segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

25.24 Henrique Moreira – O Escultor do Porto (Actualização em 29/07/2019)


O escultor Henrique Moreira nasceu em V. N. de Gaia, Avintes, em 9 de Maio de 1890, no seio de uma família modesta de lavradores.
O seu pai, Manuel de Araújo Moreira fora tanoeiro e a sua mãe Josefa da Silva toucinheira, em Magarão, tornando-se depois merceeiros no lugar de Cabanões (actual Rua 5 de Outubro), em Avintes.
Faleceu na sua casa, na Avenida Antunes Guimarães, no Porto, em 16 de Fevereiro de 1979.



“Na infância, Henrique frequentou a Escola Primária de Cabanões, onde revelou o talento para o desenho. O exame da 4ª classe foi realizado no Porto. Nesses tempos, como o próprio contava, os seus passatempos favoritos eram desenhar bonecos e modelar figuras em barro.
Depois de concluídos os estudos básicos trabalhou na loja do pai, mas, ao contrário dos irmãos Joaquim e Cesário, o negócio familiar não o seduziu, pois a sua paixão continuava a ser o desenho. Foi também aprendiz de sapateiro e de santeiro.
Em 1905, com 15 anos de idade ingressou na Academia Portuense de Belas Artes. Nesta escola, então instalada nos claustros do convento de Santo António da Cidade (atual Biblioteca Pública Municipal do Porto) rapidamente se notabilizou. No primeiro ano de frequência completou o correspondente a dois anos letivos e seis anos mais tarde terminou o curso com a classificação final de dezassete valores.
Nas Belas Artes foi discípulo de José de Brito, António Teixeira Lopes, Sousa Pinto e Marques da Silva, e condiscípulo dos escultores Diogo de Macedo, António de Azevedo, Zeferino Couto, Sousa Caldas, Manuel Martins e Azulina Gouveia, dos pintores Joaquim Lopes, Heitor Cramez e Armando Basto e ainda dos arquitetos Manuel e Francisco Marques.
Após a conclusão da licenciatura passou a trabalhar no atelier do Mestre Teixeira Lopes, vindo, poucos anos depois, a seguir um caminho autónomo.
A 29 de Novembro de 1913 casou com Adelina Campos Nunes, sua conterrânea, na Igreja Paroquial de Avintes, tendo por padrinhos Joaquim de Oliveira Lopes e a mulher, e como testemunhas Teixeira Lopes e o seu sobrinho Maciel. O casal viveu os primeiros anos em comum em Vila Nova de Gaia (na casa dos sogros, na Rua da Rasa, na Serra do Pilar, e no Candal) e posteriormente no Porto na Foz do Douro e por fim na Avenida Antunes Guimarães. Tiveram cinco filhos.
Dedicou toda uma vida somente à produção escultórica, em Portugal (apenas viajou até Espanha), apesar de ter sido convidado, por diversas ocasiões, pelo amigo Sousa Caldas para lecionar na Escola Faria Guimarães, declinando a proposta com a alegação de que os rígidos horários escolares afetariam o seu trabalho”.
Fonte: “sigarra.up.pt”




Atelier de Henrique Moreira, no cimo dos Guindais
 
 
 
“O atelier de Henrique Moreira, talvez o escultor que mais obras deixou no Porto, ficava na antiga casa das máquinas do antigo elevador dos Guindais, desactivada depois do acidente. Amigo de nossa família, ainda o visitei em jovem, tendo ficado assombrado com a quantidade das esculturas em gesso que aí estavam “semeadas”. Uma boa parte delas eram de obras já executadas. Na foto ainda se vêm pedras e trabalhos.
Desde o século XIX a escola de Belas artes do Porto tem-se distinguido por grandes escultores tais como Soares dos Reis (1847-1889), Teixeira Lopes (pai) (1837-1918), Teixeira Lopes (filho) (1866-1942), Américo Gomes, António Fernandes Sá (1874-1959), Henrique Moreira (1890-1979) e tantos outros”.
Com a devida vénia a Rui Cunha
 


As obras deste escultor estão dispersas por todo o País.
A maioria dos portuenses, por certo, passa ao lado de muitas delas, sem se aperceber de quem foi o seu autor.
Por exemplo, e fazendo referência apenas a uma parte do que foi a sua produção artística, apresentam-se algumas obras do mestre.





Obras de Henrique Moreira



Monumento aos Mártires da Grande Guerra (1928)


O monumento de homenagem aos mártires da 1ª Guerra Mundial está na Praça Carlos Alberto. Foi inaugurado em 9 de Abril de 1928, e acabaria por substituir um primeiro monumento, construído na cidade, em 1924, por iniciativa da Junta Patriótica do Norte.



Busto de Camilo Castelo Branco na Avenida Camilo


Em 16 de Março de 1925, é inaugurado um busto de Camilo Castelo Branco, por iniciativa do jornal “O Comércio do Porto”, no início da avenida com o nome do escritor, nos 100 anos do seu nascimento. Durante muito tempo, houve diversas tentativas de erigir uma estátua, mas sem sucesso.



