No panorama museológico portuense o destino que tiveram
alguns museus fazem crer que teriam sido alvo de uma qualquer maldição.
Enquanto, alguns museus portuenses se reconverteram, caso do
Museu do Allen, depois, Museu Portuense, que acabou com o seu espólio integrado
no Museu Nacional Soares dos Reis, outros foram fundados e logo encerrados pelas
mais diversas razões.
Museu de Etnologia do
Porto
O Museu de Etnologia do Porto foi criado em 1945, sob a designação
de "Museu de Etnografia e História do Douro Litoral".
Este museu esteve instalado no Palácio de São João Novo ou
Palacete do Costa Lima, no Largo de São João Novo.
O proprietário do palácio, à data, Álvaro Leite Pereira de
Melo Ferreira Pinto, em 12 de Dezembro de 1942, celebrou um contrato de
arrendamento com a Junta de Província do Douro-Litoral, para sede e
funcionamento, na Casa de São João Novo, do “Museu Etnográfico do
Douro-Litoral”, que abriu portas em 1945.
Palácio de São João Novo, em 1958 – Ed. Teófilo Rego
O proprietário começou por recusar uma proposta de compra
por 500 contos, acabando por fazer um arrendamento por 2500 escudos por mês. Em
1951, aquela renda foi revista, passando a 4500 escudos.
Augusto César Pires de Lima (1883-1959) seria o primeiro
director do museu.
Professor do ensino liceal, etnógrafo e filólogo, com o
renascer do regionalismo, enquanto movimento cultural, a partir de 1938, passou
a colaborar com a Junta de Província do Douro Litoral, que integrou durante
quase duas décadas, presidindo à Comissão de Etnografia e História. Nessas
funções dirigiu a edição do Boletim Douro Litoral, o periódico da instituição,
no qual publicou parte fundamental da sua obra.
Após a sua morte suceder-lhe-ia no cargo, até 1973, o seu
sobrinho, o etnógrafo Fernando de Castro Pires de Lima e, a este, Fernando
Lanhas (1923-2012) até ao encerramento do museu, em 1992.
Nas várias salas de exposição do museu, eram apresentados ao
visitante diversos aspectos da actividade quotidiana em variados espaços: sala
das religiões, sala da tecelagem e fiação, sala do trajo, sala do mobiliária,
sala das rendas e bordados, sala dos jugos e cangas, sala da lavoura, sala dos
brinquedos, sala da habitação, sala dos barcos, sala das utilidades caseiras,
etc.
Sala dos Jugos e Cangas - Fonte: “O Tripeiro”, VI série, ano
IX, n.º 12 (Dez. 1969)
Alvo de um incêndio em 1984, o “Museu Etnográfico do
Douro-Litoral”, no primeiro semestre de 1992, encerraria, quando era dirigido
pelo arquitecto Fernando Lanhas e, no início do novo século, é comprado pelo
Estado e, apesar de sujeito a obras de restauro, ocorridas em 2000, não abriria
jamais.
O acervo do Museu de Etnografia e História foi depositado em
diversos museus com vista à sua protecção, sendo algumas peças desviadas para
Lisboa.
Diz-se que outra parte daquele espólio teria sido guardada
no também desactivado quartel de S. Brás, à Rua da Constituição, ignorando-se o
que lhe teria acontecido depois.
Este quartel, em 2024 já estava por terra.
Em 2024, dizia-se que o Palácio de São João Novo iria
receber o Museu do Livro.
Do Museu de Etnologia, nem sombras.
Museu Romântico na
Quinta da Macieirinha
Em 1849, após alguns meses de exílio na cidade do Porto,
falecia na casa da quinta por muitos conhecida como Quinta da Macieirinha e,
outros, por Quinta de Entre-Quintas, o rei da Sardenha e príncipe de Piemont, Carlos
Alberto.
Para preservar essa memória, em 1972, a cidade decidiu na
casa da quinta montar um espaço museológico que recriava ambientes interiores
de uma casa abastada do século XIX, do Porto Oitocentista, abordando as
estéticas, os modos e os costumes relacionados com o Romantismo – o Museu
Romântico.
O assim denominado foi durante muitos anos um orgulho dos
portuenses que por intermédio da personalidade que aí tinha falecido, no século
XIX, os faziam sentir cidadãos do mundo.
Por outro lado, o museu era muito visitado pelos turistas
que demandavam o Porto.
Museu Romântico – Fonte: museudoporto.pt
Na sequência de intervenção arquitectónica de Camilo Rebelo
e da execução de obras de restauro em algumas importantes peças da colecção, dar-se-ia
a reabertura de portas em 2017, com o Museu Romântico completamente remodelado.
Interior do Museu Romântico
No entanto, por decisão do presidente da Câmara, Dr. Rui
Moreira, em 2021, o Museu Romântico encerraria, para mágoa de muitos
portuenses, apesar do coro de protestos que se levantaram. Até agora, em vão.
«O Grupo Saudade
Perpétua considerou este sábado que a reconfiguração do Museu Romântico criou
um “vazio e empobreceu” o Porto e apelou, numa carta aberta ao presidente da
câmara, o independente Rui Moreira, à reversão do “erro cometido".
Esta posição do
Saudade Perpétua não é única, estando em curso uma petição pela reposição do
espólio do Museu Romântico do Porto, já com mais de 3.178 subscritores, que
considera a sua reconfiguração “uma violação patrimonial”, acusando a autarquia
de, “com orgulho”, “desfazer” o antigo museu».
