Os Jardins e as suas obras de arte
Normalmente, o ingresso na área vedada do Palácio de Cristal,
para passear nos seus jardins, implicava que fosse adquirido um bilhete.
Frente de bilhete de ingresso no Palácio, em 1906
Verso do bilhete da imagem anterior
Tempos houve em que nos jardins do Palácio proliferavam os
vendedores ambulantes com as suas barracas. Desses tempos, alude a gravura de
crítica humorística, seguinte.
Capa do jornal humorístico «Pirolito», 1 Agosto de 1931,
representando a expulsão pelo "pirolito" dos vendedores ambulantes do
Palácio de Cristal – Desenho de António Cruz Caldas
Importa dar uma
panorâmica dos equipamentos existentes na área de implantação do Palácio de
Cristal, incluindo as obras de arte e espécies botânicas raras, verdadeiras
obras de arte da natureza.
- Jardim Émile
David. O seu desenho deve-se ao arquitecto paisagista alemão
Émile David. Aqui se encontra um conjunto de esculturas em ferro fundido na
Fonderie Val d’Osne:
Cabeça com diadema, Carrancas, Donzela e cavalo, Egípcia
(tocheira), Etíope (tocheira), Inverno, Menina, Menino, Menino de Repucho com
pato, Ninfa e Eros, Ninfas na Fonte, Outono, Pelicano, Primavera, Sereia
Bicaudina, Verão.
E, ainda uma flora composta por: Rododendros; Áceres do
Japão (Acer japonicum); Magnólias brancas (magnolia grandiflora); Araucárias;
Gingko-Biloba (conhecida no Brasil como ‘árvore dos 40 escudos’) e Faias (Fagus
sylvatica) delimitam este espaço.
- Biblioteca
Almeida Garrett. Construída segundo risco do arquitecto José
Manuel Soares e inaugurada em 2001.
Possui Galeria de
Arte e Auditório. Encontra-se
equipada com mobiliário desenhado por Alvar Aalto.
- Cedros-do-
Líbano (Cedrus libani ), junto à Biblioteca Municipal.
- Mancha de
carvalhos (Quercus robur) e bosque das camélias.
- Concha acústica,
recentemente recuperada. A sua construção remonta ao final do séc. XIX. Possui
boas condições de sonoridade para a actuação de pequenos conjuntos
instrumentais.
- Avenida dos
Castanheiros da Índia
- Cascatas e
bosque
- Fonte de S. Jerónimo,
que esteve na Rua de S Jerónimo, actual Rua de Santos Pousada.
- Miradouro da
Torre.
- Escultura
‘Ternura’, de Sousa Caldas (1965).
- Capela de Carlos
Alberto, inaugurada em 1861, neoclássica, mandada construir pela irmã
do Rei da Sardenha que esteve exilado no Porto a residir na Quinta da
Macieirinha e onde faleceu em 1849.
No seu interior, destaca-se a imagem de S. Carlos Borromeu,
‘obra de belo e expressivo modelado’, na opinião de Carlos Passos.
Junto da capela esteve implantada a Torre da Marca, demolida
em 1854.
- Cruzeiro de
Pontevedra, junto da capela de Carlos Alberto, oferecido pelo município
galego ao Porto.
- Lago,
rodeado de Cedros-do-Himalaia (Cedrus deodara).
- Miradouro das
Palmeiras, sobre o Rio Douro e Gaia.
- Palmeiras da
Califórnia (Washingtonia robusta).
- Metrosidro
(Metrosideros), árvore centenária.
- Jardim do
Roseiral, onde se podem admirar várias espécies.
- Casa do Roseiral,
que serviu de residência a António Pinto Machado, director do Palácio de
Cristal.
- Fonte antiga do
Mercado Ferreira Borges (em frente à Casa do Roseiral).
- Fonte do
Pelicano, que esteve num pátio interior dos antigos Paços do Concelho,
na Praça Nova.
- Fonte do Menino e do golfinho (antiga Fonte
da Praça de S. Roque)
- Brasão antigo
da Cidade do Porto, que fez parte do espaldar
da Fonte da Natividade (antiga Fonte da Arca) na Praça Nova.
- Jardim dos
Sentimentos, um espaço dedicado às plantas, às quais se têm associado
certos significados e estados de espírito. Exemplos: palmeira (vitória),
oliveira (paz), jacinto (sabedoria), zambujeiro (humildade), hera (ambição),
alecrim (ciúme), videira (alegria), azinheira (tristeza).
- Escultura ‘A
Dor’, de Teixeira Lopes (1898).
- Chafariz do
Mitra (séc. XVIII), que veio da Quinta do Mitra ou Quinta de
Vila Meã, em Campanhã.
- Carranca
da antiga Fonte da Arca ou da Natividade (séc. XVII).
