sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

25.266 A propósito da actividade teatral portuense

 
Seiva Trupe
 
 
A Seiva Trupe – Teatro Vivo, CRL é hoje uma cooperativa, oficialmente fundada a 11 de Setembro de 1973, enquanto ‘sociedade artística’ (figura jurídica entretanto desaparecida) por António Reis, Estrela Novais e Júlio Cardoso, na cidade do Porto, onde à data, como única companhia de teatro profissional com actividade contínua, só existia o Teatro Experimental do Porto.
Um dos seus espectáculos mais vistos pelos portuenses ocorreu num espaço (um prédio bem antigo) cedido pela Câmara Municipal do Porto para exibições da companhia teatral, sito, à Rua do Campo Alegre.
 
 
“O ano de 1982 foi assinalado com a estreia do espetáculo “Um Cálice do Porto”, um texto de Benjamim Veludo, Manuel Dias e Norberto Barroca, resultado de uma experiência de café-concerto e do reavivar da tradição da Revista à Portuguesa, tratada com inovadores cânones. Este espetáculo, voltado para a História e costumes do Porto, esteve em cena 2 anos com lotações esgotadas, sendo um dos maiores êxitos da Companhia (e de Portugal), que projectou e consolidou a sua popularidade. E muito embora se aproximasse de um teatro mais ‘ligeiro’, nem com este, nem com outros espetáculos, a Seiva Trupe se afastaria da ideia permanente de cumprimento de um Serviço Público Cultural, onde de par com a criação de Arte, estivesse subjacente um projeto pedagógico de captação, fixação e formação dos públicos”.
Fonte: seivatrupe.pt



 

Cartaz de “Um Cálice de Porto”
 


Saída a Companhia da Rua do Campo Alegre, tomou morada e actuou na Sala do Povo Portuense, na esquina das ruas do Paraíso e de Camões.
 
 
 
 

Cooperativa do Povo Portuense, anunciando um espectáculo da Seiva Trupe
 
 
 
Seguiu-se o Auditório Nacional Carlos Alberto.
Finalmente, quando era presidente da Câmara Municipal do Porto Fernando Gomes e Santana Lopes, Secretário de Estado da Cultura, em 1997, é inaugurado o Teatro do Campo Alegre e a Seiva Trupe passa a ser a companhia teatral residente.
A Fundação Ciência e Desenvolvimento, então formada, em 1995, passou a gerir o Teatro do Campo Alegre, o Planetário (anexo) e, ainda o Pavilhão de Água, presente na Expo 98.
O Teatro do Campo Alegre trata-se de um edifício sito na Rua das Estrelas, junto ao Campus Universitário do Campo Alegre.
Arrancou com um Grande Auditório de 378 lugares, um Café-Teatro de 120 lugares, Sala-Estúdio de 60 lugares e Cine-Estúdio de 70 lugares, apoiado por foyer, livraria e BAR.
Por ali, anos a fio foram apresentados pela Seiva Trupe espectáculos memoráveis, inúmeros e inolvidáveis êxitos, no mesmo espírito e timbre das raízes da Companhia.
Relembra-se a abertura do Teatro do Campo Alegre com “O Trapezista Azul”, texto do autor portuense Mário Cláudio, propositadamente escrito para o efeito, com estreia em 1997.
 
 
 
“Porém, em 2013, num processo muito polémico, aquando da presidência de Rui Rio na CMP, a Seiva Trupe é despejada do Teatro a que ela mesma dera origem. Actualmente, já com Rui Moreira na presidência da Câmara, este processo encontra-se encerrado por decisão da novel Direção Artística de Castro Guedes, convidado para tal pelo próprio Júlio Cardoso. A saída forçada da Seiva Trupe daquele Teatro tornou irrecuperável mais de metade do acervo de guarda-roupa, cenários e até documentação, tudo depositado num armazém da PSP, entre outros danos, morais e de perda de públicos. Estes, muitas veze não sabiam sequer onde ‘encontrar-se’ com a ‘sua’ Seiva Trupe.
É neste quadro que só em finais de 2021 se poria cobro à degradação que a situação provocara, graças à instalação de residência da estrutura, por protocolo com o Centro de Caridade de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro (cuja designação, ainda que não finalizada do ponto de vista formal, passou a ser Perpétuo Educação e Cultura), que a recebe de braços generosamente abertos. E para o qual, muito por intervenção directa da Seiva Trupe, a CMP, na figura do seu Presidente, Rui Moreira, se comprometeu a fazer obras de adaptação e dotação orçamental de custo nada despiciendo”.
Fonte: seivatrupe.pt
 
