a partir do terceiro ano, se não me engano. Também era o médico das Caldas do Gerez. 
Como ainda tenho algumas recordações deste médico e professor, aqui hei-de deixar mais algumas linhas mais tarde.
Sobre a "Lã Maria" tenho a impressão que nunca lá entrei, mas há sete ou oito anos encontrei um antigo empregado desta casa comercial que me contou que nas caves do dito edifício existiam longas passagens subterrâneas que levavam a um rio subterrâneo. Será verdade? Será aquele ribeiro que descia ali pela rua do Bonjardim, que passava perto da Cancela Velha?”
Com a devida vénia a Teo Dias, administrador de “ruasdoporto.blogspot.pt” (4 Novembro de 2012)
 
 
Muitos portuenses que eram jovens, em meados do século XX, ainda se lembram de apreciar a cascata de S. João da loja Lã Maria, que ocupava duas ou três montras e tinha um comboio eléctrico a circular.
Sobre a “Lã Maria” e, também, sobre a sua cascata Sanjoanina, é o texto que se segue.
 
 
“Atravessando a Rua Sá da Bandeira em direcção ao Bonjardim temos a popular lojas de miudezas, tecidos e artigos de borracha a “Lã Maria”.
Estabelecimento que toda a população do Porto e arredores conhece. Como devoção, na quadra das festividades Sanjoaninas, numa das montras, já por anos, era armada uma cascata, com figuras, em movimento onde além do S. João estão os diversos motivos da vida, quotidiana do Porto e dos concelhos limítrofes.
Na decoração não faltavam aquelas figuras, típicas do dia-a-dia da cidade do Porto: os carros puxados por bois; o aguadeiro; a figura do Zé Povinho, imortalizada pelo Bordalo Pinheiro; as noras de retirar água dos poços circundada pelo piso circular que o boi ou a vaca “pachorrentamente”, através da força bruta, do poço, fazia trazer os baldes, amarradas a correntes, transbordando a água cristalina do fundo do poço até ao tabuleiro que ligado a um rego riscado no meio do milheiral ou batatal.
Essa bênção da água fazia dos campos jardins verdes nos arrabaldes do Porto. Magotes de pessoas, todos os dias, admiravam a montra decorada da “Lã Maria” e, tradicionalmente, já nas orvalhadas da madrugada da noite do alho-porro, manjerico e da cidreira, antes de o tripeiro recompor as energias despendidas durante a noite de folia, muitos destes, depois da tigela de caldo verde, com a tora de chouriço, nas barracas de comes e bebes das Fontainhas ou numa outra tasca encontrada no caminho, antes de se acomodar, ainda passava pela Rua Formosa e, já de olhos piscos, olhava a montra da “Lã Maria”.
Cortesia: José Martins in “lusosucessos.blogspot.com”

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