- Varandas da
antiga Câmara Municipal que se situava no topo norte da Praça de
D. Pedro.
- Pavilhão Rosa
Mota (ou Palácio dos Desportos), concebido pelo Arq. José Carlos
Loureiro e inaugurado em 1956. Apresenta a forma de calote semi-esférica. A
altura máxima da nave é de 30 metros e possui capacidade para alojar cerca de
6.000 espectadores.
- Avenida dos
Plátanos, que segue em
linha recta desde a entrada no recinto situada mais próxima da Rua Dr. Jorge
Viterbo Ferreira.
Fonte: Jorge Carneiro de Melo, In A.C.E.R.
E ainda:
- Avenida das Tílias, formada por duas alas laterais de tílias.
- Pérgula, que pode ser observada num canto do jardim do
Roseiral executada com umas colunas que estiveram no convento de Santa Clara (Largo
1º de Dezembro) e que, possivelmente, pertenceram a um pequeno claustro.
Em 1941, chegou a
ser feito um estudo por Francisco da Mota Coelho, para a reconstituição do arco cruzeiro
da Capela de Santo António do Penedo (Estilo Bizantino, séc. XVII), com base
nos fragmentos de colunas recolhidos nos jardins Palácio de Cristal, o que não
se concretizou.
Outros equipamentos existiram naquela área e dos quais só
resta a memória. São os casos do mini-zoo, do Palco-coreto e, como é óbvio, do
Palácio de Cristal propriamente dito.
E, mais recentemente:
- Viagens, escultura de
Rui Anahori
- Desconversadeira, conjunto
escultórico de Carlos & Jacinta Casimiro Costa
- Adelino Amaro da Costa (1943-1980), de Laureano Ribatua
-
The eagle of the castle, escultura de Minoru Niizuma
E, algumas outras obras de arte, sem nome.
A arte nos jardins do
Palácio de Cristal
O Palácio de Cristal
é um verdadeiro museu ao ar livre.
Os jardins criados na década de 60, do século XIX, por
iniciativa de Alfredo Allen, foram projectados pelo paisagista alemão Emílio
David e, por isso, o jardim de entrada tem o nome de Jardim Emílio David.
As variadas esculturas e as fontes que, ainda hoje,
embelezam estes espaços, têm as marcas de consagradas fundições artísticas
francesas, da época.
O jornal O Comércio do Porto, referindo-se aos jardins do
Palácio de Cristal, anunciava em Julho de 1865, a chegada das esculturas em
ferro que vinham para ornamentar e abrilhantar aqueles espaços:
“…devem chegar
brevemente as estatuas de ferro bronzeado que tem de ser collocadas nas
differentes taças, que se acham construídas em vários sítios dos referidos
jardins. São todas de excellente gosto e devem contribuir consideravelmente
para o embellezamento d’aquelle local.”
As fontes do Jardim Emílio David, conhecidas por “Fontes
d'Art”, são encimadas por taças com a representação de Vénus a tomar
banho.
Fonte simbolizando o oceano, com sereias e tritões, situada
a nascente do Jardim Emílio David – Fonte: Google maps
Na fonte acima, são bem visíveis os estragos sofridos na
taça central, que se apresenta incompleta e que, seria, bem como todo o
conjunto escultórico do jardim Emílio David, alvo de uma intervenção de
manutenção, começada em 2016.
“A Câmara do Porto
concluiu esta semana a primeira fase do restauro das fontes do Jardim Emil
David, inserido nos Jardins do Palácio de Cristal.
A última intervenção tinha ocorrido em julho de 1994. Na altura, os trabalhos
tinham-se resumido à limpeza, remoção da pintura existente, aplicação de várias
camadas de primário de zinco e pintura final de proteção.
Com mais de 151 anos de exposição ao ar livre, as fontes importadas de
fundições francesas apresentavam já evidentes sinais de degradação.
Após a queda de
uma Araucaria (Araucaria Heterophyilla) em 2001, a fonte localizada a poente
sofreu várias fraturas, com visíveis danos na taça de maior dimensão, motivo
que terá acelerado o processo de corrosão do ferro.
Conhecidas pela designação de Fontes
d'Art, por terem nascido do casamento da indústria com a arte, as fontes do
Jardim Emil David, inaugurado a 18 de setembro de 1865, foram obtidas a partir
da repetição em série de modelos originais, concebidos por alguns dos mais
conceituados escultores franceses, entre os quais se celebrizaram Mathurin
Moreau, a quem se atribui as esculturas das quatro estações colocadas no mesmo jardim.
O reconhecido valor
histórico e patrimonial destas fontes tornou ainda complexo e sensível este
trabalho de conservação e restauro, concretizado em parceria pelos pelouros do
Ambiente e da Cultura da autarquia”.
Fonte: “porto.pt”, 27 Jan 2017
“Os jardins albergam
ainda esculturas representando as estações do ano. A temática das Quatro
Estações, que inspirou uma das peças mais populares da música barroca, do
celebrado compositor A.Vivaldi foi, também, motivo inspirador para fundidores
que emprestaram às esculturas a sua visão e sensibilidade. Vamos encontrá-las
no jardim central que antecede a entrada principal do palácio.”.