 
 
 

Teatro Municipal do Porto – Campo Alegre
 
 
 
Rui Rio baseou o despejo da Seiva Trupe, acima referido, “na falta do pagamento das prestações devidas, no âmbito do contrato de cedência das instalações do Teatro Campo Alegre”.
Os anos seguintes, foram de degradação do acervo da companhia sob vários aspectos.
Desde que, Júlio Cardoso, nos finais de 2018, convidou Castro Guedes para lhe suceder na Direcção Artística da Seiva Trupe – Teatro, este passou, de jure et de facto, a desempenhar funções em 2 de Abril de 2019.
O futuro da Seiva Trupe passou a acontecer na Sala Estúdio Perpétuo, na Rua de Costa Cabral, 128.
 


Sala Estúdio Perpétuo
 
 
 
Foi na Sala Estúdio Perpétuo que a Seiva Trupe se apresentou pela primeira vez no Dia Mundial do Teatro, a 27 de Março de 2022. E onde, uma vez concluído o processo de remodelação e dotação de equipamento de ponta, vai transformar-se no mais bem equipado e apetecível espaço cultural na chamada Zona Alta do Porto.
Neste ano de 2022, faleceu António Reis, um dos fundadores da instituição e do FITEI – Festival de Teatro de Expressão Ibérica.
Destaque-se que recebeu as distinções de Medalha de Mérito Cultural da Cidade do Porto, o Prémio Prestígio da Casa da Imprensa e o Grau de Comendador da “Ordem do Infante Dom Henrique”.
 
 
 
 
 
Pé de Vento
 
 
Foi fundada em Julho de 1978, a Companhia de Teatro Pé de Vento.
São seua fundadores, entre outros, João Luís, Maria João Reynaud, José Martins, Luís Miguel Dias, Manuel António Pina e Manuel Dias da Fonseca.
Na primeira actuação foi levado à cena o Ventolão de Manuel António Pina.
Desde a sua fundação que o Pé de Vento alicerçou a sua direcção artística num núcleo impulsionador, constituído pelo encenador João Luís, pela dramaturgista Maria João Reynaud e pelo escritor Manuel António Pina.

 
 
O Ventolão
 
 
Devido à perda do subsídio usufruído durante dez anos, em 1987, a companhia vai abandonar as instalações que ocupava, a título precário, na Rua do Heroísmo.
Sempre procurando instalações próprias, finalmente, em Outubro de 1996, na sequência de um protocolo de 5 anos, com a Junta de Freguesia de Aldoar, a companhia fixou a sua actividade no Teatro da Vilarinha, num conhecido edifício, na Estrada da Circunvalação, que há mais de cem anos funcionou como posto fiscal onde era cobrado o Real d’Água, nome popular porque ficou conhecida a taxa de entrada de mercadorias na cidade.
 
 
 
 

Teatro da Vilarinha, em 2018 – Fonte:Google maps
 
 
 
 
“Num sintético balanço do trabalho desenvolvido em 22 anos, de 1996 a 2018, registámos que o Pé de Vento recebeu 185. 000 (cento e oitenta e cinco mil) espectadores nessa sala de 106 lugares, num total de 2.310 representações. Para atingir estes números, o Pé de Vento levou à cena 78 criações, com 41 espectáculos em estreia absoluta, a maioria dos quais em resultado de encomendas feitas a autores portugueses. Para além das criações e produções próprias, a equipa do Pé de Vento proporcionou a 89 grupos profissionais e não-profissionais as condições técnico-artísticas de que a sala dispunha para apresentarem os seus espetáculos, fossem eles de teatro, de música ou de dança”.
Fonte: pedevento.pt


 

“O Adamastor” - ESTREIA Fevereiro 1998, Teatro da Vilarinha – 66 representações; 6390 espectadores
 
 
 
 
Nos 25 anos da Companhia, comemorados em 2003, a Câmara Municipal do Porto atribuiu ao Pé de Vento a Medalha de Mérito – Grau Prata.
No final do ano de 2013, pelo Despacho n.º 16789/2013 publicado no Diário da República, 2ª Série, nº 251 de 27 de Dezembro de 2013, o Coletivo de Animação Teatral Pé de Vento foi reconhecido como Instituição de Utilidade Pública.
Em 2018, a Companhia de Teatro Pé de Vento recebeu ordem de despejo do Teatro da Vilarinha, argumentando a Junta de Freguesia, da necessidade de adequar o funcionamento do espaço a novos tempos.
O Teatro da Vilarinha encerrou as suas portas no dia 28 de Outubro de 2018, com uma representação de “O Pássaro da Cabeça”, de Manuel António Pina.
Desde então, as instalações encontram-se encerradas.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