“Menina da Avenida”, “Menina Nua” ou “Juventude” (1929) na Avenida dos Aliados



A “Menina Nua” e a sua personagem

 
 
“Chamava-se, Aurélia Magalhães Monteiro, e era conhecida por Lela, Lelinha ou pela «Ceguinha do 9» (cegou aos 43 anos) - para a eternidade ficará sempre a ser a «Menina Nua» da Av. dos Aliados. Nasceu no dia 4 de Dezembro de 1910, na freguesia do Bonfim, e pouco tempo antes de falecer, dizia-me «que tinha sido uma das mulheres mais apreciadas e cobiçadas do seu tempo» … Estive duas semanas a «posar» e ainda hoje recordo com alegria e saudade aqueles momentos de trabalho, pois posso morrer amanhã que todos ficarão a saber quem era a Lela... se a memória não me falha, comecei com o mestre Teixeira Lopes, na figura-modelo da rainha D. Amélia, esta estátua encontra-se actualmente no Museu com o mesmo nome, em Vila Nova de Gaia… fiz de modelo para vários mestres, entre eles: Acácio Lino, Joaquim Lopes, Dórdio Gomes, Sousa Caldas, Augusto Gomes, Camarinha e os consagrados, Henrique Moreira e Teixeira Lopes…” Aurélia Magalhães Monteiro, a Lela, Lelinha, ou a «Ceguinha do 9», faleceu no dia 2 de Junho de 1992, com 82 anos de idade; no entanto a «Menina Nua», continua viva, fixa e eterna, ali na Av. dos Aliados envolta nos nevoeiros citadinos, perpétua e ardente, nos dramas e vitórias deste povo.
Extraído do livro “Pasteleira City”, de Raul Simões Pinto. Edições Pé de Cabra, Fevereiro de 1994 




“Os Meninos”, ou “Abundância”, ou "No País das Uvas" (1931), na Avenida dos Aliados


 

“No primeiro talhão da Av. dos Aliados foi colocado ontem, 27 de Fevereiro de 1932, um novo motivo decorativo, da autoria do distinto escultor Henrique Moreira.
“No País das Uvas” é uma formosa concepção artística, representando três crianças, trabalhadas em bronze, que sustentam uma taça transbordante do precioso fruto.”
In jornal “O Comércio do Porto” de 28 de Fevereiro de 1932 – Cit. de Guido Monterey (“O Porto 2”, p. 465)





“O Salva-vidas” ou “Lobo-do-mar” (1937) junto da praia do Molhe


Monumento de homenagem a Raul Brandão (1967) na Foz do Douro – Ed. “Mapio.net”


Estátua do Padre Américo (1961) no Jardim da Praça da República - Ed. JPortojo


Monumento aos Heróis da Guerra Peninsular na Rotunda da Boavista - Ed. “Mapio.net”


"O Triunfo da Indústria" (1946) na fachada do Palácio do Comércio, na Rua de Sá da Bandeira


“O Pedreiro” (1933) no Largo Alexandre Sá Pinto


Este pedreiro, várias vezes, desceu do seu pedestal.
Colocado num jardim fronteiro à Escola Infante D. Henrique, por vezes, os estudantes condoídos, sentavam-no na relva com o letreiro: “A descansar”.
A escultura veio para aqui transferida do Jardim da Cordoaria, onde esteve, antes.


Busto de Antero de Figueiredo (1966) junto ao Mercado da Foz do Douro


Monumento de homenagem ao Dr. Joaquim G. Ferreira Alves em Valadares – Benemérito, Fundador e Director Clínico do Sanatório de Valadares


Baixo-relevo no interior do Coliseu do Porto



Baixos-Relevos coloridos no interior da loja “Lopo Xavier & Cia. Lda” (Praça Carlos Alberto), in Lojas do Porto, volume 1, Edições Afrontamento Porto 2009 de Luís Aguiar Branco 



No interior desta loja, conservam-se dois baixos-relevos de Henrique Moreira (acima reproduzidos), alusivos ao trabalho familiar que o negócio da firma pretende promover.
Sobre esta retrosaria, icónica da cidade do Porto, diz-se no seu site:

“A Lopo Xavier & Companhia Lda., é uma loja da cidade do Porto dedicada à revenda de produtos de retrosaria, fios e tecidos. Foi fundada em 1934 por Lopo Xavier e Idalino Pacheco, com a colaboração benemérita de Gustavo Burmester.
Em 1972 os sócios fundadores Lopo Xavier e Idalino Pacheco convidaram a juntar-se-lhe na direção da firma, os seus trabalhadores: Arnaldo Sotto-Mayor, Bernardino Ribeiro Silva e Mário Martins Ribeiro.
A firma manteve toda a sua tradição apesar do desaparecimento dos seus sócios: o Sr. Lopo Xavier em 1980, o Sr. Arnaldo Sotto-Mayor em 1988, o Sr. Idalino Pacheco em 1997 e por último o Sr. Bernardino Ribeiro da Silva em 2013.


A loja “Lopo Xavier & Cia. Lda” que, em 6 de Outubro de 1934, foi alvo de uma alteração da fachada, segundo um projecto do arquitecto Aucíndio Ferreira dos Santos, é um dos poucos estabelecimentos comerciais (históricos) que ainda permanecem, naquela zona da cidade, abertos ao público.
Desde há dois anos, que esta loja vem resistindo a uma ordem de despejo, vinda da venerável Ordem do Carmo, o senhorio de sempre.
Maria João Alonso e Ana Maria Alonso Oliveira, as actuais proprietárias, vêm lutando com denodo, para que não sejam obrigadas a cessar a actividade comercial do estabelecimento, após terem conseguido que o município o declarasse com interesse histórico, e para que não se perca mais uma, memória da cidade. 



 Desenho do alçado da fachada, in Lojas do Porto, volume 1, Edições Afrontamento Porto 2009 de Luís Aguiar Branco 



Fachada actual de “Lopo Xavier & Cia. Lda” – Ed. Manuela Campos (2019)


A fachada actual desta loja é da autoria do arquitecto Avelino dos Santos, da “ARS-Arquitectos” e data de 1947.




Baixos-Relevos no Frigorífico do Peixe (1935/39), hoje um hotel, em Massarelos


(Continua)

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