Fonte: Lusa, In Jornal Público, 5 de Setembro de 2021, 13:15
Museu Nacional da
Imprensa
Este museu situava-se junto do Palácio do Freixo e abriu as
suas portas em 1997.
Museu Nacional da Imprensa, junto da Marina do Freixo, na
margem esquerda do Rio Torto, que aí tem a sua foz
“O Museu Nacional da
Imprensa/Jornais e Artes Gráficas é propriedade de uma entidade cultural
privada, sem fins lucrativos, a AMI Associação Museu da Imprensa, reconhecida
pelo Estado como instituição de Utilidade Pública, com manifesto interesse
cultural e abrangida pela lei do Mecenato Cultural. Está também reconhecida
como instituição relevante para o desenvolvimento Científico e Tecnológico do
País”.
Fonte: museudaimprensa.pt
Cortesia de António Manuel Passos de Almeida, In revista “O
Tripeiro”, Setembro 2007
“NASCIDO EM 1997,
SURGIU FACE À NECESSIDADE DE MOSTRAR A HISTÓRIA DA IMPRENSA E ARTES GRÁFICAS.
Este espólio,
recuperado pelo Museu Nacional da Impresa – Porto, encontra-se dividido em
quatro grandes sectores: a FUNDIÇÃO, a COMPOSIÇÃO, a IMPRESSÃO e a ENCADERNAÇÃO
e ainda algumas colecções pertencentes a um outro sector – a GRAVURA.
É o único museu vivo
do sector na Península Ibérica. Na Sala Rodrigo Álvares – exposição permanente
– pode ver-se parte de um dos maiores espólios tipográficos do mundo. São
dezenas de máquinas que os visitantes podem manipular exercitando-se nas
antigas artes da composição e impressão. Na Galeria de Exposições Temporárias
sucedem-se mostras ilustrativas da importância social, educativa e cultural da
imprensa e das artes gráficas.
O Cartoon constitui um
dos eixos principais do museu, através da Galeria Internacional do Cartoon e do
PortoCartoon-World Festival. A Galeria está aberta todo o ano e nela pode
ver-se o melhor do cartoon internacional.
O PortoCartoon
realiza-se anualmente, desde 1999, sendo já considerado pela FECO (Federation
of Cartoonists’ Organisations) um dos três principais festivais de desenho
humorístico do mundo. Todos os anos, sempre com temas de grande impacto
internacional, centenas de cartunistas participam nele com cartoons que
enobrecem essa linguagem universal, perceptível em qualquer parte do mundo. É
visto por milhares de visitantes na sede do Museu e nas diferentes cidades por
onde passa.
Abertos a qualquer
visitante estão, também, os museus virtuais da Imprensa e do Cartoon (criados e
geridos pelo Museu Nacional da Imprensa que tem um lema: activar o prazer da
cultura”.
Fonte: agendaculturalporto.org
O Museu Nacional da Imprensa fecharia por existirem
problemas de segurança, após mudança de direcção, em meados de 2022.
Os problemas de segurança foram detectados pelos Sapadores
Bombeiros, mas a situação financeira da associação que gere o espaço,
apresentava um deficit de cerca de 200.000 euros.
Continua a desconhecer-se o seu futuro. No seu edifício,
cedido pela Câmara do Porto, poderá nascer um media center.
Museu da Ciência e Indústria do Porto
No ano de 1993, uma parceria entre a Associação Industrial
do Porto e a Câmara Municipal do Porto, constituiu uma associação para a
criação de um museu nesta área, então denominado Museu da Ciência e Indústria
do Porto, que esteve em actividade até meados de 2010.
O museu abriu portas nas instalações das antigas Moagens
Harmonia, junto do Palácio do Freixo.
À direita do Palácio do Freixo, as antigas instalações das Moagens Harmonia
Maria da Luz Sampaio, licenciada em História pela Faculdade
de Letras da Universidade do Porto (FLUP), em 1992, participou no projecto de
investigação do Inventário do Património Industrial da Cidade do Porto e, em
1996, no programa museológico e na abertura do Museu da Ciência e Indústria do
Porto.
Em 1997, ocorrerá a 1.ª exposição e, em 2000, o Museu
alcançou o Estatuto de Utilidade Pública.
De 2000 a 2011, Maria da Luz Sampaio assumiu funções de Directora
do Museu da Indústria do Porto, responsável pela gestão de colecções,
programação e serviços educativos.
Em 2005, a situação de degradação das instalações era bem
visível e a solução foi a entrega, em 2006, do edifício das antigas Moagens
Harmonia e do Palácio do Freixo à entidade privada Grupo Pousadas de Portugal.
A exposição permanente “A Cidade e a Indústria”, que estava
previsto montar no Freixo, viria a ser exibida, em 2008, nas novas instalações
“temporárias” do museu, nuns armazéns de Ramalde.
Assim, desde 2006, que o espólio do Museu da Ciência e
Indústria abandonou as suas primeiras instalações, na antiga fábrica das
Moagens Harmonia, para que aí nascesse uma Pousada de Portugal (que também
ocupa o Palácio do Freixo).
Em Janeiro de 2011, tomou posse uma comissão liquidatária,
pois foi decidido por unanimidade a «extinção da Associação para o Museu da
Ciência e Indústria».
O espólio do museu, desde então, passou a estar encerrado no
tal armazém da freguesia de Ramalde, na Rua Eng.º Ferreira Dias, n.º 1095.
Diz-se que o museu será reactivado nas recuperadas
instalações do antigo Matadouro, na Corujeira.
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