25.265 O Curso de Música Silva Monteiro (CMSM)

 
Maria José da Silva Monteiro (1892-1973), Ernestina da Silva Monteiro (1890-1972) e Carolina da Silva Monteiro (1889-1948), netas de António da Silva Monteiro (visconde e conde Silva Monteiro) e filhas de José da Silva Monteiro, querendo homenagear a memória de seu avô, fundaram uma escola de música que começaria por funcionar numa residência da família, na Avenida da Boavista, n.º 881, em prédio que, em 2025, ainda existe, embora devoluto.
 
 
 

Aqui, começou a funcionar a Escola de Música Silva Monteiro – Fonte: Google maps
 
 
 
Quando jovens, as três irmãs tiveram uma educação esmerada, na qual a música teve um papel central.
Dos seus professores destaca-se a presença de Óscar da Silva, notável compositor e pianista e, ainda, de Virgínia Suggia, pianista e irmã da violoncelista Guilhermina Suggia.
As suas aulas de piano começaram em 1900 e, em 1901, já se apresentavam em muitas soirées na Quinta da Lavandeira, em V. N. de Gaia.
Em 13 de Abril de 1913, como discípulas de Óscar da Silva actuam no Salão de Festas do Jardim Passos Manuel.
Em sequência, resolveram, em 2 de Março de 1928, fundar uma escola privada para o ensino da música – O Curso Silva Monteiro.
Inicialmente, o curso arrancou com três alunas; Ana Maria Braga, Bernardina Braga e Rosa Dâmaso Braga.
Pouco depois, outras alunas se juntariam.


 
 

Grupo de alunos do Curso de Música Silva Monteiro, c. 1933 - Fonte: revista “O Tripeiro”, 7.ª série, ano XXII, Março 2003
 
 
 


 
 
 
Em 1 de Junho de 1932, acontece a apresentação das suas discípulas em casa de José António Forbes de Magalhães.
No ano lectivo de 1936/37, começam a funcionar os cursos infantis, dirigidos por Maria José Silva Monteiro.
Em 1940, começa um intercâmbio escolar com o Conservatório Nacional, situação que se manterá ao longo do tempo.
Em 1943 e 1944, acontecem a 1.ª Sessão Cultural e a 2.ª Sessão Cultural, respectivamente, sessões que se repetiriam ao longo dos anos.
Em 1948, morre Carolina Silva Monteiro que, em 1946, tinha sido nomeada professora de Acústica e História da Música no Conservatório de Música do Porto.
Em 12 de Maio de 1953, a Câmara Municipal do Porto haveria de agraciar o Curso Silva Monteiro com a medalha de mérito (ouro).
No dia 1 de Dezembro de 1953, no Salão Nobre do Ateneu Comercial do Porto, durante um concerto musical, foi prestada uma homenagem  a Ernestina e Maria José Silva Monteiro. 
Para além de Óscar da Silva, outras personalidades estiveram ligadas à escola como Guilhermina Suggia (com quem Ernestina Silva Monteiro actuou), Cláudio e Catarina Caneyro, Campos Coelho, Ivo Cruz, Berta Alves de Sousa e muitos outros.
Entre os alunos, alguns se destacariam como pianistas: Fernanda Wandschneider, Isabel Hitzmann, Maria José Sousa Guedes, Miguel Graça Moura.
Em 1968, acontece o 1.º Concurso Musical Santa Cecília que, em 2009, passará a ter âmbito externo e, em 2018, durante a sua 20.ª edição, se comemorarão os 90 anos da Escola.
Em 1973, por decisão de Maria José da Silva Monteiro e Ernestina da Silva Monteiro, a escola foi legada a três das suas mais antigas alunas: Maria Teresa Matos, Maria da Conceição Caiano e Fernanda Wandschneider, passando, desde então, a chamar-se Curso de Música Silva Monteiro.
Ernestina da Silva Monteiro foi grande amiga de Guilhermina Suggia e frequentemente acompanhava-a em suas actuações.
Por isso, no seu testamento, esta grande violoncelista dispôs: 

 

“À excelentíssima Senhora Dona Ernestina da Silva Monteiro, professora de piano, residente na Praça Mouzinho de Albuquerque, n.º 69 desta cidade, lego o meu piano de cauda “Franz Arnold”, que se encontra no salão de minha casa”.
 

