Enquanto decorria o século XX e iam abrindo portas os
pronto-a-vestir, que permitiam o acesso do povo a artigos mais em conta para a
sua bolsa, por outro lado, uma burguesia endinheirada continuava a servir-se em
ateliers de alta-costura, as mulheres nas modistas e, os homens, nas
alfaiatarias.
Aqui, a moda era ditada pelas capitais europeias e fazia-se
pagar bem.
No que diz respeito a modistas, no Porto, uma se destacaria
no século XX – a Candidinha.
“Cândida Celeste Nogueira
Alves nasceu no Porto em 1893, e desde jovem se tornou costureira. Rapidamente
se torna famosa e ao seu ateliê acorrem as elites femininas da cidade que
faziam questão que fosse a Candidinha, como era simpaticamente conhecida, a sua
estilista oficial. O termo na época não existia e a palavra modista, era a
única que se usava para designar a função, que só passado muitos anos é que se
viu projectada para o lugar que ocupa hoje no mundo da moda.
A Candidinha tinha o
seu ateliê na Rua da Boa Nova n.º 15, e os bordados também eram uma das suas
imagens de marca, quiçá a mais importante. A importância da sua casa podia ser
aferida pelo facto de ser uma das poucas no país que estavam autorizadas a usar
o nome da casa Dior de Paris.
Quando se dá o 25 de
Abril, Candidinha e a sua família foram para o Brasil, onde Candidinha acabou
por falecer, em 1980.
A rua que a consagra é
recente e é a serventia de uma série de moradias que foram construídas numa
zona, até então, ainda não urbanizada da Foz. Por esse motivo, abriu se este
arruamento”.
Cortesia do historiador do Porto, César Santos Silva
No texto acima, corrigindo o lapso, deve ler-se: Rua da Boa
Hora, nº 15.
Filha de lavradores abastados, Cândida Celeste Nogueira
Alves, vulgo “A Candidinha”, nascida em Paranhos, cedo mostrou interesse pelos
bordados.
Em 24 de Novembro de 1917, casaria com o comerciante
portuense Albertino Alves, tendo o casal ido morar para o Carvalhido onde
nasceram os seus dois filhos, Maria Francelina e José.
No entanto, não demorou a que o casal se mudasse,
definitivamente, para a Rua da Boa Hora, n.º 15, onde Candidinha vai
desenvolver a sua actividade profissional.
Exímia na arte de bordar, passaria, depois, à confecção de
lingerie e, mais tarde, a partir do início da década de 1950, à alta-costura.
Quando o trabalho começou a crescer, Candidinha alugou a
casa ao lado, com o n.º 23, deitou uma parede abaixo e as duas moradas ficaram
a comunicar-se.
Perspectiva actual da foto anterior, observando-se que as
antigas moradas onde exerceu a actividade “A Candidinha”, já não existem - Ed. Graça Correia
Começaram, então, a ocorrer as exposições periódicas dos
trabalhos daquela profissional da costura, nas instalações do atelier da Rua da
Boa Hora, às quais, por vezes, assistia o escultor Teixeira Lopes.
Em 3 de Maio de 1949, foi notícia na cidade do Porto um
desfile de alta-costura promovido pela Candidinha em sua casa.
Em 29 de Março de 1955, a passagem de modelos, promovida
pela Candidinha, já tem lugar nas instalações do Hotel Infante de Sagres.
Diversas realizações de beneficência, organizadas pela
burguesia portuense, na Nave do Palácio de Cristal, no Clube de Caçadores e
noutros locais, contaram com a colaboração generosa de Candidinha.
Muitos guardaram para sempre a lembrança de um desfile de
moda levado a cabo pela Candidinha, na Quinta do Mosteiro de Leça do Balio, por
cedência da sua proprietária, Carolina Lello, nos finais da década de 1960.
Foram exibidos vestidos antigos, alguns do século XVIII,
cedidos pelos anfitriões e modelos de vestidos de noite de Candidinha.
Na publicidade acima, observa-se que Maria F. Marques Gomes
(a Mariazinha), a filha de Candidinha, era apresentada como representando o atelier.
Aliás, Mariazinha dirigia a secção de lingerie, tendo
adquirido conhecimentos num estágio de um ano que tinha feito em Paris.
O irmão, José, também esteve por Paris, onde desenvolveu os
seus conhecimentos de desenho e, por lá, frequentou a Escola Guerre-Savigné,
casando com uma sua professora, Madame Lucette. Desenhava para a mãe e dirigia
o atelier, então, montado em Lisboa.
Entretanto, chegada a revolução de 25 de Abril de 1974 e,
atendendo ao tipo da clientela que procurava os serviços da Candidinha e que,
numa fase inicial, saiu afectada negativamente por aqueles acontecimentos, a
que acrescia outros factos, como o ter sido tornado público que o próprio
Presidente do Conselho, Oliveira Salazar tinha, em tempos, encomendado uma
toalha de linho bordada para a residência oficial, a roda da vida começou a
desandar para a Candidinha e para a sua actividade profissional.
Cerca de um ano após a revolução, em 25 de Março de 1975, o
Diário do Governo, IIIª série, n.º 71, dava conta da formação de uma nova
sociedade denominada Candidinha – Alta-Costura, Lda, na qual eram sócios Maria
Francelina Nogueira Alves Marques Gomes e Armando Marques Gomes e Manuel Alves
Coelho.
Texto de introdução à formação da sociedade “Candidinha –
Alta-Costura, Lda” – Fonte: Diário do Governo, IIIª série, n.º 71
Apesar da formação desta sociedade, a actividade da família
iria, contudo, centrar-se no Brasil.
Candidinha não voltaria mais ao Porto e morreria em 24 de
Novembro de 1980.
Candidinha em Manaus, no Brasil, em Agosto de 1976 - Fonte:
Revista "O Tripeiro", 7ª Série, Ano XIII, Nov.1994
Hoje, a sua cidade natal homenageia-a com uma referência
toponímica, numa zona residencial donde provinha muita da sua clientela – a Foz
do Douro.
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