Com o devido crédito a Paula Torres Peixoto
Estatueta (poente) feminina, simbolizando o Verão, sem
identificação. Aventa-se a hipótese de ser da fundição Durenne – Ed. Paula
Torres Peixoto
Estatueta (poente) feminina, simbolizando a Primavera,
produzida pela Barbezat & C.ie, Val d’Osne – Ed. Paula Torres Peixoto
Estatueta (nascente) feminina, simbolizando o Inverno, saída
das Fonderies de Sommevoire, Haute Marne – Ed. Paula Torres Peixoto
Estatueta (nascente) masculina, simbolizando o Outono, produzida pela Barbezat & C.ie, Val
d’Osne – Ed. Paula Torres Peixoto
Referente à estatueta acima, Paula Torres Peixoto é de
opinião que ela representa, de facto, o Verão, pois, era essa a representação
no catálogo da firma “Val d’Osne”, donde as estatuetas são originárias.
Nessa estatueta, o jovem está recostado a um feixe de
espigas, atributo associado à escultura que simboliza o Verão.
Com efeito, no catálogo da fundição artística do Val d’Osne,
o Verão surge representado desta forma. O Outono, por sua vez, é simbolizado
neste catálogo por um jovem recostado a um tronco com folhas de videira e
cachos de uvas.
Portanto as “Quatro Estações” de Vivaldi são, neste caso, de
facto, três e uma repetida.
Adelino Amaro da Costa (1943-1980), escultura de 2013 de
Laureano Ribatua, localizada em frente ao Pavilhão Rosa Mota
Equipamentos transferidos de outros locais e
Jardim dos Sentimentos
A área de jardins
anexa à Casa do Roseiral, apresenta alguns equipamentos retirados da cidade,
sobretudo, fontes e alguns jardins temáticos.
Entre os dois lanços de escada de acesso ao Mercado Ferreira
Borges na Praça do Infante observa-se uma espécie de gruta onde esteve a fonte da
foto acima e, cujo espaço, foi aproveitado para um posto da EDP – Fonte: AMP
1950
Na foto anterior
pode observar-se o espaldar da Fonte da Natividade do qual algumas pedras foram
aproveitadas para embelezar o frontão do palacete Monteiro Moreira, onde estava
sedeada a Câmara.
“Quando D. Pedro IV entrou no Porto à frente do exército
libertador, em 9 de Julho de 1832 dirigiu-se imediatamente à Câmara que
funcionava no edifício da então chamada Praça Nova e logo ali tomou uma
resolução, mandar destruir a Fonte da Natividade para possibilitar o
alargamento da Praça. Assim aconteceu. O brasão da cidade e as grinaldas que
emolduravam o frontispício da fonte foram embelezar a fachada do palacete da
praça onde funcionava a Câmara. Esse belíssimo conjunto, uma excelente obra de
granito trabalhado, está hoje no espaço conhecido por Roseiral no Palácio de
Cristal”.
Cortesia de Germano
Silva
Jardim dos
Sentimentos
Adjacente à Casa do Roseiral está, em patamar, a uma cota
mais baixa o Jardim dos Sentimentos.
Bosque
Na vertente onde se observa uma torre-miradouro, voltada
para o Largo de Massarelos, existe um bosque adjacente com diversas fontes e
linhas de água.
Nessa área estava situado, em tempos, o mini-zoo e as
barracas de comes e bebes da Feira Popular.
Este cenário, no século XIX, foi usado por Gervásio Lobato
para escrever algumas cenas do seu romance “Mistérios do Porto”.
Vista desde o miradouro do Palácio de Cristal sobre área, em
V. N. de Gaia, onde esteve o convento de Vale da Piedade – Ed. Nuno Cruz
Pavilhão Rosa Mota
Gorada a ideia de uma Feira Internacional no Parque da
Cidade (o que chegou a ser proposto), as Feiras Internacionais promovidas pela
Associação Empresarial, realizaram-se no Pavilhão dos Desportos, entre 1968 e
1986.
Recentemente, no Pavilhão Rosa Mota decorreram, desde do fim
de 2017, obras de remodelação, na sequência de um contrato de concessão por 20
anos, tendo sido a nova nave inaugurada em 28 de Outubro de 2019.
Para isso, o interior da estrutura foi totalmente
remodelado, passando a ter bancadas amovíveis e um conjunto de novos
equipamentos que permitirão, por exemplo, ajustar a incidência de luz natural
dentro do espaço.
No total, o Palácio de Cristal terá uma lotação máxima para
congressos de 4727 pessoas. Quando receber eventos desportivos poderá albergar
até 5580 pessoas, e 8860 quando se tratar de outros espectáculos.