O piano, que foi legado, apresentava a etiqueta “Domingos Barreira – Oporto Rua da Fábrica”, uma conhecida casa editora.
Ernestina da Silva Monteiro, por sua vez, deixou este piano a Maria Fernanda Wandschneider, a sua aluna preferida.


 
 
Piano de Guilhermina Suggia - Cortesia de Luís Cabral, bibliotecário-arquivista


 

Em 1975, o Curso de Música Silva Monteiro, passa a ministrar o ensino de outros instrumentos para além do piano, ou seja, violino, violoncelo, flauta e canto.
Nesse ano, a direcção pedagógica fica sob a responsabilidade de Maria Margarida Teixeira, em 1979, de Sofia Noronha Matos e, em 1989, de Maria Fernanda Wandschneider. Em 1991, aquela tarefa passa a ser desempenhada por Maria da Conceição Caiano, mas, em 1993, volta para a alçada de Maria Fernanda Wandschneider.
Muitas outras personagens se vão sucedendo naquele cargo.



Sedes do Curso Silva Monteiro - Fonte: revista “O Tripeiro”, 7.ª série, ano XXII, Março 2003
 
 
 
Actualmente, caminhando em direcção às comemorações do seu centenário, o Curso de Música Silva Monteiro, ocupa um prédio na Rua Monsenhor Fonseca Soares, 137.
 
 
“O Curso de Música Silva Monteiro distingue-se, ainda, pelo número significativo de parcerias e protocolos estabelecidos com Escolas (incluindo agrupamentos TEIP), Universidades e Instituições, permitindo à comunidade escolar uma grande interação entre as diversas instituições, contacto com profissionais e apresentações em diversos locais, destacando-se o Rivoli Teatro Municipal nos projetos de final de ano. Uma das parcerias mais significativas, estabelecida em 2010 com a Fundação Porto Social, permitiu, através do Projeto Música para Todos, o alargamento do ensino da música a alunos de contextos sociais desfavorecidos (dos Agrupamentos TEIP do Cerco e Viso) e a criação da Orquestra Juvenil da Bonjóia, que se apresenta regularmente no Rivoli Teatro Municipal e da qual fazem parte todos os alunos de cordas e sopros do CMSM. Fruto de uma relação institucional contínua desde há já largos anos, o Curso de Música Silva Monteiro e a Câmara Municipal do Porto iniciaram em 2010, a título experimental, o I Ciclo de Recitais da cidade do Porto, no Museu Romântico da Quinta da Macieirinha e no Palacete Viscondes de Balsemão. Em 2011/2012, este ciclo (mensal) conheceu a sua 2.ª edição e alargou-se a mais um espaço: a Quinta da Bonjóia. Os Ciclos de Recitais têm como finalidade promover uma atividade musical de excelência regular nestes espaços, com uma abordagem interdisciplinar que melhor permita visionar e fazer dialogar a música com os espaços em que é apresentada.
O Curso de Música Silva Monteiro promove também o Concurso Internacional Santa Cecília. Este concurso, que integra o Ciclo Novos Talentos, decorre no Teatro do Campo Alegre, onde se apresentam os laureados da Categoria A do Concurso”.
Fonte: dgartes.gov.pt

terça-feira, 14 de janeiro de 2025

25.264 Escolha do local na cidade para a construção da estação terminal da linha do Norte e construção da Ponte Maria Pia

 
À data do lançamento da primeira pedra da linha do Minho, em S. Roque, em 12 de Julho de 1872, continuava sem ser decidido o local da estação terminal no Porto, o que só aconteceria no último dia desse ano.
Para esse efeito, um primeiro projecto da autoria de Eusébio Page seria apresentado em 11 de Fevereiro de 1861, pela “Companhia Real dos Caminhos de Ferro Portugueses”, empresa que substituíra uma outra, a “Companhia Central Peninsular dos Caminhos de Ferro em Portugal”, que tinha sido formada para a construção do caminho-de-ferro de Lisboa até à fronteira de Espanha, passando por Santarém, mas que acabaria por falir.
José Salamanca, empresário, capitalista, banqueiro e político espanhol, com uma actividade de anos como construtor da via-férrea de Espanha, propõe-se retomar os projectos que se encontravam suspensos em Portugal, tutelados por aquela Companhia Real.
Para o atravessamento do rio Douro, na proposta referida, seria necessário que, à saída da estação das Devesas, deveria ser feito um túnel que atravessaria a Serra do Pilar e, por intermédio de uma ponte em ferro de 9 vãos, 27 metros acima do nível da baixa-mar, seria atingido o Esteiro de Campanhã, onde ficaria a estação ferroviária, entre a foz dos rios Torto e Tinto. Daqui, seria feita uma ligação às linhas do Minho e do Douro.
O túnel referido chegou a ser construído, mas nunca entrou em funções.
 
 

Túnel em Gervide (V. N. de Gaia)
 
 
 
O túnel da gravura acima, uma obra a cargo de um engenheiro-chefe de seu nome Jaubert, foi começado a construir em 6 de Março de 1861 e concluído em 24 de Outubro de 1862, para passagem do comboio de V. N. de Gaia para o Porto, mas nunca entraria em funcionamento, sendo substituído por um outro construído ao seu lado.
Inicialmente, esse túnel faria parte do trajecto da linha do Norte que ligaria ao lugar da Pedra Salgada, onde seria construída uma ponte para atravessamento do rio Douro, de ligação ao esteiro de Campanhã. Tudo ficou sem efeito, pois foi decidido que o atravessamento do rio se fizesse, a uma cota mais elevada, pela que veio a ser a ponte Maria Pia.
Mais tarde, o túnel foi aproveitado para cave dos vinhos da Real Vinícola.

 
 
Conclusão do Túnel de Gervide – Fonte: "Jornal do Porto" de 24 de Outubro de 1862






Esteiro de Campanhã

 
 

Ponte de madeira sobre o rio Torto, ao Esteiro de Campanhã, reconstruída após um temporal ocorrido na década de 1930
 
 
 
 
Dada a distância considerável do centro do Porto, a que ficaria uma estação no Esteiro de Campanhã, a solução não avançaria, apesar de algumas poucas intervenções efectuadas.
Surge, então, uma segunda hipótese que propunha para a edificação da estação, a zona das Fontainhas ou do Prado do Repouso.
Nesta hipótese, a partir das Devesas o percurso seria feito até à Pedra Salgada, sendo o rio atravessado por uma ponte 27 metros acima do nível da maré-cheia, a que se seguiria um viaduto sobre o vale do rio Torto até à aldeia do Pego Negro, onde ligaria directamente à solução proposta para a estação.
Como as expropriações seriam imensas, o projecto não vingaria. Acresce o aparecimento de um diferendo entre o Governo e a empresa construtora sobre o atravessamento em via dupla pela ponte que uniria as duas margens, hipótese que José Salamanca rejeitava.
Após uma intervenção de um tribunal arbitral e de outras negociações, é acordado que a concepção da ponte, com possibilidade de introdução futura de uma 2ª via, seja abandonada e é fixado que a estação fique no Campo do Cirne.

 
“O espaço em questão era, até 1880, um imenso território dividido a meio pela estrada de Campanhã (Rua de Reimão/ 29 de Setembro/Heroísmo), pertença dos mesmos proprietários da Quinta do Fragoeiro (…).
O Campo do Cirne, com os seus extensos terrenos ao sul do Campo de Mijavelhas, até ao Prado do Bispo e à Quinta da Fraga, eram da quinta do Reimão, pertença da família Cirne de Madureira desde pelo menos o século XVI. Esta quinta de dimensões assinaláveis permanecia por urbanizar sete anos depois da chegada do primeiro comboio a Campanhã, sendo naturalmente um lugar apetecível para o efeito”.
Cortesia de Jorge Ricardo Pinto – In “O Porto Oriental no final do século XIX”

 
 
Em Maio de 1864, já alguns proprietários de terrenos, no Campo do Cirne, procuravam transaccioná-los, tendo em consideração a estação ferroviária projectada para o local.
 
 
 

In jornal "O Commercio do Porto" de 23 de Maio de 1864
 
 
 
Nesta solução, seria então no Campo do Cirne, atravessado pela Estrada de Campanhã, que seria realizada a ligação às linhas do Douro e Minho, tentando ainda aproveitar-se algum do trabalho já feito, anteriormente.
Estávamos em 8 de Novembro de 1869. Porém, os diferendos entre as partes envolvidas continuaram.
É, por fim, apresentado ao governo uma nova solução da autoria de Manuel Afonso Espregueira, Pedro Inácio Lopes e Gustav Eiffel, em 31 de Dezembro de 1872.
Então, tudo se mantinha até ao Alto da Bandeira, junto a General Torres. O percurso seguinte era feito através de um túnel de 200 metros e, na margem elevada do rio, em frente ao Seminário, seria lançada uma ponte metálica de 355 metros, à altura de 62 metros acima do nível da baixa-mar.
Na margem direita do rio, por intermédio de um túnel no Seminário e outro na Quinta da China, alcançava-se o local da estação terminal, em terrenos da Quinta do Pinheiro, razão pela qual a estação ferroviária se começou por chamar Estação do Pinheiro de Campanhã.
Esta estação terminal para a linha do Norte, também o seria para as linhas do Minho e do Douro.
Começaria, então, o processo da sua construção, a cargo da Companhia Real dos Caminhos de Ferro Portugueses.

 
 
“Entretanto, em 25 de Junho de 1873 a Companhia apresentou ao governo o projecto para a estação do Porto, que foi aprovado. Este projecto assumia desde já que aquela interface seria comum tanto à Linha do Norte como à rede do Minho e Douro. A Companhia alertou nessa altura que não podia ficar à espera de uma resolução que talvez nunca viesse, uma vez que assim poderia correr o risco de não ter uma estação no Porto quando a linha estivesse concluída. Assim, o governo e a companhia entraram em acordo para que as obras da estação começassem em 15 de Setembro do mesmo ano, devendo ser pagas por conta da empresa, e fiscalizadas pelo engenheiro director da construção do Caminho de Ferro do Minho. Em 15 de Maio de 1874, como ainda não se tinha legalizado o acordo proposto em Fevereiro de 1873, o governo decidiu tomar conta das obras da estação, dirigidas pelo director de construção do Minho, e sem interferência por conta da Companhia Real. Desta forma, a estação passou a ser propriedade do estado em vez de privada, marcando-se para mais tarde quais as condições em que iria servir como terminal da Linha do Norte. Em 16 de Janeiro de 1875, foi proposto um novo projecto de lei que modificava a concessão, que foi convertido em lei logo em 26 de Fevereiro, tendo o contrato com a Companhia Real sido assinado em 6 de Março, e no mesmo dia foi também aprovado o projecto de conclusão da Linha do Norte”.
Fonte: pt.wikipedia.org
 


 
Alteração ao projecto da Estação de Campanhã, em 1874




 

Túneis atravessando o Monte do Seminário

 

 
Em 3 de Fevereiro de 1875, é celebrado o contrato com a casa Eiffel Constructions Métalliques, de Paris e, em 4 de Novembro de 1877 é, por fim, inaugurada a ponte Maria Pia com a presença do casal real que, nessa manhã, assistiram a uma missa na capela de Carlos Alberto, ao Palácio de Cristal, honrando deste modo a rainha a memória do seu avô – o rei Carlos Alberto.
Em 31 de Outubro de 1877, a ponte para a travessia ferroviária do rio Douro estava concluída e o director da linha do Minho e Douro, engenheiro Augusto César Justino Teixeira (1835-1923), associava-se à festa, pois aquela direcção tinha acompanhado as obras finais da Estação de Pinheiro de Campanhã, inauguradas em 1875.
 
 
 
Publicidade à Estação do Pinheiro de Campanhã, em 3 de Novembro de 1877
 
 
 
Chegada, então, a comitiva real, ao Porto, em 3 de Novembro de 1877, por aqui ficaria até ao dia 9 de Novembro, com um programa que, para além da inauguração da travessia do Douro e da Estação de Campanhã (que já vinha funcionando, desde há cerca de dois anos, tendo sido inaugurada em 21 de Maio de 1875), teve ainda associado diversos aspectos lúdicos, entre eles se destacando as corridas de cavalos acontecidas no Hipódromo de Matosinhos.

 
 
 

Notícia da chegada do casal real à Estação das Devesas para presidirem à inauguração da ponte Maria Pia - In jornal “O Comércio do Porto” de 4 de Novembro de 1877
 
 
 
O projecto da ponte é do Eng.º Théophile Seyrig. O Início de construção ocorreu a 5 de Janeiro de 1876 e a conclusão da obra foi a 31 de Outubro de 1877.
Foi inspirado nesta ponte que, anos mais tarde, em França, seria lançado o célebre viaduto Garabit.

 
 

Construção da ponte Maria Pia, observando-se no cimo do monte o antigo edifício do Seminário Maior, ainda em ruínas, fruto das lutas do Cerco do Porto, em 1833



 

Construção da ponte Maria Pia, em processo de conclusão dos trabalhos

 
 
 

Construção do viaduto do caminho-de-ferro para acesso da estação das Devesas, em Vila Nova de Gaia, à ponte Maria Pia, em 1876


 
 

Estação de Campanhã, no início do século XX
 
 
 
 
 
Necessidade de adequar a Ponte Maria Pia ao desenvolvimento do transporte ferroviário
 

 
Inaugurada a Ponte Maria Pia, desde logo se observou que haveria de melhorar o seu funcionamento.
Assim, começou por ser lamentar a ponte não ter via dupla e, para além disso apresentava algumas fragilidades: a reduzida largura (3,10 m) e interrupção das vigas principais no fecho do arco e a sua extraordinária leveza, que embora tenha facilitado a sua construção, impedia leituras topográficas em provas de carga.
Com 20 anos de idade, a ponte preocupava os técnicos. Assim sendo, em 1890, foi criado em Ovar, uma oficina de Obras Metálicas destinada a apoiar os trabalhadores na manutenção da ponte, cujos trabalhos ocorreram entre 1900 e 1906. A ponte exigia, à data, restrições de carga e velocidade: 14 ton/eixo e 10 km/h.
Em 1909, a ponte foi inspeccionada por um técnico francês – Eng.º Manet Rabut.
Em 1916, foi criada uma comissão para estudar a implantação de uma 2.ª via.
Em 1928, após cerca de 50 anos sobre a inauguração da travessia ferroviária do rio Douro, começa a colocar-se a hipótese de construção de uma segunda ponte.
Entretanto, tinha sido eliminada a junta entre os carris, soldando-os, e que elevou a velocidade para 20 km/h e as cargas foram elevadas até 17,5 ton/eixo.


 

Ponte Maria Pia, antes da abertura da marginal entre o Freixo e a Ribeira
 
 
 
 
Os projectos sucederam-se, agora para substituição da velha ponte: construção de uma nova de via dupla e eixo rodoviário (em betão ou metálica?); construção de ponte metálica (tabuleiro superior rodoviário e inferior ferroviário). O costume.
Em 1963, já tinha sido construída a Ponte da Arrábida e a situação não se alterava.
Entretanto de reforço em reforço, apesar da manutenção da velocidade em 20 km/h, a carga passa a 20 ton7eixo.
Em 1976, finalmente, é aberto concurso para nova ponte, utilizando o cimbre da Ponte da Arrábida. Das seis propostas apresentadas, cinco sugeriam variantes. Novo adiamento.
Em 1982, a Ponte Maria Pia é declarada Monumento Nacional.
Em 1983, aberto novo concurso internacional, vai ter financiamento do Banco Europeu de Investimentos.
Em Maio de 1991, terminaria a construção da Ponte S. João, em projecto do Eng.º Edgar Cardoso.
A Ponte Maria Pia, é abandonada e, assim se encontra, decorridos que são já trinta e quatro anos.
 



Cronologia de algumas intervenções importantes nos caminhos-de-ferro
 
 
 
Cronologia inserida em editorial - In jornal “O Comércio do Porto” de 4 de Novembro de 1877
 
 
 


Fonte: “pt.wikipedia.org/wiki/”

 
 


 
 

sexta-feira, 10 de janeiro de 2025

25.263 Hotel Porto Mar e Central Hotel

 
Na sua obra publicada em 1876, com o título de “As Praias de Portugal – Guia do Banhista e do Viajante”, Ramalho Ortigão faz uma referência a uma estátua de Passos Manuel que se encontrava na denominada Alameda de Matosinhos e, ainda ao Hotel de Mathosinhos que por aí também se encontrava, e que tinha sido inaugurada em 24 de Agosto de 1864.
 

 
Texto de Ramalho Ortigão referindo o Hotel de Mathosinhos


 
 
Passos Manuel na Alameda de Matosinhos, em 1905
 
 

 
Em 1888, o Hotel de Matosinhos já era propriedade do empresário espanhol Francisco Ariz, que também era o dono do Hotel Leixões e do Restaurante Ariz, em Leça da Palmeira.
Em 1904, o Hotel de Matosinhos passa a funcionar na Rua Brito Capelo, n.º 19, com propriedade repartida entre José Alves de Brito e Francisco Xavier Gouveia, proprietários também do Café Central que lhe era contíguo.
Assim, mais tarde, entre 1908 e 1909, o Hotel de Matosinhos passaria a Central Hotel aproveitando-se do nome do tal café.


 
 
À esquerda, na Rua de Brito Capelo as instalações do Café Central e as primitivas instalações do Central Hotel (antes, Hotel de Matosinhos)
 
 
 
Na foto acima, à direita, observa-se a residência da família Costa Braga que, mais tarde, albergaria a Associação Empresarial de Matosinhos que, ainda, nos dias de hoje, tem a sua sede naquele prédio, dividindo instalações com a Universidade Florbela Espanca.
Por lá esteve, também, a Escola Comercial da Associação e a Biblioteca de Matosinhos.

 
 
Publicidade ao Hotel de Matosinhos em 1908



 
Publicidade ao Central Hotel, em 1909
 
 
 
Entre os dois anúncios anteriores terá acontecido, então, a mudança de denominação da unidade hoteleira.
Entretanto, desde há anos que o Café Central também vinha funcionando como casino, com e sem jogo.
 
 
 
Publicidade ao Café Central, em 1914
 
 
 
A firma que explorava o Central Hotel e o Café Central passaria por volta de 1916 a ser detida por Thomaz Alves, mas, antes, ainda foi “Melo, Braga & Barbosa”.
É, então, levado a cabo o levantamento de novas instalações que apregoavam a Belle Époque, com influências da Art Nouveau.
 
 
 
Central Hotel completamente renovado
 
 
 
Publicidade ao Central Hotel, em 1916
 
 

Sala de refeições do Central Hotel

 
 

À esquerda, o Central Hotel



Eléctrico com atrelado, c. 1920, na Rua Brito Capelo, vendo-se à esquerda o Hotel Central com as suas características varandas - Colecção de Ernst kers
 
 
 
Ainda, antes de 1927, Alberto Emídio Midões conhecido anti-fascista de Matosinhos, comerciante, militante no Partido Comunista Português, foi proprietário do Central Hotel. Faleceu em 1946 e teve uma vida de muitos anos de foragido, deportado e preso, com diversas evasões no curriculum.

 
 
“(…) durante a Ditadura Militar, pedido "a um pedreiro para fazer um quarto falso", "no qual ele sempre se escondia quando se perspectivava a sua prisão (além do pedreiro que o fez e do seu amigo e barbeiro Miguel Garcia, seus companheiros de Partido, ninguém mais sabia da existência desse quarto secreto)".
Cortesia de José Rodrigues
 
 
 
 
A 14 de Janeiro de 1927, a polícia cercou o hotel para prender José Júlio da Costa, o autor do atentado contra o Presidente da República Sidónio Pais, depois de andar foragido durante 6 anos.
 
 
 
 
 
Central Hotel e desfile de gado pela Páscoa
 
 
 
 
Na foto anterior, segundo o testemunho de Américo de Castro Freitas, observa-se um desfile de gado, pois, junto do Hotel Central, localizava-se um talho e era habitual, na Páscoa, os talhos promoverem um desfile fazendo passear pela Vila de Matosinhos o gado que ia ser abatido para ser consumido na época festiva.
No local onde antes esteve o Central Hotel, adquirido por 400 contos, em 1945, por Edmundo Ferreira, nasceria o Hotel Porto Mar, inaugurado pelo Ministro da Marinha, almirante Américo Tomás, a 18 de Maio de 1947.
Edmundo Ferreira fez questão, neste novo projecto, de manter no piso térreo do hotel, o afamado e antigo café Midões.
O projecto da unidade hoteleira foi da responsabilidade de “ARS-Arquitectos Reunidos” de Cunha Leão, Morais Soares e Fortunato Cabral. As pinturas murais foram da responsabilidade de Mestre Augusto Gomes.

 
 
 
Hotel Porto Mar



 
Café Porto Mar




Quando Edmundo Ferreira comprou o Central Hotel, o Café Central passou para o edifício ao lado, mas quando as novas instalações do Hotel Porto Mar” ficaram prontas retornou ao edifício do hotel e passou a ser explorado pela firma “Siza Ferreira & Amorim”.

 
 
 
Com a Rua do Conde S. Salvador pela esquerda, mais à frente, o Hotel Porto Mar - Fonte: Google maps


 
 
Escadaria do Hotel Porto Mar